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41º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS
GT3 - CIRCUITOS TRASNACIONAIS E PESQUISAS EM ÁFRICA:
DESAFIOS, DILEMAS E PERSPECTIVAS
RESSONÂNCIAS DO APARTHEID NA ARTE CONTEMPORÂNEA
SUL AFRICANA A PARTIR DE WILLIE BESTER
CAROLINA DE CAMPOS TORNICH
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERUNIDADES EM
ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
2017
INTRODUÇÃO
A Arte Contemporânea Africana, que em muitos de seus artistas tem uma
característica politizada, é capaz de se constituir como ferramenta poderosa
para se conhecer os temas e questões de maior realce, sendo, igualmente,
forma de ação social e cultural. Este trabalho busca situar a obra de
WillieBester, artista sul-africano classificados como ―othercoloured‖ pelo regime
do apartheid, localizado temporalmente no contexto dos movimentos estéticos e
culturais Sul-Africanos. Suaobra, feita de fragmentos de lixo encontrados nas
townships destinadas aos grupos separados, é uma das mais expressivas da
arte contemporânea africana. Pelo olhar do artista é possível descortinar as
tensões e os debates significativos de movimentos culturais e artísticos deste
período da História Sul-Africana, que deixou resquícios profundos de
desigualdade e violência no país até nossos dias.
Para o recorte específico desta apresentação, destaca-se a obra de
WillieBester como um fio condutor de temáticas recorrentes em obras de artistas
sul-africanos, a partir de uma pequena exposição coletiva ocorrida em
Franschhoek, na MoórGallery. A Arte Contemporânea no país tem, em geral,
grande expressão pelas mãos de artistas que, como Bester, mantêm vivas as
lembranças do apartheide da colonização. Por esta razão, a arte sul-africana,
bem como em outros países do mesmo continente, é um bom medidor das
preocupações do coletivo.
Ao contrário de grande parte dos artistas classificados como ―coloured‖
durante o regime de segregação racial, WillieBester foi bem-sucedido em sua
carreira artística e tem destaque no continente e mundialmente na
representação da realidade do apartheide pós-apartheid. Gavin Jantjes, no
prefácio do livro ―Visual Century‖, volume 4 (2011), destaca:
Works of art can articulate particular moments in the life of a nation. Not all South Africa’s visual artists had the liberty, the means or the will to connect their work to the politics of national liberation, or to hold a critical light up to their nation’s moral potential. But those artists whose work did make these statements have become actors in the making of history, and their work is testimony to historical progress. Whether a rock painting, a wood sculpture or a video projection, such works have
provided insights into how South Africans view themselves in their social and cultural environments.
A produção do artista está em permanente diálogo crítico com a
desigualdade de direitos por questões étnicas na África do Sul. Destaca-se uma
publicação que descreve o perfil de Bester:
Bester emerged as one of South Africa's most important resistance artists. He is recognised internationally for his ground-breaking anti-apartheid work. In more recent years, Bester has explored contemporary themes arising from the challenges of post-apartheid South Africa such as crime, greed, poverty and corruption. For him, resistance to apartheid was fundamentally about humanity and human rights, which he continues to be vigilant about. (Disponível em: http://www.thepresidency.gov.za/pebble.asp?relid=7833. Acesso em 17/10/2015 )
De acordo com Bester, sua obra caminha acompanhando o contexto
sócio-político vigente em seu país. Por meio de sua produção, é possível
identificar momentos históricos que testemunhou, mas também retrata a
simplicidade e a precariedade do cotidiano dos segregados em townships. Seus
trabalhos incluem esculturas, pinturas, instalações e até mesmo móveis e peças
de design.
[...] realities of segregation and inequality impacted on daily lives, rather than with heroic gestures of resistance. It addresses some of the ways that artists engaged with the everyday consequences of apartheid in their artworks. It deals with, to borrow a phrase fromNjabulo Ndebele, the ―rediscovery of the ordinary‖. In other words, […] visual representations of normal themes communicate something of the daily struggle for survival and for dignity of ordinary people.(MWANDA, Sipho in PISSARRA, Mario, p. 19, 2011)
Se por um lado, seu trabalho artístico pode ser considerado símbolo da
resistência anti-apartheid, por outro vemos WillieBester como artista de grande
realce. Um dos problemas desta pesquisa, ainda em curso, é problematizar o
lugar de Bester neste cenário político e seu lugar nas artes, considerando que
sua obra é amplamente valorizada, apesar de todos as barreiras impostas por
uma sociedade de direitos assimétricos.
Capítulo 1
1.1 Apresentação deWillieBester1
Willie Bester2
Nascido em Montagu, cidade próxima à Cidade do Cabo, em 1956,
WillieBester era filho de pai Xhosa e de mãe classificada como ―coloured‖ pelo
regime do apartheid3, foto curioso se levada em conta raridade de uma união
como esta durante aquele período. Ainda menino, recebeu a classificação
―othercoloured‖, e já demonstrava talento para as artes plásticas.
Aos dez anos, Bester e sua família foram forçados a morar em uma
―pátria‖ pela Lei de Áreas de Grupo. O fim de sua infância e adolescência foram
marcados pelo abandono dos estudos e trabalho para ajudar no sustento da
família. Por necessidade, permaneceu um ano na Força de Defesa Sul-Africana.
Como parte do exército do regime, vivenciou intensamente o racismo, além de
ser forçado a atuar, como militar, contra os seus.
Aos 30 anos, voltou a confeccionar seus trabalhos artísticos em um
projeto comunitário de artes, e lá encontrou uma comunidade de artistas
1 As informações constantes nesta apresentação foram confirmadas em entrevista ao vivo com o
artista no dia 14/11/2016, durante um campo realizado pela pesquisadora com o apoio da Universidade de Stellenbosch. 2 Fotografia de WillieBester disponível em http://www.rosekorberart.com/artists/besterA.htm.
Acesso em 25/08/2016 3 Regime de segregação racial adotado pelo Partido Nacional na África do Sul entre 1948 e
1994, em que os direitos da maioria da população foram cerceados pela minoria branca.
engajados socialmente, onde podia refletir sobre os horrores a que a África do
Sul estava submetida.
Ainda atuante como artista, Bester utiliza-se de sucatas que encontra em
lixões e ferros-velhos e as combina com pinturas a óleo e fotografias, sempre
atento ao uso consciente dos materiais. Esta característica é também uma
homenagem ao próprio passado, como forma de lembrar-se das maneiras
criativas que ele e seus compatriotas encontraram para sobreviver. Outro
aspecto no uso dos materiais inutilizados é o do discurso já existente no
passado desses objetos, que contribuem para o discurso da obra. A própria
casa onde mora atualmente é toda ornada de esculturas feitas por ele.
Sua produção constitui-se, sobretudo, de assemblages de lona,
esculturas de metal e pinturas. Bester atribui símbolos aos materiais que
encontra na rua para fazer seus trabalhos. Atualmente Bester explora temas
contemporâneos dos desafios pós-regime, como o crime, a ganância, a pobreza
e a corrupção. Ele ganhou o ―Prix de l'Aigle‖ pela obra mais original em 1992.4
4 Biografia do artista disponível também em
http://www.thepresidency.gov.za/pebble.asp?relid=7833. Acesso em 17/10/2015.
1.2A obra de WillieBester no circuito artístico
É interessante perceber a localização de Bester como um artista africano
que ficou reconhecido internacionalmente, apesar de todos os obstáculos
impostos a ele por ser africano e designado como ―othercoloured‖ durante a
segregação.
Em Cape Town, a South AfricanNationalGallery, um dos espaços
expositivos de maior prestígioda cidade, abriga a obra ―Challengesfacingthe new
South Africa‖, de Bester, em sua coleção. Por todo o país, obras de Bester
tornam-se monumentos públicos, obras site-specific em universidades e
pertence a luxuosas coleções em prédios do governo.
Sua obra está fora da África do Sul em diversas coleções particulares,
como uma das mais conhecidas, Jean Pigozzi, em Genebra, que possui quatro
obras do artista. Bester participou de diversas exposições, solo e em grupo, e
passou pela Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Malásia, Franca, Itália,
Inglaterra, Bélgica, Japão, Senegal, Holanda, Cuba, Suíça, Brasil (1998, em The
Edge ofAwarness), entre outros.
Além de AfricaRemix(2003), Bester participou da Bienal de Dakar (1998),
Veneza (1993), Joanesburgo (1995), Cuba (1994), entre outras. No site do
artista encontra-se disponível a relação de exposições individuais e coletivas
das quais participou. É uma média de 80 registros em exposição.
Além de Bester, muitos outros artistas produzem trabalhos com viés
político na esfera da arte contemporânea. Nomes da geração de Bester como
William Kentridge, que trata a decadência no homem branco no país, Sue
Williamson, de Cape Town, que trabalha com instalações, impressões, fotografia
e vídeo sobre o tema do apartheid, George Pemba, que retrata o cenas do
cotidiano dos agrupamentos de segregados durante o regime de segregação e
Manfred Zylla, grande crítico do apartheid, reforçam esta perspectiva.
O tema do feminino ligado à repressão e à pobreza, presente em
algumas obras de Bester, também é tema forte para artistas da África do Sul
como em Keith Dietrich desde os anos 80 até a produção mais recente de Mary
Sibande. Ambas as obras retratam a figura da empregada doméstica, ofício
comum às mulheres não-brancas, que também é temática explorada por Bester.
O feminino também está presente no trabalho de Berni Searle e BaneleKhoza.
Há também outros artistas sul-africanos a serem apresentados no
próximo capítulo a partir de WillieBester, presentes na exposição ―Thisplace,
thisspace‖. Este recorte pretende dar um pequeno panorama das temáticas
políticas e sociais da África do Sul, relacionando obras de Bestercom outros
autores.
Capítulo 2
Bester em diálogo com artistas sul-africanos a partir da exposição
“Thisplace, thisspace”
Entre outubro e novembro de 2016, obras de WillieBester esteve em exposição
na MoórGallery em Franschhoek, cidade do circuito dos vinhos, próxima a
Stellenbosch. ―Thisplace, thisspace‖, curada por CandiceCruse e Julia Meintjes
(esta última frequentemente contratada para exposições em galerias com obras
sul-africanas), foi parte do festival ArtFranschhoek5.
Esta galeria pertence a uma família tradicional nas artes na África do Sul. A
dona, Katherine Mc William Smith6, é filha e neta, respectivamente, dos pintores
Peter Moór e HenrikMoór. HenrikMoór viveu na Europa e Estados Unidos e
estudou na SladeSchool de Londres e na Munich’s Fine ArtsAcademy. Peter
Moór pintou cerca de 2000 retratos em comissão durante a sua vida na África do
Sul. Ele viveu por quarenta anos em Joanesburgo, e outros vinte em
Franschhoek.
A galeria foi inaugurada em maio de 2016 7 , após uma profunda reforma
realizada no imóvel antigo que atualmente recebe as exposições, e possui cinco
salas. Vende trabalhos de artistas impressionistas e contemporâneos, e possui
uma sessão dedicada aos artistas da cidade. Logo, a galeria estreitou contatos
com WillieBester, o que beneficiou a ambos. A nova galeria poderia expor obras
de um artista sul-africano renomado e ganhar destaque no circuito artístico,
enquanto que Bester teria um espaço próximo à Cidade do Cabo onde expor
5 Informações sobre a exposição retiradas do catálogo da exposição e da série de eventos do
festival. Apresentação da exposição disponível no link: http://franschhoek.org.za/event/this-place-group-exhibition-at-moor-gallery-franschhoek/. Acesso em 22/06/2017 6Informações sobre a galeria disponíveis em http://www.whatsonincapetown.com/post/profile-
moor-gallery/. Acesso em 22/06/2017 7
http://eatwelltraveloften.online/moor-gallery-bordeaux-street-franschhoek/. Acesso em 22/08/2017
suas peças. Um fato curioso é a cidade de Franschhoek, uma das cidades mais
elitizadas e pactuadas com o apartheid ser esta que recebe WillieBester e uma
exposição comprometida e em fazer um retrato das injustiças presentes na
sociedade sul-africana.
Uma das obras de Bester foi produzida como ―site specific‖ para a MoórGallery,
para ser exposta na fachada do prédio, ao ar livre. A suntuosa escultura, feita
em metal, integra a lista de ―Trojan Horses‖ produzidas por Bester. Retomando a
história deste conjunto de obras, a produção trata de uma série de eventos por
todo o país, mais especificamente o que ocorreu em Athlone, próxima a Cidade
do Cabo, em que policiais sairam de caminhões de entrega e mercadorias
comuns, onde estavam escondidos, para atacar a população segregada nos
bantustões. A analogia feita pelo artista ao Cavalo de Troia resultou na
construção dos cavalos, feitos de peças automotivas que adquiriu em ferros
velhos. O material escolhido, pela dureza, texturas e cor, fazem referência ao
armamento pesado e à truculência dos policiais, que no evento em Athlone
matou três garotos sem nenhuma razão. Esta obra específica para a
MoórGallery foi chamada de ―ApocalypseHorse‖ pelo artista, produzida em 2016.
Apocalipse Horse – 2016 – WillieBester
Metal
―Thisplace, thisspace‖, segundo a apresentação da exposição no catálogo, tem
por objetivo ―desafiar e encantar o espectador enquanto lidam com as respostas
de artistas ao nosso complexo país e sociedade‖ e emergiu desta relação
estabelecida com WillieBester.
This place, this space emerged from Moor Gallery's established relationship with Willie Bester. Bester has been creating strongly-coloured, mixed media works since the early 1990s, commenting on the political and social. He has markedly influenced artists depicting the 'spaces' of informal settlements and racial divides using found materials. Having received more recognition in the market outside of South Africa, it is seldom that contemporary exhibitions here include his work. This place, this space shows works by artists such as Diane Victor, whose absorbing images emerge from her reactions to events she views as 'disasters' in our society, in conversation with Bester's pieces. Alfred Thoba and Francois Knoetze challenge us on other issues. Desmond Mnyila's quiet studies of places are not only benign. And with works by, amongst others, Heather Gourlay-Conyngham, Philip
Rikhotso and LizzaLittlewort, the magnetic generosity of our country's light, climate, and intricate web of people engages us all further in ever-complex spaces. (apresentação da exposição, disponível em: http://franschhoek.org.za/event/this-place-group-exhibition-at-moor-gallery-franschhoek/. Acesso em: 22/06/2017)
A lista completa de artistas participantes segue: WillieBester, Diane Victor,
LizzaLittlewort, FrancoisKnoetze, Angus MacKinnon, Louis Maqhubela, Heather
Gourlay-Conyngham, David Koloane, Joanne Bloch,NompumeleloKumalo,
Desmond Mnyila, Helen Timm, JabuMasuku, Janet Wilson, DerrickNxumalo,
Alfred Thoba, Louise Linder, ThandekaMathenjwa, ThulileNyawo,
NcamisileTembe, SizakeleMbuyisa e Eunice Geustyn.
A pequena galeria parece fazer crescer uma árvore invisível dentro de si nesta
exposição, entendendo WillieBester como o tronco que mantém a base do
diálogo com outros artistas, as ramificações deste tronco, que tratam temáticas
similares às dele, políticas ou sociais, ou que abordam outros temas, ou o
mesmo tema por outras perspectivas, ou apenas por uma aproximação estética.
Os elementos mais importantes da obra de Bester são: engajamento político,
tema das questões sociais, arte como um espelho da realidade atual, retomada
de fatos e mártires do apartheid, retratos a óleo de cidadãos sul-africanos (mais
frequentemente khoisan), cores vivas, crítica ao passado e às desigualdades,
uso de materiais inutilizados, técnicas e matérias-primas mistas em um único
trabalho (trabalho de composição e reestruturação de elementos para formar um
todo coeso e unificado, construção das obras assim se repete nas temáticas, no
objetivo do artista em reestruturar na arte as desigualdades históricas de seu
país), colagens, o tema da criança que lida com a pobreza e transita em
ambientes inóspitos, da infância ausente, o tema da exclusão social,
gentrificação, das estruturas de poder e a realidade e o realismo (uso de
fotografias coladas nas pinturas, assemblage de elementos do cotidiano) . Em
―Thisplace, thisspace‖, esses elementos e temáticas estão presentes em obras
de outros artistas, e por esta razão, dialogam com as peças de Bester.
WillieBester e Diane Victor
A artista que conversa, talvez, mais diretamente com as obras de WillieBester é
Diane Victor, uma gravurista que retrata a partir de fortes imagens, muitas vezes
simbólicas e mitológicas, aquilo que considera como desastres na
contemporaneidade da África do Sul. A artista, de Pretória, expôs em
Franschhoek 20 gravuras em papel.
Mind the gap 1/25 – Diane Victor
Data: 2002
Descrição: Disaster no. 12
Nome: Etching
Tipo: Original graphic
Mídia: Etching on paper
Medidas: 21 x 28 cm
A obra acima trata da pobreza vivenciada, ainda, com mais exclusividade pela a
população negra na África do Sul. Durante o apartheid, houve um processo de
gentrificação profundo em todo o país. Na Cidade do Cabo, o exemplo mais
lembrado é o caso do District6, em que a população negra do bairro foi forçada
a deixar suas moradias para dar o espaço urbano privilegiado aos brancos.
―Mind the Gap 8remind us of the extreme and humiliating poverty still suffered by
many black people in post-apartheid South Africa.‖
Na figura, uma mulher negra caminha, aparentemente sem rumo, com seus
pertences em um carrinho de supermercado, como que expulsa e sem um lugar
para morar. Imagens de casa aparecem isoladas da figura central nos cantos da
obra, como lugares em que, por uma questão de ―segurança‖, não estão
acessíveis a pessoas negras.
Relocation – Willie Bester9
Data: 2013
Nome: Oil
Tipo: Painting
Mídia: Oil on board and steel
Medidas: 54 x 104 cm
―Mindthe Gap‖ aproxima-se da temática de uma das obras de Bester exposta em
―Thisplace, thisspace‖: ―Relocation‖. Na obra, Bester retrata o momento da
chegada de um caminhão de mudança para a township, onde passam a morar
8 Informações sobre a artista e a obra disponíveis em:
http://www.jackimcinnes.net/WritingArticles/1CatalogEssayDianeVictor2010.pdf.
Acesso em 23/06/2017. 9 Imagem de acervo pessoal.
os despejados e segregados. Em meio à pintura cheia de cores e elementos da
vizinhança pobre, o artista realiza a colagem de fotos de crianças negras. A
mudança deve-se ao fluxo destas pessoas para as townships, fruto do processo
de gentrificação. Esta obra de Bester encontrava-se na sala de entrada da
galeria. O valor desta pintura, afixado na parede era de R125.500, o
correspondente a, em média, R$32.000.
LizzaLittlewort, WillieBester e a questão da identidade sul-africana
Social engineering 3 – Willie Bester
10Data: 2014
Nome: Oil
Tipo: Painting
Mídia: Oil on board and metal
Medidas: 64 x 50 cm
Littlewort aproxima-se de Bester na busca de reparações para realidade atual da
África do Sul. Ambos dizem com suas obras: estamos no passado. O próprio
Bester, em entrevista concedida para esta pesquisa, conta sobre sua trajetória
de exclusão dentro os espaços artísticos sul-africanos, e como ainda é um
esforço para os artistas ―sem ascendência europeia‖, e como ainda é um esforço
pós-apartheid o de superar as desigualdades geradas. Sua obras, hoje bem
10
Imagem de acervo pessoal.
cotadas no mercado pelo reconhecimento internacional que recebeu, muito
antes do reconhecimento dentro de seu país, não fazem parte da mesma
realidade de outros artistas que ainda precisam, por questões raciais, provar
com seu valor com muito mais dificuldade.
Tanto em Littlewort quanto em Bester há uma busca pela construção de uma
identidade do povo, que fica muito clara nos discursos das obras e nos retratos,
tipo de produção constante de Bester desde o início de sua carreira.
Littlewort localiza-se como artista branca falando em desigualdades, e é muito
cuidadosa nesse objetivo, pois entende seu papel de privilegiada dentro da
sociedade da qual é parte. Ela explora a dualidade do que vê como
desigualdade e do que ela mesma é, pela herança holandesa.
History repeating myself – LizzaLittlewort
11Data: 2016
Nome: Oil
Tipo: Painting
Mídia: Oil on board
Medidas: 80 x 60 cm
11
Imagem da obra de acervo pessoal.
Na ―Historyrepeatingmyself‖, uma inserção (presumida) do próprio rosto de Littlewort no famoso retrato, atua como uma espécie de expressão da tensão apresentada pela herança holandesa do artista. Mais uma vez, esta narrativa politicamente corretiva é minada por sua colaboração abrupta com uma conversa sobre "o aqui" e uma conceptualização do "passado" que faz uso da cultura colonial de exploração que critica e não consegue abordar a presença real dos oprimidos Corpos aos quais muitas vezes invoca vagamente. (Disponível em: https://artthrob.co.za/2015/12/01/the-contradictions-of-living-in-the-past-lizza-littlewort-at-99-loop/. Acesso em 23/06/2017)
Ao todo, Littlewort teve expostos quatro trabalhos em ―Thisplace, thisspace‖. A
obra ―Historyrepeatingmyself‖ foi vendida ao valor de R17.100.
Bester, Heather Gourlay-Conyngham e o retrato da criança
Heather Gourlay-Conyngham é uma retratista sul-africana hiperrealista. Ela
acredita que uma boa obra de arte tem algo de intrigante, combinado à
habilidade, técnica e ideia. ―There is something compelling about recording a
person for posterity. Not only does a portrait give insight into a particular person
but it gives a sense of the time in which he/she lived as well as the way the artist
perceived that person. It is human nature to look at people‖ (CONYNGHAM, H.,
disponívelemhttps://artsouthafrica.com/220-news-articles-2013/2014-in-
conversation-with-heather-gourlay-conyngham.html.Acessoem 23/06/2017)
Nicole and Karyn – Heather Gourlay-Conyngham12
Data: 2014
Nome: Oil
Tipo: Painting
Oil on canvas, 160 x 90 cm
Por esta visão da artista sobre o retrato, é possível traçar uma aproximação com
Bester, na medida em que localiza o retratado e sua identidade no tempo-
espaço. Em ―Thisplace, thisspace‖, a obra de Heather Gourlay-Conyngham
exposta é ―Nicole andKaryn‖, o retrato fidedigno de duas crianças, irmãs e
albinas.
Especificamente neste trabalho, outra aproximação é possível pelo retrato
realista da criança. No caso de Bester, as crianças aparecem em retratos
pintados a óleo ou nas fotografias, inseridas em pinturas das favelas. A criança
em Bester tem um ar de desamparo, de solidão, e da obrigação de vivenciar
esta pobreza, perdendo muitas vezes pelo caminho a própria infância, pela falta
de recursos e pela obrigação do trabalho desde muito cedo.
Não raramente, Bester faz o retrato destas crianças desamparadas brincando
com bonecas quebradas e bicicletas estilhaçadas, em meio à violência e ao
contato constante com a ameaça armada. Os brinquedos aparecem tão
abandonados quanto as crianças. Sapatinhos infantis feitos em metal aparecem
em composição com pás, referência ao trabalho e sangue. Este elemento está
retratado em oito obras expostas na MoórGallery.
12
Imagem de obra de acervo pessoal.
The missing ones (2008) e The playground-tricycle 4- (2016)13
Detalhe da obra Social engineering 2 – WillieBester14
Data: 1999
13
Imagens de obras de acervo pessoal. 14
Detalhe da obra: imagem de acervo pessoal.
Nome: Mixed media
Tipo: Painting
Mídia: Mixed media
Medidas: 160 x 33 x 12 cm
Bester, Angus Mackinnon e François Knoetze: o retrato e o lixo
Um fator de extrema importância para a produção artística de WillieBester é o
reaproveitamento dos materiais para a confecção de suas peças. No trabalhos
afixados em parece, misturam-se peças de sucata, sobretudo de aparelhos
eletrônicos e peças automotivas, latas de refrigerante, com o trabalho
bidimensional, mais delicado, das pinturas do artista. Nas esculturas, peças
pesadas são soldadas e formam cavalos monumentais, cães e figuras,
aparelhos inventados, móveis e peças de design, sapatinhos de criança, pás,
armas. O artista faz do reuso a matéria-prima para a obra-prima. O uso desses
materiais possui uma intenção ecológica, mas também simbólica, pois são
materiais encontrados nos bantustões. Esta simbologia tem relação direta com o
tratamento ―de lixo‖ dado aos personagens retratados, mas no profundo deste
descaso está a riqueza para o artista: as pessoas, o potencial transformador dos
fatos, da arte e pela arte.
Social engineering 1- WillieBester15
Data: 2011
Nome: Mixed media
Tipo: Painting
Mídia: Mixed media
Medidas: 150 x 97 x 6 cm
Na obra acima, é possível identificar a reutilização de vários aparelhos e peças
inutilizadas, em harmonia com a pintura colorida, realista e delicada de Bester.
―Social engineering3‖ faz referência ao cotidiano de dentro das casas da
população negra (khoisan) e do trabalho pesado, da identidade e da infância
destas pessoas. As bonecas quebradas estão presentes e o retrato também.
15
Imagens da obra de acervo pessoal.
The Domestic – Willie Bester16
Galvanized metal and spray paint
Na obra acima, Bester retrata uma figura feminina, voluptuosa e negra em seu
papel imposto pela sociedade: trabalhar nas casas de brancos. Na imagem, fica
claro que, na própria galeria, pertencente a uma família branca, que faz os
serviços domésticos não são brancos. A obra é feita de metal galvanizado
reutilizado, fruto da habilidade adquirida pelo artista em lidar com maçaricos e
soldas.
Voltando à questão do lixo, nesta exposição em Franschhoek, outros dois
artistas fazem uso de materiais que seriam descartados. O primeiro deles é
Angus Mackinnon, recentemente aluno da Universidade de Cape Town, na
Michaelis Schoolof Fine Art. Como um trabalho para o curso, ele recebeu uma
16
Imagem da obra de acervo pessoal.
resposta fotográfica e a executou retratando as pessoas que vivem da prática do
Skurreling.
I wanted to photograph and explore the phenomenon of Skurreling (also known as waste-picking, trolley pulling, reclaiming) […] Initially my focus was on the trolleys that these guys stack ingeniously and pull for kilometers – I saw them as sculptures/objects worthy of attention rather than just a shopping trolley. It soon turned into a project about the pullers too. I spent large amounts of time getting to know a few guys within the industry and then began photographing them; it got easier as I went along, met more people and sussed out the process. (Disponível em: http://10and5.com/2013/12/12/fresh-meat-angus-mackinnon/. Acesso em 23/06/2017)
Eldhino, Carrier Way, Cape Town, 2013 1/9 – Angus Mackinnon17
Data: 2013
Nome: Photograph
17
Imagem de obra disponível em: http://www.juliameintjes.co.za/view_exhibitions.asp?pg=gallery_image&subm=gallery&img=10355.jpg&exCode=Moor. Acesso em: 23/06/2017.
Tipo: Work on paper
Mídia: Giclיe print on 308gsm Photo Rag paper
Medidas: 31,5 x 31,5 cm
Main Street, Johannesburg, 2013 3/5 – Angus Mackinnon18
Data: 2013
Nome: Photograph
Tipo: Work on paper
Mídia: Giclיe print on 308gsm Photo Rag paper
Medidas: 45 x 45 cm
Mackinnon utiliza-se do retrato e da fotografia do lixo empilhado nos carrinhos e
caminhões (que ele considera esculturas, pelo equilíbrio e engenhosidade dos 18
Imagem de obra disponível em: http://www.juliameintjes.co.za/view_exhibitions.asp?pg=gallery_image&subm=gallery&img=10355.jpg&exCode=Moor. Acesso em: 23/06/2017.
trabalhadores) para contar uma história sobre o lixo e a indústria que está por
trás dele, e das pessoas que ganham dinheiro o removendo.
Fica claro que a questão da limpeza das cidades e ambiental de uma maneira
geral toca os artistas sul-africanos.
O segundo artista de ―Thisplace, thisspace‖ que se comunica com esse aspecto
da reutilização dos materiais por Bester é o cineasta e performer François
Knoetze. O processo de Knoetze é bem interessante, por misturar quatro
linguagens das artes visuais: escultura, performance, vídeo e fotografia.
Cape Mongo – VHS – François Knoetze19
Dated: 2013
Performance
Knoetze confeccionou estas fantasias (personagens, avatares, parangolés) com
o intuito de contar a história de Cape Town a partir do lixo produzido pela
população. Em meio à performance, nos vídeos disponíveis no Youtube, ele faz
referência a ícones do capitalismo e consumismo como forma de criticar o
consumo sem consciência.
O artista criou cinco personagens: Papel, Plástico, Metal, VHS e Vidro20. Trata-
se também de uma crítica à desigualdade e à alienação. Cape Mongo tem esse
19
Imagens desta obra são de acervo pessoal 20
Vídeos das performances dos personagens disponíveis em https://www.youtube.com/watch?v=6nxZf8UUWYs https://www.youtube.com/watch?v=04Hpd_cfUSw Acesso em 23/06/2017)
nome em referência à cidade e Mongo é uma gíria para algo que foi jogado fora
e depois recuperado.21
A obra esteve disponível como escultura (apenas VHS) e em registro fotográfico
na exposição em Franschhoek.
Paper, whose genetic roots are linked to trees, is a migratory creature – whose soft cardboard skin can be used for shelter. Glass emerged from sand and will eventually return to it. The traces of labels are visible on Glass’s skin. Visually, Plastic is a treasure; made from the rainbow-like scraps of modern life. Metal is a spectacular creature – like the Tin man of Oz, with an impressive armour and physical strength. VHS is made from the ribbons of old tape cassettes and videos. In five short films, the creatures revisit the spaces of their imagined pasts – the locations associated with their material existence and the constitution of their social relations – as if walking against the consumer-driven currents of city. (Disponível em: http://www.designindaba.com/videos/creative-work/francois-knoetzes-mythical-trash-creatures-reveal-our-terrible-treatment-waste. Acesso em 23/06/2017)
21
Apresentação do trabalho de Knoetze disponível em: http://www.artbaseafrica.org/project/cape-mongo. Acesso em: 23/06/2017.
Conclusão
A obra de WillieBester pode ser entendida tematicamente como uma
denunciante do sistema de desigualdades do apartheidque se estende até os
dias atuais pelo fracasso em superá-las. Por meio dela, descortinam-se diante
dos olhos do espectador a expressão de fatos dramáticos como a exclusão
social, deslocamentos de grupos de pessoas e gentrificação, a criança diante de
um cenário violento e nada propício ao desenvolvimento, o capitalismo
desenfreado.
Como artista de renome e que aborda diversas questões sociais, é interessante
traçar paralelos entre sua obra e de outros artistas. Em ―Thisplace, thisspace‖,
desconsiderando os filtros curatoriais e as razões de escolha de tais artistas, é
possível obter uma amostragem de um leque complexo de temas político-
sociais.
A partir da observação e análise desta exposição e outros elementos, esta
pesquisa, ainda em curso, pretende localizar Bester, este artista que intriga pela
sua origem, seus temas engajados e, em algum nível, pela superação dos
problemas relativos ao preconceito enfrentado em seu país, em um circuito
artístico ainda elitizado e predominantemente branco e eurocêntrico, e qual o
seu papel como artista nesse meio.
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Francis Knoetze, Cape Mongo:
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http://www.artbaseafrica.org/project/cape-mongo. Acesso em: 23/06/2017.
Vídeos das performances dos personagens de Cape Mongo:
https://www.youtube.com/watch?v=6nxZf8UUWYs
https://www.youtube.com/watch?v=04Hpd_cfUSw Acesso em 23/06/2017
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