ambientes virtuais de_aprendizagem

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Paper ID: 314 AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: o desafio de novos traçados na produção do conhecimento como criação 1 Marilú Fontoura de MEDEIROS, [email protected] 2 ; Gilberto Mucilo de MEDEIROS, [email protected] ; Joyce Munarski Pernigotti, [email protected] ; 3 Rubem Mário Figueiró Vargas, [email protected] , Anamaria Lopes Colla, [email protected] , Maria Bernadette Petersen Herrlein, [email protected] , Beatriz Tavares Franciosi, [email protected] 1 Análise de uma prática social constitutiva e a produção de singularidades e de devires na formação docente e na produção do ser que “mais constrói mundos do que o reflete”. 2 Professora-pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Educação da PUCRS, Professora Titular e Diretora da PUCRS VIRTUAL. 3 Professores-doutores da PUCRS VIRTUAL. RESUMO - O presente trabalho move-se pelo desafio de investigar como uma universidade brasileira de grande porte institui campos de virtualidade em seus processos de ensino- aprendizagem, detectando as reverberações nas práticas socialmente construídas na PUCRS VIRTUAL. A análise dessa prática se dá em dois grandes níveis, quais sejam (1) o da capacitação docente que dá conta da epistemologia do virtual- atual em sua singularidade, assim como (2) as redes que operam passagens na construção do paradigma que instiga nossa prática. A idéia de potência, o enfrentamento de falsas premissas entre virtual, atual, possível e real são atravessadas por ações instituídas na cotidianidade do devir de uma cultura do virtual como parte da singularidade do ser e da possibilidade de grupos-sujeito. Em síntese, esses agenciamentos promovidos pelos docentes buscam instaurar processos de heterogênese de garantia, também múltipla, de espaços de aprendizagem. São espaços de autonomização, de diferença, de criação. Palavras-chave: capacitação de professores em EAD; Educação a Distância; ambientes de aprendizagem; transição paradigmática; virtualidades e heterogênese. I. INTRODUÇÃO A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS, em sua unidade da PUCRS VIRTUAL insere-se como um projeto inovador, agregador de valores ao ensino e à aprendizagem desenvolvidos na modalidade presencial, especialmente, ao acoplar dimensões vinculadas ao avanço de tecnologias da era digital que permitam a ampliação e a socialização do conhecimento. Abrem-se, com essa iniciativa, não só o enfrentamento de práticas instituidoras de novos agenciamentos e instauração de múltiplos processos em espaços de aprendizagem, como também oferece múltiplas possibilidades de acesso à informação e à formação(Medeiros, 1998[1]; Medeiros, Medeiros e Colla, 2001[2]) a pessoas que se encontram afastadas dos pólos tradicionais de oferta de informações e formações acadêmicas atualizadas. Sua constituição está marcada pela articulação em torno de múltiplas demandas, desde as potencialidades e condições do âmbito acadêmico da PUCRS, a parceria pautada por

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Paper ID: 314

AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM:o desafio de novos traçados na produção do

conhecimento como criação 1

Marilú Fontoura de MEDEIROS, [email protected]; Gilberto Mucilo de MEDEIROS,[email protected] ; Joyce Munarski Pernigotti, [email protected];3

Rubem Mário Figueiró Vargas, [email protected], Anamaria Lopes Colla, [email protected],Maria Bernadette Petersen Herrlein, [email protected], Beatriz Tavares Franciosi, [email protected]

1 Análise de uma prática social constitutiva e a produção de singularidades e de devires na formação docente ena produção do ser que “mais constrói mundos do que o reflete”.2 Professora-pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Educação da PUCRS, Professora Titular eDiretora da PUCRS VIRTUAL.3 Professores-doutores da PUCRS VIRTUAL.

RESUMO - O presente trabalho move-se pelodesafio de investigar como uma universidadebrasileira de grande porte institui campos devirtualidade em seus processos de ensino-aprendizagem, detectando as reverberações naspráticas socialmente construídas na PUCRSVIRTUAL. A análise dessa prática se dá em doisgrandes níveis, quais sejam (1) o da capacitaçãodocente que dá conta da epistemologia do virtual-atual em sua singularidade, assim como (2) as redesque operam passagens na construção do paradigmaque instiga nossa prática. A idéia de potência, oenfrentamento de falsas premissas entre virtual,atual, possível e real são atravessadas por açõesinstituídas na cotidianidade do devir de uma culturado virtual como parte da singularidade do ser e dapossibilidade de grupos-sujeito. Em síntese, essesagenciamentos promovidos pelos docentes buscaminstaurar processos de heterogênese de garantia,também múltipla, de espaços de aprendizagem. Sãoespaços de autonomização, de diferença, de criação.

Palavras-chave: capacitação de professores emEAD; Educação a Distância; ambientes deaprendizagem; transição paradigmática;virtualidades e heterogênese.

I. INTRODUÇÃO

A Pontifícia Universidade Católica do RioGrande do Sul/PUCRS, em sua unidade daPUCRS VIRTUAL insere-se como umprojeto inovador, agregador de valores aoensino e à aprendizagem desenvolvidos namodalidade presencial, especialmente, aoacoplar dimensões vinculadas ao avanço detecnologias da era digital que permitam aampliação e a socialização do conhecimento.Abrem-se, com essa iniciativa, não só oenfrentamento de práticas instituidoras denovos agenciamentos e instauração demúltiplos processos em espaços deaprendizagem, como também oferecemúltiplas possibilidades de acesso àinformação e à formação(Medeiros, 1998[1];Medeiros, Medeiros e Colla, 2001[2]) apessoas que se encontram afastadas dos pólostradicionais de oferta de informações eformações acadêmicas atualizadas. Suaconstituição está marcada pela articulaçãoem torno de múltiplas demandas, desde aspotencialidades e condições do âmbitoacadêmico da PUCRS, a parceria pautada por

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produções de singularidades, até asexigências do contexto social que impõem,cada vez mais agilidade às organizações quese dedicam à expansão e à construção denovos conhecimentos e competências aocidadão do século XXI. Conhecimentos ecompetências instaurados com base em umanova sensibilidade, uma sensibilidaderessignificada, uma potência, umapossibilidade de afetar e serafetado(Deleuze,1997[3]).

O processo instaurado na PUCRS VIRTUALconstrói uma proposta e uma arquiteturapedagógica, constituída por ações de pontatecnológica e humana na múltipla rede deconstrução de saberes e fazeres. Inerente àscondições e processos paradigmáticos, aPUCRS VIRTUAL privilegia a formação decompetências, que visam assegurar um“saber”, um “saber-ser” e um “saberconviver”, além de um mero “saber-fazer”(Delors, 1999[4]). Isso implica,igualmente, a formação de professores edemais agentes envolvidos, visando instaurarprocessos de construção de multiplicidades,de novos platôs de realização exigidos pelaEAD e pela PUCRS VIRTUAL.

O desafio a que o paradigma de EAD noscoloca é a processualização do virtual. Comotal, acima de tudo, busca-se garantir que esseprocesso constitua a entrada numa culturavirtual e que seja, pela própria naturezaflexível e instigante, aberto a contínuastransformações e certos de que o platôalcançado, significa somente um espaço dedescanso na jornada, elos na complexa redeque , diuturnamente, se abrem e se ampliamno fazer da Educação a Distância na PUCRSVIRTUAL(Deleuze, 1997[3], 1999[5];Deleuze e Guattari, 1995[6], 1997[7]; Alliez,1996[8]).

II. UM BREVE SIGNIFICADO DAPUCRS VIRTUAL

A PUCRS VIRTUAL tem em seuspressupostos operacionais, a constituiçãode uma equipe interdisciplinar, além da

necessária instituição de uma plataformaque lhe dê suporte(Boff e Girafa,2001[9]). No entanto, esses supostos sóassumem sua relevância pelos processosepistemológicos gestados na atualizaçãodessa realidade. Uma plataforma híbrida(Medeiros e Medeiros, 2001[10])queobedece a pressupostos socio-político-filosóficos, assim comosociocomunicativos e sociotécnico-metodológico, são configurados: umaestrutura tecnológico-pedagógica apoiadapor sistema apoiado em satélite (BRASILINTELSAT/B3) para geração de trêsportadoras ( 2 x 256 Kbps ) devideoconferência e, uma deteleconferência (tvro- digital com bandade 2,5 MHtz), de conexões paravideoconferência pelo sistema Digidialem 256 Kbps e, do apoio 24 horas pordia, através da Internet, utilizando a RNPe, mais recentemente, um canal exclusivode 1 Mbits ( Terra ), exclusivo paraacesso dos alunos da PUCRS VIRTUAL.Além dessas facilidades de ferramentas eserviços em EAD, há a disponibilizaçãodo uso aberto de linha 0800 e de linhasconvencionais discada. Agregam-se àsaulas a possibilidade de acesso a fitas devideocassete ou de CD-ROM aos alunosimpossibilitados de compartilhar dasvídeo/teleconferências, assim comoparticipar das aulas na modalidadepresencial. Há, também, um canal aberto,em horários disponibilizados paraassessoramento e monitoramento porparte de professores, monitores e tutores.Seguem-se, graficamente(Figura 1), osaportes nas duas plataformas: mediaçõespor vídeo/teleconferência e mediaçõespor computador(Medeiros e Medeiros,2001[10]).

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Figura 1: Plataformas das mediaçõestecnológicas da PUCRS VIRTUAL

Questões preliminares como aprocessualidade do paradigma de EAD,contemplam o telos a que o grupo sepropõe como prática socialmenteinstituída (Deleuze e Guattari, 1997[8];Hardt, 1996[11]), a qual inclui asdemandas diretas dos processos e açõesenvolvidos diretamente com professores,alunos, monitores da PUCRS VIRTUALna direção de uma virtualidade, deprocessos interativos, de açõescooperativas, de uso da cognição e,especialmente, da metacognição, deforma a ampliar as possibilidades depromoção da autonomia em suasconcreticidade e historicidade possível.

Esses problemas-desafio estão empermanente geração. Tal como umasementeira, constituem-se em camposgeradores, que demandam respostas e

posicionamentos, instituindo novasperguntas. São condições inerentes àmudanças no operar em EAD.

Cada curso ou projeto criado na PUCRSVIRTUAL apresenta uma construçãoprópria e comporta capacitação,assessoramento e monitoramento deprofessores, de monitores, de tutores edos próprios alunos distantes, poisimplica facilitar o trânsito e a construçãodesse paradigma hipermidiático,virtualizado e hipertextualizado. Essaconstrução não se opera de cima parabaixo, mas em um projeto construcionista(Montero[12], 1994; Ibañez Garcia,1994[13]) e reconstrutivista (Deleuze eGuattari, 1995[6]; Habermas, 1990[14],1998[15]. Assim, cada curso, projeto,professor encontram-se em fases emomentos diferenciados dessaconstrução. É essa condição que desafia eobriga a trabalhar com o diferente e como múltiplo, tendo um télos que éreconstruído cotidianamente(Medeiros etal., 2001[16]). As propostas se apresentam aousuário/professor em seus múltiplosdevires, como uma arquitetura aberta,flexível, não hierárquica,

III. NOSSO FOCO DE ESTUDO

Nessa investigação, trabalhamos comoobjeto, com os processos do Curso deCapacitação Docente em EAD da PUCRSVIRTUAL(CCD), curso esse que seencontra em sua 18 versão e que jácapacitaram cerca de 400 docentes daUniversidade em modalidades de cursosintensivos e extensivos. As primeirasversões, cada uma delas envolvendo 110horas, foram desenvolvidas quase quetotalmente na modalidade presencial.Questionamo-nos dos processos que

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permitem a atualização das virtualidadesque demarcam esses cursos,[email protected] e queenvolvem, em sua processualidade, açõeshipertextualizadas, hipermidiáticas, assimcomo rizomáticas(Medeiros e Colla,2001[2]). Além disso, buscamos naconstrução do framework da CapacitaçãoDocente, a instauração de virtualidades,como o são as propostas desseframework , transformando-o ematualizações dessas virtualidades. Seriamcírculos que se vão estreitando,comprimindo para produção de novasvirtualidades ou, da mesma forma,constituem-se em círculos que seestendem, explodem em novasvirtualidades.

Essas imagens procuram traduzir oimpacto no campo do afectar (Deleuze,1988 [17]), que nos instavam a virtualizaro Curso de Capacitação Docente em EADe gerava em nós questionamentos que nosdesinstalavam de nossos própriosdomínios. Nesse processo contínuo debusca de patamares e pontos de apoio,éramos instados a atualizar esse campovirtual do CCD em EAD.

Nosso questionamento se opera nosmodos de passagem do CCDs em EADpara realidades que buscam autonomizaro sujeito, facilitando um fazer docenteque se atualiza nas práticas sociaisdiscursivas.

IV. MODALIDADE DE ANÁLISE DOSACONTECIMENTOS

A análise da construção e de produção deespaços singulares dos CCDs em EAD daPUCRS VIRTUAL é engendradasegundo um processo de síntese ativaque, segundo Deleuze(1988 [18]), indicaum entre-tempo em que se dá a

representação do presente sob o múltiploaspecto da reprodução do antigo, dareflexão do novo e da instauração dedevires, de agenciamentos que se criampara desenhar novos mapas, realinhar osantigos, reformatar relevos.

A presença simultânea do antigo e doatual, não como instantes sucessivos nalinha do tempo, em um entre-tempo, naatualização que comporta uma dimensãoa mais, mediante a qual apresenta oantigo e também a si própria. É, portanto,com o olhar do presente que voltamos anossa análise, sem, contudo, deixar deconsiderar as dimensões de fundação ede fundamento (Deleuze, 1988 [17] ;Aliez, 2000 [18]). Ao tratar da fundação,destacamos o modus operandi pelo que sedá a progressiva ocupação/reocupação deespaços em direção à virtualização/atualização; no que tange ao fundamento,lidamos com as condições de operação depressupostos, de resolutibilidade nasdimensões do possível e do real. Assim, aepistemologia fundante se atualiza naação.

V. CAPACITAÇÃO DOCENTE EM EADCOMO ESTRATÉGIA DE CRIAÇÃO EIMPLANTAÇÃO DE UMA CULTURA

VIRTUAL

O paradigma educacional, no sentido defundamento, existe enquantovirtualidade, em estado de potência, e queao atualizar-se, na dimensão com queDeleuze propõe, configura uma açãoeducativa. Com essa interpretação, oparadigma educacional que nos dásuporte na PUCRS VIRTUAL pode serencarado como um problema a serresolvido, no sentido em que se estáfrente a frente com um campo deresolutibilidade, qual seja, atualizar-se nofazer docente, e tornar-se atual. Assim,

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uma experiência advinda do curso decapacitação docente, promovida pelaPUCRS VIRTUAL, percorre o caminhono sentido da atualização do paradigma.Tal paradigma é compreendido como umagenciamento, uma metateoria, queorienta, nos caminhos múltiplos, aconstruir e a reconstruir no cotidiano.

Novas abordagens emergem(sociopolítico-filosóficas,sociocomunicativas, sociotécnico-metodológicas), Medeiros et al.(2001[19]), que não só desafiam ealteram a própria configuração deEducação a Distância na PUCRSVIRTUAL, mas fundamentalmenteconcorrem para o redimensionamento dasbases de constituição da subjetividade,em direção a sua condiçãosocioindividual. Tendo como moldurateórico-prática as idéias de Vygostsky[20], Habermas [14], Deleuze e Guattari[6] e Morin [21], além de apoios emLévy [22] por meio do que se pressupõecomo brechas de comunicação entre si,busca refletir sua materialidade na criaçãode ambientes de aprendizagempromotores das dimensões deinteratividade em suas múltiplasdimensões, de processos cooperativos, deênfase no desenvolvimento da autonomia,de ações argumentativas e de promoçõesde ações cognitivas e metacognitivas.Mantendo coerência com as teorias deapoio, as ações em EAD são tematizadas,construídas e reconstruídas de formaargumentativa, individual ecoletivamente.

Ações de valor altamente agregador,sejam na modalidade a distância, sejamnas reverberações à modalidadepresencial, têm sido as iniciativas daPUCRS Virtual na área de CapacitaçãoDocente em EAD. Os professores secapacitam em processos tecnológicos, de

mediações por computador e porprocessos deteleconferência/videoconferência, além deinvestimentos em habilidades vinculadasàs multimídias, encontrando-se, assim,frente a frente com os desafios deatualização das virtualidades das mídiasque se integram com vistas à gestão deprocessos de interação, de cooperação ede ganhos de autonomia.

No entanto, temos bem presente, que, aapropriação dos recursos de informáticaembora possa ser considerada por alguns,como uma aprendizagem relativamentesimples, sob o pressuposto inicial de que"basta transferir as aulas desenvolvidasno presencial para a engenhocatecnológica da educação virtual, estailusão logo se desfaz ao perceber, oprofessor, que a amplitude da mudançaque se impõe abala totalmente o domíniosobre o fazer docente praticadotradicionalmente na modalidadepresencial.

VI. O QUE OS ACONTECIMENTOSENGENDRAM NOS CCDS EM EAD

A - A atualização do virtual

Atualmente, a versão do CCD contemplaquase que 70% de acontecimentosvirtuais como proposta de instituição deambientes atuais de aprendizagem. O queparece se instituir como um paradoxo,evidencia o tornar atual, real, asexperiências de uma capacitação docenteque hoje se mostra nesse espaço da Web,como oferta de possibilidades ao docentede construir outros contextos, além dosapresentados. Importa nessa abordagem ainstituição de planos de ações imanentes,de práticas que constituam o convite à

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atualização do virtual, assim como ànovas virtualizações de um atual possível.Seja na modalidade presencial ou adistância, esses processos se instaurampelo jogo de imagens-lembranças,imagens-evocações, imagens essaspassíveis de atualização não-dada apriori, mas criada. Essas açõespressupõem a ruptura com a idéia demodelo, de representação, de exploraçãohierárquica e fechada em sua arquitetura.É nesse sentido, que nos apropriamos dasidéias de Deleuze (1988 [17]) queassevera ser essencial que concebamos(...) a diferenciação como uma relaçãoentre o virtual e o atual, ao invés de comoum relação entre o possível e o real. (...)O possível nunca é real, embora possa seratual; contudo, enquanto o virtual podenão ser atual, é não obstante real. Assim,ao contrário da idéia de modelo, de cópia,o professor constrói e atualiza sua prática,criando outras possibilidades para asvirtualidades ali instituídas.

B - O paradigma como um substrato davontade de potência e do fundamento

O paradigma EAD da PUCRS VIRTUALexiste enquanto virtualidade, e, portantotem a sua realidade em estado depotência, que busca sempre umaatualização. Ao atualizar-se, no sentidocomo Deleuze propõe, configura açõeseducativas reais. Essas, supostamente sãoinstigadas pela potência de afetação doscursos de capacitação. A criação deespaços-tempo de problematização daspráticas educativas usuais dos docentes,gerada pelo CCD, afeta o sujeito-professor enquanto consciência. Dessemodo, a vontade de potência dessessujeitos se abre em múltiplas direções,duplica os movimentos e migrações,criando novas cartografias nas quais o

paradigma se presentifica em suasdiferenças e em suas intensidades.

Situações gestadas no CCD em EADespelham essa potencialidade. Ora, sãoproduções, mais que isso, sãoacontecimentos que condensam assingularidades, geralmente para a criaçãode outros platôs, outros mapas, outroscampos. Mesmo aqueles nos quais osprofessores buscam se instituir como osmesmos, tendendo a negá-lo, essemesmo é diferente, seja em suaintensidade, seja em seu mapeamento.

Uma imagem da atualização dessesespaços de construção é ilustrada a seguirpor práticas de docentes capacitados noCCD. Por exemplo, na área do ensino deQuímica, a atualização do paradigmaefetuada pelo professor extrapolou adimensão dos usos em EAD e de suaprópria disciplina, propondo açõesdestinadas aos alunos do ensinopresencial , que atingem toda a formaçãobásica em Química, espraiada para outrasunidades da Universidade. A organizaçãode um Laboratório de Química Virtual e oProjeto 00100 – com o mote, zero derepetência, zero de evasão e 100% deaprovação, atualizam de forma criativa einovadora as TICs apresentadas no cursode capacitação, bem como o fundamentoda proposta educativa da PUCRSVIRTUAL. Ações como essa reverberamno ambiente docente e da própriaUniversidade, criando novos movimentossingulares, que se constituem em outrosnós numa construção rizomática,polissêmica, polifásica.

Na área de gestão da aprendizagem,ainda em sua dimensão administrativa demonitoramento, cerca de 3000 alunos dediferentes unidades acadêmicas, têm sebeneficiado de um processo de registro,acompanhamento e interação a qualquer

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tempo e lugar. Ao invés de operar com asdatas e horários previstos e circunscritosna modalidade presencial, a partir daafecção positiva dos professores com aexperiência no webCT, emerge o pathosde sensibilidade, de convívio com umsoftware de autoria empregado paragerenciamento de ambientes deaprendizagem. Aos alunos está sendoofertada a possibilidade, muito maior doque o professor tem consciência, deconvidar ao professor a compartilharidéias, argumentar e contra-argumentarem bate-papos, em fóruns.Paradoxalmente, o monitoramentopermite e insta à maior transparência nasdimensões de avaliação.

C - O rizoma hipertexto como umarealização do possível

Os acontecimentos gerados nos CCDs emEAD e expressos no fazer docente trazemem si o desmanche do jogo entre virtual ereal, virtual e possível.

Assim, no jogo de análise das práticaspresentes dos CCDs em EAD, buscamosevidenciar que “o virtual não é umadegradação do ser – não é a limitação oucópia do ideal no real [opondo-se aoplatonismo] – mas, ao contrário, aatualização de Bergson é a produçãopositiva da realidade e multiplicidade domundo, (...) como uma atualização notempo (...) oferecendo uma críticaadequada da noção de possível (Hardt,1996, [23] p. 46-48). Com essaperspectiva, o virtual tem a realidade deuma tarefa a ser cumprida e a partir daqual a existência é produzida num tempoe num espaço especial.

A construção da noção de hipertexto, emdesenvolvimento no CCD em EAD,assume a forma de um tutorial

hipertextualizado que, além de colocar oaluno como centro do processo deaprendizagem, provocaconcomitantemente a reflexão sobre suaforma e conteúdo. Cada sujeito daaprendizagem reconstroi seu caminho ouseus múltiplos caminhos, gerandomultiplicidades. Nesse caso, assim comoem muitas experiências vividas no CCD,o virtual passa, assim, de uma região aoutra, sem jamais se esgotar, criando,em cada lugar, não apenas novidades decontexto, mas também novidades que serepetem ou variam segundo suarelevância em outros contextos ou comoutros objetos (Rajchmann, 2000 [24]).

Dessa maneira, o possível, dentro de suasmultiplicidades com relação a forma deabordar o hipertexto, processualizou-se narealização de um tutorial, ao passo que,simultaneamente, representa a atualizaçãodo paradigma, dentro de uma de suaspossíveis ondas de imanência virtuais,determinada dentro da subjetividade doautor, atravessada por estes conceitos,assim como pela natureza da abordagemproposta ou da forma como essesprocessos rebatem e têm ressonância nosujeito. É algo do afetar e ser afetado,que Deleuze retoma de Nietzsche eEspinosa(Hardt, 1996[23]).Na figura 2 apresentamos, com alimitações que o papel impresso nosimpõe, uma imagem do tutorial queaponta tão somente alguns dosdesdobramentos propostos. A atualizaçãodo paradigma, não como um espaço derepetição, mas de diferenciação e criaçãofica exposta desde a página inicial,quando o remetimento à proposição denavegação se organiza de modo nãolinear, hierárquico, mas rizomático.Trata-se de uma atualização, na medidaem que o campo de possibilidades que sedescortina ao navegador/aluno nãopressupõe um único caminho, nem uma

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hierarquia na navegação, mas, aocontrário, se vale e potencializa pelaimagem e sentido, damultiplicidade(Deleuze e Guattari,1995[6]).

O professor/navegador/aluno, em outraspalavras, tem diversas possibilidadescontemporâneas(atuais), algumas dasquais podem ser realizadas no futuro; emcontraste, as virtualidades são semprereais(no passado remoto e presente, na

memória) e podem tornar-se atualizadasno presente dependendo da modalidadede exploração, do sentido, significadoatribuído à sua atualização.

Trata-se de um tutorial hipertextualizadoque abre ao professor/navegador àpossibilidade de pensar a construção dehipertextos, assim como açõesrizomáticas, múltiplas, conectivas,disruptivas em sua natureza e abordagem.

Figura 1: Figura expandida do tutorial de hipertexto

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D - A própria Capacitação Docente comouma produção de outros agenciamentos

Nossa experiência de concretização como CCD e com a construção da PUCRSVIRTUAL se dá a partir de criações.Criações essas que engendramacontecimentos, provocam fluxos,atualizam ações. Esses fluxos sãogestados em função das virtualidadescriadas e da forma como criamos aspossibilidades de atualização dessasvirtualidades. Por sua vez, esse desafio,que não é relativo somente àsexperiências desenvolvidas namodalidade a distância, mas tambémestão presentes na experiência presencial,implica tanto a uma modalidade como aoutra a lidar com a condição de afetar ede ser afetado (Hardt, 1996[11]).

Um dos desafios a que nos colocamos foio de romper com essa idéia de ajuste aomodelo, de cópia, de instrumentalização,mesmo com uma tecnologia de ponta, dealtíssimo nível e complexidade. O quepolarizava nossa atenção era o processode instituição de subjetividades a partir deexperiências no campo da virtualidade,fossem elas presenciais ou nãopresenciais.

Para tanto, fomos buscar nas leituras-experiência de Deleuze em Nietzsche eEspinosa, as condições, osacontecimentos que nos permitiriam gerarfluxos, inclusive em nós mesmos, fluxosesses geradores de novos acontecimentos.Acontecimentos que evidenciassem nossavontade de potência, assim como nossacondição de ser afetado, relacionado aopoder de agir, de atualizar. Não nosinteressava operar somente com a idéia decópia; interessava sim, a dimensão decriação e de recriação a partir de nósmesmos, não só como avalistas do

processo; mais pelo sentir e deixar-seafetar para validar o construído.

Precisamos, nesse processo, ter claro acondição de que tal afetamento só se dariaem relação aos outros corpos, corpos denossos colegas-professores, corpos denossos colegas-alunos.

Mais, que esse afetar como vontade depotência, como poder de ser afetado,define

“a receptividade de um corpo não comopassividade, mas como uma ‘afetividade,uma sensibilidade, uma sensação’ aafetividade é um atributo da potência docorpo. Em Nietzsche, como em Espinosa,então o pathos não envolve um corpo“sofrendo” paixões; ao contrário, o pathosenvolve as afecções que marcam aatividade de um corpo, a criação que éalegria”(Hardt, 1996, p.97-98[11]).

VII. À GUISA DE UMACONCLUSÃO PROVISÓRIA

Ei-nos, nesse momento, na condição dedar um ponto final em algo que é parte deum processo por natureza flexível einstigante, aberto a contínuastransformações, certos de que o platôalcançado, significa somente um espaçode descanso na jornada, elos nacomplexa rede que , diuturnamente, seabrem e se ampliam no fazer daEducação a Distância na PUCRSVIRTUAL. Esses pressupostos declarama pertença e a propriedade da ocupaçãodesse espaço de autoria e de criação, quese constitui na construção da proposta deEAD da PUCRS VIRTUAL. Asdimensões de contemporaneidade, decoexistência e pré-existência do passado éque nos animam a tecer correlações napermanente atualização da idéia,

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enquanto espaço virtual, e dos campos deresolutibilidade, nas dimensões dopossível e do real.

Embora a capacitação docente em EADseja considerada por nós, uma estratégiavital para o sucesso dessa modalidade elanão é portadora de soluções definitivas,pois em suas implicações há componentesnão só técnicos, mas também ideológicos,sociais e econômicos de várias ordens queestão, ainda, para serem esclarecidos.Diferentemente das inovações anteriores,a natureza da mudança, que a inserçãodos meios infotelecomunicaionaispromovem no campo do fazer docente,afeta não só o professor mas também oaluno. Este passa a ser solicitado ainteragir com diferentes meios e sujeitos ea compartilhar o conhecimento, paraconstruir novas relações, fazendo edesfazendo as informações dadas,reconstruindo-a em novos espaços, emdiferenciados significados e novas formasde organização.

A proposta educativa, exigida como umdesafio em EAD, envolve uma mudançaradical, não só nos modos como se ensinae como se aprende, mas também namaneira como se pensa o conhecimento.Alteram-se dimensões já dominadas nocampo da prática docente, como adistribuição de tempos e do espaçosespeciais, agora associados ao uso deestratégias educativas com suporte emferramentas tecnológicas que alteram eamplificam as dimensões de eficiência ede qualidade nos processos educativos;todavia, temos presente que essasmediações, se entendidas em seus fins,não são suficientes à instauração detransformações de fundo, assim como do“dar conta” das possibilidades deaprendizagem (Moran, 2000[24]).

Isto implica criar condições propícias aocultivo de uma cultura virtual, buscando asuperação da matriz identitáriaindividualista por meio de ações nãoisoladas, seja do ponto de vista dasmídias, das interações, das construções,no qual, respeitadas as partes, o trabalhovem do todo, com o todo e para o todo,(Medeiros,2000). Envolve, também, acrença em uma construção dasubjetividade, da intersubjetividadecrítica e reflexiva por meio de umadupla/múltipla comunicação. Há muito afazer neste campo de trabalho docente.Vale enfatizar que para uma mudança nacultura educativa, a ação do professorassim como a do aluno mudamradicalmente. Não se trata de ummecanismo técnico do tipo: "o professorentra por uma porta tradicional e sai porum portal virtual."

Finalizamos, com Deleuze(1999,p.78[5]), “Para atualizar-se, o virtual nãopode proceder por limitação, mas devecriar próprias linhas de atualização ematos positivos.”

REFERÊNCIAS[1] M. Medeiros. “Projeto de credenciamento da

PUCRS para Educação a Distância”, PortoAlegre, PUCRS, 1998.

[2] M.Medeiros et alii. Teacher's Capacitation forthe Organization of the LearningEnvironment. 20th ICDE World Conference,Düsseldorf, April, 2001b. Session Posters.

[3] G.Deleuze.”O que é Filosofia “ São Paulo.Editora 34.1997[4] J. Delors et al. “Educação, um tesouro a

descobrir” . Relatório para a UNESCO daComissão Internacional sobre Educação parao século XXI. São Paulo, Cortez, 1999.

[5] G.Deleuze. “Bergsonismo” . São Paulo. Ed.34.1999.[6] G.Deleuze e F. Guattari, “Mil platôs”, vol. 1.

São Paulo, Ed. 34, 1995.[7] E.Alliez . “GillesDeleuze uma FilosofiaVirtual”. São Paulo Ed.34.1996[8] G.Deleuze e F. Guattari. “O que é Filosofia”São Paulo Ed.34.1997

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[9] E. Boff e L.M.M.Giraffa, “Construindo umambiente de ensino-aprendizagemcooperativo: uma experiênciainterdisciplinar”. SBIE 2000,Maceió/Alagoas, p.112-119. 8-10 novembro,2000.

[10] M.Medeiros e G. Medeiros.” PUCRS'brazilian topology in DE: technologicalsupport in its learning environment (ID:P1866). 20th ICDE World conference,Düsseldorf, april, 2001.

[11] M.Hardt. “.Gilles Deleuze:Um aprendizadoem Filosofia” São Paulo, Ed. 34, 1995.

[12}] M..Montero. “De la realidad, la verdad yotras”. In. : Conocimiento, realidad yideologia. AVEPSO. Caracas, 1994.

[13] T.Ibañez Gracia . “La construccion delconocimiento desde la perspectivasocioconstruccionista.” In.: Montero, Maritzaet al. Conocimiento, realidad y ideologia.AVEPSO, Caracas, 1994.

[14] J.Habermas. “Para a reconstrução domaterialismo histórico”. Rio de Janeiro:Brasiliense, 1990.

[15] J.Habermas. “Direito e democracia”. Rio deJaneiro, Brasiliense, 1998.

[16]M. Medeiros et al. Capacitação Docente emEAD/ PUCRS Virtual. 2001 ª

[17] G.Deleuze. Diferença e Repetição.S.Paulo.Graal.1988[18] E.Alliez . “GillesDeleuze uma vida Filosófica”. São Paulo Ed.34.2000[19]M.Medeiros et al., “A Produção de Um

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[20] L.Vygotsky . “A Formação Social da mente”,São Paulo: Martins Fontes, 1984.

[21] E.Morín. “Ciência com consciência”, RJ:Bertrand, 1996.

[22]P. Lévy .“Cibercultura”, RJ: Editora 34, 1999.[23] J. Rajchmann. GillesDeleuze: uma vidafilosófica. São Paulo, Ed. 34.2000.[24]J.Moranhttp://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0025.asp.Acessado em 2000.