amaral, adriana; aquino, maria clara. “eu recomendo... e etiqueto”: práticas de folksonomia...

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    Lbero So Paulo v. 12, n. 24, p. 117-130, dez. de 2009Adriana Amaral / Maria Clara Aquino Eu recomendo... e etiqueto: prticas de folksonomia dos usurios...

    Resumo: Neste trabalho, apresentamos uma breve descrio eproblematizao de algumas prticas de folksonomia no con-texto das plataformas sociais de msica, tomando como obje-to de anlise o site de rede social de msica Last.fm. A partirde uma explorao inicial, observou-se alguns usos do socialtagging como ferramenta de construo de identidade nosgneros musicais, seja por meio da negociao das etiquetas(tags) entre determinados grupos de usurios, ou mesmo pormeio de prticas que complexicam o sistema como tags sub-jetivas e/ou mascaradas.Palavras-chave: folksonomia, social tagging, sites de redes so-

    ciais de msica online.

    Prcticas de tagging social y de folksonoma en elLast.fmResumen: Este artculo presenta una breve descripcin y dis-cusin de algunas de las prcticas de folksonoma en el rangode las plataformas sociales para msica. Con esta intencin, sehizo el anlisis de la red social de msica Last.fm. En un primermomento, experimentalmente, se observ algunos usos de lasetiquetas sociales como herramienta para la construccin de laidentidad en los gneros musicales, sea por medio de la nego-ciacin de las (tags) entre determinados grupos de usuarios opor prcticas (como etiquetas subjetiva o enmascaradas) quehacen ms complejos los sistemasPalabras clave: folksonoma, social tagging, plataformas socia-les para msica.

    Practices of social tagging and folksonomy in Last.fmAbstract: In this paper we present a brief description andproblematization of some folksonomy practices inside thecontext of social plataforms of music. Our object of analysisis the social network site Last.fm. From an initial exploration,weve watched some uses of social taggin as a tool for iden-tity construction inside musical genres through the symbolicnegotiation of tags between groups of users or even throughpractices that make the system more complex such as subjec-tive or masked tags.Key words: folksonomy, social tagging, social plataforms ofonline music.

    Eu recomendo.. e etiqueto:prticas de folksonomia dos usurios noLast.fm*

    Adriana Amaral

    1. Rastreando a plataforma

    O presente artigo, de cunho exploratrio,apresenta a temtica da folksonomia e do

    social taggingno contexto da plataforma decompartilhamento de msica on-line Last.

    fm. A folksonomia como termo surge em2006, e foi cunhado por Vander Wal (2006)para denir um processo livre de etiquetaode arquivos on-line. As etiquetas so hoje co-mumente chamadas de tags e podem ser cria-das por qualquer usurio de um sistema queadote a folksonomia para organizar o conte-do disponvel no sistema. Dessa forma, elasurge como um novo processo de representa-

    o e recuperao de contedo on-line feitopelos prprios internautas. Estes etiquetaminformaes com tags que depois servempara a recuperao do arquivo etiquetado.

    Doutora em Comunicao Social (PUCRS)Professora do Mestrado em Comunicao

    e Linguagens da UTP-PRE-mail: [email protected]

    Maria Clara Aquino

    Doutoranda em Comunicao e Informao (UFRGS)Professora do curso de Comunicao Social da ULBRA-RS

    E-mail: [email protected]

    * Uma verso reduzida desse artigo (em formato shortpaper), como ttulo Prticas de social tagginge folksonomia no Last.fm, foiapresentada na Workshop Web Social do IHC08 VIII SimpsioBrasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais, realizado em outubro de 2008 na PUCRS em Porto Alegre.

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    O processo de folksonomia nos conduz auma srie de prticas, como o social tagging,denido por Marlow et al. como sistemasde etiquetagem social, como ns nos referi-mos a eles, [que] permitem que os usurios

    compartilhem suas tags como recursos parti-culares. Alm disso, cada tagserve como umlink para recursos adicionais etiquetados damesma forma pelos outros (2006:on-line).Muitos autores tm investigado questesrelacionadas folksonomia sob vrios as-pectos, como a sociabilidade em torno daprtica e questes de sinonmia e conceitu-ao dos termos utilizados Mathes (2004),Quintarelli (2005), Udell (2008) e Xu et al.(2006). Como forma de exemplicarmos taisprticas que esto intrinsecamente relacio-nadas a processos de sociabilidade, colabo-rao e conito , optamos por analisar aplataforma Last.fm.

    O Last.fm1 uma plataforma baseada nocompartilhamento e recomendao musicalque funciona com estaes de radio, frunse sistema de etiquetamento e indexao dosarquivos de msica feito pelos prprios usu-rios, construindo assim uma vasta base dedados sobre artistas dos mais diferentes g-neros musicais que so analisados a partirdo download do plugin audioscrobbler, cujafuno fazer a leitura desses arquivos nocomputador e/ou Ipod pessoal e public-lasno perl do usurio.

    Diante do funcionamento da plataformade compartilhamento e recomendao mu-sical Last.fm, a folksonomia se encaixa ade-quadamente em seu funcionamento, poiscondiz com os processos de recomendaoe linkagem interna do sistema ao oferecer apossibildade de mapeamento do contedoda plataforma por meio das tags. A folkso-nomia no Last.fm se concretiza a partir daprtica do social tagging, por meio do qual

    os usurios possuem a liberdade de negociarentre si para criar e modicar as tags dos ar-quivos disponveis na plataforma, facilitandoassim a recuperao dos dados.

    Partimos de um breve resgate histrico a

    respeito da representao, busca e recupera-o de informaes na web para o surgimen-to da folksonomia, analisando as prticas desocial taggingno contexto da plataforma decompartilhamento e recomendao musicalLast.fm. Observamos a dinmica de algumasnegociaes para o etiquetamento de conte-dos musicais nesse site a partir de observa-es do material, dos rastros observveis noon-line, de alguns dados empricos obtidosno contato informal com usurios da plata-forma, bem como da aplicao de um ques-tionrio com esses mesmos usurios, o quenos forneceu dados empricos acerca dessasprticas comunicacionais.

    A particularidade do Last.fm ao lidar coma classicao de gneros musicais,2 ao mes-mo tempo que restringe os vocabulrios eclassicaes de contedo, complexica asrelaes coletivas e individuais de classica-o e recomendao, algo j apontado porAmaral (2007), permitindo apropriaese usos que tanto colaboram com o sistemaquanto intensicam as disputas entre os usu-rios, possibilitando tanto rupturas quantopermanncias no que diz respeito s classi-caes consensuais das tags (seja em relaos canes ou aos artistas).

    Sendo assim, a partir dessas relaescoletivas e individuais de classicao e re-comendao baseadas na folksonomia quepretendemos conduzir a anlise quanto construo de identidade nos gneros mu-sicais dentro da plataforma Last.fm. e, dessaforma, contribuir no apenas para as ques-tes do campo comunicacional, mas tam-

    1 O Last.fm foi fundado em 2002 na Inglaterra, embora seulanamento ocial tenha acontecido em 2003. Est disponvelem 12 idiomas, com mais de 65 milhes de msicas em seu ca-tlogo e 21 milhes de usurios mensais (Schefer, 2008:278).Em 30 de maio de 2007, ele foi adquirido pela CBS Interactivepelo valor de 280 milhes de dlares (Amaral, 2009:04).

    2 No nos ateremos aqui s diferentes denies sobre gnerose subgneros musicais, uma vez que tais questionamentos es-capariam dos limites do texto. Para ns metodolgicos nossadenio de gnero aqui ampla similar a estilo, um enten-dimento mais prximo das denies cotidianas e at mes-mo jornalsticas. Para denies mais apuradas ver Bourdieu(2007), Janotti Jr (2007) e Frith (1998).

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    bm para o avano da bibliograa em tornodo tema da folksonomia, bibliograa estaainda escassa no Brasil.

    2. A busca pela informao na web e o

    surgimento da folksonomia

    No m dos anos 1990, a popularizao daweb potencializou o modelo de comunica-o muitos-muitos e, com o passar dos anos,o aumento da diversidade de ferramentas depublicao e edio de contedo on-line defcil manuseio foi um dos contribuintes parao aumento da quantidade de informaesna web. Em 2005, Glli e Signorini (2005)apontaram a existncia de 11,5 bilhes depginas na web e Fragoso (2007:185) ressaltaque no bastasse a grandeza desses nme-ros, preciso lembrar que a web essencial-mente dinmica e auto-organizada, alm deempregar vrias linguagens nas pginas.

    Para guiar os internautas, surgem os me-canismos de varredura e indexao on-line.O World wide web wanderer, de 1993, foi oprimeiro webrobot, um rob que varria aspginas web por meio dos links, como men-ciona Fragoso (2007) em artigo que abordaa diversidade e a histria dos buscadores.Hoje, os mais conhecidos Google, Yahoo! e

    MSN Live Search demonstram a importnciadesse tipo de ferramenta, mas Aquino (2007)resgata a histria dos buscadores e recorre Cincia da Informao para mostrar que aproliferao desses mecanismos no signi-ca a soluo dos problemas de representaoe recuperao de informao on-line e ainda capaz de apresentar outras diculdades.

    Segundo autores como Feitosa (2006),Cndon (2001), Lawrence e Giles (2003),Antoniou &Van Harmelen (2004) e Gulli &Signorini (2005), os principais problemasdos buscadores atuais so:

    a) Insucincia de resultados relevantes de-vido ausncia de termos de busca;

    b) Falta de atualizao dos bancos de dados;

    c) Diferenas nos critrios de indexao evarredura;

    d) Diferenas nos critrios de ordenaodos resultados;

    e) Diferenas de limites de tamanho daspginas indexadas, de tempo de proces-samento da pesquisa e restries de pala-

    vras, que mostram que apenas comparar otamanho das base de dados de cada busca-dor pode levar a resultados enganadores;

    Alm desses problemas, ainda h a crticade Dreyfus (2001) que, comparando sistemasde vocabulrios controlados com os links daweb, diz que em vez de ser uma organizaobaseada em relaes de classe, a organizaoda web baseada na interconexo generaliza-

    da, sem hierarquia e num nico nvel. Se tudopode ser linkado a tudo, Dreyfus (2001) acre-dita que o usurio no pode utilizar o signi-cado dos links para encontrar informaes.A ausncia de hierarquia se torna um proble-ma, j que a quantidade tem importado maisdo que a qualidade de conexes. O autor ar-gumenta que, sem restringir o que pode serlinkado a que, os links proliferam de maneiradescontrolada, dicultando a recuperao dosdados. Por m, arma ainda que os buscado-

    res so inecientes por no considerarem osignicado das palavras contidas nos docu-mentos, j que mquinas e robs de indexaono so capazes de entender o senso comum.

    2.1 Folksonomia, vocabulrios, repre-sentao e recuperao de informaes

    Com o surgimento da folksonomia (Van-der Wal, 2006), os problemas de representa-

    A folksonomia repre-

    senta uma mudana

    fundamental ao con-

    gurar processos que

    no derivam de pros-

    sionais, mas de usu-rios de informaes

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    o e recuperao de informao na web e acrtica de Dreyfus (2001) podem ser reavalia-dos. A prtica das tags surge como uma alter-nativa de gerenciamento de informao nomomento em que permite a qualquer usu-

    rio representar e recuperar informaes pormeio de etiquetas criadas livremente e combase nos signicados dos dados etiquetados.

    Aquino (2007) questiona se seria possvelconsiderar a folksonomia como um vocabu-lrio descontrolado, o que no signica umadesordem total, mas um processo aberto, co-letivo e feito com base nas signicaes apre-endidas pelos usurios das informaes queetiquetam, seja com intuito estritamente in-dividual ou de colaborao. A autora defen-de sua argumentao considerando a folkso-nomia como produto da web, que formadapor informaes inseridas por internautase agora por estes gerenciada e recuperada,abrindo, assim, novas opes para a busca deinformaes.

    Segundo Lemos (2007), as tags existempara descrever e permitir a classicao, quese baseia em palavras-chave a respeito da in-formao a ser etiquetada. Para ele, o uso dafolksonomia no como uma categorizaode contedo, pois, enquanto uma informa-o dentro de um esquema de categoriaspertence a uma categoria ou subcategoria, nafolksonomia, essa mesma informao podeser uma ou vrias tags associadas.

    O criador do termo folksonomia, Van-der Wal, dene a prtica como o resultadode processos livres de etiquetamento de p-

    ginas e objetos, realizados em um ambientesocial, por pessoas que consomem as infor-maes, objetivando posterior recuperao.Assim, a folksonomia instaura um novo tipode hipertexto, cujos links so constitudos

    pelas tags: o hipertexto 2.0 (Aquino, 2007).O que caracteriza os links desse novo tipode hipertexto o fato de que so criados porqualquer usurio ao contrrio do que ocor-ria no incio da web, quando apenas progra-madores e conhecedores de linguagens deprogramao editavam hipertextos e o deque so criados com base no signicado dasinformaes etiquetadas. Como aponta Ma-thes (2004), a folksonomia representa umamudana fundamental ao congurar pro-cessos que no derivam de prossionais, masde usurios de informaes, permitindo quesuas escolhas em dico, terminologia e pre-ciso se evidenciem.

    Quintarelli (2005) distingue folksono-mias largas de folksonomias estreitas. Asprimeiras tm como exemplo o Del.icio.us emostram que vrias pessoas concordam emutilizar um pequeno conjunto, porem po-pular, de tags, ainda que pequenos gruposoptem por termos menos conhecidos paradescrever seus itens. Assim, uma folksono-mia larga seria til para investigar os termosmais usados por grandes grupos de pessoasque descrevem itens ou para extrao de vo-cabulrios controlados.

    J as folksonomias estreitas tm o Flickrcomo exemplo e resultam de um pequenonmero de pessoas etiquetando, com uma oumais tags, itens para posterior recuparao.Folksonomias estreitas perdem a riqueza demassa, mas beneciam o etiquetamento deobjetos que no so facilmente encontradoscom ferramentas tradicionais e fornecemalvos de audincias ou seja, pessoas quecompartilham vocabulrios prprios e queassim podem recuperar os itens de formamais simples e eciente.

    Outra caracterstica da folksonomia,apontada por Quintarelli (2005), Udell(2004) e Mathes (2004) ofeedback imedia-to, ou seja, a dinamizao intrnseca que pos-

    Frente aos problemas de-

    correntes de uma prtica

    coletiva, as solues tam-

    bm podem ser elabo-

    radas de forma coletiva

    dentro dos ambientes

    de compartilhamento

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    suem, pois, cada vez que se sente a necessida-de de criao de uma nova tagou da trocade uma no muito utilizada por outra maisadequada, qualquer usurio pode faz-lo, aocontrrio de sistemas de gerenciamento de

    contedo controlados automaticamente oupor prossionais, que dependem de regras eprocedimentos especcos para a atualizaode suas bases de dados.

    Para Mathes (2004), isso demonstra acomunicao assimtrica existente entreusurios de folksonomias, que negociam ossignicados com outros usurios a partir dacriao individual de tags. um processocoletivo, ainda que muitas vezes sem conta-to dialgico entre os participantes, mas que,ainda assim, se baseia num processo interati-vo por meio das tags.

    A causalidade outra caracterstica dafolksonomia apontada por Mathes (2004) eQuintarelli (2005) e que se relaciona com adinmica de atualizao da prtica. Mathes(2004) explica que navegar em folksonomiase conexes de tags estabelecidas pelos usu-rios mais vantajoso por conta do mate-rial inseperado que se encontra. Quintarelli(2005) aponta que a natureza desprovida decontrole e o crescimento orgnico de folk-sonomias agregam a capacidade desses sis-temas de rpida adaptao a mudanas devocabulrios e necessidades dos usurios.

    Para Quintarelli (Idem:on-line), a folkso-nomia no apenas a criao de tags para usoindividual, pois os usurios, assim como asinformaes, tambm so objetos de agrega-o. O poder da folksonomia est ligado aoato de agregao de tags, e no simplesmenteao de sua criao,3 arma o autor, justican-do que, sem um ambiente social que sugiraagregao, as tags no passam de palavras-chaves soltas com signicado apenas paraquem as criou. O poder da folksonomia, parao autor, so as pessoas e a relao termo-sig-nicado emergente de um contrato implcitoentre usurios.

    Porm, a folksonomia, como qualqueroutra prtica, no apresenta apenas vanta-gens. Existem problemas como o tagspace(Xu et al., 2006), no qual os usurios adicio-nam a mesma tag para dados diferentes; a

    polissemia, quando uma nica palavra temmltiplos signicados relacionados; e a si-nonmia, quando palavras diferentes tm omesmo signicado (Golder & Hubermanapud Marlow, 2006:on-line). A utilizaode tags mascaradas tambm diculta a bus-ca pela informao e, alm disso, possvelque um internauta se sinta desorientado emuma busca por dados por meio da folkso-nomia, j que as pessoas pensam de mododiferente e criam tags diferentes para infor-maes semelhantes.

    Ainda no foram encontradas soluespara tais problemas, mas Marlow et. al.(2006) acreditam que o que poderia auxi-liar na resoluo do impasse seria o uso deum sistema de sugesto de tags, no qual, nomomento em que o usurio fosse adicionar atag, seria disponibilizada uma listagem comas tags mais comuns j relacionadas comaquele dado. Outra opo o debate entreos usurios acerca da elaborao das tags.Percebe-se, ento, que, frente aos problemasdecorrentes de uma prtica coletiva, as solu-es tambm podem ser elaboradas de for-ma coletiva dentro dos prprios ambientesde compartilhamento de arquivos.

    3. Prticas de etiquetamento social(social tagging) noLast.fm

    As prticas de social tagging (etiqueta-mento social), que acontecem no mbitoda folksonomia, podem ser compreendidas

    enquanto sistemas de etiquetagem socialque permitem que os usurios comparti-lhem suas tags como recursos particulares(Marlow et al., 2006:on-line). Nesse senti-do, cada tagserve como um link para recur-sos adicionais etiquetados da mesma formapelos outros.

    A partir desse breve entendimento dasprticas coletivas de etiquetamento, pas-

    3 Traduo das autoras: The power of folksonomy is connec-ted to the act of aggregating, not simply to the creation oftags.

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    samos, ento, anlise e aplicao de al-guns usos no contexto da plataforma socialde msica online Last.fm. Esse hbrido dewebrdio (Leo & Prado, 2007), banco dedados, sistema de recomendao musical

    (Acoutorier & Pachet, 2007) e plataformasde msica (Baym & Ledbetter, 2008; Sche-fer, 2008) foi fundado em 2002 e est dispo-nvel em 12 idiomas, com mais de 65 milhesde msicas em seu catlogo e 37,3 milhes devisitantes nicos por ms.4

    Nossa primeira observao de que oLast.fm pode ser categorizado como umaplataforma de folksonomia estreita, umavez que seu contexto segmentado a partirde gneros e subgneros musicais. Aps odownload e instalao do plugin de scrob-bling5 do site, ele comea a automaticamen-te rastrear todos os arquivos de udio nomomento em que eles esto sendo executa-dos o que requer um domnio especcodos usurios.

    3.1 Monitorando o perl dos usurios eas classicaes musicais

    O Last.fm um site utilizado por heavyusers (usurios que passam muito tempo on-

    line interagindo com as ferramentas) e earlyadopters (usurios que adotam a ferramentaantes da maioria) e ainda, mais notadamen-te, usurios explicitamente interessados emmsica, sejam eles fs, produtores, msicos,

    jornalistas da rea, DJs etc. Um dado em-prico que complementa essa faceta do siteest em um e-mail recebido durante estapesquisa, em maio de 2008. Um determina-do portal, especializado em gneros musicaisbastante especcos, estava contratando jor-

    nalistas especializados em msica e o editorenviou um email para vrios contatos, cola-

    boradores e colegas. O detalhe era que, almdo currculo, era exigido que o candidato vaga enviasse tambm o link do seu Last.fmpara que fosse avaliado se os estilos por eleouvidos (ou pelo menos exibidos no perl)

    se enquadravam no perl editorial do portalem questo. Essa informao j um ndicedas estratgias de visibilidade e divulgao edo uso desses pers como parmetro de gos-to, por exemplo.

    Cabe-nos tecer algumas consideraesacerca do desenho metodolgico do presenteartigo, organizado em trs etapas. Primeira-mente, a anlise toma como ponto de partidaas discusses tericas dos estudos acerca desistemas de recomendao (S, 2009) e redessociais voltadas para a msica e dos sistemasde recomendao, fortemente caracterizadospela questo da categorizao dos gnerosmusicais a partir da folksonomia e das pr-ticas de livre etiquetamento dos arquivos einformaes a partir dos usurios.

    Num segundo momento, articulamosas descries das prticas com a anlise damaterialidade da prpria plataforma (sejapelas suas funcionalidades ou aplicativos)a partir de observaes e incurses netno-grcas previamente discutidas por Amaral(2007). Por m, foi elaborado um questio-nrio como instrumento de pesquisa (Tabela1) que visava mapear o perl dos usuriosda plataforma no Brasil6 uma vez que oquestionrio estava em portugus e tam-bm compreender a forma como as tags sopercebidas e utilizadas no contexto da cate-gorizao dos gneros musicais.

    O questionrio, produzido via GoogleDocs7 pelas autoras, foi disponibilizadoon-line durante o perodo de 19/01/2009a 05/02/2009 e distribudo por meio dosprprios pers dos usurios no Last.fm (via

    4 Dado obtido no blog ocial do site. Disponvel em: http://blog.last.fm/2009/06/10/message-from-the-lastfm-founders-felix-rj-and-martin Acesso em: 11/12/2009. Para maiores da-dos sobre histrico e descrio do funcionamento do Last.fm,ver Amaral (2007).5 O scrobbling o rastreamento dos arquivos de msica feitopeloplugin do Last.fm quando este baixado para o compu-tador do usurio.

    6 Um mapeamento posterior a este, realizado por Oliveira(2009), amplicou esse perl dos usurios no Brasil, uma vezque no enfocava fortemente suas questes acerca das tags ede suas classicaes, mas concentrava-se em compreender aconstruo do conhecimento na plataforma como um todo.7 Disponvel em: http://spreadsheets.google.com/viewform?key=pH1GnL4IJw6vIsgS5aMtpcg. Acesso em: 10/02/2009.

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    Tabela 1 Instrumento de pesquisa sobre as prticas de taggingdos usurios brasileiros do Last.fm:

    Perl do usurio

    Sexo( ) feminino

    ( ) masculinoQual sua cidade/estado?

    Como voc pesquisa no Last.fm? (possibilidades napgina de abertura do site)

    ( ) campo de busca

    ( ) faixas da semana

    ( ) tags

    ( ) rdios

    ( ) usurios

    ( ) eventos

    ( ) principais artistas

    ( ) artistas do momento

    ( ) outros

    Voc utiliza as tags recomendadas pelo sistema ouprefere criar tags prprias?

    ( ) sim Explique por qu

    ( ) no Explique por qu

    Voc procura utilizar sempre as mesmas tags paradeterminado gnero/artista?

    ( ) sim Explique por qu

    ( ) no Explique por qu

    Ao etiquetar um arquivo no Last.fm, voc cria as tagspensando em colaborar com a organizao do sistemaou somente pensando que essas tags sero teis para que

    voc recupere a informao?

    Quantas tags voc costuma utilizar para etiquetarum arquivo?

    ( ) 1

    ( ) 1 ou 2

    ( ) 2 ou 3

    ( ) 3 ou mais

    Voc utiliza sinnimos (Ex: Queens Of The StoneAge/QOTSA)?

    ( ) sim

    ( ) no

    Voc faz uso de tags mascaradas? (Tags que escondemo verdadeiro signicado do arquivo etiquetado)

    Voc cria as tags de acordo com as diferentesculturas/gneros musicais?

    Voc cria tags com qualicativos, por exemplomsica que mais amo?

    Voc etiqueta msicas com tags baseadas emclassicaes de crticos ou jornalistas de msica?

    Voc desliga o scrobbling(rastreador) quando ouve uma m-sica que voc acha que no combina com seu perl musical?

    ( ) sim Explique por qu

    ( ) no Explique por qu

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    pers das autoras), do Twitter, de blogs, delistas de discusso de msica e de pesqui-sa em cibercultura, bem como de e-mailsdos mailing lists particulares das autoras.O questionrio foi respondido por 71 usu-

    rios, embora apenas 68 tenham sido le-vados em considerao, correspondendo a4,2% do total. Apesar de ser uma amostrarelativamente pequena, considerando aespecicidade temtica do site e a questorelativa ao uso das tags, acreditamos queela seja suciente para dar conta de partede nossa problemtica inicial, em que ointeresse era mais de uma primeira imer-so nesse contexto do que de efetivamen-te realizar um estudo quantitativo. Neste,artigo esto sendo discutidos os primeirosresultados qualitativos desse levantamen-to. Outra parte dos dados ser debatida emartigos subseqentes. Devido a questesrelacionadas tica de pesquisa e ao anoni-mato dos informantes (Markham & Baym,2009), no divulgamos o nome dos usu-rios e tampouco o portal informativo cita-do no exemplo acima, aqui tratado apenascomo Portal de Msica.

    A partir dessa breve descrio dos proce-dimentos metodolgicos, podemos inferiralgumas observaes acerca do prprio deli-neamento do artigo. O primeiro fato que noschamou ateno diz respeito s diculdadesde se conseguir dados sobre essa plataforma,principalmente em termos numricos. Ape-sar de ser uma plataforma relativamente po-pular em seu nicho, seu efetivo uso ainda bastante pequeno se comparado com sites deredes sociais maiores, como Facebook,MyS-

    pace etc. Outra diculdade que encontramos que nem todos os usurios efetivamenteutilizam o sistema de taggeamento, apenasobservando as visualizaes do scrobblingcomo a caracterstica mais marcante da pla-taforma. E isso nos foi apontado de modoindependente do questionrio, por meio demensagens na prpria shoutbox8 do site ouvia e-mails,MSNetc.

    Quanto ao nmero total de usurios bra-sileiros, na poca de realizao da pesquisa(entre janeiro e fevereiro de 2009), estimava-se que o Brasil possua aproximadamente1.600 usurios cadastrados como tais (no

    esto contabilizados aqui brasileiros que nomarcam a opo do pas e/ou moram fora),correspondendo a 0,8% dos usurios da pla-taforma sendo o 22 pas no ranking dequem mais utiliza o sistema9.

    Um dado relevante que foi indicado napesquisa o fato de que muitos usurioscomentaram a utilizao das tags no pr-prio idioma ingls, mostrando que os u-xos comunicacionais e inclusive lingsti-cos tambm perpassam questes relativas procedncia geogrca off-line dos gneros,como, por exemplo, no caso do britpop10 ounew wave of british heavy metal.11

    3.2 Como eu etiqueto me dene

    Gouva, Loh & Garcia (2008) compreen-dem os tipos de classicao a partir das tagsrelacionadas aos contedos de duas formas:com inteno pessoal ou coletiva. A intenocoletiva gerada a partir de um consensono uso de um vocbulo; j a inteno pessoal

    funciona como um marcador de ordem sub-jetiva para a representao, busca e recupe-rao de uma informao e/ou contedo im-portante apenas para o indivduo que crioutal categoria. No Last.fm, observam-se am-bas as intencionalidades, gerando, inclusive,dentro da plataforma, problemas e conitosque alteram a questo da recomendao. Naseqncia, tais diculdades e problemticassero abordadas.

    Gneros, subgneros e estilos musicais

    constituem a maior parte do vocabulrio eda construo de conhecimento na plata-

    8 Caixa de mensagens do Last.fm.

    9 Informaes coletadas por meio d o site Alexa.com (http://www.alexa.com) em 15/01/2009.10 Gnero de rock que pulou do indie (alternativo) ao mains-tream surgido na Inglaterra entre o nal dos anos 1980 e inciodos anos 1990. Blur e Oasis so algumas das bandas que gu-ram como britpop.11 Nova Onda do Heavy Metal Ingls marca uma leva debandas de metal dos anos 1980, como, por exemplo. Iron Mai-den. uma marcao tanto geogrca quanto temporal.

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    forma devido a sua vocao extremamentesegmentada (um site de rede social voltadopara o compartilhamento de msica), assimcomo o Flickr para a fotograa, possibili-tando uma forma de organizao coletiva,

    agregao social e negociao de participa-o, uso, busca e apropriao de contedogerado pelo consumidor a partir da determi-nao coletiva e opo por uma determinadatagpara categorizar um determinado conte-do conforme arma Shirky (2008:33).

    Assim, as possibilidades de relaes se-mnticas entre um arquivo musical e a tagescolhida encontram-se geralmente no m-bito dos gneros musicais tambm os com-preendendo como modulaes relacionadasa subseqentes estilos de vida e/ou subcul-turas. A determinao de uma tagescolhidapor meio da negociao coletiva em torno deum gnero/subgnero musical uma formade co-produo (Forte, 2005) por exemplo,a tagelectronic ou eletrnica (em portu-gus) para a dupla norueguesa Ryksopp12 indicada por meio da coluna tags mais po-pulares para a faixa, que aparece na tela dousurio no momento em que ele classica acano (Figura 1).

    As tags permitem a criao e a co-produ-o de um imenso banco de dados sobreos artistas, gneros, subgneros. () Aco-produo entendida aqui no sentidoda inspirao dos escritos antropolgicossobre etnograa em mltiplos lugares, umprocesso de produo em conjunto dis-parado por vrios atores sociais que podeabranger tanto os hyperlinks como suasexpresses (Amaral, 2007:236).

    Para Forte (2005:97), esse conceito deco-produo ecoa o trabalho de naturezadistribuda da cognio. (...) Co-produoenquanto um processo de mltiplos atorescriando um repertrio cultural que pode serbaseado nos atores singulares. Essa possibili-dade altera a indexao, as buscas e a prpria

    organizao da web e vista positivamentepela comunidade e pelo prprio Last.fm, queapia o etiquetamento (de acordo com as in-formaes que constam nas FAQ frequentlyasked questions do site).

    Esse apoio to necessrio e fundamen-tal tanto em termos de congurao deum banco de dados de informaes musicaiscomo da prpria dinmica simblica e eco-nmica do Last.fm , que precisa da produ-

    o de contedo de seus usurios para agre-gar juzo ao contedo, como indica Shirky(2008:311): A surpresa com o etiquetamen-to que o julgamento agregado dos usuriosfornece uma categorizao til das pginasda web sem requerer a catalogao de ne-nhum prossional.13

    Lembramos que a dimenso econmicatorna-se uma reexo necessria para futu-ras pesquisas, uma vez que o faturamentodo site est relacionado tanto com a publici-dade quanto com os acordos com as majors(gravadoras). Alm disso, o Last.fm propeparceria e diviso de lucros com artistas in-dependentes inscritos na plataforma. Apsprotestos, a partir de maio de 2009, a we-brdio personalizada gerada a partir das tagstambm passou a ser cobrada dos usuriosfora dos EUA, Alemanha e Inglaterra.

    Destarte, importante observarmos quenem todos os usurios do Last.fm utilizam a

    A determinao de

    uma tag escolhida pormeio da negociao

    coletiva em torno de

    um gnero/subgneromusical uma forma

    de co-produo

    12 O exemplo foi escolhido aleatoriamente a partir do prpriobanco de arquivos de MP3 rastreados por meio do computa-dor de uma das autoras.

    13 Traduo das autoras: The surprise with tagging is that theaggregate judgement of the users provides a useful categoriza-tion of webpages without requering any professional catalogers.

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    funo de etiquetamento. Muitos utilizamapenas a funo de webrdio personaliza-da ou de visualizao dos dados nos pers

    a partir do rastreamento. A no-utilizaodo sistema de social taggingnos foi indicadaa partir de conversas informais com algunsusurios (dentro da plataforma e via outrasformas de comunicao mediada por com-putador) quando foi distribudo o questio-nrio para anlise dos usos e apropriaes deetiquetamento pelos brasileiros do Last.fm.

    No caso especco do Brasil, a partir deuma pesquisa feita pelo Ibope com heavyusers durante a Campus Party Brasil, evento

    ocorrido em So Paulo em janeiro de 2009(um dos maiores eventos de tecnologia eentretenimento digital do pas), constatou-se que 50% dos entrevistados j zeram tagspara outras pginas da web.14 Outro dado

    que nos ajuda a compreender a importnciae a ampliao das prticas de taggingadvm

    justamente da anlise do questionrio que

    realizamos com alguns usurios da plata-forma no contexto nacional, indicando quea busca por tags aparece em segundo lugarnas suas preferncias correspondendo a26% dos usurios entrevistados , ndicebem superior pesquisa por artistas e mes-mo por rdios.

    Todavia, tambm preciso observar astags de cunho subjetivo, que podem expri-mir relaes com o humor ou experinciasemocionais dos usurios, criando outros

    tipos de variaes e ampliao no vocabu-lrio utilizado dentro da plataforma, comodescreveremos a partir de alguns exemplosa seguir. O social tagging no site j geroualgumas polmicas, como, por exemplo, astags mascaradas. o caso do lbum damodelo e cantora pop Paris Hilton, que foiclassicada ironicamente por alguns usu-rios como death metal brutal (um gnero

    Figura 1 Taggeando Ryksopp a partir do Last.fm

    Fonte: Printscreen feito a partir do usurio adriamaral (13/06/2009)

    14 Dado disponvel em: http://www.ibope.com.br/calandra-Web/servlet/CalandraRedirect?temp=6&proj=PortalIBOPE&pub=T&nome=home_materia&db=caldb&docid=17FFBC82352731D38325754A005F0EB9. Acesso em: 27/01/2009.

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    15 Informaes obtidas no FAQ do site Last.fm.

    16 Grifo das autoras.17 Fuso do electro com os novos estilos de EBM (electronicbody music). Esse termo controverso surgiu de forma espont-nea, primeiramente nas discusses em fruns de fs, em seustaggings, e apenas posteriormente foi adotada pelos jornalistas,como podemos ver em http://rraurl.uol.com.br/cena/5551/Electro_dos_infernos_. Acesso em: 27/01/2009.

    extremo de heavy metal), subindo para otopo das classicaes.15

    As prticas de indexao por meio de tagsmascaradas no Last.fm podem afastar al-guns usurios do site, pois so tags que no

    remetem diretamente ao artista ou msica,devido ao fato de que seu signicado no serelaciona e com o nome da banda ou gneromusical do artista. Elas dicultam a busca ea recuperao de dados dentro do site. Essaprtica de esconder informao por meiodas tags mascaradas faz com que diversoscontedos no sejam encontrados no sitepor aqueles que desconhecem tais tags, o queinibe a participao na plataforma.

    Nesse sentido, a partir da pesquisa feitacom os usurios, observamos comporta-mentos bastante uidos e, por vezes, dicot-micos em relao s prticas de classicaopor meio das tags:

    1)Quando questionados sobre suas prefe-rncias entre usar as tags recomendadaspelo sistema ou criar as prprias, 71%disseram preferir as tags que j constamno Last.fm (encontradas nas tags mais po-pulares), ao passo que apenas 29% prefe-rem criar as prprias;

    2)Pela prpria diculdade em categorizaros gneros, a maioria dos usurios optapor um nmero mais amplo de tags: 39%dos usurios optam por utilizar 2 ou 3tags; 26% utilizam 1 ou 2 tags; 24%, 3 oumais tags; enquanto apenas 11% classi-cam com apenas uma tag.

    3)Em relao ao uso de tags mascaradas,apesar de a maioria (57%) ser contrriaa esse tipo de apropriao e armar queelas poluem ou confundem o sistema,

    observa-se que muitos acreditam quea prtica possui um determinado valorsimblico que ajuda nas classicaesda memria musical particular de cadaum, ou mesmo que ela ajuda na disputaentre os diferentes fandoms de distintosgneros musicais como armou um

    dos entrevistados, que declarou que uti-lizava esse recurso (tags mascaradas) emartistas de pagode, funk, forr etc. Tagsdemonstrando como ruim16 rs [risos].Mas parei com isso, pois os artistas cam

    na sua biblioteca, e no quero eles l (In-formante n. 67).As tags no precisam necessariamente es-

    tar vinculadas ao gnero/estilo musical emsi, e podem agregar valores subjetivos, comobreakfast radio (rdio do caf da manh),msicas que eu amo, msica mais gay detodos os tempos (essa foi uma das tags en-contradas para as canes da cantora Ma-donna) etc. No caso de cenas e subculturasmusicais especcas, h tambm as junesde um ou mais gneros como exemplo, ataghellektro,17 que uma derivao de doissubgneros da msica eletrnica.

    Nessa apropriao, os crticos e jornalis-tas de msica acabam perdendo o poder doseu lugar de fala, no sentido de que, ante-riormente, eram apenas eles que criavam taiscategorizaes. Assim, as discusses sobrea natureza e autenticidade dos subgnerosmusicais so feitas em mltiplas plataformase fruns, apontando a capacidade de um de-terminado grupo de desdobrar-se e negociarsuas identidades em distintos locais e redes.

    As falas dos informantes nos do algu-mas pistas importantes para pensarmos so-bre as escolhas de classicao: Cada msicatm o porqu de sua tag. Prero utilizar tagsaleatrias, conforme meu humor. Tem artis-ta que tem uma carreira longa e passou porvrios tipos de som, como o Bowie, que me-rece transitar por vrias tags (Informante n.3). Outro ponto que apareceu com certa ve-emncia a crtica e a contestao s classi-caes dos crticos e jornalistas de msica.Um informante, por exemplo, diz que no

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    utiliza as classicaes de gneros musicais daimprensa por irem contra suas prprias no-es de gnero: Nem leio crticos ou algo queo valha. Um dos CDs que mais amo oAdoredo Smashing Pumpkins, que todo mundo dizque uma m#@ (Informante n. 19).

    Nesse caso, as tags funcionam comomarcadores didticos (como electro, break-beat,psy-trance, space-disco, por exemplo) eatuam como codicadores sintticos de umgnero ou subgnero que nos remetem a de-terminadas sonoridades caracteristicamentedenidas. Devidamente contextualizadosculturalmente, englobam cdigos, compor-tamentos, rituais, roupas, gestos, grias etc.,

    o que indica sua fora para a construo edesconstruo de identidades e subjetivida-des, seja na vida off-line ou na vida on-line.

    Consideraes nais

    A folksonomia pode apresentar uma rea-valiao dos problemas de representao e re-

    cuperao de informao na web por meio desuas mltiplas prticas e apropriaes de tags,outorgando poderes de co-produo e de ge-renciamento de informao alternativos aosdados de provedores, sites, buscadores etc. Nocaso brevemente analisado, do social taggingna plataforma de msica on-line Last.fm, taisprticas apresentam-se como formadoras deidentidades musicais e culturais dos usurios,alm de construir um banco de dados infor-mativo que rompe com alguns padres tradi-cionais da crtica e do jornalismo musical (eao mesmo tempo ainda os mantm) em suacategorizao de gneros pelos usurios. Nasprticas semnticas de classicao de gne-ros e subgneros musicais por meio das tags,percebe-se tambm o que Jennings (2007)apontou como curadoria e colecionismo naeconomia dos fs de msica, equilibrando-seentre a memria coletiva e a memria indivi-dual em suas categorizaes.

    Assim, a partir dos apontamentos teri-cos e dos dados empricos aqui discutidos,

    Figura 2 Taggeando vogue de madonna de forma subjetiva

    Fonte: Printscreen feito a partir do usurio adriamaral (13/06/2009)

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    Referncias

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    es para pesquisas futuras, uma vez que aweb semntica e o social taggingso temascuja repercusso est sendo ampliada a cadadia no mbito dos estudos em comunicaoe cibercultura.

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