almanaque chuva de versos n. 388
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Efigênia Coutinho
É tempo de Reflexão Vem surgindo sobre a humanidade, um tipo de
visão “planetária”. O mundo explode e se move, por círculos, cada vez
maiores à nossa volta. Minados por tensões, conflitos, guerras, mesmo acontecendo distante de nós, repercutem-se na vida de cada um.
Não temos como evitar estas explosões, contudo, até onde podemos responder a essa consciência planetária? Somos solicitados por todo Universo a refletir intelectualmente acerca de todas estas informações , que nos saltam por todo o lado; a expressar com ação todo o impulso ético que venha do
coração e da mente. A inter-relação entre os cidadãos do mundo, nos liga a cada segundo, e há muito mais pessoas do que nossos corações conseguem acolher!
(Ou melhor: acredito que o coração seja infinito). Sendo assim a comunicação moderna nos
sobrecarrega, com mais problemas do que a Natureza Humana pode suportar e assumir. É gratificante que o coração intelecto e poder de imaginação se expandam, mas nosso corpo, nossos nervos, nosso grau de resistência e tempo de vida, não são tão flexíveis, e não consigo ajudar a todas as pessoas que tocam meu coração.
Fomos criados numa tradição, que agora se tornou inviável, pois nosso círculo foi ampliado em tempo e espaço! E por não conseguir assimilar em sua totalidade a complexidade do presente, simplifico, por sonhos Futurecidos ao lado de todos.
“A FESTA DA VIDA SOMENTE ACONTECE QUANDO PARTILHAMOS A PRÓPRIA VIDA”.
___________________ Efigênia Coutinho nasceu em Petrópolis/RJ. Formou-se em Artes, especializou-se em Tapeçaria de TEAR, buscando os seguimentos Indígenas e sua História Natural, tendo participado de várias exposições. Em 1977 foi residir em Florianópolis SC, sendo que em 1999 mudou-se para Balneário Camboriú/SC. Pertence a Academia de Letras do Brasil, como Membro Correspondente da ALB-Mariana, representando o Município de Balneário de Camboriú, Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes (AILCA) como Membro Acadêmico Correspondente, Embaixadora Universal da Paz pelo Cercle Universel Des Ambassadeurs De La Paix – Genèbre/Suisse – France.
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Uma Trova de Maringá/PR
Olga Agulhon
Sangra a terra, quando arada: – fica frágil, tão exposta… Mesmo sofrendo calada,
com seus frutos dá a resposta.
Uma Trova de Pouso Alegre/MG
Eduardo A.O. Toledo
“O que é o amor?”, me perguntas, e, em coro, os anjos entoam: – “São duas pessoas juntas
que se amam e se perdoam!”
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
DA DIFÍCIL TAREFA DE SER ATOR
Ser ator é moleza,
barra é ser professor.
Interpretar todo dia sem ao menos ter um palco
por salvação
não é pra qualquer um
só para hipócritas e ratinhos
de labotoratório.
Viver por tanto então
nem se fale.
Somente louco ou artista. Tanto vale.
Uma Trova Humorística de Joaçaba/SC
Miguel Russowsky
Sentaram, de um solavanco, os três gorduchos rotundos…
E a primeira vez um banco quebra em excesso de fundos.
Uma Trova de Campos dos Goytacazes/RJ
Antonio Roberto
Xepeiro, de olhos tristonhos, à noite, exausto e sozinho,
cato no chão dos meus sonhos a xepa do teu carinho.
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Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
O AMOR À SOMBRA DAS SIBIPIRUNAS
(um poema para as sibipirunas de Maringá)
Sibipirunas em flor se enlaçam
lado a lado nas calçadas.
Silêncio. Frescor.
Pombos entre folhas.
Raios de luz.
Passo a passo como noivos na catedral.
Amamos.
Uma Quadra Popular
Autor Anônimo
O anel que tu me deste era de vidro e quebrou.
O amor que tu me tinhas era pouco e já acabou.
Uma Trova Hispânica do México
Carlos Cortez Bustamante
Con romance y alegría vibran tus notas, guitarra también cantan la agonía del amor que se desgarra .
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
CHAMAVENTO
Pois transbordando de flores A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce A amargura do mar
(“Rosa-dos-ventos”, Chico Buarque)
“Noite de vento, noite dos mortos.” (O Tempo e o Vento, Erico Verissimo)
Divino vento!
Não nasce nem morre.
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Apenas existe. Infinito como o tempo.
Divino vento que faz as montanhas virarem pó
e faz o pó invadir minha alma carregando o cheiro fétido da morte.
Divino vento que tudo arrasa e arrasta! Divino vento que move moinhos! Inflama a chama alastra o fogo
e revolta os mares em vagas colossais! Divino vento
que penetra por todos os cantos poros, narinas e frestas…
Divino vento que revolve a terra seca e esquálida
que povoa a história com sussurros e desenterra velhos sonhos adormecidos.
Vem! Vem divino vento!
Vem vendaval! Vocifera em meus olhos a ira dos deuses
na imensidão da noite! Vem!
Enlouquece a natureza! Que corujas lancem pios! Cães ladrem nos terraços! Vacas pastem em jardins!
Cavalos relinchem em hotéis! Gatos uivem no céu!
E ratazanas invadam as ruas numa gargalhada infernal!
Vem! Divino vento!
Vem com toda a fúria! Com a ira de todas as malditas gerações
amordaçadas! Vem!
Arrebata a rosa-dos-ventos! Divino e bendito vento!
_____________________________ Nota:
Reescritura de um antigo poema intitulado “As vozes do vento”, publicado no livro Concurso DCE-FURG – 15 anos de
Contos e Poesias.
Trovadores que deixaram Saudades
Helena Kolody Cruz Machado/PR (1912 – 2004) Curitiba/PR
A vida o tempo devora;
o próprio tempo não dura. Colhe a alegria de agora, para a saudade futura!
Uma Trova de Araçoiaba/CE
Abelardo Nogueira.
Violão, moça formosa,
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também gosta de afeição. Se dedilhada é dengosa,
quem a abraça tem paixão.
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
SEMINAR
O amor da gente é como um grão.
(Drão – Gilberto Gil)
Quem disse que temos todo o tempo do mundo?! Se assim fosse, por que amar as pessoas
como se não houvesse amanhã?!
Não, o tempo não pára e o sonho é como um grão:
tem que morrer pra seminar.
Uma Trova de São Paulo/SP
Renata Paccola
O grande compositor consegue, em sua canção, acordar um grande amor nas cordas de um violão!
Um Haicai de Curitiba/PR
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
SINUCA 1: “PRETO BATE BRANCO BATE
PRETO”
preto bate branco bate preto
embola enrola esfola
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assola escarra escarra escarra
cuca luta disputa taco contra taco
sopapo nuca noite coice
foice bate bate bate
bola contra bola bate
pelas ruas pelos guetos pelos panos rola
bola contra bola rola
……………………….
preto bate branco bate preto
faca tapa coice açoite estala
bala contra bala estala bala vala
desfia desafia afia porfia
a faca o taco o troco sufoco
cara contra cara encara
caça contra caça regaça
encara bate e cala caçapa!
Uma Trova de Santa Juliana/MG
Dáguima Verônica de Oliveira
Nos verdores do sertão,
por cenário claras águas, lembro bem de um violão
dissipando as minhas mágoas.
Uma Quadra Popular
Autor Anônimo
Um surdo disse que ouviu um pobre mudo dizer,
que um cego tinha visto um aleijado correr.
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Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
SINUCA 2: TACO CONTRA TACO
embola enrola volteia
bate enrola esnoba floreia
bate cuca luta bruta pura
disputa taco troco truco traço
no braço bola contra bola bate rebate
e gira pelos cantos pelas beiras pelos panos
rola rola bola contra bola bate rebate
estala bola contra bola rela rala rinha risca
desliza bola contra bola bate rebate reganha rebola
encaixa taco a taco ferro fere firme forte
fácil
última bola: cara a cara encara mira e cala
caçapa
Uma Trova do Rio de Janeiro/RJ
Otávio Venturelli
As tuas cartas, afago-as toda vez que eu as releio,
e leio todas as mágoas na carta que não me veio.
Uma Setilha de Fortaleza/CE
Nemésio Prata
Todo dia ao dar bom dia ao seu Deus, peça também
inspiração pra fazer belas trovas, pois só quem tem a inspiração de Deus coloca, nos versos seus,
amor, que só de Deus vem!
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
DOM QUIXOTE DALI
Dom Quixote manchado,
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cavaleiro das taças quebradas, envolto em moinhos de sonhos e mágoas, avante!.. avante!…
Impávido pelos trilhos utópicos
alucinado a rodar e a rodar e a rodar em sonhos… carrossel…
Atravessa os túneis, penetra a terra,
move os céus e as montanhas, estrela a brilhar em consternação…
Constrói o futuro e cola os cacos da história!
Tu que és trapeiro doido da lua, eternamente um louco salvador… Tu que és trapeiro doido da lua,
eternamente salvador dali… Dali, daqui, de lá, acolá…
Evoé! Avante Quixote!
Ole!… Ole!… Ole!…
Um Haicai de Campinas/SP
Ana Suzuki
Noite na praia...
Os pescadores recolhem a estrela cadente.
Uma Trova do Rio de Janeiro/RJ
Maria Nascimento
A distância, achando meios para unir nossas metades, somou nossos devaneios e dividiu as saudades !…
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
MIGALHAS
bebia sua vida num gole gargalo com jornal de lã na calçada-divã vestia saída num beco soberbo
de fome subúrbia travessa sacia sua sede de pão
meio-dia fomenta milhares de carros com tal sede insana faminta de grana
pro gole final que deu ali mesmo de magna angústia
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tomou batida e encheu a cara de chão
encheu a esquina de cena
agora é a vida
que pinga que pena
Milhões de migalhas encobrem a mesa.
Milhões de migalhas não fazem um pão.
Milhões de migalhas
não fazem nem mesmo uma fatia.
Milhões de migalhas
são apenas mais sujeira no dia a dia.
Recordando Velhas Canções
Alegria, alegria (1967)
Caetano Veloso
Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento No sol de quase dezembro,
eu vou E
O sol se reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas Em Cardinales bonitas,
eu vou
Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeira Bomba e Brigitte Bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça Quem lê tanta notícia
Eu vou, por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos Eu vou,
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por que não, por que não
Ela pensa em casamento, e eu nunca mais fui à escola Sem lenço, sem documento,
eu vou
Eu tomo uma coca-cola, e ela pensa em casamento Uma canção me consola,
eu vou
Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
Ela nem sabe até pensei Em cantar na televisão
O sol é tão bonito Eu vou, sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou Por que não, por que não Por que não, por que não Por que não, por que não
Uma Trova de Caicó/RN
Prof. Garcia
Quando a tarde veste o manto, torna escura a luz do dia. Saudade dói outro tanto,
do tanto que já doía.
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
NO LIMITE
Num mundo videoestilhaçado deve o poema também sê-lo?
Em canais latrinobabélicos
deve o poema signosilenciar?
Narcisopausterizado na massa deve o poeta e(x)goelar-se?
Ou a saída seria dispará-lo à seco cilada selada com muito desvelo?
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Um Haicai de São Paulo/SP
Carlos Seabra
fruta caída ao lado da estrada:
pausa na ida
Uma Trova de Porto Alegre/RS
Gislaine Canales
Pedi perdão ao Senhor por minhas horas vazias, pelas horas sem amor,
e Ele as encheu de alegrias!
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
SOUVENIR
Veja o sol dessa manhã tão cinza:
a tempestade que vem tem a cor dos teus olhos castanhos. (Tempo perdido, Renato Russo)
Quando a dor te encontrar no fundo do calabouço, lembra que a tempestade tem a cor dos teus olhos
e o frescor das fontes que brotam límpidas do velho poço de pedras.
Hinos de Cidades Brasileiras
Cabedelo/PB
Cabedelo é nossa terra Cheia de encanto e amor
Quanta paz, quanta alegria Vamos cantar com fervor.
Nasceu das dunas de areias As margens do verde mar Tem o passado, heróico
Que nos faz muito evocar.
Suas jangadas, seus pescadores Suas praias e seus amores,
Os seus coqueiros são altaneiros Seu belo porto, seus trabalhadores.
O seu ar puro, cheio de vigor Que se aspira o seu odor
Seu clima quente bem tropical E suas festas que é tema central.
As ruínas, da fortaleza
Iluminada ao luar E a Santa Catarina
Na capela em seu altar
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Na velha matriz do centro A missa do galo cantar
Nossa Senhora dos Navegantes Tem a frente para o mar.
Suas praias, no verão
Nos convidam a passear Suas areias brilhantes
Na amplidão do beira-mar As suas constelações
Sobre o céu a iluminar E o farol, da pedra seca No arrecife a lampejar.
Lutemos pelo porvir É este o nosso apelo
Uma Trova de Fortaleza/CE
Fernando Câncio
A vida de faz-de-conta, que levo desde menino,
é brinquedo de desmonta nas peças do meu destino…
Um Poema de Maringá/PR
Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)
ÁGUAS VIVAS
ÁGUA-VIVA I
Nas madrugadas navego.
Oceano sem fim.
Imensa onda. Jaz mim.
ÁGUA-VIVA II
Fumaça blues. Flor essência de sândalo.
Dourados
no aquário.
ÁGUA-VIVA III
anêmonas trêmulos véus…
Divina Vênus
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na cama…
ÁGUA-VIVA IV
Estrelas n’água. Branca espuma em teus lábios.
No firmamento
noctilucas pululam.
Astrolábios.
ÁGUA-VIVA V
Nas madrugadas bebo águas vivas.
Resgato águas furtadas,
régias e marinhas.
Depois adormeço, pálido de aurora.
ÁGUA VIVA VI
Mar remoto.
No fundo
(da concha) naufrago.
ÁGUA-VIVA VII
as ondas espumantes (en) volvem
o doce nácar das conchas
_____________________ Sobre a canção “Alegria, Alegria”
Composta num estilo cinematográfíco-descritivo, “Alegria, Alegria” focaliza a caminhada de um transeunte pelas ruas de uma grande cidade. Aliás, a idéia da canção surgiu na rua, mais precisamente durante um passeio de Caetano Veloso pelas ruas de Copacabana. Só que na composição, o passeio e a postura do passeante têm sentido metafórico, o que torna “Alegria, Alegria” uma espécie de manifesto precursor do movimento tropicalista.
Em sua caminhada vadia (“Por entre fotos e nomes / os olhos cheios de cores”), desprezando signos e convenções (“Sem lenço, sem documento”), ele deseja somente viver a aventura da liberdade sem limites (“Nada no bolso ou nas mãos /eu quero seguir vivendo / amor/eu vou / por que não? por que não?”).
Além de projetá-lo nacionalmente, a composição aproximou Caetano das vanguardas concretistas — atraindo-lhe as bênçãos de Augusto de Campos e Gilberto Mendes, entre outros e do universo do rock, a partir do momento em que ele chamou os Beat Boys
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para acompanhá-lo na apresentação e gravação da música.
Uma marcha de melodia muito simples, sobre acordes perfeitos sem acidentes e antecedida por uma
introdução elementar, classificou-se em quarto lugar no III Festival de MPB da TV Record, para a irritação dos puristas Fonte: Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. v.2.
Chuvisco Biográfico do Poeta
O professor e poeta Marciano Lopes e Silva nasceu em Porto Alegre/RS, em 13 janeiro 1965 e faleceu em Maringá, a 17 outubro 2013. Marciano era conhecido por projetos e eventos culturais como “No meio do caminho” e “Sarau Outras Palavras” e estava na organização de um evento nacional na UEM, a V Jornada Inteartes Outras Palavras em conjunto ao Congresso Nacional de Educação Ambiental Literatura e Ecocrítica. Marciano, que tinha um blog (http://marcianolopes.blogspot.com).
Era doutor e atuava na área de Teoria da Literatura e Literatura de Língua Portuguesa. Graduado em Oceanografia e Letras pela Fundação Universidade de Rio Grande (FURG, 1986, 1990), foi mestre e doutor em Letras (UFRGS/1994, Unesp/2005). Foi professor da Universidade Estadual de Londrina (1995 a 1997) e, desde 1997, lecionava na Universidade Estadual de Maringá. Suas linhas de pesquisa eram: Estudos sobre Relações Raciais; História e Cultura Afro-brasileiras; Literatura: teorias críticas e história. Como poeta, publicou dois livros, sendo que o segundo, intitulado "A contrapelo", foi premiado pela Lei de Incentivo à Cultura em Maringá e é acompanhado por um CD que reúne dez compositores que residiam na cidade. Em parceria com Fábio Freitas (Sansão), foi um dos fundadores do Movimento Artístico-Cultural "No Meio do Caminho" e um dos editores da extinta revista eletrônica "No Meio do Caminho" juntamente com Caetano Medeiros e Fábio Freitas. O Projeto Outras Palavras (POP) surgiu como um projeto de extensão do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá (UEM) idealizado e coordenado pelo professor Dr. Marciano Lopes e Silva desde abril de 2006. Faleceu no em 17 de outubro de 2013, no Hospital Metropolitano, em Sarandi. Na semana anterior ele contraiu uma broncopneumonia, foi para a UTI e por volta das 19h não resistiu. Foi cremado no Cemitério Parque Maringá.
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Trovadora Homenageada
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Ao marujo que anda absorto, cuida que o dito malogra, “um amor em cada porto”
e em cada porto uma sogra!
A velhinha tão "carente", vendo o 'gato' peladão,
ficou mais incandescente que chaminé de vulcão.
A verdadeira amizade, não exige recompensas, assim como nos aplaude,
nos corrige, sem ofensas.
Cansado, o velho marujo tenta a manobra no cais, o caso é que o dito cujo
nem consegue atracar mais.
Doces lembranças guardadas, no peito, quem não as tem? De caminhar de mãos dadas
por sobre os trilhos do trem.
Ele inventa mil diabruras, corre, pula, esse meu neto,
com as suas travessuras é o meu ator predileto.
Eu conheci um “gatão”,
gato mesmo! É brincadeira, só pegou na minha mão, já me filou a carteira.
Herói dos inconfidentes, não conheceste a vitória, mas teu nome, Tiradentes ficou gravado na História!
Lembra uma taça de vinho,
de inebriante sabor, quando, com muito carinho,
tu me beijas, meu amor.
Magro e comprido, o Quinzinho, assim mesmo tem quem goste,
é o cachorro do vizinho que sempre o toma por poste.
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Meu avô... lembro seu jeito, seu olhar... quanta doçura!
E havia naquele peito uma usina de ternura.
Minha filha é tão bonita, amamentando o meu neto,
numa ternura infinita, é fonte de puro afeto.
Minha mulher é uma brasa, diz ter ordens da sogrinha,
implantou “lei seca” em casa; mato a sede na vizinha…
Na penumbra, ao sol poente,
lembrando os bailes de outrora, dois velhinhos ternamente,
na sala, dançam agora.
Numa ilusão, tal criança, volto sempre ao mesmo cais,
naquela doce esperança de te ver uma vez mais.
Olha o copo, o beberrote, aplica o golpe e malogra,
vai com tanta sede ao pote, bebe o laxante da sogra.
O problema é que essa gente,
com tanta "oferta" hoje em dia, vai logo pros "finalmente",
pois nada mais arrepia!
O Rosário de Maria, a meditar nos conduz,
são as lágrimas que um dia, Jesus derramou na cruz.
Pelo sol, pela beleza,
deste céu, do mar, da flor, e por toda a natureza,
eu te agradeço, Senhor.
Pra que teu lar seja um templo, pleno de amor e de paz,
mostra o caminho do exemplo, que é sempre o mais eficaz.
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Quando acalmou a peleia no fandango do seu Matos,
acharam 10 pés de meia e mais de 30 sapatos.
Quando a Olívia reclamou dos “deveres” do marido,
o marujo retrucou: - o espinafre tá vencido!
Quando a saudade me abraça,
num devaneio febril, até na nuvem que passa eu diviso o teu perfil.
Quando o magro, no capricho,
saía todo arrumado, ouvia logo um cochicho:
- Olha o “palito engomado”!
Quarenta graus! Tava quente! Mas fiquei arrepiada,
não é que liga um parente, pra pedir... grana emprestada?
Surpresa a noiva ficou, numa ansiedade maluca, quando o noivinho tirou a dentadura, a peruca…
Tanto ódio!... Tanta guerra!...
Mandai “bons ventos”, Senhor, aos quatro cantos da terra, somente espalhando amor.
Tristeza, estresse, por que?
Tenha uma vida sadia! - Participe da UBT,
faça uma trova por dia.
Um amigo verdadeiro, é jóia que não tem preço, na vitória, é companheiro,
nos ampara no tropeço.
Viver é recomeçar, olhar em frente, sorrir,
é ter coragem, lutar acreditar no porvir.
20
J.B. Xavier Cunhaporã - Uma história de amor
IV PRISIONEIRO
“Escolhe!” - disse o Oyakã .
“Aquela!” - o charrua disse. “Conforme Yara predisse!
É ela Cunhaporã ?”
E Ygarussú, qual felino, De repente, em desatino, Num salto pôs-se de pé.
“Tu a conheces? de onde?”
“Ah!, meu guerreiro ilustre! Por quem são as minhas preces
Que só o eco responde? Então quem é que meu sono
Embala na madrugada? E quem, em meus abandonos A mim vem, como uma fada?
Esse rosto afogueado Garanto, nobre tupi
Nunca jamais ter olhado. Cunhaporã nunca vi!
Nunca ao meu sonho dei nome.
Somente aprendi a amar O fogo que me consome Nas belas noites de luar.
Mas chegou-me enfim, um dia,
Notícia de tal beleza, Que herética, desafia
A da própria Natureza!
Viandantes cá do norte Traziam notícias dela,
E de como viram a morte Dos que ousaram querê-la.
Sei agora! a heresia
Chama-se Cunhaporã !
20
J.B. Xavier Cunhaporã - Uma história de amor
IV PRISIONEIRO
“Escolhe!” - disse o Oyakã .
“Aquela!” - o charrua disse. “Conforme Yara predisse!
É ela Cunhaporã ?”
E Ygarussú, qual felino, De repente, em desatino, Num salto pôs-se de pé.
“Tu a conheces? de onde?”
“Ah!, meu guerreiro ilustre! Por quem são as minhas preces
Que só o eco responde? Então quem é que meu sono
Embala na madrugada? E quem, em meus abandonos A mim vem, como uma fada?
Esse rosto afogueado Garanto, nobre tupi
Nunca jamais ter olhado. Cunhaporã nunca vi!
Nunca ao meu sonho dei nome.
Somente aprendi a amar O fogo que me consome Nas belas noites de luar.
Mas chegou-me enfim, um dia,
Notícia de tal beleza, Que herética, desafia
A da própria Natureza!
Viandantes cá do norte Traziam notícias dela,
E de como viram a morte Dos que ousaram querê-la.
Sei agora! a heresia
Chama-se Cunhaporã !
20
J.B. Xavier Cunhaporã - Uma história de amor
IV PRISIONEIRO
“Escolhe!” - disse o Oyakã .
“Aquela!” - o charrua disse. “Conforme Yara predisse!
É ela Cunhaporã ?”
E Ygarussú, qual felino, De repente, em desatino, Num salto pôs-se de pé.
“Tu a conheces? de onde?”
“Ah!, meu guerreiro ilustre! Por quem são as minhas preces
Que só o eco responde? Então quem é que meu sono
Embala na madrugada? E quem, em meus abandonos A mim vem, como uma fada?
Esse rosto afogueado Garanto, nobre tupi
Nunca jamais ter olhado. Cunhaporã nunca vi!
Nunca ao meu sonho dei nome.
Somente aprendi a amar O fogo que me consome Nas belas noites de luar.
Mas chegou-me enfim, um dia,
Notícia de tal beleza, Que herética, desafia
A da própria Natureza!
Viandantes cá do norte Traziam notícias dela,
E de como viram a morte Dos que ousaram querê-la.
Sei agora! a heresia
Chama-se Cunhaporã !
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Mais linda que a luz do dia, Mais quente que o sol da manhã.”
“Acaso estás consciente Que essa moça querida
Há muito tempo, na selva, É tida como rainha?
Que um dia ela vai ser minha, Que já esta prometida?
Acaso estás consciente
Que ela é minha propriedade? Os deuses o querem assim,
E desde sempre a guardaram, E a mim, então, a entregaram
Desde a mais tenra idade?
Acaso estás consciente Do destino que te espera Por tua escolha infeliz?
Tua vida arrancarei! E teus restos jogarei
P’rá saciarem as feras.”
“O amor, Grande Guerreiro, Bem como o sangue, é nobre!
Não se encobreUm com o outro! E sempre que se misturam,
O que resta é a tristeza.
O amor é sempre riqueza.
Eu, que jamais fui vencido,
Nem pelas armas,nas guerras, Nem nos atos por nobreza,
Nunca havia conhecido Um guerreiro destemido Que ao oferecer abrigo
Ameace os de outras terras! Mas digo-te, Grande Oyakã:
Longe de mim a intenção De ferir o coração
Do nobre Chefe Tupi, Da gentil Cunhaporã.
Coragem é minha consorte. E é,talvez,maior que a tua!
Não se intimida um charrua Com ameaças de morte!
Pasma a turba! Jamais algo tão ousado fora assim pronunciado
No reduto dos tupis!
Uma lança cruza o ar com endereço acertado: O coração do charrua.
Uma esquiva,
Um salto ao lado, Um agarrar.
22
Depois a lança a exibir.
Volta ela pelo ar
A atravessar O corpo do tupi.
Braços e lanças envolveram o insano.
Sangue, estertor, morte, E o esforço sobre-humano.
Gritos. Blasfêmias,
Gemidos atrozes Ecoaram desse coro de mil vozes...
“A súcia do arvoredo!”
- A voz de Yara sussurrou.
E o bramido da luta, O serpentear da disputa Pela taba se espalhou.
A horda anovelava-se
Num furacão de poeira. Lanças cruzavam o ar, Flechas loucas a voar Assassinas e ligeiras.
O charrua rodopiava
E a morte ia espalhando. Uns caíam desmembrados
Naquele cenário horrendo, E outros, ao longe,
Lentamente, Iam morrendo.
Ygarussú , à distância,
Imóvel, observava O guerreiro que feria E a morte distribuía, Mas que, aos poucos,
Cansava.
Finalmente ele caiu, E a turba caiu-lhe em cima
Sequiosa de vingança.
Cunhaporã , sem esperança, Viu o início da chacina.
“Poupe-o, Ygarussú !
Eu sou tua prometida! Não manche com esse crime
A nobre taba tupi. Salve-o! Poupe-lhe a vida!”
“Terei notado em tua voz Certo tom de desencanto? E por quem é esse pranto
Que desce assim, tão veloz? ”
“Poupe-o! Toma-me a mim!
23
Que guerreiro assim valente Não pode acabar nos dentes Das feras desses confins! “
“Alto!” - Bradou o tupi.
Seu grito ecoou no sertão
Parando no ar a mão Que descia o golpe final.
“Não lhe façam nenhum mal!
Quero-o vivo!”
A mão vacilou na descida. A recusa em obedecer...
Como o relâmpago Uma flecha partiu Do arco do Oyakã ,
E o teimoso tombou, Já sem vida...
E puseram o charrua amarrado, indefeso
No poste, ao lado de um lume aceso No centro da taba, de toda a aldeia.
Do corpo seu sangue em torrente escorria, E a turba gritava em louca histeria
Pisando seu sangue empapado na areia.
Assim o Destino atirou suas malhas.
Ao longe jaziam os heróis da batalha. Essa foi, para muitos, a guerra final. Que deus protegia esse índio valente
Que em tão pouco tempo matou tanta gente, Lutando apenas por seu ideal?
“Não contem os mortos! Não quero saber!
Charrua maldito, tua hás de morrer! Enterre-os na mata. A todos bendigo!
E tu, Oh, charrua, que a morte trouxeste, E que em forma de amor disfarçaste a peste,
Tão logo puderes, lutarás comigo!"
"Cada um dos guerreiros tupis que tombaram A honra da taba, valentes, lavaram,
E irão muito em breve Tupã encontrar. Pajé, os ungüentos! curai as feridas.
Do louco charrua, a mísera vida Eu quero, em breve, sozinho, tomar."
Seu sangue na selva eu espalharei
E ao longe, nos pampas, eu lá levarei Notícias da morte do ‘Grande Nhuamã ‘.
Todos na selva vão vê-lo morrer. Troféu de seu crânio eu hei de fazer
P’rá honrar nossos mortos e Cunhaporã.”
continua… V – Lágrimas de Amor
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Profa. Ana Suzuki Aula sobre Haicai
Introdução Não é importante que todos saibam ou queiram escrever haicais, pois nem todos têm inclinação para a síntese e muito menos para a metrificação. Mas me pareceu importante que todos nós, que nos dedicamos à poesia, conheçamos as suas regras, já que não se pode falar de literatura sem mencionar a poesia e, dentro dela, grandes haicaístas brasileiros como, por exemplo, Guilherme de Almeida. É um gênero interessante, bonito, sintético, mas que demanda certos conhecimentos, para que o poeta, lendo, escrevendo ou comentando, não passe por inculto. Como verão no decorrer das aulas, não é qualquer terceto que pode ser chamado de haicai. Japoneses o retiraram do tanka, que tem dois versos a mais, e nele introduziram sutilezas que não são, de forma alguma, dispensáveis.
Apresentação Ana Suzuki, brasileira, descendente de italianos, espanhóis, portugueses e índios. Casada com Tadao Suzuki, nascido no Japão. Analfabeta em relação à língua japonesa. Foi budista durante quase quarenta anos, "estagiando" em várias seitas, nas quais apreendeu muita coisa sobre o espírito japonês. Publicou por um ano, no Correio Popular de Campinas, a coluna "Janelinha para o Japão", e simultaneamente em mais dez jornais da região. Dentre os dezesseis livros que publicou, através de grandes editoras, quatro abordaram a cultura japonesa - três romances - O Jardim Japonês (premiado no VII Concurso Nacional de Romances e publicado em capa dura também pelo Círculo do Livro), Flor de Vidro e Jônetsu, além do infanto-juvenil "A Bruxa Japonesa". Premiada por três anos consecutivos pelo Bunka Kyokai (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa), em
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concursos de cultura japonesa, desbancando, como dona de casa, os cobrões da USP e de universidades dos EUA, Peru, Equador, etc. Desanimados, os organizadores puseram- na na comissão julgadora, sem direito a concorrer. Participou da antologia "100 Haicaístas Brasileiros", patrocinada pela Aliança Cultura Brasil-Japão, sendo amiga de importantes haicaístas, que lhe enviam seus livros. Organizou e publicou por muito tempo, no Jornal Paulista (atualmente Nikkey Shimbun - fusão daquele com o Diário Nippak), cursos de haicai em coluna diária e ilustrada, movimentadíssima, através da qual formou muitos haicaístas nikkeys.
AULA 1: O HAICAI E A NATUREZA Normalmente as aulas de haicai começam pelo histórico, pela métrica, e por fim pela sua essência. Aqui vai ser de traz pra diante. Vamos entrar no espírito do haicai, começando por sua primeira característica: 1. Todo haicai tem que conter um elemento da natureza, seja um gato, uma flor, uma estrela, um pernilongo.
Eis alguns exemplos:
No lago sem dono Assobia, arrepiado, o vento do outono.
É noite na praia
Os pescador es recolhem A estrela cadente.
Menino de rua
Pisa na flor que murchou. É Dia das Mães.
OBS: A contagem nos versos acima é poética, não gramatical. Mas essa já é uma outra questão da língua portuguesa. continua… O Haicai e a Estação do Ano Fonte: www.ednafeitosa.com.br/HAICAIS/haicai_indice.html
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Folclore Brasileiro
Quibungo
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Lenda do Quibungo O Quibungo é uma espécie de Bicho-Papão negro, um visitante africano inesperado, também chamado kibungo ou xibungo, é mito de origem africana que chegou ao Brasil através dos bantus e se fixou no estado da Bahia, onde passou a fazer parte do folclore local. Suas histórias sempre surgem em um conto romanceado, com trechos cantados, como é comum na literatura oral da África. Trata-se de uma variação do Tutu e da Cuca, cuja principal função era disciplinar pelo medo as crianças rebeldes e relutantes em dormir cedo. Apesar de ser um ente fantástico das nossas tradições, não se compara como mito ao Mapinguari, o Capelobo e o Pé de Garrafa, pois trata-se apenas de um personagem, uma figura, um ponto de referência dentro da literatura oral afro-baiana. O Quibungo faz parte dos contos romanceados, sempre com um episódio trágico ou feliz mas sem data que o localize no tempo. É um Velho do Saco para os meninos, um temível devorador de crianças, especialmente as desobedientes. Sem dúvida um meio eficaz de cobrar disciplina pela imposição do pavor. Não há testemunho ocular de sua existência, mas, em meio ao universo infantil, existe como coisa concreta. Dentro dessas estórias tradicionais, contadas para as crianças inquietas, ou teimosas, ele se arrasta como um fantasma faminto, como um feroz devorador de meninos e meninas que desgrudam da guarda dos seus pais.
É uma figura da literatura oral afro-brasileira, com sua bestial voracidade, sua imensa feiúra, brutalidade e inexistente finalidade moral. Em quase todos os contos em que aparece o Quibungo há versos para cantar. Esse detalhe lembra as estórias contadas, declamadas e cantadas que ainda hoje podemos ouvir na África equatorial, setentrional e na China, ao ar livre, para um auditório sempre renovado das ruas e praças. É o famoso teatro dos bonecos ou marionetes, onde personagens encenam dramas épicos ou outros de finalidades morais e educativas, retratando sempre de uma forma lúdica e didática os problemas das comunidades. Em Alger ou Xangai, e mesmo nos países nórdicos, vivem ainda hoje estes artistas de rua, descendentes indiretos dos Mímicos da antiga Roma nos tempos do império. O Quibungo é um forte aliado dentro dessa literatura onde não existem limites para a imaginação. No Congo e Angola, Quibungo significa "Lobo". Entre os povos da costa ocidental da África, existiam as hordas de salteadores vindos de outras regiões e que comumente invadiam povoados e aldeias, saqueando tudo; se apossando de mulheres, crianças e demais pertences, e escravizando os homens e os velhos. A este tipo de agressão praticadas pelos grupos invasores eles chamavam de Cumbundo, e a cada indivíduo que faz parte do grupo, Quibungo que pode ser interpretado como "invasor" ou "invadir", ou "aquele que vem de fora sem ser esperado ou convidado".
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De tal sentimento de pavor que sentiam, inspirados pelo Quibungo invasor, associados à ideia e ao terror próprios do Chibungo, como eram chamados pelos povos negros o Lobo animal, nasceu evidentemente na imaginação popular a concepção dessa entidade estranha - O Kibungo. Os povos Bantus se encarregaram de transmitir às nossas populações do norte e nelas persiste, mesmo após o desaparecimento dos povos em que teve origem. Desse modo, o Quibungo baiano é ao mesmo tempo homem e animal. Espécie de lobo ou velho negro maltrapilho e faminto, sujo e esfarrapado, um verdadeiro fantasma residente nos maiores temores infantis. Não nos é possível determinar se nas estórias africanas o Quibungo conserva a forma e os hábitos do seu similar baiano. O Quibungo africano não tem um ciclo temático igual ao brasileiro. Aqui ele assumiu o mesmo papel já atribuídos ao Tutu-Marambá, ao Bicho-preto, ao Macaco-saruê, ao Bicho-cumunjarim, ao Dom Maracujá e ao próprio Zumbi que muitas vezes é sinônimo de Saci-Pererê. Do africano herdou a boca vertical, do nariz ao umbigo ou no dorso, assim como já é o nosso Mapinguari. Na Bahia o Quibungo reina e governa em sua missão de assombro aos pequenos. Assim, o Quibungo baiano é só baiano, não existe em outros lugares do Brasil. É um bicho meio homem, meio animal, tendo uma cabeça muito grande e também um buraco no meio das costas, que se abre quando ele abaixa a cabeça e se fecha quando levanta. Engole as crianças abaixando a cabeça, abrindo o
buraco e jogando-as para dentro. É também um feiticeiro, demônio, lobisomem, macacão, preto velho. No fundo continua sempre a ser um ente estranho e canibal, que prefere a carne tenra das crianças. Outro ponto digno de menção sobre o Quibungo é sua completa vulnerabilidade. Pode ser atacado por qualquer meio, arma branca ou de fogo. Morre gritando, espavorido, acovardado, como o mais inocente dos monstros que a imaginação infantil dos povos já criou. Nomes comuns: Kibungo, Chibungo, Quibungo. Origem Provável: A influência africana é determinante, mas não influenciou que se espalhasse por outros Estados do Brasil. Negros escravos Bantus se espalharam por toda parte. Em Pernambuco ficaram muitos. Mas a lenda do Quibungo não acompanhou estes, nem em Sergipe, onde ficaram outros tantos. A versão brasileira é originária da Bahia. Os aspectos do personagem baiano brasileiro, difere do africano. Serviu a África apenas como fonte de inspiração. Apesar de ter origem entre os povos negros Bantus que migraram para a Bahia, não se espalhou para os demais estados, mesmo diante do grande afluxo desse povo para outras regiões do país. O Quibungo se tornou baiano, e assim ainda continua. Se fosse de origem africana sem dúvida acompanharia seus habitantes para onde quer que
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estes se deslocassem, o que não ocorreu no Brasil. Ele não é citado nas estórias nem do Nordeste, nem do Norte. Ele foi importado da África como protótipo, mas reestruturado pelos brasileiros baianos com base nas crenças locais já existentes. Desse modo, ele herda aspectos do "Velho do Saco", do Lobisomem, etc. A referência à sua boca às costas, mais lembra o próprio Velho do Saco, que literalmente engolia as crianças pelas costas, uma vez que depois de ensacá-las, jogava o surrão sobre seu dorso e ia embora. O Homem do Surrão ou "Velho do Saco" faz parte de estórias portuguesas e está em quase toda Europa. É um homem velho, esfarrapado, sujo, muito feio, que procura agarrar as crianças vadias ou descuidadas e metê-las num grande saco de couro, de abertura larga, pronta para este fim.
Não se sabe como morrem as crianças. Se o homem as devora ou mata-as pelo prazer de matá-las. Cada criança que o Homem segura é sacudida no surrão que se fecha. Para este movimento é preciso que o Homem baixe a cabeça. Então o surrão abre-se. Presa a criança, fechado o saco, o Homem ergue a cabeça. São as mesmas atitudes do nosso Quibungo com sua suposta imensa bocarra. Pela descrição, a boca do Quibungo é um saco. No mais, é mito local, trabalho conjunto afro-brasileiro, uma silhueta disforme e negra que caminha, não nas florestas como o Mapinguari, mas nos contos populares como as histórias da carochinha. Fonte: http://sitededicas.ne10.uol.com.br/folclore_quibungo.htm Ilustração de Marcos Jardim
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Isabel Furini
Poesia em Sala de Aula
A sala de aula mudou. Ficou para trás aquele lugar onde as crianças escutavam passivamente os discursos dos professores. Sala de aula é hoje um lugar interativo. A educação do século XXI está voltando à verdadeira origem da palavra. Educar deriva da palavra latina educere – “aquilo que vem de dentro”. Quase um segundo nascimento.
O filósofo Lombardo Radice dizia que não nascemos humanos, tornamo-nos humanos com o processo de educação. E o verdadeiro ser humano é aquele que educa a si mesmo. Por isso, os professores precisam de acuidade estética para despertar o gosto pela arte nos educandos e guiá-los para assumirem o processo de constante autoeducação.
Uma experiência muito interessante é diversificar as aulas, torná-las mais dinâmicas e vivas. Vejamos as aulas de poesia, elas podem acordar o lado poético dos educandos. A poesia era muito apreciada pelos gregos, eles valorizavam o poético como enigma, como verdade mítica.
Em grego, Poiesis significa produzir, fazer. Hoje pode resultar estranho o sentido desse termo, pois a poesia é considerada “improdutiva” pela sociedade de consumo. Mas, para os gregos, a poesia produzia uma
realidade diferente da objetiva. Para eles a poesia estava unida a uma realidade mítica (dando ao mito seu sentido original).
Uma verdade mítica é aquela que nunca foi, mas que sempre é. Pode parecer um paradoxo, mas o mito não é uma verdade histórica, é algo que sempre acontece, como o Complexo de Narciso e o Complexo de Édipo, tão falados em psicologia, baseados na mitologia grega.
Esses fatos nunca aconteceram da maneira exata como foram narrados, mas podem existir sempre. Existiram, existem e existirão pessoas narcisistas, ou seja, o mito de Narciso é uma verdade que ultrapassa épocas.
Assim é a poesia: uma realidade diferente. Toca as cordas da alma, desperta a sensibilidade estética e ajuda a compreender a filosofia. A poesia nos leva pelo caminho da palavra e das ideias.
Geralmente, consideramos três tipos de poemas: lírico, dramático e épico. O lírico possui ritmo e musicalidade e está relacionado à música. O dramático corresponde à fala por meio de diálogos em conflitos interiores ou sociais e está relacionado ao teatro. Já o épico refere-se a batalhas e guerras.
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Como ensinar poesia para crianças? As aulas de poesia para crianças devem ser lúdicas.
Será necessário fazer ênfase nos efeitos de sonoridade, de cores, de imagens, de movimento. O importante é que a criança inicie o processo sem limitações, sem bloqueios. Paradigmas rígidos tolhem a criatividade.
O professor deverá ser paciente, pois nem todos os alunos terão habilidade poética. A finalidade das aulas não é formar poetas, mas despertar o espírito poético. Orientar os alunos para que possam perceber a poesia e (para que possam também) exprimir o sentido estético que os ajudará a crescer como seres humanos e a realizar-se como pessoas.
A poesia para crianças pode começar com “jogo de palavras”. O educador coloca uma lista de palavras que possam rimar e deixa que os alunos escolham livremente.
Por exemplo: Arminho – Burburinho – Carinho – Adivinho – Ninho – Cozinho – Pergaminho - Espinho - Padrinho – Cavaquinho - Passarinho – Sobrinho – Alinho – Anjinho – Armarinho - Engatinho – Desalinho – Marinho - Moinho – Pinho – Focinho – Colarinho.
Ainda que os trabalhos sejam simples como: “O gatinho pisou um espinho”, ou: “O passarinho está no ninho”, o professor não julgará os poemas, só estimulará a produção poética. Aos poucos, as crianças vão se encantando com a sonoridade das rimas e com a possibilidade de criar poemas.
O educador precisará de muita paciência e de bom humor. Quando eu era estudante, um professor de
matemática, ainda jovem, mas careca, solicitou aos alunos que escrevessem o que achavam dele como professor. Alguns colocaram elogios, outros criticaram. Mas teve um aluno que escreveu: “Céu sem nuvens / ninho sem pássaros / cabeça sem cabelo”.
Os colegas riram, o professor ficou zangado e o criativo poeta foi encaminhado à diretoria. Mas não podemos negar que ele foi criativo. A poesia contribui para estimular a criatividade, ajuda na aquisição da linguagem, enriquece o vocabulário, contribui para aumentar a sensibilidade estética, exterioriza emoções, além de desenvolver a capacidade de leitura e compreensão.
Exercícios – Primeira Aula: Sensibilizar A primeira aula deve ser quase uma brincadeira. O
educador pode começar com a leitura de um poema livre ou trova. Imediatamente escreve no quadro e faz com que as crianças leiam em coro duas ou três vezes.
Os alunos copiam o poema no caderno. Depois o professor assinalará algumas palavras do poema e solicitará às crianças que procurarem sinônimos ou antônimos, ou palavras que possam substituir a palavra assinalada. Ou ele mesmo proporcionará uma lista de sinônimos, antônimos e palavras afins para que as crianças utilizem as palavras de que mais gostem. Não se preocupar com aspectos teóricos como métrica.
O tom será de divertimento para que as crianças se aproximem da poesia sem medo e sem bloqueios.
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Nesse primeiro momento, o importante é que elas se aproximem do poema. Que apreciem a sonoridade.
Por exemplo: O professor pode trabalhar o poema da página 33 do livro “O Dr. Pingüim e a Mensagem de Santo Agostinho”, de minha autoria (escolhi um poema de minha autoria porque é preciso autorização escrita para colocar poemas de outros autores).
A Sucuri é uma cobra muito grande / que só sabe fazer ssssshhhh / A Sucuri é uma cobra muito feia / que só sabe carregar uma lancheira / Ela está nas aulas de Filosofia, mas acha que são aulas de Anatomia.
Trabalhar com algumas palavras do poema. Dar liberdade para que os alunos troquem as palavras que desejem. Por exemplo: sucuri - mudar para outro nome de cobra como Coral, Jararaca, Cascavel, Cobra Cipó; grande - procurar outra palavra como enorme, gigante, poderoso, vasto etc., ou antônimos: pequena, mínima, anã, nanica; carregar - levar, transportar, assegurar, sobrecarregar; Anatomia - o aluno pode colocar outras matérias como Geografia, Biologia, Aritmética etc.
Segunda Aula: Percepção É muito importante treinar o olhar poético das
crianças. Peça aos alunos que olhem pela janela. Como está o céu? Tem nuvens? Tem sol? Chove? Tem vento? Da janela dá para ver uma árvore? Um passarinho? Um inseto?
Solicitar que escrevam a experiência em um poema pequeno de duas ou de três linhas. Não exigir métrica. Depois, falar para as crianças que observem a natureza todos os dias e, se sentirem vontade, que escrevam poemas.
O importante não é só escrever um poema, mas adquirir o pensar poético, a visão poética da vida. A mente se abre para a beleza, e isso também é poesia. É importante solicitar que registrem, no mínimo, uma vez na semana, em três linhas curtas, o que eles observarem.
Devem só falar do que viram, mas sem dizer: eu acho, eu vi, eu percebi, porque... Repetimos que o propósito não é só inventar um poema, mas adquirir o pensar poético, a visão poética da vida, despertar a sensibilidade estética. Fontes: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=2024 Imagem = http: www.assriobranco.seed.pr.gov.br
Isabel Florinda Furini, educadora e escritora, de nacionalidade argentina, radicada em Curitiba/PR. escreve poemas desde criança, já foi premiada em alguns concursos. Publicou 15 livros, entre eles a Coleção "A Corujinha e os Filósofos" da Editora Bolsa Nacional do Livro, em 2006. Em 2007 redigiu a obra SENAC PARANÁ, 60 ANOS e publicou "O Livro do Escritor", da editora Instituto Memória, Curitiba, 2009. Ministra palestras e oficinas direcionadas a novos escritores.
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Nota sobre o Almanaque Este Almanaque é distribuído por e-mail e colocado nos blogs http://www.singrandohorizontes.blogspot.com.br e http://universosdeversos.blogspot.com.br Os textos foram obtidos na internet, em jornais, revistas e livros, ou mesmo colaboração do poeta. As imagens são montagens, cujas imagens principais foram obtidas na internet e geralmente sem autoria, caso contrário, constará no pé da figura o autor. Este Almanaque tem a intencionalidade de divulgar os valores literários de ontem e de hoje, sejam de renome ou não, respeitando os direitos autorais. Seus textos por normas não são preconceituosos, racistas, que ataquem diretamente os meios religiosos, nações ou mesmo pessoas ou órgãos específicos. Este almanaque não pode ser comercializado em hipótese alguma, sem a
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