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Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Gomes Veludo, Antônio Sérgio; Bedin, Nelson Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes Saúde Coletiva, vol. 6, núm. 35, 2009, pp. 269-274 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212201004 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Saúde Coletiva

ISSN: 1806-3365

[email protected]

Editorial Bolina

Brasil

Gomes Veludo, Antônio Sérgio; Bedin, Nelson

Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes

Saúde Coletiva, vol. 6, núm. 35, 2009, pp. 269-274

Editorial Bolina

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212201004

Como citar este artigo

Número completo

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Home da revista no Redalyc

Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Veludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes

Saúde Coletiva 2009;06 (35):269-274 269

gravidez na adolescência

Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentesPesquisa realizada através de um estudo observacional longitudinal retrospectivo, tipo caso controle, no município de Osas-co. Teve como objetivo averiguar a mortalidade infantil em filhos de mães adolescentes. Como fatores de risco, constataram-se como relevantes na mortalidade infantil: baixa escolaridade, tipo de parto, a não realização correta de pré-natal, núcleo familiar, baixa renda. Essa pesquisa pode servir para a reestruturação do sistema de saúde em Osasco, SP. Descritores: Adolescentes grávidas, Mortalidade infantil, Fatores de risco.

This research was done by a retrospective longitudinal observational study, control case type, in the town of Osasco, Sp, Brazil. Its objective was to investigate the children’s mortality among the son of adolescent mothers. The main risk factors were: low schooling degree, type of birth, incorrect procedure of prenatal, family nucleus, low income. This research can res-tructure Osasco’s health system, Brazil. Descriptors: Pregnant adolescents, Infantile mortality, risk factors.

Esta investigación es un estudio retrospectivo observacional longitudinal, del tipo caso control, hecho en la ciudad de Osas-co, SP, Brasil. Tuve como objetivo investigar la mortalidad infantil en los niños de madres adolescentes. Como factores de riesgo, si evidencio en la mortalidad infantil: baja escolaridad, tipo de parto, no realización correcta del prenatal, núcleo fami-liar, de bajo ingreso. Esta investigación puede servir para la reorganización del sistema de la salud en Osasco, SP, Brasil.Descriptores: Adolescentes embarazadas, Mortalidad infantil, Factores de riesgo.

Antônio Sérgio Gomes Veludo: Acadêmico de Medicina da Universidade Nove de Julho.

Nelson Bedin: Médico Sanitarista. Especialista em Medicina Preventiva. Mestre e Doutor em Saúde Pública. Docente da Universidade Nove de Julho e da Clínica Pele Saudável. - [email protected]

Recebido: 12/11/2008 Aprovado: 20/09/2009

INTRODUÇÃO

Adolescente é todo indivíduo entre a faixa etária de 10 a 19 anos de idade1. Conforme dados do DATASUS2, a população

de adolescentes no Brasil no ano de 2008 é de 39.356.374 o que corresponde aproximadamente 20,7% da população bra-sileira.

Na cidade de Osasco em 2006, estima-se que aproximada-mente 18% da população são adolescentes, o que representa um total de 138.514 adolescentes em uma população total de 714.949. Adolescentes do sexo feminino correspondem a 69.591, ou seja, quase 10% da população total3.

As principais causas da gravidez na adolescência são: o des-conhecimento de métodos anticoncepcionais. A educação dada a adolescente faz com que ela não queira assumir que tem uma vida sexual ativa e por isso não usa métodos ou usa outros de baixa efi ciência (coito interrompido, tabelinha). O uso de drogas e bebidas alcoólicas compromete a contracepção, além das que

engravidam para se casar. A adolescente tem problemas emo-cionais devido a mudança rápida em seu corpo ou, como ela esconde a gravidez, o atendimento pré-natal não è adequado. Podem ocorrer problemas como aborto ou difi culdade na ama-mentação4.

Como fatores que podem favorecer a ocorrência de uma gravidez indesejada, tem-se: ausência de educação sexual nas escolas e de programas de planejamento familiar nos serviços públicos de saúde5.

Os Indicadores Sociais do IBGE destaca que quanto menor a escolaridade e a renda das adolescentes, maior é a taxa de fecun-didade. O número de adolescentes negras e pardas grávidas ou com fi lhos também é maior que a proporção de mães brancas3.

A pesquisa do IBGE mostrou ainda, que as famílias de baixa renda com até meio salário mínimo per capita, têm mais fi lhos. Na média brasileira, 49% destas pessoas, que vivem abaixo da linha de pobreza, têm três fi lhos ou mais. Entre as famílias com renda per capita de dois salários mínimos ou mais, apenas 21,6% têm três fi lhos3.

As mulheres que estudaram por apenas três anos ou menos tiveram, em 2004, o dobro de fi lhos que aquelas que estudaram por oito anos ou mais. Segundo o IBGE3, a distância que separa as mulheres menos instruídas do Norte e Nordeste das mais ins-truídas do Sul e Sudeste era de três fi lhos.

Com relação ao número de nascidos vivos no município de Osasco, no ano de 2004, de acordo com os dados da SINASC, 11.546 foram registrados no total, sendo que 15,5% eram de mães na faixa etária entre 10 e 19 anos e 0,4% mães de 10 a 14 anos2.

A falta de apoio despreparo ou abandono por parte do parcei-ro, causa a interrupção do processo normal do desenvolvimento psicoafetivo-social. Na maioria dos casos a gestante adolescente

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Veludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes

gravidez na adolescênciaVeludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes

não tem nem vínculo com o parceiro, nem apoio da família.Sabroza6 em estudo mostrou a situação conjugal das mães

adolescentes. A maioria estava amasiada, seguido das solteiras com namorado, solteiras sem namorado e por último, observou que as casadas eram em menor proporção.

Existem também além dos sintomas psíquicos, riscos diversos para saúde da gestante adolescente e da criança. Existem relatos de que complicações obstétricas ocorrem em maior proporção nas adolescentes, principalmente nas de faixa etária mais baixa, desde anemia, a qual deixa a gestante mais vulnerável a toxemias (pré-eclâmpsia e eclampsia) e outros como ganho de peso insufi-ciente, hipertensão arterial, infecção urinária, DST, desproporção céfalo-pélvica, até complicações puerperais. Porém, desde que

haja adequado acompanhamento pré-natal, não há maior risco de complicações obstétricas quando se compara às mulheres adultas e adolescentes de mesmo nível socioeconômico7.

Num estudo verificou-se ser esta a sexta causa de morte na adolescência, além das complicações da gravidez, parto e puerpério8. Com relação ao parto, esse processo pode ser prejudicado devido a problemas anatômicos, como tamanho da pelve com relação ao tamanho do feto o que dificulta a decida do feto, a elasticidade dos músculos uterinos e toda cascata hormonal necessária para as contrações e relaxamen-to do órgão genital8.

Com relação à criança, Dadoorian9 mostrou em estudo a alta fre-quência de prematuridade, baixo peso ao nascer, apgar baixo, doen-ças respiratórias e trauma obstétrico devido a uso principalmente de fórceps. O sofrimento fetal pode estar presente, como: dimnuição no pulso, eliminação de mecônio no fluido aminiótico, entre outros sinais que podem levar a criança a óbito após o nascimento.

A gravidez na adolescência de algumas décadas, até os dias atuais, ainda é considerada por muitos profissionais e gestores da saúde e da educação, pelas famílias e organizações governa-mentais e não-governamentais como um fato de precocidade no ciclo de vida e, principalmente, de caráter indesejado10.

Este estudo tem como objetivo averiguar a mortalidade in-fantil em filhos de mães adolescentes.

METODOLOGIATrata-se de um estudo observacional longitudinal retrospectivo do tipo caso-controle. Nessa amostra, os casos serão as mães adolescentes com filhos falecidos com menos de um ano e o controle serão as mães adolescentes com filhos sobreviventes.

A avaliação consiste na medida de associação entre os fa-tores e o advento da mortalidade infantil (OR). Serão investi-gados fatores relacionados à adolescente grávida, tais como moradia, renda, escolaridade, núcleo familiar, tipo de parto e outros fatores passíveis de serem analisados como risco para a mortalidade de seus filhos.

Este estudo foi realizado no município de Osasco-SP, le-vantando-se os dados das mães adolescentes no período de 01/01/2006 a 31/12/2007, mediante coleta de dados, com entre-vista semiestruturada. A Odds-ratio, risco relativo aproximado, foi submetida a tratamento estatístico para análise de significân-cia (qui-quadrado) que mede a probabilidade de as diferenças encontradas nos dois grupos da amostra serem devidas ao aca-so, partindo do pressuposto que, na verdade, não há diferenças entre os dois grupos na população donde provêm. O nível de significância adotado foi de 5%.

RESULTADOSFaixa etáriaComo fator de risco a faixa etária das adolescentes grávidas, fo-ram separadas em duas amostras, aquelas haviam completado no máximo 16 anos e outro grupo com adolescentes com mais de 16 anos, correlacionando com os casos, os quais seriam as que tivessem perdidos seus filhos antes deles terem completado um ano e os controles, aquelas mães adolescentes que os filhos estão vivos ou ultrapassaram um ano de idade (tabela1).

Calculando a OR (Odds-ratio), tem-se o valor de 1,9. O teste de hipótese do x² (qui quadrado) revela não haver significância para um a de 5 % .

Não verificou-se associação estatisticamente significativa entre a faixa etária e mortalidade infantil para filhos de mães adolescentes.

CorNo fator raça/cor, a pesquisa foi divida em dois grupos, aquelas de cor branca e as não brancas, sendo que essa última inclui as

Tabela 1. Adolescentes grávidas por faixa etária. Osasco, 2006 a 2007.

≤16 anos

>16 anos

Total

Casos40

33

73

Controles29

38

67

Total69

71

140

Tabela 2. Adolescentes grávidas por raça/cor. Osasco, 2006 a 2007.

Brancas

Não brancas

Total

Casos41

34

75

Controles39

26

65

Total79

61

140

Gravidez.indd 270 29.10.09 11:01:49

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Saúde Coletiva 2009;06 (35):269-274 271

gravidez na adolescência

de raça negra, parda, amarela e outras (tabela 2). Calculando a OR (Odds-ratio), tem-se o valor de 0,9. O teste

de hipótese do x ² (qui quadrado) não revela significância para um a de 5 %. Daí, cor/raça ser fator de risco neste grupo.

Núcleo familiarAs adolescentes foram dividadas em casadas e as não casadas, nesse último grupo, fazendo parte as que moravam com os fami-liares ou amigos, sem relacionamento fixo (tabela 3).

Calculando-se a OR, tem-se o valor 3,0. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%. Assim, a ausência de um companheiro fixo é um fator de risco para o advento do óbito da criança antes de completar um ano.

TrabalhoA relação das adolescentes que trabalham e não trabalham está disposta na tabela 4.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 1,5. O teste de hipótese x² revela não haver significância para um a=5%.

Renda familiarRelacionando as adolescentes com renda familiar abaixo de dois salários com aquelas com dois ou mais salários, observa-se na tabela 5.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,7. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%. Potanto, nessa amostra e nesse estudo, a renda familiar é fator de risco para os óbitos infantis em flihos de mães adolescentes.

EscolaridadeAs adolescentes foram divididas em dois grupos: as que estuda-ram até o fundamental; e as que estudaram além deste nível.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,4. O teste de hipótese x ² revela significância para um a=5%. Assim, a escolaridade é fator de risco importante.

Tipo de gestaçãoRelacionando as adolescentes que tiveram gestação única com aque-las que tiveram gestação dupla (gemelar), observa-se na tabela 7.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 0,7. O teste de hipótese

x ² revela não haver significância para um a=5%, não havendo, portanto, evidência de associação entre este fator.

Tipo de partoRelacionando as adolescentes que tiveram parto normal e aque-las que tiveram parto cesárea, observa-se na tabela 8.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,3. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%. O parto cesáreo mos-trou-se um fator de risco para os óbitos das crianças.

Consultas no pré-natalFoi considerado como fator de risco, para análise, o fato de a adolescente ter realizado no máximo três consultas em seu pré-natal.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 3,5. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%, considerando-se, portan-to, que o fato de ter tido poucas consultas no pré-natal, ou até mesmo nenhuma, é um fator de risco, para a morte das crianças filhas de mães adolescentes.

Duração gestacionalA tabela 10 apresenta a comparação entre as idades gestacionais.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,6. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%, revelando que pré-termo é um fator de risco para o agravo em estudo.

Relação socioambientalNesse quesito, foram avaliadas as condições de moradia das adolescentes, como o fato de possuir rede de esgoto, água e energia, além das características da habitação, como o número de cômodos, número de moradores da residência.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 1,8. O teste de hipótese x² não revela significância para um a=5%, não ocorrendo, por-tanto, associações enter o fator estudado e o agravo.

Gestação anteriorFoi estudado como possível fator de risco a presença de primiges-tação.

Nesse caso, o fato de a adolescente ter tido filhos e que estes tivessem nascido bem e estivessem vivos, ou tivessem morrido

Tabela 3. Adolescentes grávidas por núcleo familiar. Osasco, 2006 a 2007.

Tabela 5. Adolescentes grávidas e renda familiar. Osasco, 2006 a 2007.

Tabela 4. Adolescentes grávidas com relação ao fator trabalho. Osasco, 2006 a 2007.

Tabela 6. Escolaridade das adolescentes grávidas. Osasco, 2006 a 2007.

Casadas

Não Casadas

Total

‹ 2 salários

≥ 2 salários

Total

Sim

Não

Total

≤ fundamental

> fundamental

Total

Casos45

25

70

Casos48

24

72

Casos35

44

79

Casos44

28

72

Controles24

46

70

Controles26

42

68

Controles28

33

61

Controles26

42

68

Total69

71

140

Total74

66

140

Total63

77

140

Total70

70

140

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Veludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes

gravidez na adolescênciaVeludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes

após um ano de idade, foi considerado fator protetor. Calculando-se a OR, temos o valor 1,1. O teste de hipótese

x² revela não significância para um a=5%, não podendo falar-se em associação entre o fator e o agravo.

Determinantes de risco presenteA tabela 13 apresenta dados referentes à presença de patologias das mães. Consideram-se como determinantes de risco: hiper-tensão, diabetes, doença tireoidiana, tabagismo, etilismo, dro-gadição, hemorragias vaginais, e outros.

Do total da amostra, 64 (43%) apresentam alguma dessas patologias, sendo que 27 (42%) delas apresentam hipertensão arterial e 19 (29%), diabetes mellitus.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,4. O teste de hipótese x ² revela significância para um a=5%. Assim conclui-se que a presença de patologias é fator de risco para os óbitos dos flihos de mães adolescentes.

Sorologias positivas presentesA tabela 14 revela o comportamento da amostra quanto às sorolo-gias mais habituais: sífilis, toxoplasmose, hepatite, rubéola e HIV.

Das 140 mães adolescentes estudadas, 61 (32%) apre-sentava alguma sorologia positiva: 22(33%) para HIV, 30 (49%) para hepatite (seja essa B e/ou C), 19 (31%) para sífi-lis, 6 (0,9%) para toxoplasmose , seis (0,9%) para rubéola e outros 44 (72% ) possuem associação de duas ou mais sorologias.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,2. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%, revelando que a presen-ça de patologias diangosticadas por sorologia é fator de risco para o advento do agravo.

Peso ao nascerA tabela 15 apresenta a distribuição das crianças quanto ao peso ao nascer.

Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,2. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%, mostrando que o baixo peso ao nascer é um fator de risco para o advento do agravo.

DISCUSSÃOMuito se tem discutido na relação entre a faixa etária das ado-lescentes grávidas e o risco de mortalidade de seus filhos. O presente estudo revelou que das 49% das adolescentes, que apresentavam idade inferior ou igual há 16 anos, não houve as-sociação estatisticamente significativa entre a faixa etária e mor-talidade infantil de seus filhos.

Neste estudo, com relação à raça/cor, a predominância foi da raça não branca (negra, parda) com 79 (56%) adolescentes e 61 (42%) adolescentes da branca. Esse quesito se mostrou sem significância, revelando, portanto não ser um fator de risco do advento do agravo estudado.

Em relação ao estado civil/conjugal, a ausência de um com-panheiro fixo é um fator de risco para o advento do óbito da criança antes de completar um ano. Nessa pesquisa 69 (63%) das adolescentes vivem com familiares ou de favor com amigos e 31% são casadas, com parceiro fixo.

A relação direta entre a instabilidade da relação e a idade, de forma que quanto mais jovem a garota, mais instável e suscetível ao risco de intercorrência em sua vida gestacional, não só com a criança, mas também com a mãe11.

Das adolescentes grávidas, 45% referiram exercer alguma atividade/profissão remunerada. Sobre a renda familiar, mais da metade (53%) referiu uma renda mensal familiar inferior a dois

Tabela 7. Adolescentes grávidas e tipo de gestação. Osasco, 2006 a 2007.

Única

Dupla (Gemelar)

Total

Casos59

21

80

Controles44

16

60

Total103

37

140

Tabela 9. Adolescentes grávidas e número de consultas realizadas em seu pré-natal. Osasco, 2006 a 2007.

≤ 3 consultas

> 3 consultas

Total

Casos47

33

80

Controles21

39

60

Total68

72

140

Tabela 10. Adolescentes grávidas e idade gestacional. Osasco, 2006 a 2007.

‹ 37 semanas

≥ 37 semanas

Total

Casos42

28

70

Controles23

47

70

Total65

75

140

Tabela 12. Adolescentes grávidas com a gestação anterior na cidade de Osasco entre os anos de 2006 a 2007.

Não

Sim

Total

Casos48

24

72

Controles45

23

68

Total93

47

140

Tabela 8. Adolescentes grávidas e gestação. Osasco entre os anos de 2006 a 2007.

Cesária

Normal

Total

Casos44

41

85

Controles19

36

55

Total63

67

140

Tabela 11. Adolescentes grávidas e condições sócio-ambientais. Osasco, 2006 a 2007.

Condições desfavoráveis

Condições favoráveis

Total

Casos38

23

61

Controles36

43

79

Total74

66

140

Gravidez.indd 272 29.10.09 11:01:49

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Veludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes

Saúde Coletiva 2009;06 (35):269-274 273

gravidez na adolescência

salários mínimos, o que mostra tratar-se de um grupo com baixo poder aquisitivo.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo considera a gravidez na adolescência como a porta de entrada para o ciclo da pobreza ou manutenção da mesma12.

Quanto à escolaridade, foi enquadrada pelos resultados da pes-quisa como um relevante risco para óbitos infantis das mães ado-lescentes, sendo que neste estudo, 53% das adolescentes tinham o nível fundamental ou abaixo deste.

Uma pesquisa realizada em Guarulhos no ano de 2003 mostra que 63% das adolescentes grávidas tinham menos de seis anos de estudo, dessas adolescentes, 6,5% (14) eram analfabetas13.

Com relação aos dados sobre gemelaridade, apenas 27% das gestantes tinham gestação dupla. Esse fator não se mostrou como fator de risco para a mortalidade infantil nos filhos das mães adolescentes.

Com relação ao tipo de parto, este se revelou ser um fator de risco. Verificou-se que 41% das adolescentes com parto cesárea no município de Osasco no período estudado. Diversos são os fatores que podem explicar esse questão, primeiro porque, normalmen-te, esse tipo de parto é indicado quando existe complicações, os números podem sugerir que essas adolescentes, já tinham alguma complicação prévia, ou, nas proximidades de seu parto, colaboran-do assim para possíveis complicações nessa criança que nasceu.

Estudos apontam fatores que poderiam justificar as taxas ele-vadas de cesárea como um expressivo número de intercorrên-cias obstétricas, como o parto pré-termo, a síndrome hipertensi-va e a desproporção feto-pélvica14.

Outro estudo observou maior incidência de trabalho de par-to prematuro ou falso entre as adolescentes, ao passo que a in-cidência das demais doenças foi ou maior entre as adultas ou

igual entre os grupos, uma das explicações talvez seja o fato de que as adolescentes solteiras e com baixo nível educacional e sócio econômico são grupo de risco para parto pré-termo15.

No presente estudo, 48% das adolescentes informaram no máximo três consultas de pré-natal, sendo isso um fator de risco para a morte das crianças.

Em relação à duração da gestação 46% tiveram seus filhos antes da 37ª semana, aspecto considerado fator de risco para óbito dos filhos dessas mães.

Com relação a esse resultado, parece algo bem elucidado que o recém-nascido de pré-termo, na maioria dos casos, não possuem uma maturação desejável para seus órgãos vitais, sen-do um fato bem relevante em sua sobrevivência. Há ainda o fato de que grande parte desses prematuros têm que ficar hospitali-zados em unidade de terapia intensiva, aumentando ainda mais o seu risco de óbito, por várias intercorrências dessa internação, como, por exemplo, as infecções.

Uma pesquisa mostrou a importância da gestação a termo e os riscos possíveis dos partos prematuros: má formação, matura-ção incompleta de órgãos, como os pulmões e, ainda, os riscos de infecção pela imaturidade imunológica16.

A condição socioambiental inadequada não se revelou como fator de risco. Condição socioambiental era composta dos seguin-tes fatores: as condições de moradia das adolescentes, rede de es-goto, água e energia, além das características da habitação, como o número de cômodos, número de moradores da residência.

O fato de 33% das adolescentes terem gestações anteriores, não se mostrou como fator de risco para a mortalidade das crianças.

A taxa de fecundidade entre mulheres de 15 a 19 anos no Brasil aumentou. O fato de muitas adolescentes apresentarem um “pensamento mágico” (fantasioso, abstrato), inerente ao desenvol-vimento psicológico desta fase, achando que não irão engravidar com facilidade, leva à primeira, a segunda e outras gestações17.

Outro aspecto de grande relevância é a falta de uma assistên-cia à saúde de forma integral e de qualidade, que não capta esta adolescente, e, muito menos, disponibiliza métodos contracepti-vos e informações. Assim, consequentemente, ocorre uma nova gravidez em curto prazo de tempo, após a primeira, em gran-de parte das adolescentes. Quando ocorrem orientações sobre sexua lidade, a recidiva de gravidez reduz em torno de 5%18.

Determinantes como hipertensão e diabetes, estudados nesta pesquisa, são fatores de risco para os óbitos dos flihos das mães adolescentes desse município e nesse período do estudo. Da mesma forma, sorologias positivas se revelou fator de risco para a morte das crianças.

Entre as adolescentes, 61 apresentaram sorologia positiva, dessas: 22(%) com sorologia positiva para HIV, 30 (49%) para hepatite (seja essa B e/ou C), 19 (31%) com sífilis, seis (0,9%) com toxoplasmose, seis (0,9%) com rubéola e outros 44 (72% ), que são aquelas adoles-centes que possuem associação de duas ou mais sorologias positivas.

Com relação ao peso ao nascer 43% dos RN apresentava peso menor que 2.500g. demostrando ser um importante fator de risco.

CONCLUSÃOO presente estudo pesquisou mães adolescentes com filhos falecidos com menos de um ano e os controles as mães adolescentes com filhos sobreviventes. Observou-se 140 adolescentes grávidas do mu-nicípio de Osasco-SP no período de 01/01/2006 a 31/12/2007, com relação aos possíveis fatores de risco que influenciaram no óbito de seus filhos antes de completar um ano, após seu nascimento.

Tabela 13. Adolescentes grávidas e presença de riscos. Osasco, 2006 a 2007.

Sim

Não

Total

Casos48

35

81

Controles16

41

57

Total64

76

140

Tabela 15. Peso ao nascer dos filhos das mães adolescentes. Osasco, 2006 a 2007.

< 2500g

≥ 2500g

Total

Casos44

42

86

Controles18

36

54

Total62

78

140

Tabela 14. Adolescentes grávidas e sorologia positiva. Osasco, 2006 a 2007.

Sim

Não

Total

Casos46

38

84

Controles15

41

56

Total61

79

140

Gravidez.indd 273 29.10.09 11:01:49

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Veludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes

gravidez na adolescência

Normas para publicaçãoA revista Saúde Coletiva tem por objetivo ser um veículo de divulgação de assuntos de Saúde Coletiva e áreas afins, buscando expansão do conhecimento. Assim, recebe artigos de pes-quisa, dialogados (debates), de atualização, de relatos de experiência, de revisão, de reflexão, de estudos de caso e ensaios em Saúde Coletiva. Abaixo as normas para publicação:

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e-mail e, no rodapé, a função que exerce(m), a instituição a que pertence(m), títulos e formação profissional. 08 Não será per mi ti da a inclu são no texto de nomes comer ciais de quais-quer pro du tos. Quando neces sá rio, citar ape nas a deno mi na ção quí mi ca ou a desig na ção cien tí fi ca.09 O Conselho Científico pode efe tuar even tuais cor re ções que jul gar neces sá rias, sem, no entan to, alte rar o con teú do do arti go.10 O ori gi nal do arti go não acei to para publi ca ção será devol vi do ao autor indi ca do, acom pa nha do de jus ti fi ca ti va do Conselho Científico.11 O con teú do dos arti gos é de exclu si va res pon sa bi li da de do(s) autor(es). Os tra ba lhos publi ca dos terão seus direi tos auto rais res guar da-dos por Editorial Bolina Brasil e só pode rão ser repro du zi dos com auto ri-za ção desta.12 Os tra ba lhos deve rão pre ser var a con fi den cia li da de, res pei tar os prin-cí pios éti cos e tra zer a acei ta ção do Comitê de Ética em Pesquisa (Res-olução CNS – 196/96) quando for pesquisa.13 Os tra ba lhos, bem como qual quer cor res pon dên cia, deve rão ser envia-dos para a revista: Saúde Coletiva – A/C CON SE LHO CIENTÍFICO, Al. Pucuruí, 51/59 - Bl.B - 1º andar - Cj.1030 - Tamboré - Barueri - SP - CEP: 06460-100 - E-mail: [email protected].

saúdecoletiva

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Referências

A medida de associação, a “odds-ratio”, revelou tratar-se de fator de risco com significância estatística as seguintes condi-ções: núcleo familiar, renda familiar, escolaridade, tipo de par-to, número de consultas no pré-natal, duração gestacional, de-terminantes de risco presentes ( hipertensão, diabetes e outros), sorologias positivas presentes (HIV, hepatite, toxoplasmose, sífi-lis, rubéola e outros) e peso ao nascer.

Esses resultados apontam para a necessidade de intervenções de caráter intersetorial, no campo de promoção da saúde, bem como intervenções mais eficazes no campo de vigilância em saúde, visando à diminuição do efeito deletério desses riscos, aumentando a assistência as adolescentes grávidas. Essas medi-das podem contribuir para a redução da mortalidade infantil no município de Osasco.

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