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Saúde Coletiva
ISSN: 1806-3365
Editorial Bolina
Brasil
Gomes Veludo, Antônio Sérgio; Bedin, Nelson
Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes
Saúde Coletiva, vol. 6, núm. 35, 2009, pp. 269-274
Editorial Bolina
São Paulo, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212201004
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Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
Veludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes
Saúde Coletiva 2009;06 (35):269-274 269
gravidez na adolescência
Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentesPesquisa realizada através de um estudo observacional longitudinal retrospectivo, tipo caso controle, no município de Osas-co. Teve como objetivo averiguar a mortalidade infantil em filhos de mães adolescentes. Como fatores de risco, constataram-se como relevantes na mortalidade infantil: baixa escolaridade, tipo de parto, a não realização correta de pré-natal, núcleo familiar, baixa renda. Essa pesquisa pode servir para a reestruturação do sistema de saúde em Osasco, SP. Descritores: Adolescentes grávidas, Mortalidade infantil, Fatores de risco.
This research was done by a retrospective longitudinal observational study, control case type, in the town of Osasco, Sp, Brazil. Its objective was to investigate the children’s mortality among the son of adolescent mothers. The main risk factors were: low schooling degree, type of birth, incorrect procedure of prenatal, family nucleus, low income. This research can res-tructure Osasco’s health system, Brazil. Descriptors: Pregnant adolescents, Infantile mortality, risk factors.
Esta investigación es un estudio retrospectivo observacional longitudinal, del tipo caso control, hecho en la ciudad de Osas-co, SP, Brasil. Tuve como objetivo investigar la mortalidad infantil en los niños de madres adolescentes. Como factores de riesgo, si evidencio en la mortalidad infantil: baja escolaridad, tipo de parto, no realización correcta del prenatal, núcleo fami-liar, de bajo ingreso. Esta investigación puede servir para la reorganización del sistema de la salud en Osasco, SP, Brasil.Descriptores: Adolescentes embarazadas, Mortalidad infantil, Factores de riesgo.
Antônio Sérgio Gomes Veludo: Acadêmico de Medicina da Universidade Nove de Julho.
Nelson Bedin: Médico Sanitarista. Especialista em Medicina Preventiva. Mestre e Doutor em Saúde Pública. Docente da Universidade Nove de Julho e da Clínica Pele Saudável. - [email protected]
Recebido: 12/11/2008 Aprovado: 20/09/2009
INTRODUÇÃO
Adolescente é todo indivíduo entre a faixa etária de 10 a 19 anos de idade1. Conforme dados do DATASUS2, a população
de adolescentes no Brasil no ano de 2008 é de 39.356.374 o que corresponde aproximadamente 20,7% da população bra-sileira.
Na cidade de Osasco em 2006, estima-se que aproximada-mente 18% da população são adolescentes, o que representa um total de 138.514 adolescentes em uma população total de 714.949. Adolescentes do sexo feminino correspondem a 69.591, ou seja, quase 10% da população total3.
As principais causas da gravidez na adolescência são: o des-conhecimento de métodos anticoncepcionais. A educação dada a adolescente faz com que ela não queira assumir que tem uma vida sexual ativa e por isso não usa métodos ou usa outros de baixa efi ciência (coito interrompido, tabelinha). O uso de drogas e bebidas alcoólicas compromete a contracepção, além das que
engravidam para se casar. A adolescente tem problemas emo-cionais devido a mudança rápida em seu corpo ou, como ela esconde a gravidez, o atendimento pré-natal não è adequado. Podem ocorrer problemas como aborto ou difi culdade na ama-mentação4.
Como fatores que podem favorecer a ocorrência de uma gravidez indesejada, tem-se: ausência de educação sexual nas escolas e de programas de planejamento familiar nos serviços públicos de saúde5.
Os Indicadores Sociais do IBGE destaca que quanto menor a escolaridade e a renda das adolescentes, maior é a taxa de fecun-didade. O número de adolescentes negras e pardas grávidas ou com fi lhos também é maior que a proporção de mães brancas3.
A pesquisa do IBGE mostrou ainda, que as famílias de baixa renda com até meio salário mínimo per capita, têm mais fi lhos. Na média brasileira, 49% destas pessoas, que vivem abaixo da linha de pobreza, têm três fi lhos ou mais. Entre as famílias com renda per capita de dois salários mínimos ou mais, apenas 21,6% têm três fi lhos3.
As mulheres que estudaram por apenas três anos ou menos tiveram, em 2004, o dobro de fi lhos que aquelas que estudaram por oito anos ou mais. Segundo o IBGE3, a distância que separa as mulheres menos instruídas do Norte e Nordeste das mais ins-truídas do Sul e Sudeste era de três fi lhos.
Com relação ao número de nascidos vivos no município de Osasco, no ano de 2004, de acordo com os dados da SINASC, 11.546 foram registrados no total, sendo que 15,5% eram de mães na faixa etária entre 10 e 19 anos e 0,4% mães de 10 a 14 anos2.
A falta de apoio despreparo ou abandono por parte do parcei-ro, causa a interrupção do processo normal do desenvolvimento psicoafetivo-social. Na maioria dos casos a gestante adolescente
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gravidez na adolescênciaVeludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes
não tem nem vínculo com o parceiro, nem apoio da família.Sabroza6 em estudo mostrou a situação conjugal das mães
adolescentes. A maioria estava amasiada, seguido das solteiras com namorado, solteiras sem namorado e por último, observou que as casadas eram em menor proporção.
Existem também além dos sintomas psíquicos, riscos diversos para saúde da gestante adolescente e da criança. Existem relatos de que complicações obstétricas ocorrem em maior proporção nas adolescentes, principalmente nas de faixa etária mais baixa, desde anemia, a qual deixa a gestante mais vulnerável a toxemias (pré-eclâmpsia e eclampsia) e outros como ganho de peso insufi-ciente, hipertensão arterial, infecção urinária, DST, desproporção céfalo-pélvica, até complicações puerperais. Porém, desde que
haja adequado acompanhamento pré-natal, não há maior risco de complicações obstétricas quando se compara às mulheres adultas e adolescentes de mesmo nível socioeconômico7.
Num estudo verificou-se ser esta a sexta causa de morte na adolescência, além das complicações da gravidez, parto e puerpério8. Com relação ao parto, esse processo pode ser prejudicado devido a problemas anatômicos, como tamanho da pelve com relação ao tamanho do feto o que dificulta a decida do feto, a elasticidade dos músculos uterinos e toda cascata hormonal necessária para as contrações e relaxamen-to do órgão genital8.
Com relação à criança, Dadoorian9 mostrou em estudo a alta fre-quência de prematuridade, baixo peso ao nascer, apgar baixo, doen-ças respiratórias e trauma obstétrico devido a uso principalmente de fórceps. O sofrimento fetal pode estar presente, como: dimnuição no pulso, eliminação de mecônio no fluido aminiótico, entre outros sinais que podem levar a criança a óbito após o nascimento.
A gravidez na adolescência de algumas décadas, até os dias atuais, ainda é considerada por muitos profissionais e gestores da saúde e da educação, pelas famílias e organizações governa-mentais e não-governamentais como um fato de precocidade no ciclo de vida e, principalmente, de caráter indesejado10.
Este estudo tem como objetivo averiguar a mortalidade in-fantil em filhos de mães adolescentes.
METODOLOGIATrata-se de um estudo observacional longitudinal retrospectivo do tipo caso-controle. Nessa amostra, os casos serão as mães adolescentes com filhos falecidos com menos de um ano e o controle serão as mães adolescentes com filhos sobreviventes.
A avaliação consiste na medida de associação entre os fa-tores e o advento da mortalidade infantil (OR). Serão investi-gados fatores relacionados à adolescente grávida, tais como moradia, renda, escolaridade, núcleo familiar, tipo de parto e outros fatores passíveis de serem analisados como risco para a mortalidade de seus filhos.
Este estudo foi realizado no município de Osasco-SP, le-vantando-se os dados das mães adolescentes no período de 01/01/2006 a 31/12/2007, mediante coleta de dados, com entre-vista semiestruturada. A Odds-ratio, risco relativo aproximado, foi submetida a tratamento estatístico para análise de significân-cia (qui-quadrado) que mede a probabilidade de as diferenças encontradas nos dois grupos da amostra serem devidas ao aca-so, partindo do pressuposto que, na verdade, não há diferenças entre os dois grupos na população donde provêm. O nível de significância adotado foi de 5%.
RESULTADOSFaixa etáriaComo fator de risco a faixa etária das adolescentes grávidas, fo-ram separadas em duas amostras, aquelas haviam completado no máximo 16 anos e outro grupo com adolescentes com mais de 16 anos, correlacionando com os casos, os quais seriam as que tivessem perdidos seus filhos antes deles terem completado um ano e os controles, aquelas mães adolescentes que os filhos estão vivos ou ultrapassaram um ano de idade (tabela1).
Calculando a OR (Odds-ratio), tem-se o valor de 1,9. O teste de hipótese do x² (qui quadrado) revela não haver significância para um a de 5 % .
Não verificou-se associação estatisticamente significativa entre a faixa etária e mortalidade infantil para filhos de mães adolescentes.
CorNo fator raça/cor, a pesquisa foi divida em dois grupos, aquelas de cor branca e as não brancas, sendo que essa última inclui as
Tabela 1. Adolescentes grávidas por faixa etária. Osasco, 2006 a 2007.
≤16 anos
>16 anos
Total
Casos40
33
73
Controles29
38
67
Total69
71
140
Tabela 2. Adolescentes grávidas por raça/cor. Osasco, 2006 a 2007.
Brancas
Não brancas
Total
Casos41
34
75
Controles39
26
65
Total79
61
140
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de raça negra, parda, amarela e outras (tabela 2). Calculando a OR (Odds-ratio), tem-se o valor de 0,9. O teste
de hipótese do x ² (qui quadrado) não revela significância para um a de 5 %. Daí, cor/raça ser fator de risco neste grupo.
Núcleo familiarAs adolescentes foram dividadas em casadas e as não casadas, nesse último grupo, fazendo parte as que moravam com os fami-liares ou amigos, sem relacionamento fixo (tabela 3).
Calculando-se a OR, tem-se o valor 3,0. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%. Assim, a ausência de um companheiro fixo é um fator de risco para o advento do óbito da criança antes de completar um ano.
TrabalhoA relação das adolescentes que trabalham e não trabalham está disposta na tabela 4.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 1,5. O teste de hipótese x² revela não haver significância para um a=5%.
Renda familiarRelacionando as adolescentes com renda familiar abaixo de dois salários com aquelas com dois ou mais salários, observa-se na tabela 5.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,7. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%. Potanto, nessa amostra e nesse estudo, a renda familiar é fator de risco para os óbitos infantis em flihos de mães adolescentes.
EscolaridadeAs adolescentes foram divididas em dois grupos: as que estuda-ram até o fundamental; e as que estudaram além deste nível.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,4. O teste de hipótese x ² revela significância para um a=5%. Assim, a escolaridade é fator de risco importante.
Tipo de gestaçãoRelacionando as adolescentes que tiveram gestação única com aque-las que tiveram gestação dupla (gemelar), observa-se na tabela 7.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 0,7. O teste de hipótese
x ² revela não haver significância para um a=5%, não havendo, portanto, evidência de associação entre este fator.
Tipo de partoRelacionando as adolescentes que tiveram parto normal e aque-las que tiveram parto cesárea, observa-se na tabela 8.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,3. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%. O parto cesáreo mos-trou-se um fator de risco para os óbitos das crianças.
Consultas no pré-natalFoi considerado como fator de risco, para análise, o fato de a adolescente ter realizado no máximo três consultas em seu pré-natal.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 3,5. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%, considerando-se, portan-to, que o fato de ter tido poucas consultas no pré-natal, ou até mesmo nenhuma, é um fator de risco, para a morte das crianças filhas de mães adolescentes.
Duração gestacionalA tabela 10 apresenta a comparação entre as idades gestacionais.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,6. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%, revelando que pré-termo é um fator de risco para o agravo em estudo.
Relação socioambientalNesse quesito, foram avaliadas as condições de moradia das adolescentes, como o fato de possuir rede de esgoto, água e energia, além das características da habitação, como o número de cômodos, número de moradores da residência.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 1,8. O teste de hipótese x² não revela significância para um a=5%, não ocorrendo, por-tanto, associações enter o fator estudado e o agravo.
Gestação anteriorFoi estudado como possível fator de risco a presença de primiges-tação.
Nesse caso, o fato de a adolescente ter tido filhos e que estes tivessem nascido bem e estivessem vivos, ou tivessem morrido
Tabela 3. Adolescentes grávidas por núcleo familiar. Osasco, 2006 a 2007.
Tabela 5. Adolescentes grávidas e renda familiar. Osasco, 2006 a 2007.
Tabela 4. Adolescentes grávidas com relação ao fator trabalho. Osasco, 2006 a 2007.
Tabela 6. Escolaridade das adolescentes grávidas. Osasco, 2006 a 2007.
Casadas
Não Casadas
Total
‹ 2 salários
≥ 2 salários
Total
Sim
Não
Total
≤ fundamental
> fundamental
Total
Casos45
25
70
Casos48
24
72
Casos35
44
79
Casos44
28
72
Controles24
46
70
Controles26
42
68
Controles28
33
61
Controles26
42
68
Total69
71
140
Total74
66
140
Total63
77
140
Total70
70
140
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gravidez na adolescênciaVeludo ASG, Bedin N. Análise de fatores de risco para óbito infantil em mães adolescentes
após um ano de idade, foi considerado fator protetor. Calculando-se a OR, temos o valor 1,1. O teste de hipótese
x² revela não significância para um a=5%, não podendo falar-se em associação entre o fator e o agravo.
Determinantes de risco presenteA tabela 13 apresenta dados referentes à presença de patologias das mães. Consideram-se como determinantes de risco: hiper-tensão, diabetes, doença tireoidiana, tabagismo, etilismo, dro-gadição, hemorragias vaginais, e outros.
Do total da amostra, 64 (43%) apresentam alguma dessas patologias, sendo que 27 (42%) delas apresentam hipertensão arterial e 19 (29%), diabetes mellitus.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,4. O teste de hipótese x ² revela significância para um a=5%. Assim conclui-se que a presença de patologias é fator de risco para os óbitos dos flihos de mães adolescentes.
Sorologias positivas presentesA tabela 14 revela o comportamento da amostra quanto às sorolo-gias mais habituais: sífilis, toxoplasmose, hepatite, rubéola e HIV.
Das 140 mães adolescentes estudadas, 61 (32%) apre-sentava alguma sorologia positiva: 22(33%) para HIV, 30 (49%) para hepatite (seja essa B e/ou C), 19 (31%) para sífi-lis, 6 (0,9%) para toxoplasmose , seis (0,9%) para rubéola e outros 44 (72% ) possuem associação de duas ou mais sorologias.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,2. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%, revelando que a presen-ça de patologias diangosticadas por sorologia é fator de risco para o advento do agravo.
Peso ao nascerA tabela 15 apresenta a distribuição das crianças quanto ao peso ao nascer.
Calculando-se a OR, tem-se o valor 2,2. O teste de hipótese x² revela significância para um a=5%, mostrando que o baixo peso ao nascer é um fator de risco para o advento do agravo.
DISCUSSÃOMuito se tem discutido na relação entre a faixa etária das ado-lescentes grávidas e o risco de mortalidade de seus filhos. O presente estudo revelou que das 49% das adolescentes, que apresentavam idade inferior ou igual há 16 anos, não houve as-sociação estatisticamente significativa entre a faixa etária e mor-talidade infantil de seus filhos.
Neste estudo, com relação à raça/cor, a predominância foi da raça não branca (negra, parda) com 79 (56%) adolescentes e 61 (42%) adolescentes da branca. Esse quesito se mostrou sem significância, revelando, portanto não ser um fator de risco do advento do agravo estudado.
Em relação ao estado civil/conjugal, a ausência de um com-panheiro fixo é um fator de risco para o advento do óbito da criança antes de completar um ano. Nessa pesquisa 69 (63%) das adolescentes vivem com familiares ou de favor com amigos e 31% são casadas, com parceiro fixo.
A relação direta entre a instabilidade da relação e a idade, de forma que quanto mais jovem a garota, mais instável e suscetível ao risco de intercorrência em sua vida gestacional, não só com a criança, mas também com a mãe11.
Das adolescentes grávidas, 45% referiram exercer alguma atividade/profissão remunerada. Sobre a renda familiar, mais da metade (53%) referiu uma renda mensal familiar inferior a dois
Tabela 7. Adolescentes grávidas e tipo de gestação. Osasco, 2006 a 2007.
Única
Dupla (Gemelar)
Total
Casos59
21
80
Controles44
16
60
Total103
37
140
Tabela 9. Adolescentes grávidas e número de consultas realizadas em seu pré-natal. Osasco, 2006 a 2007.
≤ 3 consultas
> 3 consultas
Total
Casos47
33
80
Controles21
39
60
Total68
72
140
Tabela 10. Adolescentes grávidas e idade gestacional. Osasco, 2006 a 2007.
‹ 37 semanas
≥ 37 semanas
Total
Casos42
28
70
Controles23
47
70
Total65
75
140
Tabela 12. Adolescentes grávidas com a gestação anterior na cidade de Osasco entre os anos de 2006 a 2007.
Não
Sim
Total
Casos48
24
72
Controles45
23
68
Total93
47
140
Tabela 8. Adolescentes grávidas e gestação. Osasco entre os anos de 2006 a 2007.
Cesária
Normal
Total
Casos44
41
85
Controles19
36
55
Total63
67
140
Tabela 11. Adolescentes grávidas e condições sócio-ambientais. Osasco, 2006 a 2007.
Condições desfavoráveis
Condições favoráveis
Total
Casos38
23
61
Controles36
43
79
Total74
66
140
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salários mínimos, o que mostra tratar-se de um grupo com baixo poder aquisitivo.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo considera a gravidez na adolescência como a porta de entrada para o ciclo da pobreza ou manutenção da mesma12.
Quanto à escolaridade, foi enquadrada pelos resultados da pes-quisa como um relevante risco para óbitos infantis das mães ado-lescentes, sendo que neste estudo, 53% das adolescentes tinham o nível fundamental ou abaixo deste.
Uma pesquisa realizada em Guarulhos no ano de 2003 mostra que 63% das adolescentes grávidas tinham menos de seis anos de estudo, dessas adolescentes, 6,5% (14) eram analfabetas13.
Com relação aos dados sobre gemelaridade, apenas 27% das gestantes tinham gestação dupla. Esse fator não se mostrou como fator de risco para a mortalidade infantil nos filhos das mães adolescentes.
Com relação ao tipo de parto, este se revelou ser um fator de risco. Verificou-se que 41% das adolescentes com parto cesárea no município de Osasco no período estudado. Diversos são os fatores que podem explicar esse questão, primeiro porque, normalmen-te, esse tipo de parto é indicado quando existe complicações, os números podem sugerir que essas adolescentes, já tinham alguma complicação prévia, ou, nas proximidades de seu parto, colaboran-do assim para possíveis complicações nessa criança que nasceu.
Estudos apontam fatores que poderiam justificar as taxas ele-vadas de cesárea como um expressivo número de intercorrên-cias obstétricas, como o parto pré-termo, a síndrome hipertensi-va e a desproporção feto-pélvica14.
Outro estudo observou maior incidência de trabalho de par-to prematuro ou falso entre as adolescentes, ao passo que a in-cidência das demais doenças foi ou maior entre as adultas ou
igual entre os grupos, uma das explicações talvez seja o fato de que as adolescentes solteiras e com baixo nível educacional e sócio econômico são grupo de risco para parto pré-termo15.
No presente estudo, 48% das adolescentes informaram no máximo três consultas de pré-natal, sendo isso um fator de risco para a morte das crianças.
Em relação à duração da gestação 46% tiveram seus filhos antes da 37ª semana, aspecto considerado fator de risco para óbito dos filhos dessas mães.
Com relação a esse resultado, parece algo bem elucidado que o recém-nascido de pré-termo, na maioria dos casos, não possuem uma maturação desejável para seus órgãos vitais, sen-do um fato bem relevante em sua sobrevivência. Há ainda o fato de que grande parte desses prematuros têm que ficar hospitali-zados em unidade de terapia intensiva, aumentando ainda mais o seu risco de óbito, por várias intercorrências dessa internação, como, por exemplo, as infecções.
Uma pesquisa mostrou a importância da gestação a termo e os riscos possíveis dos partos prematuros: má formação, matura-ção incompleta de órgãos, como os pulmões e, ainda, os riscos de infecção pela imaturidade imunológica16.
A condição socioambiental inadequada não se revelou como fator de risco. Condição socioambiental era composta dos seguin-tes fatores: as condições de moradia das adolescentes, rede de es-goto, água e energia, além das características da habitação, como o número de cômodos, número de moradores da residência.
O fato de 33% das adolescentes terem gestações anteriores, não se mostrou como fator de risco para a mortalidade das crianças.
A taxa de fecundidade entre mulheres de 15 a 19 anos no Brasil aumentou. O fato de muitas adolescentes apresentarem um “pensamento mágico” (fantasioso, abstrato), inerente ao desenvol-vimento psicológico desta fase, achando que não irão engravidar com facilidade, leva à primeira, a segunda e outras gestações17.
Outro aspecto de grande relevância é a falta de uma assistên-cia à saúde de forma integral e de qualidade, que não capta esta adolescente, e, muito menos, disponibiliza métodos contracepti-vos e informações. Assim, consequentemente, ocorre uma nova gravidez em curto prazo de tempo, após a primeira, em gran-de parte das adolescentes. Quando ocorrem orientações sobre sexua lidade, a recidiva de gravidez reduz em torno de 5%18.
Determinantes como hipertensão e diabetes, estudados nesta pesquisa, são fatores de risco para os óbitos dos flihos das mães adolescentes desse município e nesse período do estudo. Da mesma forma, sorologias positivas se revelou fator de risco para a morte das crianças.
Entre as adolescentes, 61 apresentaram sorologia positiva, dessas: 22(%) com sorologia positiva para HIV, 30 (49%) para hepatite (seja essa B e/ou C), 19 (31%) com sífilis, seis (0,9%) com toxoplasmose, seis (0,9%) com rubéola e outros 44 (72% ), que são aquelas adoles-centes que possuem associação de duas ou mais sorologias positivas.
Com relação ao peso ao nascer 43% dos RN apresentava peso menor que 2.500g. demostrando ser um importante fator de risco.
CONCLUSÃOO presente estudo pesquisou mães adolescentes com filhos falecidos com menos de um ano e os controles as mães adolescentes com filhos sobreviventes. Observou-se 140 adolescentes grávidas do mu-nicípio de Osasco-SP no período de 01/01/2006 a 31/12/2007, com relação aos possíveis fatores de risco que influenciaram no óbito de seus filhos antes de completar um ano, após seu nascimento.
Tabela 13. Adolescentes grávidas e presença de riscos. Osasco, 2006 a 2007.
Sim
Não
Total
Casos48
35
81
Controles16
41
57
Total64
76
140
Tabela 15. Peso ao nascer dos filhos das mães adolescentes. Osasco, 2006 a 2007.
< 2500g
≥ 2500g
Total
Casos44
42
86
Controles18
36
54
Total62
78
140
Tabela 14. Adolescentes grávidas e sorologia positiva. Osasco, 2006 a 2007.
Sim
Não
Total
Casos46
38
84
Controles15
41
56
Total61
79
140
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Referências
A medida de associação, a “odds-ratio”, revelou tratar-se de fator de risco com significância estatística as seguintes condi-ções: núcleo familiar, renda familiar, escolaridade, tipo de par-to, número de consultas no pré-natal, duração gestacional, de-terminantes de risco presentes ( hipertensão, diabetes e outros), sorologias positivas presentes (HIV, hepatite, toxoplasmose, sífi-lis, rubéola e outros) e peso ao nascer.
Esses resultados apontam para a necessidade de intervenções de caráter intersetorial, no campo de promoção da saúde, bem como intervenções mais eficazes no campo de vigilância em saúde, visando à diminuição do efeito deletério desses riscos, aumentando a assistência as adolescentes grávidas. Essas medi-das podem contribuir para a redução da mortalidade infantil no município de Osasco.
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