alfabetizaÇÃo cientÍfica usando o tema dos quelÔnios amazÔnicos … · 2018. 5. 4. · do 7°...
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ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA USANDO O TEMA DOS QUELÔNIOS
AMAZÔNICOS
SCIENTIFIC LITERACY USING AMAZONIAN TURTLES THEME
Sabrina Barroso Menezes1
Augusto Fachín Terán2
Richard Carl Vogt3
Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar de que forma o conhecimento adquirido sobre os
quelônios amazônicos contribuiu para o processo de Alfabetização Cientifica em estudantes do 7° ano do
Ensino Fundamental II. A pesquisa do tipo qualitativa foi realizada no Bosque da Ciência do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia. Foram aplicados questionários em quatro turmas de escolas públicas
e privadas de Manaus. Os estudantes incorporaram conceitos científicos sobre a diversidade de espécies,
diferenças morfológicas e dimorfismo sexual. Partindo do pressuposto de que só ocorre mudança diante do
conhecimento, destacamos a influência do trabalho realizado não só na formação de estudantes
cientificamente alfabetizados, mas também na preparação de cidadãos preocupados com o meio ambiente.
Palavras-chave: Alfabetização Científica; Educação Não Formal; Quelônios amazônicos.
Abstract: The objective of this work was to analyze the how acquired understandings about Amazonian
turtles contribute to the process of Scientific Literacy in 7th grade students attending Elementary school.
This a qualitative research conducted at the Science Forest at National Institute of Amazonian Research.
For data gathering we applied questionnaires in four different classes of both private and public schools, in
Manaus. The students acquired scientific concepts about species diversity, morphological differences, and
sexual dimorphism. From the presumption that changes only occur from obtaining knowledge, we
emphasize the influence of this study made not only in the formation of science literate students, but also
in the preparation of citizens concerned with the environment.
Keywords: Scientific Literacy; Non-Formal Education; Amazonian turtles.
1 Introdução
A educação prepara o ser humano para o desenvolvimento de suas atividades no
percurso de sua existência. Nesse sentido, faz-se necessário uma educação, ao longo da
vida, a fim de dar suporte a vários aspectos, sejam eles, econômicos, sociais, científicos
e tecnológicos, impostos por um mundo globalizado (CASCAIS; FACHÍN-TERÁN,
2014).
1Bolsista do PIBIC/INPA/CNPq/FAPEAM. Centro de Estudos de Quelônios da Amazônia CEQUA/INPA.
Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: [email protected] 2Doutorado em Biologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Universidade do
Estado do Amazonas (UEA), Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: [email protected] 3Pós Doutor em Divisão de Anfíbios e Répteis do Carnegie Museum of Natural History em Pittsburgh,
Pennsylvania, EUA. Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática, Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: [email protected]
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A educação pode ser do tipo formal, que se dá por meio de instituições, com
regras, seguindo leis e normas (CASCAIS; FACHÍN-TERÁN, 2014); informal, que é
descrita como aquela que ocorre “durante o seu processo de socialização gerada nas
relações e relacionamentos intra e extra familiares” (GOHN, 2006, p.28), sendo então
relações que ocorrem com os membros da família, amigos, vizinhos; e a não formal, que
segundo Gohn (2006) é aquela que ocorre com o compartilhamento de experiências, onde
existe atividades coletivas.
Jacobucci (2008) diferencia os espaços educativos “não formais” em
institucionalizados (museus, zoológicos, planetários, entre outros) e não
institucionalizados (rios, praias, lagos, florestas, ruas, entre outros). É importante destacar
a utilização de outros espaços para a complementação dos conteúdos abordados em sala
de aula, visto que “a grande quantidade de informações que surge no mundo moderno nos
faz perceber que a escola, por si só, não consegue dar conta ou resolver todos os
problemas oriundos do conhecimento” (MACIEL; FACHÍN-TERÁN, 2014, p.23).
Diante disso percebe-se a necessidade de estabelecer parcerias e utilizar outros
espaços educativos presentes na comunidade, para que os estudantes tenham uma
educação mais contextualizada (CASCAIS; FACHÍN-TERÁN, 2014). É necessário que
as escolas integrem visitas aos Espaços Não Formais com objetivo de ensino de temas
científicos, e não somente como passeio ou atividade complementar, sendo essa interação
parte do processo do ensino e da aprendizagem (CASCAIS; FACHÍN-TERÁN, 2015).
Nesse sentido, os Espaços Não Formais se tornam fundamentais no processo de ensino-
aprendizagem dos alunos, visto que as aulas ministradas nesses espaços favorecem a
observação e a problematização dos fenômenos físicos e biológicos de uma forma mais
concreta (CUNHA, 2009).
A Alfabetização Científica (AC) é um meio utilizado para que os indivíduos sejam
alfabetizados para ler a linguagem das ciências, tendo aporte para compreender as
questões que ocorrem em sua volta, ajustando-as para a melhoria de sua realidade
(CHASSOT, 2010). Para Lorenzetti e Delizoicov (2001) a AC proporciona aos indivíduos
uma melhor visão sobre o mundo, devido a isto, seria de total relevância que os indivíduos
sejam AC desde a primeira idade escolar.
Os Quelônios amazônicos são importantes devido à função ecológica que estes
repteis tem para o ecossistema amazônico. Segundo Andrade (2007) à caça e
comercialização de adultos e a coleta de seus ovos vem sistematicamente afetando as
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populações destes repteis. Eis aí a importância de trabalhar a AC para a preservação e
conservação dos quelônios amazônicos.
Nesta pesquisa trabalhamos a AC com os seguintes objetivos: 1) Descrever os
espaços do Bosque da Ciência que podem ser usados no processo de AC, usando o tema
dos quelônios Amazônicos; 2) Analisar de que forma o conhecimento adquirido
contribuiu para o processo de AC.
2 Procedimentos Metodológicos
O percurso metodológico está ancorado na abordagem qualitativa e na utilização
das técnicas de observação participante e aplicação de questionário com perguntas
abertas. Erickson (1986) usa o termo interpretativo para este tipo de pesquisa por que é
mais inclusivo e não dá à pesquisa a conotação de ser essencialmente não quantitativa.
Nesta abordagem o interesse central da pesquisa na questão é a questão dos significados
que as pessoas atribuem a eventos e objetivos, em suas ações e interações dentro de um
contexto social e na elucidação e exposição desses significados pelo pesquisador
(MOREIRA, 2011). Contudo, também foram considerados dados quantitativos para
análise interpretativa, principalmente referente ao questionário aplicado aos estudantes.
As respostas foram analisadas mediantes a comparação dos conceitos padrões para
as temáticas abordadas, descritos no apêndice 1, sendo aceita a resposta como satisfatória
quando foi citado pelo menos duas das características dos conceitos padrões.
A pesquisa foi realizada no Bosque da Ciência, localizado no Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (INPA), e em três escolas públicas e uma escola privada da
cidade de Manaus. Os sujeitos foram 100 alunos, 77 das escolas públicas e 23 da privada,
do 7° ano de Ensino Fundamental II.
Para indagar o conhecimento prévio dos estudantes sobre os quelônios
Amazônicos, foi aplicado um questionário nas salas de aula das escolas. A verificação
dos saberes foi realizada após visita ao Bosque da Ciência com o mesmo instrumento.
O tempo médio usado durante as visitas ao Bosque da Ciência foi de 1h e 30 min
a 2h de duração, tempo suficiente para os estudantes percorrerem os espaços
selecionados. Neste período foram visitados ambientes com presença dos quelônios, nos
agrupamentos que a continuação apresentamos:
Casa da Ciência + Ilha da Tanimbuca: onde foi trabalhado o contexto histórico dos
ribeirinhos e as tradições do consumo de carne dos quelônios na região Amazônica. Foi
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realizada uma explicação sobre os táxons, diversidade de espécies, morfologia,
alimentação, habitat, modo de reprodução e importância ecológica dos quelônios.
Ilha da Tanimbuca + Recanto dos Inajás: onde foi trabalhada a diversidade de espécies
contidas nesses espaços, características morfológicas, diferenciação entre espécies,
habitat, alimentação, reprodução e interação com outras espécies de peixes, além de
ressaltar a sua importância ecológica.
Lago Amazônico + Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (CEQUA): onde foi
trabalhada a diversidade de espécies, características morfológicas, diferencias entre as
espécies, habitat, alimentação, interação com outras espécies, reprodução, dimorfismo
sexual e sua importância ecológica.
3 Resultados e Discussão
O espaço não formal institucionalizado chamado de Bosque da Ciência tem uma
área de aproximadamente 13 hectares, e esta localizada no perímetro urbano da cidade de
Manaus na Zona Central - Leste. Foi projetado e estruturado para fomentar e promover o
desenvolvimento do programa de Difusão Científica e Educação Ambiental do INPA, e
preservar os aspectos da biodiversidade existente no local. O local já foi descrito por
Rocha e Fachín-Terán (2010) e Maciel e Fachín-Terán (2014). Este ambiente que tem
uma serie de atrativos, apresenta quatro espaços com presença dos quelônios que a
continuação apresentamos:
Casa da Ciência: inaugurada em 20 de maio de 1993, dois anos antes de se
iniciarem as atividades no BC. É um espaço que permite uma visão de forma interativa,
transmite aos visitantes os projetos e programas realizados pelo INPA, e como os
resultados dessas pesquisas podem interferir diretamente no dia a dia das pessoas. É um
local que mostra a Amazônia de maneira histórica podendo transmitir atividades
costumeiras de ribeirinhos e as fases pelas que a região passou (fig. 1).
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Figura 1: Interior da casa da ciência
Fonte: Figura selecionada pelos pesquisadores a partir da coleta de dados.
É composto por painéis informativos, animais empalhados, incluindo tartarugas
da Amazônia, com informações impressas interagindo com material da fauna e da flora
amazônicas, maquetes, aquários, amostras de produtos tecnológicos, implantação de um
ambiente interativo com conteúdos digitais diversificados, uso de tecnologia de
comunicação e informática e recursos multimídia, além de exposições digitalizadas.
A Ilha Tanimbuca: retrata a conservação ambiental e seus componentes
harmoniosos, onde compreende uma calha e espelho d'água que compõem vários peixes
e quelônios da região (fig. 2). Tem uma arvore emergente de mais de 600 anos chamado
de Tanimbuca (Buchenavea huberii - Combretaceae), que retrata sua existência o tempo
em que o Brasil foi descoberto.
Figura 2: Ilha da Tanimbuca com os quelônios
Fonte: Figura selecionada pelos pesquisadores a partir da coleta de dados.
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O recanto dos inajás: ambiente composto por vegetação de palmeiras conhecidas
como “inajás” (Maximiliana maripa). Possui um lago artificial com diversas espécies de
peixes, entre eles o tambaqui, os acaras e poraquês, plantas aquáticas e tartarugas como o
tracaja, P. unifilis e a irapuca, P. erythrocephala (fig. 3).
Figura 3: Recanto dos Inajás.
Fonte: Figura selecionada pelos pesquisadores a partir da coleta de dados.
O Lago Amazônico: é um ambiente artificial que retrata os lagos da região. É
habitado por diversas espécies de quelônios, como a Tartaruga-da-Amazônia
(Podocnemis expansa), Tracajas (P. unifilis), Irapuca (P. erythrocephala) e peixes como
o tambaqui (Colossoma macropomum), tucunaré (Cichla ocellaris) e pirarucu (Arapaima
gigas) (fig. 4).
Figura 4: Quelônios no Lago Amazônico
Fonte: Figura selecionada pelos pesquisadores a partir da coleta de dados.
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Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (CEQUA): O INPA com o intuito
de desenvolver pesquisas e educação ambiental sobre a conservação de quelônios
inaugurou no dia 12 de fevereiro de 2015 nas dependências do Bosque da Ciência, o
CEQUA. Este é o primeiro centro do mundo habilitado para estudos e exibição de
quelônios amazônicos (fig. 5).
Figura 5: Amostras de material biológico no CEQUA
Fonte: Figura selecionada pelos pesquisadores a partir da coleta de dados.
3.1 Conhecimentos prévios dos estudantes sobre os quelônios amazônicos
O levantamento sobre os conhecimentos prévios dos estudantes aconteceu na
escola. Sobre os temas abordados nos questionários foram listados os conceitos padrões
com base em pesquisa já realizadas por Vogt (2008), no Livro Tartarugas da Amazônia.
Dos 100 alunos, 85 manifestaram que sabiam sobre tartarugas e 15 desconheciam
sobre esse assunto. Percebemos que apesar de o nome “tartaruga” ser conhecido, ainda
há estudantes que não conhecem estes animais.
Na Amazônia existem 18 espécies de quelônios, nesta pesquisa abordaremos o
conhecimento de 14 delas.
3.2 Conhecimento dos estudantes sobre as diferentes temáticas abordadas
Quando comparados as respostas pré e pós aplicação dos questionários,
verificamos que houve um aumento significativo em todas as respostas sobre as temáticas
pesquisadas. Houve uma maior compreensão dos temas dimorfismo sexual e alimentação
dos quelônios. O que significa que há indícios de alfabetização cientifica (Tabela 1).
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Tabela 1: Respostas dos estudantes Pré e Pós-aplicação do questionário sobre as diferentes
temáticas abordadas
TEMÁTICAS
ENTREVISTA (N=100)
PRÉ PÓS
RS RNS RS RNS
Morfológicas 58 42 89 11
Habitat 50 50 75 25
Alimentação 31 69 62 38
Reprodução 23 77 46 54
Dimorfismo sexual 10 90 54 46
RS= Respostas satisfatórias, RNS = Não satisfatórias
Fonte: Dos autores.
Nas respostas dadas pelos estudantes (Quadro 1), é notório o conhecimento
científico de alguns estudantes, como por exemplo E6, que ao se referir ao casco chamá-
lo por carapaça, mostrando também que existem diferentes espécies, se referindo a
diversidade. O E56 já se refere à Classe dos répteis. O E82 já é mais específico, citando
a existência das 17 espécies de quelônios amazônicos, além de categorizá-los como
quelônios (ordem das tartarugas). Já o E90 cita a classe (répteis) e a ordem (quelônios),
também que elas utilizam o casco para se defender e se refere a parte ventral do animal
como “plasto”, referente ao plastrão, que é a parte ventral destes animais.
Estudantes O que são tartarugas? Você já viu uma? Fale como elas são.
Pré Pós
E6 Eu acho que elas são
mamíferos. Não.
Sim, ela era bem grande e sua carapaça também.
Existe vários tipos de tartarugas, algumas grandes e
outras pequenas.
E56 Eu já vi na TV. Elas eram do
tipo que vivem na água. Elas
tem casca grande e anda
lentamente.
São repteis, Com casco grande e duro. Conheci vários
tipos de tartarugas.
E82 São repteis. Sim, possuem
uma pele enrrugada, um
casco duro, são repteis que
botam ovos.
Na Amazônia existem 17 espécies com suas
características. São répteis, que são chamadas de
quelônios. Vi no Inpa e antes. Existem várias espécies,
uma com manchas amarelas na cabeça, outras
vermelhas, pequenas e grandes, etc.
E90 Sim, é um animal. Tinha uma
casca para se proteger. São
vegetarianas.
São quelônios, répteis. Vi adultas, jovens e filhote e
tinha uma carapaça e também o plasto. Em cima dela
tinha um casco uma proteção chamada carapaça.
Quadro 1: Respostas dos estudantes Pré e Pós-aplicação do questionário sobre a morfologia dos
Quelônios.
Fonte: Dos autores.
Sobre o habitat dos quelônios, somente 50 dos estudantes conseguiram responder
antes da visita. Após a vista, 75 deram uma resposta satisfatória (Quadro 2).
Na pré-aplicação do questionário predomina o conhecimento de que estes animais
vivem em meio aquático, já após a visita ao Bosque da Ciência, constatamos que os
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estudantes possuem uma visão mais ampla, reconhecendo que existem espécies tanto
aquáticas quanto terrestres, e que vivem em diversos ambientes, como os rios, mar (se
referindo a tartarugas marinhas), lagos e igarapés. Mostra-se então a assimilação do
conhecimento por parte destes estudantes (Quadro 2).
Aluno Onde as tartarugas vivem?
Pré Pós
E17 Nas águas Depende, umas vivem na terra e outras na água.
E51 Em lagoas Em rio, mar ou lagos.
E69 Não sei Tanto na terra quanto no água
E86 Na água e na terra Nos rios, lagos e igarapés.
Quadro 2: Respostas dos estudantes Pré e Pós-aplicação do questionário sobre o habitat dos Quelônios.
Fonte: Dos autores.
Sobre o tema da alimentação dos quelônios, o conhecimento dos estudantes
mudou 100% com respeito ao conhecimento prévio. Sendo que um estudante (E90)
conseguiu caracterizar e diferenciar os carnívoros dos herbívoros (Quadro 3).
Estudantes Do que elas se alimentam?
Pré Pós
E22 Elas se alimentam de
plantas
Algumas de peixes e outras de plantas.
E53 De algas Algumas se alimentam de peixes e outras de semente
E82 Não sei Se alimentam de peixe e algumas de plantas
E90 De algas e plantas Carnívoro: de peixes e restos de carne
Herbívoro: plantas e pequenas frutas
Quadro 3: Respostas dos estudantes Pré e Pós-aplicação do questionário sobre alimentação dos
Quelônios.
Fonte: Dos autores.
Houve uma mudança de 100% nas respostas com respeito ao conhecimento prévio
do tema reprodução. Apesar de termos observado dificuldades, os estudantes descreveram
a reprodução antes e depois da visita ao Bosque da ciência. Os alunos tinham bom
conhecimento sobre os locais de desova e usavam conceitos científicos em suas respostas
(Quadro 4). É interessante ressaltar que um estudante (E10) descreveu que as Tartarugas-
da-Amazônia tomam sol e desovam em grupo. Os estudantes também descreveram que
as tartarugas depositam seus ovos em ninhos e se referiram à cópula (palavra usada no
jargão científico) entre o macho e a fêmea.
Aluno Como eles se reproduzem (nascem)?
Pré Pós
E10 Não sei Na praia, quando uma vai, todas vai
E51 Não sei As mães, elas cavam um buraco e coloca o ovo,
ai eles nascem.
E81 De ovos que as fêmeas chocam
em praia
Alguns botam ovos nas praias outros em mato.
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E100 Não sei O macho e a fêmea eles copulam e a fêmea bota
os ovos.
Quadro 4: Respostas dos estudantes Pré e Pós-aplicação do questionário sobre reprodução dos
Quelônios.
Fonte: Dos autores.
Ressaltamos que inicialmente somente 10% dos estudantes questionados
conseguiram responder satisfatoriamente às diferenças entre machos e fêmeas. É
animador registrar que 54% dos alunos puderam descrever essas diferenças após a visita
(quadro 5).
Com respeito ao dimorfismo sexual esta relaciona-se apenas com características
físicas e comportamentais que diferenciam um sexo do outro, como o tamanho do corpo,
largura da carapaça e coloração da cabeça. Sabendo que existem essas diferenças,
pudemos analisar respostas como do E55 que lembrou que a “barriga” (plastrão) dos
machos são para dentro, o que ocorre normalmente nas espécies terrestres como os
jabutis. O E17 lembrou do comprimento da cauda, e que na maioria das espécies os
machos possuem caudas mais compridas. Já os estudantes E6 e E98 distinguiram os sexos
por que predomina nos machos as manhas amarelas na cabeça, diferente da fêmea que
perdem os sinais de manchas amarelas quando atinge a maturidade possuindo uma
coloração marrom ferrugem.
Aluno Você sabe qual a diferença do macho e da fêmea?
Pré–questionário Pós–questionário
E17 Não O macho que o rabo maior e a fêmea menor
E55 Não sei O macho tem a barriga para dentro e a fêmea não
E6 Não O macho tem pinta amarela e a fêmea não
E98 O macho e grande e
a fêmea é menor
O macho tem pintinhas amarelas e a fêmea pescoço marrom isso
só com os tracajás
Quadro 5: Respostas dos estudantes Pré e Pós-aplicação do questionário sobre dimorfismo
sexual dos Quelônios.
Fonte: Dos autores.
Ressaltamos o registro de um elevado número de espécies mencionadas por parte
dos estudantes. Enquanto que na pesquisa prévia com os alunos, 41% não sabiam citar
nenhuma espécie, na pós, todos acertaram no mínimo uma questão. Podemos dizer que
83% dos estudantes acertaram mais de uma espécie. É interessante observar a clareza ao
citar o nome correto das espécies, que a apesar de serem nomes populares, não são
comuns. Um estudante se destacou (E99), pois o descreveu como “cagado de possas de
florestas” que foi uma das espécies menos questionadas e pouco conhecida na Amazônia,
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porém ele a descreveu com propriedade, apesar dos erros ortográficos, foi o único que
citou esta espécie (Quadro 6).
Aluno Que tipos de tartaruga você conhece?
Pré Pós
E40 Não conheço Jabutis, tracajás, mata-matá, cabeçudo e tartaruga da
Amazônia
E24 Bom, eu já vi, só não sei o tipo Tracajá, tartaruga da Amâzonia, cabeçudo, mata-matá,
jabuti e etc.
E91 Nenhuma Tracaja, tartaruga da Amazônia, mata-mata, irapuca,
cabeçudo, pitiú.
E99 Tartaruga marinha Mata-mata, tracajá, irapuca, cagado de possas de
florestas, cabeçudo, perema e tartaruga da Amazônia.
Quadro 6: Respostas dos estudantes antes e após aplicação do questionário sobre as diversas espécies de
Quelônios.
Fonte: Dos autores.
3.3 Longevidade das tartarugas
Para Clóvis Bujes (s.d.), Coordenador do Projeto Chelonia-RS, do Departamento
de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) “O tempo de vida de um quelônio é muito controverso, e vai depender da
espécie e do ambiente onde ela ocorre". Entre o pré e pós-questionário percebe-se uma
variação nas respostas sobre a idade das tartarugas. As pesquisas científicas ainda são
escassas quanto a esse tema. A assimilação do conhecimento na visita sobre as idades das
espécies não foi satisfeita devido ao pouco conhecimento que se tem sobre esse assunto.
Um baixo porcentual (4%) dos estudantes não sabia sobre esta questão, 19% das respostas
variaram entre 20 a 80 anos, o maior percentual (60%) cito de 90 a 130 anos, enquanto
que 10% dos estudantes citaram a idade entre 140 a 150 anos e 7% disseram que a idade
varia de espécie para espécie.
4 Considerações finais
O Bosque da Ciência, se inclui na categoria de espaço não formal
institucionalizado que deve ser utilizado para trabalhar a Alfabetização Científica. Nele
encontramos ambientes com condições para se trabalhar a biologia e ecologia dos
quelônios amazônicos e desta maneira alfabetizar os estudantes em temáticas
relacionadas com a realidade amazônica.
No Bosque da Ciência o espaço que apresenta melhor infra-estrutura para
trabalhar a Alfabetização Científica usando os quelônios amazônicos foi o CEQUA. Nele
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é possível utilizar recursos de multimídia como vídeos das Tartarugas-da-Amazônia que
atraíram bem a atenção dos participantes. O ambiente apresenta riqueza de espécies e
possibilidade de contato dos animais com os estudantes.
Hoje mais do que nunca devemos despertar os cientistas que cada educando
possui, e incentivá-los para um crescimento intelectual com possibilidades para novas
descobertas. Nesse sentido os espaços não formais apresentam condições para propiciar
a curiosidade dos estudantes sobre assuntos que podem passar despercebidos em sala de
aula.
Podemos concluir que os espaços não formais são fontes preciosas para as
discursões científicas, onde o processo de alfabetização científica deve ser bem
trabalhado. As atividades desenvolvidas serviram para preparar os estudantes como
cidadãos participantes do meio científico, onde a ciência se tornou parte de sua realidade.
Referências
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Recebido em: 05 de fevereiro de 2018.
Aceito em: 06 de abril de 2018.
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APÊNDICE: Conceitos padrões para as temáticas abordadas
O que são tartarugas?
Tartarugas são répteis, participante da ordem dos quelônios. Conhecidos como bicho de casco. Suas espécies
tem uma variedade de tamanhos, indo de 20 cm (pequena) até 70 cm (grande). Possuem uma carapaça (casco)
sua parte superior e a parte ventral chamamos de plastrão.
Morfologia das tartarugas
Vogt (2008) caracteriza as diversas espécies de quelônios da Amazônia:
Tartarugas-da-Amazônia (Podocnemis expansa) possuem casco (carapaça) largo, achatado e liso, de
coloração entre cinza e preto.
Tracajá (Podocnemis unifilis), possuem seu casco em forma de cúpula, apresenta em sua cabeça manchas
amarelas.
Irapuca (Podocnemis erythrocephala) possui um padrão de cor avermelhar ou laranja-avermelhado em sua
cabeça, com carapaça marrom-escura a preta.
Pitiú (Podocnemis sextuberculata) apresenta seis tubérculos na sua região ventral conhecida como plastrão
quando filhotes até juvenis, a carapaça é marcada por sua quilha protuberante na paste posterior das
vértebras.
Cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus) é uma tartaruga com a cabeça bem avantajada, com carapaça cor de
oliva é lisa, com quilha baixa e o plastrão é amarelado.
Mata-matá (Chelus fimbriata) com sua cabeça plana e triangular, olhos pequenos, longo focinho em forma
de tubo, pescoço longo cm numerosas fimbrias. Seu casco semelhante a folhas com protuberâncias. Cor
marrom ferrugem com marcas pretas espalhadas na carapaça e seu plastrão é amarelo claro.
Jabuti machado: (Platemys platycephala) é uma pequena espécie. Com carapaça plana e uma parte funda no
meio das duas quilhas que são formadas. É de cor marrom-chocolate com faixa lateral variando de
marrom-escuro a preto.
Cágado vermelho (Rhinemys rufipes) membros e cabeça de coloração avermelhada, com faixa central e
lateral preta. A carapaça é marrom e o plastrão é amarelado.
Cágado de barbicha (Phrynops geoffroanus) com coloração laranja avermelhado com pontos pretos e
manchas na parte inferior nos juvenis, quando adultos a coloração da carapaça achatada e lisa desbota para
amarelo esverdeado.
Cágado de poças de florestas (Mesoclemmys gibba) com carapaça larga e achatada de coloração marrom,
com uma quilha rasa. O plastrão é marrom-escuro.
Muçuã (Kinosternon scorpioides) sua carapaça possui três quilhas. O plastrão é longo e com dobradiças. As
marcas da cabeça são vermelhas.
Perema (Rhinoclemmys punctularia) com sua carapaça bem curvada de coloração marrom-escuro a preta, o
plastrão é preto no centro e com amarelo pálido nas bordas. Os membros são amarelos alaranjados.
Jabuti Piranga (Chelonoidis carbonarius) a carapaça é de cor preta marcada com amarelo ou vermelho-
alaranjado no centro dos escudos. Algumas escamas da cabeça, assim como as da pata são vermelhas ou
laranjas, puxando para o amarelo. O plastrão é rígido com a coloração amarela com marcas centrais
escuras.
Jabuti Amarelo (Chelonoidis denticulatus) é maior que o Jabuti piranga. A carapaça de cor marrom-claro e
os centros dos escudos costais marrom-amarelado-claro, com linhas retas. Escamas da cabeça assim como
as dos membros são de cor amarelas-pálidas. O plastrão amarelo-amarronzado.
Alimentação
A Amazônia conta com espécies de tartarugas herbívoras (se alimentam de folhas, talhos e sementes),
carnívoras (se alimentam de presas de origem animal) e onívoras (se alimentam tanto de vegetais quanto de
carne).
Habitat
As tartarugas da Amazônia são classificadas em aquáticas, semiaquáticas e terrestres.
Reprodução
As tartarugas se reproduzem através da cópula (relação sexual ou coito), de um macho e uma fêmea. Onde
o macho introduz seu órgão genital na fêmea liberando seus espermatozóides para fecundar os óvulos,
formando assim no processo os ovos que serão depositados nas praias, barrancos, ou folhagens dependendo
da espécie.
Dimorfismo sexual
O dimorfismo se apresenta da seguinte maneira: O tamanho da cauda do macho é maior que a da fêmea.
A parte ventral (plastrão) nos machos comumente é mais côncava para o encaixe na fêmea. No caso do
Tracajá, a femea perde a pintas amarelas na cabeça quando adultas. Na Tartaruga-da-Amazônia a fêmea é
maior que o macho, diferente da fêmea do cabeçudo que é menor.