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Curso de Capacitação em Alimentos Orgânicos: agroindústrias, mercados e políticas públicas
Agroecologia, Agricultura Familiar e Produção de Alimentos I Paulo Niederle
Agroecologia, agricultura familiar e produção de alimentos em um cenário de mudanças climáticas
Paulo Niederle (GEPAD-PGDR-UFRGS)
Curso de Capacitação em Alimentos Orgânicos: agroindústrias, mercados e políticas públicas
Agroecologia, Agricultura Familiar e Produção de Alimentos I Paulo Niederle
O aquecimento global pode comprometer a produção de alimentos, levando a perdas que começam com até R$ 7,4 bilhões em 2020, podendo atingir R$ 14 bilhões em 2070.
A soja deve ser a cultura mais afetada. No pior cenário, as perdas podem chegar a 40% em 2070, levando a um prejuízo de até R$ 7,6 bilhões.
O café arábica deve perder até 33% da área de baixo risco em São Paulo e Minas Gerais, apesar de poder ter um aumento de produção no Sul do país.
Milho, arroz, feijão, algodão e girassol sofrerão forte redução de área de baixo risco no Nordeste, com perda significativa da produção.
A mandioca terá um ganho geral de área de baixo risco, mas deve sofrer graves perdas no Nordeste.
A cultura da cana-de-açúcar poderá dobrar nas próximas décadas
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http://www.agron.com.br/publicacoes/noticias/ciencia-e-tecnologia/2014/02/14/038319/embrapa-desenvolve-soja-transgnica-resistente-a-seca.html
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aguaceat.blogspot.com
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Água virtual e Pegada Hídrica O Brasil envia ao Exterior 112 trilhões de
litros de água doce (UNESCO) por ano em produtos agrícolas.
Quarto maior exportador de “água virtual”
Estados Unidos (314 trilhões litros/ano), China (143 trilhões litros/ano) e Índia (125 trilhões litros/ano).
ONU estima que, até 2025, cerca de dois terços da população mundial estarão carentes de recursos hídricos, sendo que cerca de 1,8 bilhão enfrentarão severa escassez de água.
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• Lançado em 2012
• “O programa Mais Irrigação busca valorizar o agricultor familiar e desenvolver, por meio de parcerias público-privadas, a economia regional de forma sustentável, gerando mais emprego e renda, e levando alimentos de qualidade para a mesa dos brasileiros”.
• “A previsão é de que o programa seja aplicado em 538 mil hectares espalhados em 66 áreas para a produção de biocombustíveis e fruticultura, bem como para a produção de leite, carne e grãos. Desta forma, o governo pretende incluir pequenos e médios agricultores na cadeia produtiva e garantir a eles mercado, assistência técnica e preço justo.”
www.brasil.gov.br
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“[...] se você faz irrigação para concentrar renda, o problema social fica de pé. A irrigação teria de vir com o controle de uso do solo que permitisse uma divisão de renda.” (p. 41)
“Resta saber se a irrigação está ajudando a resolver o problema da produção de alimentos.” (p. 42)
FURTADO, Celso. Seca e poder; entrevista com Celso Furtado, 1998.
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http://ocariri.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html
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Quadro Retirantes de Candido Portinari.
http://www.jornalcaicara.com/cienciaemfoco/?pg=noticia&id=32
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Agroecologia, Agricultura Familiar e Produção de Alimentos I Paulo Niederle Fonte: Eliseu Alves (2014)
Uma tese “recente”
Incapacidade dos
“pobres rurais” se
tornarem “verdadeiros
agricultores”, co-
responsáveis pelo
dinamismo da
agropecuária
brasileira.
Região Nordeste:
O valor médio da produção anual gerada por 72% dos
agricultores familiares da região foi de apenas R$
1.118,00 (Joacir Ruffino, 2015)
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Fonte: Helfand et al., 2014
A “vocação produtiva” da agricultura nacional estaria confinada a uma pequena
parcela de agricultores capitalizados.
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Fonte: Helfand et al., 2014
Navarro (2015)
Crédito rural no Brasil - 2013 e 2014 acumulados
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“... a única saída para ainda garantir a persistência de uma proporção de pequenos produtores é o
acesso à ciência e à tecnologia operada pela agricultura moderna.” (Navarro e Pedroso, 2014).
“Restam 3.775.826 estabelecimentos, cujo valor da produção é de R$ 128,13 por mês. Na agricultura,
simplesmente não há solução para o problema de pobreza destes. Forte dose de política social, de
caráter assistencialista, se faz necessária para manter as famílias a eles vinculadas nos campos” (Alves
e Rocha, 2010).
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Região Nordeste:
- 60% dos estabelecimentos: < 5 hectares (especialistas estimam que o
tamanho ideal de uma propriedade rural no semiárido deve variar de 50
a 100 hectares)
- 96% não receberam a visita de um agrônomo ou extensionista rural
uma única vez no ano.
- 3% dos estabelecimentos contava com irrigação
- 99% não dispunha sequer de silos para armazenar ração e forragem
para seus pequenos rebanhos de animais. (Joacir Ruffino, 2015)
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“Uma das maiores batalhas que tive na SUDENE, provavelmente, a mais completa derrota que tive, foi no projeto de lei de irrigação. Já para aprovar o projeto no Conselho da SUDENE foi um sacrifício. O projeto de irrigação dizia, basicamente, o seguinte: o dinheiro posto pelo governo na irrigação tem de ser de interesse social, não é para reforçar o que existe como estrutura agrária. Portanto, tinha de haver desapropriação dessas terras antes que elas se valorizassem.” (p. 19)
FURTADO, Celso. Seca e poder; entrevista com Celso Furtado, 1998.
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Fonte: Helfand et al., 2014
MESMO ASSIM ELES PERSISTEM...
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Efeito das políticas sociais?
Impacto da previdência rural e dos programas de transferência de renda
Impacto do aumento dos salários.
Uma saída à francesa??
Efeito da expansão do mercado de trabalho fora da agricultura (na cidade ou no
meio rural) >
Atividades não agrícolas e pluriatividade.
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Gráfico 1: Estabelecimentos em que o produtor e outros membro da família declarou ter atividade fora do estabelecimento, por tipo de atividade, Brasil 2006.
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
Produtor Outro membro família
Total
Agropecuária
Não Agropecuária
Agrop. e não agrp.
Fonte: Censo Agropecuário 2006.
28,5% do total
20,22% do total
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Uma antítese... e um desafio
- Capacidade de resiliência dos sistemas tradicionais agroecológicos
- Esses agricultores podem desempenhar um papel relevante em novas estratégias de
desenvolvimento rural (inclusive agrícolas, mas não necessariamente), desde que novos
modelos de produção e consumo sejam potencializados pela ação do Estado.
Uma condição premente...
Superar o referencial de desenvolvimento que reproduz as concepções vigentes nos anos 1970
em relação ao que seja a “agricultura moderna”
Rever as escolhas procedidas no começo dos anos 1990 no que tange ao público prioritário da
agricultura familiar (transição e consolidada).
>> Construir novas justificativas para a ação pública
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Uma oportunidade para “qualificar” o debate
Primeiro:
O reconhecimento e a legitimação das formas familiares no meio rural não precisam se sustentar em
uma justificativa quantitativa típicas de uma sociedade industrial fordista
(a obsessão pela produtividade!!) “A agricultura familiar não produz 70% dos alimentos consumidos no Brasil !” (Hoffman)
“Felizmente” (eu).
Segundo:
Isso não significa que a alternativa para os agricultores familiares (incluindo os mais pobres) esteja
“fora da agricultura”. Mas é preciso ajustar as políticas públicas para potencializar modelos inovadores
de produção e consumo, condizentes com diferentes configurações socioculturais.
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Brasil 30% - crescimento das vendas de produtos orgânicos no em 2014 R$ 2 bi - volume de negócios total estimado em 2014 R$ 2,5 bi - previsão de volume de negócios para 2015 50% a 60% - parcela da produção brasileira exportada
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organic junk food
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Fonte: Brasil Food Trends 2020
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“In some ways, organic is a victim of its own success” Philip H. Howard
Estados Unidos – National Organic Standards Board 15 membros
Regulamentação substâncias autorizadas
Aprovação por 2/3
Atualmente 250 substâncias não-orgânicas autorizadas (77 em 2002)
Ammonium Nonanoate Herbicida com efeitos controversos sobre saúde
Voto favorável das principais corporações: General Mills, Campbell’s Soup, Organic Valley, Whole Foods Market e
Earthbound Farms
Mas não aprovado.
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Regulamentação europeia (1 de janeiro de 2009)
Permite a um produtor criar até 75 mil frangos « orgânicos » por ano, sem limite de escala por criação.
Maioria dos países importa massivamente a maior parte dos produtos orgânicos que consome
Na Espanha, projeta-se que mais de 80% do milho orgânico está contaminado por cruzamentos com variedades
transgênicas.
Legislação permite até 0,9% de resíduo OGM em produtos orgânicos
AgriEco: 160 hectares de estufas, mais de 11 mil toneladas de tomantes, pepinos e pimentas orgânicos.
Bionest: 500 hectares de estufas com morangos (uso intensivo de fertilizantes orgânicos, irrigação por gotejamento).
Empregava centenas de mulheres romenas, polonesas e filipinas, com uma relação trabalhista precária.
Processos industriais de monocultivo orgânico?
O que restou da ecologia na agricultura orgânica?
Fonte: Phillipe Baqué. Le monde Diplomatique.
Florissante industrie de l’agriculture biologique, 2011.
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Reencantamento da comida Reconstruir um discurso coerente acerca dos alimentos. Alterar suas trajetórias, associando-os a outros bens e práticas, e produzindo experiências singulares de produção e consumo.
Uma convenção
emergente
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LUTAS VALORATIVAS E
DINÂMICAS DE APROPRIAÇÃO
PARA ALÉM DA
CERTIFICAÇÃO
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Nível 1
Aumento da eficiência e efetividade das práticas convencionais
Nível 2
Substituição de insumos e práticas convencionais por insumos e práticas alternativos
Nível 3
Redesenho dos agroecossistemas com base em um novo conjunto de relações e processos ecológicos.
Nível 4
Estabelecimento de conexões mais diretas entre produtores e consumidores.
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Estabelecimento de conexões mais diretas entre produtores e consumidores.
Reconhecimento das
práticas e saberes
tradicionais de produção
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Agroecologia, Agricultura Familiar e Produção de Alimentos I Paulo Niederle Fonte: Altieri e Nichols (2015)
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Aspecto de lavoura de milho em início da transição agroecológica,
Irineópolis, 1ª quinzena de março de 2009 Aspecto de lavoura de milho cultivado em sistema convencional,
Irineópolis, 1ª quinzena de março de 2009
Almeida et al. Análise comparativa entre lavouras convencionais e em transição ecológica no Planalto Norte de Santa Catarina. Agriculturas • v. 6 - n. 1 • abril de 2009
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Estabelecimento de conexões mais diretas entre produtores e consumidores.
Reconhecimento das
práticas e saberes
tradicionais de produção
Mercados
Venda direta
Venda na propriedade
Feiras-livres
Cestas
Grupos de consumo
Colhe e pague
Gastronomia local
Lojas de associações
Beira de estrada
Lojas especializadas
Restaurantes
Pequeno varejo
Lojas virtuais
Compras públicas
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Associação pela Manutenção de uma Agricultura Camponesa
Fotos: www.reseau-amap.org/
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Bio Cohérence
Nova marca criada pela FNAB (Fédération Nationale
d’Agriculture Biologique).
Complementar a regulamentação atual.
Regras mais rígidas (0% OGM, propriedade deve ser
100% orgânica, alimentação animal produzida
majoritariamente pela própria propriedade, 100% de
ingredientes orgânicos nos produtos transformados).
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Agroecologia, Agricultura Familiar e Produção de Alimentos I Paulo Niederle 54 Fontes: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/campo-e-lavoura/noticia/2015/10/venda-direta-entre-produtor-e-consumidor-cresce-nos-estados-unidos-4881774.html www.localharvest.org/csa/
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Das Redes de Produtores às Redes de Redes
Articulando Associações e Cooperativas (Food Hub)
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Agroecologia, Agricultura Familiar e Produção de Alimentos I Paulo Niederle 58 Wilkinson et al. 2013.
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Tecnologia/Sanidade/Inocuidade
Equidade/Justiça social Ecologia/Meio Ambiente
Tradição/Patrimônio/Origem
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Tecnologia/Sanidade/Inocuidade
Equidade/Justiça social Ecologia/Meio Ambiente
Tradição/Patrimônio/Origem
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Disputando identidades nos mercados
Alimentos Agroecológicos x Orgânicos
Práticas e discursos incorporados à distintos modos de fazer agricultura
Agriculturas pós-modernas, mas também tradicionais
Bens que comportam valores ecológicos, socioculturais e políticos
Portanto, muito além do orgânico e da certificação (decompõe atributos objetivos)
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