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p onto_e_vir g ula AGOSTO 2007 EDIÇÃO 5 Amor.Sexo.Tabus As transgressões da Música Popular Brasileira NY.for.sale Gastronomia, música e turismo sem pagar nada Lya.Luft “A vida é transformação e não decadência” Comemoram centenário de educação junto à natureza e ao próximo Escoteiros

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Page 1: Agosto2007

ponto_e_virgula AGOSTO 2007 EDIÇÃO 5

Amor.Sexo.TabusAs transgressões da Música Popular Brasileira

NY.for.saleGastronomia, música e

turismo sem pagar nada

Lya.Luft“A vida é transformação e não decadência”

Comemoram centenário de

educação junto à natureza e ao

próximo

Escoteiros

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ponto_e_virgula AGOSTO 2007 EDIÇÃO 5

ESCRITORESAdriana SeguroFernanda DutraJuliana Sakae

Luisa FreyLucas SarmanhoMarina Almeida

Marina VeshagemPedro Santos

Rodrigo TonettiThiago Bora

EDIÇÃOCarolina MouraFernanda Dutra

Fernanda VolkerlingLuisa Frey

Marina Veshagem

DIAGRAMAÇÃOCarolina MouraJuliana SakaeMaurício TussiThiago Bora

CAPA e ARTE FINALJuliana Sakae

REVISÃOLucas Sarmanho

Luisa FreyRodrigo Tonetti

;www.revistapontoevirgula.com

Florianópolis - SC

ESPAÇOS NESTA EDIÇÃO

Perfil

Cinema

Literatura

Viagem

Criação

Fotografia

Esporte

Entrevista

Causos&Coisas

Casa do Seu Machado

Lar do Chico

Alerta há 100 anos

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1304

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31

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07Lya Luft: a vida é transformação e não decadência

The Doors em cena: rock e drogas nos anos 60

Amor é brega, mas rende literatura das melhores: Travessuras da Menina Má

Ive Luna vai além da sonoridade das palavras e brinca com a linguagem

Estádio de futebol - a primeira vez a gente nunca esquece

Nova York for sale - gastronomia, música e turismo sem pagar nada

Micromundo: o mais perto possível

Escoteiros comemoram centenário de educação

Um remix de trilha sonoras de filmes brasileiros, hollywoodianos e clássicos

Arte na decoração de casa, com objetos doados e vindos do lixo

O manezinho que começou com uma barraca na praia e hoje é dono de um os mais tradicionais restaurantes de Florianópolis

Música09As transgressões da Música Popular Brasileira: Amor, sexo e tabus

[ s u m á r i o ]

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Reportamos aquilo que gostamos e nos interessa. E é exatamente a leveza e o prazer tidos ao escrever

o que desejamos transmitir a você, leitor ponto-virgulino de quinta viagem. Sim, chegamos à edição de número 5!

No catálogo do mês, oferecemos Nova Iorque de graça e os 100 anos de escotismo no Brasil. Tem amor, sexo e tabus na MPB dos anos 70. Tem Cine The Doors (!); entrevista é com Ive Luna – voca-lista do Cravo-da-Terra. Da Ilha da Magia, a tão única Casa do Seu Machado e a tão saborosa Casa do Chico.

Românticos, deliciem-se com As tra-vessuras da Menina Má; otimistas, inspi-rem-se com Lya Luft; fanáticos ou simples apreciadores do futebol, relembrem a pri-meira vez no estádio; curiosos, divirtam-se com o Causos&Coisas!

E um pout-pourry pra encerrar.

[ c a r t a a o l e i t o r ]

ilustração: Tropicália, uma revolução cultural brasileira, de John Connelly Presents disponível em: www.hkw.de

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Lya

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N ão sou uma mulher sofrida, trágica”. Gaúcha de Santa Cruz do Sul, Lya Luft é tradutora e escri-tora. Seu último livro Perdas & Ganhos teve seus

direitos comprados por 15 editoras internacionais. A autora escreve agora O silêncio dos amantes, romance que deve ser lançado em 2008.

Formada em Letras, Lya conta que o fato de ter o alemão e o inglês “de casa” e escrever razoavelmente bem em português facilitou seu ingresso na profissão de tradutora. “Tive o privilégio de trabalhar com algo que adorava”, diz. Já verteu para o português autores como Thomas Mann, Hermann Hesse e Virginia Wolf. Antes, com os filhos pequenos, Lya traduzia para ganhar dinheiro. Agora o faz apenas por prazer, quando se in-teressa por algum trabalho. O último foi a peça Um Dia no Verão, do norueguês Jan Fosse.

Em 1964, aos 26 anos, Lya escreve seu primeiro livro de poesias: Canções de Limiar. Na época, era aluna de Celso Pedro Luft, que depois se tornaria seu mari-do. “Casar com um homem vinte anos mais velho foi muito importante na minha vida. Aprendi muito”, re-flete. Essa paixão foi, em parte, o que lhe inspirou para os versos. Em 1972, publica mais um livro de poesias: Flauta Doce. Os dois livros de poesia tiveram tiragens pequenas e nunca foram reeditados. A verdadeira car-reira literária começa oito anos depois, com o primeiro de nove romances: As Parceiras.

Lya Luft: tradutora, escritora, cronista e, acima de tudo,

alguém que sabe viver

“Transgredir até o último suspiro”

LyaLuft

por Luisa Frey

[ p e r f i l ] 4

foto: Luisa Frey; arte: Thiago Bora

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Lya

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Ao ser perguntada sobre o tom autobiográfico de sua obra, faz questão de dizer que não faz uma literatura confessional, com exceção de Mar de dentro, em que conta suas memórias de infância, e O lado fatal – livro de poemas escrito quando ficou viúva pela primeira vez: “fiquei viúva duas vezes e isso é bem pessoal. Tão pessoal que depois eu resolvi suspender O lado fatal. Eu não quero ser sempre vista como a viúva de Hé-lio Pellegrino. Passou o tempo, passaram os anos”.

Lya diz que todo mundo começa influenciado por algum escritor. No caso dela foram três: Mário Quintana, Cecília Meirelles e Rainer Maria Rilke - autor tcheco que escrevia em alemão. Ela explica que “as influências fazem parte da for-mação do autor, que depois passa o resto da vida tentando se livrar delas, criar o próprio estilo. Porque se você passa a vida inteira escrevendo à maneira de Rainer Maria Rilke ou de Mário Quintana, então você não é um verdadeiro artista”.

O último livro Perdas & Ganhos, de 2003, foi um fenôme-no, como a própria autora o define. Ficou 113 semanas nas lis-tas dos mais vendidos de Veja, Isto É, O Globo e Folha de São Paulo. Lya diz que nunca entendeu direito porque ele repercu-tiu tanto, mas supõe que seja por causa de algo que chama de globalização das emoções humanas: “Perdas não só agrada a várias gerações, como a culturas diversas. Saiu na Iugoslávia, Israel, Finlândia... Percebi que o ser humano não é tão dife-rente em cada lugar”. O livro traz um tema recorrente em sua obra: a passagem do tempo. Fala também do processo de ama-durecimento, da formação de valores, da vida e da morte.

Lya ressalta que Perdas & Ganhos não é bonzinho, uma receita de felicidade. É um livro de questionamentos e é burrice classificá-lo como auto-ajuda, pois “auto-ajuda tem a intenção de ajudar, do estilo ‘Como ser feliz em dez lições a preços módi-cos’”. A autora classifica a obra como um ensaio moral em tom de conversa com o leitor. Ela diz que ensaio moral nada tem a ver com moralizante, trata-se de discorrer, ensaiar sobre um assunto.

Lya diz ter a impressão “de que nós, seres humanos, esta-mos em uma fase de isolamento” e que o sofrimento nos deixa amargos, mas faz parte da vida. Hoje existe uma cultura louca de que não se pode sofrer. Parece haver uma onda de superfi-cialidade em tudo, deixando as pessoas infelizes. “Poderíamos ser muito mais felizes do que somos”, afirma.

“Escrevo quando tem algo que quer ser escrito, sobre o que não entendo e continuo não entendendo”; para Lya, a li-teratura tem um lado lúdico e deve sempre envolver alegria, prazer e respeito. Um bom exemplo disso são suas crônicas quinzenais na revista Veja. Em resposta às críticas sobre o tom conservador da coluna, a autora diz ser apenas severa com algumas coisas, mas não conservadora.

“Questionar

e não aceita

r”

foto: Luisa Frey

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Lya

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O livro que escreve agora é sobre a incomunica-bilidade, “fala da palavra que dizemos quando devía-mos ter ficado em silêncio ou que deixamos de dizer quando devíamos”. E, assim como em O silêncio dos amantes, “entender essa coisa estranha que é estar vivo” é o que busca Lya na vida e na obra. O tempo é apenas uma convenção criada para marcar nossas atividades. Cada etapa da vida tem suas coisas boas e ruins. Na infância, temos que fazer o que nos mandam; na juventude, a pressão familiar e social é enorme; não é fácil envelhecer, mas talvez a maturidade seja a mais tranqüila das fases. A vida – processo pelo qual somos muito responsáveis – é transformação e não decadência. “O desafio é mudar sempre para melhor. Questionar e não aceitar. Transgredir até o último suspiro.”

Perdas & Ganhos (Record; 156 páginas; 15,90)

Lya foi aluna de Letras do lingüista e gramático Celso Pedro Luft, irmão Marista e vinte anos mais ve-lho. No terceiro ano de faculdade, ele pediu dispensa dos votos e, já na vida “civil”, fez a proposta de ca-samento. Lya e Celso se casaram em 1964, tiveram três filhos e foram felizes por mais de vinte anos.

Após uma separação amigável, veio o segun-do matrimônio, com o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino, em 1985. Ele faleceu pouco mais de dois anos depois.

Em 1992, a união com o Professor Luft foi reto-mada. Na época, ele já estava doente e em 1995, Lya ficou viúva pela segunda vez.

Atualmente, está em seu terceiro casamento, com o engenheiro carioca Vicente Britto Pereira. Há cerca de três anos, os dois residem em Porto Alegre.

Os casamentos

- As Parceiras (1980) - A asa esquerda do anjo (1981) - Reunião de família (1982) - Mulher no palco (1984) - O quarto fechado (1984)

- Exílio (1987) - O lado fatal (1988) - A sentinela (1994) - O rio do meio (1996, prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes) - Secreta mirada (1997)

- O ponto cego (1999) - Histórias do tempo (2000) - Mar de dentro (2002) - Perdas & Ganhos (2003)

Livros Publicados

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foto: Luisa Frey; arte: Thiago Bora

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Videoclipe de 140 minutos

Rebelde psicodélico ou rei do rock?

Show de rock. Platéia alucinada. No palco, os quatro inte-grantes da banda de sucesso absoluto nos Estados Uni-dos: The Doors. São vistos pela imprensa como resposta

norte-americana aos ingleses The Beatles e The Rolling Stones. O vocalista, visivelmente drogado, começa a divagar. Entre ber-ros, simula atos sexuais e exibe a genitália. A polícia não pensa

duas vezes: domina o palco e prende o sujeito. Tudo sob as vaias do público.

Essa história aconteceu em Miami, em 1969, e, como fato marcante na trajetória da banda, está presente no filme que pretende ser uma biografia do “líder”, Jim Mor-rison. Com roteiro do diretor Oliver Stone, escrito em par-

ceria com J. Randal Johnson, The Doors (EUA, 1991) reconstitui alguns acontecimentos no-táveis da trajetória do grupo. O episódio da de-

tenção durante o show não podia ficar de fora.A banda, formada por Jim (voz), Ray

Manzarek (teclados), Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria) teve o nome tirado de um livro de Aldous Huxley. A idéia era que The Doors representasse as portas da percep-ção (“se as portas da percepção fossem abertas, tudo apareceria ao homem como realmente é, infinito”), alusão que um dos músicos faz às drogas. Drogar-se era uma forma de atingir ou-

tra dimensão e visão do mundo. Foi através delas, principalmente do LSD, que Jim largou a timidez

– expressa no início da carreira, quando cantava de costas para o público – e passou a desenvolver uma performance cada vez mais explosiva nos shows.

por Pedro Santos

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São nessas viagens lisérgicas, no entanto, que o filme se perde. As imagens assumem aspecto psicodélico com o som de poemas ao fundo, declamados pelo narrador. A película de 140 minutos seria mais bem aproveitada se momentos longos como esses ficassem restritos à sala de edição. O grande pro-blema do filme, porém, é a visão superficial que faz dos per-sonagens. O mundo de Jim carece de profundidade. A relação dele com os pais – ele mentia dizendo que estavam mortos – é levemente sugerida. O roteiro, inconsistente, não nos ajuda a compreender a perso-nalidade mutável e violenta do cantor. Morrison exalta a morte, desejando-a. Mas por quê? O que o levou a ser assim?

A resposta pode surgir depois, quando o espectador curio-so vai buscar informações extras. A questão é que o roteiro trata os personagens de forma caricatural sem retomar con-ceitos que o próprio script propõe, como a questão dos mitos. Jim é constantemente levado a acreditar – por fãs, empresá-rios e pelas circunstâncias – que ele é a banda, que sem ele os

Doors não seriam nada nem venderiam discos. Nas capas dos álbuns, ele é o rosto do grupo. Ego e vaidade não explorados pelo filme. “Somos nós quem criamos o mito, Jim”, alguém fala no meio da projeção.

Entre uma tragada de whisky e outra, Jim Morrison sur-ge como o sujeito que fala, grita, berra a uma sociedade de conformados: “Vocês são escravos!”. A mudança de persona-lidade dele do início ao fim da carreira é meramente pincela-da. No entanto, a falta de conteúdo é preenchida por música. Praticamente todas as seqüências são ilustradas por canções.

As falhas, porém, não desmerecem a atuação central. Val Kilmer dá vida a Morrison. É dos mais bem sucedidos exemplos de atores interpretando uma personalidade. Aparências físicas e atitudes extravagantes, olhar vago e o jeito de cantar e se mo-vimentar no palco; a coleção de gestos. As escolhas de Kilmer não poderiam ser melhores. Jim está vivo, ainda que o roteiro e a direção deixem a desejar. “Come on, baby, and light my fire!”...;

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Década da ebulição, do experimen-talismo, das drogas e da repressão. “As pessoas eram mais ousadas, di-

ziam o que realmente pensavam”, explica Rodrigo Faour, jornalista, crítico, produ-tor musical e autor do livro História Se-xual da MPB – A evolução do amor e do sexo na canção brasileira. A década de 70 representou a consolidação da revolução sexual no Brasil e foi, ao mesmo tempo, o período de maior repressão da Ditadura (1964-1984) no país.

Falar de sexo nas músicas foi con-seqüência do processo de mudança no comportamento sexual já delineado no mundo pós anos 60 - com o surgimen-to da pílula anticoncepcional -, mas era também uma maneira de protestar con-tra a censura militar no Brasil. “De mea-dos da década de 70, até início dos anos 80 – que coincidiu com um arrefecimento na ditadura -, nós tínhamos uma MPB sensual. As músicas eram políticas, mas também eróticas”, comenta Rodrigo Fa-our. “O politicamente correto surgiu ape-nas na década de 80.”

Assim, era papel da censura proibir nas músicas qualquer referência, pala-vra ou conteúdo considerado “pornográfi-co” ou mesmo “indecente”. Vários termos eram tabus para a época, como “sexo”, “amante”, “macho” e tantos outros. A pa-lavra “tesão” apareceu pela primeira vez em gravação discográfica no ano de 1980, em “Bye, Bye Brasil” (“eu tenho tesão é no mar”), de Chico Buarque e Roberto Me-nescal.

Várias músicas foram censuradas, como Bárbara (1972-1973), de Chico Bu-arque, que tratou do amor lésbico pela primeira vez:

“O meu destino é caminhar assimDesesperada e nua

Sabendo que no fim da noite serei tua”

Amor, sexo, tabus e censura na Música Popular Brasileira a partir dos anos 70

por Marina Veshagen

“Não existe pecado do lado

de baixo do equador”

foto: álbum Rita Lee & Roberto de Carvalho (Som Livre) arte: Maurício Tussi

Rita Lee e Roberto de Carvalho[ m ú s i c a ] 9

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No entanto, diversas outras canções escaparam dos olhos atentos dos censo-res. “A censura era muito burra”, diz Fa-our. Na música “Cavalgada” de Roberto Carlos, por exemplo, “cavalgar” não sim-boliza nada mais do que o ato sexual, mas a metáfora passou despercebida:

“Vou cavalgar por toda a noitePor uma estrada colorida

Usar meus beijos como açoiteE a minha mão mais atrevida”

Faour acredita que o maior tabu quebrado na década de 70 foi o da mu-lher submissa, culpada pelo fracasso dos relacionamentos, que não sentia pra-zer no ato sexual e era moralmente con-denada ao se separar. Vários cantores - como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Gonza-guinha e João Bosco - retrataram uma nova mulher em suas músicas: sensual e que sabia o que queria. A canção de Gon-zaguinha “Ser, Fazer e Acontecer” (1982) expressa bem as mudanças do momento:

“Uma perna de calçaNão dá mais direito a ninguém

De transar o que seja viverE por isso eu prossigo e quero

E grito no ouvido dessa tal de dona moralQue uma mulher pode nunca é deixar

De ser e fazer e acontecer”

A cantora Joyce, no livro História Se-xual da MPB, comenta essa faceta mas-culina. “Todas as letras escritas por mu-lheres são de um planeta completamente diferente das dos homens. Mesmo quando eles escrevem como mulher, com a possí-vel e talvez única exceção do Chico [Buar-que], que tem um encosto de pomba-gira que lhe baixa de vez em quando”. Chico Buarque é um grande referencial tanto para as músicas políticas, quanto feminis-tas e femininas. Retratou desde a mulher “decidida a se modernizar” (“Essa Moça tá Diferente” - 1969), até a que faz questão de dizer que “passa bem demais” sem seu amante (“Olhos nos Olhos” - 1976).

Surgiram também muitas mulhe-res que gritaram sua libertação sexual e comportamental, como Joyce, Rita Lee e Vanusa, que, em 1986, criou a partir de um de seus poemas a canção “Mudan-ças”:

“Tranqüila e pacificadoraMas ao mesmo tempo irreverente e

revolucionáriaFeliz e infeliz, realista e sonhadora,

Submissa por condição, mas independente por opinião

Porque sou mulher com todas as incoerências que fazem de nós

O forte sexo frágil”

Diversos outros artistas transgredi-ram os padrões da época. Ney Matogros-so, por exemplo, em 1978, apareceu nu no encarte do LP “Feitiço”. O cantor ho-mossexual explorou toda a sensualidade masculina. “Ele tinha o corpo todo pelu-do, não sorria, se pintava todo e serviu de incentivo para vários gays se assumirem como tais”, destaca o Faour.

O escritor afirma que muitos tabus permaneceram. “Demorou muito para se falar de fantasias sexuais e de coisas mais vulgares.” Ele afirma que somente o funk carioca de hoje conseguiu romper vários preconceitos. “Foi uma mudança para o bem e para o mal. Muitas letras são ma-chistas, assim como outras são feministas, pois mostram uma mulher que não mais releva uma baixa sexual do homem ou que não se preocupa com a fidelidade.”

A MPB contemporânea é “uma careti-ce sem fim” na visão de Faour. Ele afirma que permanece no cancioneiro nacional o “amor idealizado” que se tornou oficial na década de 40. Nos anos 70, ocorreram im-portantes transformações na sociedade e na música brasileiras, que ainda hoje se processam. “Mas os letristas não estão acompanhando”, desabafa. “Até que ponto somos mais caretas que nossos pais?”

Ney Matogrosso

fonte: mpbnet.com.br

Gilberto Gil

fonte: cifrantiga3.blogspot.com

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por Rodrig

o Tonet

ti

Travessuras da menina má não traz nenhuma

visão nova sobre o relacionamento

amoroso, mas garante horas prazerosas de

leitura

O amor é um dos temas mais recorrentes da literatura. Apesar disso, o escritor peruano Mario Vargas Llosa nunca

havia se dedicado a ele, até o romance Travessuras da menina má. Llosa não chega a ser original ao tratar a questão, mas seu livro apresenta bom ritmo narrativo e consegue ser divertido ao explorar o lado brega do amor. Afinal, há coisa mais piegas que um homem apaixonado?

A história é escrita em primeira pessoa, a partir do relato de Ricardo Somocurcio. Ainda jovem, ele se apaixona “feito um bezerro” – forma mais romântica de se apaixonar, de acordo com a juventude miraflorense – por Lily, uma “chilenita” que de chilena não tinha nada e que arrebatou não só o coração de Ricardito, mas de todos os meninos de Miraflores – bairro de Lima, capital do Peru – durante o verão de 1950. Era o primeiro dos muitos disfarces que a menina má assumiria em sua vida.

Morar em Paris sempre foi o maior sonho da vida de Ricardo, e é na cidade luz que ele reencontra Lily, agora “camarada” Arlete, dez anos depois do verão em que foi tomado pela paixão arrebatadora. Depois do reencontro, Arlete vai parar em Cuba; tinha conseguido

O amor é

brega[ l i t e r a t u r a ]A vida toda. Eu faria você tão feliz que nunca mais iria

me largar.Parou de brincar e me olhou, muito séria e um tanto depreciativa: - Que ingênuo, que bobo você é – disse, separando as sílabas e me desafian-do com os olhos. – Você não me con-

hece. Eu só ficaria para sempre com um homem que fosse muito rico, mas muito rico e poderoso. E você

nunca será, infelizmente.– E se o dinheiro não trouxer felici-dade, menina má?– Felicidade, eu não sei nem me in-teressa saber o que é, Ricardito. Mas tenho certeza que não é essa coisa romântica e brega que você imag-ina. O dinheiro dá segurança, pro-teção, permite aproveitar a vida se

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302 páginasAutor: Mario Vargas Llosa Tradução: Ari Roitman e Paulina WachtEditora: AlfaguaraPreço: R$ 39,90

uma bolsa do governo cubano para receber treinamento guerrilheiro e Paris era apenas uma escala na viagem – foi o jeito que a menina má encontrou para deixar o Peru.

A partir de então a história se repete, são vários encontros e desencontros durante o livro, sempre numa cidade diferente. Assim, em segundo plano, Vargas Llosa traça um breve panorama da segunda metade do século 20: descreve a Paris revolucionária da década de 1960, o clima de psicodelismo e liberdade sexual da Londres hippie dos anos 1970, a Tóquio dos grandes mafiosos dos anos 1980 e Madri na transição política dos anos 1990. Em cada reencontro, a menina má se apresenta com nome e marido diferentes, e Ricardito sempre encarna o papel de bom menino, que não aprende com as travessuras da menina má: cada vez que ela passa pela vida do peruano, causa muito estrago ao seu coração; mas ele não desiste do seu amor, não consegue.

Segundo o escritor, Travessuras da me-nina má apresenta uma visão contemporânea do amor, mais real do que geralmente aparece na literatura. Talvez. Há momentos em que realmente a história se mostra menos ideali-zada do que convencionalmente se costuma escrever, mas ainda há as tramas próprias da ficção que são difíceis (não impossíveis) de associar com a realidade. E o final, apesar de um pouco previsível, convence: termina-se o livro acreditando no amor e com vontade de dizer umas breguices para alguém.

Trecho do livro (página 63):

.......– Se daquela vez, em vez de me despachar para Cuba, você me tivesse deixado ficar ao seu lado, aqui em Paris, quanto tem-

po duraríamos juntos, Ricardito?– A vida toda. Eu faria você tão feliz que nunca

mais iria me largar.Parou de brincar e me olhou, muito séria e um tan-

to depreciativa:– Que ingênuo, que bobo você é – disse, separan-

do as sílabas e me desafiando com os olhos. – Você não me conhece. Eu só ficaria para sempre com um homem que fosse muito rico, mas muito rico e pode-roso. E você nunca será, infelizmente.

– E se o dinheiro não trouxer felicidade, menina má?– Felicidade, eu não sei nem me interessa saber o

que é, Ricardito. Mas tenho certeza que não é essa coisa romântica e brega que você imagina. O dinhei-ro dá segurança, proteção, pemite aproveitar a vida sem se preocupar com o amanhã. É a única felicida-de que se pode apalpar.

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Alerta ha 100 anosPrometo pela minha honra fazer o melhor possível para: cumprir meus deveres para com Deus e a minha Pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à Lei Escoteira

por Adriana Seguro´

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foto: Adriana Seguro; arte: Juliana Sakae

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“Priii... Priii... Priii!”

O chefe “Fred” apita três vezes na sede do Grupo Escoteiro (GE) do Ar Jayme Janeiro Rodrigues, no bairro Coloninha, em Florianópolis. É tarde de domingo.

Lobinhos, escoteiros e sêniores se organizam. Fazem fila com seus colegas de patrulha, com um braço de distância de cada um. Em seguida, levam os três dedos do meio da mão direita à testa. Fila após fila, correm em círculo até formarem uma grande roda. Hastear a bandeira do Brasil, fazer uma oração, cantar uma ou outra música, dar os gritos de tropas e patrulhas, tudo isso forma o ritual de abertura de uma atividade escoteira. “Sempre alerta” – o lema escoteiro - é o grito em coro.

“Fazer um tripé de bambu que suporte o meu peso”: é em tom de brincadeira que Frederico – o chefe escoteiro “Fred” - passa a primeira tarefa do dia para os representantes da Tropa Sênior presentes. Os sêniores são provocados com desafios, os escoteiros fazem exercícios agitados para se desenvolverem, e as atividades dos lobinhos são mais leves e repletas de mística. Os mais velhos, os pioneiros - ausentes na atividade do dia - estão mais próximos da comunidade, realizando ações sociais.

No dia 1º de agosto de 2007, o movimento escoteiro comemora o seu centenário. Ao alvorecer do dia, jovens de todo o mundo se reúnem em suas cidades para renovar a Promessa Escoteira, no chamado “Amanhecer do Escotismo” – um evento organizado pela Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME).

Mais de 28 milhões de pessoas hoje estão ligadas à Orga-nização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME) e mais de 41 mil brasileiros à União dos Escoteiros do Brasil (UEB). O esco-tismo surgiu em 1907 e chegou ao Brasil em 1910. A pedido do seu fundador Baden-Powell, foi criada a UEB, em 1924. É um órgão consolidado no país, responsável por estabelecer regras, sugerir e organizar a prática escoteira brasileira. Porém, em março de 2007, surgiu uma instituição dissidente. A Associação Escoteira Baden Powell (AEBP) – representante da Federação Mundial de Escoteiros Independentes (WFIS, na sigla em inglês) no Brasil – que pretende dar maior autonomia às associações locais, competindo com a UEB na filiação de grupos

escoteiros.

Quem e quem no Grupo Escoteiro?

Os jovens são agrupados em ramos, de acordo com as faixas de de-senvolvimento do ser humano:Alcatéia: lobinhos (7 a 10 anos)Tropa Escoteira: escoteiros

(11 a 14 anos)Tropa Sênior: sêniores (15 a 17 anos)

Clã Pioneiro: pioneiros (18 a 21 anos)Cada ramo é divido em grupos. Os lobi-

nhos se separam em matilhas e os outros ra-mos em patrulhas, cada uma com um nome e um grito. Essas divisões auxiliam o trabalho em equipe e a competição entre patrulhas.

Lei EscoteiraI. O Escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais do que a própria vida.II. O Escoteiro é leal.III. O Escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e pratica diariamente uma boa ação.IV. O Escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais Escoteiros.V. O Escoteiro é cortês.VI. O Escoteiro é bom para os animais e as plantas.VII. O Escoteiro é obediente e disciplinado.VIII. O Escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades.IX. O Escoteiro é econômico e respeita o bem alheio.X. O Escoteiro é limpo de corpo e alma.

foto: Adriana Seguro

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foto: Adriana Seguro

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O militar inglês Robert Stephenson Smyth Baden-Powell foi o fundador do escotismo. Robert nasceu a 22 de fevereiro de 1857, em Londres. Ele e seus seis irmãos tiveram uma infância ao ar livre, em excursões e acampamentos pela Inglaterra.

Baden-Powell entrou para a carreira militar aos 19 anos. Em 1901, o então general ficou conhecido na Inglaterra pela sua coragem em expedições na África. O seu livro escrito para militares - Ajudas ao Escoteiro - ficou famoso também entre a população civil.

Impulsionado pelo sucesso do livro, Baden-Powell promoveu um acampamento experimental na Ilha de Brownsea, na Inglaterra. Com 21 crianças de 11 a 12 anos e seu sobrinho de nove, deu início à experiência no dia 1º de agosto de 1907. Esse é considerado o marco inaugural do escotismo no mundo. Após os oito dias de acampamento, o militar seguiu passos para a criação e o desenvolvimento do movimento no mun-do. Os princípios de seu livro Escotismo para rapazes, publicado em 1908 em seis fascículos, é utilizado até hoje como manual pelos grupos escoteiros.

O Projeto Educativo da UEB prevê que o jovem assuma o desenvolvimento de seu caráter e de suas potencialidades físicas, intelectuais, sociais, afetivas e espirituais. Os chefes escoteiros afirmam que por trás de um simples jogo de bolinhas ou de lições sobre acampamentos, há sempre um objetivo maior – como trabalhar a responsabilidade, a consciência social, a coordenação motora, a imaginação, a desinibição. “É o aprender fazendo. Os ensinamentos sobre sobrevivência na selva, por exemplo, ajudam cada um a conhecer seus limites para então partir para a atividade com o próximo e saber conviver em equipe”, diz Maireli Dittrich, chefe do ramo sênior do Grupo Escoteiro Desterro, em Florianópolis.

O movimento escoteiro é uma ONG que fala de Deus, mas não é religioso, e sim espiritualista. “Há um incentivo ao desenvolvimento da espiritualidade de cada um, mas não temos uma religião comum”, explica Frederico Pinto Junior, chefe escoteiro e presidente do GE do Ar Jayme Janeiro Rodrigues, de Florianópolis.

Os grupos escoteiros costumam se reunir uma vez por semana – aos sábados ou domingos - em suas sedes, além de realizarem acampamentos, encontros e atividades sociais. Os jovens participantes pagam uma mensalidade em torno de 15 reais. Os jogos – sugeridos por livros ou criados pelos próprios chefes escoteiros - trabalham com a competição. Para Frederico, ela é muito importante na fase juvenil. “A competição é trabalhada

como ferramenta para a aprendizagem, e não como finalidade.”Calça jeans, camisa de tecido, lenço, chapéu e diversos

emblemas costurados nas camisas. Os escoteiros exibem em seus trajes os distintivos das especialidades acumuladas em cada ramo (como cozinheiro, primeiros socorros, informática), dos encontros e atividades especiais das quais participou. Nos acampamentos, os escoteiros são responsáveis por montar as barracas, tripés e tudo o que for preciso para a permanência no local, como cozinhar. A modalidade básica do escotismo - de uniforme caqui - incentiva os esportes terrestres e o contato com a natureza. Existem grupos que trabalham com áreas adicionais: os escoteiros do ar – de uniforme azul - trabalham técnicas e a história da aeronáutica; o escotismo do mar – que usa branco – ensina noções marinheiras.

Por ter sido criado por um general, o escotismo apresenta semelhanças com o militarismo, à primeira vista. Ao soar de três apitos, os jovens formam-se em filas; e só um pede silêncio e atenção de todos: “alerta aqui!”. “É apenas uma maneira de manter a ordem de forma fácil e diferente, sair da rotina das escolas”, explica Maireli. “Nós tentamos nos desvincular completamente do paramilitarismo”, completa Frederico. O clima entre adultos e jovens é de descontração e respeito.

foto: Adriana Seguro

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O verdadeiro amanhecer do escotismo

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“Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”A Casa do Seu Machado: futebol, carnaval e religião

foto: Adriana Seguro

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por Marina Almeida

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Ruas estreitas, de pedra. Pessoas caminhando lentamente, conver-sando no portão. Pequenas mer-

cearias, padarias; a associação de mo-radores, o barracão de escola de samba - lembranças de uma vida pacata de uma cidade de interior. Encontra-se o mesmo cenário no bairro Caieira do Saco dos Limões, em Florianópolis. E no centro dele, a construção mais peculiar do bair-ro: a Casa do Flamengo, ou simplesmente a casa de Seu Machado.

A casa é um reflexo do dono. Alcides Machado tem 68 anos e sempre viveu em Florianópolis. O policial aposentado tem três paixões: o Flamengo, time de futebol; a Consulado, escola de samba da capital catarinense; e o catolicismo.

Essas paixões estão representadas na casa. Objetos vermelhos e pretos (cores do Flamengo) se misturam com santos, anjos e restos de fantasias carnavalescas. Ao avistar a casa de longe, não se recon-hece nada além das cores. Ao chegar mais perto, percebe-se a miscelânea de elemen-tos: troféus do time, imagens religiosas, bolas de isopor, telefone, parte de ventila-

dor, cadeira, etc. A parte externa da casa é decorada com mais objetos, algumas fotos, vinis, canecas e CDs colados nas paredes. “Quando o sol bate, os CDs refletem e dá pra ver lá de longe”, diz seu Machado. O telhado é todo coberto com lâmpadas, que fazem o papel dos CDs e do sol durante a noite.

Como tudo começou? “Quando eu fui pra Curitiba e vi um muro cheio de pedras de cachoeira”. Seu Machado achou boni-to, mas como não encontrou as pedras em Florianópolis, resolveu construir somente para decorar o muro do seu jeito. Antes só havia uma cerca separando a casa da rua. Ao longo dos 20 anos que se seguiram, a casa se transformou de forma significa-tiva.

Todas as manhãs, Seu Machado caminha pelo bairro à procura de novas peças de decoração, são objetos considera-dos lixo pelas outras pessoas. Ele compra algumas peças pensando na decoração da casa. Mas não é só através das caminha-das do dono que a lugar se transforma. Muitos vizinhos e visitantes doam obje-tos que dizem combinar. É o caso de um

grande urso de pelúcia, que está logo ao lado da entrada da casa, e foi doado por uma menina que visitou a casa. Para o dono, “a casa nunca está pronta, sempre falta alguma coisa”.

A re-significação dos objetos é o ponto forte da Casa do Flamengo. Cada objeto tem história, valor e utilidade. En-tretanto, ao serem expostos juntos, como decoração, passam a ter um novo valor e utilidade. Esse conceito fica claro ao nos depararmos com uma chaleira e uma ca-deira penduradas, ao lado de canecas em galhos de árvores.

Na excessiva decoração, chama a atenção uma pequena capela, dedicada a Nossa Senhora Aparecida. Isolada em um canto da varanda, com bancos em frente, foi construída por Seu Machado com a ajuda de um pedreiro. Todos os anos, no dia 12 de outubro (dia dedicado a Nossa Senhora Aparecida), membros da comu-nidade vão à capela de Seu Machado para rezar. Também nesta parte da casa que está a bandeira do Brasil, um dos poucos elementos que não é preto e vermelho.

A religião é importante para o dono

Ele afirma que até tem outras camisetas, mas sempre é visto com camisetas do time. Diz que tem cerca de cinco do Flamengo,

mas só comprou duas.

Todos os dias uma vizinha vem trazer o almoço de Seu Machado, “o telefone é pra

comida chegar mais rápido”.

“O anjo é pra chegar só boas notícias pelo correio”

Tour Casa do Flamengo

Telefone no portão Camisetas do Flamengo Caixa do correio com anjo em cima

fotos: Adriana Seguro

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Localizado na parte de trás da casa, o barco é um dos objetos preferidos. Foi trazido do Rio de Janeiro há 15 anos, quando

Seu Machado foi assistir o Flamengo no Maracanã. Até esse dia, Seu Machado tinha

um cabelo estilo black power, mas, para ganhar as passagens pro Rio de um amigo,

cortou.

A paixão de Seu Machado pelo Flamengo é tanta que ele não se

contenta em demonstrá-la apenas com a casa ou com as camisetas que veste regularmente: fez duas

tatuagens no peito, com o brasão do time. Pra quê? “Pra quando eu for na praia as pessoas saberem que sou

flamenguista.”

Todos os dias, por volta das 17h, Seu Machado hasteia a bandeira do Flamengo, em um mastro

localizado perto do muro da casa. Em cima desse mastro existe um chapéu, parte de uma fantasia carnavalesca. Pode parecer estranho

para quem olha, mas Seu Machado explica: “foi o chapéu que desfilei ano passado. Quando a

Consulado foi campeã do carnaval e o Flamengo ganhou a Copa do Brasil”.

da Casa do Flamengo. Além de ir à mis-sa, todo domingo distribui doces para as crianças da comunidade nos natais. Du-rante o ano, Seu Machado recolhe lati-nhas de metal vazias, juntando-as em um carrinho de supermercado que fica na va-randa. Em dezembro, vende todas e, com o dinheiro, compra os doces. Na noite de Natal, veste-se de Papai Noel e sai pelo bairro. “Os mais velhos já sabem que sou eu, mas eu nunca confirmo”, se diverte. Ele se orgulha: uma foto vestido de Papai Noel ao lado das crianças ocupa lugar de destaque na parede externa da casa.

Outro objeto que se destaca, pela di-ferença de cor, é uma cabeça de leão que está pregada na parede de fora da casa. É parte de uma fantasia da Consulado. Todo o ano Seu Machado desfila pela escola do bairro. Ele garante que dá sorte, a Consu-lado ganhou os carnavais de 2005, 2006 e 2007.

Dentro da casa, está um objeto que cumpre exatamente a função para a qual foi feita: a TV. É nela que Seu Machado as-siste a todos os jogos do rubro-negro. Na sala, única da casa, também está a ban-deira do Flamengo, hasteada todo dia. A cozinha é um dos poucos lugares em que não há muitos objetos remetendo ao time, porém é só ligar o aparelho de som que o hino do Flamengo começa a tocar.

Mesmo sem sistemas de segurança, Seu Machado garante que ninguém que-bra nem rouba nada. “Só uma vez que duas vizinhas mexeram. Mas conversei com os pais delas, eles pediram desculpa e isso nunca mais se repetiu”.

E assim os objetos de Seu Macha-do seguem intactos. Pra quem pensa que ele só quer aparecer, ele confirma: “não adianta eu ver, os outros têm que ver tam-bém”.

Barquinho Mastro e chapéu da Consulado Tatuagens

foto: Iana Lua

fotos: Adriana Seguro

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Tudo começou no ano de 1974, na praia da Joaquina, Florianópolis. “Não, na verdade já havia começado antes”,

corrige-se Cantídio dos Santos. O manezin-ho, mais conhecido como Chico, trabalhava no bar da faculdade de Bioquímica da Uni-versidade Federal. Os três meses de férias de verão eram um problema. Só curtir era uma opção, mas como precisava do din-heiro, o conselho empreendedor do irmão caçula veio a calhar.

Chico decidiu deixar de ser empre-gado e, com alvará temporário da prefeit-ura, abriu uma barraca na praia. O irmão, dono original do apelido “Chico” (e o nome dele não era Francisco, mas Jaci!), era seu sócio. A barraca não tinha nome, mas es-cutava-se o tempo todo “Chico pra lá, Chico pra cá”. Quando este deixou a sociedade, Cantídio acabou incorporando o apelido.

“Naquela época, a praia da Joaquina só tinha os surfistas e suas ‘cocotinhas’”, lembra Chico. Com esse público fiel aliado a uma filosofia de nunca se acomodar, o jovem transformou a barraca de praia no “Bar do Chico, o Rei da Caipirinha”. A Flo-rianópolis dos anos 70 era carente de bares e o novo estabelecimento “chegou para ar-rebentar”. Desde a pessoa mais humilde, até celebridades como o governador, todo mundo freqüentava o bar. “O que acontecia no verão, acontecia no Chico.”

O sucesso foi ainda maior com o lan-çamento do famoso torpedo de siri. Os tempos de serviço à Marinha o inspiraram a criar - em conjunto com a esposa Nor-meci - o bolinho em formato da máquina de guerra submarina. Normeci ficou com medo de que o nome virasse gozação em terra de surfistas. Pelo contrário, logo pe-gou e era comum se escutar brincadeiras do tipo “cuidado, um torpedo de siri vai te atingir!”. O aperitivo virou tradição e é servido hoje em muitos restaurantes da

Lar do ChicoA história, a rotina e os personagens de um dos mais tradicionais restaurantes de Florianópolis

Tudo começou no ano de 1974, na praia da Joaquina, Florianópolis. “Não, na ver-dade já havia começado antes”, corrige-

se Cantídio dos Santos. O manezinho, mais conhecido como Chico, trabalhava no bar da faculdade de Bioquímica da Universidade Fe-deral. Os três meses de férias de verão eram um problema. Só curtir era uma opção, mas como precisava do dinheiro, o conselho empreende-dor do irmão caçula veio a calhar.

Chico decidiu deixar de ser empregado e, com alvará temporário da prefeitura, abriu uma barraca na praia. O irmão, dono origi-nal do apelido “Chico” (e o nome dele não era Francisco, mas Jaci!), era seu sócio. A barraca não tinha nome, mas escutava-se o tempo todo “Chico pra lá, Chico pra cá”. Quando este dei-xou a sociedade, Cantídio acabou incorporando o apelido.

“Naquela época, a praia da Joaquina só tinha os surfistas e suas ‘cocotinhas’”, lembra Chico. Com esse público fiel aliado a uma fi-losofia de nunca se acomodar, o jovem trans-formou a barraca de praia no “Bar do Chico, o Rei da Caipirinha”. A Florianópolis dos anos 70 era carente de bares e o novo estabelecimento “chegou para arrebentar”. Desde a pessoa mais humilde, até celebridades como o governador, todo mundo freqüentava o bar. “O que aconte-cia no verão, acontecia no Chico.”

O sucesso foi ainda maior com o lança-mento do famoso torpedo de siri. Os tempos de serviço à Marinha o inspiraram a criar - em conjunto com a esposa Normeci - o bolinho em formato da máquina de guerra submarina. Normeci ficou com medo de que o nome viras-se gozação em terra de surfistas. Pelo contrá-rio, logo pegou e era comum se escutar brin-cadeiras do tipo “cuidado, um torpedo de siri vai te atingir!”. O aperitivo virou tradição e é servido hoje em muitos restaurantes da ilha.

Lar do ChicoA história, a rotina e os personagens de um dos

mais tradicionais restaurantes de Florianópolis

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fonte: www.casadochico.com

por Luisa Frey

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Em 1986, o ex-marinheiro vendeu o Bar do Chico e abriu o Chico’s Bar na Avenida Beira-Mar Norte. Mais um bom negócio. Em 1988, o proprietário recebeu uma oferta irrecusável e vendeu o ponto na Beira-Mar. Mas Cantídio não tem do que reclamar. A Casa do Chico, hoje de frente para a Lagoa da Conceição, é tradição na ilha e visita obrigatória para os turistas. Ao lado do restaurante, fica o Chico’s Music Bar, uma mistura de bar e danceteria.

Sábado, 9h30 da manhã. Valdeci, um dos 29 irmãos de Chico e gerente da Casa, re-cebe as mercadorias nos fundos. Tudo chega in natura e é preparado no próprio restaurante.

O turno do dia começa cedo, às 8h, e vai até ás 18h. Na cozinha, o chef Nes-tor Larossa Moreno - negro, de meia-idade e “encorpado” - circula pra lá e pra cá. Uma das ajudantes lava dezenas de pés de alfa-ce, outro pica legumes, enquanto Adenildo

- cozinheiro da Casa há 11 anos - descasca mandioca. Ao todo, são quatro ajudantes e dois cozinheiros.

No centro, um enorme fogão indus-trial com cerca de dez panelões a cozinhar. Duas grandes geladeiras, também indus-triais, armazenam o que já está semipronto tanto para o dia, quanto para a noite. Ade-nildo agora esquenta a chapa, que deve ter dois metros por um, e limpa-a com óleo e sal, raspando com uma espátula.

O garçom Getúlio prepara as mesas, arrumando pratos, talheres, galheteiros. Durante a semana, a Casa conta com qua-tro garçons por turno. Sábado são cinco; domingo, seis. Getúlio diz que o prato mais pedido é a seqüência de camarão e, quando é época, a tainha também faz sucesso.

- E a caipirinha?- Não é mais tão pedida quanto na

época do Rei, mas ainda sai bem. Da cozinha, despontam duas bo-

quetas (uma espécie de janela): uma para

a saída dos pratos e outra para a entrada de louça suja. A máquina de lavar louça, assim como a de copos, esteriliza tudo com água a 100°C. Quem lida com os copos e prepara as bebidas são os dois copeiros.

Está tudo pronto. Às 11h30, as portas se abrem e agora é aguardar os fregueses. Meio-dia chegam os primeiros, dois casais. Escolhem uma mesa na janela, onde têm o privilégio de contemplar o magnífico espe-lho d’água, ainda mais bonito em um dia de sol como este. Em seguida, uma grande mesa se enche com uma família numerosa, provavelmente freqüentadora assídua do restaurante. Antes das 13h, já são seis as mesas ocupadas.

É mesmo impossível o restauran-te ficar vazio. Ambiente agradável, gente simples e de boa vontade, sempre com um sorriso no rosto. A Casa do Chico lembra mais um lar, aconchegante e acolhedor.

Chico Valdeci Adenildo GetulioBigode, um pouco

careca, camisa esporti-va. Aos 30, Cantídio dos Santos descobriu ser um ano mais velho. Culpa do pai, que o registrou

atrasado. Hoje, Chico dá a idade da certidão: 63

anos.

O gerente da Casa - óculos, cabelos grisalhos, jeito sério - é a con-

tradição em pessoa. Diz não gostar de trabalhar nem de lidar com o público. Considera o ser humano, ignorante e grosso, a pior espécie da face da terra. Mesmo assim, é

dedicado, simpático e querido pelos funcionários.

Manezinho, com cara de menino, Adenildo Florindo é cozinheiro do restaurante há 11 anos. Começou em um barco pesqueiro,

onde aprendeu a fazer comida caseira. Ade-nildo conta que o que mais lhe encanta no trabalho é quando alguém pergunta quem

fez o prato e o elogia. Para ele, a pior coisa é receber crítica. Na ausência do chef, Adenil-

do é o encarregado pela cozinha.

Funcionário há 14 anos, um dos dois garçons mais antigos, Getúlio Pinheiro é gaúcho, mas já se conside-ra “cataúcho”. Com 38 anos de profissão, fez curso no

Senac e chegou a trabalhar no refinado Terraço Itália,

em São Paulo.

A Rotina

20fotos: Luisa Frey

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Simples e refinado ao mesmo tempo, criado pelo próprio Chico, o prato representa o restaurante na edição 2007 do festival gastronômico Brasil Sabor. O linguado é um peixe leve, se desfaz na boca e a camada crocante de corn flakes que o envolve lhe dá um toque a mais. É interessante também a inusitada combinação entre peixe e bacon. Além das cenouras, o arroz com passas, cerejas e licor Cointreau dão um sabor adocicado à receita. Não podia faltar o tradicional molho tártaro que acompanha os pratos da casa e - estando em Florianópolis - o camarão, é claro.

•2 filés de linguado (150-200 g)•8 tiras de bacon (pré-frito)•50 g de flocos de milho (corn flakes)•4 camarões médios•150 g de arroz•2 colheres de sopa de uvas passas•4 cerejas em conserva (3 para o arroz e 1 para decorar)•50 ml de licor Cointreau•4 ramos de brócolis•50 g de cenoura baby•50 g de batata baby

Tempere os filés com sal, limão e pimenta branca e deixe absorver os temperos por 10 minutos. Enrole cada filé com 4 tiras de bacon e prenda-os com palitos. Em seguida polvi-lhe com trigo, passe no ovo e empane com corn flakes bem moído, de maneira uniforme. Repita o processo para empa-nar os camarões. Frite-os no óleo em uma temperatura mé-dia de 150°C, por aproximadamente 10 minutos para o filé de peixe e 5 minutos para os camarões. Deixe as passas e 3 cerejas picadas de molho no licor por cerca de 5 minutos, enquanto os legumes cozinham. Em uma frigideira, coloque o arroz já cozido, adicione as passas e as cerejas e mistu-re bem em fogo brando por 2 minutos. Decore o arroz com a cereja inteira, hortelã e salsinha a gosto. Acomode os filés no centro da travessa e os camarões e legumes em volta.

Ingredientes

modo de preparo

Receita

Linguado crocante a moda do Chef`

Casa do ChicoAv. das Rendeiras, 1620

Lagoa da Conceição, FlorianópolisFone: (48) 3232-5132

Terça a domingo das 11h30 às 0h30;

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fonte: www.brasilsabor.com.br

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A cantora vai além da sonoridade das palavras, e brinca com a linguagem. Uma música que encanta.

[ e n t r e v i s t a ]

Cheiro de chuva

Ive Luna cresceu ouvindo na vitrola o disco de vinil teimoso e velho. Ainda novinha, decidiu estudar piano. Depois, fez aulas

de violão, canto, teatro. Graduou-se em música pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), participou do Grupo Cupuaçu de Pesquisa e Danças Populares (entre 1991 e 1992) e do grupo Teatro Jabuti (de 1992 a 2003), com atuação na direção musical, pesquisa e composição de trilhas sonoras. Hoje, é vocalista da banda Cravo-da-Terra.

Solta no braço da poltrona rosa – pessoa literalmente em prosa -, Ive fala à ponto-e-vírgula sobre sua vida, trabalho, estudos e, claro, música.

Ive Lunapor Thiago Bora

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fonte: www.soldaterra.com.br

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Ponto-e-vírgula - Quando começou seu interesse pela música?Ive Luna - Minha família sempre foi muito festiva. Tenho lembranças muito musicais de minha infância, tanto na casa de meus pais quanto na de meus avós. Em casa, meu pai tocava violão, bandolim e cantava. Minha mãe tocava piano, triângulo e cantava também. Tocavam baião, valsa, músicas latinas, seresta. Na casa de meus avós, no subúrbio do Rio de Janeiro, meu bisavô tocava violão e todos cantavam. A música pra mim sempre simbolizou a festa onde se partilha do pão. Comecei a estudar piano aos nove anos, violão aos 13 e canto aos 18. Desde muito cedo a música me alimentava, me acalmava, me ninava e me punha de pé. No entanto, nunca pensei que fosse possível viver de música. A decisão de tê-la como profissão veio bem tarde. Aos 14 anos comecei a estudar teatro, pensando em ser professora ou coisa assim. Porém, na maioria das vezes que eu era chamada para algum espetáculo, me encarregavam de tocar e cantar. Decidi, então, estudar música para tocar e compor para o teatro. Aos 24 anos comecei a estudar flauta para tocar no Teatro Jabuti. Hoje não trabalho mais com teatro, embora continue pesquisando e fazendo trilhas, o que me deixa mais tranqüila.

; - Ter participado do grupo Teatro Jabuti, na direção musical, pesquisa e composição de trilhas sonoras, ajuda na hora de compor para o Cravo-da-Terra?Ive - Ajuda muito. Para compor uma trilha é preciso certo compromisso com a linguagem desenvolvida no espetá-culo. É preciso atentar para a unidade e para o tempo de cada cena. Embora eu não tenha o mesmo compromisso quando componho simplesmente, a experiência de com-por trilhas me tornou consciente dos elementos que uso. Componho com liberdade, mas sempre dou uma olhadi-nha no que fiz.

; - O teatro ajuda na interpretação das músicas na hora de cantar no palco? Ive - Ter estudado teatro ajuda principalmente na minha concentração e no meu equilíbrio. Ajuda também a encontrar meu espaço no palco e a viver a relação que construí com esse espaço durante a minha trajetória. O palco hoje é, para mim, o lugar onde revivo as festas de minha infância, onde posso compartilhar com meus colegas de trabalho e com o público aquilo que é mais verdadeiro em mim e o que escolhi fazer de minha vida. É para interpretar as músicas que hoje subimos no palco. E se estivermos inteiros, elas vêm puras e aparecem como são. É claro que, para tanto, muitas horas de estudo foram despendidas.

; - E quantas horas por dia você dedica à música, além dos ensaios com a banda?Ive - Isso depende muito. Quando estou menos atarefada, consigo estudar umas duas horas, ou compor, ou terminar um arranjo. Como trabalho com outros músicos, tenho ensaios quase todos os dias. É fundamental, portanto, ter pelo menos essas duas horas por dia para dar uma olhada em tudo, mas nem sempre consigo.

“O palco hoje é,

para mim, o lugar

onde revivo as festas de minha infância”

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fonte: www.soldaterra.com.br

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; - Como você divide seu tempo, entre ensaios e estudos?Ive - É muito maluco esse negócio de tempo. Todos devemos estudar em casa para aproveitar melhor o ensaio. No entanto, temos outros trabalhos. Vivemos correndo atrás das rédeas do tempo, mas não a alcançamos ainda. Sou dona de casa. Preciso fazer almoço. Meus ensaios são sempre à tarde. Portanto, tenho de estudar pela manhã, entre cafés e almoços. À noite prefiro compor e escrever projetos.

; - Nas horas livres você gosta de fazer o quê?Ive - Eu gosto de dormir. Acho que dormiria muito mais, se pudesse. Gosto de ler um bom livro. Adoro umas caminhadas longas na praia, umas corridas no asfalto e umas braçadas na piscina. Cinema é sempre uma ótima pedida. Uma mesa com boa comida e muitos amigos. Jogar conversa fora com minha filha adolescente é incrível e pega-pega com a filha menor é também muito divertido. Namorar é bom também!

; - Você canta e toca vários instrumentos de sopro –

flauta transversa e flauta de bambu, por exemplo. Quais os cuidados que você tem com a voz e o corpo?Ive - Eu tento sempre me poupar. Durmo bem, me alimento com consciência e pratico exercícios. Evito ingerir bebidas geladas. Mas gosto de uma cervejinha, quando não vou cantar naquela semana.

; - De todos os instrumentos que você toca, qual acha o mais complicado? Por quê?Ive - Acho complicado tocar flauta transversa, porque preciso tocá-la no palco e não sou instrumentista. Com os outros que toco não tenho nenhum compromisso. Divirto-me à vontade.

; - Você disse, em um show que fizeram na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que o maior público de vocês são as pessoas daqui de Florianópolis. Como é a sua relação com esses fãs?Ive - Florianópolis é o lugar onde eu cresci, engordei, fiquei bem forte. Andei muito descalça por essa ilha, quando nela ainda havia muita terra. Trago em mim o cheiro da chuva e do sal, nos dias de matar aulas. Lembro as cenas dos filmes proibidos no cinema da UFSC, das caminhadas noturnas, dos banhos de lagoa para despertar. O público daqui, pra mim, tem esse mesmo cheiro e humor jovial. É um público colorido e desencanado. É por esse público que tenho mais respeito.

; - Você já se apresentou em vários lugares, qual foi o mais inusitado?Ive - Aconteceu um fato muito engraçado com o Cravo-da-Terra: era férias de verão e nós estávamos fazendo uma pequena turnê pelo litoral de Santa Catarina. Em São Francisco do Sul havia uma tenda em uma pequena praça, onde se realizavam as missas diárias. No dia de nossa...

“Trago em mim o cheiro

da chuva e do sal, nos dias de matar

aulas”

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fonte: www.soldaterra.com.br

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apresentação a prefeitura do município não avisou aos fiéis que no lugar da missa haveria nosso show na tenda. O padre estava presente. Nós já havíamos passado o som. Estava tudo pronto. Os fieis foram chegando e se acomodando nas cadeiras de plástico. Quando a tenda estava lotada, o padre anunciou que haveria um show muito cultural com a orquestra Cravo-da-Terra. Os fiéis ficaram desconfiados e nós também. Demos boa noite a todos e começamos a tocar. O público começou a ir embora. Sobraram umas cinqüenta pessoas curiosas. Foi bem difícil e muito engraçado. Tocamos na missa e não agradamos muito.

; - E o quê você procura fazer, então, quando vê que a platéia não está gostando muito?Ive - Continuo firme e forte. Tenho muita crença na arte que fazemos com verdade. Sempre busco entender o que pode estar acontecendo para tentar mudar o quadro. Mas, na maioria das vezes, infelizmente, não há o que fazer se não tentar mostrar que o que temos pra oferecer é tudo o que temos, e podemos compartilhar com quem estiver disposto.

; - Sente um nervosismo antes de pisar no palco?Ive - Sempre. E é muito importante, a meu ver. Ficar um pouco nervosa me deixa atenta e me obriga a usar técnica e concentração. São duas coisas importantes para começar uma apresentação, até que ela esquente.

; - Quanto tempo de trabalho para produzir o primeiro CD?Ive - O primeiro CD foi resultado de dois anos de pesquisa e composição. Fizemos duas turnês pelo estado com o show e só depois gravamos.

; - De onde vêm as inspirações para compor?Ive - De quase tudo. De coisas que observo, que sonho,

que vivencio. De histórias que me contam. De sensações, de frio, de aperreio. Às vezes imagino cenas com cores e movimentos, e aí elas já têm um som, uma música tocando. Outras vezes penso numa história toda inteira, com um personagem. Mas acho que componho, principalmente, partindo de coisas que gostaria de compreender melhor.

; - A vitrola ainda te chama pra dançar?Ive - Bastante. E eu sempre vou, é claro!

“Demos boa noite a todos e começamos

a tocar. O público

começou a ir embora”

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“Tenho muita crença na arte que

fazemos com verdade”

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Cada detalhe, cada momento, tudo fica em nossa memória.Nas páginas a seguir, Luisa Frey e Lucas Sarmanho compartilham suas experiências com os leitores.A propósito, você já foi ao estádio ver um jogo de futebol?

A primeira vez ninguém esquece

foto: Pedro Santos arte: Maurício Tussi

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foto de luisa frey, direto de seu assento de madeira

Para a maioria dos torcedores, 29 de abril de 2007 não passou de mais um dia de final do campeonato pau-

lista. Mas a partida entre Santos e São Caetano ficará marcada como meu pri-meiro jogo em um estádio de futebol.

Nunca pensei que ir ao estádio pu-desse ser um programa tão tranqüilo e familiar. Isso mesmo, quem me levou ao jogo foi meu pai, apaixonado santis-ta, acompanhado de minha mãe e meu irmão. Eram várias as famílias presen-tes, principalmente pai e filho.

A expectativa era de um Morumbi – oficialmente, Estádio Cícero Pompeu de Toledo - lotado e, por isso, chega-mos pouco depois das 14h. De cara, uma surpresa: nosso lugar era cober-to, com bancos de madeira e... vazio! E não foi só porque era cedo. Mesmo com um público de 32 mil pessoas, com ca-

pacidade para 80 mil, o Morumbi não encheu (com exceção da parte das tor-cidas organizadas – a do São Caetano em extrema desvantagem). Assistimos ao jogo confortavelmente sentados. Nada de muvuca de torcedores. Nem “ola” teve.

O mais divertido do pré-jogo fo-ram os mascotes. Nunca imaginei ver um pássaro azul com roupa de futebol (São Caetano) e uma baleia (Santos) – apesar de ser um mamífero, as cores preto e branca combinam com o “peixe” – disputando a bola.

O jogo começa. Na TV, o campo pa-rece bem maior e, ao vivo, não há toda aquela aura de espetáculo. Os jogadores parecem mais humanos e o jogo, uma pe-lada qualquer.

No segundo tempo, o time parece ter acordado. Por sorte, com os lados invertidos, o jogo se concentra onde es-tamos. Apesar de demonstrar rapidez e agilidade, o “peixe” atacava, atacava, mas não conseguia finalizar. Chutes a gol foram quase nulos. Até entrei no clima de gritar, mas nem tanto quanto um tor- cedor fanático, que falava diretamente

com o juiz e sabia o nome de todos os jogadores.

Faltando 15 minutos para o fim, nosso goleiro se desespera e comete um pênalti desnecessário. Dois a zero para o São Caetano. Mesmo eu pedindo, em pensamento, “façam um gol pra mim, é a primeira vez que venho ao estádio!”, o grito de gol ficou apenas para o coro “gol, gol, gol”, durante um escanteio.

Na saída, a multidão santista esva-ziava o estádio cabisbaixa. A decepção era geral. Um pai consolava o filho, di-zendo que ainda viriam outros 90 minu- tos (a final tem 180, separados em dois jogos).

Eu não preciso de consolo. É diver-tido torcer, mas o fanatismo não entra em minha cabeça. É claro que seria mais animador ver o Santos vencer. No en-tanto, continuo achando que, se o time ganha ou perde, nada muda em minha vida. Valeu a experiência de ver tudo o que gira em torno desse espetáculo fas-cinante. Talvez eu possa me considerar um pouco mais santista e brasileira nes-te país do futebol.

Fascinantedecepção por Luisa

Morumbi, Santos x São Caetano

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Certa vez, ouvi que todo torcedor de futebol que se preza está sempre perto de seu time do coração. No

dia 20 de agosto de 2005, fui obrigado a concordar. Após 17 anos de vida, metade deles como torcedor do Sport Club Inter-nacional, realizei o sonho de assistir a um jogo do Inter ao vivo, no estádio do clube, o Beira-Rio, em Porto Alegre (RS), contra o Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro.

Saí na noite do dia anterior, em ex-cursão organizada pelo Consulado do S.C.Internacional de Jaraguá do Sul (SC), minha cidade natal. Fui acompanhado de meu irmão e de outros 60 torcedores, todos homens. Embora muitos fossem gaúchos, a maioria nunca havia visto um jogo do Inter no Beira-Rio.

Durante a viagem, logo na primeira parada, num restaurante próximo a Flo-rianópolis, uma surpresa: integrantes de

uma torcida organizada do Grêmio – gran-de rival do Internacional – saíam do res-taurante em quatro ônibus cheios, rumo a São Paulo para assistir a um jogo do time, pela 2ª Divisão do Campeonato Brasilei-ro. Descuidados, entramos no restauran-te sem perceber o perigo. Os gremistas, então, vendo nossa ousadia, começaram a cantar músicas do Grêmio e outras de deboche, arremessaram latas, papéis e embalagens de alimentos em nosso gru-po, que se encolheu num canto. Após a polícia ser chamada, os torcedores dei-xaram o restaurante e seguiram viagem, assim como nós, aliviados do susto e com uma boa história pra contar.

Na manhã do dia seguinte, finalmen-te, chegamos ao Beira-Rio. Com uma visita agendada por nosso Cônsul, conseguimos conhecer todo o estádio, seus corredores, vestiários, salas, camarotes, cabines de im-prensa e o próprio campo, onde ensaiei um gol de cabeça imaginário com meu irmão.

À tarde, 20 mil pessoas aproveita-vam uma promoção de uma marca de café para assistir ao jogo, sem pagar ingres-so, e torcer para o Internacional. O jogo começou e eu ainda não acreditava estar

tão perto do time que sempre acompanhei por rádio e TV. Logo estava berrando e cantando músicas de apoio ao time, coisa que até então achava exagero.

Mesmo com dificuldades, o Inter jo-gava melhor que o Coritiba e, inclusive, para minha alegria, marcou um belíssimo gol de cabeça no mesmo local onde antes eu e meu irmão havíamos ensaiado. No fi-nal da partida, vitória colorada por 3 a 2.

Na viagem de volta, encontramos ou-tra torcida organizada, agora do Coritiba, jantando em um restaurante à beira da estrada. Desta vez, porém, apenas con-versamos pacificamente. Voltamos para casa felicíssimos, eu mais fanático do que nunca.

Depois daquele jogo, o Inter conse-guiu sair da má fase e ficou nove meses sem perder no Beira-Rio. Mas cerca de um mês depois, devido a mais um escândalo de corrupção no país, desta vez envolven-do um árbitro de futebol, a partida entre Inter e Coritiba foi anulada, assim como outras oito do Campeonato Brasileiro da-quele ano. Mesmo assim, em minha me-mória, o jogo se tornou inesquecível.

Um colorado que se preza por Lucas

Beira-rio, Internacional x Coritiba

lucas sarmanho, confortavelmente sentado...

...assiste ao jogo

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Passagem aérea, acomodação, comida, transporte. Custa caro viajar para o exterior. Se for para Nova York, cidade conhecida por seus preços astronômi-

cos, é pior. Engano. É só pesquisar um pouco para descobrir ótimos eventos gratuitos. As opções variam: o turista tanto pode acabar num show para milhares de pessoas ou em uma confeitaria aconchegante, experi-mentando chocolates coloridos. Tive as duas experiên-cias no verão nova-iorquino de 2005.

A Fantástica Fábrica de Chocolate, filme de Tim Burton estreava naquele dia. Para divulgar, a confei-taria Dylan’s Candy Bar, em Manhattan, copiou parte do cenário do filme na loja e distribuiu kits para os 50 primeiros que chegassem. Como típica turista, perdi-me no metrô e não consegui chegar a tempo de ganharum kit. No entanto, os atrasados e desavisados não eram punidos. Vestidos de Oompa-Loompas, persona-gens do filme, os funcionários ofereciam refrigerantes que explodiam na boca e pirulitos. E ainda podíamos nos servir das fontes de chocolates roxo e marrom, com um palito cheio de marshmellows. Enjoei de tanto co-mer chocolate de graça.

O nova-iorquino faz questão de aproveitar o verão

para sair de casa e curtir o clima quente e úmido. Os parques ficam lotados. Aproveitando a ocasião, a Or-questra Filarmônica de Nova York se apresentou nos maiores parques de cada borough (ler box) naquele verão. Fui ao concerto no Prospect Park, Brooklyn. Eu era a única turista e, também, a única despreparada. Levei só uma canga com a bandeira do Brasil. Mas quando o sol se pôs, o tempo esfriou e todos tinham moletons, menos eu. Além disso, não pensei em levar uma cesta de piquenique e tive que me contentar com pacotes de pipoca, enquanto via ao meu lado donuts e muffins.

À beira-mar, em um bairro de parques de diversão ao estilo cidade do interior, Coney Island, Brooklyn, o Siren Festival me acolheu melhor. O festival de música alternativa traz bandas quase-famosas todos os verões. Os stands dos selos musicais são uma diversão

Nova York !

Música ao vivo sem pagar couvert

[ c r ô n i c a d e v i a g e m ] 29

´por Fernanda Dutra

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à parte: sessão de autógrafos com as bandas e cds, revistas, buttons, adesivos e até saches perfumados para carros, tudo de graça. Saí de lá com os ombros doendo, minha bolsa estava pesada. Além de carregar cds pra mim, peguei para os meus amigos e economizei com os pre-sentes.

Escolher passeios que não exigem dinheiro é uma forma de economizar com turismo. No entanto, dificilmente os pon-tos turísticos mais visitados entram na programação gratuita. Visitas a museus e monumentos custam caro. Para chegar até a ilha da Estátua da Liberdade, o turista paga U$11,50. Se quiser admirar a vis-ta do alto da coroa da Estátua, tem que desembolsar mais um pouco. Uma opção gratuita é pegar a balsa até Staten Island, que não pára na ilha do monumento, mas passa bem perto. Foi o que eu fiz. Evitei o congestionamento turístico e conheci uma área pouco visitada de NY. Durante o dia, Staten Island parece uma cidade fan-tasma. Estão todos trabalhando em Man-hattan. À noite, é como uma cidade suburbana.

O site FreeNYC (www.freenyc.net) traz toda a programação de eventos gratuitos em Nova York. O internauta encontra desde shows a pa-lestras e oficinas, com informações de horários e datas. Em guias de programação da cidade, também se encontra facilmente este tipo de in-formação.

Sempre aquele lema: de graça, até injeção na testa. Se for em Nova York, ainda melhor!

Foto com a Estátua da Liberdade: não tem preço

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Staten Island – Famílias brancas pobres, em geral.Brooklyn – Bem diversificado. Famílias de classe média, brancos e negros. Ar-tistas.Manhattan - A NYC que aparece nos film-es. População branca, rica, cosmopolita. Queens – Abriga imigrantes do mundo todo, cada um com seu bairro. Bronx – A população negra é predomi-nante. Uma das áreas mais pobres e vio-lentas.

Nova York é dividida em 5 grandes áreas, chamadas de boroughs. Cada uma tem uma população característica.

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[ f o t o g r a f i a ]

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Juliana Sakae

Juliana Sakae

Maurício Tussi

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Juliana Sakae Maurício Tussi

Maurício Tussi

Bilhete Mário QuintanaSe tu me amas, ama-me baixinhoNão o grites de cima dos telhadosDeixa em paz os passarinhosDeixa em paz a mim!Se me queres,enfim,tem de ser bem devagarinho, Amada,que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

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O mar, ao lado, inala o fétido odor dos bueiros florianopolita-nos. Capitão Van Trapp sussurra Edelweiss com a tristeza da Áustria perdida. Caminho em direção à Pon-te Hercílio Luz ao ritmo da música suave e melancóli-ca da trilha de A Noviça Rebelde, quando um batal-hão de homens estremece o chão e as pernas das meninas desesper-adas. Van Trapp

Vivo à margem da essência que sem-pre desejei ser. Ando por entre tri-lhas sonoras de sucesso decadente

dos anos 80 (sonhava com um E O Vento Levou à la Casablanca). Sonhar, andar, viver; infinitivei milhares de verbos do ge-rúndio à procura de uma explicação; que vá à merda o dicionário lotado de palavras.

O mar, ao lado, inala o fétido odor dos bueiros florianopolitanos. Capitão Van Trapp sussurra Edelweiss com a tristeza da Áustria perdida. Caminho em direção à Ponte Hercílio Luz ao ritmo da música suave e melancólica da trilha de A Noviça Rebelde, quando um batalhão de homens estremece o chão e as pernas das meninas desesperadas. Van Trapp sorri, salta para trás três vezes e muda seus trajes de gala para uma calça colada azul-clara. Trans-forma-se em Kyle, o cocheiro bonitão da fada-madrinha de Shrek. Com estrelas e fogos de artifício, o show dos moços da aeronáutica seria completo para as meni-nas que cochicham sem parar. À frente, no desfile à beira-mar, duas trilhas lutam dentro da minha (in)consciência: Rocky se exibe com seu pitbull à doce sonhadora Moulin Rouge, de bicicleta amarela e sapa-tos delicados.

Entro no primeiro ponto-de-ônibus da avenida e aguardo. A espera irritante esteticamente pacífica do ambiente traz à minha cabeça, irritantemente, uma bossa, irritantemente, nova. Aguardo, por entre trilhas sonoras de elevador, um ônibus (olha), o mais rápido (que coisa) possível nesta manhã (mais linda, mais cheia de graça) de domingo. Uma imagem do Go-dzilla estraçalhando todos os terminais de ônibus da cidade passa rapidamente, tem-

po insuficiente para me entreter – estou ainda acompanhada por Caetano. Trinta minutos e catorze Garotas de Ipanema de espera e, enfim, chega o “Beira-Mar Norte Direto” (à p.q.p., provavelmente). Subo ao som de Sepultura, Xuxa e todos os outros discos que, tocados de trás para frente, gritam “viva demônio”. Sento-me, pare-ço serena por fora, uma figura típica de mulher na TPM: não encosta ou explodo. Quem me olha, acha que sou Um Diário de Princesa, enquanto estou no funeral dos quatro casamentos. Desço no terminal, os passos pesados, sem trilha sonora. São dezenas de pessoas por metro quadrado, fumando, falando alto, berrando e can-tando. Procuro, no listplay da minha in-consciência, uma música que me envolva o suficiente para me tirar desta multidão surda. Passo por Flashdance e Grease e me divirto lembrando John Travolta no tempo da brilhantina. Concentro-me em Pulp Fiction e vou, sem saber o porquê, da versão atual de Black Eyed Peas à Tati-Quebra-Barraco. Por entre muambas do camelô, paro em Dois Filhos de Francisco após uma jam session entre Alexandre Pi-res, Zeca Pagodinho e Leonardo.

Respiro.

Quero Casablanca, Amadeus e Cin-derela. Quero um momento de silêncio, com som de aves e árvores. Quero um Deus brasileiro como Antônio Fagundes que estale os dedos, silencie os ruídos e me tire deste pout-pourri de sucessos da AM/FM do elevador.

pout pourripor Juliana Sakae

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[ c r i a ç ã o ] 33

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[ Causos& Coisas]

A Ponto-e-Vírgula seleciona as melhores datas de Agosto!

01/08 - Dia do Selo Postal Brasileiro03/08 - Dia do Tintureiro12/08 - Dia da Juventude13/08 - Dia do Pensamento14/08 - Dia da Unidade Humana19/08 - Dia da Aviação Agrícola27/08 - Dia da Limpeza Urbana

E, para fechar o mês, no dia 31/08, vamos sair de casa para comemorar o maravilhoso Dia do Outdoor. Piche o seu preferido!

Procurando motivos para comemorar?

Aniversariantes do mês:

01/08 - Pierre Bourdieu (77 anos) 06/08 - Andy Warhol (79) 07/08 - Caetano Veloso (55) 13/08 - Fidel Castro (81) e Alfred Hitchcock (108) 15/08 - Napoleão Bonaparte (238) 16/08 - Madonna (49) e Tiradentes (261) 22/08 - Rodrigo Santoro (32) 27/08 - Confúcio (2558) 30/08 - Anita Garibaldi (186)

Ser safado e inteligente faz com que a realidade pareça mais amarela e roxa, pergunte aos alfaiates.

Se as carambolas conjecturarem um plano com os micuins, é possível que todos morramos mais cedo de catapora.

Comer panquecas de espinafre torna o amor mais abundante para as formigas da capadócia.

A fúria de Chávez encontra inspiração nas casas açorianas do século XVII, principalmente as localizadas ao sul do Atlântico Norte.

Cair de cachorro na parede pode ser interessante particularmente aos domingos. Faça-o para os nepalinos.

Arremessar bananas contra caminhões Mercedes Benz é o mais recomendado para o tratamento de deslocamento na retina.

Se mais um de nós morrer, todos nós podemos quem sabe ser mais humanos, menos humanos, mais laranja ou pirata, você quem sabe.

O realismo e a abordagem objetivante do real são receitas tão possíveis quanto um bolo formigueiro com raspas de laranja.

O banho resume nossas qualidades, características e essência em três gotas que caem na orelha direita.

Aforismos sem-noção

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