afetividade e educação - crescabrasil.com.br e... · a relação afetiva professor-aluno reflete...

23
Afetividade E Educação 1 - Introdução Qual a importância de integrar a afetividade à prática pedagógica? Como ela pode interferir na vida do aluno, e do professor, a ponto de mudar a realidade educacional na qual vivemos hoje? Ano após ano parece que a discussão dos profissionais do magistério continua sempre a mesma: "por que os alunos não querem mais aprender? O sistema de avaliação não está bom? A qualificação profissional dos professores ainda permanece insuficiente? Que metodologias devemos usar? Que conteúdos devemos ensinar? O nível dos alunos baixou? ...". São dúvidas, questionamentos e tentativas de explicações para o alto número de alunos que ficam para a recuperação no fim do ano, a queda no percentual de aprovação, os altos índices de evasão, entre outros problemas como as dificuldades de leitura, escrita e cálculo, mais preocupantes quando diagnosticadas em alunos que cursam o Ensino Médio. Ao que parece, esquecemos na escola de um momento para conhecer a clientela que ela tem: quem são seus alunos? De onde vêm? Em que trabalham? Quem são seus pais? Que infâncias têm ou tiveram? Por que e para quê estudam? Quais seus nomes? Seus endereços? Seus passatempos? Reconheço que, na verdade, o tempo que temos não é tão disponível para responder a essas perguntas sobre cada um das centenas de alunos que temos. Acreditamos, porém, que o professor não está pensando nesses "detalhes" quando prepara o seu plano de curso, a sua aula. E isso precisa ser revisto, debatido, refletido. A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um amigo, um companheiro, um colaborador, evita causar-lhe desgostos, quer ser como ele, o tem como alguém da família e, assim, adota, quase que inconscientemente, uma conduta de respeito, cooperação e atenção nas suas

Upload: trandat

Post on 08-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

Afetividade E Educação

1 - Introdução

Qual a importância de integrar a afetividade à prática pedagógica? Como ela

pode interferir na vida do aluno, e do professor, a ponto de mudar a realidade

educacional na qual vivemos hoje?

Ano após ano parece que a discussão dos profissionais do magistério continua

sempre a mesma: "por que os alunos não querem mais aprender? O sistema

de avaliação não está bom? A qualificação profissional dos professores ainda

permanece insuficiente? Que metodologias devemos usar? Que conteúdos

devemos ensinar? O nível dos alunos baixou? ...". São dúvidas,

questionamentos e tentativas de explicações para o alto número de alunos que

ficam para a recuperação no fim do ano, a queda no percentual de aprovação,

os altos índices de evasão, entre outros problemas como as dificuldades de

leitura, escrita e cálculo, mais preocupantes quando diagnosticadas em alunos

que cursam o Ensino Médio.

Ao que parece, esquecemos na escola de um momento para conhecer a

clientela que ela tem: quem são seus alunos? De onde vêm? Em que

trabalham? Quem são seus pais? Que infâncias têm ou tiveram? Por que e

para quê estudam? Quais seus nomes? Seus endereços? Seus passatempos?

Reconheço que, na verdade, o tempo que temos não é tão disponível para

responder a essas perguntas sobre cada um das centenas de alunos que

temos. Acreditamos, porém, que o professor não está pensando nesses

"detalhes" quando prepara o seu plano de curso, a sua aula. E isso precisa ser

revisto, debatido, refletido. A relação afetiva professor-aluno reflete bons

resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

amigo, um companheiro, um colaborador, evita causar-lhe desgostos, quer ser

como ele, o tem como alguém da família e, assim, adota, quase que

inconscientemente, uma conduta de respeito, cooperação e atenção nas suas

Page 2: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

aulas, frutificando uma assimilação mais rápida e consistente do conteúdo por

ele ministrado.

Queremos com isso dizer que falta ao aluno um clima de camaradagem na

escola, uma elevação do grau de afetividade entre ele e os demais

personagens, também sujeitos, do processo ensino-aprendizagem para um

resultado positivo e animador do trabalho que o professor realiza e que a

escola oferece.

Não podemos, no entanto, desprezar os primeiros anos de vida da criança que

são a base para um desenvolvimento saudável de sua personalidade,

observando sobretudo a relação que a criança tem com sua mãe poderemos

entender a constituição de um adulto com afetividade bem ou mal construída.

Muito menos podemos depreciar os fatores sociais, culturais, religiosos,

genéticos e neurológicos que podem interferir significativamente na

aprendizagem.

Intrinsecamente ligada à cognição, a afetividade constitui-se fator essencial na

vida escolar, devendo pois o professor, sobretudo da Educação Infantil, estar

ciente dos problemas que pode enfrentar e estar preparado para resolvê-los.

Isso porque muitas crianças revelam rejeição à escola devido a uma primeira

infância tumultuada e carente de afetividade, principalmente da figura materna.

Somos humanos, e como tais, estamos sempre em busca de algo que

justifique nossa existência, que nos dê razão para viver. Essa motivação faz

dos educadores uma fonte inesgotável de questionamentos e dúvidas que

queremos e buscamos solucionar. Uma delas é o baixo rendimento dos alunos

justamente quando se fala de uma Educação de Qualidade para Todos. O que

falta?...

Com o intuito de ajudar professores, alunos e comunidade em geral no que diz

respeito a um melhoramento na qualidade do ensino foi que decidimos

pesquisar sobre algo que há muito me inquietava: por que alguns alunos

adotam comportamentos diferentes em diferentes aulas de diferentes

professores?

Page 3: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

Logo que iniciei minha carreira no magistério, espelhei-me num grande número

de professores. Todos eles competentes no domínio do conteúdo e controle da

turma. O problema estava aí: controle da turma. Como eu, jovem, 17 anos,

poderia manter em ordem uma sala inteira, com alunos de minha idade ou até

mais velhos que eu? Foi assim que busquei ser como aqueles mestres que

tinham a sua autoridade como ponto máximo na sala e em sua profissão.

Conseguia às vezes, outras não. O que faltava? Pouco a pouco fui sendo quem

eu era e adotando uma postura mais de brincalhão e colega do que de

professor. Os resultados no rendimento mudaram. Gostei! Continuei, e hoje

vejo como ponto forte do meu trabalho a interação que mantenho com meus

alunos.

Mas, essa interação ocorre de maneira muito natural, não a planejo. Queremos

pesquisar e descobrir como posso desenvolver e organizar melhor a relação

que terei com meus alunos durante as aulas e, com isso superar alguns outros

problemas que ainda enfrento, ajudando outros professores e,

consequentemente,seus alunos a obterem resultados mais prazerosos na sua

rotina escolar.

A Educação no Brasil enfrenta crises. Técnicas, teorias, metodologias,

programas são frequentemente implantados sem muitos resultados aparentes.

A reprovação ainda é grande. A evasão ainda é realidade. O vestibular ainda é

o "bicho-papão". O desemprego ainda existe. As multinacionais ainda estão

aqui, e cada vez mais fortes. Os alunos concluem os níveis de ensino sem a

bagagem esperada. E, diante dessa problemática, que não é só escolar, mas

cultural, social e depende do tempo em que se vive, resolvi investigar sobre os

resultados que a integração de uma política da afetividade na sala de aula

poderia trazer. E assim, proponho-me a apresentar neste trabalho

fundamentação e ideias para comprovar a eficácia dessa didática do cuidado

com o outro.

Por fim, pretendemos com este trabalho, analisar e discutir a importância do

desenvolvimento de um bom relacionamento afetivo entre professor e aluno,

revendo o perfil profissional dos professores, averiguando o grau de

conhecimento desses profissionais sobre as teorias que valorizam a afetividade

Page 4: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

aliada à Educação, buscando identificar as dificuldades encontradas pelos

professores no seu trabalho e, ao mesmo tempo, levando informações à

população quixereense sobre a importância de uma educação emocional

oferecida à criança tanto pela família quanto pela escola, valorizando o trabalho

docente desenvolvido pelos profissionais da Educação, evidenciando a

importância de uma equipe pedagógica mais interdisciplinar nas escolas que

valorize o psicopedagogo, chamando também a atenção dos pais,

principalmente mães, para a sua responsabilidade na construção de uma

personalidade emocional, racional, cultural e cognitiva saudável de seus filhos.

2. CONCEITO DE AFETIVIDADE

Conceituar afeto, amor sempre foi algo muito fácil e, ao mesmo tempo, muito

difícil, pois para os amantes o amor é melhor definido sentindo e não falando,

descrevendo. Poetas e apaixonados o conceituam das mais variadas formas

desde o início dos tempos. Porém, vejamos o que dizem aqueles que tentam,

racionalmente, explicar a afetividade.

GALVÃO (1999) diz que são quatro os temas fundamentais nos quais Wallon

se baseou para elaborar seu projeto teórico no qual pretendeu fazer a

psicogênese da pessoa completa: afetividade, movimento, inteligência e a

questão da pessoa, do eu.

Pensando, pois, em afetividade, podemos defini-la de acordo com FERREIRA

(2000) como sendo o "Conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam

sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da

impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou

desagrado, de alegria ou tristeza."

Assim, podemos dizer que as emoções são uma forma de comunicação que,

sobretudo no recém-nascido constitui a maneira de se relacionar com o novo

meio ao qual está exposto, usando-as para expressar seus sentimentos de

solidão, fome, alegria, tristeza, incômodo entre outros. Além disso, a emoção é

contagiosa. Quem nunca se sentiu tocado ao ver alguém chorando ou se

alegrou ao ver alguém extremamente feliz? Isso dá ao bebê o poder de

Page 5: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

mobilizar as outras pessoas a perceberem o que ele está sentindo ou deseja.

(GALVÂO, 1999).

Essa comunicação emocional, aos poucos, vai sendo substituída por outra

forma mais racional de comunicação. A criança, crescendo, aprende novas

maneiras de se relacionar com os outros e novas formas de saciar suas

vontades. O sistema nervoso fica cada vez mais capaz de controlar as

emoções deixando o raciocínio tomar posse das atitudes.

Apesar de exibir uma linguagem verbal bem desenvolvida, a criança menor de

6 anos (aproximadamente) ainda utiliza intensamente a linguagem emocional.

O choro, as expressões corporais e faciais permitem ao professor perceber seu

aluno. Isso é coisa a ser pensada na prática pedagógica. (GALVÃO, 1999).

Segundo GALVÃO (1999) "... se a criança está ao sabor de suas emoções, ela

não tem condições neurológicas de controlá-las...". Então, mais uma vez,

destacamos o valoroso papel do professor na compreensão do grau de

maturidade neurológico da criança para que não considere certas atitudes

tomadas por ela como indisciplina, manha, atrevimento ou hipocrisia. Devemos

ter consciência da importância da afetividade para o desenvolvimento

emocional da criança, mas também temos de considerar os fatores biológicos

necessários a esse desenvolvimento.

É necessário um meio sócioemocional, afetivo, motor e cognitivo para o

desenvolvimento da criança menor de três anos, pois é nesta fase que ocorre a

aquisição da linguagem. Neste momento as emoções têm um importante papel

no desenvolvimento do indivíduo, mas são nos primeiros meses de vida que

elas terão o papel de garantir a sobrevivência do bebê e progresso da noção

do EU.

O amor e o ódio compõem a vida afetiva do ser humano e estão sempre juntos,

interferindo em nossos pensamentos e ações. A compreensão das emoções e

os sentimentos são essenciais no entendimento da afetividade. Emoções

causam efeitos intensos e imediatos no organismo enquanto que os

sentimentos são mais amenos e duradouros. Quantas vezes nos preparamos

Page 6: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

para tomar determinada atitude diante de um problema e a emoção nos fez

reagir de forma totalmente inesperada? As emoções são raiva, medo, nojo,

tristeza, alegria, vergonha, desprezo, empolgação etc. Sentimentos podem ser:

amizade, ternura, entre outros.

Na nossa cultura o homem é proibido de demonstrar suas emoções através do

choro enquanto a mulher é incentivada a isso. O importante, então, é

entendermos que a afetividade interfere no crescimento pessoal do ser, mas

não está indiferente a fatores biológicos, sociais e cognitivos, e que depende

da cultura na qual o indivíduo está inserido.

2.1 A CONSTRUÇÃO DOS AFETOS NA VIDA DA CRIANÇA

Na escola, a afetividade vem sendo debatida e defendida há alguns anos por

psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, profissionais da educação e saúde

em geral. Porém, percebemos ainda uma grande defasagem em prestar um

serviço profissional que alie suas técnicas próprias à uma interação eficaz de

desenvolvimento de um relacionamento baseado no emocional. Professores e

educadores que incluíram essa teoria no seu cotidiano apontam para os

evidentes resultados positivos que conseguiram alcançar. Mas, antes de

pensarmos na escola como ambiente para desenvolvimento da personalidade

da criança, devemos alertar para o fato de que esta criança, ao entrar na

escola, já tem uma vida cheia de experiências, estímulos e respostas que

aprendeu a dar diante de determinadas situações de sua vida diária. Assim

sendo, vou tratar um pouco do papel da mãe, nos primeiros anos de vida da

criança, na construção de uma personalidade saudável de seus filhos.

A problemática emocional está ligada aos conflitos interiores e dispersão do

indivíduo, o que dificulta sua interação com o meio, prejudica sua capacidade

de atenção, concentração e de relacionamento interpessoal. A figura materna

tem papel decisivo na "prevenção" desses problemas. O afeto que ela dedica à

criança, especialmente nos cinco primeiros anos de vida, é responsável por

grande parcela da sua personalidade na vida adulta, pois a ligação mãe e filho

nessa faixa etária é muito intensa e a criança se fixa na mãe, tendo-a como

exemplo e modelo para suas atitudes futuras.

Page 7: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

NOVAES (1984) nos mostra que a carência afetiva determina uma série de

fatores que prejudicam o desenvolvimento global da criança, tanto no âmbito

físico como psíquico. Essa carência pode ser identificada pela incapacidade do

indivíduo em manter trocas afetivas normais com outros seres humanos.

Segundo ela, esses sintomas diagnosticados na escola é consequência de um

descontrole na relação mãe e filho, pois tanto a carência como o excessivo

cuidado pode acarretar problemas emocionais graves na criança pequena.

O desvinculamento do seio da mãe poderá desencadear sintomas de angústia

e mal-estar que variam conforme a sua idade, grau de dependência dos pais e,

principalmente, quanto à natureza dos cuidados maternos. Essa angústia

revela uma relação emocional e afetiva normal entre a mãe e a criança, pois

retrata uma quebra no processo de afetividade que vem sendo construído por

ambas (NOVAES, 1984).

Na escola, a criança terá dificuldades de adaptação ao meio de acordo com o

grau de relacionamento com a mãe. Ao nascer, a criança se fixa naquela

pessoa que ela considera de sua posse, no caso a mãe. Na escola ela terá de

se relacionar com um número bem maior de pessoas ao qual está acostumada

e isso é um fator importante na avaliação do desenvolvimento emocional da

criança, funciona como um teste. Através dele podemos definir novos rumos na

educação da criança e dos seus pais. A socialização com outras crianças de

sua idade e professores é uma nova etapa no processo de formação da

personalidade da criança e deve ocorrer de forma saudável. A escola deve

oferecer um ambiente que evite a criança desenvolver angústias e mal-estar,

característicos do afastamento da figura materna.

De acordo com NOVAES (1984) a carência afetiva materna não só produz

choque imediato, mas deterioração progressiva, tanto mais grave, quanto mais

longa e precoce for a carência. Essa deterioração é um processo evolutivo que

pode culminar numa desintegração da personalidade, como também provocar

distúrbios sérios na área somática. Enfim, a angústia provocada, em crianças

pequenas, pela perda ou separação da figura materna determina mecanismos

de defesa que podem comprometer e modificar a sua personalidade.

Page 8: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

Há, dessa forma, uma grande importância do primeiro professor da criança,

pois ele será, para ela, a substituição da mãe. Cabe então a esse profissional o

devido cuidado de manter um bom relacionamento que dê continuidade à

relação saudável mãe e filho ou alterar seu comportamento para elevar a

afetividade de uma criança que demonstra problemas emocionais decorrentes

da relação que tem com sua mãe. Sendo assim, o professor não pode estar

alheio à vida do aluno. É necessário que ele conheça os pais, seus problemas

físicos, psíquicos e um pouco da vida que levava antes de ingressar na escola.

Só assim poderá entender as dificuldades na adaptação da criança ao novo

meio e no processo de aprendizagem.

Tanto o excesso como a falta de afeto pode prejudicar a aprendizagem. Por

isso, sua maturidade afetivo-emocional deve estar até certo ponto desenvolvida

quando esta é levada a ingressar na escola. Esse grau de maturidade é o que

vai definir os rumos do desenvolvimento cognitivo da criança e para que tudo

corra bem ela precisa ter um clima de segurança emocional tanto em casa

como na escola.

Problemas físicos e psíquicos são facilmente identificados como indicadores

dos problemas de adaptação e aprendizagem das crianças na escola. Não

podemos deixar de lado os problemas emocionais. A escola e professores,

especialmente os de maternal, devem prever e estar preparados para atender

prontamente essas crianças com problemas emocionais decorrentes de sua

relação familiar, propiciando-lhes um clima de estabilidade emocional e

contribuindo para que o ingresso e permanência da criança na escola ocorram

de maneira normal e tranquila, onde haja uma socialização efetiva dessa

criança com os professores e funcionários da instituição bem como com as

demais crianças. O nível de aprendizagem deve ser avaliado observando o

fator emocional que condiciona a criança a ter certas atitudes como

desatenção, falta de concentração, apatia, agressividade ou indiferença,

dificultando seu desenvolvimento cognitivo.

Problemas de natureza emocional e psíquica devem ser trabalhados em

conjunto com a escola, família e um profissional, psicólogo ou psicopedagogo,

Page 9: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

que estará responsável pela avaliação e intervenção terapêutica auxiliada

pelos professores e familiares da criança.

2.2 AS EMOÇÕES SOB O PONTO DE VISTA DA NEUROLOGIA

Walter Cannon e Philip Bard, formularam teorias, mais tarde complementadas

por estudos de Antônio Damasio e Stanley Schachter, de que as estruturas

subcorticais Tálamo e Hipotálamo estariam relacionadas com a elaboração dos

comandos orgânicos das respostas emocionais e ainda forneciam ao córtex

informações para a consciência dessas informações. As estruturas subcorticais

envolvidas na emoção foram denominadas de Sistema Límbico. BALLONE

(2002).

Hoje sabemos que a responsabilidade das emoções não está centrada em um

único ponto do encéfalo. Regiões como o Hipotálamo, a área pré-frontal e o

Sistema Límbico relacionam-se intimamente com atividades como motivação,

principalmente para o processo de aprendizagem, sensações de prazer ou

punição.

De acordo com BALLONE (2002), "Emoções e sentimentos, como ira, pavor,

paixão, amor, ódio, alegria e tristeza, são criações mamíferas originadas do

Sistema Límbico. Este Sistema Límbico é também responsável por alguns

aspectos da identidade pessoal e por importantes funções ligadas à memória."

As emoções e a memória fluem da Amígdala e Hipocampo, uma região

formada da comunicação do Hipotálamo com o neocórtex. Estão também

envolvidos na formação dos sonhos e da experiência inconsciente.

"Com a chegada dos mamíferos superiores na escala evolutiva, desenvolveu-

se, finalmente, a terceira unidade cerebral: o neopálio ou cérebro racional...".

Foi este neopálio que nos permitiu desenvolver a capacidade da linguagem

simbólica, nos fez capaz de desempenhar atividades intelectuais como escrita,

leitura e cálculo.

O Hipocampo armazena fatos e eventos para regular as atividades de várias

outras atividades do cérebro. A Amígdala também seleciona dados e dispara

Page 10: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

sinais de alerta quando reconhece um perigo. O Hipotálamo governa as

emoções. Assim, lesões nessas áreas corticais límbica podem gerar distúrbios

emocionais. Isso já havia sido hipotetizado por Papez e hoje sabemos ser

verdade. BALLONE (2002).

O córtex pré-frontal é a sede da personalidade e da vida intelectiva, tem a

capacidade de criar comportamentos adequados a determinadas situações

adaptativas e permite a tomada de consciência das emoções. Sua ausência

deixa as emoções fora de controle. Podemos continuar respondendo a um

estímulo mesmo depois que ele cesse. Porém, o Hipotálamo pode inibir o

neocórtex, tendo como consequência o desligamento momentâneo da

cognição e até do tônus muscular tônico. BALLONE (2002).

Em BALLONE (2002) podemos compreender que as interconexões cerebrais

são em número tão grande que as atividades de áreas lesadas podem ser

realizadas por outras áreas sadias. Os lobos frontal e pré-frontal está mais

satisfatoriamente desenvolvido a partir dos 12 anos de idade. O córtex pré-

frontal esquerdo está mais ligado à cognição e consciência do que o direito.

Dessa forma as terapias cognitivas procuram fazer a pessoa reaprender a lidar

com suas emoções através da cognição.

Percebemos que problemas neurológicos podem dificultar a aprendizagem da

criança, mas isso porque um mal funcionamento do Sistema Nervoso Central

altera também o controle das emoções. E estas surgiram como meio de defesa

para sobrevivência e perpetuação da espécie em mamíferos, indicando o que

agrada ou desagrada e o que oferece ou não perigo à sua vida.

2.3 DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL

Nossos filhos e alunos sempre se irritam quando se sentem prejudicados de

alguma forma, ficam alegres quando os agradamos, entristecem quando se

chateiam, brincam quando têm vontade. As crianças são seres autênticos

quando o assunto é expressar aquilo que sentem. Falta-lhes a capacidade de

compreender, de conscientizar-se sobre o que estão sentindo e de que forma

devem reagir a estes sentimentos.

Page 11: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

GOTTMAN (1997) é claro ao dizer que os pais, muitas vezes agem

negativamente na preparação emocional de seus filhos. Principalmente quando

os sentimentos demonstrados pela criança são do tipo "negativos" como raiva,

medo, tristeza... Na maioria das vezes nós, pais, ignoramos ou mesmo

recriminamos o sentimento da criança com atitudes desagradáveis à ela. Estas

atitudes são aconselhar a criança, reclamar com ela ou mandar fazer outra

atividade. No fundo o que estamos querendo é nos livrar do problema da

criança que, para nós, é nada diante dos que já temos. O que não percebemos,

no entanto, é que agindo dessa maneira estamos valorizando mais um tipo de

emoção do que outro, o que é extremamente prejudicial, pois a criança

desenvolve conceitos de inferioridade e baixa autoestima, sentindo-se ínfera às

outras pessoas da família, uma vez que, para ela, os pais e irmãos não sentem

aquelas coisas negativas.

No futuro, a criança poderá ter dificuldades de relacionamento com outras

pessoas. E, enquanto ela vive em casa, apenas com os pais, tudo parece

perfeito. Mas quando ela ingressa na escola, aproximadamente aos 4 anos de

idade, é necessária a socialização com outras crianças e pessoas às quais não

está acostumada. Isso traz confusões e faz com que ela se sinta estranha

naquele meio. A criança não quer que as outras pessoas saibam que ela não é

"perfeita", que ela tem, e muitos, defeitos. Só depois de certo tempo ela toma

uma superficial consciência de que outras crianças são como elas, inacabadas,

em processo de desenvolvimento.

Tornar-se-á difícil aos pais reconquistarem seus filhos depois de descobrirem

por meio de terceiros que ninguém é perfeito como ela imaginara que todos,

menos ela, seriam. Por esse motivo é importante, defende GOTTMAN (1997),

uma preparação emocional das crianças. Segundo ele a empatia é o primeiro

passo para uma preparação emocional eficaz dos filhos pelos pais: "... empatia

é a capacidade de sentir o que o outro sente. Como pais dotados de empatia,

ao ver nossos filhos chorarem, conseguimos nos ver no lugar deles e sentir sua

dor. Ao vê-los irritados, batendo o pé, podemos sentir a frustração e a raiva que

eles sentem."

Page 12: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

Assim, torna-se também indispensável que os pais e professores permitam aos

seus filhos e alunos, a vivência, a experimentação, das emoções pela criança,

vendo nessas situações oportunidades de ajudá-las a aprender como conviver

com tais sensações que são próprias do ser humano. É importante que

busquemos entender o que a criança sente para podermos interferir de forma

cooperativa e não reprovando ou caçoando do seu estado de espírito.

Para GOTTMAN (1997) existem cinco passos para a preparação emocional:

1. Perceber a emoção da criança.

2. Reconhecer a emoção como uma oportunidade de intimidade ou

transmissão de experiência.

3. Escutar com empatia, legitimando os sentimentos da criança.

4. Ajudar a criança a nomear e verbalizar as emoções.

5. Impor limites e, ao mesmo tempo, ajudar a criança a resolver seus

problemas.

Não conseguimos visualizar, no futuro da criança, as consequências das

atitudes que tomamos para com elas no presente. Não nos sentimos

preparadores emocionais, já que não tivemos essa vivência. Mas, devemos

nos sentir responsáveis pelo futuro de nossos filhos e alunos, buscando

estudar teorias e métodos de educar, da melhor forma possível, pois a família –

célula-mãe da sociedade – infelizmente está falhando no papel de educar os

filhos e, a escola – atual responsável pela tarefa – também está se vendo

incapaz. Só uma ação conjunta de família, escola, religião... é que poderá

trazer à tona uma sociedade mais justa, humana e igualitária, onde respeitem

as individualidades, onde não haja exclusão e o direito à vida seja respeitado

em todos os sentidos.

3. RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Nas últimas décadas muitas coisas influenciaram a Educação. Uma delas foi a

emancipação da mulher, antes maior responsável pela criação, cuidados e

educação dos filhos. Hoje, a mulher deixa a sua casa e disputa, de igual para

igual com o homem, o seu espaço no mercado de trabalho. As meninas já não

Page 13: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

brincam só de bonecas e casinhas, as moças não sonham só com um príncipe

encantado, elas querem igualdade de deveres e direitos.

Com toda essa reviravolta, para quem fica a responsabilidade de educar? Para

a escola? Sim. A escola vem assumindo papéis antes destinados à mulher e ao

seio familiar. E, talvez por esse acréscimo nas suas obrigações, não esteja

acompanhando o avanço social e não esteja cumprindo com o que pais e

sociedade esperam dela: a completa formação do ser humano e cidadão.

Como profissional o professor tem o dever de apresentar seu produto (aluno-

cidadão) da forma que o cliente (pais e sociedade) desejam. Sempre foi assim:

a escola forma pessoas nos moldes esperados pela sociedade. Por isso

passamos por escolas tecnicistas, bancárias, renovadoras, tradicionais,

construtivistas etc., dependendo do momento vivido pelo país ou pelo mundo.

Precisamos reconstruir uma nova escola resultante da fusão entre a escola

antiga e a atual, capaz de formar mentes pensantes, com conteúdo e voltada

para formação profissional e desenvolvimento do homem enquanto ser afetivo,

emocional, religioso etc.

Baseado nessa realidade ocorre que há a necessidade de um novo profissional

da Educação. Um profissional que esteja preparado para propiciar a seus

pupilos as mais variadas situações que lhes permitam desenvolver suas

competências e habilidades da forma mais perfeita possível, garantindo sua

formação completa. Assim, a relação professor-aluno se torna tema

fundamental de discussão nas reuniões de planejamento, nas escolas, nas

universidades e em todos os lugares onde se debata melhoria da Educação.

Conforme CURY (2003) os professores precisam deixar de serem bons e se

tornarem fascinantes para que suas aulas e conteúdos façam sentido e

possam ser assimilados por seus alunos. Diz também que são sete os pecados

capitais dos professores:

1. Corrigir publicamente

Page 14: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

Causa um clima desagradável para todos os presentes, além do trauma que a

pessoa terá que enfrentar dali em diante. O ideal continua sendo conversar e

levar a pessoa a refletir sobre seu ato em particular;

2. Expressar autoridade com agressividade

A autoridade dos pais e professores deve ser conquistada com inteligência e

amor. Expressar autoridade com agressividade nos faz ser respeitados por

temor e não pelo reconhecimento do nosso caráter;

3. Ser excessivamente crítico, obstruindo a infância da criança

Através dos erros e falhas também aprendemos. Devemos deixar nossos filhos

e alunos experimentarem, errarem, para poderem pensar a respeito e

descobrirem o mundo que os rodeia. Crianças se desenvolvem através de

brincadeiras, corridas, quedas e travessuras. Enclausurar um criança num

conjunto de regras adultas só contribui para que ela seja um adulto infeliz;

4. Punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações

Punir num momento de ira significa que você está tentando se vingar do erro

do seu filho ou aluno. Busque sempre compreender a situação e leve a criança

a refletir sobre o que fez. As explicações são sempre necessárias. Mesmo que

você parta para punição física, esta deve ter um valor simbólico que a criança

tem de compreender;

5. Ser impaciente e desistir de educar

Quando o jovem ou a criança parece não ter jeito, falta-nos paciência. As dores

vividas por eles e seus pedidos de ajuda, carinho e conforto são das mais

variadas formas, até com agressividade. Nessas horas, temos que acreditar e

investir para que não se percam nos seus mundos de sofrimento;

6. Não cumprir com a palavra

Saber dar um não é uma forma de educar as emoções, desde que uma vez

dada a palavra, esta não volte atrás. As frustrações vividas por um não

Page 15: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

recebido ensinam ao jovem que nem tudo que ele desejar, obrigatoriamente

alcançará. Devemos sempre cumprir com o que prometemos ou falamos, do

contrário, cairemos em descrédito e estaremos deixando nossos filhos e alunos

despreparados para esse tipo de situação em suas vidas;

7. Destruir a esperança e os sonhos

Com sonhos e esperanças temos razões para viver. O jovem sem motivação

torna-se opaco, sem alegria. Como educadores das emoções, jamais devemos

fazer críticas severas às pessoas.

Para FURLANI (1995), as características afetivas, culturais e de personalidade

do professor se problematizam, originando modelos através dos quais ele se

situa em relação ao aluno:

·Modelos autoritários

Ausência total de diálogo. O professor é aquele que sabe, que ensina, que fala,

que informa, que transmite os conhecimentos para o aluno, que é passivo, um

mero recebedor de conteúdos;

·Modelos permissivos

Total liberdade de expressão. Os alunos são ouvidos e observados, mas não

há imposição de limites, um direcionamento dado pelo professor, uma vez que

faltam objetivos educacionais mínimos estipulados em planejamento para

serem atingidos;

·Modelos democráticos

O meio-termo entre os modelos permissivos e os autoritários. Aqui há a

existência do diálogo, o conhecimento é desenvolvido, elaborado e reelaborado

a partir da interação entre o professor e o aluno, tendo por base suas

experiências.

Para FURLANI (1995) o modelo democrático ainda é uma utopia, ainda

encontra obstáculos para ser implantado nas escolas, pois a própria sociedade

Page 16: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

brasileira é cheia de modelos permissivos e autoritários que influenciam a

vivência dos alunos.

A realidade é que o mundo e a educação do tempo de nossos pais e avós não

são mais possíveis de serem revividos. Porém, como diz CHALITA (2003), os

valores do amor, da amizade, do idealismo, da coragem, da esperança, do

trabalho, da humildade, da sabedoria, do respeito e da solidariedade precisam

ser resgatados, ensinados, apropriados por todos que gostariam de, um dia,

voltar aos tempos de infância.

Como relata BOFF (1999), há um descaso pela vida das crianças, pelo destino

dos pobres e marginalizados, pelos desempregados e aposentados, um

descuido e abandono dos sonhos de generosidade, da sociabilidade, um

descaso pela dimensão espiritual do ser humano, pela coisa pública, pela vida,

pela Terra ... enfim, há que haver uma nova aliança de paz entre o homem e

todas as demais espécies da Terra na expectativa de salvarmos a nós mesmos

e a nossa casa.

No entanto, neste mundo globalizado, onde cada um luta por si, para

sobreviver, os valores vão sendo, pouco a pouco, esquecidos e a vida virando

um caos. Precisamos, de acordo com CHALITA (2003), deixar que a fantasia e

a energia da criança interior de cada um de nós esteja sempre presente,

ajudando-nos – pais e professores – a formar, informar, transmitir saberes e

afeto para que não deixemos de ser humanos, capazes de sentir, de cuidar, de

amar.

3.1 MOTIVAÇÕES PARA APRENDER

O que faz então o aluno estar motivado para aprender? Como o professor pode

auxiliar seus alunos no despertar para as matérias e disciplinas? Que

motivações o aluno tem para aprender? Como o ser humano aprende?

TEZOLIN (2003) explica que nosso cérebro acumula informações em três

regiões: consciente, subconsciente e inconsciente e que a cada nova

experiência que vivemos temos a oportunidade de combinar informações já

incorporadas anteriormente com as obtidas nesta nova situação. O resultado

Page 17: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

da combinação entre o que já sabemos e a nova experiência é um novo

conhecimento que será acumulado no consciente e, posteriormente, no

subconsciente. Quando expostos a uma terceira situação, podemos evocar

esse conhecimento acumulado, trazendo-o para o consciente. No entanto, para

que a informação passe de uma região para outra, ela precisa atravessar uma

zona de turbulência. Para que haja uma nova e significativa aprendizagem, o

conhecimento prévio deve fluir naturalmente de uma região para outra e, para

que haja essa passagem natural, devemos diminuir a turbulência nessa área.

Conforme TEZOLIN (2003) o novo conhecimento fica por pouco tempo no

consciente e a passagem do consciente para o subconsciente é mais fácil

porque acontece enquanto dormimos e nosso organismo se mantém relaxado.

Então o que podemos fazer para facilitar a passagem do conhecimento prévio

do subconsciente para o consciente e assim conseguir fazer uma conexão

mais resistente entre esse conhecimento e a nova situação vivida?

Para CURY (2003) dez técnicas compõem o "Projeto Escola da Vida" que

objetiva "... a educação da emoção, a educação da autoestima, o

desenvolvimento da solidariedade, da tolerância, da segurança, do raciocínio

esquemático, da capacidade de gerenciar os pensamentos nos focos de

tensão, da habilidade de trabalhar perdas e frustrações. Enfim, formar

pensadores.".

Uma delas é a Música ambiente em sala de aula que, para CURY (2003),

contribui para desacelerar o pensamento, aliviar a ansiedade, melhorar a

concentração, desenvolver o prazer de aprender e educa a emoção. Dessa

forma, o fluxo de informações do subconsciente para o consciente no momento

da aula ocorre com maior facilidade e rapidez, contribuindo assim para uma

aprendizagem mais expressiva e duradoura.

As outras nove técnicas apresentadas por CURY (2003) para desenvolver o

"Projeto Escola da Vida" e construirmos a "Escola dos Nossos Sonhos" são:?

Page 18: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

·Sentar em círculo ou em U, para que seja trabalhada a habilidade de

participação e construída a ideia de coletividade entre os integrantes da turma

e professor;

·Exposição interrogada, através da qual o professor exercita a arte de

interrogar, instigando seus alunos a pensar por meio de desafios propostos;

·Exposição dialogada, quando o professor pergunta e estimula seus alunos à

participação, debelando a timidez e melhorando a concentração;

·Ser contador de histórias, criando clima de confiança e descontração,

educando a emoção e dando significado ao que é trabalhado;

·Humanizar o conhecimento, dando a oportunidade aos alunos de conhecerem

as ansiedades, os medos, os erros e a vida daqueles que construíram os

conceitos estudados em sala de aula, para que percebam que foram pessoas

normais como eles;

·Humanizar o professor, desmistificando a ideia de um profissional sem

sentimentos e emoções, cruzando as experiências e aprendizagens dele com a

dos alunos, contribuindo assim para socialização, afetividade e valorização do

"ser";

·Educar a autoestima, elogiando sempre antes de criticar e evidenciando a

importância que cada ser humano tem, ajudando a educar a emoção, a

autoestima e a resolver conflitos, além de promover a solidariedade;

·Gerenciar os pensamentos e as emoções, resgatando a liderança do eu

através do gerenciamento dos pensamentos negativos e das emoções

angustiantes;

·Participar de projetos sociais, a fim de desenvolver a responsabilidade social,

a solidariedade, o trabalho em equipe, educando-se para a saúde, paz e

direitos humanos.

Por fim, não há necessidade de mudanças físicas no meio escolar, mas uma

quebra, uma ruptura dos paradigmas vigentes na Educação atual. Técnicas

Page 19: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

que viabilizam a interação interpessoal ajudam a formar cidadãos capazes de

compreenderem e enfrentarem as situações conflituosas que a vida impõe,

além de serem sensíveis ao problema do outro e do planeta.

3.2 A RECREAÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

O professor também pode desenvolver uma didática voltada para efetuação do

processo de ensino e aprendizagem. Inúmeras são as ferramentas e as ideias

que podem ser postas em campo na hora de realizar tão importante tarefa.

A recreação contribui muito para elevação da autoestima do aluno bem como

do professor, pois segundo MARIOTTI (2004) a recreação consiste em dar-se

por inteiro a atividades impostas ou não, um meio para o desenvolvimento bio-

psico-espiritual e social do homem.

Assim, o aluno no âmbito da sala de aula pode estar se recreando enquanto

realiza alguma tarefa pedagógica. O professor pode estar se recreando

enquanto planeja, executa ou avalia suas atividades. Recrear significa,

portanto, buscar um sentido de prazer, no cultivo de atitudes de legítimo

interesse com relação aos objetos, pessoas e atividades gratificantes.

A recreação permite ao homem ser feliz uma vez que, mesmo no mais pesado

trabalho, encontra significado e prazer em realizá-lo. MARIOTTI (2004) fala que

parece que o mundo busca uma nova estrutura de funcionamento onde o ócio

seja um fator fundamental para a construção de uma nova moral.

O ócio é o momento de desocupação, para descanso do corpo e da mente. Por

isso, ele é necessário a todo ser vivo. Nesses momentos é que há a

revitalização, a reposição de energias, o exercício do corpo e do espírito que

deixam a alma mais evoluída. O esporte, a arte, a filosofia, a literatura, entre

outras, existem graças ao ócio. No mundo moderno há que se buscar tempo

para vislumbrar o que há de belo no mundo e no homem, há que se achar

tempo para valorizar as boas criações do ser humano, e isso se tornará

possível quando também descobrirmos o valor do ócio.

Page 20: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

O homem trabalha para ser livre. Parece uma antítese, pois ao trabalhar se

escraviza e aspira, cada vez mais, libertar-se do trabalho e das obrigações

para dedicar-se a si mesmo.

Os professores, pais e psicopedagogos, realizando atividades recreativas com

as crianças permitem-lhe vivenciar o cultivo de uma reflexão sobre si mesmos

e do que lhes dá prazer para conquista de sua liberdade. Atividades recreativas

em sala de aula fazem o processo de aquisição e construção do conhecimento

serem, sobretudo, prazerosos para o aprendente e, portanto, indispensáveis

nas escola do século XXI.

4. CONCLUSÃO

Todo professor em sua experiência docente e também discente acumula

conhecimentos que serão utilizados tanto em sua prática como em sua vida

pessoal. Conhecimentos resultantes principalmente de relacionamentos e

vivências com os outros, ou seja, aprendemos, sobretudo, com o jogo da vida,

onde uma pessoa sempre tem algo a ensinar a outra e, ao mesmo tempo, a

aprender com ela.

Para FREIRE (1996) "... quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é

formado forma-se e forma ao ser formado", confirmando a necessidade de uma

educação global, visando o completo desenvolvimento do indivíduo e a

compreensão do docente de que o processo de ensino e aprendizagem não

está centrado no conhecimento do professor, mas que deve ser construído e

produzido a partir da interação deste com o educando. A criança deve ser

estimulada em todas as habilidades e, para isso, o professor deve estar ciente

de que ensinar é uma especificidade humana, não é transferir conhecimento, e

exige a participação de todos os segmentos envolvidos.

Há também o papel importante da família na construção de crianças,

adolescentes e adultos, enfim, uma sociedade mentalmente saudável. A

educação dos filhos abrangendo os aspectos cognitivos, sociais, afetivos e

motores deve ser a meta de todos os pais. A presença do pai e da mãe na

Page 21: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

construção do seu filho-cidadão contribui para uma mudança de paradigmas

sociais que cultivam a discriminação, o desrespeito e as desigualdades.

Segundo TIBA (2002) as pessoas apresentam três estilos de agir: o

comportamento estilo vegetal, o comportamento estilo animal e o

comportamento estilo humano.

No vegetal, a pessoa espera que o mundo à sua volta traga-lhe tudo que lhe é

necessário à sobrevivência. Recém-nascido, em coma, sem memória ou na

fase senil adotamos o comportamento vegetal, pois se ninguém nos prover do

indispensável, morremos.

O comportamento animal é caracterizado pela movimentação e a busca

instintiva pelo que precisamos para sobreviver e perpetuar a espécie. TIBA

(2002) diz que os humanos adotam o estilo animal quando:

·Não usam a racionalidade;

·Repetem os mesmos erros;

·Fazem só o que foi aprendido e não criam novidades;

·Suas vontades estão acima da adequação;

·Agem impulsivamente mesmo que depois se arrependam;

·Agem egoisticamente, sem pensar nas demais pessoas;

·Desrespeitam a ética relacional e as normas sociais;

·Pirateiam e danificam o meio ambiente;

·Usam a lei do mais forte.

Ainda de acordo com TIBA (2002) o comportamento estilo humano, superior e

característico de cérebros mais evoluídos é aquele adotado pelas pessoas que

buscam a felicidade a partir da integração de disciplina, gratidão, religiosidade,

ética e cidadania visando a sua própria sobrevivência, perpetuação de sua

Page 22: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

espécie, preservação do meio ambiente, formação de grupos solidários e

construção da civilização.

Cuidar de nossos filhos e alunos faz parte da necessidade de perpetuarmos a

nós e nossa espécie. Porém, na espécie humana esse cuidado não se resume

apenas a apresentar-lhes o necessário à sua sobrevivência, como no estilo

vegetal, ou fazê-los buscar o indispensável através de seus próprios recursos

sem se preocupar com o que o rodeia, como no estilo animal, mas educar

humanamente para o verdadeiro sentido de sermos humanos, a solidariedade.

E esse objetivo só será alcançado por meio da formação de pessoas

afetivamente bem educadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, R. A. Conversas com quem gosta de ensinar. 20 ed. São Paulo: Cortez

Editora. 1985.

ALVES, R. A. Estórias de quem gosta de ensinar. 11 ed. São Paulo: Cortez

Editora. 1987.

BALLONE, G. J. Neurofisiologia das emoções – in. PsiqWeb Psiquiatria Geral,

Internet, 2002 – disponível em

http://www.psiqweb.med.br/cursos/neurofisio.html

BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela Terra. Petrópolis,

Rio de Janeiro: Ed. Vozes. 1999.

CHALITA, G. Pedagogia do amor: a contribuição das histórias universais para a

formação de valores das novas gerações. São Paulo: Ed. Gente. 2003.

CURY, A. J. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Ed.

Sextante. 2003.

FERREIRA, A. B. H. Mini Aurélio. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. 2000.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.

11 ed. São Paulo: Paz e Terra. 1996.

Page 23: Afetividade E Educação - crescabrasil.com.br e... · A relação afetiva professor-aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um

FURLANI, L. M. T. Autoridade do professor: meta, mito ou nada disso? 4 ed.

São Paulo: Cortez Editora. 1995.

GALVÃO, I. Wallon e a criança, esta pessoa abrangente. Revista Criança. São

Paulo: Ministério da Educação. p. 3-7. dez. 1999.

GOTTMAN, J.; DECLAIRE, J. Inteligência Emocional. 34 ed. Rio de Janeiro:

Objetiva. 1997.

NOVAES, M. H. Psicologia Escolar. 8 ed. Rio de Janeiro: Vozes. 1984.

TEZOLIN, O. M. Re-criando a educação: uma nova visão da psicologia do

afeto. 4 ed. Rio de Janeiro: DP&A. 2003.

TIBA, I. Quem ama, educa!. 131 ed. São Paulo: Ed. Gente. 2002.

Autor: José Robério de Sousa Almeida

Fonte:

http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_6951/artigo_sobre_afetividade_e_

educacao