ademir junior - transcrições

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transcrições ademir junior

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  • 36 SAX & METAIS

    t ranscr io

    Uma das tarefas mais importantes para quem quer ser um bom im-provisador, alm de tocar escalas, arpejos e ouvir os grandes solistas, tanto estrangeiros como brasileiros, fazer a transcrio de solos. Para nos ajudar a entender por que e para que isso to importante, convidamos o msico Ademir Junior, que nos ajudar nessa misso.

    Primeiro vamos entender de forma terica os benefcios desse estudo e como comear a pratic-lo. Nas futuras edies daremos de presente a vocs algumas das transcries que consideramos essenciais serem toca-das e ouvidas.

    ImItaoSe tem uma escola que funciona em pases que no dispem de educao acadmica de msica popular, a transcrio de solos. Essa prtica se tornou cada vez mais popular depois dos belssimos solos tocados pelos pais do jazz. No se pode ignorar que a imitao pertence ao aprendizado humano em reas como falar, danar, cantar e tocar. Ningum cria algo que j no esteja sendo feito de outra forma por algum, portanto o que fazemos pode ser a extenso de algo j feito e assim podemos refazer ou construir algo novo com fragmentos j existentes.

    Imitar faz parte da cultura humana, pois imitando que se pode aprender algo para se comunicar em uma mesma linguagem e de forma que todos sejam compreendidos. Isso faz parte das linguagens preexis-tentes e estabelecidas para a comunicao social do homem. Porm, a imitao tem o seu tempo de e!cincia e isso se d como no caso de uma criana que fala nos primeiros anos de vida e at que se alfabetize, a imitao ser uns dos instintos prticos para sua sobrevivncia. Traduzin-do toda essa teoria para msica, podemos entender que a transcrio de solos algo to importante para um estudante de improvisao quanto a imitao o para uma criana que imita as primeiras frases dos pais.

    A experincia de tirar as mesmas notas e tocar o solo de um msi-co que voc tanto admira essencial para a formao da linguagem na improvisao. Passar por cada nota, uma por uma, pacientemente trar experincias maravilhosas ao msico que sonha um dia fazer de forma semelhante o que faz o artista que tanto admira.

    tecnologIaDe uma forma sensvel, a tecnologia pode no ser to ben!ca quando se refere transcrio de solos, pois os recursos disponveis para a di-minuio do andamento e at a escrita virtual em programas de edio de partituras privam o ouvido e o crebro de passar por momentos de grande importncia para a evoluo do ouvido musical. Pode ser que com menos facilidade ao seu redor voc desenvolva mais instintos para a percepo meldica, harmnica e rtmica. o caso de tocar um solo ou uma frase na metade do seu andamento. Que bom poder ouvir li-geiramente todas as notas, mas a de!cincia se instala quando voc de-pende de ouvir sempre de forma lenta cada passagem, quando sabemos das riquezas e diversidades de andamentos que cada frase pode ter, uma sempre diferente da outra.

    Outra questo importante que o contato do lpis com o cader-no guiado pela mo causa no crebro uma informao que aos poucos forma o reconhecimento ou domnio de determinadas alturas, e estas podem se estender para o ritmo e harmonias. Logo, o msico pode de-senvolver seu ouvido musical em trs diferentes percepes; nesse caso, a repetio dar a segurana no reconhecimento de intervalos e divises. Imagens sonoras tambm se formam medida que se desenvolve a per-cepo nos trs quesitos. Isso seria semelhante ao que se faz com crianas ao lhes ensinar o nome de cada objeto; nesse caso, uma identi!cao visual, e no nosso caso, a identi!cao auditiva aprendendo a dar nome a tudo que se escuta.

    Por que to ImPortante?Pode algum perguntar se isso seria to necessrio para a improvisao sendo que, para improvisar, no seria melhor sentir o feeling da msica e mandar ver?

    De fato a inspirao constante com base em um rico vocabulrio suscetvel a um grande sucesso, e sucessivos solos bem equipados de ricas melodias e formas verticais, ou seja, formas harmnicas de se pensar no mundo da improvisao. Resumindo, s se pode ganhar na transcrio de solos, pois desenvolver a percepo criar um rico vocabulrio que ser necessrio para a diversidade de estilos com que ns, pro!ssionais, lidamos todos os dias, e precisamos ser cada vez menos repetitivos, pois a magia das notas e a beleza das frases se do justamente em saber manipu-lar consciente ou inconscientemente, teoricamente ou de forma prtica e instintiva a fsica sonora dos intervalos, arpejos e escalas.

    Tudo isso poder ser encontrado, analisado e esmiuado quando voc tem um solo sua frente e depois de horas, dias ou semanas, e muito suor, tem algo que parece como se voc mesmo tivesse criado, tamanho o trabalho que se tem ao praticar a arte de transcrever solos. Trabalhei isso por exatos 13 anos da minha vida musical, at que cheguei ao ponto de no querer mais fazer, por razes bvias e pela necessidade de no depender mais do pensamento dos grandes msicos e sim partir para a maior idade, ou sei l, para uma adolescncia rebelde, pois nunca se sabe se o tanto que sabemos, sabemos de fato, ou apenas estamos molhando os ps em novas guas.

    Agora quero compartilhar um pouco sobre a experincia da transcri-o de solos com os leitores. Vamos prtica!

    mos obraO que nos faz querer tocar o que ouvimos que gostamos e nos identi!-camos com um solo, ento basta escolher algo no muito complicado e de preferncia de andamento mdio para lento, at que se acostume com a velocidade das passagens meldicas. Os msicos de instrumentos me-ldicos podero ter mais facilidade para essa prtica, mas isso no regra.

    No incio voc pode usar o seu instrumento, at que depois de algum tempo isso j no ser to necessrio, dependendo da di!culdade do solo e do tanto que seu ouvido evoluiu em percepo.

    Por Ademir Junior

    transcri

    o

    Transcrevendo soloso hbito da transcrio to importante para o estudante de msica quanto a imitao o para as crianas em fase de aprendizado

  • 37SAX & METAIS

    Como existem tipos de sons diversos, como tonais, modais e sons que se misturam em micropassagens de tons ou modos, o ouvido s per-

    ceber as diferenas medida que souber analisar e distinguir o contexto harmnico dos solos. Vamos a exemplos de sequncia tonal.

    Nesse caso, os sons so mais intuitivos para a nossa cultura, por isso o ouvido os percebe com mais naturalidade, pois a harmonia caminha sempre pedindo resoluo e repousando.

    A dica para cada frase tirar as primeiras notas sendo uma ou duas j um incio, pois o que desanima muitos estu-dantes que pensam que devem ouvir toda a sequncia, quan-

    do na verdade o princpio que uma nota vem aps a outra. Isso crucial para o progresso, pois se voc tirou a primeira j parte para a segunda e assim por diante. Por isso importante escrever, pois se voc esquece, com a partitura escrita ter sua obra feita, podendo recorrer a ela mesmo que se esquea de parte do solo.

    Exemplo 1

    Exemplo 2 J em uma sequncia modal

  • 38 SAX & METAIS

    t ranscr io

    Como a diferena no to grande na escrita, poder haver esse choque se o estudante no estiver muito acostumado, e de forma didtica isso no problema, pois a diviso no nega o princpio meldico. O importante no incio interpretar e tocar as notas certas, sendo que com o tempo o ouvido perceber melhor as diferenas, mesmo as mais sutis.

    resultadosO trabalho poder demorar dias, mas o importante no se desesperar se o solo parecer muito difcil. claro que seu ouvido ter um nvel de per-cepo para poder se aventurar em cada solo, mas se o que voc escolheu o !zer suar bastante, isso valer a pena. Por vezes voc poder passar uma melodia 20 vezes e no ouvir o ritmo ou as notas com clareza. Isso nor-mal at que voc desenvolva mais sua percepo. Faz parte do processo e no deve ser motivo de preocupao.

    Cuidado para no se viciar em tirar notas erradas e no conferir, se-no a escrita !ca errada e o ouvido vicia. Isso perfeitamente possvel, e poder ser um autoengano. Por isso, ao tirar, voc dever tocar vrias vezes para conferir todos os sons. A prova dos nove pedir para algum tocar com a gravao. Se for um bom executante, logo voc mesmo per-ceber as diferenas. Se voc tocar e viciar em se enganar, com o tempo arrumar um problemo.

    Com esses cuidados ser possvel obter um nvel satisfatrio em cada solo. Com o passar dos anos, tudo vai clareando e aquela velha frase do quebrou tudo vai dando lugar a um melhor entendimento, em que voc perceber cada escala, diviso e passagem harmnica executada. Acredite, tudo possvel, basta praticar, e de forma exaustiva poder chegar a um nvel que jamais imaginou. Com um empurrozinho, objetivo, pacincia e autoestima, as coisas vo !cando cada vez mais acessveis, e depois de algum tempo voc acabar entendendo as linhas de solo e analisar tudo por cima, sem a necessidade de esmiu-las.

    conclusoSei que existem vrias linhas de pensamento sobre tirar ou no solos, mas deixo aqui a minha contribuio dizendo que para mim tudo isso fun-cionou, pois sempre pensei que no somos autossu!cientes. Nossa inspi-rao vem das mnimas coisas at as mais complexas. Nesse caso, copiar solos como gerar imagens musicais e contedo, para que voc os tenha em seu crebro e acesse sempre que precisar. importante relembrar o legado de cada msico, mesmo que seja em uma frase, pois isso mostra a importncia e a grandeza do que eles so para todos ns, estudantes e pro!ssionais da improvisao.

    Terminando essa dica, lembro que importante ir di!cultando o nvel para chegar a msicas tecnicamente mais complexas, e tornar esse exerccio uma prtica saudvel. Nenhum msico cria todas as situaes musicais de forma instantnea e sim acessa informaes que esto no crebro, pois se elas no estiveram l, de onde se pode tirar?

    Nesses 13 anos cheguei a tirar cerca de cem solos. Entre eles, cito os seguintes msicos: Oliver Nelson, Freddie Hubbard, Miles Davis, John Coltrane, Michael Brecker, Branford Marsalis, Kenny Garrett, Joshua Redman, Eddie Daniels, Wynton Marsalis, Pat Metheny, Vitor Assis Brasil, Idriss Boudrioua, Lula Galvo, Alexandre Carvalho, Widor San-tiago, Marcelo Martins e Moiss Alves.

    Lembro que um dos nossos maiores saxofonistas de todos os tempos disse que 90% do que ele tocava era tirado de John Coltrane. Quem ele? Michael Brecker. E deixo aqui uma frase que a Elizabeth Taylor disse sobre Michael Jackson se inspirar em James Brown: Um artista sempre se inspira em outro bom artista.

    Para mim, a diferena que o que voc pode fazer expandir o co-nhecimento adquirido uma vez que toma emprestada a inspirao de outros para seu laboratrio musical. Por !m, tenho certeza de que por mais que se copie, no existem dois DNAs idnticos. Sua assinatura e alma estaro l, soando sempre de uma nova forma.

    transcri

    o

    As sequncias modais, apesar de serem semelhantes, podem no ser to bvias para quem tem um ouvido mais tonal, pois elas po-

    dem estar deslocadas da posio original do acorde, o que di!culta a percepo e torna mais necessrio o uso do instrumento.

    Aqui, o que se torna um pouco mais difcil o fato de que a melodia segue uma harmonia prpria, sobrepondo-se harmonia proposta, e na frase esto envolvidos vrios recortes de tons que, se tocados de forma rpida, vo enriquecer o som proposto do acorde.

    Nesse caso, o ouvido poder ter mais di!culdade no incio. Por isso bom comear a se aventurar em algo simples e mais meldico, para entender os princpios usados de forma mais clara.

    Exemplo 2 continuao

    Exemplo 3 Microtons relacionados

    Exemplo 4

    H tambm a questo rtmica e a possibilidade do choque de diviso escrita, pois a escrita sugere uma execuo quase semelhante: