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ADÃO QUEBROU OS DEZ MANDAMENTOS NO E´DEM Quais mandamentos Adão quebrou no Jardim quando ele e sua esposa comeram da árvore que Deus ordenou não comessem (Gn 2.16-17; 3.6)? Creio que ele quebrou cada um dos dez mandamentos, e não apenas um ou dois mandamentos específicos (cf. Tiago 2.10). Em sua incredulidade, quebrou o primeiro mandamento. Como o Reformador corretamente destacou, o primeiro pecado de Adão foi a incredulidade. Ele falhou em amar a Deus, e em lugar disso demonstrou um amor próprio pecaminoso. Ele estava buscando satisfazer-se. Seu pecado incluiu “incredulidade, falta de confiança, desespero, orgulho, presunção, [e] covardia”. Ele também falhou em depender do Espírito Santo. Quebrou o segundo mandamento. Deus deveria ser cultuado de uma maneira específica, que incluía aquilo que Adão fora ordenado fazer, bem como aquilo que fora ordenado não fazer. Mas Adão transgrediu as leis da correta adoração. Adão tolerou a falsa religião e (como profeta, sacerdote, e rei) não guardou o templo de Deus. Ele deveria ter esmagado a cabeça da serpente. Quebrou o terceiro mandamento. Como filho de Deus, e alguém que carregava a imagem de Deus, Adão trouxe desonra ao seu Pai. Deus deve ser honrado por meio daqueles que carregam o seu nome. Além disso, a palavra de Deus — a Palavra com a qual falou a Adão e o alertou — não foi reverentemente usada por Adão; este fracassou em falar a teologia verdadeira à serpente. Quebrou o quarto mandamento. A desobediência de Adão o impediu de entrar no descanso sabático eterno. Ele deveria, como nós, fazer todo o esforço para entrar no descanso de Deus (Hb 4.11). Ele não “descansou” em Deus quando permitiu que sua esposa comesse da árvore que ele fora ordenado não comer. Ele pôs em jogo seu descanso eterno, o que é uma violação do sabá. Quebrou o quinto mandamento. Adão não honrou seu pai. Seus dias teriam sido prolongados caso o tivesse feito. Quebrou o sexto mandamento. Adão se tornou um assassino perverso, tal como Satanás, quando pecou contra Deus (Rm 5). Ele tinha, para com sua posteridade, o dever de lhes garantir vida, mas, ao invés disso, lhes trouxe morte. Quebrou o sétimo mandamento. Adão não mostrou amor para com sua esposa quando permaneceu silente e deixou que ela falasse com o diabo. Ele deveria ter protegido Eva, mas não o fez.

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Monergismo - Direito Autoral

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Page 1: Adão Quebrou Os Dez Mandamentos No E

ADÃO QUEBROU OS DEZ MANDAMENTOS NO E´DEM

Quais mandamentos Adão quebrou no Jardim quando ele e sua esposa comeram da árvore que Deus ordenou não comessem (Gn 2.16-17; 3.6)? Creio que ele quebrou cada um dos dez mandamentos, e não apenas um ou dois mandamentos específicos (cf. Tiago 2.10).

Em sua incredulidade, quebrou o primeiro mandamento. Como o Reformador corretamente destacou, o primeiro pecado de Adão foi a incredulidade. Ele falhou em amar a Deus, e em lugar disso demonstrou um amor próprio pecaminoso. Ele estava buscando satisfazer-se. Seu pecado incluiu “incredulidade, falta de confiança, desespero, orgulho, presunção, [e] covardia”. Ele também falhou em depender do Espírito Santo.

Quebrou o segundo mandamento. Deus deveria ser cultuado de uma maneira específica, que incluía aquilo que Adão fora ordenado fazer, bem como aquilo que fora ordenado não fazer. Mas Adão transgrediu as leis da correta adoração. Adão tolerou a falsa religião e (como profeta, sacerdote, e rei) não guardou o templo de Deus. Ele deveria ter esmagado a cabeça da serpente.

Quebrou o terceiro mandamento. Como filho de Deus, e alguém que carregava a imagem de Deus, Adão trouxe desonra ao seu Pai. Deus deve ser honrado por meio daqueles que carregam o seu nome. Além disso, a palavra de Deus — a Palavra com a qual falou a Adão e o alertou — não foi reverentemente usada por Adão; este fracassou em falar a teologia verdadeira à serpente.

Quebrou o quarto mandamento. A desobediência de Adão o impediu de entrar no descanso sabático eterno. Ele deveria, como nós, fazer todo o esforço para entrar no descanso de Deus (Hb 4.11). Ele não “descansou” em Deus quando permitiu que sua esposa comesse da árvore que ele fora ordenado não comer. Ele pôs em jogo seu descanso eterno, o que é uma violação do sabá.

Quebrou o quinto mandamento. Adão não honrou seu pai. Seus dias teriam sido prolongados caso o tivesse feito.

Quebrou o sexto mandamento. Adão se tornou um assassino perverso, tal como Satanás, quando pecou contra Deus (Rm 5). Ele tinha, para com sua posteridade, o dever de lhes garantir vida, mas, ao invés disso, lhes trouxe morte.

Quebrou o sétimo mandamento. Adão não mostrou amor para com sua esposa quando permaneceu silente e deixou que ela falasse com o diabo. Ele deveria ter protegido Eva, mas não o fez.

Quebrou o oitavo mandamento. Ele permitiu que sua esposa furtasse. Ela tomou aquilo que não deveria tomar. E Adão participou no furto.

Quebrou o nono mandamento. Ele se tornou como o pai da mentira (Jo 8.44) ao falhar em falar a verdade sobre Deus e defender a bondade de Deus quando questionado. Adão deveria ter rebatido a calúnia de Satanás. Ele permitiu que a mentira fosse propagada quando deixou que Eva tomasse do fruto proibido.

Quebrou o décimo mandamento. Adão não se contentou com sua própria situação. Ele estava descontente com aquilo que Deus lhe havia dado. E cobiçou aquilo que Deus havia proibido.

Tudo isso explica por que a apostasia de Adão foi tão má. Ele não cometeu um simples equívoco, mas pecou deliberadamente contra Deus e contra o próximo. Em sua incredulidade, ele quebrou todos os mandamentos de Deus, e não apenas um.

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Em nosso próprio pecado, nós raramente, se é que alguma vez, quebramos um mandamento. Nosso pecado quase sempre envolve a quebra de vários mandamentos ao mesmo tempo. Além disso, nossos pecados contra a segunda tábua da lei são geralmente uma falha em guardar a primeira tábua da lei. Quando lido com pessoas que, por exemplo, têm problemas com o sétimo mandamento, minha resposta é lidar com os quatro primeiros mandamentos, e não apenas com o sétimo.

No futuro, pretendo tratar de como Cristo guardou todos os dez mandamentos no “deserto”, em resposta à quebra dos dez mandamentos por parte de Adão no Éden.

Original: Adam Broke all Ten Commandments in the Garden

Tradução: Márcio Santana Sobrinho

CRISTO CUMPRIU OS DEZ MANDAMENTOS

Adão quebrou os dez mandamentos no Éden. Mas Cristo guardou os dez mandamentos no “deserto”, sob circunstâncias muito mais intensas do que aquelas às quais Adão foi submetido.

Guardou o primeiro mandamento. Ele trouxe glória a Deus o Pai enquanto esteve na terra (Jo 17.4). Temeu, creu, e confiou em seu Pai (Hb 2.13; 5.7; Lc 4.1-12). Cristo zelou pela glória de seu Pai (Jo 2.17) e foi constantemente grato ao seu Pai (Jo 11.41). Ele prestou completa obediência ao Pai em todas as coisas (Jo 10.17; 15.10).

Guardou o segundo mandamento. Ninguém jamais cultuou como Cristo (Lc 4.16). Ele leu, pregou, orou e cantou a Palavra de Deus com um coração puro (Sl 24.3-4). Ele condenou o falso culto (Jo 4.22; Mt 15.9). Além disso, aquele que era a imagem visível de Deus não precisou fazer imagens ilícitas de Deus.

Guardou o terceiro mandamento. Como portador da imagem de Deus (Cl 1.15), ele revelou o Pai de modo perfeito (Jo 14.9). Falou somente aquilo que havia recebido do Pai (Jo 12.49). Em outras palavras, ele jamais tomou o nome de Deus em vão, mas falou apenas a verdade sobre o Pai e trouxe glória ao Pai por viver em conformidade com quem ele é (o Filho de Deus).

Guardou o quarto mandamento. “Entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga…” (Lc 4.16). Ele fez obras de piedade, misericórdia e necessidade no dia de descanso (e.g.: Mc 2.23-28). Além disso, o Senhor do Sábado assegurou nosso sabá eterno por meio de sua morte na cruz, permanecendo no sepulcro no sábado, e ressurgindo no domingo.

Guardou o quinto mandamento. Ele sempre fez aquilo que agradava a seu Pai celestial (Jo 8.29). Sobre a cruz, mesmo enquanto estava morrendo, preocupou-se em cuidar de sua mãe (Jo 19.27). Ele também guardou as leis terrenas (Mc 12.17; Mt 17.24-27).

Guardou o sexto mandamento. Jesus preservou a vida. Ele fez isso física e espiritualmente. Ele salvou pecadores de seus pecados (Jo 5.40). E também curou muitas pessoas (Mt 4.23). Foi manso, gentil, amável e pacífico enquanto esteve na terra (e.g.: Mt 11.29). Sua vida foi de misericórdia e compaixão (e.g.: Lc 18.35-43).

Guardou o sétimo mandamento. Cristo, o marido, entregou sua vida por sua noiva (Ef 5.22-33). Embora eu não tenha dúvidas de que ele achava algumas mulheres atrativas, ele jamais cruzou os limites adequados com respeito à interação entre homens e mulheres, e seus pensamentos sempre foram puros com respeito a pessoas do sexo oposto (cf. 1Tm 5.2).

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Guardou o oitavo mandamento. Cristo doou livremente (Jo 2.1-11). Ele se opôs ao roubo (Jo 2.13-17). João 2 retrata, entre outras coisas, Cristo guardando o oitavo mandamento. Aquele que era rico se tornou pobre para que nós, em nossa pobreza, pudéssemos nos tornar ricos (2Co 8.9).

Guardou o nono mandamento. Ele sempre falou a verdade (Jo 8.45-47) porque falou somente as palavras que o Pai lhe havia dado (Jo 12.49). Ele defendeu a verdade porque ele é a Verdade (Jo 1.14, 17; 14.6). Ele não maquiou a verdade (Mt 23), não a falou fora de tempo ou a sonegou (Mt 26.64).

Guardou o décimo mandamento.  Aquele que é dono do céu e da terra é aquele que também disse: “As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9.58). Aquele que poderia facilmente saciar sua própria necessidade e desejo contentou-se com aquilo que vinha da mão do Pai (Lc 4.1-12). Ele não cobiçou aquilo que não era propriamente seu, mas com paciente resistência recebeu sua herança por meio da cruz.

Nos círculos reformados devemos, em nossa pregação, fazer um melhor trabalho em explicar como Cristo guardou perfeitamente a lei. Uma coisa é dizer e sempre repetir: “Jesus guardou a lei perfeitamente por nós [como um pacto de obras] para que pudéssemos ser salvos”; mas outra coisa é explicar precisamente como ele guardou a lei e o que estava envolvido nessa guarda da lei. Ouvir sobre a obediência ativa de Cristo e sobre a imputação gratuita de Deus a nós, por meio da fé, dessa obediência ativa, não deve nunca ser algo que se resuma a frases de efeito.

Quando Wyclif escreveu de sua Bíblia em inglês que “Esta Bíblia é para o governo do povo, pelo povo, e para o povo”, sua declaração não atraiu nenhuma atenção até onde dizia respeito sua ênfase sobre a centralidade da lei bíblica. Que a lei deveria ser a lei de Deus era mantido por todos; Wyclif afastou-se da opinião aceita ao dizer que o próprio povo deveria não somente ler e conhecer essa lei, mas também em algum sentido governar bem como ser governado por ela. Nesse ponto, Heer está correto ao dizer que “Wyclif e Hus foram os primeiros a demonstrar à Europa a possibilidade de uma aliança entre a universidade e o anelo das pessoas por salvação. Foi a liberdade de Oxford que sustentou Wyclif”.[1] A preocupação era menos com a Igreja ou Estado do que com o governo pela lei-palavra de Deus.

Brin disse, sobre a ordem hebraica social, que ela difere de todas as outras pelo fato de considerar-se fundamentada e governada pela lei de Deus, que a deu especificamente para o governo do homem.[2] Não menos que o Israel antigo, o cristianismo acredita ser o reino de Deus porque é governado pela lei de Deus como apresentada na Escritura. Há afastamentos dessa lei, variações dela, e lassidão na fidelidade a ela, mas o cristianismo se vê como o novo Israel de Deus e não menos sujeito à Sua lei.

Quando a Nova Inglaterra começou sua existência como entidade legal, sua adoção da lei bíblica foi tanto um retorno à Escritura como um retorno ao passado da Europa. Foi um novo começo em termos dos antigos fundamentos. Não foi um começo fácil, visto que muitos dos servos que vieram com os puritanos mais tarde estavam em plena revolta contra a fé e ordem bíblica.[3] Todavia, foi um retorno resoluto aos fundamentos do cristianismo. Dessa forma, os registros da colônia de New Haven mostram que a lei de Deus, sem qualquer sentido de inovação, tornou-se a lei da colônia:

2 de março de 1641/2: E conforme o acordo fundamental, realizado e publicado por consentimento pleno e geral, quando iniciou-se a plantação e o governo foi estabelecido, de que a lei judicial de Deus dada por Moisés e exposta em outras partes da Escritura, visto ser um limite e uma cerca para a lei moral, e não ter nenhuma referência cerimonial ou típica à Canaã, tem uma equidade eterna nela, e deve ser a regra dos procedimentos da colônia.[4]

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3 de abril de 1644: Ordenou-se que as leis judiciais de Deus, como entregues por Moisés… sejam a regra para todos os tribunais nesta jurisdição em seus procedimentos contra ofensores…”.[5]

Thomas Shepard escreveu, em 1649, “Pois todas as leis, quer cerimoniais ou judiciais, podem ser remetidas ao decálogo, como apêndices a ele, ou aplicações dele, e assim abranger todas as outras leis como seu resumo”. [6]

É uma ilusão sustentar que tais opiniões eram simplesmente uma aberração puritana, e não uma prática verdadeiramente bíblica e um aspecto da vida persistente do cristianismo. É uma heresia moderna a que sustenta que a lei de Deus não tem nenhum significado ou nenhuma força obrigatória para o homem de hoje. É um aspecto da influência do pensamento humanista e evolucionário sobre a igreja, e ele postula um deus que evolui e se desenvolve. Esse deus “dispensacionalista” se expressou na lei numa época antiga, então mais tarde se expressou pela graça somente, e agora talvez se expresse de alguma outra maneira. Mas esse não é o Deus da Escritura, cuja graça e lei permanecem a mesma em todas as épocas, pois ele, como o Senhor soberano e absoluto, não muda, nem precisa mudar. A força do homem é a perfeição do seu Deus.

Tentar estudar a Escritura sem estudar a sua lei é negar a Escritura. Tentar entender a civilização ocidental à parte do impacto da lei bíblica dentro dela e sobre ela é procurar uma histórica fictícia e rejeitar vinte séculos e todo o seu progresso.

As Institutas da Lei Bíblica tem como seu propósito uma inversão da tendência atual. Ela é chamada “Institutas” no significado antigo dessa palavra, i.e., princípios fundamentais, neste caso, da lei, pois a intenção é ser um começo, instituindo uma consideração dessa lei que deve governar a sociedade, e que governará a sociedade sob Deus.

NOTAS:

[1] Friedrich Heer, The Intellectual History of Europe (Cleveland: The World Publishing Co., 1966), p. 184.

[2] Joseph G. Brin, “The Social Order Under Hebrew Law,” The Law Society Journal, vol. VII, no. 3 (August, 1936), pp. 383-387.

[3] Henry Bamford Parkes, “Morals and Law Enforcement in Colonial England,” The New England Quarterly, vol. 5 (July, 1932), pp. 431-452

[4] Charles Hoadly, ed., Records of the Colony and Plantation of New Haven from 1638 to 1649 (Hartford: for the Editor, 1857), p. 69.

[5] Ibid., p. 130.

[6] John A. Albro, ed., The Works of Thomas Shepard, III, Theses Sabbatical (1649) (Boston: Doctrinal Tract and Book Society, 1853; New York: AMS Press, 1967), p. 49.

Fonte: Extraído da introdução do excelente livro The Institutes of Biblical Law, Volume 1.

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – maio/2011