ada catarina soares de sena costa

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS CURSO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA ADA CATARINA SOARES DE SENA COSTA O USO DO CACTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: MUCILAGEM ADICIONADA A COMPONENTES CONSTRUTIVOS MOSSORÓ-RN 2012

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Page 1: ada catarina soares de sena costa

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E

TECNOLÓGICAS

CURSO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

ADA CATARINA SOARES DE SENA COSTA

O USO DO CACTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: MUCILAGEM ADICIONADA A

COMPONENTES CONSTRUTIVOS

MOSSORÓ-RN

2012

Page 2: ada catarina soares de sena costa

ADA CATARINA SOARES DE SENA COSTA

O USO DO CACTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: MUCILAGEM ADICIONADA A

COMPONENTES CONSTRUTIVOS

Monografia apresentada à Universidade Federal

Rural do Semi-Árido – UFERSA, Departamento

de Ciências Ambientais e Tecnológicas – DCAT

para a obtenção do título de Bacharel em Ciência

e Tecnologia.

Orientador (a): Profª. D. Sc. Marília Pereira de

Oliveira – UFERSA.

MOSSORÓ-RN

2012

Page 3: ada catarina soares de sena costa

Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e

catalogação da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA

Bibliotecária: Vanessa de Oliveira Pessoa

CRB15/453

C837u Costa, Ada Catarina Soares de Sena.

O uso do cacto na construção civil: mucilagem adicionada a

componentes construtivos. / Ada Catarina Soares de Sena Costa.

-- Mossoró, 2012.

48 f.: il.

Monografia (Graduação em Ciência e tecnologia) –

Universidade Federal Rural do Semi-Árido.

Orientadora: Drª. Marília Pereira de Oliveira.

1. Argamassas. 2. Aditivos. 3. Mucilagem de cactos. I. Título.

CDD: 691.5

Page 4: ada catarina soares de sena costa

ADA CATARINA SOARES DE SENA COSTA

O USO DO CACTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: MUCILAGEM ADICIONADA A

COMPONENTES CONSTRUTIVOS

Monografia apresentada à Universidade Federal

Rural do Semi-Árido – UFERSA, Departamento

de Ciências Ambientais e Tecnológicas – DCAT

para a obtenção do título de Bacharel em Ciência

e Tecnologia.

Page 5: ada catarina soares de sena costa

Aos meus pais: Francisco de Assis de Sena Costa

e Izabel Maria Soares de Sena Costa.

Ao meu tio: Antão Sena Filho.

Page 6: ada catarina soares de sena costa

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, acima de tudo, por se fazer constante em minha vida, guiando meus passos,

protegendo-me em todos os caminhos que percorro e fazendo-me forte e esperançosa quando

estou prestes a fraquejar.

Agradeço à minha mãe, Izabel Maria Soares de Sena Costa, por todo apoio e colaboração em

todos os sentidos, sempre.

Agradeço ao meu pai, Francisco de Assis de Sena Costa, por ter sacrificado anos de sua vida

para ter como investir na educação de base minha e de meus irmãos, fundamental para eu ter

chegado aonde cheguei.

Agradeço ao meu tio, Antão Sena Filho, pelo apoio de sempre, confiança, incentivo e pela sua

significância para mim, assim como para toda a minha família.

Agradeço à minha avó, Salma Semiranis de Sena, pelas contribuições financeiras tão

importantes para que eu pudesse continuar meus estudos.

Agradeço aos demais familiares que próximos ou à distância acreditaram na minha

capacidade e sempre tiveram alguma palavra de incentivo para me dar.

Agradeço aos professores que tiveram participação na minha formação ao longo de toda

minha vida. A todos eles, devo admiração, respeito e reconhecimento.

Agradeço aos muitos amigos com quem firmei amizade ao longo de toda minha vida, pois

foram essenciais para que eu continuasse a minha jornada, sabendo que não estaria sozinha,

como em muitos momentos difíceis estenderam as mãos para me auxiliar e/ou serviram de

exemplo para que eu me convencesse que todo sacrifício valeria a pena.

Agradeço, em especial, à Michelle, Pacelli, Felipe e Janielly, seja pelo fato de serem os

amigos mais próximos e/ou por terem me dado mais do que apoio, atenção e credibilidade,

uma palavra certa, na hora certa, que foi decisiva diante de algum problema que enfrentei.

Agradeço também à minha orientadora, Marília Pereira de Oliveira, que forneceu a ideia base

para este trabalho, bem como pela sua orientação e paciência ao longo desses últimos meses.

Page 7: ada catarina soares de sena costa

“Uma jornada de duzentos quilômetros

começa com um simples passo.”

(Provérbio chinês)

Page 8: ada catarina soares de sena costa

RESUMO

A indústria da construção civil é um dos setores em constante ascensão, principalmente

impulsionada pelo crescimento populacional e pelo bom momento da economia, o que a

motiva a estar interessada em encontrar soluções sobre novos materiais que ajudem a

aperfeiçoar os processos de construção e ainda possam reduzir seus custos. Um dos recursos

disponíveis é o resgate de técnicas antigas que possam ser utilizadas na construção alternativa.

O uso de aditivos tem a finalidade de ampliar as qualidades ou minimizar os pontos fracos de

argamassas e concretos. Há registros que comprovam que no passado foram utilizados

compostos orgânicos empregados como aditivos capazes de promover maior plasticidade e

resistência mecânica a argamassas. Dentre os compostos orgânicos disponíveis tem-se o

cacto, material disponível em abundância na região do semi-árido nordestino brasileiro. Este

trabalho reúne dados que comprovam as propriedades aditivas da mucilagem de cactos.

Palavras-chave: Argamassas. Aditivos. Mucilagem de cactos.

Page 9: ada catarina soares de sena costa

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Espécies de cactos dominantes do nordeste brasileiro 24

Figura 2 - Raiz do cacto barril-dourado 24

Figura 3 - Espinhos de cacto 25

Figura 4 - Figo-da-índia 26

Figura 5 - Coleta de amostras de reboco à base de cal com mucilagem de cactos 28

Figura 6 - Igreja São Sebastião, SC 28

Figura 7 - Restauração das ruínas de Chan-Chan, Peru 29

Figura 8 - Igreja Matriz, Olhão, Portugal 30

Figura 9 - Pintura de casa com mucilagem de palma associada à cal, Valente, Bahia 30

Figura 10 - Nopalea cochenillifera 31

Figura 11 - Comparação entre os tempos de pega inicial e final das argamassas M1

(0% de cacto em pó) e M2 (5% de cacto em pó)

38

Figura 12 - Resistência à compressão das misturas M1 (0% de cacto em pó) e M2

(5% de cacto em pó)

39

Figura 13 - Gráfico comparativo entre as médias de resistência à compressão 41

Figura 14 - Gráfico comparativo entre as médias de resistência à tração 41

Page 10: ada catarina soares de sena costa

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação das argamassas segundo as suas funções na construção 18

Tabela 2 - Classificação das argamassas 19

Tabela 3 - Média da absorção de água dos corpos de prova com 14 dias de moldagem e

média da resistência à flexão estática dos corpos de prova com 90 dias de moldagem

34

Tabela 4 - Resistência à flexão e à compressão das argamassas de cimento Portland e

areia, na proporção 1:3

36

Tabela 5 - Consistência da pasta M1 37

Tabela 6 - Consistência da pasta M2 37

Tabela 7 - Coeficiente de absorção (CA) e valor assintótico da quantidade de água

absorvida por unidade de superfície (M*) para cada tipo de argamassa

42

Page 11: ada catarina soares de sena costa

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 12

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 12

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 12

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 13

4 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 14

4.1 AGLOMERANTES ........................................................................................................... 14

4.1.1 Gesso ............................................................................................................................... 14

4.1.2 Cal ................................................................................................................................... 15

4.1.3 Cimento .......................................................................................................................... 17

4.2 ARGAMASSAS ................................................................................................................. 18

4.2.1 Classificação ................................................................................................................... 18

4.2.2 Propriedades .................................................................................................................. 20

4.2.2.1 Estado fresco ................................................................................................................ 20

4.2.2.2 Estado endurecido......................................................................................................... 20

4.3 ADITIVOS ......................................................................................................................... 21

4.4 CACTÁCEAS .................................................................................................................... 23

4.4.1 Distribuição geográfica dos cactos ............................................................................... 23

4.4.2 Morfologia geral das cactáceas ..................................................................................... 24

4.5 UTILIZAÇÃO DOS CACTOS .......................................................................................... 26

4.6 USO DO CACTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL ................................................................ 27

4.6.1 Introdução ...................................................................................................................... 27

4.6.2 Cactos como aditivo em pastas de gesso ...................................................................... 31

4.6.3 Cactos como aditivo em argamassas de cimento portland ........................................ 35

4.6.4 Cactos como aditivo em argamassas de cal ................................................................. 39

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 45

Page 12: ada catarina soares de sena costa

10

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 2007), a partir de 2008, metade da

população mundial já seria urbana. O crescimento populacional em áreas urbanas é um dos

fatores que mantém aquecida a indústria da construção civil. No entanto, a indústria da

construção é uma das grandes responsáveis pelo consumo de matéria-prima e geradora de

resíduos, despertando discussões sobre questões ambientais diante da esgotabilidade de

recursos. Por este motivo, há a necessidade de buscar alternativas tecnológicas para a

construção.

Os materiais de construção em geral, no Brasil, possuem elevado custo, comumente

pelo gasto de energia destinado à sua produção bem como pelo gasto com o transporte dos

mesmos. No caso das argamassas e concretos, outro fator que eleva seus custos é a

incorporação de aditivos, geralmente sintéticos, que permitem modificar ou acrescentar

alguma propriedade ao material.

De acordo com Chandra et al. (1998), nos tempos antigos a durabilidade de estruturas

foi melhorada com o uso de materiais orgânicos, chamados polímeros naturais, que em sua

maioria eram disponibilizados localmente e que, por isso, não eram caros. Estes autores

investigaram o uso do extrato de cactos em argamassas de cimento Portland.

Os cactos são plantas abundantes no Brasil, principalmente na região nordeste e

predominantemente no semi-árido. Sobrevivem a longos períodos de seca, pois, além de seus

espinhos dificultarem a perda de água para o ambiente, possuem internamente uma substância

viscosa, rica em polissacarídeos, denominada mucilagem, que retém água.

Há vasta documentação acerca da utilização da mucilagem de cacto em toda a

América do Sul. Dentre suas utilidades em diversas áreas, destaca-se seu uso na construção

civil. Na América Latina, foi utilizada como estabilizante de terra crua em monumentos e

como consolidante na restauração das ruínas de Chan-Chan, no Peru.

No Brasil, no processo denominado caiação, a mucilagem de cacto atua como agente

fixador da cal ao substrato. No Rio Grande do Sul, relatos orais sobre a utilização de cactos

como aditivos em argamassas históricas de cal e areia puderam ser comprovados mediante

Page 13: ada catarina soares de sena costa

11

pesquisas laboratoriais nessas argamassas e análises dos benefícios do uso do cacto à sua

composição (SAWITZKI, 2006).

Diante da principal desvantagem do gesso, ou seja, sua dissolução em água, torna-se

necessário evitar o contato com a mesma ou adicionar aditivos, impermeabilizantes ou

hidrofugantes. Magalhães (2009) propõe a adição de um impermeabilizante natural

encontrado no cacto.

Em suma, diversos estudos apontam para o ganho de resistência em pastas e

argamassas de gesso, cimento ou cal com a utilização da mucilagem de cactos do gênero

Opuntia, devido às suas propriedades aditivas.

Page 14: ada catarina soares de sena costa

12

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Este trabalho tem como objetivo reunir informações que possam contribuir para o

desenvolvimento de tecnologias construtivas a partir de matéria-prima disponível em

abundância na região do semi-árido nordestino brasileiro - o cacto.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Revisar literatura acerca do cacto e sua utilização, com destaque para o uso na

construção civil;

- Identificar propriedades aditivas da mucilagem de cacto em componentes

construtivos;

- Apresentar dados que comprovem os benefícios da utilização da mucilagem de cacto

em componentes construtivos.

Page 15: ada catarina soares de sena costa

13

3 METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido mediante realização de pesquisa bibliográfica,

abrangendo leitura, análise e interpretação de informações contidas em livros, dissertações,

artigos, revistas, sites, etc, acerca do tema em foco, ou seja, acerca do uso da mucilagem do

cacto e suas propriedades aditivas em componentes construtivos.

Page 16: ada catarina soares de sena costa

14

4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 AGLOMERANTES

Os aglomerantes são produtos empregados na construção civil com o objetivo de fixar

ou aglomerar materiais entre si. Comumente são pulverulentos e quando misturados à água

têm capacidade de aglutinar e formar suspensões coloidais, endurecendo por simples secagem

e/ou em consequência de reações químicas. Dessa forma, aderem à superfície na qual foram

postos em contato. São utilizados na obtenção de pastas, argamassas e concretos.

Quanto à atividade química, classificam-se em:

Quimicamente inertes: endurecem ao ambiente pela evaporação da água de

amassamento, processo esse, reversível, e possuem baixa resistência mecânica, como é o caso

das argilas.

Quimicamente ativos: endurecem, nas condições ambientes de temperatura e pressão,

em decorrência de uma reação química irreversível, atingindo altas resistências físico-

mecânicas.

Os aglomerantes quimicamente ativos dividem-se em:

- Aglomerantes aéreos: endurecem pela ação química do CO2 e não resistem satisfatoriamente

à ação da água. Ex.: Cal área e gesso.

- Aglomerantes hidráulicos: endurecem pela ação da água e resistem satisfatoriamente à ação

da água. Ex.: Cal hidráulica e Cimento Portland.

Os principais aglomerantes são o gesso, a cal e o cimento.

4.1.1 Gesso

De acordo com Ribeiro et al. (2002), o gesso é um aglomerante obtido pela britagem e

desidratação da gipsita. A gipsita é constituída predominantemente de sulfato de cálcio

(CaSO4).

Page 17: ada catarina soares de sena costa

15

Segundo Munhoz apud Magalhães (2009), o beneficiamento da gipsita envolve as

operações de coleta manual, britagem, moagem, peneiramento, ensilamento, calcinação,

estabilização térmica em silos, nova moagem e novo ensilamento, e, por último, o

ensacamento.

A calcinação da gipsita conduz à formação de semi-hidratos e sulfatos-anidro solúveis

e insolúveis, dependendo do limite das temperaturas e pressões correntes na operação de

cozimento. Os sulfatos-anidro solúveis colocados em presença de água reconstituem

rapidamente o sulfato biidratado original. Como a hidratação é uma reação exotérmica, ocorre

elevação da temperatura. O sulfato-anidro insolúvel por não ser suscetível a reidratação

rápida, sendo praticamente inerte, participa do conjunto desempenhando papel de material de

enchimento, como a areia na argamassa.

O gesso é um material relativamente abundante em algumas regiões do mundo, onde o

seu preço é comparável ou até mesmo inferior ao da cal. Por este motivo, é utilizado como

material de revestimento de paredes e forros, conferido fino acabamento. Apresenta excelente

resistência ao fogo e contribui para o equilíbrio da umidade relativa do ar, devido à sua

facilidade de absorção de água.

Duas particularidades devem ser levadas em consideração acerca do uso do gesso: não

pode ser utilizado em exteriores, por ser solúvel em água, e só pode ser armado com

armaduras galvanizadas, pois provoca a corrosão do aço (RIBEIRO et al., 2002).

Segundo o Sindicato da Indústria do Gesso do Estado de Pernambuco (Sindusgesso,

2012), o Pólo Gesseiro de Pernambuco, responsável por 95% da produção anual brasileira,

possui uma reserva estimada em 1,22 bilhões de toneladas, com capacidade de exploração

prevista para 600 anos. Dessa forma, constitui-se numa das mais expressivas e importantes do

mundo, levando-se em consideração o alto teor de pureza do gesso.

4.1.2 Cal

Bauer (2011) define cal como sendo o nome genérico de um aglomerante simples

resultante da calcinação de rochas calcárias. O óxido de cálcio puro é o resultado dessa

calcinação. Nas rochas calcárias naturais, o carbonato de cálcio é comumente substituído, em

menor ou maior proporção, pelo carbonato de magnésio, o que não constitui impureza

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16

propriamente dita, sendo esse papel desempenhado pela sílica e pelos óxidos de ferro e de

alumínio. Outras matérias-primas destinadas à produção de cal são os depósitos de resíduos

de esqueletos de animais, como ocorre em nossos sambaquis.

Durante a calcinação do calcário natural, o carbonato de cálcio, submetido a

temperaturas próximas de 900°C, decompõe-se em óxidos de cálcio e anidridos carbônicos. O

produto da calcinação ainda não é o aglomerante usado na construção, denomina-se cal viva e

apresenta-se sob a forma de grãos de tamanhos variados, sendo comuns dimensões de 10, 15

ou 20 cm, em média.

Reação química da calcinação: CaCO3 + calor CaO + CO2

O óxido deve ser hidratado, processo esse denominado extinção, e transforma-se em

hidróxido, que é o constituinte básico do aglomerante cal. Quando a hidratação se dá no

canteiro de serviço, o hidróxido resultante denomina-se cal extinta, mas quando se dá na

fábrica, denomina-se cal hidratada. A extinção é uma reação bastante exotérmica,

acompanhada de considerável aumento de volume, e quando se dá na variedade cálcica de

grande pureza, o processo é violento.

Reação química da extinção: CaO + H2O Ca(OH)2

As argamassas de cal são elaboradas misturando-se a cal extinta com água e areia.

Possuem consistência mais ou menos plástica e endurecem, de fora para dentro, por

recombinação do hidróxido com o gás carbônico presente na atmosfera, reconstituindo o

carbonato original. Essa dependência do ar atmosférico para endurecer explica o nome

ordinariamente dado a esse aglomerante – cal aérea. A reação denominada carbonatação

ocorre na temperatura ambiente e exige a presença de água.

Reação química da carbonatação: Ca(OH)2 + CO2 CaCO3 + H2O

De acordo com a composição química, as variedades de cal aérea classificam-se em

cal cálcica (mínimo de 75% de CaO) ou cal magnesiana (mínimo de 20% de MgO), e de

acordo com o rendimento em pasta, classificam-se em cal gorda (rendimento maior que 1,82)

ou cal magra (rendimento inferior a 1,82).

A cal hidratada apresenta-se como um produto seco, em forma de flocos de cor branca,

e oferece sobre a cal virgem algumas vantagens, como facilidade de manuseio, transporte e

armazenamento. Trata-se de um produto pronto para ser utilizado.

Page 19: ada catarina soares de sena costa

17

Cal hidráulica é o nome aplicado para uma família de aglomerantes de composição

variada, também obtida pela calcinação de rochas calcárias, porém contém uma porção

apreciável de materiais argilosos e a propriedade de endurecer sob a água, apesar de sofrer

igualmente a ação de endurecimento pela carbonatação proveniente da fixação de CO2 do ar.

Contudo, não é um produto apropriado para construções sob a água. De pega muito lenta,

torna-se mais adequada a emprego de menor responsabilidade.

4.1.3 Cimento

Cimento Portland é o aglomerante obtido pela moagem do clinker (resultante da

calcinação até fusão incipiente de uma mistura de calcário e argila) mais gipsita. A argila

utilizada para a sua fabricação é essencialmente constituída de um silicato hidratado

complexo de alumínio, geralmente contendo ferro e outros óxidos minerais, em menores

porcentagens. A gipsita é adicionada no final do processo de fabricação com a função de

regular o tempo de pega (ALVES, 1977).

Trata-se de um pó fino, com propriedades aglomerantes, que endurece sob ação da

água. Uma vez endurecido, mesmo que seja novamente submetido à ação da água, não se

decompõe mais. É produzido em instalações industriais de grande porte, comumente

localizadas junto às jazidas em situação favorável para o transporte do produto acabado até os

centros consumidores (BAUER, 2011).

A fabricação do cimento Portland se dá mediante seis processos principais, a saber:

extração da matéria-prima, britagem, moedura e mistura, queima, moedura do clinker e

expedição.

O produto acabado é ensacado em sacos de papel apropriado, acarretando a exigência

de cuidados no seu armazenamento a fim de se evitar qualquer risco de hidratação, uma vez

que os sacos não garantem a impermeabilização necessária. Não é recomendado o

armazenamento de cimento por mais de três meses.

De acordo com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP, 2002), dentre os

principais tipos de cimento Portland existentes no Brasil, os mais empregados nas diversas

obras de construção civil são: cimento Portland comum, cimento Portland composto, cimento

Portland de alto-forno e cimento Portland pozolânico.

Page 20: ada catarina soares de sena costa

18

4.2 ARGAMASSAS

De acordo com Isaia (2007), “argamassas são materiais de construção, com

propriedades de aderência e endurecimento, obtidos a partir da mistura homogênea de um ou

mais aglomerantes, aglomerado miúdo (areia) e água, podendo conter ainda aditivos e adições

minerais”. As pastas são misturas íntimas de um ou mais aglomerantes e água, mas quando

preparadas com excesso de água, são denominadas natas.

4.2.1 Classificação

A Tabela 1 mostra a classificação das argamassas quanto às suas funções.

Tabela 1 - Classificação das argamassas segundo as suas funções na construção.

Função Tipos

Para construção de alvenarias

Argamassa de assentamento (elevação da

alvenaria)

Argamassa de fixação (ou encunhamento)

– alv. de vedação

Para revestimento de paredes e tetos

Argamassa de chapisco

Argamassa de emboço

Argamassa de reboco

Argamassa de camada única

Argamassa para revestimento decorativo

monocamada

Para revestimento de pisos

Argamassa de contrapiso

Argamassa de alta resistência para piso

Para revestimentos cerâmicos

(paredes/pisos)

Argamassa de assentamento de peças

cerâmicas – colante

Argamassa de rejuntamento

Para recuperação de estruturas Argamassa de reparo

Fonte: Isaia (2007).

Page 21: ada catarina soares de sena costa

19

As argamassas são classificadas ainda com relação a vários critérios, como mostra a

Tabela 2.

Tabela 2 - Classificação das argamassas.

Critério de classificação Tipo

Quanto à natureza do aglomerante Argamassa aérea

Argamassa hidráulica

Quanto ao tipo de aglomerante

Argamassa de cal

Argamassa de cimento

Argamassa de cimento e cal

Argamassa de gesso

Argamassa de cal e gesso

Quanto ao número de aglomerantes Argamassa simples

Argamassa mista

Quanto à consistência da argamassa

Argamassa seca

Argamassa plástica

Argamassa fluida

Quanto à plasticidade da argamassa

Argamassa pobre ou magra

Argamassa média ou cheia

Argamassa rica ou gorda

Quanto à densidade de massa da

argamassa

Argamassa leve

Argamassa normal

Argamassa pesada

Quanto à forma de preparo ou

fornecimento

Argamassa preparada em

obra

Mistura semipronta para

argamassa

Argamassa industrializada

Argamassa dosada em

central

Fonte: Isaia (2007).

As argamassas produzidas para assentamento de componentes de alvenaria,

revestimento de tetos e paredes, revestimento de pisos ou contrapisos nos mais variados

processos construtivos, hoje em dia, são comercialmente chamadas de argamassas de múltiplo

uso (SELMO et al., 2002).

Page 22: ada catarina soares de sena costa

20

4.2.2 Propriedades

As argamassas apresentam as seguintes propriedades no estado fresco e no estado

endurecido (ROCHA e XAVIER, 2000):

4.2.2.1 Estado fresco

Período decorrido entre a mistura de aglomerantes e agregados com a água e o início

das reações de pega.

Consistência: propriedade pela qual a argamassa tende a resistir à deformação

(CINCOTTO et al., 1995 apud SILVA, 2006). É influenciada pela quantidade de água

adicionada e pelo uso de aditivos especiais.

Retenção da consistência: propriedade da argamassa em manter sua consistência após

o contato com um substrato. Dependem da retenção de água (ROCHA e XAVIER, 2000).

Coesão e tixotropia: a coesão é a capacidade de a argamassa manter seus

constituintes homogêneos sem sofrer segregação. Argamassas tixotrópicas exigem baixa

energia para alterarem sua forma, mas depois de alterada, conseguem mantê-la mesmo sob a

ação da gravidade (ROCHA e XAVIER, 2000).

Plasticidade: propriedade pela qual a argamassa tende a conservar-se deformada após

a redução das tensões de deformação (SILVA, 2006).

Retenção de água: capacidade de a argamassa manter sua trabalhabilidade quando

sujeita a solicitações que provocam a perda de água (ISAIA, 2007).

Adesão inicial: propriedade de a argamassa manter-se adequadamente unida à base

após a sua aplicação (ROCHA e XAVIER, 2000).

4.2.2.2 Estado endurecido

Período decorrido entre a mistura de aglomerantes e agregados com a água e o fim das

reações de pega.

Page 23: ada catarina soares de sena costa

21

Resistência mecânica: está relacionada à capacidade da argamassa resistir a esforços

de tração, compressão ou cisalhamento, oriundas de cargas estáticas ou dinâmicas atuantes

das edificações ou de efeitos das condições ambientais (NAKAKURA, 2003).

Deformabilidade: propriedade de a argamassa se deformar sem criar tensões no

material (ROCHA e XAVIER, 2000).

Permeabilidade: capacidade de a argamassa se deixar atravessar por um fluido

(ROCHA e XAVIER, 2000).

Retração volumétrica: retração resultante da reação química dos aglomerantes e

remoção da água adsorvida nos produtos de hidratação durante a secagem (ROCHA e

XAVIER, 2000).

Aderência: capacidade da argamassa se fixar ao substrato onde for aplicada (ROCHA

e XAVIER, 2000).

4.3 ADITIVOS

Em 1824, Joseph Aspdin patenteou um cimento artificial que foi denominado cimento

Portland. Em 1873 esse cimento passou a ser aditivado com gesso cru e cloreto de cálcio, a

fim de se regular o seu tempo de pega. Após pesquisas feitas com diversos materiais, chegou-

se a certos aditivos, tais como impermeabilizantes, aceleradores e retardadores que

começaram a ser comercializados no início do século passado. Desde então, a tecnologia dos

aditivos tem se desenvolvido acompanhando o crescente ritmo da construção civil.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT através da NBR 13529 (1995)

define aditivo como sendo “produto adicionado à argamassa em pequena quantidade, com a

finalidade de melhorar uma ou mais propriedades, no estado fresco ou endurecido”. As

substâncias ativas de suas formulações podem ser orgânicas ou inorgânicas, sendo

distribuídas num veículo líquido, pastoso ou sólido.

A NBR 11768 (ABNT, 1992) estabelece a seguinte classificação e definições para os

aditivos para concreto de cimento Portland:

- Aditivo plastificante (tipo P): produto que aumenta o índice de consistência do concreto

mantida a quantidade de água de amassamento, ou que possibilita a redução de, no mínimo,

Page 24: ada catarina soares de sena costa

22

6% da quantidade de água de amassamento para produzir um concreto com determinada

consistência.

- Aditivo retardador (tipo R): produto que aumenta os tempos de início e fim de pega do

concreto.

- Aditivo acelerador (tipo A): produto que diminui os tempos de início e de fim de pega do

concreto, bem como acelera o desenvolvimento das suas resistências iniciais.

- Aditivo plastificante retardador (tipo PR): produto que combina os efeitos dos aditivos

plastificante e retardador.

- Aditivo plastificante acelerador (tipo PA): produto que combina os efeitos dos aditivos

plastificante e acelerador.

- Aditivo incorporador de ar (tipo IAR): produto que incorpora pequenas bolhas de ar ao

concreto.

- Aditivo superplastificante (tipo SP): produto que aumenta o índice de consistência do

concreto mantida a quantidade de água de amassamento, ou que possibilita a redução de, no

mínimo, 12% da quantidade de água de amassamento, para produzir um concreto com

determinada consistência.

- Aditivo superplastificante retardador (tipo SPR): produto que combina os efeitos dos

aditivos superplastificante e retardador.

- Aditivo superplastificante acelerador (tipo SPA): produto que combina os efeitos dos

aditivos superplastificante e acelerador.

Há ainda os aditivos impermeabilizantes, utilizados com a finalidade de diminuir a

absorção de água por capilaridade de argamassas e concretos. Reforçam a impermeabilidade

do concreto, pois atuam em seus poros formando uma fina película higroscópica, além de

tamponá-los superficialmente.

No passado, foram utilizados compostos orgânicos com propriedades aditivas, como é

o caso dos polissacarídeos (mucilagem vegetal). Segundo Kanan (2008), a durabilidade de

argamassas históricas tem sido atribuída a aditivos orgânicos como óleo, sangue, urina,

mucilagem de cactos e caseína.

Page 25: ada catarina soares de sena costa

23

4.4 CACTÁCEAS

Milhares de espécies distribuídas em várias famílias botânicas são conhecidas como

plantas suculentas. São plantas carnudas e ricas em água, que trazem essas características para

suportarem grandes períodos de seca (BALLESTER OLMOS, 1995). As principais espécies

são as dos cactos (CACTACEAE ou cactáceas). A palavra cacto, do grego Kaktos, significa

planta que tem espinhos. A primeira vez que esta palavra foi utilizada foi pelos gregos, e data

de 300 anos a.C., para designar uma espécie semelhante à alcachofra.

As cactáceas apresentam anatomia diferenciada em algumas estruturas (folhas, caules

ou raízes), o que as torna capazes de armazenar água, e, portanto, suculentas. Além disso,

possuem uma especialização fisiológica importante que as permite sobreviver em condições

extremas, que é a abertura dos estômatos durante a noite evitando a desidratação durante os

períodos mais críticos do dia (TAKANE et al., 2009).

4.4.1 Distribuição geográfica dos cactos

Segundo Takane et al. (2009), a grande maioria dos cactos se encontra ao longo do

continente americano, desde o Canadá até o sul do Chile. Algumas espécies ainda são

encontradas em Madagascar, em alguns países do continente africano e no Sri-Lanca.

São, ao todo, aproximadamente 2.000 espécies, que podem ser encontradas ao nível do

mar, mas também em montanhas a cerca de 4.500 metros de altitude. Na cordilheira dos

Andes, passam o inverno debaixo da neve, o que também ocorre com as espécies do centro

dos Estados Unidos e dos altiplanos do México. Podem ser encontradas em troncos de árvores

(epífitas), sobre pedras e geralmente à sombra. Dessa forma, nota-se que não são plantas

exclusivas de desertos, mas de climas extremos, frios ou quentes.

Na caatinga do nordeste brasileiro ocorre a dominância de cactáceas dos gêneros

Cereus, Opuntia e Pilosocereus, dos quais fazem parte o Mandacaru (Cereus jamacaru), a

Palma (Opuntia fícus-indica) e o Facheiro (Pilosocereus pachycladus), respectivamente,

Figura 1.

Page 26: ada catarina soares de sena costa

24

Figura 1: Espécies de cactos dominantes do nordeste brasileiro.

Fonte: http://pt.wikipedia.org

4.4.2 Morfologia geral das cactáceas

As raízes das cactáceas são superficiais, muito finas, longas e bastante ramificadas

(Figura 2), o que as permite aproveitar qualquer indício de umidade, como por exemplo,

orvalho ou neblina. Há ainda espécies que possuem uma raiz principal bastante grossa, com a

finalidade de manter uma reserva de água e substâncias nutritivas, chegando a serem até

mesmo mais grossas que a parte aérea da planta

(http://www.jardimdeflores.com.br/floresefolhas/A17cactos.htm).

Figura 2: Raiz do cacto barril-dourado.

Fonte: http://www.deolhonasorigens.com.br

Page 27: ada catarina soares de sena costa

25

Quanto aos caules, possuem formatos variados, podendo ser esféricos, cilíndricos,

discóides, ovóides, articulados, alados, poligonais, sulcados, ramificados ou não. São sempre

verdes, possuem função de caule, que é conferir resistência à planta e função clorofiliana

(http://www.itograss.com.br/informativoverde/edicao67/mat5ed67.htm).

Os caules dos cactos são espessos e suculentos, e pelos seus aspectos anômalos, são

chamados cladódios. A seiva comumente espessa, com aspecto de gel, proporciona um grande

volume para o armazenamento de materiais alimentares e contribui para a retenção de água,

sendo denominada mucilagem. Segundo Chandra et al. (1998), esse gel contém proteínas e

polissacarídeos. São nos caules dos cactos que estão localizados os estômatos da planta –

estruturas semelhantes aos nossos poros, que durante o dia se mantêm fechados a fim de se

evitar a perda de água na forma de vapor.

Uma característica marcante dos cactos são os espinhos (Figura 3), considerados

folhas modificadas que se reduziram no processo de evolução da planta, contribuindo também

para a redução da perda de água. Podem ter diferentes formas (recurvados, largos, eretos),

tamanhos e até cores (avermelhados, cor-de-rosa, pretos, castanhos, brancos ou cinzentos)

variando entre as espécies. Protegem a planta de possíveis predadores e ainda são capazes de

promover a dispersão da mesma, uma vez que alguns animais podem ter algumas partes

aderidas aos seus pelos e assim transportá-los para outros locais em que poderão vir a brotar.

Figura 3: Espinhos de cacto.

Fonte: http://www.terradagente.com.br

Todos os cactos florescem. No entanto, para algumas espécies, isso só ocorre após os

80 anos, ou ainda, ao atingirem a altura mínima de 2 m. Constituem flores perfeitas, ou seja,

possuem sépalas, pétalas, pistilos funcionais e estames. Também variam em tamanho e cor, e

Page 28: ada catarina soares de sena costa

26

podem exalar algum tipo de cheiro para atrair morcegos e mariposas. As flores dos cactos são

efêmeras, ou seja, raramente duram mais de uma semana. Aparecem isoladas ou em grupos.

Algumas espécies de cactos produzem frutos comestíveis, como é o caso da Opuntia

fícus-indica, que produz o figo-da-índia (Figura 4). Nas espécies globosas, são produzidos

frutos em grande quantidade. Exibem cores brilhantes e possuem formato de baga alongada

ou esférica que geralmente arrebenta durante a maturação, espalhando suas inúmeras

sementes de tamanho muito pequeno no solo. Os cactos reproduzem-se tanto por sementes,

quanto por estacas, e os seus principais agentes polinizadores são insetos, aves e morcegos.

Figura 4: Figo-da-índia.

Fonte: dreamstime.com

4.5 UTILIZAÇÃO DOS CACTOS

As cactáceas apresentam ampla utilização. Segundo Sáenz (2006), os nopalitos (brotos

jovens) da Opuntia fícus-indica e de outras espécies são utilizados como verdura,

principalmente no México. A fruta desta espécie é utilizada na produção de doces, sucos,

néctares, produtos desidratados, polpas concentradas, xaropes e licores. Tanto a O. fícus-

indica quanto a Nopalea cochenillifera são utilizadas como hospedeiras na criação da

cochonilha, inseto que dá origem ao corante conhecido como carmim, utilizado em larga

escala pela indústria cosmética e alimentícia.

O baixe índice pluviométrico na região do semi-árido brasileiro compromete a

produção de forragem utilizada na alimentação animal. Como fonte alternativa de alimento, a

palma forrageira oferece boa disponibilidade no período da seca, bom coeficiente de

Page 29: ada catarina soares de sena costa

27

digestibilidade da matéria seca e alta produtividade, o que a permite ser introduzida na

alimentação de bovinos, caprinos, ovinos e avestruzes (COSTA, 2006).

Entre outras finalidades para os cactos, destaca-se a ampla utilização na ornamentação

de casas e jardins, por inspirar beleza e mistério. Para o Feng Shui, são considerados

guardiões, por serem purificadores de ambientes. Os cactos também constituem as chamadas

cercas-vivas, conferindo segurança ao ambiente, através de seus espinhos afiados e

intimidantes. Contribuem ainda no controle da desertificação e da erosão.

Segundo Hollis & Scheinvar (1995) apud Andrade (2002), rituais de magia utilizando

um chá da raiz do peiote (Lophophora williamsii), uma espécie de cacto pequeno, são

realizados por indígenas mexicanos como meio para purificar corpo e alma, e promover a cura

de enfermidades. Os cactos ainda possuem ampla utilidade para a indústria farmacêutica, para

fins medicinais.

Alguns estudos também apontam a ação de um polímero natural extraído de cactos no

tratamento de água. Lenz et al. (2011) desenvolveram um polímero natural a partir do

Mandacaru (Cereus jamacaru), que possibilitou o aumento na eficiência da remoção de

turbidez da água bruta, comprovando que o polímero de cacto possui boa perspectiva de

aplicação no tratamento da água.

4.6 USO DO CACTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

4.6.1 Introdução

De acordo com Kanan (2008), com o intuito de conhecer aproximadamente a

composição das argamassas históricas, pode-se realizar análises que sirvam para orientar

novas formulações, a partir de amostras íntegras e representativas das argamassas antigas. A

Figura 5 retrata a coleta de amostras de reboco à base de cal com mucilagem de cactos para

exames laboratoriais no Instituto Getty de Conservação na Igreja de San Xavier Del Bac

(construção em adobe), Arizona, US.

Page 30: ada catarina soares de sena costa

28

Figura 5: Coleta de amostras de reboco à base de cal com mucilagem de cactos.

Fonte: Kanan (2008).

Segundo Cárdenas et al. (1998), no México a preparação de argamassa de cal pode

conter suco de cacto. Esta é uma prática milenar e é também usada para proteger e restaurar

prédios históricos, uma vez que o uso de cimento com estas finalidades possui efeitos

prejudiciais, devido à incompatibilidade com o adobe, além de restringir a transpiração e

aumentar o risco de danos causados pela umidade. A Figura 6 mostra o resultado de

intervenções com cimento, causando problemas de umidade e alteração estética.

Figura 6: Igreja São Sebastião, SC.

Fonte: Kanan, 2008.

Page 31: ada catarina soares de sena costa

29

Para Oliveira et al. (2005), é do conhecimento de especialistas em conservação o

emprego de variedades de cactos, entre elas a Opuntia fícus-indica, para consolidação de

monumentos de terra, ou seja, como consolidante de terra crua. Hoyle (1990) apud Oliveira et

al. (2005), afirma que a experimentação mais destacada nesse segmento foi efetivada nas

ruínas de Chan-Chan, no Peru (Figura 7).

Figura 7: Restauração das ruínas de Chan-Chan, Peru.

Fonte: dreamstime.com

A caiação é uma pintura que utiliza como aglutinante a cal, na qual tradicionalmente

eram utilizados aditivos. A mucilagem de cactos, em vários lugares da América Latina e

Estados Unidos, tem sido utilizada como aditivo em pinturas à base de cal para aplicação em

edifícios históricos (KANAN, 2008), como pode ser visto na Figura 8.

Page 32: ada catarina soares de sena costa

30

Figura 8: Igreja Matriz, Olhão, Portugal.

Fonte: http://domusmater.blogs.sapo.pt/2011/08/

Segundo Andrade (2002), a prática da pintura de casas com a mucilagem da palma

associada à cal (Figura 9) beneficia os moradores do município de Valente com redução de

custos e prevenção de doenças, pois, segundo a mesma, supõe-se que esta técnica previna que

insetos, como o Barbeiro, se instalem nas frestas das casas de taipa.

Figura 9: Pintura de casa com mucilagem de palma associada à cal, Valente, Bahia.

Fonte: Andrade (2002).

“Misturando sumo de cactos com outros materiais de construção, pode-se melhorar a

qualidade de paredes, pisos e tetos, tornando-os mais resistentes contra os estragos causados

pelas chuvas e a umidade.” (LENGEN, 2004, p. 172)

Page 33: ada catarina soares de sena costa

31

A mucilagem de cactos utilizada como aditivo para pastas e argamassas de gesso, cal

ou cimento melhora a resistência desses materiais, aumenta sua trabalhabilidade, além de ser

uma substância orgânica, natural e de baixo custo (MAGALHÃES, 2009).

4.6.2 Cactos como aditivo em pastas de gesso

Magalhães e Almeida (2009) realizaram estudo comparativo entre as mucilagens

extraídas do cacto Opuntia fícus-indica e do cacto Nopalea cochenillifera (espécie semelhante

à Opuntia, como mostra a Figura 10), ambos de mesma família e subfamília, na forma de pó e

de gel, produzindo placas de gesso com mucilagem nessas duas formas, com o objetivo de

esclarecer a dúvida quanto a melhor forma de adição e método de extração da mesma.

Figura 10: Nopalea cochenillifera.

Fonte: Magalhães (2009).

Na forma de pó, para ambas as espécies a mucilagem foi obtida mediante desidratação

em estufa das raquetes verdes cortadas em pedaços durante 36h, sendo também realizada de

maneira natural para o cacto Nopalea. Posteriormente a esse processo, os cactos foram

triturados, peneirados e reservados para utilização. Foram então denominados Opuntia Pó e

Nopalea Pó as mucilagens obtidas através da desidratação dos cactos em estufa, e Nopalea Pó

Natural, a mucilagem obtida pela desidratação natural do cacto Nopalea.

Page 34: ada catarina soares de sena costa

32

Na forma de gel, a mucilagem foi extraída mediante repouso por 2 dias de pedaços de

cactos em água natural em temperatura ambiente (25 ), e também do cozimento dos pedaços

de cactos por 30 min, sempre na proporção de 1:3 cacto:água. Após estes processos, a

mucilagem foi coada e reservada para posterior utilização. Denominaram Opuntia Água

Natural (OAN) e Nopalea Água Natural (NAN) as mucilagens extraídas em água natural, em

temperatura ambiente, e Opuntia Água Quente e Nopalea Água Quente, as mucilagens

extraídas pelo cozimento dos cactos. No entanto, decorridos os 2 dias de repouso dos cactos,

observaram que ainda havia grande quantidade de mucilagem nos pedaços de cacto Nopalea,

e por este motivo, após terem sido coados, colocaram novamente os pedaços de cacto em um

novo recipiente com água, respeitando a proporção cacto:água e mantiveram o repouso por

mais 4 dias. Estes cactos foram novamente coados, sendo denominados Nopalea Água

Natural Segunda Extração (NAN 2). Dessa forma, foram preparadas pastas de gesso com 50%

e com 100% de substituição da água do amassamento pela mucilagem em gel (água quente e

água natural), e com 0,35% e 1,0% de adição de cacto em pó em relação à massa do gesso.

Prepararam ainda pastas de gesso controle utilizando apenas água e pastas de gesso

com a adição de 1/3 da água de amassamento de impermeabilizante (Chapix Ar) e 2/3 de

água, e pastas de gesso com 0,5% de superplastificante (Glenium 51) em relação à massa de

gesso. Utilizaram gesso calcinado ou gesso estucador (CaSO4.

H2O). Os materiais foram

colocados em uma bandeja de mistura na seguinte ordem: água, impermeabilizante ou

superplastificante ou mucilagem de cacto (dependendo do caso), e por último, o gesso. Para

todas as pastas procuraram obter uma mistura homogênea e de fácil manipulação com as

quais foram moldados 3 corpos-de-prova.

Realizaram os ensaios de absorção 14 dias após a desmoldagem. Este ensaio também

foi realizado em corpos de prova retirados de uma placa de gesso acartonado Resistente à

Umidade. Para os ensaios de absorção de água, primeiro determinaram a massa inicial de cada

corpo de prova e em seguida, os submergiriam em um tanque com água durante 120 min.

Transcorrido esse tempo, retiraram os corpos de prova da água, removeram o excesso da água

com um pano úmido e determinaram a massa final. A porcentagem de absorção dos corpos de

prova foi determinada mediante o seguinte cálculo:

Page 35: ada catarina soares de sena costa

33

Onde:

= absorção de água (%);

= massa final do corpo de prova (g);

= massa inicial do corpo de prova (g).

Os ensaios de flexão estática foram realizados nos mesmos corpos de prova

submetidos aos ensaios de absorção, mas com 90 dias de moldagem, portanto, os Autores

deixam claro que a resistência obtida em cada corpo de prova pode não significar sua máxima

resistência. Realizaram este ensaio também para os corpos de prova retirados da placa de

gesso acartonado Resistente à Umidade. Os corpos de prova foram colocados sobre dois

apoios cilíndricos de 15 mm de diâmetro e 250 mm de comprimento, espaçados entre si em

250 mm. No meio do vão, uma carga progressiva foi aplicada por um rolo cilíndrico de igual

diâmetro dos apoios e 350 mm de comprimento, com velocidade de 250 ± 50 N/min. A

resistência à flexão foi então calculada a partir da seguinte equação:

Ff =

×

Onde:

Ff = Força de Flexão (MPa);

= Carga de ruptura (N);

= Espaçamento entre os apoios (mm);

= Base do corpo de prova (mm);

h = Altura do corpo de prova (mm).

Os resultados dos ensaios de absorção de água e de flexão estática dos corpos de prova

são apresentados na Tabela 3.

Page 36: ada catarina soares de sena costa

34

Tabela 3 – Média da absorção de água dos corpos de prova com 14 dias de moldagem e média

da resistência à flexão estática dos corpos de prova com 90 dias de moldagem.

Tipo Relação

(am/g)

Absorção

média (%)

Flexão média

(MPa)

Água Quente

OAQ 50 0,45 17,13 3,53

OAQ 100 0,45 17,14 2,00

NAQ 50 0,45 17,52 1,79

NAQ 100 0,45 16,66 1,99

Água Natural

OAN 50 0,40 14,33 4,62

OAN 100 0,40 13,77 4,46

NAN 50 0,40 14,02 4,49

NAN 100 0,40 13,14 3,70

NAN 2 50 0,40 15,21 4,69

NAN 2 100 0,40 14,66 4,31

Tipo Relação

(am/g)

Absorção média

(%)

Flexão média

(MPa)

Opuntia Pó OP 0,35 0,40 13,30 4,69

OP 1,0 0,40 12,10 2,75

Nopalea Pó

NP 0,35 0,40 13,50 3,66

NP 1,0 0,40 12,59 2,28

NPN 0,35 0,50 19,91 2,98

NPN 1,0 0,55 20,64 1,21

Controle

GC 0,60 27,64 2,37

GI 1/3 0,60 20,75 3,73

GP 0,50 23,38 3,66

Fonte: Magalhães e Almeida (2009).

Legenda:

am/g – Relação água e mucilagem/gesso.

OAQ - Opuntia em Água Quente. NAQ – Nopalea em Água Quente. OAN - Opuntia em

Água Natural. NAN - Nopalea em Água Natural. NAN 2 – Nopalea em Água Natural,

segunda extração. OP – Opuntia em Pó (estufa). NP – Nopalea em Pó (estufa). NPN –

Nopalea em Pó Natural.

50 – 50% de substituição da água de amassamento pela mucilagem. 100 – 100% de

substituição da água de amassamento pela mucilagem.

GC – Gesso Controle. GI 1/3 – Gesso com 1/3 de impermeabilizante. GP – Gesso com

superplastificante.

0,35 – 0,35% de pó de cacto em relação à massa de gesso. 1,0 – 1,0% de pó de cacto em

relação à massa de gesso.

Page 37: ada catarina soares de sena costa

35

A taxa de absorção média dos corpos de prova retirados das placas de gesso

acartonado Resistentes à Umidade era de 4,35%, e a resistência à flexão dos mesmos era de

2,21 MPa para a resistência transversal e 4,95 MPa para a resistência longitudinal.

Da análise dos resultados, os autores concluíram haver uma relação direta entre o

consumo de água e a taxa de absorção de água, e uma relação indireta entre esse consumo e a

resistência à flexão estática. Assim, verificaram que a adição de mucilagem de cacto permitiu

a redução do consumo de água nas pastas de gesso, implicando em menores taxas de absorção

de água e maiores resistências à flexão estática. O aumento da quantidade de mucilagem

adicionada resultou na diminuição da taxa de absorção de água e da resistência à flexão, mas

em menores quantidades, favoreceu o aumento dessa resistência. Concluíram que o tipo de

mucilagem e a quantidade adicionada nas pastas de gesso influenciam os resultados obtidos.

Desde a mistura dos materiais, notaram que a adição da mucilagem possibilitou a preparação

de uma pasta consistente, o que não ocorre geralmente nas pastas de gesso sem aditivo, que

necessitam de uma proporção maior de água para que, após alguns minutos, a pasta rala

adquira consistência adequada para a utilização. Como não verificaram diferenças

significativas nos resultados analisados das pastas de gesso com mucilagem dos cactos

Opuntia fícus-indica e Nopalea cochenillifera, concluíram que ambos possuem características

de aditivos.

4.6.3 Cactos como aditivo em argamassas de cimento portland

Chandra et al. (1998) investigaram o uso do extrato do cacto, da espécie Opuntia, em

argamassas de cimento Portland. O cacto utilizado era proveniente do México, onde é

conhecido por Nopal. No Brasil este mesmo cacto é conhecido por Palma. Para se obter o

extrato, a Palma sem espinhos cortada em pedaços finos foi misturada à água, na proporção

1:3 em massa e deixada em repouso por 2 dias, temperatura ambiente, em recipiente de

plástico com tampa. Após esse tempo, os pedaços de palma foram descartados e a substância

de caráter viscoso que sobrou foi utilizada nos experimentos. Essa solução, que denominaram

Cactus Extract Solution (CEX) foi liofilizada, com o objetivo de separar a água do gel e assim

obter apenas mucilagem liofilizada.

Page 38: ada catarina soares de sena costa

36

Fizeram prismas de argamassas de cimento Portland e areia nas dimensões

40x40x160mm, na proporção 1:3 em massa, e mantiveram constante a razão de água:cimento

de 0,50. As amostras foram curadas durante 5 dias em água, após a desmoldagem, e 22 dias

em uma sala de clima controlado, à 22°C e umidade do ar 50%. Confeccionaram três séries de

amostras denominadas R (amostras de referência sem extrato de cacto), C50 (amostras com

50% de extrato de cacto e 50% de água) e C100 (amostras com 100% de extrato de cacto).

Algumas amostras foram secas a 105°C e ao determinarem o teor de água das mesmas,

verificaram que o das amostras que continham CEX era maior, obedecendo a seguinte ordem:

C100 > C50 > R.

Os resultados que obtiveram para a consistência e resistência à compressão e à flexão

das amostras são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 – Resistência à flexão e à compressão das argamassas de cimento Portland e areia,

na proporção 1:3.

Tipo CEX

(%)

Consistência

(mm)

Resistência à flexão/compressão (MPa)

1 dia 7 dias 28 dias 90 dias

R 0 124 5,2/16,8 7,5/35,9 9,8/48,0 10,7/51,2

C50 50 128 4,2/15,7 6,8/26,0 10,1/48,5 11,5/54,3

C100 100 132 3,8/14,9 5,9/22,3 10,0/43,5 11,8/57,4

Fonte: Chandra et al. (1998).

Notaram que a trabalhabilidade da argamassa C100 mostrou-se melhor que a da

argamassa C50 e ainda melhor que a da argamassa de referência R. Chandra et al. (1998)

atribuíram esta melhoria pelo efeito proporcionado pelo polissacarídeo presente na Palma, que

reduz a fricção e aumenta a suavidade, assim como se dá o efeito do uso de óleo numa

máquina.

Pelo atraso visto no desenvolvimento da resistência em idade precoce, conclui-se que

os polissacarídeos atuam como retardadores. A resistência das argamassas aditivadas se

aproximou da resistência das argamassas de referência após 28 dias, sendo mais evidente nas

amostras C100, e mais tarde aumentou a ponto de ultrapassar. A adição de 100% CEX

introduziu hidrofobicidade, diminuindo o processo de secagem e consequentemente a

formação de fendas, o que implica no aumento da resistência, como visto na resistência de 90

dias para essas amostras.

Page 39: ada catarina soares de sena costa

37

Hernández-Zaragoza et al. (2008) estudaram o aperfeiçoamento das propriedades

físicas e mecânicas do concreto utilizando um aditivo natural, proveniente da Palma. Para

tanto, compararam os resultados obtidos para os ensaios de consistência, tempos de pega,

inicial e final, e de resistência das pastas padrão e aditivada com pó de cacto desidratado em

forno. As pastas estudadas, denominadas M1 e M2, foram produzidas a partir da combinação

de Cimento Portland Tipo 1 e água, ambas na proporção água/cimento de 0,40, mas somente

M2 teve a adição de 5% de Palma em pó para cada quilograma de cimento.

As Tabelas 5 e 6 mostram os resultados obtidos para o ensaio da Consistência Normal

para as duas pastas, M1 e M2, respectivamente.

Tabela 5 - Consistência da pasta M1.

Mistura Penetração da

haste (mm)

Média da

penetração da

haste (mm)

Desvio Padrão

(mm)

M1 (0% de cacto

em pó)

2

3 1,4142 2

3

5

Fonte: Hernández-Zaragoza et al. (2008).

Tabela 6 - Consistência da pasta M2.

Mistura Penetração da

haste (mm)

Média da

penetração da

haste (mm)

Desvio Padrão

(mm)

M2 (5% de cacto

em pó)

6

8 1,4142 8

9

9

Fonte: Hernández-Zaragoza et al. (2008).

Concluíram então que houve aumento da trabalhabilidade da pasta M2, que contém

cacto, pois na medida em que a Consistência Normal era adquirida, a mistura M2 se mostrava

mais fluida que a mistura M1.

Os resultados obtidos para os tempos de pega inicial e final das duas pastas foram

plotados em gráfico, como mostra a Figura 11. O tempo de pega inicial para a mistura M1

Page 40: ada catarina soares de sena costa

38

ocorreu 330 minutos após ser colocada no Aparelho de Vicat, e o tempo de pega final,

ocorreu a 390 minutos, enquanto para a mistura M2, o tempo de pega inicial ocorreu em 435

minutos, e o tempo de pega final, em 495 minutos. Os resultados apontam para um

retardamento nos tempos de pega inicial e final quando utilizado o aditivo de cacto.

Figura 11 - Comparação entre os tempos de pega inicial e final das argamassas M1 (0% de

cacto em pó) e M2 (5% de cacto em pó).

Fonte: Hernández-Zaragoza et al. (2008).

Os autores avaliaram ainda a resistência à compressão dessas pastas em idades

precoces de 3, 7 e 14 dias, verificando um aumento na resistência em todas as idades na pasta

contendo cacto (M2), como mostra a Figura 12.

Page 41: ada catarina soares de sena costa

39

Figura 12 - Resistência à compressão das misturas M1 (0% de cacto em pó) e M2 (5% de

cacto em pó).

Fonte: Hernández-Zaragoza et al. (2008).

Da análise dos resultados, puderam constatar que a resistência à compressão das

argamassas aditivadas foi melhorada em até 72%.

4.6.4 Cactos como aditivo em argamassas de cal

Oliveira et al. (2005) desenvolveram estudos sobre a utilização da mucilagem de cacto

como aditivo em argamassas de cal, buscando avaliar o efeito da aditivação a argamassas com

e sem a adição de arenoso (termo regional utilizado para nomear o solo com grandes

concentrações de areia, no qual o material argiloso preponderante é a caulinita). Para tanto,

utilizaram como matérias-primas cal CH-1, areia, arenoso e cacto do gênero Opuntia.

Os autores confeccionaram dezesseis lotes de corpos de prova cilíndricos (5x10 cm)

de argamassas aditivadas e não aditivadas, que foram desmoldados após sete dias e

submetidos a ensaios, depois de um período de cinco meses em carbonatação natural.

Realizaram a comparação entre os resultados dos ensaios para os corpos de prova de

argamassas aditivadas e os de argamassas padrão (sem aditivação).

As argamassas padrão foram preparadas sendo postos na argamassadeira os materiais

secos na seguinte ordem: metade da areia, cal e o restante da areia. Estes materiais foram

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40

misturados por cerca de 30s em velocidade 1. A quantidade de água foi medida em proveta e

adicionada à mistura, batida por mais 30s na velocidade 1, adicionando-se mais água quando

não se obtinha a consistência adequada. Conseguida a consistência adequada, os corpos de

prova foram preenchidos e submetidos à vibração por 4s. Depois de a superfície ser

regularizada com ajuda de espátula, foram submetidos novamente à vibração por mais 4s. De

maneira semelhante foram moldados os corpos de prova com adição de arenoso, com a

diferença de ser acrescentado o arenoso logo após a primeira metade de areia. Os grupos eram

compostos de oito corpos de prova, geralmente.

Antes da preparação das argamassas aditivadas com cacto, preparou-se primeiro a

mucilagem. O cacto foi cortado em pequenos pedaços e triturado em liquidificador, na

potência mais baixa por 60s, com 50% da água reservada para a moldagem. Na primeira

preparação, obteu-se uma pasta altamente viscosa de coloração verde, a qual foi posta para

descansar por uma hora a fim de que se tornasse mais fluida. Após este tempo, a pasta foi

coada em um pano de algodão para a retirada do bagaço do cacto. O resultado dessa filtração

foi medido em proveta e incorporado aos materiais secos já na argamassadeira. A água foi

acrescentada logo em seguida até que se atingisse a consistência adequada. O processo de

moldagem dos corpos de prova foi idêntico ao utilizado para as argamassas padrão, rendendo

oito corpos de prova.

A segunda preparação foi realizada vinte dias após a primeira, e por este motivo,

acreditou-se que o resultado da trituração do cacto com água não se assemelhou a uma pasta

viscosa, e sim, a um suco. A coagem foi realizada sem que se aguardasse o descanso de uma

hora, e então foram moldados os corpos de prova da mesma forma que os anteriores. Como

observaram que a consistência não influía muito no resultado final, decidiram moldar o

restante do lote dos corpos de prova de cal e areia e aqueles com adição de “arenoso”

utilizando a mucilagem mais fluida. Horas após a moldagem, observaram na superfície dos

corpos de prova um líquido de coloração esverdeada. Manchas levemente esverdeadas

puderam ser observadas no topo dos corpos de prova sem adição de arenoso após a

desmoldagem.

Os corpos de prova foram denominados da seguinte maneira: padrão (argamassa de cal

e areia), padrão S (argamassa de cal, areia e arenoso), cacto (argamassa de cal e areia

aditivada com cacto) e cacto S (argamassa de cal, areia e arenoso aditivada com cacto). Após

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41

terem sido desmoldados, foram conservados nos moldes por um período de 7 dias, sendo

então desmoldados definitivamente e mantidos em prateleiras.

Realizados ensaios de compressão axial (capacidade de resistência à compressão) e

compressão diametral (avalia a resistência à tração), obtiveram os seguintes resultados

expressos nas Figuras 13 e 14, respectivamente:

Figura 13 - Gráfico comparativo entre as médias de resistência à compressão.

Fonte: Oliveira et al. (2005).

Figura 14 - Gráfico comparativo entre as médias de resistência à tração.

Fonte: Oliveira et al. (2005).

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42

A ruptura dos corpos de prova aditivados permitiu observarem que a coloração

diferenciada restringia-se apenas a superfície externa, ou seja, em seu interior os corpos de

prova tinham o mesmo aspecto daqueles moldados com argamassa padrão.

Da análise dos resultados, Oliveira et al. (2005) concluíram que a argamassa “cacto”,

comparada com a argamassa “padrão”, teve um aumento de 38% na resistência à compressão

e de 20% na resistência à tração, enquanto que para a argamassa “cacto S”, comparada com a

argamassa “padrão S”, os resultados obtidos para os ensaios nessa mesma ordem foram de

aumento de 25% e 18%, respectivamente. O aditivo natural apresentou ação plastificante,

propriedade esta que provavelmente influenciou as demais, uma vez que uma menor adição

de água acarreta numa menor porosidade, normalmente, e isso influencia positivamente na

resistência mecânica. A adição de arenoso não modificou a ação do aditivo, visto que os

resultados para as argamassas com essa adição seguiram a mesma tendência que os daqueles

sem a mesma.

Oliveira et al. (2005) realizaram ainda ensaios de absorção de água por capilaridade

nos corpos de provas obtendo os resultados indicados na Tabela 7. O coeficiente de absorção

capilar (CA) é diretamente proporcional à velocidade de ascensão de água, enquanto o valor

assintótico da quantidade de água absorvida por unidade de superfície (M*) indica o ponto de

saturação do corpo de prova.

Tabela 7 - Coeficiente de absorção (CA) e valor assintótico da quantidade de água absorvida

por unidade de superfície (M*) para cada tipo de argamassa.

Argamassa CA M*

Padrão 0,051 2,947

Padrão S 0,049 2,842

Cacto 0,034 2,434

Cacto S 0,031 2,473

Fonte: Oliveira et al. (2005).

Do ensaio da absorção de água por capilaridade, observaram que os corpos de prova

aditivados apresentaram uma menor velocidade de ascensão e um menor grau de saturação.

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43

5 CONCLUSÃO

O Brasil, como país em desenvolvimento, necessita investir em novas tecnologias,

recorrendo muitas vezes à importação das mesmas. No entanto, nem sempre as tecnologias

aprovadas em outros países são condizentes com as nossas características. Deve-se levar em

consideração a realidade cultural e socioeconômica dos usuários das mesmas, bem como a

disponibilidade local dos materiais envolvidos.

Para o setor da construção civil os avanços da tecnologia são de grande importância e

muito bem-vindos, mas também se faz necessário recorrer ao conhecimento do passado e

aproveitar práticas comprovadas pelo uso e senso comum da população, como fontes

alternativas mais viáveis. Com essa motivação, realizou-se revisão de literatura acerca do uso

de um aditivo natural presente no cacto, por ser uma planta encontrada em abundância na

região do semi-árido nordestino deste país.

Constatou-se que diversos autores realizaram estudos acerca da utilização da

mucilagem de cacto em pastas e argamassas de gesso, cimento ou cal. A seguir é feita uma

síntese do que foi observado em suas experimentações:

Magalhães e Almeida (2009) comprovaram que a adição da mucilagem de cactos

permitiu a redução no consumo de água e possibilitou menores taxas de absorção de água e

maiores resistências à flexão em pastas de gesso. Verificaram ainda que o tipo e a quantidade

de mucilagem adicionada influenciaram os resultados obtidos.

Chandra et al. (1998) verificaram melhorias na trabalhabilidade e resistências à flexão

e à compressão em argamassas de cimento Portland aditivadas com a mucilagem de cacto

liofilizada. A mucilagem de cacto teve efeito retardador.

Hernández-Zaragoza et al. (2008) ao compararem as consistências, os tempos de pega

inicial e final e as resistências à compressão de pastas de cimento Portland padrão e pastas

aditivadas, verificaram aumento na trabalhabilidade, retardamento nos tempos de pega e

aumento da resistência em todas as idades para as pastas contendo cacto em pó.

Oliveira et al. (2005) verificaram aumento nas resistências à compressão axial e

compressão diametral para argamassas aditivadas com o aditivo natural, apontando para a

ação plastificante do mesmo. As argamassas aditivadas apresentaram ainda uma menor

velocidade de ascensão e um menor grau de saturação.

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44

Portanto, pode-se verificar que a mucilagem de cacto atua em pastas e argamassas

desempenhando papel de aditivo, uma vez que promove melhorias em algumas de suas

propriedades. Conclui-se que o uso da mucilagem de cacto como aditivo contribui para o

desenvolvimento de materiais de construção alternativos, apresentando-se como alternativa

viável na região do semi-árido brasileiro, por ser de origem orgânica e estar disponível em

abundância localmente, diminuindo assim os custos.

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45

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