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ACIDENTES OFÍDICOS
Saiba como proceder diante de um acidente ofídico: as características dos acidentes, as manifestações locais e sistêmicas, os primeiros socorros e o tratamento para estes acidentes, tão frequentes na região Amazônica.
ACIDENTES OFÍDICOS CID 10: X20 e W59
INTRODUÇÃO
Trata-se do envenenamento causado pela inoculação de toxinas, através das presas de
serpentes (aparelho inoculador), podendo determinar alterações locais e sistêmicas
(BRASIL, 2009; BRASIL 2010). Usualmente é pouco conhecido pelo profissional da
saúde, mas invariavelmente este se defronta com um paciente acidentado. Estima-se
que ocorrem, anualmente, no Brasil cerca de 26.000 casos de acidentes com
serpentes, sendo comumente observados na região Amazônica. A identificação da
serpente causadora do acidente ofídico pode ser muito importante para orientar a
conduta médica e a prescrição do soro mais conveniente (LACERDA, 2003).
No Brasil, são quatro os grupos de serpentes de interesse em saúde pública:
Bothropoides, Rhinocerophis, Bothriopsis, Bthrocopias e Bothrops (jararaca,
jararacuçu, urutu, caiçaca), Caudisona (cascavel), Lachesis (surucucu, pico de jaca) e
Micrurus (coral verdadeira). As jararacas e Micrurus são encontradas em todo país,
enquanto que a Caudisona é mais frequentemente encontrada em campos, áreas
abertas e secas, já as Lachesis habitam principalmente as florestas da Amazônia e da
Mata Atlântica (MELGAREJO 2003; BRASIL, 2010).
As duas serpentes mais frequentemente encontradas em nosso meio são dos gêneros
Bothrops sp. causadoras da maioria dos acidentes na Amazônia e na região de Manaus
e municípios vizinhos. Os triângulos do padrão do colorido do corpo destas serpentes
têm o vértice voltado para cima. A Lachesis sp. de hábitos ombrófilos, raramente se
afastam muito da mata. Os desenhos triangulares do corpo destas serpentes têm o
vértice voltado para baixo (MELGAREJO 2003).
Para o reconhecimento de serpentes peçonhentas, observa-se se a mesma apresenta
a fosseta loreal, um pequeno orifício localizado lateralmente na cabeça entre o olho e a
narina com função de orientação térmica (MELGAREJO, 2003).
Se a serpente tiver padrão de colorido em anéis transversais pretos, vermelhos e/ou
brancos, pode se tratar de uma coral peçonhenta, do gênero Micrurus (elapídeo), com
várias espécies (quatro em Manaus), mas raramente causadora de acidente ofídico na
Região Amazônica. Se a serpente trazida pelo acidentado não apresentar padrão de
colorido em faixas transversais pretas, vermelhas e/ou brancas, nem tiver fosseta
loreal, trata-se de animal não perigoso para o homem em termos de peçonha.
CARACTERÍSTICAS DOS ACIDENTES
ACIDENTE BOTRÓPICO:
Causado por serpentes do gênero Bothrops, Bothropoides, Rhinocerophis, Bothriopsis
e throcopias o veneno botrópico tem ação proteolítica, coagulante e hemorrágica.
Determina processo inflamatório no local da picada, com edema intenso, equimose, dor
e adenomegalia regional, que progridem ao longo do membro acometido. Podem
ocorrer bolhas com conteúdo seroso ou sero-hemorrágico e, eventualmente necrose
cutânea. Manifestações sistêmicas podem estar presentes com alteração da
coagulação sanguínea e sangramentos espontâneos (gengivorragias, equimoses e
hematomas pós traumas, hematúria). Com base no grado clínico, pode ser classificado
em: leve´moderado e grave. Os acidentes botrópicos são os mais freqüentes em todo o
Brasil (80 a 90%) e em 40% das vezes levam a complicações no local da picada
(BRASIL, 2010; LACERDA, 2003).
ACIDENTE CROTÁLICO:
São acidentes ofídicos causados por serpentes do gênero Caudisona, não leva a
alterações locais proeminentes, apenas edema discreto e parestesia; por outro lado, as
manifestações sistêmicas são consequentes à paralisia neuromuscular (pitose
palpebral, distúrbios de acomodação visual, de olfato e paladar, sialorreia, ptose
mandibular, rabidomiólise) e incoagulabilidade sanguínea (BRASIL, 2010).
ACIDENTE LAQUÉTICO:
São acidentes ofídicos causados por serpentes do gênero Lachesis. Apresenta quadro
clínico semelhante ao botrópico, acrescido de manifestações decorrentes de
estimulação vagal (náuseas, vômito, diarreia, bradicardia, hipotensão e choque).
ACIDENTE ELAPÍDICO:
Todo acidente causado pelo gênero Micrurus (coral verdadeira) é considerado
potencialmente grave (acidente elapídico). As manifestações clínicas suspeitas são: dor
local discreta, algumas vezes com parestesia, vômitos, fraqueza muscular, ptose
palpebral, oftalmoplegia, face miastênica, dificuldade para manter a posição ereta,
mialgia localizada ou generalizada, disfagia e insuficiência respiratória aguda. Se o
paciente não trouxe o animal, mas refere ter sido mordido por serpente com anéis
coloridos, mesmo estando assintomático deverá permanecer em observação por, no
mínimo, 24 horas, pois os sintomas podem surgir tardiamente (LACERDA, 2003).
PRIMEIROS SOCORROS
Manter a vítima calma;
Evitar esforços físicos, como correr, por exemplo;
Procurar um hospital o mais rápido possível, procurando tentar saber antes se o
mesmo possui soros anti-ofídicos;
Se possível, levar a serpente causadora do acidente pra facilitar o diagnóstico;
Lavar o local da picada;
Não fazer torniquete ou garrote no membro picado, pois poderá agravar o
acidente, aumentando a concentração do veneno no local;
Não fazer perfurações ou cortes no local da picada, porque pode aumentar a
chance de haver hemorragia ou infecção por bactérias;
Evitar curandeiros e benzedores, lembrando que o rápido atendimento em um
hospital é fundamental para a reversão do envenenamento;
Não ingerir bebidas alcoólicas.
TRATAMENTO
O soro ou antiveneno deve ser específico para cada tipo de acidente. A soroterapia
dever ser realizada o mais rapidamente possível e o número de ampolas depende do
tipo e gravidade do acidente. A via de administração é a endovenosa, devendo se
prestar atenção para a ocorrência de manifestações alérgicas durante e logo após a
infusão do antiveneno. Na vigência de reações imediatas, a soroterapia deve ser
interrompida e posteriormente reinstituída após o tratamento da anafilaxia.
ACIDENTES SOROS GRAVIDADE№ DE
AMPOLAS
Botrópico
Antibotrópico (SAB)
Leve: quadro local discreto, sangramento em
pele ou mucosas; pode haver apenas distúrbio
da coagulação.
2 a 4
Antibotrópico-
laquético (SABL)
Moderado: edema e equimose evidentes,
sangramento sem comprometimento do estado
geral; pode haver distúrbio na coagulação.
5 a 8
Grave: alterações locais intensas, hemorragia
grave, hipotensão, anúria.12
Laquético
Antibotrópico-
laquético (SABL)
Leve: alterações neuroparalíticas discretas; sem
mialgia, escurecimento da urina ou oligúria.5
Moderado: quadro local presente, pode haver
sangramentos, sem manifestações vagais.10
Grave: quadro local intenso, hemorragia intensa
com manifestações vagais.20
Crotálico Anticrotálicon
(SAC)
Moderado: alterações neuroparalíticas
evidentes, mialgia e mioglobinúria discreta.10
Grave: alterações neuroparalíticas evidentes, 10
mialgia e mioglobinúria intensa, oligúria.
Elapídico Antielapídico (SAE)
Considerar todos os casos potencialmente
graves pelo risco de insuficiência respiratória.10
PREVENÇÃO DE ACIDENTES
Sempre que for andar nas florestas, andar calçado. Cerca de 80% das picadas
acontecem do joelho para o pé, sendo 50% na região do pé. O uso de botinas ou
botas preveniria melhor do que um tênis;
Evitar acúmulo de lenhas, entulhos e lixos próximos a moradias humanas;
Usar luvas de couro ao remover lenhas;
Não colocar as mãos dentro de buracos do solo ou de árvores;
Olhar para o chão quando estaiver andando em trilhas;
Procurar não andar fora das trilhas;
Ao atravessar troncos caídos, olhar sobre ou atrás dele;
Evitar andar a noite, pois é o horário de maior atividade das serpentes
venenosas;
Ao sentar-se no chão, olhar primeiro em volta;
Ao encontrar uma cobra, avise o resto da turma sobre onde ela se encontra e
procure desviar-se dela. Lembre-se de que ela está em seu habitat natural e é
você quem é o invasor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – 7. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009.816 p.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças Infecciosas e Parasitárias: Guia de Bolso / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – 8. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. p. 448.:II.
LACERDA, Marcus Vinícius Guimarães. Manual de Rotinas da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, Maria Paula Gomes Mourão, Antônio Magela Tavares. Manaus: Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT/IMT-AM), 2003. 200 p.
MELGAREJO. A. R. 2003. Serpentes peçonhentas do Brasil. Pp. 33-61 In: Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. Cardoso et al. (Orgs.). Sarvier, São Paulo – SP.
Acadêmicos: ADILSON TORRES LEONEL;
ANA CAROLINE LEITE DA SILVA
ANDRÉ BORGES
DAYSE KELLE NASCIMENTO RIBEIRO
FABIANA MARTINS
JORGE BARROS FREITAS
MARCELO MARQUES DA CUNHA
RENATA BARROS DE BRAGA
Acadêmicos da disciplina de Introdução a Telemedicina e Telessaúde-UEA.