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3REVISTA PRESS180

ALMANAQUE

Dito “Um bom jornal, eu suponho, é

uma nação falando consigo mesma.”

Arthur Miller (1915 - 2005)

“A diferença entre litera-tura e jornalismo é que jornalismo é ilegível, e literatura não é lida.”Oscar Wilde (1854 - 1900)

“Se pudesse decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não vacilaria um instante em preferir o último.”Thomas Jefferson (1743 - 1826)

Neste ano, comemoram-se os 60 anos do Gru-po RBS, fundado em 31 de agosto de 1957, data em que o radialista Maurício Sirotsky Sobrinho passa a ser um dos sócios da Rádio

Gaúcha, de Porto Alegre.Em novembro de 1959, o grupo consegue a concessão para instalar a TV Gaúcha, que en-tra no ar em 1962. Já em 1970, assume o diário Zero Hora.

Hoje, o Grupo RBS é o maior conglomerado de comu-nicação do Sul do Brasil. Mesmo se desfazendo das ativi-dades no estado de Santa Catarina, em 2015, a RBS ainda possui como suas subsidiárias 12 emissoras de TV aberta afiliadas à Rede Globo (RBS TV), 15 emissoras de rádio (Rá-

dio Gaúcha, Rádio Atlântida, 102.3 FM, Rádio Farroupilha, CBN Porto Alegre) e três jornais (Zero Hora, Diário Gaú-cho, Pioneiro).

A empresa também opera a e.Bricks Digital, formada por empresas da área de tecnologia por meio das quais atua nas áreas de mídia digital e tecnologia, mobile e e--commerce segmentado. Além disso, possui a Engage Eventos, a RBS Publicações (editora), uma gráfica, a Via-log (empresa de logística), a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, a Appus (tecnologia de big data com foco em produtos de RH) e a HypermindR (análise do comporta-mento do consumidor).

G r u p o R B S c o m p l e ta 6 0 a n o s

PARK ROWSam Fuller (1911-1997) teve três carreiras. Como jornalista, ele progrediu de copy

boy para repórter criminal. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi sargento de infan-taria. Finalmente, tornou-se um escritor-diretor de filmes, muitos deles clássicos cult.

Seu filme Park Row (A Dama de Preto, na versão brasileira) é uma lição sobre o jor-nalismo americano e a liberdade de imprensa. A história, inspirada em fatos reais, se passa na década de 1880, em Park Row, a rua de Nova York que concentrava as sedes dos jornais. O personagem central é um jornalista (Gene Evans) que está fundando seu próprio jornal, The Globe, e promovendo uma campanha pública para pagar a instala-ção da Estátua da Liberdade, sofrendo oposição violenta de um veículo concorrente.

Darryl Zanuck, chefe da 20th Century Fox, ofereceu-se para produzir a obra como um blockbuster Technicolor com vários astros. Fuller insistiu em um filme em preto e branco, sem nomes famosos, custeou sozinho o orçamento de US$ 200.000 e gravou tudo em 10 dias. O resultado é uma obra vigorosa, fotografada por Jack Russell, cujo trabalho inclui Macbeth, de Orson Welles, e Psicose, de Alfred Hitchcock.

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SUMÁRIO

PRESS180

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Almanaque

MIX

Aquário

MIX

Entrevista: Tibério Vargas

Opinião: Mario Rocha

Capa: A nova (e incerta) cara do Jornalismo

Opinião: Roberto Jardim

Grandes Nomes: Joel Silveira

Galeria: A imprensa vai à Guerra

Sumário

Diretor-GeralJULIO RIBEIRO

Diretora-ExecutivaNELCI GUADAGNIN

Textos:MARCELO BELEDELI

Diagramação/ Arte Final ESPARTA PROPAGANDA

Imagens:Fotografias da entrevista:Jefferson Bernardes/Agência Preview

[email protected]

ImpressãoCOMUNICAÇÃO IMPRESSA

ComercializaçãoPORTO ALEGRE: (51) 3231 8181e (51) 99971 5805 comNELCI GUADAGNIN

PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DA REVISTA.

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE - RSCEP 90160-240 FONE/FAX (51) 3231 8181

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MIX

PRESS180

Em todo o mundo, apenas 13% dos mais de 70 mil entrevistados para o relatório Digital News Report 2017, afirmaram

que pagaram por notícias on-line em 2016. A pesquisa, lançada pelo Reuters

Institute, consultou leitores de 36 pa-íses dos cinco continentes. No Brasil,

os dados mostram que, apesar de as assinaturas de veículos digitais terem

crescido, apenas 22% dos brasileiros pagam para ler notícias online. O

número é o mesmo de 2015. O relatório ressalva que os resultados brasileiros

foram obtidos a partir de amostras da população urbana do país. Por esse

motivo, tendem a representar a parcela mais rica e conectada dos habitantes.

Repórteres, colunistas, narradores e outros profissionais de Comunicação que trabalharão na Copa do Mundo 2018, na Rússia, poderão realizar um curso do idioma russo pela agência CI Intercâmbio e Viagem. As aulas, que terão carga de 20 horas semanais e duração mínima de duas semanas, acontecerão na escola Liden & Denz, com unidades em Moscou, São Petersburgo e Riga. Em Porto Alegre, a CI está localizada na rua Padre Chagas, 72, e na avenida Pereira Passos, 1125. A agência também tem unidades em Caxias do Sul,

Erechim, Passo Fundo e Pelotas. Mais informações podem ser obtidas no site www.ci.com.br.

Idioma russo para cobrir a Copa do Mundo

Ainda segundo o Digital News Report, embora as mídias sociais ain-da sejam extremamente populares no Brasil, seu uso como fonte de notícias perdeu impulso no ano passado. Quase oito em cada 10 bra-sileiros utilizaram o Facebook para qualquer propósito em 2016, mas o uso de paywalls pelos principais jornais pode estar reduzindo o com-partilhamento de notícias nas redes sociais. A pesquisa apontou que 57% dos entrevistados no Brasil usaram o Facebook como fonte de notícias, uma queda de 12 pontos percentuais em relação a 2015. Já o WhatsApp atingiu novos níveis de popularidade: 46% o classificaram como fonte de informação, um aumento de 7% ante o ano anterior.

Facebook perde força e Whatsapp ganha importância

Pagamento por notícias 0n-line ainda é baixo

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grana toda? Precisava roubar? O que isso iria fazer diferença na sua vida?

Passado este impacto inicial, me sobreveio um enorme abatimento. Como pequeno empresário, eu sei as dores, as dificuldades, as agru-ras para conseguir faturar alguns milhares de reais e poder pagar as contas, os funcionários, os impos-tos, e, quem sabe, ter algum lucri-

e indignou foi a frase repetida por Joesley: "Nóis não vai ser preso!". Ali estava a segurança de um pi-lantra, a certeza de um cafajeste, a tranquilidade de um ladrão de que não seria preso, que as mãos longas da Justiça não o alcançariam, que a rede de corrupções que ele coman-dava o protegia, lhe davam salvo--conduto para sua vida nababesca em Nova York.

Mas, setembro, mês de nossa in-dependência como nação — e para nós gaúchos, de revolta — nos vin-garia. Geddel seria preso, novamen-te (e desta vez, sem o beneplácito de nenhum juiz), sob os protestos de sua mãe: "meu filho não é ban-dido, ele é doente!". Joesley e Saud (e dias depois, também,Wesley) fo-ram, igualmente, presos. Diz-se que o todo poderoso da JBS chorou na cela com cama de concreto e banho frio, em Brasília.

Não sei se eles vão continuar no xilindró. Escrevo esta coluna antes de saber as suas prisões temporá-rias se transformaram em provi-sórias. Mas, já me sinto um tanto vingado. O "suíno" está de volta ao chiqueiro e "Nóis" foi preso. Obri-gado, setembro!

REVISTA PRESS180

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O primeiro foi a descoberta, pela Policia Federal, de várias malas e caixas repletas de dinheiro, num apartamento emprestado a Geddel Vieira Lima, a poucas quadras da sua casa, em Salvador (BA). Confes-so que aquela imagem causou um impacto violento sobre mim. Ini-cialmente, a incredulidade. Como pode alguém guardar esse dinheiro todo, num simples apartamento?

Depois se seguiram, curiosida-de, dúvidas e, por fim, abatimen-to. Quanto haveria de dinheiro ali, amontoado displicente e grotesca-mente? Apostei com um amigo que seriam uns R$ 10 milhões, ele dizia que passavam de R$ 100 milhões. Depois de 14 horas sendo contado em sete máquinas próprias para isso, o volume bateu nos R$ 51 mi-lhões. Uma Mega Sena acumulada. Essa mufunfa toda seria devolvida aos cofres públicos? Quais cofres? Afinal, Geddel vinha ocupando car-gos de primeiro escalão há quatro governos e acumulava cinco man-datos como deputado federal baia-no. O que ele pretendia com essa

Em três anos da Operação Lava-Jato nós já vimos e ouvi-mos de tudo. Nossa capacida-

de de espanto, perplexidade e indignação parecia ter se

esgotado. Pelo menos até a primeira semana de setembro,

quando dois fatos fizeram correr rápido o que ainda nos

restava de sangue nas veias.

"Nóis" foi preso!AQUÁRIO

JULIO [email protected]

nho. E aí, aquelas caixas e malas, estampadas naquela foto que cor-reu o mundo, gritavam na minha direção: babaca, babaca!

O outro acontecimento impactan-te de setembro foi a divulgação de 4 horas de áudios de conversas en-tre Joesley Batista e Ricardo Saud. Havia de tudo ali. Confissões des-lavadas de corrupção, compra de procuradores e ministros do STF, armações para "explodir" o Judici-ário e o Executivo, sacanagens das mais diversas e até a oferta de sexo para destravar coisas de seus inte-resses, em diversas esferas. Mas, o que mais me amassou, vilipendiou

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MIX

Começou, no dia 1º de setembro, o período de indicações do 18º Prêmio PRESS, o Oscar da Imprensa Gaúcha.

Qualquer pessoa pode entrar, uma vez por dia, no site www.revistapress.com.br e fazer suas livres indicações para os melhores profissionais de imprensa do ano, em 17 categorias. Este é o Voto Popular. Já os jornalistas e radialis-tas, devidamente identificados, podem participar, também, do Voto Profissional, uma única vez em todo o período de indicações, que se estende até 31 de outubro.

Os dois nomes mais indicados no Voto Popular e os três mais votados no Voto Profissional formam uma lista quín-tupla, que será submetida a um Juri de Convidados, forma-do por 60 personalidades convidadas pela revista PRESS. O resultado será conhecido na grande festa de premiação, marcada para 27 de novembro, no Teatro Dante Barone.

A campanha do Prêmio deste ano, criada pela agência In-tegrada Comunicação, tem como tema "O Poder da Palavra", numa referência à ferramenta básica e essencial do jorna-lismo. Pela palavra se constrói alianças, se fazem guerras, com a palavra é possível emocionar e manifestar ódio às pessoas e é com a palavra que os profissionais de imprensa registram momentos e fatos históricos da humanidade.

O 18º Prêmio Press tem o patrocínio de Sistema FIER-GS, Sistema FECOMERCIO, SICREDI, SINDUSCON, CIEE- RS, STICC e o apoio de ABAP, SBT, Krim Bureau e Assem-bleia Legislativa.

Mudanças na Band 1A Band RS começou fechou o mês de agosto com novidades no quadro de funcionários. A empresa contratou Alex Bagé, Wianey Carlet, Everton Cunha (Mister Pi) e Fernanda Zaffari. Os três primeiros já estão participando de um programa de debates esportivos na Rádio Band AM/FM, das 12h30 às 14h. Além disso, Alex Bagé vai comandar os programas de pré e pós jornadas esportivas. Já Fernanda Zafffari integra, desde Londres, o programa 90 minutos, que tem André Machado no comando.

Mudanças na Band 2A emissora também já conta com novas instalações em Porto Alegre, resultado de uma ampla reforma no tradicional prédio do morro Santo Antônio. Um dos estúdios de televisão passou a se chamar Estúdio Bira Valdez, numa homenagem ao jornalista, apresentador e diretor da Band RS, falecido em junho de 2005.

COMEÇOU O 18º PRÊMIO PRESS

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ENTREVISTA

Você saiu da PUC após 40 anos como professor e agora é um es-critor?

Eu só quero me dedicar a isso.

Quantas páginas escreve por dia?Eu tenho horário. Normalmente,

eu procuro ler de manhã e escrever de noite. Mas é muito relativo. Às vezes, eu escrevo muito, e, às vezes eu apenas acerto um parágrafo.

E a sua literatura é autobiográfi-ca, é uma terapia ou tem preten-sões literárias mesmo?

Eu sempre gostei de escrever. Tanto é que eu entrei no jornalismo para escrever. Não entrei no jorna-lismo para uma missão. Eu queria escrever e por isso me dediquei ao jornalismo. Eu gostava de escrever, eu sempre disse que nunca soube se eu gostava mais de escrever ou de editar porque eu sempre gostei muito disso também. Sempre dia-gramei, e adoro diagramar. Então, procurei me dedicar a todas as áre-as do jornalismo gráfico. Escrever

editores, com 11, por aí. E fazíamos cobertura 24 horas.

Hoje as equipes são bem mais reduzidas. Esse assunto deixou de ser interessante para o públi-co ou deixou de ser interessante para a empresa jornalística ou, ainda, se tornou tão banal que não é mais notícia?

O que eu vejo é que os casos são apresentados de uma maneira ba-nal. E não se coloca mais pessoas na cobertura por medo de processo. Então, a editoria de polícia está mui-to mais cerceada na democracia.

Quer dizer, é aquela história do "suspeito", do "teria feito", futu-ro do pretérito do subjuntivo...

Sim, isso, naquela época, não ti-nha. Essa condicional não se usava.

A polícia hoje é demonizada, por boa parte da população, espe-cialmente pelos movimentos de esquerda. Como tu vê o papel da polícia na democracia? É vilão,

é a minha respiração, minha vida. Eu gosto muito de ler e gosto muito de escrever. Como dizia Jorge Luis Borges, prefiro ler do que escrever, porque leio o que quero e escrevo como posso.

Tem algum autor que gostaria de escrever parecido?

Eu tive épocas. Sempre fui muito camaleão. Eu gostei muito do Nel-son Rodrigues. Na crônica policial, eu procurava escrever como Nel-son Rodrigues. Eu gosto muito mais do Vargas Llosa do que do Gabriel García Márquez. Eu acho García Márquez mais rococó. Gosto muito da elegância do Ítalo Calvino. E eu vou sempre mudando.

Você esteve 26 anos trabalhando em redações, na Folha da Tarde, no Correio do Povo, na Zero Hora, especializado na editoria de po-lícia. Quantas pessoas trabalha-vam em polícia naquela época?

Naquela época, a gente trabalha-va no mínimo, contando com os

"Nós, os jornalistas é que sabemos contar as coisas"Em março, Tibério Vargas Ramos encerrou sua trajetória de 40 anos à frente de disciplinas de Jornalismo e Rela-

ções Públicas na Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atuando desde 1° de março de 1977, o mais antigo docente da faculdade solicitou demissão para se dedicar à literatura e ao conteúdo de seu site homônimo (tiberiovargasramos.com.br).

Além dos 40 anos em sala de aula, o jornalista conta com 26 anos de experiência em redações, trabalhando nas edito-rias de polícia da Folha da Tarde, Correio do Povo e Zero hora. Tibério também é autor de dois romances, Acrobacias no Crepúsculo e Sombras Douradas, da novela A Santa Sem Véu e dos Contos do Tempo da Máquina de Escrever.

Nesta entrevista para a revista Press, Tibério Vargas Ramos fala sobre suas experiências como repórter policial, a dedicação à literatura, e suas opiniões sobre o ensino de jornalismo e o futuro da atividade.

TIBÉRIO VARGAS RAMOS

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Entrevista:Julio Ribeiro

Fotos:Marcos Nagelstein

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ENTREVISTA

mocinho ou nenhum dos dois?Eu acho que tem coisas que de-

veriam ser intoleráveis. E a polícia hoje tem medo de fazer qualquer coisa, porque ela vai responder processo, vai ser demonizada. En-tão, quatro ou cinco pessoas tran-cam uma rua e a rua fica trancada.

É uma crise de autoridade que es-tamos vivendo no Brasil?

Eu acho que é. Porque autoridade não tem nada que ver com autori-tarismo. Porque a gente tinha no mínimo oito repórteres? Fazíamos cobertura 24 horas, então tinha que ter no mínimo nove para um es-tar de férias, o que dava oito para cobertura de seis horas, mais ou menos assim. E nós tínhamos uma frequência da rádio da polícia,que ouvíamos o tempo todo. Então, a gente cobria 24 horas e cobrava as coisas. A falta da cobrança da im-prensa cria essa impunidade. A gen-te cobrava muito. Pegava um crime e ficava naquele crime cobrando, cobrando, se não estava resolvido.

Vocês buscavam o curioso, o joco-so, o inusitado... Lembra de casos assim naquela época? Os jornais davam sequência às histórias.

Quando se pegava um caso, nós como repórteres, às vezes nem aguentávamos mais o caso, mas o público queria. E o Antoninho (Anto-nio Gonzales, editor da Folha da Tar-de) pedia e aquilo continuava como se fosse um folhetim, uma novela.

Não foi nessa época a história do homem das mãos amarradas?

Não, foi antes. Eu peguei já quan-do reabriram o processo. Foi em 1965, e depois reabriram no início dos anos 1970.

O caso do José Antônio Daudt foi depois?

No caso Daudt eu já estava de vol-ta à Zero Hora. E o caso Daudt foi

uma convicção da própria empre-sa, da própria imprensa. Ela impe-diu uma cobertura isenta, aberta.

Por quê? Porque era um comuni-cador?

Não. O grande problema do caso Daudt é que existia uma vítima e, supostamente, um autor. E tudo foi feito para chegar no autor. O traba-lho da polícia, o trabalho da impren-sa, e na empresa havia essa convic-ção. Foi errado. Porque tinham que partir da vítima para chegar ao cri-minoso. A gente até ganhou um prê-mio ARI pela cobertura.

Mas naquela época os setoristas de polícia tinham convicção de que o autor do crime era o depu-tado Antônio Dexheimer?

Nós não tínhamos. Tinha quem era amigo do Daudt. E amigo do Daudt era a direção.

Hoje se fala sobre a necessidade do julgador de se declarar impedi-do de julgar um caso porque tem ligações com os acusados, para evitar situações como a do minis-tro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal, que tem legislado em favor de amigos. O jornalista se sente impedido de noticiar em algum momento porque era um amigo ou pessoa muito próxima?

Eu tive algumas experiências assim, mas passava para outro re-pórter, por não querer fazer. Me aconteceu duas vezes. Eu chego na delegacia e está preso um primo meu. Então, não vou fazer a maté-ria. Outro faça. Outra vez foi uma amiga, e não fiz a matéria, eu sa-bia que ela ia ser solta e de noite ia estar na Zero Hora. É um troço desagradável.

Fizemos, recentemente, uma ma-téria de capa sobre o jornalismo de antagonismos, o jornalismo engajado. Não acha que a gente

se perdeu em algum momento aí?Naquela época a reportagem po-

licial tinha três vieses. Um viés poli-cial, que para nós gerava muita difi-culdade, porque eles tinham fontes e faziam o jogo da corporação. O repórter usava revólver na cintura e tal, tinha trejeito de polícia, lin-guajar, e escrevia como um policial. Isso existia. E existia a Folha da Ma-nhã, que teve um viés de esquerda: nós contra a polícia. E nós na Folha da Tarde tentávamos ficar no meio termo. Até porque tínhamos o Anto-ninho. Era em nome do jornalismo. A gente acabava usando o jogo, os artifícios da polícia. Teve um tempo que eu fiz reportagem com o Juarez da Silva. E ele tinha trejeito da polí-cia. Muitas vezes, ele passava os da-dos para mim para eu levar as cul-pas. Mas, eu já era queimado com a polícia. Muitas vezes, a informação vinha dele, porque ele tinha acesso à informação.

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Já sofreu pressão por parte da po-lícia, velada ou não? Ou por parte de algum envolvido?

Assim, eu nunca tive. Mas já tive medo. Houve uma grande reporta-gem que, modestamente, fiz. Por acaso, teve um policial que me con-tou que tinham matado um preso no xadrez da delegacia de furtos. E eu fui investigar e esse foi um caso rumoroso. Fui juntando as peças, era verdade, o cara foi levado para um tipo de um hospitalzinho que ti-nha perto de Torres, onde ele mor-reu, e descobriram que era ali que matavam os presos. Foi quase como um acidente, era um traficante que dava dinheiro para a polícia, e qui-seram que ele aumentasse o valor. Estavam com uma madeira, quise-ram dar nele nos ombros, e deram um golpe na cabeça. Era muito do-lorido ver isso. E aí eu sofri porque foram expulsos vários policiais da corporação, foi fechando o cerco.

Foi um caso que rendeu 10 expul-sões, ou pelo menos processos.

Você sofreu ameaças?Não, eu não sofri ameaças. Mas

é que tu fica com medo, pois sabe que, de certa forma, criou proble-mas. Naquela época eu andava na noite. A gente fica com medo. Mas medo mesmo foi uma vez que um rapaz matou um procurador de Justiça ali perto da Faculdade de Medicina da UFRGS. Era um caso, a princípio, meio estranho. Ele che-gou na Polícia com uma jaqueta e o fotógrafo bateu a foto dele. E depois ele foi apresentado para nós com a jaqueta cortada. A versão oficial foi de que o procurador tinha ata-cado ele com uma navalha e o ra-paz tinha atirado nele. Mas, a gente achou estranho um procurador de Justiça estar com uma navalha. E só quando foi revelada a foto no jornal nós vimos a jaqueta. Aí publicamos

as duas jaquetas na folha, e nem colocamos a explicação. Explicação iria ter no dia seguinte. E o delega-do foi para a rua. Uma vez, pouco tempo depois, o encontrei num res-taurante e fiz que não o vi e ele fez que não me viu.

E você chegou a sentir mais medo dos criminosos ou da polícia?

Olha, por incrível que pareça, mesmo na época da Ditadura a im-prensa era respeitada pela Polícia. Não era pelo Exército, mas nós co-bríamos a Polícia. Até o delegado Newton Müller (ex-chefe da Polícia Civil), que era muito meu amigo, fa-lava de nós e dos militares. No fun-do, no fundo, nem a Brigada pres-sionava os jornais, ou era de tirar matéria, ainda mais na Zero Hora.

A corrupção nas polícias era grande assim na década de 1970 e 1980? E permanece no mesmo nível ou aumentou?

Eu não posso falar da polícia hoje porque estou fora. Mas, o que eu vejo é que naquela época tinha, claramente, duas facções na polí-cia. A que chamavam de a “facção do pau” e a “facção da corrupção”. Muitos policiais davam corretivo, muitas vezes, para que o cara con-fessasse, ou para forçá-lo a parar de roubar. Isso existia. Agora, exis-tia também a da corrupção, muito voltada ao jogo do bicho, prostitui-ção, tráfico, roubo de carro. Essa foi criando uma coisa paralela. Esses grupos se toleravam e todo mundo sabia exatamente diferenciá-los.

Você acha que a reportagem, como um todo, hoje é feita por re-pórteres preguiçosos? Aquilo que deveria facilitar, como internet, Google e tal, acabou prendendo a bunda dos repórteres na cadeira?

São essas coisas que a própria im-prensa sugestiona para que acon-teça. E os repórteres se adaptam.

REVISTA PRESS180

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ENTREVISTA

Antigamente, às 14h, saia da Caldas Júnior não sei quantas Kombis lota-das, com repórteres das editorias. E a editoria de polícia tinha uma kombi quase só para ela. O repórter na época saia para entrevistar. Por-que uma coisa é entrevistar uma pessoa e ver o gesto e ver as dúvi-das, ao vivo. A outra é, pior ainda, pela internet, por e-mail, telefone. Responde por e-mail e pronto. Isso barateou e o repórter foi ficando mais na redação.

Mas isso também não diminuiu a importância da imprensa e a ca-pacidade de atrair o público em si? Isso não está um pouco na gê-nese da crise que os veículos de comunicação enfrentam?

Não é uma regra. Eu não gosto da Folha de S. Paulo porque eu não gosto do texto da Folha. Quase não leio, mas leio o Estadão. E gosto do Estadão. Então, tu vês uma matéria no Estadão assinada por três repór-teres. Eles têm um correspondente em Paris, que foi meu aluno, escre-vendo diariamente. Isso sai caro.

Os jornais, especialmente, mais do que o rádio, a televisão e a re-vista, passam por uma crise, pois hoje não podem mais dar o fatu-al. Amanhã de manhã, o fato já é velho, a internet já deu. A ma-téria mais elaborada, analítica, com mais informação, não seria o caminho para o jornal?

Mas, é tudo isso num espaço mais reduzido. Aquela matéria que nós fazíamos em cinco laudas, essa não tem mais como fazer. Aquela ma-téria de cinco laudas tu vai ter que fazer em 40 linhas.

Todo mundo cita o exemplo do The New York Times como jornal que se reinventou, mas ele conti-nua desse mesmo jeitão.

São pequenas mudanças que ele vem fazendo, mas é uma diagrama-

ção graciosa. Por exemplo, o título é corpo 36 no máximo. Ele é um jornal que não grita. É uma concep-ção de jornal. E aquilo é o The New York Times.

Mas aí é que tá: antigamente, por exemplo, o Papa só morreu quan-do saiu no Correio do Povo. Como os jornais perderam essa credibi-lidade?

Restringiu. Naquela época, por exemplo, o Breno Caldas tinha um orgulho de ter um dos cinco maiores jornais do país. Hoje, o país tem dois jornais: o Estadão e a Folha. Há 20 anos, quando veio a internet, dizia--se que ia acabar com o jornalismo. Depois, não, vai continuar só o jor-nalismo de qualidade. E hoje o fenô-meno que se tem é o do jornalismo de qualidade, esse do Estadão e da Folha. E tem um jornalismo popular, que não estava previsto no Brasil, pois é não sensacionalista, um jorna-lismo que presta serviço. Isso é um

fenômeno. Já nas revistas, as com maior tiragem do País não são Veja e Isto É, são as de fofoca de televisão.

Em meio a onda das fake news, será que a gente tem capacidade de saber o que não é verdade e valorizar o que é verdade?

Hoje, tu acreditas em alguns sites. Isso é um desiderato do Jor-nalismo, que vem junto da educa-ção e tal, que tem que ser feito. A concepção do Diário Gaúcho, por exemplo, foi errada desde o início. Ah, tem que fazer um jornal que as pessoas que não leem consigam ler. Esse é o primeiro ponto, é preciso se aproximar das pessoas, mas, ao se aproximar delas, tem que fazê--las crescer. É o caso da educação. Então, eu sempre sacaneio eles porque, na verdade, a receita de peixe na Semana Santa começava assim: lave as mãos. Isso é de uma crueldade monstra. É preconceitu-oso, um absurdo.

PRESS180

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Mas o conteúdo não era mais den-so do que hoje?

O que eu sempre observei é que em todas as aulas um grupinho me procurava para ter mais informa-ção. Um grupinho, dois, três, qua-tro. Sempre foi assim. E, agora, eu vejo também o pessoal sentado, no bar, no saguão, lendo livros, e não são livros obrigatórios. A maioria não lê, mas tem quem lê. Em todas as turmas saem futuros profissio-nais diferenciados. Gente acostu-mada a ler, que leu a vida toda.

Uma coisa que percebo é que hoje, por exemplo, um publisher há 25 anos, como eu, jamais vai dar aula em universidade porque não é mestre, nem doutor. Essa reserva de mercado que se criou na aca-demia me parece que afastou um pouco a academia da realidade do dia a dia. Hoje tem gente que tem como profissão estudar. Se for-mou em jornalismo, já entra no mestrado, no doutorado e depois vai dar aula, sem nunca ter entra-do em uma redação.

Esse relato é uma realidade ab-surda e que não tinha antigamente. Quem se destacava no mercado a fa-culdade fazia questão de levar para dar aula. Esses que se formam, que fazem toda uma carreira acadêmi-ca, procuram escrever, na maioria das vezes - vão ficar bravos comigo - de uma maneira ininteligível. E é tudo uma colagem. As teses são to-das colagens. Não têm nada original. E a primeira coisa que eles fazem quando vão dar aula é fazer a crítica da mídia: a mídia não presta, mídia isso, mídia aquilo. Vão lá defender essa comunicação comunitária. E eu gozava, eu brincava, eu quero escre-ver para milhões de pessoas, porque aí tem um troço político e tal, não, é uma atividade macropolítica a da imprensa, mas não é uma atividade política, um partido político ideoló-gico. É muito mais que isso.

O jornalismo tem futuro? Ou virá outra coisa parecida com o jorna-lismo?

Eu acredito que o jornalismo tem futuro. Alguém tem que fazer a me-diação entre a emissão e o receptor. Esse é um ponto. Alguém tem que dizer se aquilo pode ser verdade ou não, contextualizar, fazer uma leitura daquilo e isso vale para o jornalismo e para as relações públi-cas. As redes sociais obrigaram as empresas a responderem imediata-mente. Isso é um mercado. Eu sem-pre dei aula também para relações públicas. Eu estava fazendo uma revista e com o desenvolvimento a gente fazia uma versão eletrôni-ca e uma impressa. Uma das me-lhores cadeiras, porque fazia duas mídias em uma mesma aula. Nem o Jornalismo tinha. Eu gostava mui-to. E a gente tinha uma dificuldade de fazer os alunos escreverem. Eles diziam que isso era coisa de jorna-lista, quem tem que escrever é jor-nalista. E isso mudou. Foi mudando pelas mídias sociais. Eles começa-ram a pegar estágio para atender mídias sociais, em que tinham que escrever. Então, mudou a preocu-pação em aprender a escrever. Eu sou muito fissurado no jornalismo, dou uma dimensão imensa para ele, mas eu acho que só nós sabe-mos contar as coisas de uma manei-ra atraente e rápida. Aí, entra tudo o que a gente discutiu: o texto tem que ter 20, 30 ou 40 linhas? E tu vai tentar escrever da maneira mais atraente possível. O lead não é algo antigo para sacanear. É para abrir a matéria com o mais importante, para prender o leitor na primeira frase. Depois, para manter o leitor, é preciso outra coisa. Por exemplo, hoje, os cadernos de cultura dos jor-nais de Porto Alegre não são feitos por jornalistas, e os textos são can-sativos, enfadonhos. O jornalista é quem sabe fazer. Tinha a revista Bravo!, que terminou. Eu começava

a ler uma matéria da Bravo! e via, "essa é feita por jornalista", "essa não é feita por jornalista", porque nós sabemos contar as coisas.

Você percebeu alguma mudança no perfil dos alunos no entendi-mento do que é o jornalismo, no interesse pela atividade e na dis-posição em se qualificar para ela?

Desde que eu fiz a faculdade até agora, que eu deixei de lecionar, as aulas sempre foram assim: tem um grupo de destaque e um outro grupo que não quer nada com nada. Sem-pre foi assim. Claro que na minha época tudo era mais direcionado para o jornal impresso, depois co-meçou a crescer muito o rádio, hoje é a televisão (que antes era pouco), mas tem grupos que queriam fazer jornalismo e muitos abandonaram o jornalismo, pelo mercado e pelos baixos salários. Tem uma ex-aluna minha que é talentosíssima, ela é uma microempresária hoje, não tem como trabalhar em jornal.

REVISTA PRESS180

Uma coisa é entrevistar uma pessoa e ver o gesto e ver as dúvidas, ao vivo. A outra é, pior ainda, pela internet, por e-mail, telefone. Responde por e-mail e pronto. Isso barateou e o repórter foi ficando mais na redação.

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lação para identificação e produção das pautas legítimas e necessárias; de desapego ao lucro fácil prove-niente de conteúdos que dizem ou omitem o que foi acertado em acor-dos espúrios.

São textos para onde há conflu-ência da ética, competência, cria-tividade, domínio das ferramentas que novas e “velhas” plataformas possibilitam, estilo atrativo e corre-ção gramatical que preserve a últi-ma flor do Lácio. A audiência seleta os está descobrindo. O que o leitor espera de um texto para ser feliz? Que apresente um pouco de saber, bastante sabedoria e muito sabor.

Mario Rocha é jornalista e professor da Fabico

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ção para a dramática redução no volume de anúncios classificados e destacados. Mostram que as ta-belas de preços do cm/col são, cada vez mais, apenas referências na ne-gociação da inserção publicitária. Identificam cortes na entrega do-miciliar em “pontas de rede” onde é caro chegar. Alertam contra a migração de cadernos segmentados para as edições dos fins de semana. Documentam a redução dos postos de trabalho nas redações e o acha-tamento salarial.

Sim, os incêndios estão se proli-ferando e há labaredas nos atuais, brasas nos mais recentes, cinzas nos mais antigos. O que talvez não estejam enxergando é que nem to-dos os empreendimentos jornalís-ticos “tradicionais” sucumbirão às chamas.

Muitos estão reinventando o pró-prio modelo de negócio. Diversifi-cam o conteúdo na cesta que agora contém ovos de galinha, de pata, de avestruz, de marreca piadei-ra... Basta ter pena... O problema é achar quem possua competência para chocar. Outros empreende-dores estão obcecados em encher novas cestas até mesmo com algum dodô extinto e mais aquilo que só com muito boa vontade ou mio-pia poderíamos classificar de ovos jornalísticos. O problema é achar quem tenha estômago para chocar.

O Jornalismo Fênix já está renas-cendo das próprias cinzas. Colecio-no incontáveis exemplos de novas formas de contar histórias relevan-tes para as pessoas; de valorização extrema da reportagem investiga-tiva precisa a ponto de desafiar re-taliações; de parcerias com a popu-

Prefiro mil vezes a companhia de jovens estudantes em cujas carinhas a afirmação otimista

gera olhares que unem um pouco de perplexidade com

muito de esperança. Quero que acreditem quando garanto que estamos vivendo um momento

fantasticamente desafiador, um momento de esboroamento das

certezas, de experimentação que produz descobertas – inclusive

a de que estamos bem sujei-tos a errar, aqui e ali, embora

na melhor das intenções.

Desesperançados encolhidos e arautos do apocalipse apontam para as quedas das tiragens dos jornais impressos. Chamam a aten-

Puxa vida, está difícil, mas muito difícil meeeesmoooo,

enfrentar semblantes irônicos de alguns coleguinhas quando afianço que a prática da nossa

atividade vai bem, obrigado, e manda lembranças. É que

não parecem dispostos a terçar armas usando argumentos e preferem estocadas fisionô-

micas. Esgrima bem jogada, é sempre bom lembrar, surge

quando alguém com habilidade prévia a desenvolve mediante

técnica apurada no treinamen-to diário. Fim da metáfora.

O Jornalismo Fênix

MÁRIO ROCHA

OPINIÃO

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MATÉRIA DE CAPA

j o r n a l i s m o

A novacara do( e incerta )

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Esqueça a imagem que a ficção e até mesmos mo-mentos históricos construíram sobre o jornalista. Esqueça o furo de reportagem. Esqueça as fontes misteriosas e cheias de segredos a revelar. A figura do investigador, que vai atrás da notícia quase que de forma heroica, escancara segredos de estado e

muda os rumos da sociedade é tão icônica quanto antiquada. A realidade da profissão, para a maioria dos jornalistas, está longe de contemplar tanta ação, se aproxima mais do drama. E ele reside nas incertezas quanto ao próprio futuro.

De acordo com dados do Inep, mais de 326 mil pessoas se matri-cularam no curso de jornalismo, entre 2009 e 2015. No mesmo pe-ríodo, 53,5 mil concluíram a graduação. Esses números contrastam com os dados do mercado de trabalho. Na última década, o maior nível de vínculos trabalhistas formais no jornalismo foi alcança-

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ética e a informação de qualidade definham um pouco mais. Ao final, não é só ele quem sai perdendo. A profissão tende a sofrer ainda mais com a desvalorização, a informa-ção repassada à sociedade fica um pouco mais comprometida e aquele jornalista icônico vai se dissipando cada vez mais do imaginário e da vida das pessoas.

Imaginário versus realidade

O diretor do Sindicato dos Jorna-listas do Rio Grande do Sul (Sind-jors), Milton Simas Júnior, avalia

MATÉRIA DE CAPA

PRESS180

do em 2013, com 67.305 postos, se-gundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).

Em 2015, as vagas formais regre-diram para 62.577. Em apenas dois anos, mais de 4,7 mil contratos fo-ram encerrados, número equiva-lente ao total de jornalistas empre-gados em Minas Gerais, o terceiro maior mercado empregador na área, no ano de 2015.

A constatação evidencia uma contradição. Se, hoje, há mais meios de distribuição da informação, pro-piciados, sobretudo, pela revolução digital, como justificar a redução de postos de trabalho? Não existe uma única e definitiva resposta para esse questionamento. Mas ela, sem dúvida, passa pela adaptação da grande mídia aos novos modelos de negócios.

São formatos que ainda não estão claramente definidos, fato que di-ficulta a tomada de decisões sobre investimentos, no caso das empre-sas, e que leva profissionais, dos mais jovens aos mais experientes, a se depararem com escolhas difí-ceis. Por exemplo, investir no ta-lento para a reportagem ou optar por uma vaga no serviço público? Mídia tradicional ou o universo di-gital? Comunicação corporativa ou de massa? Carreira acadêmica? Jor-nalismo alternativo? Independen-te? De dados? Blogue?

Entre fazer o que se gosta, cor-rendo o risco de obter uma baixa remuneração ou de ser dispensado em um dos tantos “passaralhos”, e buscar estabilidade profissional e financeira, o jornalista, inevitavel-mente, fica em cima do muro. O mundo ideal, em qualquer profis-são, seria aliar as duas demandas.

No caso do jornalista o desafio é ainda mais acentuado. Muitos profissionais valorizam e se guiam pela função social do jornalismo. E quando um destes vocacionados jornalistas abandona a profissão, a

O “quinto poder” aparece como alternativa à mídia tradicional

No entanto, durante a formação, emergem novos olhares sobre o papel que o jornalista desempenha na sociedade. Para Sean Aquere Ha-gen, coordenador da comissão de graduação em jornalismo da Facul-dade de Biblioteconomia e Comuni-cação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Fabico/Ufrgs), os “alunos esperam poder trabalhar plenamente aplicando os conheci-mentos que construíram em sala de aula”, uma perspectiva que é a mais constante entre os graduan-dos. “Isso não muda, é objetivo de todo formando. Mas entender a re-alidade em que estão inseridos, vi-venciar as contingências de merca-

que os grandes veículos de comu-nicação exercem uma forte influ-ência sobre os vestibulandos. “O que a gente vê na televisão traz essa falsa ilusão de sucesso e boa remuneração, mas esses profis-sionais nos quais os estudantes se espelham são minoria na nossa ca-tegoria”, salienta ele.

do, traz certa apreensão e angústia.”Nem sempre o recém-formado en-

contra oportunidade para exercer a atividade, sinaliza Fábio Henrique Pereira, doutor em Comunicação. “A inserção profissional varia mui-to de acordo com o local: há cidades em que o mercado, apesar de difícil, ainda é dinâmico, como Brasília,

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21REVISTA PRESS180

São Paulo, Rio de Janeiro e as gran-des capitais, mas nas cidades médias e pequenas, com um ou dois veículos de mídia, tem turmas inteiras que saem da faculdade sem conseguir entrar no mercado de trabalho.”

Tanto os formandos que não con-seguem colocação quanto os pro-fissionais que atuam na área se

deparam, em algum momento da carreira, com obstáculos difíceis de serem superados. Pereira revela que boa parte dos jornalistas desiste da profissão no momento da inserção profissional, ainda nos primeiros anos de formados. “Outro momen-to que percebi de abandono da car-reira é na faixa entre 30 e 32 anos,

quando o profissional que se colo-cou no mercado vê uma dificuldade de progresso na carreira, sobretudo em relação aos planos que esses jor-nalistas têm para a vida familiar.”

O mercado mais restrito é fruto de um ajuste do setor em busca de adequação a uma nova realidade imposta por meios de transmissão da informação mais ágeis e com menores custos de produção. As empresas têm reduzido suas es-truturas (grandiosas no caso dos jornais impressos e dos meios ele-trônicos, como rádio e TV) para se manterem competitivas frente aos negócios que proliferam no mundo virtual. O grande desafio é que os cortes ocorrem sem que, até o mo-mento, essa operação mais enxuta resulte em ganhos financeiros. “A verdade é que ainda não se apren-deu a ganhar dinheiro com a inter-net”, avalia Simas.

Há mais de cinco anos, os maio-res grupos de comunicação do país vêm promovendo demissões em sé-rie, conforme demonstra o levanta-mento “A conta do passaralho”, re-alizado pela agência Volt Data Lab, especializada em apuração de da-dos. De 2012 a julho de 2017, só en-tre jornalistas que atuam nos prin-cipais veículos de comunicação do país a conta já se aproxima de 2 mil profissionais. Em 2017, com pouco mais de um semestre, grandes gru-pos (como Folha, Estado, Infoglobo, entre outros de grande visibilidade) já demitiram mais do que em todo o ano passado.

Esse é um quadro que eleva a pressão sobre os que estão empre-gados, para que preservem seus postos – sujeitando-se a baixas re-munerações ou a contratos com menos garantias –, e também sobre os que estão desempregados, que se vêm sem opção e acabam aceitando as condições impostas. “O que nós propomos é desenvolver o senso crítico dos alunos para que estejam

“A inserção profissional varia muito de acordo com o local: há cidades em que o mercado, apesar de difícil, ainda é dinâmico, como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e as grandes capitais, mas nas cidades médias e pequenas, com um ou dois veículos de mídia, tem turmas inteiras que saem da faculdade sem conseguir entrar no mercado de trabalho.”

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MATÉRIA DE CAPA

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capacitados a negociar, a entender quais os limites de uma relação abusiva com o empregador e como se posicionar frente a essas ques-tões”, descreve Hagen.

Compete também à academia re-forçar valores que devem ser imu-táveis na carreira em meio a onda de transformação pela qual ela pas-sa. “O curso entende a importância das novas mídias, e está investido no debate sobre elas, mas acredita que justamente pelo excesso de in-formação, interesse público, verda-de, objetividade e ética são funda-mentais para garantir a cidadania”, pondera Hagen.

Renovação desconsidera

bagagem dos mais experientes

De acordo com a professora apo-sentada da Universidade de Brasí-lia, Zélia Leal Adghirni, o jornalis-mo de qualidade no atual cenário é ainda mais importante do que nunca. Pós-doutora pela Université de Rennes I (França), a professora tem a atividade jornalística como foco de suas pesquisas.

Em um dos estudos mais re-centes, Zélia realizou entrevistas em profundidade com jornalistas acima dos 50 anos de idade e que atuam em grandes veículos de co-municação. O olhar experiente dos que acompanharam nas últimas décadas um processo cada vez mais célere de adoção de novas ferramentas e tecnologias digitais demonstra que, apesar do amplo campo que se abriu para a atua-ção do jornalista, as práticas que asseguraram ao profissional da im-prensa credibilidade vêm se per-dendo. Informações são, cada vez

mais, buscadas na internet.O problema não é ter a internet

como ferramenta de trabalho, mas quando ela se configura como a única ligação do repórter com o “fato”. Essa é a percepção que está presente tanto nas redações quanto na sala de aula. “Os alunos chegam à universidade achando que tudo o que acontece está na internet”, ava-lia Zélia. Entre os jornalistas senio-res que participaram do levanta-mento, a visão é similar. A opinião de Rosamaria Urbanetto, editora de núcleos especiais da Globonews, dada à professora é um exemplo: “Jovens buscam tudo na internet, não saem às ruas”.

Na análise da pesquisadora, “uma fronteira invisível e intransponível separa jovens e veteranos”. Os mais jovens são bem preparados, domi-nam idiomas e ferramentas tecno-lógicas. Os mais velhos, por sua vez, carregam os valores nobres que consagraram o imaginário icônico do jornalista. “Os valores ideológi-cos e românticos desapareceram

para dar lugar ao profissionalismo pragmático”, reflete Zélia.

Embora cada geração congregue qualidades que somadas podem aprimorar a produção jornalística, as empresas têm frequentemente optado, na redução de seus quadros, pela demissão dos trabalhadores com mais tempo de atuação. Essa movimentação tem o objetivo de reduzir salários, critica o presidente do Sindjors, Milton Simas Júnior.

A constatação se confirma de acordo com dados da Relação Anu-al de Informações Sociais (RAIS). Em 2005, a faixa de maior salário para profissionais do jornalismo era superior a 20 salários-mínimos, patamar que concentrava 8% dos profissionais com vínculos formais. Dez anos depois, em 2015, apenas 2,6% do total recebiam mais de 20 salários-mínimos. “O recém-for-mado é maleável e adapta-se mais facilmente as normas político-edi-toriais assim como a salários mais baixos na escala profissional”, ex-plicita a professora no estudo.

Fábio Henrique Pereira

Milton Simas Júnior

Professor da Universidade de Brasília (UnB)

Diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul (Sindjors)

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no mesmo nível, houve uma redu-ção significativa no número de for-mandos a partir de 2010.

Um fato que coaduna com esse período e que teve efeito sobre os graduandos foi o fim da obrigato-riedade do diploma, definida em 2009, quando quase 10 mil estu-dantes concluíram o curso. No ano seguinte, esse número havia sido reduzido para 7,1 mil. Desde então, tem se mantido em uma média de 7,2 mil formandos por ano.

“Desde que começou a movi-mentação, que data de 2001, para a retirada da obrigatoriedade do diploma, nós já vislumbrávamos essa condição”, frisa Milton Simas Júnior, presidente do Sindjors. Para ele, esse é um ponto marcante para a precarização das condições de tra-balho dos profissionais. Simas criti-ca, também, o fato de a questão ter avançado sem uma mobilização am-pla que barrasse a mudança. “Nós, enquanto dirigentes sindicais, está-vamos fazendo a luta para derrubar a decisão. Por diversos momentos, buscamos as universidades e os co-ordenadores dos cursos e quase não houve adesão à causa”, aponta.

Na percepção do coordenador do curso na Fabico, Sean Hagen, não houve menor procura pela carrei-ra após 2009. “Quem acredita que

REVISTA PRESS180

pode fazer a diferença nesta pro-fissão não se deixa influenciar pela desregulamentação do diploma.” Ele reconhece que, no mercado de trabalho, a questão se reflete em salários abaixo da qualificação real dos profissionais, jornadas abusivas de trabalho, insegurança e instabili-dade. “Este é um projeto político e econômico que somos frontalmen-te contrários, e vamos continuar fa-zendo toda a pressão social possível para que seja revertido em nome de um jornalismo livre, inclusivo e qualificado”, defende.

“Diariamente, recebemos no sin-dicato pessoas pedindo registro como jornalistas, e não temos nem como negar porque não houve uma definição de pré-requisitos a serem atendidos”, relata Simas. O diri-gente analisa que isso leva para o mercado de trabalho pessoas sem qualquer comprometimento com a profissão e que interferem no con-texto dos profissionais graduados, ainda que as empresas tradicionais continuem dando preferência pelos diplomados. “A pessoa pega o regis-tro como jornalista, monta um site e passa a copiar e colar matérias publicadas por veículos de comu-nicação que tentam se rentabilizar cobrando acesso pelo conteúdo. Esse cara põe de graça na internet e ainda ganha dinheiro com publi-cidade. E quando você vai questio-nar, ele diz que está dando crédito para o autor, como se isso bastas-se”, exemplifica.

Apesar do cenário perturbador, há o reconhecimento de que novos caminhos podem gerar frutos pro-missores. Jornalistas que estão dan-do voz às pessoas relegadas na co-bertura tradicional, uso das novas ferramentas na geração de dados, checagens aprimoradas e negócios voltados para a geração de conteú-do exemplificam o potencial desta geração, que construirá a realidade futura da profissão.

"O Jornalista volta diferente depois de exercer a função, ele se torna ombudsman de si mesmo"

Obrigatoriedade do diploma em questãoEntender uma profissão que sofre

com a precarização e com a recen-te, e contínua, onda de demissões exige um olhar multifocal. Mui-tos se questionam se o número de formandos não seria incompatível com o tamanho do mercado. Essa é uma visão que se verifica na reali-dade. “A gente observa uma multi-plicação dos cursos de jornalismo dos anos 70 até 2010”, ressalta o professor da Universidade de Bra-sília (UnB) Fábio Henrique Pereira, doutor em Comunicação pela mes-ma instituição.

Até 1970, o Brasil contava com apenas 18 cursos de graduação em jornalismo, esse número foi aumentando gradativamente até atingir 317, em 2010, conforme le-vantamento para elaboração da pesquisa “perfil profissional do jornalismo brasileiro”, coordenada pelos pesquisadores Alexandre Ber-gamo, Jacques Mick e Samuel Lima, e apoiada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

Sobre esse dado, Pereira destaca que por muito tempo a demanda do mercado absorvia praticamente todos os recém-formados. “Entre as décadas de 1970 e 1980 temos um profissional que vai quase automa-ticamente para o mercado de traba-lho”, observa. Esse é um resultado da renovação das empresas jorna-lísticas no fim da ditadura militar. Na década seguinte, 1990, a quanti-dade de empregos se mantém com-patível com o número de formando graças ao crescimento do setor.

No entanto, o número de gradua-dos seguiu em elevação depois dis-so sem que a geração de postos de trabalho tenha crescido no mesmo patamar. Ainda que o número de cursos oferecidos tenha se mantido

Entre as décadas de 1970 e 1980 temos um profissional que vai quase automaticamente para o mercado de trabalho”, observa. Esse é um resultado da renovação das empresas jornalísticas no fim da ditadura militar

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pe. A tal zona de conforto. O pilo-to automático. Saiu dali com um compromisso pelamanutenção da inquietude. Como bons jornalistas, aquele grupo tinha que ter sangue nos olhos para o bem do leitor.

Dezesseis anos depois, parece que outras redações precisam fazer o mesmo que o DG fez. Ou seja, é hora dos jornalistaspararem para pensar na profissão. Principalmen-teo futuro dela. É preciso redesco-brir onde estão a atenção aos fatos, a inquietude, o questionamento e, acima de tudo, o sangue nos olhos.

Torço para que a transformação desse vídeo do YouTube em notí-cia incomode os colegas que estão à frente dos veículos. Tomara que o espaço dado a esse factoide inquie-te os profissionais de hoje da mes-ma forma que aquela manchete inquietou a equipe do DG lá atrás.

Afinal, é preciso saber o que vale mais: a audiência que um vídeo sem valor comum geram ou a cre-dibilidade que o Jornalismo bem feito pode dar?

Roberto Jardim é jornalista

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tar se perguntando: o que os dois fa-tos têm em comum? Vejamos.

Em 2001,nos dias seguintes àque-la estranha manchete a redação do DG se inquietou. Por que um jornal que já tinha uma forte ligação com seus leitores e contava histórias fantásticasteria de manchete um as-sunto que não era sequer chamada de capa de nenhum jornal do País?

Esse incômodo gerou um hábito saudável: seminários anuais para discutir as ferramentas e meios de melhor fazer Jornalismo. Uma vez por ano, a redação inteira, do boy ao editor-chefe, parava para discu-tir. Desses encontros saíram manu-ais e guias que mostravam a inquie-tação natural que todo jornalista tem. Ou, melhor, deveria ter.

Uma das conclusões a que chega-mos naquele primeiro encontro foi de que os números do sucesso de venda haviam acomodado a equi-

Voltemos alguns anos no calen-

dário. 8 de setembro de 2001, um sábado. O Diário Gaúcho teve como manchete um assunto nada usual para um jornal popular.“Vida em Marte?”, gritavam as letras em cor-po garrafal na primeira página.

Corta para hoje. 17 de agosto de 2017, uma quinta-feira. Programas de grande audiência nas rádios e tevês deram um espaço para um vídeo do YouTube, produzido no In-terior gaúcho. As imagens mostram um filho assustando a mãe com um drone.

Curioso. E só. Interesse social? Nenhum. Interesse comunitário? Nada. Zero.

O que mais surpreende é que a repercussão aconteceu em progra-mas noticiosos, aqueles de análise política e econômica como as rádios fazem tão bem.Na tevê, a situação foipior ainda, já que os telejornais são tão curtos que é um desperdício perder tempo com uma não-notícia.

O Jornalismo é uma fer-ramenta fundamental para a

sociedade. O problema, na atualidade, é que a busca

por audiênciae,muitas vezes, a falta de con-

corrência têm feito os veículos deixarem de lado

o que de mais essen-cial elestêm a dar:

Jornalismo de qualidade.

É preciso repensar o Jornalismo

ROBERTO JARDIM

OPINIÃO

Vida em Marte?

0,50R$CIENTISTAS EUROPEUS DIZEM QUE TÊM PROVAS

������ANO 2 - Nº 436 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 8/9/2001, E DOMINGO, 9/9/2001

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PÁGINA 6

EMPREGOS&

ESTÁGIOS

RenatoDornelles:

“Chora, cavaco!”

A combinaçãoestá de voltacom a novaestação, depoisdo sucesso nosanos 80

O chamadoPlanetaVermelhoseriapovoado porpequenosorganismos

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PÁG. 33

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GRANDES NOMES

PRESS180

JOEL SILVEIRA

No dia 15 de agos-to completaram--se 10 anos do fa-lecimento de um dos nomes mais importantes do

jornalismo brasileiro e premiadíssi-mo autor de mais de 30 livros: Joel Silveira. Um dos principais repórte-res brasileiros, deixou uma ficha ex-tensa em relatos jornalísticos com contornos literários. Segundo ele, o estilo foi moldado por uma necessi-dade. “Senti que precisava roman-cear o texto para me diferenciar do que era escrito na imprensa dos anos 30 e 40”, contava Silveira, que acreditava na eficácia de uma boa pesquisa para a produção de uma reportagem confiável.

Nascido em 22 de setembro de 1918, em Lagarto, estado de Sergipe, Silveira desde jovem se considerava militante de esquerda. Por diver-

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gências com seu pai, o qual considerava um burguês, mudou-se de Aracaju para o Rio de Janeiro em 1937, a pretexto de estudar Direito. De fato, cursou até o segundo ano da faculdade, mas confessa, em suas memórias, ter sido um estudante relapso. De fato, estava disposto a trabalhar como jornalista.

Seu primeiro emprego foi no semanário Dom Casmurro, de propriedade de Brício de Abreu e Álvaro Moreyra. Depois foi repórter e secretário da revista Diretrizes, semanário de propriedade de Samuel Wainer, onde permaneceu até a redação ser fechada pelo DIP, em 1944. Escreveu também para os Diá-rios Associados, Última Hora, O Estado de S. Paulo, Diário de Notícias, Correio da Manhã e Manchete.

Foi na Diretrizes que Silveira tornou-se uma estrela do jornalismo nacional com a reportagem “Eram Assim os Grã-Finos em São Paulo”, publicada em 1943, na qual apresentava sua impressão do high-society paulistano em uma narrativa irônica e debochada. Sua “língua ferina” rendeu-lhe o apelido de víbora, dado por Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, que logo contratou o talentoso repórter.

A mudança de empresa não foi planejada, mas provocada justamente por um texto seu - ao destacar como título uma frase dita por Monteiro Lobato durante uma entrevista - “O governo deve sair do povo como a fumaça sai da fogueira” - , Silveira despertou, dessa vez, a ira de Getúlio Vargas, que man-dou fechar Diretrizes. “Não me sobrou alternativa senão aceitar o chamado do Chatô”, comentou ele em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, na qual explicava o sarcasmo de seus textos daquela época como uma tentativa de escapar da censura imposta pelo Estado Novo.

Foi Assis Chateaubriand quem lhe deu o apelido de "a víbora" por seu estilo ferino e impactante. Joel Sil-veira recorda: "Nunca tinha visto o Chatô... Aliás, não gostava dele, não concordava com os processos, a ma-neira dele como jornalista. E fiquei lá estatelado. E o Chatô veio: 'Seu Sil-veira, o senhor é um homem terrível! Seu Silveira, o senhor é uma víbora! O senhor vai trabalhar comigo! Des-ça lá e procure o seu Carlos'. Era o Carlos Lacerda (jornalista e político). Aí, fiquei."

Sua primeira grande missão para os Diários Associados foi cobrir a 2ª Guerra Mundial e, antes de em-barcar para a Itália como pracinha da Força Expedicionária Brasileira, Silveira ouviu a célebre frase do pa-trão: “O senhor vai para a guerra, mas não me morra, seu Silveira! Re-pórter é para mandar notícia, não é para morrer. Se o senhor morrer, eu o demito.”

Na guerra, com a patente de ca-pitão, Joel Silveira aproximou-se dos pracinhas para conseguir mais notícias. Mais de uma vez chegou ao campo de batalhas. “Certo dia, o mais terrível deles, vi a morte de um sargento brasileiro, metralhado pelos alemães. Só conseguimos res-gatar seu corpo quatro dias depois.” Como tinha franquia telegráfica pela amizade com os soldados, Silveira enviou diversos relatos. “Enfrentei os momentos pesados e não fiquei em Roma, como os correspondentes mais velhos, como Ernest Hemin-gway.” Quando retornou ao Brasil,

REVISTA PRESS180

“Senti que precisava romancear o texto para

me diferenciar do que era escrito na imprensa

dos anos 30 e 40”

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GRANDES NOMES

disse que havia ido à guerra com 27 anos e que, ape-sar de ter ficado onze meses, voltou com 40. “A guerra amadurece”. Os relatos estão em seu livro O Inverno na Guerra, editado pela Objetiva.

Dez meses depois, o repórter retornou e foi recrutado para outra guerra: Chateaubriand comprou briga com o conde Francisco Matarazzo Jr., que pediu de volta o prédio que os Associados ocupavam no Viaduto do Chá. O troco veio com a cobertura do casamento da filha do milionário, Filly, a cargo de Joel Silveira, que narrou tanto o faustoso matrimônio como o enlace de um casal de operários, trabalhadores justamente das indústrias Matarazzo. A matéria, com o título A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista, seria uma das mais consa-gradas reportagens do jornalismo brasileiro.

Conheceu, conviveu ou privou da intimidade de pra-ticamente todos os presidentes do período democrático anterior ao golpe militar de 1964. Para conseguir uma entrevista com Getúlio Vargas, quatro meses antes do suicí-dio, mentiu ao chefe da Casa Civil, Lourival Fontes, dizen-do que queria um emprego. É que o presidente não queria, de maneira alguma, dar en-trevistas. Como se tratava de um pedido de trabalho, o pre-sidente recebeu o repórter, a quem disse: “Oi, doutor Silvei-ra, que prazer.” Ele esclareceu que não era doutor, pois só estudara até o segundo ano de Direito, mas Getúlio retrucou dizendo: “Não, doutor é quem é douto em alguma coisa e o senhor é douto em jornalismo”. No entanto, o presi-dente, ao perceber que a intenção do encontro era uma entrevista, irritou-se e deu as costas ao repórter.

Com Jânio Quadros, a aversão inicial transformou-se em admiração e amizade. Silveira conviveu intimamen-te com o presidente, viajaram juntos e, sobretudo, be-beram juntos. No livro Viagem com o Presidente Eleito, Silveira conta os dias que passaram num navio, logo de-pois da eleição. Conta que o presidente às vezes bebia duas garrafas de uísque numa noite.

Com Juscelino, a convivência foi quase fraterna. Di-vidiram uma namorada, a Osmarina, que fora secretá-ria do então deputado e que um dia Silveira levou em casa, tarde da noite, a pedido de Juscelino. Anos depois, já presidente, ele perguntou: “Como vai a nossa Osma-rina?” “Nossa não, senhor presidente. Minha.”, respon-deu o jornalista.

Após o golpe de 1964, foi preso por duas vezes, duran-

te o governo Castelo Branco, por ser considerado comu-nista. Já no governo Médici, foi preso mais cinco vezes.

Em 2001, indignado com a candidatura de Zélia Gattai à vaga do marido, Jorge Amado, na Academia Brasilei-ra de Letras, não apenas se lançou candidato como a criticou pesadamente. Para ele, Zélia era “uma escrito-ra medíocre”, feita à custa do marido, e este só vendeu milhões de livros por suas ligações com o Partido Co-munista. Na disputa, porém, Zélia teve 32 votos contra 4 de Silveira, em uma das mais rápidas eleições da ABL: durou apenas 20 minutos.

Silveira é considerado hoje um dos expoentes no Bra-sil do “Novo Jornalismo”, movimento que surgiu nos Estados Unidos nos anos 60 – com nomes como Truman Capote, Gay Talese e Norman Mailer – propondo repor-tagens de fôlego escritas a partir de pesquisas extensas e com linguagem que mais se aproximava da literatu-ra do que do jornalismo – por isso o movimento é co-

nhecido também como “jornalismo literário”. Embora o gênero tenha se consolidado apenas na se-gunda metade do séc. XX, em muitas reportagens de Joel Silveira escritas na década de 40 já se nota a força da linguagem literá-ria na sua produção.

Publicou cerca de 40 li-vros. Foi agraciado com o prêmio Machado de As-sis, o mais importante da Academia Brasileira de

Letras, em 1998, pelo conjunto de sua obra. Foi ganha-dor dos prêmios Líbero Badaró, Prêmio Esso Especial, Prêmio Jabuti e o Golfinho de Ouro.

Em 2005, em uma de suas últimas entrevistas antes de falecer, falou sobre o orgulho que tinha de sua carreira profissional. “Eu nunca fiz do Jornalismo escada para subir, para a política, para me vender. Sempre fui um jornalista, ou melhor ainda, um repórter. Nunca traí minha profissão.”

Joel Silveira faleceu em 15 de agosto de 2007, em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro, em de-corrência de um câncer de próstata. Na época, o jorna-lista Geneton Moraes Neto, que fez várias entrevistas com ele para um documentário, escreveu: “Joel tinha inveja de um personagem de Vitor Hugo que, minutos antes de ser guilhotinado, dizia, resignado, que estava pronto para a execução,mas ‘gostaria de ver o resto’. Ou seja: o personagem gostaria de descrever a própria morte. Que palavras Joel usaria?”

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verno que controlava todos os meios de comunicação du-rante o Estado Novo. Através dele, o governo manipulava a opinião pública em favor de seus interesses políticos.

A ida dos correspondentes só se deu depois de ameaças de boicote por parte dos dirigentes dos principais veículos de comunicação da época: Roberto Marinho e Herbert Mo-ses, diretores de O Globo; Assis Chateaubriand e Austregési-lo de Athayde, dos Diários Associados; Paulo Bittencourt, do Correio da Manhã; e Horácio de Carvalho, do Diário Cario-ca. Foi uma guerra que durou quase dois meses, mas afinal os seis venceram. Diante do ultimato, endossado pelos di-retores dos jornais (“ou mandamos nossos próprios corres-pondentes ou não publicamos mais nada do DIP referente à FEB. Usaremos apenas o serviço de agências internacio-nais”), o governo se rendeu.

Após o processo de escolha, embarcaram para à Itália como correspondentes de guerra: Rubem Braga, do Diário Carioca; Rui Brandão, do Correio da Manhã; José Carlos Lei-te e Joel Silveira; dos Diários Associados; e Egídio Squeff, de O Globo. A Agência Nacional, órgão governamental, enviou: Thassilo Campos Mitke e Horácio Gusmão Sobrinho, como repórteres; Fernando Stamato, Sílvio da Fonseca e Adalber-to Cunha como cinegrafistas.

Em 22 de agosto de 1942, o presidente Getúlio Vargas declarou “estado

de beligerância” entre o Brasil e a Alemanha Nazista e a Itália

Fascista. Era a entrada oficial do país na Segunda Guerra Mundial.

Em edições extra no mesmo dia, os principais jornais informaram ao

público em letras garrafais: Guerra!

A declaração foi celebrada pela população, indignada pelo afundamento de navios brasileiros pelos submarinos alemães. Os ataques foram apenas o empurrão final que levou o Brasil a passar totalmente para os

Aliados. O Brasil já havia se alinhado com os EUA em janei-ro de 1942, após a Conferência do Rio de Janeiro, quando decidiu romper relações com o Eixo – formado por Itália, Alemanha e Japão. Desde então, o governo Getúlio Vargas havia concedido a permissão para que os Aliados usassem portos e bases aéreas no Brasil.

Após a declaração de guerra, a opinião pública passa a se mobilizar para o envio à Europa de uma força expedicio-nária. Por diversas razões de ordem política e operacional, somente quase dois anos depois, em 2 de julho de 1944, teve início o transporte rumo ao front do primeiro contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Ao esforço militar, juntou-se também o trabalho da im-prensa em registrar as ações das tropas brasileiras. Os cor-respondentes de guerra estavam previstos na organização da FEB, só que a seleção e a escolha inicial de quem iriam acompanhar as tropas não coube ao Exército e sim ao De-partamento de Imprensa e Propaganda (DIP) órgão do go-

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A imprensa vai à Guerra