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Abordagens dos cursos de Administração no Estado de SãoPaulo em relação ao ensino do Desenvolvimento Sustentável
RAISSA ALVARES DE MATOS MIRANDAUniversidade de São [email protected] SONIA VALLE WALTER BORGES DE OLIVEIRAUniversidade de São [email protected] CLAUDIO DE SOUZA MIRANDAUniversidade de São [email protected]
Abordagens dos cursos de Administração no Estado de São Paulo em relação ao ensino
do Desenvolvimento Sustentável
O trabalho tem como objetivo responder: “Como os cursos de bacharelado em administração
estão abordando os conteúdos sobre desenvolvimento sustentável (DS) em suas grades
curriculares?”, para tanto foi feito um estudo por meio de uma análise documental de grades
curriculares e ementas de 18 IES que possuem cursos de administração que obtiveram notas 4
e 5 no ENADE no ano de 2012 e/ou cursos signatários do PRME (Principles for Responsible
Management Education) do Estado de São Paulo, de um total de 44 Instituições de Ensino
Superior (IES). Os principais resultados foram: que há utilização inadequada dos termos
sustentabilidade e DS, alguns cursos possuem a inserção DS em disciplinas ligadas à
produção e operações, várias IES possuem uma disciplina intitulada “Tópicos Especiais,
emergentes ou avançados em Administração”, e trazem os assuntos de DS em suas ementas,
mesmo aquelas que possuem uma disciplina específica de DS. Em relação às práticas de
interdisciplinaridade, considerada importante para o DS, nota-se que o DS pode ser inserido
em diversas disciplinas, em algumas IES é possível verificar tal aplicação, porém como a
análise documental possui restrições para se afirmar veementemente esta condição, assim
sugere-se que outras investigações junto à coordenação de curso sejam feitas.
Palavras-chave: Ensino de Administração, Desenvolvimento Sustentável, Triple Bottom Line.
Sustainable Development Education approaches in the business management courses in
the State of São Paulo
This paper aims to answer: “How the bachelor´s business management courses are addressing
the contents about Sustainable Development (SD) in their curricula?” The research was based
in documental analysis of curricula and syllabus from 18 High Education Institutions (HEI)
that had good performance (4 and 5) at the ENADE test on 2012 and/or courses that are
PRME (Principles for Responsible Management Education) signatories in the state of São
Paulo, from a population of 44 HEIs. The main results were: there is inappropriate use of the
terms sustainability and SD, there is in some courses the SD contents in subjects related to
production and operations, there is in several HEIs a subject entitled “Special, Emergent or
Advanced Topics in management” that brings the SD matters in their syllabus, even if there is
a DS specific subject. Concerning the interdisciplinary practices that are significant to SD, it
is noted that it can be inserted in many subjects and that can be found in some HIEs, but as
there are some restrictions regarding documental analysis, it is difficult to strongly affirm this
situation, so it is recommended to investigate those practices within the courses coordination
and professors.
Key-words: Management education, Sustainable Development, Triple Bottom Line.
1 Introdução
A preocupação com o desenvolvimento sustentável deriva desde a revolução
industrial, pois a introdução de indústrias na sociedade com vistas à lucratividade e
desenvolvimento econômico acabou por intervir nas relações na sociedade, e por
consequência no meio ambiente. Os principais impactos causados por esta mudança foram a
depredação do meio ambiente, por meio de grande utilização de recursos naturais sem
preocupação com sua possível extinção, entre outros.
Desta forma, o termo desenvolvimento sustentável evolui com cada nova alteração que
as organizações exercem sobre o meio em que estão inseridas. Nos anos 1960, o conceito era
ligado à percepção que a natureza possuía recursos limitados; nos 1970, a interrupção da
produção e do desenvolvimento precisaria acontecer até que se conhecesse a limitação do
ambiente. Nos anos 1980, compreendia-se que poderia haver um desenvolvimento econômico
sem a degradação do meio ambiente e a partir dos anos 1990 em diante, entendeu-se que a
conservação do ambiente deve ser um trabalho de esforço conjunto entre a sociedade, o estado
e o mercado (SACHS, 1993; SACHS, 2007; BACHA, SANTOS, SCHAUM, 2010).
Mesmo assim, este termo possui inúmeras definições e interpretações (BONNETT,
2002), sendo que todas elas remetem ao conceito do Triple Botton Line (TBL) criado por John
Elkington em 1998, que trata do desenvolvimento econômico, responsabilidade social e
gestão ambiental (BACHA; SANTOS; SCHAUM, 2010), justamente esta visão que teve
início a partir dos anos 1990. Este modelo de tripé, envolvendo o conceito de
desenvolvimento sustentável, trouxe uma melhor visão para as organizações no sentido de
auxiliá-las a melhor gerir suas operações.
Neste sentido, as organizações desde então iniciaram um esforço em se enquadrar
neste conceito para conseguir a integração dos fatores sociais e ambientais com as
considerações econômicas (BACHA; SANTOS; SCHAUM, 2010; WU et al., 2010). Assim,
começaram a criar novas funções dentro das empresas que demandam profissionais
capacitados a compreender o significado de desenvolvimento sustentável.
Deste modo, um dos cursos com perfil para a formação de gestores com competências
para lidar com esse campo pode ser o curso de bacharelado em administração, como pode ser
visto nas Diretrizes Nacionais Curriculares do curso bacharelado em Administração
(DCNADM).
Assim como pode ser observado em trabalhos que relatam a história do curso de
administração no Brasil e no mundo (NICOLINI, 2003; COELHO, 2006; BERTERO, 2006;
PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012), a evolução do curso tem uma correlação positiva com a
necessidade do mercado, pois o mercado necessita de um profissional que esteja preparado
para lidar com as mudanças que ocorrem nas organizações e em seus ambientes (BAUER,
2008).
Para a formação deste profissional, no entanto, é necessário que o Desenvolvimento
Sustentável (DS) seja integrado à grade curricular e ao pensamento sistêmico, ou seja, sendo
abordado por toda a grade e não somente em pontos isolados, pois como Wu et al. (2010)
mostram em sua pesquisa com 642 instituições de ensino, os temas relacionados ao conceito
de desenvolvimento sustentável são diversos em cursos de gestão, incluindo pós-graduação,
tais como: ética, responsabilidade social corporativa, recursos naturais, energia, cultura e
diversidade cultural, entendimento intercultural, mudança climática, paz e segurança humana
e ecologia. Outros estudos também mostram a vastidão de termos implícitos no conceito do
TBL no DS como o de Glavic e Lukman, (2007); Bacha, Santos e Schaum (2010) e Quental,
Lourenço e Silva (2011).
Todavia, o que se observa é que muitas organizações preocupam-se com a gestão
ambiental, um dos pilares do desenvolvimento sustentável e assim preferem contratar
engenheiros (SCHOENHERR, 2012), porque eles possuem conhecimentos técnicos diferentes
dos administradores. Inclusive as pesquisas a respeito da educação para o desenvolvimento
sustentável é feita com engenheiros e estudantes da área de ecologia, conforme observado nos
trabalhos de Jones, Trier e Richards (2008); Hanning et al. (2012) e Mulder, Segalàs e Ferres-
Balas (2012).
Neste sentido, como há a criação de novas funções dentro das organizações, para
suprir as necessidades no que tange às práticas de desenvolvimento sustentável, sejam estas
práticas provenientes de pressões governamentais e da sociedade, ou iniciativas das empresas,
o gestor que estará nessa função precisa ter competências e habilidades para que estas práticas
sejam bem sucedidas.
O presente trabalho vem analisar como estes conhecimentos sobre o desenvolvimento
sustentável são abordados nas grades curriculares dos cursos de bacharelado no Brasil, mais
especificamente no Estado de São Paulo, pois é o estado que mais possui cursos de graduação
bacharelado em administração no país (INEP, 2014). Assim, a pesquisa baseou-se na análise
documental de matrizes curriculares e ementas das disciplinas para tentar responder à seguinte
pergunta de pesquisa: “Como os cursos de bacharelado em administração estão abordando os
conteúdos sobre desenvolvimento sustentável em suas grades curriculares?”
O principal objetivo desta pesquisa é verificar nas matrizes curriculares e nas ementas
das disciplinas, os conteúdos ensinados aos alunos de administração, levando em
consideração a necessidade dos mesmos em possuir competências e habilidades para lidar
com estes assuntos. As variáveis analisadas são: existência de uma disciplina específica para
DS, obrigatoriedade no caso de existência, conteúdos abordados, demais disciplinas não
específicas e seus respectivos conteúdos, quantidade de créditos, período oferecido e a
possibilidade de haver interdisciplinaridade (a integração e engajamento de educadores no
conjunto, na interação das disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade (LÜCK,
2002; POMBO, 2005)), multidisciplinaridade (conjunto de disciplinas a serem trabalhadas de
forma simultânea, sem explicitar as analogias que possam existir entre elas (BICALHO;
OLIVEIRA, 2011)) e transdisciplinaridade (uma nova apreensão da realidade executando
elementos que passam entre, além e por meio das disciplinas (SANTOS, 2008)).
.
2 Conceitos de Desenvolvimento Sustentável e os cursos de bacharelado em
administração
Desenvolvimento sustentável (DS) possui inúmeras definições, porém a que se
popularizou entre todos os meios foi o conceito da Comissão de Brundtland pelo relatório
“Our common future” – World Commission on Environment and Development
(BRUNDTLAND, 1987) sendo assim, define-se como o desenvolvimento que possa
satisfazer às necessidades da geração presente sem comprometer as necessidades das gerações
futuras. A partir da disseminação do termo DS, várias foram suas interpretações
(MEBRATU, 1998), dando margem a utilizações impróprias.
No entanto, tanto a palavra sustentabilidade como o desenvolvimento sustentável são
muitas vezes utilizada fora desta definição. A princípio, a palavra sustentabilidade tem sua
origem na ecologia e a integração da palavra desenvolvimento dá a conotação econômica ao
termo (LELÉ, 1991), e para outros autores o termo desenvolvimento retira a ideia essencial
ambiental do mesmo (COFFMAN; UMEMOTO, 2009).
Ainda existe muita discussão e dúvida sobre seu entendimento tanto na área acadêmica
como no mercado (COFFMAN; UMEMOTO, 2009; QUENTAL; LORENÇO; SILVA, 2011;
GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013; MASCARENHAS; SILVA, 2013a). Neste
sentido, para tentar minimizar sua compreensão, tanto nas organizações como na academia
que viam uma grande lacuna entre a teoria e a prática (COFFMAN; UMEMOTO, 2009;
SLAPER; HALL, 2011; MASCARENHAS; SILVA, 2013b), Elkington (1999) cria uma
estrutura que traduz de maneira mais detalhada o desenvolvimento sustentável, o Triple
Botton Line (TBL), voltado principalmente para guiar as práticas organizacionais e, logo, o
ensino de DS para a formação de profissionais de gestão.
O TBL ou tripé da sustentabilidade abrange três aspectos da sustentabilidade:
econômico, social e ambiental, pois Elkington (1999) considera que algumas alterações
globais acabam por modificar a busca da sustentabilidade nos negócios, destacando-se a
mudança dos valores humanos e sociais. Assim, ele criou uma maneira de se entender a
sustentabilidade, levando em consideração além da mensuração econômica, a social e a
ambiental.
Apesar de ser uma estrutura criada para a compreensão da mensuração da
sustentabilidade na prática, as três dimensões pensadas por Elkington (1999) auxiliam
também a área de ensino e pesquisa. A dimensão econômica contempla as questões ligadas à
obtenção de lucros, assim também contém conceitos sobre custos e despesas, ou seja, tem
relação direta com a parte financeira das organizações e para o DS implicam em contabilidade
ambiental, ecoeficiência e investimentos éticos (GLAVIC; LUKMAN, 2007), com a
finalidade de alcançar a sustentabilidade econômica pela alocação eficiente dos recursos e
pelas modificações das estruturas de orientação dos investimentos, trazendo ganhos para
todos interessados na organização, os stakeholders (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008;
LEITE; ARAUJO; MARTINS, 2011; SALPER; HALL, 2011).
A dimensão ambiental é a preocupação com os recursos naturais e como uma
organização pode causar o menor impacto negativo em seu processo produtivo, seja na
utilização dos recursos naturais, ou seja, pela emissão de resíduos da produção, como gases
poluentes (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008; SLAPER; HALL, 2011). Neste sentido,
termos relevantes abrangidos por esta dimensão são: recursos renováveis, minimização da
utilização de recursos, reciclagem, regeneração, recuperação e degradação, entre outros
(GLAVIC; LUKMAN, 2007).
A terceira dimensão é a social, que consiste na relação de aspectos sociais
relacionados às qualidades humanas. Desta forma, abrangendo o ambiente interno da empresa
e o externo (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008). Os principais termos relacionados a esta
dimensão que norteiam os princípios sociais são: responsabilidade social, saúde e segurança,
pagamento por poluir e transparência para os stakeholders (GLAVIC; LUKMAN, 2007).
Existem termos que relacionam todas as três dimensões, como ética, moral, meio
ambiente, cultura entre outros, pois a ideia das dimensões é justamente criar um conceito
transversal de DS, e não criar dimensões isoladas. Assim, também, é o objetivo do ensino
desta temática nos cursos de bacharelado em administração, pois o DS pode estar inserido em
todas, ou quase todas, as disciplinas dos cursos de administração, inclusive porque as
DCNADM para o curso aconselham que sejam abordados temas contemporâneos e o
Desenvolvimento Sustentável é um tema contemporâneo na área de administração, além de
ser transversal e interdisciplinar (JACOBI; RAUFFLET; ARRUDA, 2011; TELLES, 2011;
TELLES; GUEVARA, 2011; SILVA; CORRÊA, 2012; DEMAJOROVIC; SILVA, 2012;
GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013; MASCARENHAS; SILVA, 2013a;
BUARQUE et al., 2014).
A resolução nº 4 de 13 de julho de 2005 do Ministério da educação e Cultura que
institui as DCN de graduação, bacharelado em administração, traz vários pontos importantes
no que tange à formação do profissional de administração (BRASIL, 2005). No perfil
desejado do formado, enumera algumas qualidades que este precisa ter, dentre elas, a
flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de situações diversas,
presentes ou emergentes, nos vários segmentos do campo de atuação do administrador. Uma
destas situações presentes e emergentes é o desenvolvimento sustentável, por exemplo.
Assim, também esta mesma resolução em relação às competências e habilidades que o
curso deve possibilitar, existem oito, onde quatro podem de certa forma estar relacionadas ao
DS. São elas:
I - reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente,
introduzir modificações no processo produtivo, atuar preventivamente, transferir e
generalizar conhecimentos e exercer, em diferentes graus de complexidade, o
processo da tomada de decisão;
[...]
V - ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e administrativa,
vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da qualidade e das
implicações éticas do seu exercício profissional;
VI - desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da experiência
cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de atuação profissional, em
diferentes modelos organizacionais, revelando-se profissional adaptável;
VII - desenvolver capacidade para elaborar, implementar e consolidar projetos em
organizações; e [...] (BRASIL, 2005)
Dentre elas pode-se notar a utilização das palavras modificações, mudanças, tomada
de decisão, ética, adaptável, projetos. Todas elas relacionadas de alguma forma com o DS,
tomando-se por base as definições já mencionadas anteriormente. Ademais, no artigo 5º, esta
mesma resolução menciona os conteúdos que o curso de graduação em administração deve
contemplar, por meio de seus projetos pedagógicos e grade curricular, e ainda estes conteúdos
precisam possuir inter-relações entre a realidade nacional e internacional, que possam ser
aplicadas no âmbito das organizações, além disso, que atendam quatro formações e que sejam
interligados. O Quadro 1 mostra como estas formações e respectivos conteúdos podem
contemplar o ensino do Desenvolvimento Sustentável. QUADRO 1 – Relação de Conteúdos das DCNADM e o Desenvolvimento Sustentável
Formação Conteúdos Relação com o Desenvolvimento Sustentável
Básica
Relacionados com estudos antropológicos,
sociológicos, filosóficos, psicológicos, ético-
profissionais, políticos, comportamentais,
econômicos e contábeis, bem como os
relacionados com as tecnologias da
comunicação e da informação e das ciências
jurídicas.
- Contextos éticos, econômicos, jurídicos,
financeiros, relações entre pessoas.
- Conceito do Triple-Botton-line
- As disciplinas que contemplam estes
conteúdos podem relacioná-los às questões
ambientais.
- Criar interdisciplinaridade,
multidisciplinaridade e transdisciplinaridade
com o DS
Profissional
Relacionados com as áreas específicas,
envolvendo teorias da administração e das
organizações e a administração de recursos
humanos, mercado e marketing, materiais,
produção e logística, financeira e
orçamentária, sistemas de informações,
planejamento estratégico e serviços.
- Os conteúdos específicos podem em todas
suas áreas abordar os assuntos pertinentes ao
DS, pois todas as disciplinas ligadas aos
conteúdos contemplados por esta formação
estão diretamente relacionado ao
funcionamento das organizações que está
envolvida no ambiente.
Estudos
quantitativos e
suas tecnologias
Abrangendo pesquisa operacional, teoria dos
jogos, modelos matemáticos e estatísticos e
aplicação de tecnologias que contribuam
para a definição e utilização de estratégias e
procedimentos inerentes à administração.
- Aqui podem ser utilizados métodos
quantitativos que auxiliam a maximização de
resultado de projetos, pois uma das
preocupações das organizações atualmente
está ligada ao DS.
Complementar
Estudos opcionais de caráter transversal e
interdisciplinar para o enriquecimento do
perfil do formando.
- Pode haver disciplinas específicas que
contemplem as definições e conceitos ligados
ao DS, sempre levando em consideração a
questão interdisciplinar e transdisciplinar.
Fonte: Adaptado da Resolução nº 4 de 13 de julho de 2005 (BRASIL, 2005)
De acordo com o Quadro 1, pode-se notar que uma maneira interessante de abordar o
tema no curso de administração seria pela aplicação do TBL, pois como já comentado
anteriormente, foi criado para interligar a teoria à prática e também é possível criar métodos
de ensino interdisciplinares, por ser uma temática interdisciplinar por natureza e também
transversal.
Esta hipótese é colocada, pois existem vários estudos no Brasil que analisam a
inserção dos assuntos pertinentes ao DS nos cursos de graduação, bacharelado em
administração, dentre eles: Jacobi, Raufflet e Arruda (2011); Telles (2011); Godarth et al.
(2011); Telles e Guevara (2011); Telles (2011); Silva e Corrêa (2012); Demajorovic e Silva
(2012); Gonçalves-Dias, Herrera e Cruz (2013) e Mascarenhas e Silva (2013a). Todos eles
trazem os desafios e também alguns sucessos sobre a inserção do desenvolvimento
sustentável na formação do bacharel em administração, conforme pode ser visto no Quadro 2.
Entre estas dificuldades é como trazer ao ensino a abordagem do DS.
QUADRO 2 - Resultados dos Trabalhos da inserção do Desenvolvimento Sustentável no Brasil
Pontos positivos Pontos de Melhoria
- Alunos que cursaram a disciplina em caráter
obrigatória, foram sensibilizados e entenderam a
necessidade do conhecimento pelo administrador
(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013);;
- Preparar melhor os alunos para o mercado de
trabalho quando são introduzidos aos temas sobre DS;
- formação de um cidadão e não somente um
administrador (MASCARENHAS; SILVA, 2013a;
SILVA; CORRÊA, 2012; GODARTH et al., 2011);
- A coordenação entende a necessidade de se focar no
tema na formação do administrador
(MASCARENHAS; SILVA, 2013a; SILVA;
CORREA, 2012);
- IES que possuem em sua grade curricular o DS
abordam sobretudo o Triple Botton Line (TBL).
- Dificuldade de inserir “sustentabilidade” nos
conteúdos por causa da diversidade de conceitos
(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013;
MASCARENHAS; SILVA, 2013a);
- Pouca importância dada ao tema DS pelas
coordenações e docentes (GONÇALVES-DIAS;
HERRERA; CRUZ, 2013);
- Apenas visões econômicas do tema (GONÇALVES-
DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013; MASCARENHAS;
SILVA, 2013a);
- Falta de conexão entre teoria e prática
(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013);
- Necessidade de trabalhar o tema de forma
interdisciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar
(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013;
TELLES; GUEVARA, 2011; MASCARENHAS;
SILVA, 2013a; SILVA; CORRÊA, 2012; JACOBI;
RAUFFLET; ARRUDA, 2011; TELLES, 2011;
DEMAJOROVIC; SILVA, 2012);
- Resistência à interdisciplinaridade pelos professores
(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013;
MASCARENHAS; SILVA, 2013a; JACOBI;
RAUFFLET; ARRUDA, 2011; DEMAJOROVIC;
SILVA, 2012);
- Formação dos docentes é fraca neste tema
(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013;
MASCARENHAS; SILVA, 2013a; JACOBI;
RAUFFLET; ARRUDA, 2011);
- Ter uma disciplina específica apenas para deixar a
grade curricular na “moda” (GONÇALVES-DIAS;
HERRERA; CRUZ, 2013);
- Entender as práticas nas organizações
(MASCARENHAS; SILVA, 2013a).
- Ensino do TBL ainda muito incipiente nas grades
curriculares (GODARTH et al., 2011)
Fonte: Elaborado pelos autores
A partir destes estudos, nota-se que ainda a inserção do tema DS é difícil nos cursos de
administração, mesmo que alguns trabalhos aqui citados encontraram boas práticas,
mencionadas no Quadro 2 como pontos positivos, de IES em relação ao tema, como o estudo
de Silva e Corrêa (2012), por exemplo. Os demais estudos mostram claramente a necessidade
de se exercer a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade na
aplicação do DS. Desta forma, fica evidente que o assunto precisaria ser tratado em todas as
disciplinas do curso relacionadas à gestão, por meio de abordagens diferentes e ainda
complementares, e a melhor aplicação do TBL.
No entanto, nota-se que há muita dificuldade em implantar o tema às grades
curriculares, por conta de aspectos importantes: falta de preparação adequada dos docentes, e
mesmo a falta de interesse dos mesmos, por não entender a temática e principalmente
entender como as práticas ocorrem nas organizações. Estes fatores culminam por desmotivar
o aluno em aprender sobre o assunto.
Deste modo, uma das formas de entender como os assuntos sobre DS são abordados
nos cursos de administração no Brasil é analisando matrizes curriculares e ementas destas
matrizes, porém não a única. Neste trabalho é justamente esta análise que é realizada.
3 Metodologia
A presente pesquisa consiste em analisar grades curriculares e ementas de Cursos de
graduação bacharelado em administração no Estado de São Paulo, sobre como a coordenação
do curso e seu colegiado entendem os assuntos sobre Desenvolvimento Sustentável e como
estes são integrados aos conteúdos do curso.
Os cursos escolhidos para análise são os cursos com conceitos no Exame Nacional de
Desempenho dos Estudantes da Educação Superior (ENADE) 4 e 5 no ano de 2012.A razão
da escolha deste objeto de estudo é de que como estas IES obtiveram notas consideradas de
bom desempenho, significa que elas estão seguindo as orientações sugeridas pelo MEC e,
portanto, a resolução nº 4 (BRASIL, 2005), que cita o DS de forma implícita por meio das
habilidades e competências que o formado precisa ter e ainda dentro dos conteúdos nas
formações sugeridas por ela. Além disso, a avaliação possui 18,54% de perguntas
relacionadas ao DS no ano de 2012.
Também são analisados três cursos de administração signatários do Principles for
Responsible Management Education (PRME), lançado em 2007 no Global Compact Leaders
Summit da Organização das Nações Unidas, em Genebra, sendo o primeiro relacionamento
organizado entre as Nações Unidas e escolas de negócios. Um deles também consta no grupo
do ENADE, porém dois deles são apenas signatários do PRME. Esta escolha está na proposta
de ser um signatário, pois os signatários destes princípios se comprometem em aplicar e
implementar princípios sobre o DS em seu curso, portanto, entende-se que estes cursos
possuem grades curriculares e ementas que contemplam o DS.
Todos os cursos analisados encontram-se em IES situadas em cidades do estado de
São Paulo, pois é o estado que mais possui cursos de graduação bacharelado em
administração no país e ainda possui a maioria das notas 4 e 5 no Enade, aproximadamente
22% do total de cursos com estas notas (INEP,2014). Em relação aos signatários do PRME,
escolheu-se também cursos localizados no Estado de São Paulo.
Como esta pesquisa visa entender como os conceitos, definições e assuntos sobre o DS
são abordados em grades curriculares e ementas dos cursos bacharelado em administração,
pode-se caracterizar esta pesquisa como exploratória, pois visa desenvolver, esclarecer
conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses
pesquisáveis para estudos posteriores. As pesquisas exploratórias são realizadas
especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil formular sobre
ele hipóteses precisas e operacionalizáveis (GIL, 1999).
No que tange ao tipo de pesquisa quanto à natureza do método, esta pesquisa é
qualitativa, pois a estratégia principal de pesquisa é a análise documental que consiste na
utilização de documentos como fonte de dados, informações evidências (MARTINS;
THEÓPHILO, 2009). Assim, a análise qualitativa é feita em torno dos documentos retirados
de páginas na Internet ou por meio de envio da coordenação do curso, quando não disponível,
por meio de parâmetros pré-estabelecidos para análise, mencionados nas análises dos
resultados.
Assim, foram detectadas 44 IES, das quais 13 possuíam as grades e ementas
disponíveis na Internet, e 31 houve a necessidade de se requerer os documentos para os
coordenadores, porém apenas cinco coordenadores enviaram a documentação adequada para
análise, além desses, dois enviaram, porém os documentos estavam incompletos e não
puderam ser analisados. De tal modo que, a pesquisa foi feita com 18 IES, melhor detalhadas
no item 4.
4 Apresentação e Análise dos Resultados
Em busca à resposta para a questão de pesquisa: “Como os cursos de bacharelado em
administração estão abordando os conteúdos sobre desenvolvimento sustentável em suas
grades curriculares?” foi realizado um estudo conforme os quesitos mencionados na
metodologia. Portanto, foram encontrados 66 cursos de bacharelado em administração de 44
Instituições de Ensino Superior (IES). A quantidade de IES é inferior ao de cursos porque
alguns deles são de unidades, campus ou acreditações das mesmas, assim possuem o mesmo
ementário e matriz curricular, com pequenas alterações referentes a questões regionais. Desta
forma, o estudo foi feito em 36 cursos de 18 IES, privadas e públicas.
Os documentos analisados foram grades curriculares e ementas dos 36 cursos, porém a
análise mais aprofundada deu-se em 18 IES, pelas razões já expostas acima. Os parâmetros
para análise das grades foram: existência de uma disciplina específica para DS,
obrigatoriedade no caso de existência, conteúdos abordados, demais disciplinas não
específicas e seus respectivos conteúdos, quantidade de créditos, período oferecido e a
possibilidade de haver interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade.
Como demonstrado no Quadro 3, em seis IES, que são privadas, não foi detectada
nenhuma disciplina específica sobre DS. No entanto, quatro (C, D, E e F) trazem disciplinas
tais como Tópicos Especiais ou Emergentes em sua grade e suas ementas mencionam
conteúdos ligados ao DS: responsabilidade social e meio ambiente e as organizações. Por
outro lado, duas (A e B) não possuem nenhuma disciplina que trate sobre o assunto, mesmo
que indiretamente.
Em relação aos cursos que possuem pelo menos uma disciplina específica, foram
encontrados 20, porém de seis IES, sendo duas públicas (I e K) e as demais privadas. Os
títulos das disciplinas encontradas são: “Gestão Ambiental”, “Responsabilidade Social” e
“Pensamento crítico e ético”. De maneira geral, os conteúdos abordados são: sistemas de
gestão ambiental (ISO pertinentes), auditoria ambiental (ISO pertinentes), ética empresarial,
desenvolvimento sustentável, investimento social, relacionamento com stakeholders, terceiro
setor, planejamento estratégico sustentável (ambiental, social e econômico), sustentabilidade e
responsabilidade social.
A maioria das disciplinas são ministradas no sétimo semestre do curso, apenas uma
instituição ministra uma das disciplinas no primeiro semestre, as cargas horárias são em
quatro IES (G,H,I,K) de quatro créditos e nas demais (J e L) são de dois créditos. Em todas as
IES estas disciplinas são obrigatórias.
Nota-se que duas IES (G e I) focam, sobretudo, em aspectos ambientais do DS, porém
em outras disciplinas do curso são abordados assuntos econômicos e sociais como mostrados
no conceito de TBL. Em uma das IES (I) o foco principal é agronegócios, e em todas as
disciplinas sobre este assunto pontos importantes do TBL são mencionados. Na outra IES (G),
existe uma disciplina de “Tópicos Especiais em Administração” e ela contempla pontos mais
relevantes sobre o TBL, colocando a sustentabilidade como ponto principal dos negócios.
QUADRO 3 – Resumo dos Dados dos Parâmetros das IES pesquisadas
IES
Pública
ou
Privada
Disciplina
Específica
Quantidade
de
disciplinas
Obrigatória
ou Optativa
Semestre de
oferecimento
Carga
em
créditos
Disciplina
com
abordagem
Indireta
PRME
A Privada Não - - - - Não Não
B Privada Não - - - - Não Não
C Privada Não - - - - Sim Não
D Privada Não - - - - Sim Não
E Privada Não - - - - Sim Não
F Privada Não - - - - Sim Não
G Privada Sim 1 Obrigatória 7º 4 Sim Não
H Privada Sim 1 Obrigatória 1º 4 Não Não
I Pública Sim 1 Obrigatória 7º 4 Sim Não
J Privada Sim 1 Obrigatória 7º 2 Sim Não
K Pública Sim 1 Obrigatória 7º 4 Sim Não
L Privada Sim 1 Obrigatória 8º 2 Sim Não
M Pública Sim 2 Obrigatória 2º 2
Sim Sim Obrigatória 9º 2
N Privada Sim 2 Obrigatória 4º 4
Sim Sim Optativa 6º 2
O Privada Sim 2
Optativa A partir do
6º 4
Não Não
Optativa A partir do
6º 4
P Pública Sim 2 Obrigatória 2º 2
Sim Não Obrigatória 7º 4
Q Privada Sim 2 Obrigatória 7º 2
Sim Não Obrigatória 8º 2
R Privada Sim 6 Optativas A partir do
5º * Não Sim
Fonte: Elaborado pelos autores.
Nas IES H, J e L o foco das disciplinas é em responsabilidade social e ética, a IES J
possui disciplinas que abordam governança corporativa (relações com stakeholders) e ainda
disciplinas interdisciplinares, que integram todos os conteúdos contidos nas DCNADM com
aqueles do DS. A IES H, a que oferece a disciplina no primeiro semestre, não possui outra
disciplina que trate explicitamente de DS, porém na bibliografia desta disciplina há obras que
tratam do TBL.
Nos documentos analisados das IES (G, H, I, J, K e L), nota-se a tentativa de criar
métodos interdisciplinares para lidar com o tema, além de também realizar a abordagem
transdisciplinar.
Nas IES M, N, O, P e Q, duas públicas e três privadas, há pelo menos duas disciplinas
específicas em relação ao DS. A IES O tem ambas as disciplinas como optativas, de quatro
créditos, neste caso, apesar de serem duas disciplinas, pode-se correr o risco de não serem
oferecidas, pois o aluno poderá cursá-las, caso oferecidas, a partir do sexto semestre até o
final do curso.
As IES M, P e Q apresentam as duas disciplinas como obrigatórias, contudo, alguma
delas tem um somatório de quatro créditos e outras de seis, conforme consta no Quadro 3. O
período de curso das disciplinas oscila, sendo algumas no início do curso e outras ao final. A
IES N apresenta em sua matriz uma disciplina obrigatória e uma optativa porém, as cargas são
diferentes como mostrado no Quadro 3.
Dentre as disciplinas obrigatórias destas IES com oferecimento de duas disciplinas
específicas, os títulos encontrados foram: “Gestão da Sustentabilidade e Terceiro Setor”,
“Ética e Desenvolvimento Sustentável”, “Administração e Responsabilidade Socioambiental”,
“Sustentabilidade nas organizações”, “Meio Ambiente e Sustentabilidade”, “Sustentabilidade
Empresarial”, “Organização Industrial e economia ambiental”, “Sustentabilidade na Cadeia
Produtiva” e “Responsabilidade Social nas Organizações”.
Os principais conteúdos abordados nestas disciplinas são: terceiro setor, gestão
ambiental, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, aspectos econômicos relacionados ao
meio ambiente, cidadania, direito ambiental, custos ambientais, sistema de gestão ambiental
(ISO pertinentes), auditoria ambiental, indicadores ambientais, sustentabilidade, agenda 21,
Triple Bottom Line (TBL), gestão de recursos ambientais (hídricos, sólidos, qualidade do ar),
ecoeficiência, Estudo do Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Ambiental (RIMA),
Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), políticas ambientais, gestão ambiental
empresarial, produção sustentável, logística reversa, Global Reporting Initiative (GRI), ética e
o desenvolvimento sustentável.
No caso das disciplinas optativas, os títulos localizados foram: Responsabilidade
Socioambiental, Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Os conteúdos são os
mesmos encontrados nas obrigatórias.
Apesar de estas instituições possuírem duas disciplinas que tratam especificamente do
DS, uma disciplina em conjunto com a outra abordam os mesmos conteúdos de IES que
possuem apenas uma disciplina, situação que pode prejudicar a abordagem de DS, nestas IES
e a questão de disciplinas eletivas, pois elas não são oferecidas sempre. Dessa forma, o aluno
pode não ter a formação para o DS desejável.
Outro ponto relevante da análise deste conjunto, é que a maioria das IES traz estas
disciplinas do meio ao final do curso, entre o sexto e oitavo semestre, em cursos de quatro
anos, e sétimo e nono semestre em cursos de cinco anos. Outro ponto importante, é que dois
cursos de duas destas IES são signatários do PRME, e para ser signatário, é preciso seguir seis
princípios (PRME, 2014). Porém, para o objetivo desta análise, apenas três deles têm relação
direta, sendo eles:
Razão: desenvolver as capacidades dos alunos para serem futuros geradores de
valor sustentável para os negócios e a sociedade em geral e trabalhar para uma
economia global inclusiva e sustentável.
Valores: incorporação nas atividades acadêmicas e currículos os valores da
responsabilidade social global como retratado em iniciativas internacionais,
como o Pacto Global das Nações Unidas.
Diálogo: facilitação e diálogo entre educadores, estudantes, empresas, governo,
consumidores, mídia, organizações da sociedade civil e outros grupos
interessados e as partes interessadas sobre questões críticas relacionadas à
responsabilidade social global e sustentabilidade.
Neste sentido, as duas IES (M e N) precisam ter disciplinas na graduação que
consigam sensibilizar seus alunos e transformar estes gestores, não somente esta ação, mas
esta é uma ação básica, para um curso signatário do PRME. Assim, estes dois cursos possuem
disciplinas, uma nos primeiros dois anos, entre o segundo e quarto semestre, e outra, apesar de
em uma delas a segunda disciplina ser optativa, entre o sexto e nono semestre (curso de cinco
anos). Nota-se que o intuito é deixar o aluno ciente que o DS é parte integrante dos conteúdos
desenvolvidos durante todo o curso.
De tal modo, a IES R que possui seu curso signatário do PRME, não possui apenas
disciplinas específicas em DS, mas uma área de concentração, com disciplinas optativas* e
conteúdos sobre: Inovação na Criação de Valor, Sustentabilidade Global, Desenvolvimento
Local, Finanças Sustentáveis, Política e Economia Ambiental e Consumo Sustentável. Desta
forma, nota-se o comprometimento da IES para efetivar a inserção de sustentabilidade na
formação e nas ações do curso de administração; por isso, há maior desenvolvimento nesta
área, e não apenas uma disciplina, ou um pouco sobre o DS, em cada uma delas. O aluno
precisa optar por esta área de concentração e precisa fazer no mínimo 12 créditos nesta área
de concentração, dos 32 créditos eletivos do curso.
Dentre todas as IES pesquisadas, notam-se alguns pontos importantes de análise:
uso inadequado do termo sustentabilidade: pois muitas IES ainda não têm um
foco sobre o que é o termo e colocam em suas disciplinas todos os assuntos
que estão mais em evidência, como terceiro setor, meio ambiente entre outros,
acreditando que a sustentabilidade esteja apenas ligada à área ambiental, e
mesmo utilizando o DS como sinônimo de gestão ambiental;
preocupação de alguns cursos ao inserir alguns pontos de DS em disciplinas
que abordam sistemas produtivos, como gestão de operações, gestão da cadeia
produtiva, sobretudo aqueles que abordam o ciclo de vida do produto;
várias IES pesquisadas possuem uma disciplina intitulada Tópicos Especiais,
emergentes ou avançados em Administração, e trazem os assuntos de DS em
suas ementas, mesmo aquelas que possuem uma disciplina específica de DS.
Estas IES podem por vezes, executando estas ações, considerar o DS algo
importante, porém momentâneo, sem a necessidade de inserir diretamente nas
disciplinas relevantes do curso, para tomada de decisão;
no que tange à interdisciplinaridade, problema ressaltado por vários trabalhos
anteriores, o conteúdo de DS poderia ser inserido em diversas disciplinas ao
longo do curso e também poderia ser tratado como um conteúdo passível de
transdisciplinaridade. Deste modo, poderia ser inserido em disciplinas tais
como: teoria geral de administração, ética, filosofia, sociologia,
microeconomia, macroeconomia, produção, logística, empreendedorismo,
estratégia (planejamento), projetos, entre outras, e ser trabalhado
conjuntamente utilizando estratégias de ensino coerentes com os objetivos das
disciplinas. Em algumas IES de ensino por meio da ementa é possível
interpretar esta aplicação.
Alguns pontos de análise ficaram comprometidos por conta das limitações impostas
pela estratégia de pesquisa aplicada da análise documental, sendo eles:
não conhecer as estratégias de ensino e os métodos utilizados, por não ter
acesso ao plano de ensino completo, tendo apenas informações contidas em
ementas e grades curriculares; assim existe uma dificuldade de se analisar as
práticas interdisciplinares, transdisciplinares e multidisciplinares; e
análise de documentos, muitas vezes não retratam a realidade, pois nem
sempre o que está descrito em documentos pode ser de fato exercido.
Desta forma, pode-se inferir por intermédio dos documentos analisados, que as IES M
e R, ambas signatárias do PRME são em parte referência na relação de como abordar o DS na
graduação de Administração. Isso porque o tema deveria ser considerado parte significativa
em todas as áreas de atuação da administração e considerados em todos os conteúdos de
formação abordados pelas DCNs, não somente como uma formação complementar. Os
gestores são tomadores de decisão e para tanto precisariam entender os impactos causados nas
três dimensões do TBL. Cabe porém ressaltar que no caso da IES R como todas as disciplinas
oferecidas são optativas, pode seu aluno sair sem qualquer formação direta no DS.
5 Considerações Finais
O objetivo proposto neste trabalho é verificar nas matrizes curriculares e nas ementas
das disciplinas, os conteúdos ensinados aos alunos de administração de cursos de bacharelado
em administração no estado de São Paulo, levando em consideração a necessidade dos
mesmos em possuir competências e habilidades para lidar com estes assuntos.
Os resultados obtidos por meio da análise documental levam a entender que muitos
cursos ainda inserem as disciplinas de DS para “estarem na moda”, conforme os estudos sobre
alguns cursos no Brasil, e também se pode verificar que existe dificuldade no entendimento de
DS.
As IES signatárias do PRME possuem o DS mais organizado e desenvolvido em seus
conteúdos que as demais, por motivos claros.
Para melhorar as limitações encontradas neste trabalho, sugere-se que outros estudos
possam ser feitos partindo-se deste, com investigação de maior profundidade com os
coordenadores dos cursos e professores que ministram suas aulas, para realmente averiguar os
resultados obtidos neste trabalho.
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