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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Introdução

Este atlas é parte integrante de um Plano de Acção Rural

do Vale do Rio Ceira, que se assume como um projecto de

desenvolvimento rural ambicioso por constituir um processo que

prevê a intervenção e o comprometimento político de longo

prazo de autarquias e outras organizações promotoras de

desenvolvimento.

O Atlas da Paisagem surge como um meio de divulgação

das potencialidades naturais e paisagísticas do território.

Pretende-se que seja apelativo, com uma função educativa,

fomentador do conhecimento e do consequente aumento da

valorização da paisagem em todas as suas componentes

(Biofísica e ecológica; social, cultural e económica; percepcional,

estética e emocional). De forma a atingir estes objectivos

recorre-se à ilustração por meio de mapas cartográficos, cuja

leitura de fácil compreensão facilita e incentiva o estudo da

paisagem.

O objectivo último é fornecer os argumentos condutores

para um empenhamento na preservação do património. Atingir

esta meta implica tomar consciência de que o conceito de

paisagem é complexo e que a sua compreensão passa pelo

conhecimento de factores como a litologia, a hidrografia, o clima,

a fauna e a flora, o relevo, a estrutura ecológica e expressões da

actividade humana.

Figura1: Roda de um moinho de água (Azenha) utilizado para o fabrico do azeite.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Já desde tempos remotos que aos rios se atribuem

valores inestimáveis, não só por permitirem o desenvolvimento

de actividades económicas, mas também por disponibilizarem

benefícios com reconhecido valor para a sociedade (Figura1).

Contudo, a sua gestão tem-se centrado quase exclusivamente no

recurso à exploração intensiva dos recursos do rio que são

utilizados para várias actividades. Esperamos com este atlas dar

o nosso contributo para que valores e funções não mensuráveis

sejam contabilizados aquando da gestão dos recursos hídricos.

A par com as potencialidades do rio, e do respectivo

corredor fluvial, o Vale do Rio Ceira apresenta-se com elevado

potencial paisagístico também pelos acontecimentos

geomorfológicos que aí têm lugar, como são os Penedos de Góis

e de Fajão, e pelas Serras da Lousã e do Açor, cuja

biodiversidade foi o mote para classificar algumas das suas áreas

na Rede Natura 2000 (ver Ordenamento do Território).

Figura 2: Afloramentos rochosos ao largo do Rio Ceira.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Enquadramento Geográfico

A área de intervenção deste projecto compreende

freguesias de média montanha que fazem fronteira com o Rio

Ceira, pertencendo a Sub-Bacia Hidrográfica desta linha de água

à Bacia Hidrográfica do Mondego. Este território, inserido nas

Figura3: Âmbito territorial do Projecto de Desenvolvimento Rural do Vale do Ceira.

Figura4: Concelhos e freguesias abrangidos.

Regiões da Beira Serra e da Beira Alta e com uma área de

cerca de 34 km2, abrange os Concelhos de Arganil, Góis, Lousã,

Miranda do Corvo e Pampilhosa de Serra, todos situados na faixa

mais interior do Distrito de Coimbra (figuras3 e 4).

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Principais características orográficas da área alvo

O declive e a altitude são dos factores mais importantes

aquando da colonização de uma região. À medida que o declive

aumenta, o risco de erosão torna-se inevitável, dificultando

qualquer tipo de movimento de terra. Para os concelhos

abrangidos, verifica-se uma percentagem muito elevada de

declives superiores a 16% Percentagem esta que se assume

como o limiar a partir do qual surgem problemas (gráfico1 e

figura5).

Gráfico1: Área, em Km2, ocupada por cada intervalo de declives, em cada um dos

concelhos.

Figura5: Carta de declives da região do Vale do Ceira.

Os concelhos de Arganil e Pampilhosa da Serra, inseridos

no complexo orográfico da Serra do Açor, são os concelhos com

maior altitude. Caracterizam-se por uma orografia muito

acidentada, comprovada pelos numerosos afloramentos antigos da

Meseta Ibérica que rodeiam a Vila de Pampilhosa da Serra,

designados por Penedos de Fajão ou Penedos de Penalva.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Mais a Este, a uma altitude de 1100/1200 surge o concelho de

Góis, sendo esta diminuição de altitude o próprio

desenvolvimento das linhas de altura da Serra do Açor que se

estendem para SW, até se incluirem nas do complexo da Lousã

(gráfico2 e figura7).

Gráfico2: Valor de altitude do ponto mais elevado nos concelhos abrangidos.

Por sua vez a Serra da Lousã, mais a SW, exibe morfologia

xistenta que origina solos escassos, aflorando, muitas vezes,

rochas alteradas. Trata-se de um relevo bastante recortado com

rede de drenagem densa. Os vales têm vertentes muito abertas,

convexas, como consequência da acção modeladora de

escorrência (figura6).

Figura6: Região de alta altitude com declives acentuados, na Serra da Lousã, onde a acção

modeladora de escorrência da água provocou o afloramento de rochas.

A orografia acentuada é pois a responsável pela grande

variedade de Bacias Hidrográficas, ainda que elementares, como é

o caso da zona de Arganil onde se cruzam as Bacias Hidrográficas

do Mondego, do Alva e do Ceira.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Esta região assume-se assim como um espaço de

diversidade geográfica e cultural, simbolizadas por exemplo nas

diferenças da arquitectura tradicional.

Figura7: Carta de Altitudes num modelo a 3 dimensões.

Pontos privilegiados para a observação e interpretação da

paisagem

A região do Vale do Ceira, na qual descem as águas cristalinas

do Rio Ceira e dos seus efluentes, é extremamente rica a nível

paisagístico, nomeadamente ao nível da orografia. As Serras do

Açor e da Lousã são os ex-libris desta região.

Existem, no entanto, outros locais menos conhecidos de rara

beleza, alguns dos quais estão referenciados na Carta de Lazer

da Beira Serra, no Guia de Percursos da Serra do Açor e

Vale do Ceira, no Guia da Rede de Percursos da Serra da

Lousã e no Guia de Percursos da Beira Litoral. Assim

podemos salientar:

Miranda do Corvo

Mosteiro de Semide e Sr. da Serra

Indicado ao turismo religioso.

Lousã

Na Sra da Pegada (Foz de Arouce)

Local de Romarias com vista privilegiada sobre as

extensas vinhas da Quinta do Conde.

Monumento às Evasões Francesas (Foz de Arouce)

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Aldeias da Serra da Lousã

Aldeias Serranas construídas tipicamente em xisto

(figura8).

Fonte: DueCeira

Figura8: Aldeia Serrana na Serra da Lousã.

Serra de Sacões

Contígua à Serra da Lousã, é ainda um dos poucos

redutos de vegetação autóctone.

Fragas da Ribeira das Quelhas

Na margem da Ribeira os granitos afloram de um solo

quase inexistente, mas onde subsistem carvalhos,

azevinhos e alguns tufos de gilbardeira. A vegetação

ripícola apresenta uma diversidade e uma conservação

já muito pouco comuns.

Castelo do Trevim

Onde a vista alcança múltiplos cumes e povoações.

Desde S. Pedro do Açor e Cebola até à Serra da Lousã,

em dias límpidos.

Góis

Vila de Góis e Monte Rabadão

Para observação de casas antigas, linhas de água e as

antigas instalações mineiras.

Cadafaz

Predominância de povoamentos florestais tradicionais e

também pela presença, junto às margens do rio Ceira,

de algumas azenhas e do barroco da cabrita.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Vila Nova do Ceira

A mais valia de um percurso através desta freguesia é

o Cerro da Candosa, um abismo quartzítico com

elevado valor paisagístico.

O Rio Ceira e as Cristas Quartzíticas

A Serra do Vidual, a Barragem de St. Luzia e os

Penedos de Fajão são imponentes acidentes

geológicos na paisagem, cujos cumes e encostas

circundantes, apesar de se encontrarem despidas de

vegetação, ainda dão abrigo a algumas espécies raras

da nossa avifauna, como o falcão-peregrino e o melro-

das-rochas.

Cabreira

Num contexto histórico e paisagístico a Cabreira

destaca-se das restantes aldeias pelo estado de

conservação do moinho, do lagar de varas e das

tulhas que aí subsistem (figura9).

Figura9: Tulhas e Azenha no lugar da Cabreira na Freguesia de Cadafaz.

Arganil

Selada das Eiras

Numa extensão de cerca de 7 Km, é possível observar

os Penedos de Fajão, o Parque Eólico da Serra Amarela,

bem como do lado oposto todo o vale do Alva com a

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Vila de Arganil em pano de fundo. Em frente é

possível observar o Cabeço do Monte Redondo.

Pelas cumeadas da Serra do Açor

A Fraga da Pena, pelas suas quedas de água; a Mata

da Margaraça, pela abundância e diversidade de

espécies da nossa flora nativa e a aldeia do Piodão,

pelo conjunto de construções que mantêm a traça

tipíca, são os ex-libris desta serra (figura10).

Figura10: Cumeadas da Serra do Açor.

Celavisa

Aconselha-se uma visita à aldeia do Caratão onde ainda

persistem lagares e moinhos de outrora.

Pampilhosa da Serra

Poço da cesta e lugar do Pejadouro (Cepos e Teixeira)

Locais de inarrável beleza pela peculiar relação do rio

com os acidentes morfológicos e com a vegetação

ripícola.

Penedos de Fajão

São o grande mote para um percurso de pouco mais de

4Km, que nos conduz aos dois pontos mais altos das

cristas quatzíticas: o marco geodésico da Mata e o alto

do Lombo do Sobrado.

Barragem do Alto Ceira

Potencial paisagístico do local deve-se essencialmente

às suas características de alto relevo, assim como aos

diversos afloramentos que aí têm lugar.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Figura11: Cumeadas do Maciço Ibérico observáveis na Barragem do Alto Ceira.

Clima

O clima da Bacia Hidrográfica do Mondego é mesotérmico

húmido, com estação seca no verão, o qual é moderadamente

quente mas extenso. Este tipo climático é caracteristicamente

mediterrânico, com influência atlântica.

A precipitação média anual ponderada sobre a bacia durante

o mês de Dezembro, o mês mais chuvoso, é da ordem dos 160

mm. Os meses mais secos são Julho e Agosto, com precipitações

médias mensais da ordem dos 15 mm e ocorrendo, por vezes,

vários meses sem precipitação (figura12) Embora , na bacia do

Mondego, em média, ocorra uma moderada deficiência de água no

Verão e moderado excesso de água no Inverno, o clima torna-se

progressivamente mais húmido com o aumento de altitude para o

interior da bacia, onde o clima é super-húmido com uma pequena

deficiência de água. Além disso, em altitude o clima é

pontualmente do tipo microtérmico.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Figura12: Carta de precipitação média anual na sub-bacia hidrográfica do Rio Ceira.

Tal como com os valores de precipitação, verifica-se uma

progressão da temperatura média diária com a altitude,

correspondendo os valores mais baixos ao cimo das Serras da

Lousã e do Açor, assim como aos pontos mais altos das cristas

quartzíticas perpendiculares ao maciço (figura13).

Figura 13: Carta de temperatura média anual na sub-bacia hidrográfica do Rio Ceira.

Pelo contrário, a humidade relativa do ar aumenta com o

aumento da cota de altitude, embora os valores medidos

raramente se afastem dos 70%-75% (Figura14).

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Estes três factores climáticos têm grande influência na

diversificação das comunidades biológicas. Um aumento da

humidade impede grandes amplitudes de temperatura, factor

este que é particularmente importante a grandes altitudes onde

o regime de ventos e de exposição ao sol são quase sempre mais

rigorosos, e cuja intensidade é acentuada pela vegetação muito

frequentemente em estados iniciais.

Figura14: Carta da Humidade média relativa do ar na sub-bacia hidrográfica do Rio Ceira.

A progressão da temperatura e da pluviosidade com a

altitude conduzem a uma alteração gradual da fauna e da flora de

acordo com as necessidades ecológicas. Valores anormais de

temperatura afectarão a actividade e ciclos de vida das espécies

que aí habitam. Por seu turno, um aumento da precipitação

provoca um aumento da capacidade hídrica da região, que além

de condicionar o tipo de espécies, será responsável por um maior

escoamento (figura11) e maiores caudais e consequentemente por

um aumento da corrente das linhas de água. Estes parâmetros

são medidos por uma rede de monitorização hidrométrica

(figura10) e encontram-se disponibilizados em anexo os valores

para cada estação do Vale do Ceira, juntamente como os valores

médios de precipitação.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Figura11: Carta de Escoamento médio mensal na sub-bacia hidrográfica do Rio Ceira.

Todos os factores mencionados, em associação com factores

ecológicos, representam um papel importante na definição do

estado dos ecossistemas e influenciam o tipo de comunidades

que se estabelecem em determinada zona.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Caracterização Geológica

O Vale do Ceira localiza-se entre as Serras do Açor e da

Lousã. Esta última (1204m), em ligação com a Serra do Açor

(1012 m) e a Serra da Estrela (1993 m) é o princípio do mais

imponente dos alinhamentos montanhosos de Portugal, sendo

Figura15: Carta geológica.

Figura16: Porção do extenso afloramento conhecido com Penedos Fajão ou Penedos de

Penalva.

fundamentalmente xistosa e com origem no pré-câmbrico e

portanto geologicamente muito antiga (figura15). O espaço

ocupado pelas Serras do Açor e Lousã faz parte da vasta

cordilheira que atravessa a meseta ibérica no sentido nordeste-

sudoeste dividindo-a sensivelmente a meio.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Figura17: Carta litológica.

Do ponto de vista geotectónico, esta zona pertence ao

Complexo Xisto-Grauváquico que é atravessado

discordantemente por várias Cristas Quartzíticas, das quais os

Penedos de Góis e de Fajão são um exemplo.

A história geológica desta região só pode ser reconstituída

considerando dois ciclos orogénicos: o ciclo Hercínio, que formou

uma primeira cadeia montanhosa, a cadeia Hercínica, cujo

testemunho se encontra bem visível nas cristas quartzíticas que

atravessam toda a região e o ciclo Alpino, responsável pela

formação da Cordilheira Central, de orientação perpendicular à

anterior. Os diferentes materiais geológicos resultantes destes

períodos de actividade, juntamente com diversos processos

geotectónicos, são responsáveis pelo tipo de rocha que constitui o

complexo litológico da zona, de formação sedimentar e

metamórfica, que por sua vez constitui o material básico dos

vários tipos de solo existentes na região (figura 17).

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Cursos de Água

O território em estudo, caracteriza-se por uma grande

variedade e multiplicidade de bacias hidrográficas, ainda que

elementares, com cursos de água de regime torrencial ou

invernoso, o que, álem de dificultar o seu aproveitamento

energético ou hidroagrícola – existem no território 2 centrais

hidroeléctricas e 2 pontos de aproveitamento hidroeléctrico -

torna bastante difícil uma rede rodoviária elementar, não só pela

necessidade de contornar o relevo, mas também pela

permanência da água no leito dos caminhos vicinais que

eventualmente existam, originando zonas de fragilidade da

capacidade de suporte dos mesmos, durante o período de maior

pluviosidade.

A elevada frequência de cursos de água e o seu característico

regime torrencial resultam da existência de valores de

pluviosidade bastante elevados nas Serras da Lousã e do Açor,

que formam um obstáculo à passagem das massas de ar, assim

como de solos pouco espessos, de vegetação pobre e da

presença de grandes declives. A paisagem encontra-se marcada

por vales que apresentam perfil em “V”, fruto da erosão intensa

provocada pelas chuvas e pelos inúmeros cursos de água.

Embora afectado por actividades antrópicas o sistema

fluvial do Rio Ceira apresenta ainda um destacado valor ecológico

que, associado às zonas montanhosas envolventes, assume

grande interesse paisagístico.

Figura18: Rede Hidrográfica, Rede de Monitorização Hidrométrica e Centrais de

aproveitamento hidroeléctrico.

Ao nível da bacia hidrográfica, as principais actividades que

de alguma forma alteraram este sistema são a florestação e a

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

desflorestação, a urbanização, e a adaptação ao regadio. Ao nível

dos corredores fluviais os principais factores de alteração foram,

a regularização fluvial e a barragem de Santa Luzia e, em menor

grau, a remoção da vegetação ripícola.

Figura19: Curso de água na serra. Note-se a vegetação ripícola luxuriante.

Todas estas actividades intensificam cheias repentinas,

causadas por precipitações intensas, que possam ocorrer em

pequenas bacias hidrográficas de regime torrencial, como é a do

Rio Ceira. Outros impactes negativos são a poluição e a introdução

de espécies exóticas. O risco de poluição no território prende-se

essencialmente com as suiniculturas e a ETAR de grandes

dimensões da Lousã.

Figura20: Qualidade da água.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

De acordo com a classificação de qualidade da água para

usos múltiplos do Instituto Nacional da Água (INAG), a montante

o rio está classificado como “Fracamente Poluído” e a jusante

como “Poluído” (figura20).

A classificação atribuída permite practicar actividades

piscatórias de recreio e incentiva o turismo, sendo, no entanto,

aconselháveis medidas de melhoria da qualidade da água.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Biodiversidade e Conservação da Natureza

A Bacia do Rio Mondego apresenta uma considerável

diversidade de estruturas ecológicas induzida por variações

assinaláveis ao nível da geomorfologia, dos solos e do clima, que

se traduz pela presença de inúmeros habitats e espécies com

interesse conservacionista.

A presença de cambissolos de xistos e grauvaques e de

fluvissolos significa que este é um território fértil. No primeiro

caso devido à lenta degradação da rocha-mãe pelos factores

pedogenéticos e, no segundo, pelo facto de serem solos

aluvionares espessos. Mais a mais, estes solos estão

essencialmente orientados a Norte, o que os torna menos

sensíveis a fogos e portanto com maiores possibilidades de

desenvolvimento. Predominam comunidades de grandes

arbustos, como de Cytisus spp., e mesmo castinçais (Castanea

sativa) ou povoamentos de Pinus pinaster (Pinheiro-bravo). O

mesmo não se verifica para os litossolos e solos rankers do

território, cuja fertilidade é reduzida, dando lugar a charnecas.

Fonte: DueCeira

Figura21: Fruto de Castanea sativa.

Também os terrenos que apresentem declives acentuados

conhecerão apenas uma vegetação muito escassa pois estão mais

sujeitos à erosão devido à escorrência superficial da água das

chuvas, o que dificulta a existência de solos profundos e

consequentemente alonga o processo de estabelecimento de

estados de vegetação mais avançados.

Em locais de maior altitude o cenário mais frequente são espécies

vegetais de menor porte, com ramos flexíveis, raízes bem

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

desenvolvidas e folhas pequenas, de forma a aumentar a

resistência aos rigorosos regimes de vento, e a diminuir a perda

de água por evaporação mais susceptível nestes ambientes onde

ocorrem grandes amplitudes térmicas, como é o caso da Urze

(Erica sp.).

Figura22: Zonas de grande altitude da Serra da Lousã, com vegetação rasteira. Nos

pequenos vales formam-se microclimas que permitem o desenvolvimento de pequenos

arbustos. Ao fundo, os Penedos de Góis.

Figura23: Carta de distribuição florestal.

Na figura 23 apresenta-se uma classificação da distribuição

padrão da vegetação de acordo com a altitude e a alteração

gradual do clima. É possível observar que as formações florestais

se distribuem essencialmente por cotas médias .

Numa visão mais específica acerca da distribuição dos taxa

no território é de referir o carácter fitogeográfico tão importante

da Cordilheira Central Ibérica. A sua complexidade topográfica e

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

orográfica impõe características climáticas diferentes para as

diferentes orientações das encostas. Assim, as vertentes a Norte

e a Noroeste estão sob influência atlântica e eurosiberiana,

enquanto as vertentes a Sul e Sudeste se encontram sob

influência mediterrânica. Desta feita, as chuvas abundantes e

bem repartidas ao longo das estações em zonas com influência

atlântica favoreceram a colonização de espécies como Betula

alba (Vidoeiros), Quercus pyrenaica (Carvalho negral) e de

bosques mistos de outros Quercus caducifólios, em particular o

Quercus robu (Carvalho-alvarinho). Por sua vez, a sazonalidade

muito marcada beneficia o povoamento das vertentes a S-SE por

espécies como Quercus suber (Sobreiro) e Quercus ilex

(Azinheira).

Igualmente importante é a influência das actividades

antrópicas. Na carta de distribuição do solo é bem patente a

influência da nossa espécie, actual ou como herança do passado,

seja por desflorestação, pela existência de zonas agrícolas e de

pastoreio ou pela introdução de espécies exóticas, como o

Eucalipto (Eucaliptus globulus) para a indústria do papel, ou a

Acacia sp..

Figura24: Bosque de Pinus pinaster (Pinheiro bravo) no lugar de Aigra Velha, na freguesia de

Góis.

Aliás, compreender a distribuição do coberto vegetal actual

passa por um conhecimento dos impactos humanos ao longo da

história. Os primeiros grandes factores de alteração dos

ecossistemas naturais foram a agricultura e o pastoreio durante as

Culturas do Bronze e do Ferro e também na Idade Média. Nesta

última, os poucos bosques que se mantiveram pertenciam ao

Clero, como é o caso da Mata da Margaraça e da Mata do Fajão.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Na época dos Descobrimentos, a construção naval a

grande escala foi acompanhada por uma exploração florestal

desregrada que dizimou grandes áreas de floresta natural. Em

1565, com a “Lei das Árvores” houve um investimento na

reflorestação que no entanto se traduziu na expansão do

Pinheiro-bravo (Pinus pinaster), uma espécie não endémica, que

conheceu um alargamento da distribuição no Estado Novo.

Só mais tarde se verificou a introdução do eucalipto

(Eucalyptus sp.), inicialmente utilizado na rgularização de solos e

mais tarde para a indústria do papel. Devido ao seu crescimento

rápido facilmente se impôs, ocupando vastas áreas até aí de

pinhal, agricultura ou pastoreio.

A falta de políticas adequadas conduziu à quase extinção de

espécies autóctones, como sejam a Ilex aquifolium (Azevinho) e

a Prunus lusitanica (Azereiro) e à quase irreversível recuperação

de bosques como os de Quercus ilex (Azinheira). Na região do

Vale do Ceira poderá ainda encontrar alguns exemplares destas

espécies.

A vegetação ripícola é talvez a que se encontra em melhor

estado de conservação sendo que as galerias do Rio Ceira são

dominadas por Salix atrocinerea e Salix salvifolia (Salgueiros),

Frangula alnus (Sanguinho), Prunus lusitanica (Azereiros),

Viburnun tinus (Folhado) e Arbutus unedo (Medronheiro).

Fonte: Dueceira

Figura25: Espécimen de Ilex aquifolium (Azevinho).

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Indelevelmente, a variedade de condições climáticas,

resultado do relevo acidentado e da posição geográfica de

Portugal continental, reflectem-se também na diversidade da

fauna do território. Cervus elaphus (Veados), Capreolus

capreolus (Corços), Aquila chrysaetus (Águias-reais) e Grus grus

(Grous) são espécies comuns ao Norte e Centro da Europa.

Genetta genetta (Gineta) e Vipera latastei (Víbora-cornuda) são

características do Mediterrâneo e Norte de África.

Fonte: DueCeira

Figura26: Cervus Elaphus (Veado).

No território em causa importa mencionar essencialmente

três unidades naturais distintas:

Serra da Lousã

Serra do Açor

Vale do Ceira.

Serra da Lousã

A zona do maciço central da Serra da Lousã tem elevado

valor natural e potencial, apesar das plantações florestais com

resinosas exóticas que revestem ainda parte significativa desta

zona. Com efeito, ao nível dos seus habitats naturais, são de

assinalar a presença de extensões consideráveis de matos de

altitude de urze (Erica sp.) e carqueja (Baccharis trimera) e os

escarpados e outros afloramentos rochosos que cobrem a

cumeada dos Penedos de Góis.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Figura28: Matos de altitude de urze e carqueja na Serra da Lousã.

Do ponto de vista da fauna, esta zona tem um grande

interesse actual, pelo menos ao nível das aves de rapina onde

ocorrem, regular ou ocasionalmente, cerca de 14 espécies

diurnas e 3 nocturnas.

Em anexo encontram-se discriminados os Habitats

Naturais da Serra da Lousã constantes no Anexo I da Directiva

“Habitats” (92/43/CEE) e as espécies da fauna constantes do

Anexo II da mesma directiva.

Também na Serra da Lousã, os Penedos de Góis são uma

unidade natural que importa conservar devido ao elenco florístico

e comunidade faunística. Nas cotas mais elevadas desta crista

quartzítica ocorre uma situação híbrida resultante do cruzamento

da influência atlântica e continental que permitem a inesperada

ocorrência de uma flora representativa dessas regiões climáticas.

Aí encontramos por exemplo Quercus rotundifolia e Ilex

aquifolium.

Da fauna, sobressaem algumas espécies legalmente

protegidas, de ocorrência muito localizada, raras ou ameaçadas

(por exemplo Circaetus gallicus, Monticola saxatilis) É de salientar

o facto de este espaço estar afecto a uma entidade pública, a

Direcção Geral das Florestas.

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Figura29: Porção dos Penedos de Góis no lugar da Pena, em Góis.

Ainda neste maciço importa mencionar a Ribeira da Pena,

embora seja um afluente do Rio Sotão, já que é um dos mais

bem conservados cursos de água de média montanha no Centro

de Portugal. As formações ripícolas possuem uma constituição e

conservação excelentes.

No que respeita à flora orófila - isto é, de montanha - e

de águas frias e oligotróficas existem elementos que têm aqui o

seu limite sul e oeste da sua área de distribuição: Saxifraga

spathularis, Viola palustris ssp. Juresii, Narthecium ossifragum.

Também ocorrem na área numerosos elementos dos

bosques higrófilos de clima temperado atlântico: Prunus lusitanica,

Quercus robur ssp. Broteroana, Ilex aquifolium. No entanto, a

vegetação das encostas mais xéricas possui um carácter

mediterrânico acentuado onde representa um clímax edáfico.

Táxones como Quercus rotundifolia, Arbutus unedo e Pistacia

lentiscus atestam esse facto. A mata ripícola de amieiro (Alnus

glutinosa) possui um carácter próprio dos amiais de montanha que

o distingue dos abundantes amiais das altitudes mais baixas e

climas mais quentes e mediterrânicos.

Associado ao amial encontra-se uma comunidade de

Prunus lusitanica e Ilex aquifolium muito original e exclusiva da

Serra da Lousã que faz a transição do meio higrófilo para a

vegetação terrestre.

As principais comunidades presentes são:

- Galeria ripícola

- Vegetação aquática de folhas flutuantes

- Vegetação de rochas siliciosas resumantes e fontes de água

fria

- Nanobosques higrófilos de Azereiro e Azevinho

- Matagal alto de Medronheiro e Azinheiras arbustivas

- Urzal baixo

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Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

- Prado anual de fraca biomassa

- Pastagem vivaz não-higrófila

- Comunidades de fendas de rochas

- Comunidades antropizadas

A par destes valores florísticos destaca-se a ocorrência do

Melro-de-água (Cinclus cinclus L.).

O interesse da área é reforçado por algumas curiosidades

naturais resultantes da geologia local: Poço Escuro de Cima,

Poço Escuro de Baixo e Pisão.

Complexo do Açor

Esta área é constituída por 4 sítios: Fajão, S. Pedro do

Açor, Mata da Margaraça e Cebola, encontrando-se alguns deles

localizados sobre afloramentos quartzíticos de grande valor

geomorfológico e paisagístico.

Ocorrem várias espécies da flora endémica e/ou raras

como Eryngium duriaei, Jurinea humilis, Teucrium salviastrum,

além de populações dos raros endemismos ibéricos Veronica

micrantha e Narcissus asturiensis.

Em anexo encontram-se também discriminados os

Habitats Naturais e as espécies de flora existentes na Serra do

Açor constantes da Directiva “Habitats” (92/43/CEE).

Vale do Rio Ceira

O troço médio do Rio Ceira caracteriza-se pelas bem

conservadas formações ripícolas ao longo de quase toda a sua

extenção.

O Amieiro (Alnus glutinosa) é a espécie dominante, mas

simultaneamente ocorrem outras espécies arbóreas e arbustivas

características dos cursos de água de média montanha do Centro

de Portugal: Azereiro, Azevinho, Folhado, Freixo, Salgueiro,

Sabugueiro e Amieiro-negro. É de extrema importância

mencionar que apesar da boa conservação da vegetação ripícola

do Rio Ceira, determinadas zonas, mais para juzante, se

encontram infestadas de Acacia sp. e Ailhantus altissima.

Ao longo do rio existem vestígios de uma ancestral

ocupação humana particularmente patente nas inúmeras obras e

infraestruturas de aproveitamento hidráulico, nomeadamente:

moinhos, lagares de azeite, levadas, serração movida a energia

hídrica, pontes.

Faz-se ainda referência a uma descrição da flora e fauna da

do Vale do Ceira, elaborada pela Quercus, no ano de 1996, que se

encontra disponível em anexo.

28

Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Ordenamento do Território

A estrutura de planeamento dos concelhos passa primariamente

por uma classificação do solo, da qual resultam os Espaços

Urbanos e Urbanizáveis e os Espaços Agrícolas, Florestais e

Naturais, entre outros (figura30).

Figura30: Carta de Ocupação do Solo.

Um Plano de Ordenamento que respeite os solos agrícolas,

assim como os perímetros florestais e as áreas naturais, valorizará

as características paisagísticas do Concelho, o que seguramente

trará benefícios turísticos, assim como benefícios não

quantificáveis como é a diminuição da perda de diversidade

biológica.

Rede Natura 2000

De forma a contribuir para a manutenção da biodiversidade

nos Estados - membros foi criada a Rede Natura 2000, uma rede

ecológica europeia que define um quadro comum para a

conservação das plantas e dos animais selvagens e dos habitats

de interesse comunitário. Esta rede ecológica é constituída por

Zonas de Protecção Especial (ZPE) e por Zonas Especiais de

Conservação (ZEC). O Complexo do Açor e a Serra da Lousã

obtiveram a designação de ZEC após terem sido incluídos na Lista

Nacional de Sítios numa 2ª fase de avaliação, ao abrigo da

29

Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Directiva Habitats (92/43/CEE), e depois de terem sido

nomeados Sítios de Interesse Comunitário (SIC) (figura31).

Figura31: Áreas territoriais abrangida pela Rede Natura 2000 e Área de Paisagem Protegida

da Serra do Açor.

Áreas Protegidas

Na área circundante ao território abrangido está apenas

classificada a Área de Paisagem Protegida da Serra do Açor

(figura31), de acordo com o Decreto-Lei nº 19/93 de 23 de

Janeiro. Situa-se no concelho de Arganil e cobre uma superficie de

346 ha, abrangendo parte das freguesias de Benfeita e Moura da

Serra. A unidade é atravessada por dois pequenos cursos de água

permanentes, a ribeira da Mata da Margaraça, que vai desaguar

no Alva junto a Coja, e a barroca de Degraínhos que se junta à

ribeira da Mata da Margaraça a jusante da povoação de Pardieiros.

Para além de campos agrícolas, zonas de pinhal e matos

esta Área Protegida contém duas zonas bem definidas: a Reserva

Natural Parcial da Mata da Margaraça e a Reserva de Recreio da

Fraga da Pena.

Mata da Margaraça

Ocupando parte da vertente norte da denominada

Serra da Picota, entre 500 e 700 m de altitude, é

um resíduo do que foi um dos mais opulentos

maciços florestais das Beiras. A sua vegetação

corresponde à associação denominada Rusco-

30

Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Quercetum-roboris, a qual faz parte da aliança

Quercion robori-pyrenaicae - característica do

noroeste da Península Ibérica e que actualmente

tem nesta mata a sua melhor representação em

Portugal. Trata-se portanto de uma rara e

significativa amostra do que foi o coberto vegetal

das serranias do centro do nosso país.

Apresenta ainda espécies de elevado interesse

científico, como: Eryngium duriaei, Genista falcata,

Luzula sylvatica subsp. henriquesii, Crepis

lampsanoides, Circaea lutetiana, Sanicula

europaea, Veronica micrantha.

As espécies de valor hortícola ornamental são

também uma mais valia deste local, das quais se

destacam: Lilium martagon, Narcissus triandrus,

Narcissus bulbocodium, Linaria triornitophora,

Omphalodes nitida.

Fraga da Pena

Este trecho da barroca de Degrainhos tem elevado

valor paisagístico pelas quedas de água que

apresenta, resultantes de um acidente geológico

característico, e pela vegetação natural que aí se

encontra.

Tal como a Mata da Margaraça, está sob a tutela do

Instituto da Conservação da Natureza desde 1985.

RAN e REN

A Reserva Agrícola Nacional (figura32) constitui o principal

instrumento de ordenamento agrícola e destina-se a defender as

áreas de maiores potencialidades agrícolas, ou que foram objecto

de importantes investimentos destinados a aumentar a sua

capacidade produtiva, tendo como objectivo o progresso e a

modernização da agricultura portuguesa. É constituída por solos

de Capacidade de Uso das classes A e B.

A Reserva Ecológica Nacional (figura32) foi instituída de forma a

integrar todas as áreas indispensáveis à estabilidade ecológica do

meio e à utilização racional dos recursos naturais. É por isso um

instrumento importante ao nível da protecção ambiental e do

desenvolvimento sustentável, embora por vezes as suas restrições

e recomendações não sejam muito explícitas, conduzindo a usos

inadequados do solo.

31

Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

As cartas da RAN e da REN apresentadas no atlas são

apenas uma aproximação das constantes nos Planos Directores

Municipais (PDM), pelo que uma análise mais cuidada não

dispensa o recurso aos mesmos.

Figura32 - Reserva Agrícola Nacional e Reserva Ecológica Nacional.

Ordenamento Cinegético e de Pesca Desportiva

De acordo com o Decreto-Lei nº 30/86, de 27 de

Agosto, “a caça é considerada um recurso natural

renovável, cujo património e conservação são de interesse

nacional (artigo 3º, nº 1), pelo que um dos princípios

básicos a que está subordinada a política relativa ao

património cinegético consiste na sujeição da gestão de

tais recursos a normas de ordenamento, com o fim de

garantir a sua continuidade e a manutenção dos equilíbrios

biológicos (artigo 3º, nº 2, alínea a)”. Para este efeito,

desde o ano 2000, que todas as zonas de caça estão

sujeitas a regimes cinegéticos ordenados (figura33).

Aquelas que eram zonas de caça com regime cinegético

livre, são agora Zonas de Caça Municipais (ZCM). Com

este regime existem 4 zonas no território abrangido:

Zona de Caça Municipal de Semide

Concelho de Miranda do Corvo

Zona de Caça Municipal da Lousã

Concelho da Lousã

32

Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Zona de Caça Municipal da Teixeira

Concelho de Arganil

Zona de Caça Municipal de Góis

Concelho de Góis

Além destas existem também 2 Zonas de Caça

Social – “visam proporcionar a todos os caçadores

nacionais o exercício organizado da caça por tempo

indeterminado e em condições especialmente acessíveis,

competindo a sua administração ao Estado (artigo 25º,

nºs 1 e 3)”, e uma Zona de Caça Turística – “com vista

ao aproveitamento turístico dos recursos cinegéticos,

garantindo, para além da exploração da caça, a prestação

dos serviços turísticos adequados (artigo 27º, nº 1)”:

Zona de Caça Social de Miranda do Corvo e

Espinhal

Concelho de Miranda do Corvo

Zona de Caça Social da Lousã

Concelho da Lousã

Zona de Caça Turística de Fajão

Concelho de Pampilhosa da Serra

Nas águas interiores do País, a pesca é considerada “como

fonte de riqueza pública, meio de desporto salutar e motivo de

atracção turística” (Decreto n.º 44623). Por estes motivos a Pesca

Desportiva, assim como a Caça, adquirem um valor acrescido

quando o objectivo é o Desenvolvimento Rural.

Figura33: Zonas de Concessão de Caça.

33

Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Para efeitos de pesca, as águas de domínio público são

classificadas em águas livres, zonas de pesca reservada ou

concessões de pesca. No caso do Rio Ceira são abrangidas 2

zonas de Concessão de Pesca Desportiva (figura34):

Zona de Concessão de Pesca Desportiva da Ribeira

de São João Freguesia da Lousã

Zona de Concessão de Pesca Desportiva de Troços

do Rio Ceira

Freguesias de Góis, Cadafaz e Colmeal

A Zona de Desova, assim como a Zona de Abrigo da

Barragem do Alto Ceira, localizadas no extremo nordeste do

concelho de Pampilhosa da Serra são, por lei, zonas de pesca

proibida. O mesmo se aplica dentro das eclusas, aquedutos ou

passagens para peixes (Decreto-Lei nº 44623 - Art 43.º).

Figura34: Zonas de Concessão de Pesca Desportiva.

34

Atlas da Paisagem do Vale do Ceira

Unidades de Paisagem

Foi durante a década de 90 que ocorreu uma tomada de

consciência das potencialidades da paisagem como base para

uma gestão integrada do território e das actividades humanas. A

Europa empreendeu por uma abordagem diferente ao salientar a

necessidade de a política de conservação se preocupar também

com a diversidade da paisagem. Esta “é considerada como a

expressão formal das numerosas relações existentes num

determinado período entre a sociedade e o território.”

(Identificação e Caracterização de Unidades de Paisagem de

Portugal Continental.Abreu & Correia). A paisagem é portanto

um sistema complexo e dinâmico resultado da influência mútua

entre os diferentes factores naturais e culturais que evoluem

conjuntamente no tempo.

A compreensão da paisagem implica o conhecimento de

factores como a litologia, o relevo, a hidrografia, o clima, os

solos, a flora e a fauna, a estrutura ecológia, o uso do solo e

todas as outras expressões da actividade humana ao longo do

tempo, bem como a compreensão da sua articulação,

constituindo uma realidade multifacetada.

As diferentes unidades de paisagem definidas para Portugal

Continental são áreas com um padrão específico que se repete e

que se diferencia da unidade envolvente (figura35).

Figura35: Unidades de Paisagem.