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AVENTURA & AÇÃO | 44

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Algumas matérias da edição 167 da Revista Aventura&Ação

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O guerreirOEle não crê em submissão a regras e fórmulas para o alcance do espírito criador, livre, íntegro. Acredita no olhar autêntico, desprendido, perseverante. Para o fotógrafo que documentou como nenhum outro a cultura, a face e a alma do povo e das florestas do Brasil, qualquer profissional que opta pelo registro do mundo por meio da imagem deve escolher o caminho com o coração e nele viajar incansavelmente, contemplando como pessoa inteira tudo o que é vivo

Por Carolina PinheiroFotos Arquivo Pessoal

Araquém Alcântara

audaciOsO

Florestas do Brasilem sentido horário, Araquém em ação no Pantanal Mato-grossense; onça-pintada surge entre a mata na Amazônia (PA). Do livro “terraBrasil”; criança da tribo tucano se banhando em Pari-Cachoeira (AM). Do livro “terraBrasil”

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Semblante incisivo, olhar certeiro, ges-tos articulados e voz calorosa: com a postura de um combatente impetuo-so, Araquém Alcântara bate a cam-

painha de sua editora carregando consigo uma pilha de livros, resultado de empenho e contumácia. Pouco antes do início de uma entrevista que levaria cerca de duas horas, ele anuncia a sua equipe – “preciso de agenda, um copo d’água, dois minutos para um telefonema e começamos”. O obstinado colecionador de mundos, fotó-grafo com 40 anos de histórias para contar, peregrinações pelo Brasil de todos os bra-sileiros, real e pouco explorado, cheio de nuances, contrastes, exuberância e barbá-rie, passou feito relâmpago pela sala de es-pera, simpático, expressivo e pronto para trabalhar. – “Vamos focar em criatividade, ok?”, desafia.

Ao longo de uma carreira que soma 42 livros publicados e dezenas de prêmios, o catarinense criado em Santos (SP) exalta a diversidade e a grandeza do País com nome

de árvore. “Eu sou um intérprete do Brasil, um cantador das suas culturas, dos seus es-paços, de suas belezas”, diz. Para o seu livro “TerraBrasil”, o fotógrafo, incansável em sua saga de trazer o Brasil profundo para o Brasil urbano, percorreu, durante nove anos, todas as Unidades de Conservação do País. O trabalho, minucioso e pioneiro, deu origem ao maior banco de imagens da fau-na e flora do Brasil, inspirando também o nome da editora fundada por Araquém. O objetivo da casa editorial, especializada no registro do patrimônio natural brasileiro, é defender a sua biodiversidade por meio da documentação e denúncia.

Às vésperas de lançar mais dois livros, em-brenhado em projetos cinematográficos, pre-parado para ganhar o mundo em empreitadas pela Tanzânia, na África, Araquém acredita na arte como uma ação revolucionária, um pode-roso instrumento de mexer com o inaudível, com o não perceptível, com a alma. “Aquele que mergulha na viagem do ver tem que estar sempre com as portas da percepção abertas.

Carvoeiratrabalhador manuseia

carvão no vale do Jequitinhonha (Mg)

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Sabe que diante do eterno, precisa esquecer de si próprio. A criação é o que importa, gesto fundamental, caminho de conhecimento, po-derosa arma de encontrar o mundo”.

A&A: Como surgiu o interesse pela fotografia?Araquém Alcântara: Eu comecei a foto-grafar depois que eu vi um filme fantástico, que fez a minha cabeça, chamado “A Ilha Nua”, de Kaneto Shindo. Foi uma coisa im-pressionante porque o meu negócio era ser escritor. Ao sair da sessão, eu estava absolu-tamente transtornado. Estranho, eu nunca tinha sentido aquilo antes, a magia de ter visto uma obra de arte que tinha me tocado. Depois, houve um livro, “O Budismo Zen”, de Alan W. Watts. Quando eu o li, em 1969, foi como se houvesse também uma revelação: uma obra de arte pode transfor-mar. Quando há sintonia, quando o obser-vador entra no mesmo dial do que ele está vendo, há uma transformação coletiva, uma revolução. A obra se transforma, o autor se

transforma e o espectador se transforma. Aí cria-se um triângulo: obra, autor, espec-tador. Sem querer, intuitivamente, nesse final dos anos 60, eu comecei a entender a arte como uma ação revolucionária. A obra precisa provocar. O importante é que essa transformação que gerou tudo isso que eu sou – eu só penso em produzir, sou total-mente uma usina, pilhado, o meu negócio é criar – veio após assistir a esse filme, quan-do percebi que poderia dizer as coisas por meio de imagens.

A&A: Qual foi a sensação da primeira foto? Onde e quando aconteceu?A.A.: Começou nos anos 60, quando o fil-me me convocou para essa linguagem. Eu ainda demorei dez anos para assumir a fo-tografia. Lá por 1978 é que eu deixei o texto para virar fotógrafo, unicamente. Comecei a me enveredar pelas matas, entrei na Mata Atlântica e a minha vida mudou. Quando eu conheci a grande floresta virgem brasi-leira, na época em que o Governo de-

BiguatingaMergulhão branco – que habita a estação ecológica Juréia-itatins (SP) – descansa após a pesca de sua refeição. Do livro “terraBrasil”

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sapropriara uma grande área para construir usina atômica, a minha fotografia ganhou ideologia. Então, ela sempre teve um cará-ter de documentação social. Mas o apren-dizado, os exercícios de texto, tudo isso foi importante para que eu conseguisse chegar onde estou. A minha fotografia sempre foi engajada, com um propósito de seduzir as pessoas para o meu modo de ver o mundo, para espalhar conhecimento e informação, para revelar o Brasil para os próprios bra-sileiros. Depois de 40 anos, ela se livra de tudo isso, de natureza, de jornalismo, para se transformar em uma fotografia livre de qualquer tema, amarra, fórmula. O meu último livro comprova isso. Foi finalista do Prêmio Jabuti e vencedor do Prêmio Benny de melhor livro de arte em 2011.

A&A: E quanto às temáticas a serem fotografadas? Como se enveredou pela fotografia de natureza? A.A.: A fotografia de natureza só se revelou quando eu entrei na floresta selvagem, na Mata Atlântica da Juréia, onde tem bicho. De repente, você está quieto e passam 30 porcos-espinhos do seu lado. Não é florestinha, não. É coisa grande, de bichos grandes. Foi aí que eu comecei a entender essa outra sociedade. A floresta se transformou na minha matriz criativa, no meu modelo de universo. O Bra-sil possui a maior biodiversidade do mundo, Amazônia, Caatinga, Cerrado, e que está em processo de destruição. A maioria das pessoas passa por essa vida sem entender a grandeza, a importância, a maravilha que é ser um país que tem nome de árvore, Pau Brasil.

A&A: O que imprime a marca pessoal do fotógrafo à fotografia?A.A.: Lembro-me que, com sete, oito anos, eu já

A arte é um poderoso instrumento de mexer com o inaudível, com

o não perceptível, com a alma, com o que está escondido,

com códigos

escrevia uns textos que as pessoas liam e diziam: “nossa, mas que texto lindo!”. Depois, eu come-cei a ler. O gosto pela leitura chegou muito cedo. O meu universo, a minha percepção do mundo foi ampliando. A cultura sempre esteve presente. Só que eu jamais imaginei fotografia. Alguma coi-sa muito especial me convocou para outro lado. O fotógrafo, hoje, é um artista plástico, tem que

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ter um grande repertório cultural. Uma vez, para você ter uma ideia, um diretor de uma galeria em Santos me disse: “Araquém, a fotografia não é arte, eu não posso expor você aqui, mas eu tenho um corredorzinho que dá no banheiro, ok?” Aí você vê quanta batalha. Ainda mais que a minha fotografia era de Brasil, feita para gente que só queria saber de Cancún e Miami, uma elite que

queria só copiar o exterior e não olhava para seu próprio país. Ou seja, o meu trabalho sempre foi de briga. A minha fotografia sempre foi de com-bate. Diante de tudo isso, o que imprime uma marca pessoal? A vivência, a experiência. Com aquele filme, eu comecei a perceber que a minha fotografia sobre o Brasil seria muito simples, mas sofisticada nos detalhes, com uma riqueza de

QueimadaPlantação de cana-de-açúcar é incendiada por produtores para facilitar o corte em propriedade de São Manuel (SP). A prática será proibida por causar danos ao meio ambiente. Do livro “Cachaça”

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formas muito grande. O mais importante é que percebi que eu iria documentar o povo e a nature-za brasileira, que teria que começar a andar. Sou um fotógrafo andarilho.

A&A: Você tem um trabalho com uma temática social, de protesto. Qual é o poder da imagem? A.A.: Ela tem um grande poder tanto para o bem, quanto para o mal. Tem um poder de transformar consciências, de enriquecer a cultura, de revelar.

A&A: Quando a fotografia se torna uma forma de intervenção social?A.A.: Ela não é somente uma forma de inter-venção social, mas um poderoso instrumento de discussão da realidade. No momento em que o fotógrafo documenta a realidade, não significa que ele é um artista. Ele pode ser um documenta-dor. A sua interpretação, o seu modo de registrar

A floresta se transformou na minha matriz criativa , no meu modelo de universo. O Brasil

possui a maior biodiversidade do mundo, Amazônia, Caatinga, Cerrado. A maioria das pessoas passa por essa vida sem entender a grandeza que é ser

um País que tem nome de árvore, Pau Brasilessa realidade é que pode fazer dele um artista. A fotografia é um grande documento social quando ela passa a revelar o caráter de um povo, a sua história. Quanto mais você se aproxima de um povo, mais próximo você está de revelar as suas angústias, buscas e alegrias. É aquela coisa de ir onde o povo está, de se jogar nessa viagem de do-cumentar a sua aldeia.

A&A: Como você definiria o Brasil?A.A.: É impossível. Ninguém define essa grandeza. O Brasil é um enigma. O Brasil são muitos “Brasis”. Para definir o Brasil, eu recomendaria aos meus alunos que les-sem Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, e por aí vai. Tem que ler também Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Carlos Drummond de Andra-de, Manuel Bandeira. Tem que ver Glau-ber Rocha, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor. Aliado a isso, é importante que as pessoas

desContraçãoo fotógrafo em intervalo de trabalho na Amazônia

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andem pelo Brasil. Ele precisa ser conheci-do. Não adianta só ler. Escola é bom, mas é preciso andar. O Brasil tem uma multicultu-ralidade impressionante, uma miscigenação que nos torna plurais.

A&A: Como estabelece relações com as pessoas que fotografa em comunidades remotas? Como retratar sem invadir?A.A.: A primeira coisa é quebrar as diferen-ças. É claro que você causa estranhamento chegando a uma comunidade perdida da Amazônia. Todo mundo fica olhando. Daí, você começa a se relacionar. Daqui a pouco, você está jogando futebol com eles, conver-sando com o mais velho, ouvindo os mais jovens, pescando, está dentro da mata com eles. Quando menos espera, as fotos surgem naturalmente. O grande segredo é ouvir, dar atenção e trocar com eles de igual para igual. O fotógrafo de natureza, viajante, tem que se

aproximar de uma comunidade para regis-trar a vida real do lugar.

A&A: Para a sociedade, qual é o impac-to gerado pela fotografia das comunida-des indígenas, quilombolas, caiçaras? A.A: O fotógrafo levanta esse véu do que está oculto, faz certas coisas que ficaram para trás ressurgirem. Ele esclarece pági-nas esquecidas da história. A fotografia é resgate. Esse é um País desconhecido pe-los brasileiros, onde, em muitos lugares, o Estado não existe, não há lei. O fotógra-fo toca nessas feridas. Por outro lado, ele pode ser só um poeta. Fotografia também é síntese, celebração da beleza, aquela coi-sa que você não pode pegar. Não tem que se prender a regras nem a terminologias.

A&A: Quais os métodos para fotografar animais silvestres, lugares afastados,

sumaúma do rio negroCrianças ribeirinhas se divertem nas raízes de uma sumaúma, árvore típica da Floresta Amazônica, em Barcelos (AM). Do livro “terraBrasil”

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A fotografia é um grande documento social quando ela passa a revelar o caráter de um povo, a sua história. Quanto mais você se aproxima de um povo, mais próximo você está de revelar as suas angústias,buscas e alegrias

troPa Crioulagaúcho toca cavalos da raça típica da região, em alvorada de Dom Pedrito (rS). Do livro “Araquém Alcântara: Fotografias”

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comunidades isoladas? Como você equi-libra técnica e sensibilidade? A.A: É preciso uma profunda disposição para você ir a lugares distantes desse País. Você tem que estudar, mapear, buscar guias que o levem na comunidade. Há um tempo para descobrir o que se quer na fotografia. É preciso exercitar constantemente e mergulhar até a exaustão em um tema. Aí você faz um ensaio, depois outro, e assim por diante.

A&A: Quais as principais aventuras que já enfrentou por uma imagem?A.A.: A expedição para a região do Monte Roraima. Tivemos uma canoa desgovernada que foi para cima de uma cachoeira (a Gran-de). Tive que me agarrar em uma pedra para não ser levado pela correnteza. Houve, tam-bém em Roraima, um monomotor que passou por uma tempestade tenebrosa. Foi um susto. Outra situação marcante ocorreu no Pará. Eu, meu assistente, o guia e o barqueiro fomos se-questrados por índios Caiapó, enquanto cruzá-vamos o Rio Curuá, afluente do Xingu. Eles estavam em pé de guerra com a Fundação Na-cional do Índio (Funai) e a Polícia Federal, que havia apreendido o garimpo de onde eles esta-vam ganhando comissões. Pediram como res-gate R$ 1,5 mil, 150 litros de gasolina de avião e dois quilos de pimenta verde. Passamos dias comendo apenas macaxeira até que fui levado à cidade mais próxima, retirei uns R$ 300,00 e o grupo foi libertado.

A&A: Qual é o seu maior desafio? A.A.: Eu tenho um profundo amor por esse País. Sou um intérprete dele, um can-tador das suas culturas, dos seus espaços, de suas belezas. Já fiz 42 livros celebrando esse Brasil. Agora, eu começo a fazer cinema. Começo também a derivar o meu trabalho para as crianças. Meu trabalho espalha be-nefícios, conhecimento, informação, arte. A minha bem-aventurança, eu costumo dizer, é criar e repartir belezas.

A&A: Qual foi o seu maior aprendizado?A.A: Ando há 40 anos pelo País e só agora eu aprendi a entender a alma desse povo dos ser-tões, dos ermos, um povo que ainda é esqueci-do, espoliado.

A&A: O que nunca fez e gostaria de fazer?A.A: Eu serei o consultor criativo e fotógra-fo de um filme sobre a Amazônia chamado “Planeta Verde”. O misto de documentário e ficção será produzido por Gullane Entre-tenimento e Gedeon Filmes. O projeto me levará a cinco grandes expedições pela

Making-offDe cima para baixo: Araquém

brinca com criança em lençóis (BA). A expedição

fotográfica resultou no livro “Chapada Diamantina”. o

fotógrafo e a sua equipe na base da Cachoeira da Fumaça

(Chapada Diamantina); em entrevista para a BBC de

londres durante temporada de trabalho na estação ecológica

da Juréia-itatins (SP)

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amazôniaPescador Zezão retira pirarucu da água na reserva extrativista

Médio Juruá (AM). Do livro “Amazônia de Araquém

a Atala”

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A.A.: Eu acho que tem que conseguir di-zer de uma maneira pessoal, original, para que isso seja uma contribuição. O exer-cício exige talento, perseverança, é uma busca constante de autoconhecimento, de crescimento espiritual. Você trabalha para os outros e para si. Quando você começa a desenvolver uma coisa própria, já está em um caminho autoral, tem algo que já virou um grande aliado, que é a forma de espa-lhar benefícios. Muitos não conseguem chegar ao caminho autoral, pois ele exige desprendimento, não é comercial.

Amazônia. É um novo caminho. Acabei de fazer um livro com Alex Atala, “Amazônia de Araquém a Atala”; outro com o Mano-el Beato, Cachaça. Nos próximos anos, fa-rei um livro sobre o Cerrado, três sobre a Amazônia (“Amazonas, o Rio”; “Os Amazô-nidas” e “Viagem pela Amazônia”) e outro sobre a fauna do Brasil.

A&A: Você falou, no início da entre-vista, que a sua fotografia é de batalha, de combate. O que deve esperar quem está começando agora nesse ramo?

A fotografia é resgate. Esse é um País desconhecido pelos brasileiros, onde, em

muitos lugares, o Estado não existe, não há lei. O fotógrafo toca nessas feridas.

Por outro lado, ele pode ser só um poeta. Fotografia também é síntese, celebração da

beleza, aquela coisa que você não pode pegar

Comunidade indígena Crianças da tribo ingaricó na beira do rio Cotingo (rr). Do livro “terraBrasil”

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turiSmo de aventuraturiSmo de aventura

O impressionante é imaginar como nesse país tão seco, com apenas 5% de suas terras cultiváveis, pode ter sobrevivido uma civilização tão rica, cujo legado faz do Egito um dos mais importantes destinos turísticos do mundo

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turiSmo de aventura

LOnGas estraDasuma incrível vista do De-

serto negro, com sua longa estrada reta e seus vulcões

extintos.veja a matéria na página 98

Foto leonArDo Pinheiro

turiSmo de aventura

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experiências pelo mundo4continentes Viajar, aprender, inovar,

experimentar, se desafiar. A proposta desse “Especial Férias” é apresentar roteiros transformadores que possam lhe propiciar outras formas de ver e sentir o mundo

texto e Fotos Caio vilela

Fazer um trekking longo no Himalaia, cavalgar entre girafas na Tanzânia, mergulhar com focas na Áfri-ca do Sul, remar entre orcas na Columbia Britâ-nica ou sobrevoar um vulcão ativo na Nova Ze-

lândia com hidroavião. Viagens pelos destinos mais remotos do planeta, com um ponto comum: o perfil sofisticado e sustentável.

Muito mais do que apenas fazer turismo. Muito di-ferente de uma rápida visita a um país exótico. Algo que você chamaria de uma experiência de vida.

Agregando pousadas em praias desertas, alojamen-tos no Ártico, operadoras de mergulho na África e outros empreendimentos, um “conselho” de em-presários criou a feira PLE - Pure Life Experiences, que aconteceu por três dias em novembro passado,

em Marrakesh, consolidando uma tendência nova do turismo de aventura, baseada na autenticidade, no baixo impacto e na exclusividade. “Nossa ambi-ção é viabilizar experiências que ofereçam maiores emoções e menores impactos no ambiente”, conta o criador da feira, Serge Dive.Veja nas páginas seguin-tes algumas dessas opções e sacie sua curiosidade no site da Pure Life Experiences, onde uma lista de participantes oferece links para lugares fascinantes, nas localidades mais remotas do mundo. Podem soar como viagens de sonhos, ao alcance de poucos. E, se for o caso, não custa nada sonhar: Península de Kamchatka, Ilha de Baffin, de Réunion, An-tártida. Dá pra viajar longe só de visitar cada website.www.purelifeexperiences.com

especiaL férias

saaraturistas fazem tra-vessia de três dias em trecho tunisiano do deserto perto de Ksar ghilane

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Ao norte do Parque Nacional Serengeti e logo abaixo da fronteira com o Quênia, a remota Reserva Grumeti abriga os lodges de safári Singita. A rede - com hotéis na África do Sul, Tanzânia e Zimbábue - representa o que de mais top existe quando o assunto é safári, da gastronomia de nível internacional à ousada arquitetura dos alojamentos, que se mesclam com a paisagem.

Nas cocheiras do Lodge Sasakwa, os visitantes se preparam para uma cavalgada pela savana. Escolhidas as selas – entre os estilos clássico inglês, norte-americano e sul-africano – descem o relevo do mirante natural onde se encontra o lodge, para ga-nhar a savana e inúmeros momentos como o da foto.

Quinze minutos após, essa turma vai cavalgar lado a lado com girafas e outro precioso momento é testemunhado: sob uma luz dourada, um guepardo faz alongamento e se move em silêncio próximo a um grupo de zebras distraídas, em uma dan-ça delicada, durante horas.

safári a cavalo na savana africana

Quem Levalodges singitawww.singita.com operadora teresa Perez www.teresaperez.com.br

trilha salkantay: trekking de luxoRota inca alternativa ao tradicional caminho a Machu Picchu, o trekking do Salkantay é a bola da vez no menu de aventura das agências de turismo de Cuzco. São cinco dias de caminhada até o vale do Urubamba, logo abaixo de Machu Picchu. A trilha passa por uma variedade de paisagens tão ricas e impressionantes quanto às da trilha inca tradicional. E com um diferencial: os per-noites são feitos em acampamentos ou em lodges de montanha novos e estrategicamente localizados ao longo do percurso.

Enquanto acampar e cozinhar refeições rápidas são as únicas opções para os turistas na trilha inca tradicional, os que vão pela rota de Salkantay podem terminar o dia com refeições ao pé da lareira, banhos de hidromassagem ao ar livre e noites bem dor-midas em camas de verdade e quartos privados.

Operados de forma sustentável, seu staff e empresários man-

têm ótima relação com os líderes dos pueblitos nas montanhas, a quem ajudam de várias formas, como melhorias nas escolas, plantações e organização da cooperativa dos muleiros.

No último dia de trilha, o caminho passa por Llactapata, um conjunto de ruínas incas esquecido no meio da floresta, com um mirante natural que revela um ponto de vista incomum para o vale do Rio Urubamba e a cidadela de Machu Picchu.

Quem Levamountain Lodges of Peru www.mountainlodgesofperu.com venturas & aventuraswww.venturas.com.br

peruCom o pico Salkantay ao fundo, trekkers sobem rumo ao passo de 4.500 metros da trilha inca alternativa

tanzânia Montados sobre cavalos de

raça, hóspedes do Lodge Sasakwa observam girafas

na reserva grumeti

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especiaL férias

canionismo e espeleologia na nova ZelândiaO potencial turístico da terra maori Waitomo, quatro horas de estrada ao sul de Auckland, é explorado com critério.

Seu menu de tours varia de programa de duas horas a três dias, com mais ou menos “emoção”, desgaste físico e adrenalina. Cordas e trilhas estão prontas para o uso em instalações exemplares de baixo impacto ambiental. Uma das maiores atrações é um tour de sete horas cha-mado Lost World. O roteiro começa com um rapel de 100 metros no desfiladeiro que dá acesso a uma gale-ria subterrânea pontuada com claraboias, que recebem poesia em forma de luz natural, diariamente, por volta das onze horas. Apesar da pinta de produto turístico, a

experiência é recheada de adrenalina e a região é, com o perdão do clichê, cinematográfica. Em muitas das cavernas cresce o conhecido glowworm, um inseto que absorve luz e brilha no escuro.

Quem Levano site do parque www.waitomo.com dá para ver as opções de tours e fotos das cavernas. no Brasil, a operadora especializada em oceania, Kangaroo tours (www.kangarootours.com.br), cos-tuma oferecer pacotes com desconto e está em sintonia com as novidades do mercado neozelandês de viagens de aventura.

cavernas WaitOmOum rapel de 100 metros dá acesso ao interior das grutas

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antártida: logo aliSe fazer turismo na Lua parece ser um futuro não muito distan-te nesse século, visitar o Polo Sul e navegar pela Antártida já é realidade comum no mercado de viagens. Só no ano passado, 20 mil turistas de todo o mundo visitaram a península antártica e suas ilhas. A viagem de sonho de muitos, antes lograda apenas por cientistas e navegadores experientes, hoje pode ser feita sob encomenda para o bolso do freguês.

Por aproximados 900 dólares você pode passar uma tar-de na base chilena O'Higgings, voando de volta no mes-mo dia para a cidade de Punta Arenas, no extremo sul do Chile, onde o pacote expresso bate e volta de um dia é vendido nas agências de turismo.

No outro extremo, um grupo seleto de viajantes divide o pri-vilégio de fazer a circunavegação completa do continente ge-lado em dois meses de pura mordomia a bordo de um navio

quebra-gelos russo, por “solamente” 25 mil dólares por pessoa, sem gorjetas incluídas.

Quem Leva:zelfa silva www.antarcticacruises.com.br vende as viagens da Quark expeditions (www.quarkexpeditions.com). ocasionalmente, oferece bons descontos para quem viaja em novembro, o comecinho da temporada de verão.

dica: As mais “puras experiências” acontecem nas viagens com opcionais de acampamento, trekking, caiaque e esqui. As operadoras oferecem pacotes de 11 a 30 dias com preços entre 4 mil e 24 mil dólares, tudo incluído (exceto atividades opcionais) a partir de ushuaia.

cruzeirO Da Quark expeDitiOnsBote zodiac conduz visitan-tes entre os icebergs de Paradise Bay, na Antártida

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PiCo do BaePium dos cartões-

postais da cidade, oferece uma vista

privilegiada do canal de São Sebastião

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Um dos destinos mais cobiçados do litoral sudeste, Ilhabela ostenta uma exuberante concentração de Mata Atlântica, mais de 400 cachoeiras catalogadas e uma geografia alucinante, incluindo incríveis picos à beira-mar e trilhas pra lá de interessantes, que levam a praias reservadas. Algumas delas completamente desertas, guardam, além dos visuais, histórias e lendas fascinantes de piratas e naufrágios de séculos passados. E o melhor de tudo, a maior parte dessas paisagens são ainda exclusivas do público aventureiro

texto André Dib Fotos André Dib e Daniel Cotellessa

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Praia e aventura

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Contemplada por um regime favorável de ventos, Ilhabela é conhecida como a capital da vela, sendo sede do maior evento do iatismo da América Latina, a

Semana Internacional da Vela. Além dessa vocação natural, a Ilha já é um roteiro con-solidado e transformou-se num dos destinos mais visitados do litoral paulista. Apesar do frenesi nas pequenas enseadas do litoral sul, a geografia desafiadora da Ilha teve o capri-cho de resguardar muitos refúgios intocados, por estarem isolados ou em lugares de difícil acesso. Para os interessados em exclusivida-de, acredite: ainda há lindas praias selvagens, poupadas do clássico turismo de veraneio.

Poucos destinos do País têm tantos atra-tivos naturais preservados como esta Ilha, mesmo estando no centro do eixo Rio - São Paulo, a apenas 200 km da capital paulista. Montanhas, praias, cachoeiras e muitas tri-lhas ocultam-se na mais exuberante e pre-servada faixa de Floresta Atlântica do estado. Junte-se a isso alguns vestígios de um passa-do alimentado por lendas e histórias quase míticas de piratas e naufrágios, sagas e mui-tos segredos, revelados apenas àqueles que se empenham em desvendar os incontáveis caminhos que cortam a mais bela e instigante ilha de São Paulo.

Com o intuito de desbravar algumas das mais preservadas paisagens do Parque Es-tadual da Ilhabela, que guarda 86% da ilha, resolvemos encarar alguns caminhos lon-gos, por vezes difíceis, mas todos surpre-endentemente belos. Entre as inúmeras tri-lhas, destacamos a “Volta à Ilha”, uma das mais espetaculares travessias do estado, que deve ser incluída no Plano de Manejo do Parque, em breve. Outros atrativos que nos despertaram interesse foram os picos da Ilha, que também conta com uma al-timetria favorável à prática do montanhis-mo. Em poucos quilômetros, o relevo à beira-mar apresenta um desnível abrupto de mais de mil metros de altitude, forman-do imensas montanhas que se debruçam no Atlântico. Algumas merecem destaque, como o majestoso Pico do Baepi e o Pico São Sebastião, um dos mais altos do litoral brasileiro, com imponentes 1.379 metros, de onde se avista a Baía das Enchovas, a Ponta do Boi e as lendárias ilhas de Búzios e Vitória, que complementam as 12 ilhas desse arquipélago mágico, quase irreal. Não é por menos que em um dos seus es-critos no século 16, o expedicionário Amé-rico Vespúcio se rendia aos encantos desse litoral: “se na terra houvesse um paraíso, esse não estaria longe dali”.

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vOLta à iLhaNossa expedição começou do lado urbanizado da Ilha, perto da Ponta da Sepituba, onde ter-mina o asfalto e inicia a antiga trilha para a sin-gela Vila de Bonete, uma comunidade de pes-cadores que fica do lado oceânico de Ilhabela. O caminho é relativamente tranquilo, quando não chove, é claro. Nele, cruzam-se três rios, que, quando atingidos por fortes precipitações de água, adensam-se, isolando os turistas.

Em dias de sol, porém, a missão de cruzar a Ilha torna-se tranquila e pouco exigente! Na estrada bem marcada e larga seguimos, eu, o Alex Damico, da Ciribaí Ecoturismo, e o André Queiroz, proprietário da Pousada Canto Bravo, rumo ao nosso primeiro desti-no. Para incrementar o roteiro, desviamos da rota para um costão íngreme e escarpado que o litoral acidentado criou entre as montanhas e, com a força das águas, foi escavada uma enorme reentrância que se afunila criando um pequeno fiorde, conhecido como Bura-co do Cação, que nos privilegiou com uma vista fabulosa. Logo, retomamos o caminho que contornava a encosta, por entre árvores frondosas e cursos de águas límpidas que cor-riam em direção ao mar. Os 15 km de trilha devem ser percorridos tranquilamente entre três e quatro horas, já que as piscinas naturais ao longo do caminho nos convidam a refres-cantes banhos de cachoeira. Logo passamos a primeira cascata, conhecida como a da Laje, formada por um grande escorredor de pedras, que termina em deliciosos poços de uma pureza ímpar. Mais adiante, cruzamos a Cachoeira do Areado e, do alto do costão, avistamos, enfim, a Praia do Bonete numa das visões mais surpreendentes de toda a jor-nada, onde o horizonte se alarga com uma vista primorosa do mar.

Preservaçãoo Parque estadual de ilhabela guarda 86% da ilha, protegendo uma das maiores faixas de Floresta Atlântica contínua do litoral, com toda sua riqueza biológica

Praia da armação Cerca de seis quilômetros

ao norte da vila, é uma praia sossegada e

preservada, propícia para a prática de windsurfe

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BOneteA bela vista nos faz apertar o passo para chegar à pequena praia formada por uma estreita faixa de areia branca e muito fina. Das 18 comunida-des remanescentes na Ilha, o Bonete é a maior delas, mas nem por isso, menos autêntica. Es-ses rústicos recantos caiçaras que, de alguma maneira, estão isolados do centro mais urbano, carregam de forma mais intensa os hábitos do passado. Todas as suas provisões chegam de barco, isto é, quando o mar permite.

O sul da Ilha é frequentemente atingi-do por ventos fortes e temíveis tormentas marítimas que desencorajam mesmo os marinheiros mais experientes. Suscetíveis às intempéries da natureza, os boneteiros, como são conhecidos, vivem à mercê do tempo. Foi no Bonete que entendi, pela primeira vez, o conceito de estar ilhado. Todo esse isolamento tem suas compen-sações, apesar da falta de asfalto e da luz elétrica ser minguada e restrita aos gera-

BoneteA praia, ao

sul, é uma das mais belas e preservadas

da ilha

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dores rústicos. À noite, o clima de rustici-dade envolve o viajante. Os paredões das montanhas que cercam a Praia emolduram um extravagante céu estrelado, que rompe a escuridão de forma lenta e desdenhosa, afinal, a natureza ainda é soberana por ali.

Após uma boa noite de sono, resolve-mos explorar as redondezas na companhia do experiente guia alemão Jaroslav Turan, que viveu na Iugoslávia, onde foi major na guerra da Bósnia. Ele deixou para trás

os destroços da guerra para se dedicar aos pássaros da Mata Atlântica. Depois de via-jar por vários lugares do mundo, resolveu se instalar, definitivamente, nas encostas do Bonete, onde trabalha como guia e com uma de suas paixões: o birdwatching ou ob-servação de aves. Jaro, como é conhecido, nos propôs seguir até uma cachoeira que acabara de descobrir. Após meia hora de caminhada, a partir da Pousada Canto Bra-vo, nos embrenhamos na mata fechada e

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seguimos descendo o curso do rio em busca dessa nova descoberta. Contornamos o pre-cipício que bordejava a queda e logo avis-tamos uma esplendorosa cascata com cerca de 40 metros, saltando em queda livre sobre o afloramento rochoso adornado por mus-gos e pequenas orquídeas que destoavam do verde insistente da mata. Os raios de sol penetravam na copa das árvores formando fachos de luz sobre a cascata, num espetácu-lo natural muito peculiar. Se ainda existem destinos intocados no estado, boa parte se encontra no litoral norte.

praias DesertasDe Bonete, a proposta era seguir até a cêni-ca Praia de Castelhanos, que já foi elencada entre as 10 mais bonitas do Brasil. A antiga trilha, com cerca de 18 km, foi remarcada recentemente, entretanto, a presença de um guia é indispensável, pois a mata é muito fe-chada. Começamos a caminhada pela praia e logo atravessamos o plácido Rio Nema, que serve de abrigo às típicas canoas caiçaras e, com suas águas translúcidas, abre caminho pelas areias da praia desaguando calmamente no mar esverdeado. Começamos a subida do mirante e, após uma inevitável pausa para a contemplação, seguimos para a Praia das En-chovas. O caminho transcorreu tranquilo até a linda Praia de Indaiaúba, ocupada estranha-mente por construções suntuosas que desto-am da simplicidade natural do lugar. A partir de lá, inicia-se uma longa subida em direção a um escarpado íngreme formado por um espigão que corta a Ilha no sentido sudeste, em direção à Ponta do Boi. Apesar da declivi-dade considerável, chegamos ao alto da serra em meio a uma flora exuberante na floresta adensada que se impunha num caminho in-trincado, mas a trilha visível não nos deixava dúvidas. Logo, começamos descer rumo à Praia Vermelha. A partir dali, pisaríamos na face leste da Ilha. Pouco antes de chegar à Praia, fomos surpreendidos por placas que desviavam o caminho para Castelhanos. Se a proposta era passar por todas as praias, qual o sentido de cortarmos por fora? Insistimos no caminho e logo soubemos que o suposto “proprietário” da área não gostava que os vi-sitantes passassem na Praia Vermelha. Ampa-rados pela lei, seguimos, já que as praias são propriedade do Estado; elas não podem ser consideradas propriedades privadas, embora muitos moradores da Ilha desconheçam a premissa. Apesar das ameaças dos cachorros que “guardavam” a Praia, atravessamos a pe-quena vila da Praia Mansa e, no final do dia, chegamos, enfim, na Praia de Castelhanos.

enseada das enChovas

vista a partir do mirante do Bonete; abaixo, jararaca no meio da trilha para

Serraria

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praia Da fiGueiraRecompostos pelo descanso da noite, resol-vemos mudar a rota e retroceder no mapa para conhecer a Praia da Figueira, uma das mais belas e isoladas da Ilha. Após algumas horas de caminhada sob um sol causticante, chegamos à Praia que, de certa forma, man-tem-se em seu estado original. A pequena praia e o mar verdejante contrastavam com a singeleza das poucas casinhas caiçaras e a simpatia dos moradores, que subtraem do mar a fartura que a natureza lhes oferece. O tempo ali corria lento e não parecia ser determinado pela rigidez dos ponteiros do relógio. Regressamos pelo mesmo caminho e, do alto da encosta, no Morro da Figueira, avistamos novamente a Baía de Castelhanos,

que testemunhou um dos períodos mais sig-nificativos da pirataria na costa brasileira. A vista impressionante nos fazia imaginar as caravelas dos piratas, que no século 16 deixa-ram ali, naquela baía, suas marcas.

praia De casteLhanOsEm mais de 500 anos, pouca coisa mudou. A natureza que cerca a Praia de Castelhanos ainda é exuberante e, após algumas poucas interven-ções, permanece com as mesmas características primitivas de quando foi encontrada no século 16. As histórias se misturam a lendas, criando uma atmosfera ainda mais fascinante e misterio-sa. Nas areias da praia, existe uma antiga nau en-terrada que, vez ou outra, é escavada pela ressa-ca do mar e reaparece. Existem histórias que

Praia de Castelhanos Abrigo de corsários no século 16, a Praia testemunhou um dos períodos mais significativos da pirataria na costa brasileira

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parecem ter saído de contos de fadas. Vanderlei dos Santos Valério, o Alemão, proprietário de um restaurante e de uma pequena pousada de frente pra praia, nos contou que sua bisavó, Ma-ria Paula, foi encontrada no século passado, por pescadores, desacordada naquelas areias, vítima de um naufrágio. Na época, com cerca de cinco anos, supostamente de origem europeia pelas características físicas, foi criada por uma famí-lia caiçara e, já adulta, casou-se com seu bisavô, construindo ali, na Praia de Castelhanos, a histó-ria de sua família.

Apesar da tranquilidade e da beleza do “quintal”, os moradores de Castelhanos co-lecionam algumas reclamações em relação ao descaso por esse pedacinho de “paraíso”. As más condições da estrada que dá acesso à Praia é uma delas. Fadada ao abandono, a rota que liga Castelhanos ao centro da Ilha passa praticamente o ano todo intransitável para veículos sem tração nas quatro rodas. Os perrengues celebrados pelos amantes do off road limitam o acesso à maioria das pes-soas, inclusive moradores. Outro problema sério é a especulação imobiliária (ver box).

casteLhanOs - serrariaNo total, a Ilha concentra cerca de 400 cacho-eiras, incluindo uma com mais de 200 metros, descoberta recentemente, que ainda não foi ca-talogada. Voltando à trilha, que, a partir de Cas-telhanos se torna um desafio pra lá de ousado, nos embrenhamos no lado mais selvagem da travessia, para chegar até recantos que só podem ser alcançados a pé ou pelo mar. A série de cos-tões e pequenas baías isoladas seguem lançando o caminho para o alto da encosta e pela mata fechada. A perneira anticobra é um equipamen-to obrigatório. Nas primeiras horas do dia, con-tabilizamos três jararacas no meio da trilha. O caminho por entre taquarais impenetráveis só podia ser aberto a golpes de facão, portanto, ti-vemos que manter a disciplina de um cronogra-ma enxuto para aliviar as volumosas cargueiras, sobretudo para esgueirarmo-nos dos obstáculos naturais compostos por emaranhados de cipós, raízes eriçadas de espinhos e troncos de árvores cortantes, que forjavam um cenário intrincado, quase irreal. Alguns caminhos de caçadores desviavam a apagada trilha, tornando a jornada um verdadeiro martírio. Após 12 horas de cami-

Praia da Figueira uma das mais

desertas da ilha, resguardando o cenário em seu estado original

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nhada, varando imensos campos de taquaruçu, procurávamos um filete d’água para reestabele-cer os ânimos. Quando a noite chegava para nos surpreender, encontramos um cano d’água que nos levaria, enfim, a uma casinha. Chegamos à Praia do Guanxuma às oito da noite e, de lá, seguimos para a Praia da Caveira, onde acampa-mos exaustos.

praia Da caveiraA Praia foi batizada assim após o naufrágio do va-por espanhol Príncipe das Astúrias, em 1916. O número oficial de vítimas foi de 477, mas estima-se que as mortes ultrapassaram a marca de mil nomes, pois o luxuoso transatlântico carregava em seus porões, refugiados da Primeira Guerra Mundial. Centenas de corpos foram lançados na Caveira, por ser uma Praia de refluxo, e acabaram sendo enterrados por ali mesmo, pelos morado-res locais. Os mais místicos dizem que a Praia é assombrada e, às vezes, o movimento constante da maré trás à superfície alguns esqueletos. As histórias de assombrações acabaram tornando a Praia completamente deserta. É a única faixa de areia em que não mora ninguém, abrigando apenas um cemitério de navios, o maior da costa brasileira, com 21 naufrágios contabilizados. Se-gundo os marinheiros, no entorno da Ilha as bús-solas sofrem algum tipo de intervenção magnética o que, de alguma forma, alimenta ainda mais esse ambiente sombrio e igualmente fascinante.

Praia mansa exclusiva para quem se dispõe a desbravar as inúmeras trilhas da ilha

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um grave problema do litoral brasileiro, especialmente do lito-ral sudeste, é a pressão da especulação imobiliária que segue destruindo incríveis paraísos naturais, apesar da legislação que inclui reservas legais, muitas totalmente tomadas, graças à corrupção, ao descaso e à má-fé de alguns empreendedores da construção civil. em Castelhanos, há vários loteamentos que foram vendidos ilegalmente ao longo das décadas, desde o final dos anos 60. Até hoje, vez ou outra, algum grileiro aparece na praia para reclamar “suas” terras, mesmo em áreas de reserva legal, que, em geral, só são liberadas para moradores caiçaras.

Ainda assim, é muito comum a retirada pela força e as ameaças de morte não são raras. na Praia vermelha, o velho pescador Pe-dro rafael saiu da beira da praia após a construção de uma casa de veraneio. o pescador vivia na praia desde que nasceu e vinha

herdando o terreno dos seus antepassados. ele garante que nun-ca vendeu aquele pedaço de terra a ninguém. o comprador reluta argumentando ter a documentação - de origem duvidosa - e ame-aça a retirada dos caiçaras. e essa é uma profecia quase certa. o Sr. Pedro rafael, por sua vez, teve que ir ao fórum da capital para se defender. essa foi a única vez que ele saiu de perto do mar, de onde sempre tirou seu sustento, conta. Casos como esse são comuns nessa faixa do litoral. Além disso, há muitas pessoas que construíram grandes mansões à beira-mar e que acreditam terem “posse” da praia, ou seja, da faixa de areia que dá acesso ao mar; elas colocam placas de “praia particular”, o que não existe, se-gundo a legislação federal. em função da proibição desse tipo de placa, algumas usam cães bravos para espantar os visitantes do acesso público ao mar.

especuLaçãO imOBiLiária, GriLaGem e DesrespeitO à Lei

praia Da serrariaLogo pela manhã, fomos acordados pela chuva forte. Desmontamos as barracas e seguimos a trilha. Ao chegar à Serraria, fomos fortemente de-saconselhados a seguir a pé. Nenhum morador sabia o caminho até a Praia do Poço. A trilha es-tava totalmente fechada, fazia anos que ninguém se atrevia por esse lado. Caminhar por essas ban-das embaixo de um temporal, sem um GPS e uma carta topográfica, soava como uma jornada inconsequente; a partir dali, seguimos de barco. Da Praia do Poço até a Praia de Jabaquara, existe um caminho bem aberto utilizado desde a época dos grandes engenhos de pinga e açúcar, do sécu-lo 19. Até hoje, os antigos casarões das fazendas que pertenceram a famílias de posses, exibem em suas fachadas a arquitetura ostensiva dos tempos áureos. Entretanto, a maior riqueza da Ilha ainda está na natureza surpreendentemente bela.

A partir de Jabaquara, encontramos o asfalto e fechamos o ciclo em poucas horas atravessan-do o trecho urbano da Ilha de bicicleta, até o ponto de partida. Essa volta ainda não pode ser explorada como produto turístico, no entanto, discute-se a inclusão da mesma no Plano de Ma-nejo do Parque, já que a ideia é associar a pre-servação dessa riqueza incalculável ao desenvol-vimento econômico local, sem que a população tenha que extrair seus recursos naturais.

picOs DO Baepi e sãO seBastiãOUm dos principais atrativos ecoturísticos da Ilha fica no lado urbanizado. Formada por um relevo peculiar, a Ilha se destaca como uma das paisagens mais acidentadas do litoral brasileiro, desenhada por acidentes geográficos incom-paráveis, totalizando 14 grandes picos. Uma montanha que chama a atenção e que figura nos mais belos cartões-postais da cidade é o Pico do Baebi. Um enorme paredão rochoso, escarpado verticalmente e que vem à tona nos seus últimos 150 metros de parede exposta,

CaChoeira do saQuinhorecentemente descoberta, sugere que a ilha ainda tem muitos caminhos a serem desvendados

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PiCo do BaePiComposta por uma

geografia desafiadora, ilhabela apresenta

características perfeitas para a prática do

montanhismo

terra De piratasA ilha de São Sebastião, como foi batizada pelo navegador português Américo vespú-cio, em 1502, já foi refúgio de ilustres pi-ratas como Francis Drake, que se protegia na Baía de Castelhano. Com sua tripula-ção de corsários, ele atacava os galeões espanhóis que utilizavam o Atlântico Sul como rota de passagem à europa, carre-gados do ouro inca vindo do Peru. outro célebre pirata que deixou marcas por es-sas terras, foi o inglês thomaz Cavendish, que passou quatro meses escondido no arquipélago, protegido pelas águas cal-mas do Saco do Sombrio, onde planejou

um ataque ao porto de Santos. no natal de 1591, saqueou e queimou a vila de São vicente, num dos mais avassaladores ataques sofridos pelos portugueses na costa brasileira. Supõe-se que esse tesou-ro ainda esteja enterrado na ilha, já que, segundo uma das versões, Cavendish, após escondê-lo, foi enforcado pela sua própria tripulação, que se amotinou para poder desembarcar em terra firme. Após o extermínio de seu capitão, os revoltosos adotaram a ilha como sua morada. Conta-se que os olhos azuis dos caiçaras têm origem nessa primeira ocupação.

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natureza e aventuraDe desertas a badaladas, as praias de ilhabela oferecem opções de aventura para todos os gostos. no lado urbano, a capital da vela propicia opções de mergulho livre e autô-nomo, canoagem na ilha das Cabras e aulas de kitesurfe em vários trechos da orla que propicia ventos perfeitos para a atividade. Apesar das praias cênicas e bem estruturadas da vila, não deixe de seguir para o lado selvagem da ilha, onde se encontram paisagens autênticas, trilhas surpreendentes e comunidades tradicionais. Dá para seguir em uma pedalada ou em um off road de 17 km pela estrada que dá acesso a Castelhanos, ou em uma caminhada tranquila pela trilha da Ponta da Sepituba à Praia do Bonete.

diversidadeem sentido horário: kitesurfe que é favorecido pelos bons

ventos; igreja Matriz de nossa Senhora da Ajuda, no centro

da ilha; trilha off road para Castelhanos e Saco da Capela,

entre a Ponta do Paqueá e a vila, que reúne amantes da

pesca e dos esportes náuticos, além de banhistas que gostam

de uma praia mansa

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OnDe ficar

na internet

OperaDOrasCiribaí turismo de aventura www.ciribai.com(12) 3896-5202 (12) 9193-9741

Jaroslav turan (guia / Birdwatch)www.facebook.com/jaroslavturan

Caiçara turismo ilhabelawww.caicarailhabela.com.br(12) 3896-4019(12) 9603-0533

Pouso sambaquiswww.sambaquis.com.br(12) 3896-5202(12) 9193-9741

Pousada Canto Bravowww.pousadacantobravo.com.br(12) 3896-5111(12) 7815-7200

Pousada da rosawww.pousadadarosa.com

www.ilhabela.vou.la

OnDe cOmerQuiosque do alemão (Castelhanos)(12) 3894-7011

serviçOsliofoodsAlimentos liofilizados por um processo tecnológico de desidratação que man-tem a forma, a cor e o sabor original dos alimentos, diminuindo o peso e con-servando a comida em temperatura ambiente por anos.www.liofoods.com.br seguro aventura:empresa especializada em seguros para esportes e turismo de aventura.www.seguroecotrip.com.br macboot Calçados de aventura:www.macboot.com.br

ornamenta a cidade e pode ser avistado de vá-rios ângulos. Com seus imponentes 1.048 me-tros de altitude, a montanha é a mais acessível da Ilha, com trilha aberta e bem sinalizada. O desnível com mais de mil metros, entretanto, forma uma rampa interminável até o cume, exigindo muito fôlego e respeito. Começamos a subida pela madrugada para fotografarmos o alvorecer, aproveitando a melhor luz. Coloca-mos os pés na trilha às quatro da manhã e, em uma hora e quarenta, estávamos no alto do ma-jestoso pico. Era hora de esperar o sol sair para fazermos as imagens. Depois de uma hora, quando o vento frio começava a nos castigar, fomos surpreendidos pelos primeiros raios de sol, num espetáculo inesquecível. Do alto do Baepi, avistávamos o canal de São Sebastião e os escarpados picos do continente, a enseada de Caraguatatuba e, mais ao norte, o litoral de Ubatuba, numa vista belíssima.

Cercado por floresta densa no seu entorno, o Pico São Sebastião é um dos mais altos do litoral brasileiro e também um dos menos aces-síveis. Três horas de subida até o cume exigem, além de preparo físico, muita experiência. Che-

gar ao ponto culminante da Ilha, definitivamen-te, não é uma tarefa fácil. É muito comum o re-lato de pessoas perdidas por essas imediações, já que as trilhas de antigos caçadores se rami-ficam formando um verdadeiro labirinto sob a floresta primária. Entretanto, teríamos que fechar o ciclo proposto e, ainda pela manhã, atingimos o alto da rocha abaulada cercada por vegetação. Estávamos no alto. O ponto culmi-nante da Ilha foi conquistado!

-23°55'

-23°45'

-45°25'

-45°15'

N5 km

BR101

LageAreado

BarraVelha

Curral

Sepituba

Bonete Indaiaúba

Figueira

VermelhaMansaCastelhanos

GuanxumaCaveira

Poço

Jabaquara

Serraria

Enchovas

Armação

Sino

Vila

São Sebastião

Ponta daSepituba

Ponta do Boi

Enseada dasEnchovas

Baía dosCastelhanos

Ponta dasCanas

São Sebastião1379m

Baepi1048m

Lage Preta

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Perequê

Rodovias

Estradas

Trilhas

Percorrido caminhada

Percorrido bicicleta

Trecho de barco

Picos

Cachoeiras

BR101

O C E A N O

A T L Â N T I C O

SÃO PAULO

MG Rio deJaneiroBR

116

SP099

Ilhabela

Parque Estadual de Ilhabela

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Boipeba

nesse paraíso baiano“Uma ilha cercada por mar e rios. Sal misturando-se à água doce, numa terra onde o quente tempero se entrelaça à tenra sensação de viver dias de puro encantamento”

texto e fotos tom Alves

rOteirO De aventura

Esqueçado tempo

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Caminhando pela Ilha, seja nas praias, rios ou no povoado, diversas vezes um livro recentemente lido me vinha à men-te: “Um Rio Chamado Tempo, Uma

Casa Chamada Terra”, do fantástico mo-çambicano Mia Couto. Entre outros diver-sos aspectos em comum, a história também se passa numa pequena, porém exuberante ilha, de povo simples, separada do continen-te por um rio. As quase imóveis águas do Rio do Inferno, antagonicamente ao nome, inspi-ram em Boipeba muita paz. E ele bem pode-ria se chamar “Tempo” como no livro, pois uma temporada vivendo aqui nesse recanto nos dá a sensação de estarmos à margem de um período que parece ter parado.

Digamos que você está prestes a decidir seu próximo roteiro no Brasil. Dessa vez, nada de áreas serranas. Ainda assim, está predisposto a buscar um lugar calmo, onde não há carros e as pessoas se locomovem ca-minhando por trilhas ou ruas de areia. Se, além disso, a proposta é se aventurar numa região litorânea, ensolarada, de águas mor-nas, repleta de praias paradisíacas, quase de-sertas, distante das badalações noturnas, isso tudo com uma infraestrutura rústica, porém aconchegante, a resposta para suas procuras chama-se Ilha de Boipeba, na Bahia.

Talvez você nunca tenha ouvido falar nesse nome, mas provavelmente já lhe disseram so-bre uma ilha vizinha, que atrai uma infinidade

de turistas por conta de um lugarejo chamado Morro de São Paulo. Pois bem, digamos que Boipeba seja o Morro de São Paulo 20 anos atrás. Ou seja, sem o turismo em massa ou grandes e luxuosos hotéis e sem aquela longa passarela de pedestres, restaurantes, bares e lojas de souvenirs. No lugar disso, há pequenas e confortáveis pousadas, comida caseira, me-lhores preços, contato mais próximo com o povo local e muito sossego.

nO entOrnOChegando à Ilha, escolha uma pousada den-tre as dezenas existentes, para todos os gos-tos e bolsos, e esqueça o GPS. Providencie logo o excelente mapa de Boipeba, que cer-tamente vai lhe ajudar a rodar por todo canto sem maiores dificuldades.

Além da vila de Velha Boipeba, existem ali outras duas: Moreré e Cova da Onça. Ambas pequeninas aldeias de pescadores. Há cam-pings e algumas poucas pousadas em Moreré. Não deixe de conhecer a homônima praia e suas piscinas naturais, perfeitas para mergu-lho e observação da rica vida marinha.

Esta vila pode ser acessada a partir de Boi-peba através de uma caminhada de aproxi-madamente uma hora, por trator ou via bar-co, em um percurso de 30 minutos.

Já para a Cova da Onça, a dica é o trekking de seis horas (ida e volta) pelo meio da Ilha, passando por trechos de Mata Atlântica,

Praia da CueiraÀ esquerda, na baixa temporada, apenas a população local, banhando-se ou batendo uma bola. no verão, é o point dos surfistas; à direita, passeio de caiaque no rio do inferno

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campos, pomares de cajueiros, mangueiras, jaqueiras e mangabeiras, além das constantes nascentes. No caminho, vale muito a refres-cante parada para descanso e banho no lago do Serrão Grande.

Na vila, que só possui uma pousada e um restaurante, o destaque fica por conta da Igreja de São Sebastião, construída no século 17, e da arquitetura colorida do casario. Por se localizar perto da foz de alguns rios, suas praias recebem muita lama dos manguezais e não são as mais indicadas para um banho. Em compensação, a Ponta dos Castelhanos, uma praia deserta e sem estrutura, guarda no fundo de suas límpidas águas o navio francês Bearn, naufragado em 1865.

aventura para tODOs Os GOstOsNa saída da vila de Boipeba, logo se avista a Boca da Barra, confluência entre os rios Grande e do Inferno, com o mar aberto. Lá, há quiosques com boa estrutura e oferta de passeios de barco por toda a região. O local é muito bonito, com vista para a Ilha de Tinha-ré e seus incontáveis coqueiros, sobretudo ao fim das tardes, onde o pôr do sol cria um espetáculo multicor.

A Praia da Boca da Barra é bem extensa e de um mar infinitamente azul. Alguns mi-nutos de caminhanda na exuberante mata levam à Praia de Tassimirim. Na sequên-cia, a Praia da Cueira, com seu inconfun-dível alinhamento de coqueiros em quase dois quilômetros, é o point dos surfistas. Se essa não for a sua tribo, mas quiser se ar-riscar, é só tomar umas aulas com os nati-vos e entrar na onda. No verão, também é bastante comum encontrar praticantes do kitesurfe por ali.

mergulhorica vida marinha em um dos 13 pontos de

mergulho da região

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Para os que são mais fãs de verticalizar, e, como eu, até mesmo viajando para praia insistem em levar as sapatilhas e o pó de magnésio na mochila, fiquem atentos: ane-xo à Cueira, há um grande bloco onde é possível se divertir com diversos problemas de boulder.

Na praia, a única barraca pertence ao carismático Guido, figura de fama interna-cional por sua magnífica lagosta preparada a lenha, bem diante dos clientes. Parada obrigatória! Enquanto você aguarda pelo almoço, o anfitrião não perde a chance de contar “causos” variados, principalmente de suas peripécias e aventuras em tempos de mocidade pela ilha.

A Cueira também dá acesso a Moreré, onde é possível atravessar o Rio Oritibe com água abaixo da cintura na maré baixa, ou pode-se retornar por uma trilha mais curta à Velha Boipeba, pelo interior da ilha.

Já para os amantes do mergulho, uma ótima notícia: existem 13 pontos na região de altíssima qualidade para a atividade, in-cluindo naufrágios e barreiras de corais. As profundidades médias variam entre 8 e 25 metros, sendo que, entre os meses de outu-bro a março, a visibilidade é melhor.

Como se vê, ou melhor, se lê, as opções para se aventurar não são poucas. Um pas-seio de caiaque pelo Rio do Inferno propi-cia um contato próximo com a riqueza dos manguezais e seus silenciosos morado-

tassimirimA bela praia é acessada

por caminhada de 30 minutos desde a vila de

velha Boipeba

guido e as lagostasSimpatia e fama

internacionais, na Praia da Cueira

“Por mais distanteO errante, o naveganteQuem jamais te esqueceria”Caetano Veloso

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res, como a ostra, o aratu, o caranguejo-uçá, o pitu, o guaiamum e o teredo.

Existem também trilhas menos frequenta-das, que levam a lugares belíssimos, como o caminho do Serrão até a Cachoeirinha, numa caminhada de duas horas. De lá, parte uma trilha sob densa Mata Atlântica, com dura-ção de aproximadamente 3h30 até a Cova da Onça. No meio do percurso, o caminhante atravessa alguns riachos e nascentes.

Outra dica é andar pelas praias até Moreré e,

a partir de lá, iniciar uma sequência de altera-ções de caminhos e vegetações, como trilhas em mangues, entre coqueiros, matas fechadas, mais alguns trechos de praias e plantações de cacau até o fim da Praia do Bainema, ou mesmo até a Ponta dos Castelhanos, após cruzar de canoa o Rio Catu. Será um longo e intenso dia, mas os esforços se pagarão pelos encantos do percurso.

Apesar da constante areia por toda a parte, ainda dá para encarar um pedal na travessia Boipeba-Morro de São Paulo,

CanoasPescadores

voltando à ilha após dia de mar

rOteirO De aventura

“Quem vem pra beira do mar, aiNunca mais quer voltar, ai”Dorival Caymmi

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passando pela Vila de Garapuá, outro te-souro quase desconhecido por esse litoral baiano. Programe-se para iniciar na maré baixa, pois o trajeto é todo por praias semi-desertas. Aconselha-se para esses passeios a contratação de guias locais, que conhe-cem bem todas as trilhas e detalhes sobre o comportamento das marés, além dos pon-tos ideais para se realizar travessia de rios. Para quem estava em busca de natureza e aventura, não há como se decepcionar.

cOmO cheGar

OnDe ficar

na internet

de aviãoDepois de pegar um voo de 25 minutos do aeroporto de Salvador até tinharé, é só atravessar o rio em poucos minutos.

de Ferry BoatSão 50 minutos até Bom Despacho, na ilha de itaparica, depois duas horas de ônibus até valença e lancha rápida (uma hora) ou barco mais ônibus (3 horas) até a ilha.

A última opção, apesar de mais demorada, é recomendada para aqueles que dispõem de mais tempo e, como eu, curtem “viajar na viagem”, pois os locais percorridos são incríveis, com estradas de terra, rios, manguezais e povoados ribeirinhos.

Pousada Caminho de Pedraswww.pousadacaminhodepedras.com.br(75) 3653-6168 rua Barbarino gomes, 12 – Centrovila de velha Boipeba

www.boipeba.vou.la

Ponta dos Castelhanos

Boca da Barra

Praia do Bainema

Praia da Cueira

Praia de Tassimirim

Cova da Onça

Moreré

Velha Boipeba

BR324

Salvador

Ilha de Itaparica

Valença

Ilha de Boipeba

Ilha de Tinharé

O C E A NO

AT

NT

I CO

BR324

B R A S I L

Bahia

Serrão Grande

Rio Catu

Rio do Inferno

Rio Grande

Rio Oritibe

Ilha do Rato Coroa Grande

Ilha de boipeba Piscinas Naturais

2 kmN

RodoviasCidadesVilas

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Japão

Na terra do

aventura em famíLia

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sol NasceNteEm uma terra em que as tradições se misturam à modernidade, Jonas Medeiros levou a filha para conhecer a história de seus ancestrais em meio a incríveis atrações culturais e cenários deslumbrantes, incluindo vulcões ativos como o Monte Fuji, a mais alta montanha do Japão texto e fotos Jonas Medeiros

Na terra do

myiaJimaPôr do sol na terra do sol

nascente. As águas da baía na maré alta dão a impressão que o torii

está flutuando. A ilha tem santuários, bela natureza e

vale a visita

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- Júlia, o que acha de irmos para o Japão quando você fizer 15 anos? - Nossa, pai! - Só que a gente vai aproveitar e subir o Monte Fuji como fez a “baa-dian” (avó em japonês, mas no caso, bisavó). Tudo bem?- E eu tenho alternativa? (sorrindo)- Ficar em uma pousada me esperando sozinha não rola, não é? Desistir na metade também não dá. Então nós va-mos direto pro cume! Temos que treinar um pouco, fechado?- Fechado! Ai ai ai...

alguns anos depois desta conversa, lá está-vamos nós. Eu e Júlia assistindo o espetá-culo do astro-rei na Terra do Sol Nascen-te, no topo do Fuji-san, como a montanha

mais alta do Japão é respeitosamente chamada pelos japoneses.

Como bom nordestino, eu sou tão japonês quanto Zé Ramalho ou Jackson do Pandeiro

e nunca tive contato direto com japoneses até vir estudar em São Paulo. Minha ligação se estreitaria ao longo dos meus anos de USP, quando fiz amizade com estudantes descen-dentes. Acabei me casando com uma nissei (filha de japoneses) com quem tive a Júlia.

Desde que ela nasceu, viajar foi uma prazerosa rotina em nossas vidas. Meu pai me ensinou que viajar é a maneira mais rápida e eficiente de aprender e fiz ques-tão de demonstrar como isso poderia ser divertido e enriquecedor para ela. Mas foi somente nos últimos anos que resolvemos conhecer lugares inusitados, em países di-ferentes. Nenhum lugar que conhecemos até hoje, contudo, foi tão incrível como o Japão. Não só pelo caráter exótico, luga-res e pessoas inesquecíveis que encontra-mos, mas, principalmente, pelo significa-do da experiência em nossas vidas.

tÓQuioo passeio de barco

pelo rio Sumida em tóquio permite

viajar no tempo através do que existe de mais

moderno e antigo na metrópole

aventura em famíLia

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Concluimos uma longa travessia na qual fiz questão de vivenciar um pouco os costumes e ver de perto locais que, de fato, represen-tassem o país. Entramos em contato com famílias e conhecemos gente muito interes-sante, apesar das dificuldades da língua. De-pois de um mês, dezenas de trens de todos os tamanhos e velocidades, longas caminhadas, muitas subidas e descidas, horas pesquisando mapas e consultas intermináveis ao glossário de frases e termos que preparamos... eis um breve relato da história que vivemos.

a cheGaDaChegar nos fez perder o fôlego. Não parecia ser algo concreto, real. Uma empolgação qua-se infantil roubou nossa atenção. Trens rápi-dos e limpíssimos, estações enormes, pessoas apressadas como em toda cidade grande, em-bora certo silêncio predominasse. Mesmo nas

ruas e restaurantes, falar baixo, demonstrar paciência e respeito parecia ser uma regra co-mum. Come-se muito bem na capital e apren-de-se rapidamente a se locomover de metrô, de trem e a pé. A sensação de segurança deixa o visitante muito à vontade. Nos pareceu es-tranho, por outro lado, a restrição de funcio-namento dos elevadores e a luzes apagadas do bairro de Ginza, conhecido justamente pelos neons. Um sinal claro dos problemas recen-tes ocorridos em Fukushima e que quase me fez desistir de tudo. Tóquio tem bairros com características bem distintas. Ginza é de luzes e grifes, Akihabara de eletrônicos, Harajuku dos jovens e suas tribos; tudo se traduz em uma mistura única de modernidade e tradi-ção. Para encerrar, dois passeios imperdíveis: mercado de peixe Tsukiji, tido como o maior do mundo, e a navegação pelo Rio Sumida, cortando a cidade.

ParQue uenoPagode de cinco

andares do século 17, no Parque ueno, em tóquio. o Parque

é um oásis verde com museus e um templo

no meio da cidade

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O mOnte fujiDe Tóquio, seguimos para Yokohama e Hakone, em um trajeto de trem e ônibus, incluindo muita mímica e mapas para encontrar nosso primeiro ryokan, uma pousada tradicional com direito a dormir no chão coberto com tatame e futon, vestir yukata - quimono comum de verão - e banhar-se em onsen, águas termais das regiões vulcânicas do país. Como se acostumar com isso tudo em 24 horas?! Siga os passos de um japonês e reprodu-za discretamente cada gesto com atenção. Foi em Hakone que visitamos pela primeira vez na vida um vulcão em atividade e onde comi o delicioso tonkatsu, uma costeleta de porco frita e empanada, muito popular no Japão.

O descanso e a boa alimentação, já a certa alti-tude, foram nossa preparação para a longa subida do Monte Fuji. Embora chegar ao cume não fos-se o objetivo principal da viagem, aquilo tinha se tornado algo importante para nós dois.

Eu havia decidido subir pela rota Fuji-Yoshida, a mais tradicional de todas. O Fuji fica aberto ao público pouco mais de um mês durante o verão. O ideal é subir as encostas íngremes na montanha depois da segunda quinzena de julho, para evitar a estação das chuvas. Um polonês que estava ali pela terceira vez nos contou ser bem difícil equi-

monte FuJilogo após o amanhecer,

trekkers se reúnem próximo a cratera

do Monte Fuji. A montanha é aberta a visitação apenas

no verão japonês

senso-JiPortão hozo-mon no templo de

Senso-ji, um complexo espetacular criado depois que dois pescadores

encontraram, no ano 628, a estátua da deusa budista da misericórdia, Kannon, no rio Sumida. o templo resistiu ao

terremoto que arrasou tóquio em 1923, mas não aos bombardeios

da Segunda guerra Mundial

aventura em famíLia

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“Não seja escravo do seu passado. Mergulhe em mares grandiosos, vá bem fundo, nade até bem longe e voltará com respeito por si mesmo, com um novo vigor, com uma experiência a mais que explicará e superará a anterior”. (RW Emerson)

librar-se sobre as rochas molhadas do caminho. Isso para não falar do frio que poderia atingir zero grau. Considerando o contexto, tomei a decisão de subir em dois estágios, dormindo algumas ho-ras em um dos abrigos do 8° estágio e não atacar a montanha diretamente, como havíamos progra-mado inicialmente.

É possível subir o Fuji desde a base, mas é preciso estar muito bem preparado fisicamen-te. Neste caso, entre a subida e a descida, seria mais de um dia. O mais comum é a partir do 5° estágio, e foi o que fizemos. A trilha é bem demarcada e a maior parte tem proteção de cordas, o que contribui para a segurança dos

trekkers, principalmente à noite.Até os 2.400 metros, o terreno é arenoso e ma-

cio e ainda há vegetação. À medida que nos apro-ximamos dos 3.000 metros, a vegetação torna-se rala e o solo rochoso. As rochas e pedregulhos do caminho parecem escória. Tivemos muita sorte. O céu azul se revezava com as nuvens que pas-savam rápidas nas encostas íngremes. Por várias vezes, voltei meu olhar para as cidades que apare-ciam distantes lá embaixo.

Chegamos no abrigo ao entardecer, por volta das 18h30. Dormimos depois do jantar e acordamos com a maioria dos japoneses, à meia-noite. Meia hora depois, já estáva-

vulCão adormeCidoo nascer do sol na cratera do

Monte Fuji é inesquecível. o Fuji era considerado sagrado

e somente sacerdotes podiam subi-lo. A montanha

mais alta do Japão é também um vulcão adormecido, mas

nem sempre foi assim

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mos de saída com as lanternas instaladas na cabeça e com todas as proteções contra o frio que havíamos trazido. A temperatura baixara para 5°C, mas não ventava muito, nem chovia. Bom sinal.

A subida à noite no Fuji é tradicional e mui-to bonita. O vapor da respiração ofegante se confunde com a neblina. A trilha fica ilumina-da pelas lanternas que se movem lentamente. Aquela foi uma das coisas mais lindas que vi na vida e ficará para sempre gravada em mi-nha memória. Júlia disparou na frente e pare-cia não sentir a altitude. Pensei satisfeito: “não é que os treinos funcionaram?!”.

Chegamos à cratera do Fuji pouco depois das 4h da manhã e ficamos aguardando o sol se mostrar na camada espessa de nuvens que se estendia até o horizonte. O primeiro raio surgiu como uma flecha cruzando o céu e reinou um silêncio absoluto, quebrado apenas por aplau-sos tímidos. A temperatura era de zero grau e o vento, congelante. Pouco tempo depois, o sol já nos aquecia e seguimos para o cume, onde fica uma estação meteorológica.

Após nos desviarmos, por descuido, da trilha principal e com os joelhos doloridos, voltamos ao 5° estágio em torno do meio-dia, quase um dia depois de nossa partida, com a certeza de termos vivido um dia inesquecível em nossas vidas.

trilha do naKasendoA linda trilha no vale do Rio Kiso fica no interior do Japão e ao longo dela pode-se visitar pequenas vilas de artesões, preservadas desde a era edo (1600-1850). A região tem florestas de ciprestes, árvores centenárias muito altas onde habitam ursos

aventura em famíLia

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Japan TourNos dias seguintes, continuamos a explorar a Ter-ra do Sol Nascente com afinco. Depois de des-cer da montanha, descansamos à beira do Lago Kawaguchi-ko, um dos cinco que rodeiam o Fuji e banha um lugarejo que é uma graça, organizado e cheio de parques e flores do verão. Em segui-da, seguimos nossa jornada, por uma região onde avistar um ser humano era raro.

No Vale do Rio Kiso, visitamos dois lugares incríveis: Magome e Tsumago. É entre estas duas vilas, encravadas por florestas da monta-nha, que fica uma parte da linda trilha de Naka-sendo, uma rota milenar de um Japão distante no tempo e na geografia. Lá, encaramos mais 10 km de subidas e descidas, florestas centená-rias de ciprestes, rios com corredeiras e cam-pos de arroz.

Caminhamos no sentido de Tsumago para encontrar o local mais próximo do Japão dos tempos medievais. O lugarejo parece ter parado no tempo. Os residentes vivem basicamente do artesanato e do comércio. Visitamos a lojinha de uma família que se dedicava à fabricação de hashi, as famosas varetinhas orientais usadas para

comer. Depois de passar por ali, pensei: “quando eu cansar da vida lá no Brasil, venho viver de fazer hashi aqui nas montanhas do Vale do Rio Kiso”.

Quioto passou a ocupar o posto de “ci-dade mais fantástica que visitei”, junto a Jerusalém. Se você quiser ter uma ideia do que foi e do que é o Japão, vai precisar ficar pelo menos uns dias por lá. A cidade man-tém preservados monumentos históricos impressionantes, mas é também moderna e cheia de vida. Tendo sido a capital do país, reserva dois lugares únicos: o Castelo Nijo e o Santuário Fushimi Inari. O Nijo foi resi-dência do shogun (chefe militar que chegou a se constituir em governante de fato de todo o país, embora teoricamente o Imperador fosse o legítimo governante e há 500 anos e é inteiramente preservado. O visitante pode entrar, ver a magnífica decoração do interior e observar de perto detalhes de como vivia um dos governantes da região. No Fushimi, existem as famosas avenidas de torii. Os tradi-cionais portais japoneses estão por toda par-te, mas ali formam avenidas inteiras, que se estendem por milhares de metros.

Quiotoem sentido horário: avenida de torii no santuário de Fushimi, um dos principais cartões-postais do país. os toriis são doados ano após ano por homens de negócios bem sucedidos; Maiko em traje típico de verão. A tradicional cidade possui a pavimentação típica de pedra que é mantida há centenas de anos; flores no nishiki ishiba Market de 400 anos; santuário decorado com lanternas na época do gion Matsuri (festival) no distrito de mesmo nome

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Na viagem, ainda aprendi que Hiroshima guar-da muito mais do que as trágicas lembranças da bomba atômica. Seus habitantes andam muito de bicicleta e a cidade tem lindos parques floridos e bem cuidados. Lá, vale a pena provar o delicioso sorvete da cidade e comer okonomiyaki, um prato típico local preparado com uma panqueca e fru-tos do mar.

Próximo a Hiroshima, chegamos a Miyajima, uma ilha sem ligação física com a principal. Visita-mos o santuário de Itsukushima fundado em 593 e em perfeito estado de preservação. O famoso torii flutuante repousa solenemente nas águas da baía de Miyajima e o pôr do sol ali é uma das coisas mais belas de se ver no Japão.

Já na Ilha do Norte, Hokkaido, é possível se surpreender com os quatro mil restaurantes que existem no distrito de Susukino, na moderna Sapporo, ou se deslumbrar com as paisagens do Parque Nacional de Akan. Lá, os lagos de altitude formam-se nas antigas crateras de vulcões extin-tos. Nas redondezas das montanhas existem on-sens por todos os cantos, com águas termais que chegam a 65°C. Entretanto, esta região é muito fria no inverno e a temperatura chega a 20°C ne-gativos, com dias de sol que duram apenas três horas. Os lagos congelam completamente e vi-ram um atrativo especial no inverno.

na memóriaPara registrar estes momentos incríveis, foto-grafei muito e escrevi muito também. Escrevi na cadernetinha da Júlia – que comprei na Patagônia – e no notebook, nas estações e nos trens do Japão. Nas madrugadas, deitado nos tatames dos ryocans. É difícil encontrar tempo em uma situação como esta, mas eu queria que as memórias durassem a vida inteira.

Esta viagem fechou um ciclo de cinco anos de exploração, durante o qual eu e minha filha aprendemos a entender um pouco melhor o mundo onde vivemos e, sem querer, acaba-mos mesmo foi aprendendo a nos conhecer melhor, compreender um pouco melhor nos-sas diferenças e semelhanças. Este aprendizado levaremos juntos para sempre.

Tóquio

Monte Fuji3776m

Asahikawa

Quioto

Himeji

Magome

Sapporo

Hokkaido

Hiroshima

O C E A N O P A C Í F I C O

M A R D O J A

P ÃO

Japão

N200 km

Rio Ki

so

RodoviasAcidente geográ�co

ásia

O C E A N OÍ N D I C O

O C E A N OP A C Í F I C O

perfiL

Júlia hara medeiros, 15 anos. A pronúncia do nome japonês hara, por ser idêntica à da palavra “rara”, me rende muitas piadas sem graça. eu vivo para ler, prin-cipalmente livros bobos e românticos. ouço música alternativa, de Mika a My Chemical romance. Adoro qualquer coisa relacionada ao Japão (com exceção da caça às baleias, mas eles já estão parando com isso, certo?), o que fez essa viagem mil vezes mais interes-sante. vegetariana. Preguiçosa. Feliz.

Jonas medeiros, 47 anos. Sou engenheiro de pro-fissão, viajante apaixonado e aspirante a fotógrafo. Adoro fazer caminhadas e travessias de bicicleta. Prefiro preparar meus próprios roteiros para ter au-tonomia de seguir e ficar com liberdade. Sou curio-so, gosto de conhecer lugares diferentes, mas o que me fascina é conhecer pessoas, suas histórias de vida e experiências. talvez um dia escreva mais sobre isso. o que mais me orgulho de ter feito até hoje? Minha Júlia, a peça rara aí acima.

aventura em famíLia

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DestinO internaciOnaL

gigantes de Pedraruínas do Colosso de Memnon, na antiga

tebas. As estátuas eram entendidas como guardiãs

do templo funerário do faraó Amenófis III

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Egito

Aventura faraônica

As pirâmides, os hieroglifos e as estátuas nas cidades às margens do lendário Nilo contam uma história de mais de cinco mil anos. Apreciar encantadores de serpentes, sentir o aroma dos mercados, caminhar pelo deserto e subir o Monte Sinai antes de mergulhar no exuberante Mar Vermelho faz parte da fascinante jornada de desvendar os segredos de uma das mais importantes civilizações da história

texto e fotos Daniele Pinna e leonardo Pinheiro

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um destino intrigante, especialmente para nós, que, como arquitetos, ouvimos tanto tempo os relatos sobre a engenhosidade das fasci-nantes pirâmides, o Egito conta a história de

uma das maiores civilizações da antiguidade, cujo legado é guardado por uma moderna nação ára-be. Um roteiro, no mínimo, surpreendente.

Para começar, sua geografia se revela um tan-to peculiar. O Delta do Nilo concentra a caóti-ca cidade do Cairo, a emblemática Alexandria e outras cidades junto à costa, além de uma faixa verde dos dois lados do Rio. O restante é deserto desabitado, com poucos oásis salpicados. O im-pressionante é imaginar como nesse país tão seco, com apenas 5% de suas terras cultiváveis, pode ter sobrevivido uma civilização tão rica, cujo legado faz do Egito um dos mais importantes destinos turísticos do mundo.

Um roteiro clássico pelo país começa no in-crível Complexo de Gizé e nos templos do sul, que podem ser visitados através de um popular cruzeiro pelo Rio Nilo, mas querí-

amos montar um roteiro autêntico, que nos propiciasse liberdade e originalidade para explorar a região, o que só conseguimos de-pois de muita insistência nas agências.

cairOPorta de entrada do país, a cidade do Cairo os-tenta um dos mais impressionantes museus do planeta, repleto de múmias, sarcófagos, escul-turas e outras preciosidades, além de sediar o cobiçado Platô de Gizé.

Além do Museu do Cairo e das pirâmides, uma das principais marcas da capital é o trân-sito caótico e barulhento em ruas compartilha-das por camelos, motos, bicicletas, transeuntes, cabras, vendedores, ônibus e vans. Apesar do caos, todos se entendem. Andar de carro, por ali, ainda assim, é uma verdadeira aventura.

Tudo na cidade é marcado pelo sincretismo e pelos contrastes, seja no trânsito, no encon-tro de passado e presente, de dialetos e línguas faladas pelos turistas, de diferentes referências

aventura egíPCiaDaniele e leonardo em

um tradicional passeio de camelo pelo Platô de gizé

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DestinO internaciOnaL

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sagradas. Do alto da cidade, ficamos surpresos com um número incontável de luzes verdes apontando para o céu. Mais tarde, descobri-mos tratar-se das mesquitas espalhadas pela ca-pital. Os muçulmanos são a grande maioria no Egito (aproximadamente 90% da população) e têm se tornado comuns os conflitos destes com a minoria cristã (9%). As mesquitas são verda-deiras obras arquitetônicas, o que prova que, desde milênios passados até os dias de hoje, o povo egípcio é movido por suas crenças e, em nome delas, construiu verdadeiras maravilhas.

Próximo ao centro da cidade está o Platô de Gizé, com as grandes pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, e a famosa Esfinge. As obras são um atestado da força e riqueza de épocas passadas. A visita ao Complexo pode ser feita em um dia. Durante as noites, são exibidos shows de luzes e sons que contam a história do local. O caminho até a câmara do rei na Grande Pirâmide pode ser um tanto claustrofóbico, principalmente se estiver cheio,

mas ainda assim, vale a experiência. A Cidade-la de Saladino é uma fortaleza construída por este sultão famoso por conquistar Jerusalém dos cristãos, na época das cruzadas. Muitas das pedras e materiais utilizados ali foram retirados da região de Gizé. No Museu Egípcio, entre as alas imperdíveis estão a do faraó Tutancâ-mon e a sala das múmias reais.

Um atrativo típico da cidade é o agitado mer-cado de Khan El-Khalili, onde se pode absor-ver o aroma e observar cores de especiarias, frutas e tecidos, além de pechinchar souvenirs, mas vá preparado para enfrentar os vendedores “agressivos” do tipo que não aceitam um “não” como resposta. Tenha em mente que negociar é uma arte para eles e se a sua intenção for de fazer compras, nunca aceite o primeiro preço.

Para mergulhar na cultura do país também vale experimentar o famoso café egípcio, em um bar tradicional. O sabor é forte demais e pode não agradar a muitos, mas caminhar en-tre as vielas cheias de tendas, onde é ser-

entre PirÂmides, Camelos e torresem sentido horário: abaixo, a esfinge e a pirâmide de Quéfren, em gizé; camelos enfeitados para passeios pelo Complexo de gizé; vista de um minarete a partir de uma viela do mercado Khan el-Khalili

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vida a bebida, certamente lhe dará uma bela visão sobre os costumes deste povo.

Outra pedida é dar uma esticada até o sítio arqueológico Saqquara, que funcionou como necrópole da cidade de Mênfis, antiga capital do Egito, que guarda o famoso Colosso de Ramsés II, com 13 metros de comprimen-to. Em Saqquara, conhecida como a cidade dos mortos, situa-se a primeira pirâmide do mundo: Djoser, de 2.650 a. C. Vale a pena combinar a visita às duas em um mesmo dia.

DesertOsNem só de pirâmides, porém, vive o Egito. Depois de um mergulho histórico na capital e no entorno, uma boa excursão pelo deser-to revela, além de dunas, áreas pedregosas e

distintas entre si. Desde o Cairo até o oásis de Farafra, no Deserto Líbio, são muitos quilô-metros de estradas retas que passam por uma antiga área de vulcões extintos - o Deserto Negro, assim chamado devido à presença do basalto (rocha vulcânica de cor negra). Mais alguns quilômetros e tudo se torna claro em um conjunto de formações calcárias que sur-gem a sua frente: o Deserto Branco.

Muitas empresas oferecem tours pelos desertos, inclusive com direito a campings, mas caso você não esteja interessado em enfrentar o frio das noites por ali, pode optar por um jantar sob a luz das estrelas e voltar para um hotel no oásis, desfrutando de uma noite aquecida em um quarto com perfume de gerânios.

monumentosvista panorâmica das

grandes pirâmides e das pirâmides das rainhas

DestinO internaciOnaL

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LuxOrNa cidade de Luxor, que pode ser alcançada depois de uma hora de voo a partir do Cairo, mergulhamos novamente nas histórias dos fa-raós. O sul do Egito é bem menos agitado e extremamente interessante. São muitas as atra-ções nessa região, mas é imperdível a visita ao Vale dos Reis e das Rainhas, onde é possível visitar várias tumbas reais e apreciar a nitidez das pinturas que contam as histórias das pes-soas sepultadas ali, além de conferir, de perto, os encantos dos Templos de Luxor e Karnak.

Nas ruas das cidades, não é difícil encontrar um encantador de serpentes que, geralmente, convence os mais ousados a colocar uma cobra em seu pescoço, ou lojas que vendem o clás-sico narguilé. Para entrar no clima, ainda vale

comprar os típicos óleos e essências, já que os egípcios são famosos pela aromaterapia. Den-tre os mais conhecidos, está a mirra. Algumas casas especializadas oferecem massagens gra-tuitamente. Outro souvenir comum por ali são os papiros, onde os antigos egípcios registra-vam suas histórias. Além de apreciar a peculiar movimentação pelas ruas e o comércio local, não dispense o passeio de felucca (típico barco de madeira) pelo Rio Nilo.

De Luxor, existe também a possibilidade de seguir em cruzeiro pelo Rio Nilo chegando em Assuã e, de lá, seguir para Abu Simbel, em ou-tro cruzeiro até o lago Nasser, onde se encontra o monumento construído pelo mais poderoso faraó egípcio: Ramsés II. O líder encomendou a mais caprichada obra de todo o país, da-

histÓriaDa esquerda para direita: cabeças de serpentes em Saqquara; cerâmicas vendidas em várias lojas por todo o egito; templo de luxor, um monumento construído durante vários períodos da história

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tada do século 13 a.C. São dois templos cuida-dosamente escavados na rocha, um dedicado a si próprio, com Ramsés considerando-se um deus, e o outro dedicado a sua esposa prefe-rida, a rainha Nefertari. Para quem não tem problema com longas viagens, há a chance de se chegar até lá de carro em um comboio pelo deserto, uma verdadeira maratona. O sul do Egito é bem menos agitado e extremamente interessante. A partir da cidade de Luxor, vale seguir em um cruzeiro até Assuã e conhecer os muitos templos nestas duas cidades e em outras onde os navios fazem paradas como Edfreo e Kom Ombo, ambas lindas.

A viagem de carro desde Assuã até Abu Aimbel é puramente deserto sem paradas interessantes.

aLexanDriaA oeste do país, encontra-se o oásis de Siwa, onde Alexandre, o Grande, foi reconhecido faraó. Ele fundaria no delta do Nilo, já no Mar Mediterrâneo, a cidade de Alexandria, onde maravilhas da antiguidade como o farol e a mítica biblioteca legaram fama e quase ne-nhum vestígio material.

A cidade é uma boa pedida e um desfecho interessante para quem estiver disposto a ex-plorar o país do extremo norte ao extremo sul. A região foi palco de um dos trágicos ro-mances mais famosos da história: Cleópatra e Marco Antônio.

Por essa conta, caminhar pelas ruas de Alexandria é mergulhar em histórias fantás-ticas. A velha biblioteca, que foi a maior e mais importante do mundo, sofreu uma série de incêndios e se perdeu, mas, atualmente, é possível visitar a nova biblioteca que tem a pretensão de ser tão grande e magnânima quanto a anterior.

Dentre outros locais interessantes para se visitar, estão as Catacumbas de Kom el Sho-qafa e os muitos palácios que existem por lá. Vale destacar o Montazah e seus jardins,

O Delta do Nilo concentra a caótica cidade do Cairo, a emblemática Alexandria e outras cidades junto à costa, além de uma faixa verde dos dois lados do rio

temPlouma das quatro grandes

estátuas de ramsés ii, no templo em Abu Simbel; abaixo, festa

à fantasia durante um cruzeiro no nilo

DestinO internaciOnaL

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jkudebitemacl

PasseioFelucca, tradicional

barco feito de madeira, navegando

pelo rio nilo

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sem dúvida uma bela caminhada. No El Sala-mlek Palace, são oferecidos serviços de hote-laria e restaurante.

mOnte sinaiO emblemático Monte Sinai é outro atrativo que mexe com o imaginário dos visitantes e que não podíamos deixar fora do nosso roteiro. Não resis-timos à ideia de uma bela caminhada pelas mon-tanhas do Sinai, antes de mergulharmos nas águas do Mar Vermelho.

Graças ao nosso gosto pelas estradas, seguimos do Cairo para o Sinai de carro, mas se você quiser ganhar tempo, pode ir de avião. O Monte Sinai é, para muitos, um lugar de peregrinação. Segundo o Velho Testamento bíblico, esse seria o local sa-grado onde Moisés recebeu a Tábua das Leis - os Dez Mandamentos. Existe um caminho entre as

rochas que vai desde o Monastério de Santa Cata-rina até o topo. Muitas agências oferecem um ser-viço guiado em que se sai de madrugada e fica-se aguardando o nascer do sol. A jornada é exigente e inclui uma escadaria encravada na montanha com quase quatro mil degraus que costumam ser vencidos em três horas, mas a descida é mais sua-ve, feita por outra estrada.

O Egito, definitivamente, é um lugar para se surpreender. Além de um recanto considerado sagrado, o Deserto do Sinai reserva um paraíso à beira-mar que pode ser acessado de carro: Sharm al-Sheikh. Não é difícil encontrar um bom hotel perto do mar com muito conforto e opções de serviços. De lá, a pedida é partir para um deslum-brante mergulho autônomo no Ras Muhammad National Park, onde se pode contemplar uma das mais ricas biodiversidades marinhas do mun-

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DestinO internaciOnaL

Paraíso de Pedra

Pedras empilhadas no Monte Sinai,

região considerada sagrada

orlaÁguas cristalinas do

Mar vermelho

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do nas águas extremamente azuis do Mar Verme-lho, que recebe esse nome por conta de bactérias presentes na superfície que, em algumas épocas, deixam a água avermelhada. Para quem não é certificado, o plano B é alugar snorkel e pés de pato para ver a barreira de corais que segue pela costa. Peixes de todas as cores bailam no ritmo das correntezas e conferem um aspecto vibrante a essas águas.

À noite, há serviços de aluguéis de barcos com jantar a bordo, além de muitos restaurantes com culinárias de vários países africanos e in-ternacionais. Para quem chegou de carro, a dica é voltar de avião! Assim, completamos um circuito de norte a sul, de leste a oeste, sem deixar de nos encantar em cada nova parada. Você pode crescer lendo e ouvindo histórias sobre os mistérios deste povo, mas nada se comparará à experiência de ver, sentir, ouvir e pisar com seus próprios pés cada maravilha que este país lhe reserva.

OnDe ficar

OperaDOra

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sOBre Os autOresdaniele evaristo Pinnanascida na cidade mi-neira de Santos Dumont, em 1980, é formada em Arquitetura e apaixonada por viagens, artes, música, natureza e trilhas. “o egito representou uma experiência única recheada de sabores e cenários.”

leonardo dantas Pinheironasceu na cidade do rio de Janeiro, em 1980, e também é formado em Arquitetura. tem forte apre-ço pela fotografia e pelas artes gráficas. “Viajar pelo egito me possibilitou apreciar sob vários ângulos a história desse país curioso”.

épOca para iro primeiro cuidado que se deve tomar no plane-jamento de uma viagem no país é com a escolha da estação. no inverno, as temperaturas são agra-dáveis, com exceção das noites nos desertos, que são bem frias. Se for no verão, esteja preparado para caminhar sob um sol escaldante e enfrentar um clima árido. na primavera, ocorrem as famosas tempestades de areia.

Quem gosta de comida árabe terá mais um ótimo motivo para ir ao egito. embora muitos dos pratos encontrados por lá também possam ser apreciados em outros países árabes, vale lembrar que no egito você estará comendo de frente para as pirâmides, para o rio nilo ou para algum templo gigantesco; vale a ressalva para o pão que, na maioria dos res-taurantes, sai quentinho do forno para seu prato e é diferente de todos os outros. existem muitas frutas à venda por toda parte, casas de sucos naturais e tâmaras frescas. Muitas pessoas chegam ao país com receio em relação à comida, mas é só fazer uma boa seleção de restaurantes.

GastrOnOmia

Dicasroupasvale tomar alguns cuidados com relação à vesti-menta, principalmente as mulheres. não convém usar decotes, saias ou shorts curtos.Febre amarelaO Cetificado Internacional de Vacinação Contra Fe-bre Amarela é exigido na entrada do país.ÁguaBeba somente água mineral de garrafa e confira se o lacre está ok.

N150 km

32° 36°28°

28°

32°

24°

Cairo

Monte Sinai2285m

Luxor

Sharm

el Sheikh

Edfu

Kom Ombo

Assuã

Abusimbel

Saqqara

Alexandria

egito

Israel

sudão

líbia

jordânia

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o Nilo

M A R M E D I T E R R Â N E O

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