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06/04/2011 1 A Urbanização no Brasil: o processo geral UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL (AUR051) Prof.: LUCIANE TASCA A Urbanização Pretérita Durante séculos o Brasil com um todo apresenta-se como um país essencialmente agrícola, sendo toda a nossa história a de uma sociedade de lavradores e pastores. No começo a cidade era bem mais uma emanação de poder longínquo, uma vontade de marcar presença num país distante. O geógrafo Milton Santos aponta (conforme Hoselitz, 1960) que as cidades no Brasil cresceram como “flor exótica”, sendo sua evolução atrelada aos fatores políticos e econômicos. ETAPAS DA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO De modo geral, porém, é a partir do século XVIII que a urbanização se desenvolve e “a casa torna-se a residência mais importante do fazendeiro ou do senhor de engenho, que só vai à sua propriedade rural no momento do corte e da moenda da cana” (Bastide, 1978). O processo de urbanização no Brasil iniciou-se em 1532 com a fundação da Vila de São Vicente, no litoral paulista. Salvador, a primeira cidade brasileira, foi fundada em 1549. O primeiro surto de urbanização verificou-se no século XVIII, com o ciclo da mineração. A atividade mineradora contribuiu para esse processo por vários motivos: provocou a transferência da capital da Colônia (de Salvador para o Rio de Janeiro 1763) e o deslocamento do eixo produtivo do Nordeste açucareiro para o Sudeste aurífero, originando inúmeras vilas e cidades (Vila Rica, Mariana, São João del Rei, Diamantina, Cuiabá e outras) e promovendo a interiorização do crescimento econômico do País. O processo pretérito de criação de cidades tratava- se, conforme Milton Santos (2005), muito mais da geração de cidades que mesmo de um processo de urbanização. Subordinado a uma economia natural, as relações entre lugares eram fracas, inconstantes, num país com tão grandes dimensões territoriais. Mesmo assim, a expansão da agricultura comercial e a exploração mineral foram a base de um povoamento e uma criação de riquezas redundando na ampliação da vida de relações e no surgimento de cidades no litoral e no interior.

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06/04/2011

1

A Urbanização no Brasil:

o processo geral

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL (AUR051)Prof.: LUCIANE TASCA

A Urbanização Pretérita

Durante séculos o Brasil com um todo apresenta-se

como um país essencialmente agrícola, sendo toda

a nossa história a de uma sociedade de lavradores e

pastores.

No começo a cidade era bem mais uma emanação

de poder longínquo, uma vontade de marcar

presença num país distante.

O geógrafo Milton Santos aponta (conforme

Hoselitz, 1960) que as cidades no Brasil cresceram

como “flor exótica”, sendo sua evolução atrelada aos

fatores políticos e econômicos.

ETAPAS DA

ORGANIZAÇÃO

DO

TERRITÓRIO

BRASILEIRO

De modo geral, porém, é a partir do século XVIII

que a urbanização se desenvolve e “a casa

torna-se a residência mais importante do

fazendeiro ou do senhor de engenho, que só vai

à sua propriedade rural no momento do corte e

da moenda da cana” (Bastide, 1978).

O processo de urbanização no Brasil iniciou-se em 1532 com a fundação da Vila de São Vicente, no litoral paulista. Salvador, a primeira cidade brasileira, foi fundada em 1549.

O primeiro surto de urbanização verificou-se no século XVIII, com o ciclo da mineração.

A atividade mineradora contribuiu para esse processo por vários motivos: provocou a transferência da capital da Colônia (de Salvador para o Rio de Janeiro – 1763) e o deslocamento do eixo produtivo do Nordeste açucareiro para o Sudeste aurífero, originando inúmeras vilas e cidades (Vila Rica, Mariana, São João del Rei, Diamantina, Cuiabá e outras) e promovendo a interiorização do crescimento econômico do País.

O processo pretérito de criação de cidades tratava-se, conforme Milton Santos (2005), muito mais dageração de cidades que mesmo de um processode urbanização.

Subordinado a uma economia natural, as relaçõesentre lugares eram fracas, inconstantes, num paíscom tão grandes dimensões territoriais.

Mesmo assim, a expansão da agricultura comerciale a exploração mineral foram a base de um povoamento e uma criação de riquezasredundando na ampliação da vida de relações e no surgimento de cidades no litoral e no interior.

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É todavia no final do século XIX que se conhece a

aceleração do fenômeno sendo que a população

sobe de 9,9 milhões para 14,3 milhões, crescendo

mais de 40% em apenas 15 anos.

A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

TEM DOIS MOMENTOS IMPORTANTES:

Antes de 1940-50: no qual o papel das funçõesadministrativas tem, na maior parte dos estados, umasignificação preponderante.

Após 1940-50: no qual os nexos econômicos ganhamenorme relevo, e se impõe às dinâmicas urbanas natotalidade do território.

Pode-se dizer que a base econômica da maioria das capitais de estado eram, até o fim da Segunda Guerra Mundial, fundadas na agricultura que se realizava em suazona de influência e nas funções administrativas públicase privadas, mas, sobretudo, públicas.

O processo de urbanização no Brasil ganhou intensidade a partir da década de 1950, devido à industrialização e à modernização das atividades agrárias.

Em 1940, apenas 31% dos brasileiros viviam em cidades, contra 69% no meio rural. Em 1980, a situação inverteu-se: 67,5% estavam vivendo em cidades, e apenas 32,5% na área rural.

Desde o início do processo de colonização, as cidades concentraram-se na faixa litorânea.

A quase totalidade das cidades brasileiras são

espontâneas, porque surgiram naturalmente de

pequenos núcleos ou povoados.

Existem também as cidades planejadas, como Belo

Horizonte, Brasília, Goiânia, Boa Vista e Palmas.

Cidade Planejadas

Belo Horizonte / Aarão Reis, 1894

O plano do engenheiro para a

criação de BH consistia na

definição de uma avenida (a

Avenida do Contorno) para

delimitar a futura área urbana da

cidade, e fazer com que a cidade

fosse construída apenas dentro

de tal avenida, conforme seu

projeto para as ruas, avenidas e

bairros. Devido ao grande

crescimento econômico que mais

tarde ocorreria na região de Belo

Horizonte, este projeto de

delimitação da área urbana no

interior da avenida se tornou

inviável e a cidade cresceu em

meio as montanhas, muito além

do limite original. A região de Belo

Horizonte que se localiza no

interior de tal avenida é hoje o

centro da cidade, já que Belo

Horizonte cresceu muito além do

previsto

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Brasília

Plano Piloto da cidade de Brasília no Distrito Federal, teve

sua forma inspirada pelo sinal da Cruz, sendo o formato da

cidade popularmente comparado ao de um avião.

Foi projetado por Lucio Costa, vencedor do concurso, em

1957, para o projeto urbanístico da Nova Capital.

O projeto consistiu basicamente no Eixo Rodoviário (ou

"Eixão") no sentido norte-sul, e Eixo Monumental no sentido

leste-oeste.

A criação arquitetônica dos monumentos centrais foi

designada a Oscar Niemeyer.

O nome Plano Piloto, originalmente atribuído ao projeto

urbanístico da cidade, passou a designar toda a área

construída em decorrência deste plano inicial.

Atílio Correia Lima

Plano Piloto de Goiânia, 1930

Influenciado pelo conceito de

Cidade Jardim e pela

arquitetura de

Le Corbusier

Notabilizou-se por integrar

arquitetura e planejamento

urbano, baseando-se em

estudos sobre a origem e o

desenvolvimento das cidades

brasileiras.

Boa Vista

A cidade destaca-se entre as capitais da Amazônia pelotraçado urbano organizado de forma radial, planejado no período entre 1944 e 1946 pelo engenheiro civil Darcy Aleixo Derenusson, lembrando um leque, em alusão àsruas de Paris, na França

O planejamento de Boa Vista mobilizou uma vastaequipe dos mais conceituados especialistas emurbanismo, esgotos sanitários, esgotos pluviais, abastecimento d’água e energia elétrica com sua rededistribuidora.

É interessante notar que em um projeto feito na décadade 1940, quando os automóveis ainda não eram um problema urbano, e em Boa Vista poucos existiam, o projeto da cidade já contava com ruas extremamentelargas, sendo a Avenida principal com cem metros de largura.

Estas dimensões, aparentemente exageradas para a época, se mostraram de acordo com o progresso dos anos seguintes, fazendo com que Boa Vista conservasse a qualidade urbana ao longo dos anos. Na década de 1970 chegou a ser apontada como a cidadede melhor qualidade de vida em todo o Brasil.

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Palmas

Resultante do desmembramento do estado de Goiáspela Constituição de 1988, a cidade de Plamas foifundada em 20 de maio de 1989.

Após quase vinte anos sua população está próxima dos 200 mil habitantes.

70% das quadras habitadas já estão pavimentadas. O mesmo ocorrendo com saneamento básico e águatratada que chega a 98% da população atendida.

De um modo geral a cidade é caracterizada pelo seuplanejamento, pois foi criada quase na mesma forma de Brasília, com a preservação de áreas ambientais, boas praças, hospitais e escolas.

A partir dos anos 1960, o poder público passou a intervir decisivamente na organização do espaço brasileiro.

O projeto desenvolvimentista tinha como objetivos, além da integração nacional, a modernização do território e o desenvolvimento da economia capitalista.

Para tanto, era necessário expandir a indústria e construir uma sociedade de consumo predominantemente urbana.

Políticas espaciais explícitas e vultosos investimentos deram respaldo à urbanização como estratégia do desenvolvimento do território.

Um aspecto da questão urbana pode ser remetido a essa proposta de construir um Brasil urbano.

Além da implantação de hidrelétricas, portos, aeroportos, dutos e canais e de grandes projetos industriais, apoiados em financiamento externo, a expansão da rede de energia, de estradas e de comunicações foi um meio de eliminar barreiras à circulação do capital, que teve, então, um expoente na indústria automobilística.”

(DAVIDOVICH, Fany. A questão urbana. In: IBGE. Atlas nacional do Brasil 2000, p. 147)

Dados IBGE /Censo 2000

Segundo o IBGE, o percentual de população urbana elevou-se para 81,2, bem próximo dos percentuais encontrados em países desenvolvidos: 137,6 milhões de pessoas viviam em áreas urbanas no Brasil em 2000.

As três capitais mais populosas do Brasil são: São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.

Em 2000, essas cidades concentravam 46,3% da população total residente nos municípios das capitais brasileiras.

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Metropolização

No Brasil, desenvolveu-se uma urbanização concentradora, isto é, que forma grandes cidades e metrópoles.

Em 1950, só existiam duas cidades com população acima de 1 milhão de habitantes: Rio de Janeiro e São Paulo.

Em 2000, ambas apresentam mais de 5 milhões de habitantes, e 13 municípios passaram a contar com população urbana superior a 1 milhão de habitantes.

Em 1950, São Paulo não se incluía entre as 20 cidades mais populosas do mundo.

No ano 2015, segundo estimativas da ONU, a região metropolitana de São Paulo, com 20,3 milhões de habitantes, será a quarta maior aglomeração urbana no mundo, antecedida por Tóquio, no Japão (28,9 milhões), Bombaim, na Índia (26,3 milhões) e Lagos, na Nigéria (24,6 milhões).

Ela é a metrópole que melhor reflete o caráter concentrador da urbanização no País.

A Metrópole de São Paulo

O censo de 2000 mostrou que a população brasileira ainda se concentra nas grandes cidades e nas metrópoles.

Em 1970, as regiões metropolitanas reuniam 24,3 milhões de pessoas; em 2000, passaram a contar com 67,8 milhões de pessoas, ou seja, esta população quase que triplicou em três décadas, representando 40,0% do total do País.

No entanto a população das capitais estaduais vem crescendo mais lentamente do que a do País. Este é um dado recente e importante, porque as grandes cidades ficam um pouco mais aliviadas dos problemas gerados pelo excesso de população.

Texto

MARICATO, Ermínia. Brasil, Cidades: alternativas

para a crise urbana. Petropolís, RJ: Vozes, 2008.p.15 a

31 ; 40 a 45