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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMNETO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
A ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO:
REFERENCIAL DE QUALIDADE NO SETOR PÚBLICO
LENORA MARIA DE OLIVEIRA SILVA
QUIXADÁ - CE
2009
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LENORA MARIA DE OLIVEIRA SILVA
A ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO:
REFERENCIAL DE QUALIDADE NO SETOR PÚBLICO
Monografia apresentada como requisito parcial
para a obtenção do título de Especialista em
Gestão de Recursos Humanos da Universidade
Candido Mendes.
Orientador: Prof. Carlos Afonso Leite Leocadio
QUIXADÁ-CE
2009
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DEDICATÓRIA
A todos aqueles que ousam mudar e acreditam num
mundo melhor.
A minha mãe Aldenora de Oliveira Silva (In
memorian), pelo exemplo de mãe e esposa e por ter
me ensinado que a educação é um meio necessário
para se vencer na vida.
A minha filha Thaís, para que ela possa valorizar o
meu esforço em lutar para lhe oferecer o melhor.
Ao meu esposo e companheiro Clayrton, por
compartilhar comigo do meu cansaço e das minhas
angústias e por acreditar no meu potencial.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, fonte de luz e sabedoria, pela sua presença
nos momentos de insegurança, pela coragem de
vencer os obstáculos, pelas oportunidades e vitórias
e por ter me permitido chegar até aqui.
A minha filha, por compreender a minha ausência e
por me motivar a lutar por meus ideais.
Ao meu esposo, com quem compartilho minhas
alegrias e tristezas e por compreender-me.
Às minhas colegas Erilene e Ivoneide, por
contribuírem com meu crescimento profissional.
A todos aqueles que de uma forma ou de outra,
contribuíram para a realização desse trabalho.
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De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver
prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos
maus, o homem chega a rir-se da honra, desanimar-
se da justiça, e de ter vergonha de ser honesto.
(Rui Barbosa)
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RESUMO
O presente trabalho monográfico constitui-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, tendo como principal objetivo identificar os principais valores que definem a conduta ética dos servidores públicos diante das mudanças ocorridas no contexto organizacional, analisando os valores morais e éticos aplicados no serviço público, buscando suas bases históricas. A contextualização histórica da ética, a questão da Ética no trabalho e a Organização Ética na Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará foram assuntos pesquisados, no sentido de ampliar conhecimentos sobre o assunto através do pensamento de diversos autores. Dentre eles destacam-se: Adolfo Vasques, Cecília Arruda, Elizete Passos, Maurício Lopes, Gareth Morgan, que forneceram subsídios para a fundamentação teórica desse trabalho. As informações extraídas de diversas fontes permitiram a ampliação de novos conceitos sobre a ética no serviço público e a reflexão sobre o código e o conselho de ética do servidor. Na elaboração desse trabalho utilizou-se a metodologia descritiva no sentido de colher informações teóricas sobre a Ética visando ampliar o conhecimento da autora a respeito do tema investigado.
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METODOLOGIA
Na elaboração desse trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica como
fonte principal para a compreensão do pensamento de diversos autores a respeito
dos conceitos éticos e morais, da ética profissional e sua importância no resgate da
credibilidade do serviço público.
Para fundamentação teórica da pesquisa o estudo bibliográfico foi
desenvolvido utilizando-se livros, documentos, sites e artigos relacionados com o
tema: A ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO: referencial de qualidade no setor público.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 9
CAPÍTULO I – CONCEITOS, FUNDAMENTOS E REFLEXÕES A RESPEITO
DA ÉTICA.............................................................................................................
12
1.1. Contextualização Histórica da Ética.............................................................. 12
1.2. Diferentes Abordagens e Conceitos.............................................................. 14
1.3. A Questão da Ética no Trabalho................................................................... 16
1.4. Ética & Corrupção......................................................................................... 19
CAPÍTULO II – A QUALIDADE COMO FILOSOFIA............................................. 22
CAPÍTULO III – CONTRIBUIÇÃO DA ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO.............. 29
3.1. A Importância do Controle na Administração Pública.................................. 32
3.2. Desafios a Serem Vencidos pela Ética na Sociedade Brasileira.................. 35
3.3. Organização Ética na Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará............. 37
3.4. Conselho de Ética......................................................................................... 39
3.5. O Código de Ética......................................................................................... 40
CONCLUSÃO....................................................................................................... 44
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 47
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INTRODUÇÃO
O país enfrenta o descrédito de uma sociedade que, marcada pela
conduta de alguns administradores, passa a generalizar, colocando todos num
mesmo patamar. Nesse contexto, vivencia-se um novo tempo no qual a sociedade
cobra transparência das atividades políticas e administrativas onde os princípios
éticos estabelecem um código de condutas a ser seguido por uma determinada
sociedade e que se relaciona ao seu contexto sócio-cultural.
A falta de ética na Administração pública vem se reproduzindo, nos
últimos anos de forma preocupante, pois o comportamento das autoridades públicas
não se fundamenta nos valores éticos, devido, muitas vezes, a uma cultura
equivocada que vem se expandindo sobre o poder público e pela falta de
mecanismos de controle adequado para os atos antiéticos que persistem em se
expandirem.
Na perspectiva de verificar como a Ética vem sendo desenvolvida na
Administração pública, pretende-se desenvolver um projeto de pesquisa que venha
analisar o ambiente ético no serviço público bem como as normas e critérios que o
rege. A Ética pode ser considerada como um produto histórico cultural que orienta
as ações do homem, norteando a sua conduta individual e social no serviço público.
Numa sociedade complexa como a brasileira vive-se hoje uma crise ética
que afeta a sociedade em geral e que está ligada ao processo histórico. A questão
da ética no setor público está diretamente relacionada aos princípios básicos que
regem os valores e comportamentos tidos como padrões.
Nesse sentido, compreende-se a necessidade de refletir sobre esse
assunto verificando até que ponto a questão ética repercutirá nas relações dos
servidores e está coerente com as ações que, além de preservar os interesses da
Instituição, contribuam para o bem-estar da sociedade. Com base nos fatos
expostos, questiona-se:
• Quais os principais valores que definem a conduta ética dos servidores públicos?
• Que padrões éticos são tidos como referências para os servidores e como suas
questões éticas são resolvidas?
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• Até que ponto o comportamento ético poderá agregar valor no serviço público?
Circunstâncias diversas motivam acontecimentos e mudam
comportamentos. As mudanças atuam na dinâmica da vida humana e
organizacional. Diante dessa complexidade as estruturas organizacionais, atenta ao
mundo das mudanças, precisam se reestruturar levando em conta a satisfação dos
seus clientes e a melhor qualidade na prestação de serviços.
Nesse sentido, decidiu-se desenvolver um projeto de pesquisa que
identifique a ética no serviço público, verificando os critérios estabelecidos para uma
convivência satisfatória dos servidores. Gerir a ética no espaço de trabalho sugere
criar condições institucionais adequadas através de procedimentos e normas que
atendam às exigências do contexto.
Perceber a ética como elemento canalizador da harmonia e da satisfação
no serviço público é uma necessidade emergente do contexto atual da gestão
pública. A questão ética no serviço público, portanto, exige parâmetros para que os
servidores se fundamentem nos princípios éticos e busquem um relacionamento
saudável, prestando serviços com mais qualidade, através de alguns procedimentos
intrinsecamente relacionados à ética, caracterizados pela cortesia, atenção e
respeito.
Pretende-se com essa pesquisa analisar os valores morais e éticos dos
profissionais, verificando como a dimensão ética é trabalhada no serviço público,
identificando também, as normas que o rege.
Considerando que o propósito do setor público é colocar à disposição dos
servidores e usuários um serviço eficiente e de boa qualidade, será desenvolvido um
estudo que contribua para o delineamento de uma nova postura do administrador
público onde a moralidade administrativa constitua-se num pressuposto de validade
da ética, que contribua para a formação de uma imagem adequada do serviço
público através de normas, códigos e prescrições que estejam comprometidos com
a justiça, a sociedade e a dignidade humana.
Compreendendo a ética como um tema complexo e polêmico, pretende-
se desenvolver uma pesquisa que constate como a questão da ética é vista no setor
público através de pesquisas bibliográficas que apresentem a opinião de diversos
autores.
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Nesse sentido, a reflexão ética traz à tona a discussão sobre a liberdade
de escolha na tomada de decisões na medida em que investiga, analisa e explica o
conjunto de princípios e valores que orientam as relações humanas, além de
questionar a legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo
costume.
Este trabalho tem como objetivo inicial apresentar informações sobre a
Ética no serviço público dividindo-se em quatro capítulos:
O primeiro capítulo apresenta Conceitos e Reflexões sobre a Ética
tratando sobre a Corrupção.
O segundo capítulo versa sobre a Qualidade como Filosofia destacando
sua importância para o sucesso da Organização, enquanto o terceiro trata da
contribuição da ética no serviço público mostrando o valor do controle na
administração pública tratando da Ética na SEFAZ apresentando o código e o
conselho de ética.
O quarto e último capítulo apresenta a conclusão do trabalho com a
perspectiva de possibilitar aos gestores, servidores públicos e possíveis leitores
informações para o efetivo exercício da ética no serviço público.
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CAPITULO I
CONCEITOS, FUNDAMENTOS E REFLEXÕES A
RESPEITO DA ÉTICA
1.1 Contextualização Histórica da Ética
A ética ocupa espaço em todas as áreas de atuação do homem e está
presente desde os poemas de Homero, Hesíodo, dentre outros, tendo a sua origem
na Grécia Arcaica. Etimologicamente o termo ética deriva do grego ethikós, que
significa costume, estilo de vida, modo de agir, referentes à conduta humana. A
palavra grega ethos significa também, sentimento de comunidade, possuindo assim
quatro categorias de definição: verdades básicas, regras de comportamento,
integridade individual e códigos institucionais ou culturais.
A ética está ligada às diferentes formas como os indivíduos reagem ao
tradicionalmente estabelecido, depois de julgar as idéias de acordo com os seus
valores individuais sobre o bem e o mal. Assim, não se pode conceituar a ética sem
estudar a moral, pois ambas estão intimamente ligadas. A moral vem do latim mor e
significa costumes, modos. A moral impõe regras, normas e princípios de
comportamento enquanto a ética, além de refletir sobre a moral, questiona a origem
e circunstâncias em que os atos morais se desenvolvem. A esse respeito
PEGORARO (1999:11) declara:
Somente o ser humano é ético ou a-ético, isto é, a partir de decisões e ações, o ser humano constrói sua imagem ao longo de sua vida, tem em suas mãos a possibilidade de escolher o caminho que deseja, sendo este o da justiça ou não.
Assim, a ética intervém como direcionamento à justiça entre os homens,
orientando o comportamento de cada indivíduo num contexto social, do contrário,
perdem-se nos caminhos que levam a desonestidade e desumanidade.
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Nessa compreensão, observa-se que o comportamento moral faz parte da
vida cotidiana e tem a ver com os valores que o indivíduo tem em relação ao bem e
ao mal.
Vale ressaltar que o ensinamento ético da atualidade provém de Sócrates
passando à posteridade através de Platão. O ponto central do seu pensamento é a
idéia de ordem em que se mesclam significação ética e significação metafísica.
A ética de Aristóteles, discípulo de Platão está unida à sua filosofia
política, para ele o homem é um animal político que só se realiza vivendo em
sociedade.
Nesse sentido, a ética tem sido o principal regulador do desenvolvimento
histórico-cultural da humanidade. Por sua constituição vital os seres humanos
convivem uns com os outros, havendo necessidade de ética para superar os
problemas gerados pela própria convivência.
Na opinião de alguns estudiosos, o estudo da ética iniciou-se há
aproximadamente 25 séculos atrás e pode ser definida como a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade (VASQUES, 2002:12). “A ética
estuda a responsabilidade moral e por ser considerada uma ciência, não pode ser reduzida
exclusivamente ao campo normativo nem tampouco ao campo descritivo”.
Nessa perspectiva, a ética toma como ponto de partida à diversidade de
morais no tempo, entendendo que cada sociedade se caracteriza por um conjunto
de regras, normas e valores. A história da ética como disciplina filosófica
compreende o estudo de todas as normas que regularam a conduta humana desde
os tempos pré-históricos até os dias atuais. Apenas as ações humanas livres e
conscientes são passíveis de julgamento do ponto de vista ético. Assim sendo, a
história da ética adquire uma considerável amplitude ao criar doutrinas para explicar
determinados procedimentos. A esse respeito, VASQUES (2002:235) define:
As doutrinas éticas fundamentais nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como respostas aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento moral efetivo. Por isto, existe uma estreita vinculação entre os conceitos morais e a realidade humana, social, sujeita historicamente às mudanças. Por conseguinte, as
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doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui propriamente a sua história.
Diante do exposto, compreende-se que a ética consiste na interiorização
dos valores, normas e leis de uma sociedade que transcende o campo individual e
alcança o plano profissional dos seres humanos.
Tradicionalmente, a ética é entendida como uma reflexão sobre as ações
humanas, norteando a conduta individual e social. É um produto histórico-cultural, e
como tal, define o que é virtude, o que é bom ou mal, permitido ou proibido para
cada cultura e sociedade. A esse respeito, LISBOA (1997:36) declara que:
As sociedades, para continuarem a existir como tal, necessitam de que o
comportamento de seus participantes diante das várias situações apresentadas pelo
cotidiano seja aceito pela maioria dos cidadãos. O tópico seguinte apresentará
diferentes abordagens sobre a ética destacando a sua importância na transparência
das ações desenvolvidas no serviço público.
1.2. Diferentes Abordagens e Conceitos
O descrédito do povo em relação aos valores éticos do Estado e o
descumprimento das leis nos levaram a refletir a cerca da ética nas organizações
como uma necessidade emergente para assegurar a sobrevivência das boas
relações entre administradores, servidores e usuários.
A Administração Pública, caracterizada como atividade do Estado, tem
sua origem e sua legitimidade na perpetuação e desenvolvimento da sociedade para
a qual trabalha e produz condições para perpetuá-la através do desenvolvimento
dos elementos que a constitui.
A ética nas organizações constitui o norte sobre o qual são desenvolvidos
os padrões de comportamentos e atividades. Sua influência nos negócios consiste
num diferencial competitivo de atuação das empresas no mercado.
É inegável a importância da ética no desenvolvimento das atividades das
organizações na medida em que os valores morais comuns a todos os indivíduos
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para definição de uma conduta decorrem das crenças, da cultura da sociedade. A
empresa não atua isoladamente, mas de forma sistêmica. As atividades de uma
empresa dependem em grande parte de sua organização interna e da sua interação
com o ambiente externo.
Vale ressaltar que, diante de um mundo em constante mudança, os
princípios, valores ou normas, exigem novos conceitos, daí se justifica a sucessão
de doutrinas éticas condizentes com as estruturas sociais vigentes.
As doutrinas éticas podem ser divididas de acordo com os seguintes
segmentos correlacionados historicamente: ética grega, ética cristã medieval, ética
moderna e ética contemporânea. Sob o ponto de vista formal, a história da ética teve
a sua origem na antiguidade grega. No entanto, podem ser identificados traços de
uma abordagem com base filosófica entre os filósofos pré-socráticos, nas reflexões
sobre o comportamento humano.
É mister esclarecer que a ética se distingue de outros estudos do
comportamento humano, pois em sua função descritiva, defende princípios
universais apoiada também em costumes tradicionais estuda a responsabilidade do
ato moral, ou seja, a decisão de agir numa situação concreta.
Dessa forma, a ética consiste na interiorização dos valores, normas e leis
de uma sociedade através de sua vontade subjetiva. A evolução dos costumes
pressupõe um caráter provisório para a ética, variando de cultura e se modifica com
o tempo, no âmbito de uma mesma sociedade.
Todo homem possui um senso ético que permite que este avalie e julgue
suas ações para saber se são boas ou más. Os comportamentos humanos são
classificados sob a ótica do bem e do mal, do certo e errado. Essa classificação,
embora relacionada com a ação individual, está intimamente ligada às matrizes
culturais que prevalecem no contexto sócio-histórico de determinadas sociedades.
Pelo fato do homem só realizar sua existência no encontro com outros
homens é necessário que existam normas que coordenem suas relações indicando
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os limites e as possibilidades a que devem ser submetidos. A esse respeito
VASQUES (2002:15) esclarece:
A este comportamento prático-moral, que se encontra nas formas mais primitivas de comunidade, sucede posteriormente, muitos milênios depois, a reflexão sobre eles. Os homens não só agem moralmente, mas também refletem sobre esse comportamento prático e o tomam como objeto da sua reflexão de seu pensamento.
Nesse sentido, compreende-se que o comportamento moral faz parte da
vida cotidiana e inclui a necessidade de escolha entre as várias opções possíveis.
Assim sendo, os princípios éticos tem a ver com os valores que se tem em relação
ao bem e ao mal. O momento atual exige que a gestão de uma empresa se dê a
partir de elevado nível ético, transparência na prestação de contas, respeito ao
cliente e responsabilidade social.
Diante de um contexto de mudanças é preciso que o administrador tenha
um comportamento transformacional, carregado de ética e integridade, que busque
resultados de longo prazo e reúna as energias em torno de metas consistentes.
A importância da ética no desenvolvimento das atividades das
organizações é um fator preponderante na medida em que os valores morais
comuns a todos os indivíduos para definição de uma conduta decorrem das crenças,
da cultura da sociedade. Nenhuma empresa atua isoladamente, mas de forma
sistêmica.
O atual ambiente econômico e social caracteriza-se pela sua dinâmica e
complexidade. A competição, globalização dos mercados, a consciência ecológica,
distribuição de renda, dentre outros, são fatores que ganham força e influenciam os
diversos campos do conhecimento. Nesse contexto o sistema de apoio à gestão
focaliza-se na vida econômico-financeira da empresa.
1.3 - A Questão da Ética no Trabalho
Para que se compreenda melhor a ética esse estudo inicia-se com a
origem e o significado do vocábulo. Originado do grego ethos significa costume,
maneira habitual de agir. A ética pode ser entendida como a parte da filosofia que
estuda a moralidade dos atos humanos. Nessa concepção, a reflexão ética pode ser
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considerada como uma orientação segura para que o indivíduo possa tomar
melhores decisões e prevenir as possibilidades de erros.
É válido ressaltar que as orientações técnicas não mais satisfazem, elas
precisam estar comprometidas com a dignidade da pessoa humana e com a justiça
social. A ética representa uma abordagem sobre a moral permanente no tempo e
uniforme no espaço. Luño Rodriguez in ARRUDA (2001:42) define a ética como “a
parte da filosofia que estuda a moralidade do agir humano; quer dizer, considera os
atos humanos enquanto são bons ou maus”.
Assim sendo, pode-se dizer que a principal fonte da Ética é a realidade
humana. A sociedade depende dos homens que a integram e dos fatores que lhe
dão vida e que causam sua atividade.
Em relação ao sentido da ética no âmbito empresarial é mister esclarecer
que esta tomou impulsos nas décadas de 60 e 70. Para melhor esclarecimento
sobre o assunto, (PASSOS, 2000:57) afirma que:
Toda sociedade, por menor que seja e por menos desenvolvida que pareça, possui os seus valores morais, que vão sendo ensinados aos seus membros através da família, da escola, da igreja, dos meios de comunicação de massa. Isto porque, eles desempenham um papel fundamental como elementos reguladores do comportamento das pessoas. Portanto, as crianças, desde o início de suas vidas, são criadas dentro de um padrão que termina por moldá-las nas estruturas estabelecidas pela sociedade.
Compreende-se que os princípios e as normas morais variam
historicamente acompanhando as mudanças do comportamento humano e a
empresa pode estabelecer normas de condutas para seus dirigentes e empregados,
se agir eticamente.
Ao longo do tempo a ética tem sido entendida sob diversas concepções.
De acordo com Joaquim Magalhães Moreira (1999:21), há pelo menos cinco teorias
a respeito da formação dos conceitos éticos, ou preceitos:
a) teoria fundamentalista: propõe que os conceitos éticos sejam obtidos
de uma fonte externa ao ser humano, a qual pode ser um livro, um conjunto de
regras, ou até mesmo outro ser humano;
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b) teoria utilitarista: sustentada nas idéias de Jeremy Bentham e Jonh
Stuart Mill, para os quais o conceito ético deve ser elaborado “no critério do maior
bem para a sociedade como um todo”;
c) teoria kantiana: defendida por Emanuel Kant, propõe que o conceito
ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo com
princípios universais;
d) teoria contratualista: baseada nas idéias de Jonh Locke e Jean
Jacques Rousseau, parte do pressuposto de que o ser humano assumiu com seus
semelhantes à obrigação de se comportar de acordo com as regras morais, para
poder conviver em sociedade. Os conceitos éticos seriam extraídos, portanto, das
regras morais que conduzissem à perpetuação da sociedade, da paz e da harmonia
do grupo social;
e) teoria relativista: segundo a qual cada pessoa deveria decidir sobre o
que é ou não ético, com base nas suas próprias convicções e na sua própria
concepção sobre o bem e o mal. Assim sendo o que é ético para um pode não o ser
para outro.
É importante compreender que o estudo dessas teorias mostra que os
conceitos éticos precisam ser elaborados levando-se em conta todas elas, sem,
contudo, excluir nenhuma, pois cada uma tem a sua importância já que, em matéria
de ética, não existe verdades absolutas. Segundo ARRUDA (2001:43), uma das
primeiras preocupações com a ética no mundo dos negócios que se tem
conhecimento é bastante recente, datando da década de 1960.
Contrariando os autores acima citados, Moreira (1999:03) afirma que a
evolução histórica da ética nos negócios seguiu o próprio desenvolvimento
econômico. Nas sociedades primitivas, caracterizadas pela troca, não existia lucro e
nem empresa. Por isso, a ética, nessas transações, era limitada pelas relações de
poder entre as partes e pelas eventuais necessidades do indivíduo por certos bens
ou artigos.
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Não se pode deixar de reconhecer a importância da ética no mundo.
Segundo VASQUES (2002:33)
A teoria do direito pode trazer semelhante contribuição, graças a sua estreita relação com a ética, visto que as duas disciplinas estudam o comportamento do homem como comportamento normativo. De fato, ambas as ciências abordam o comportamento humano sujeito a normas, ainda que no campo do direito se trate de normas impostas com um caráter de obrigação exterior e, inclusive, de maneira coercitiva, ao passo que na esfera da moral, as normas, embora obrigatórias, não são impostas coercitivamente.
Vale salientar que a imposição da necessidade da Ética encontra-se no
capítulo VII do título III da Constituição Federal de 1988 evidenciando-se no
exercício da função de servir a sociedade. No âmbito da atividade empresarial, os
princípios éticos que norteiam o direito, fundamentam-se na valorização do trabalho
e na livre iniciativa, incentivando a livre concorrência e dando tratamento preferencial
às empresas de pequeno porte. Cumpre esclarecer que ética e corrupção são
termos distintos e devem ser conhecidos por todos os servidores a fim de que a
corrupção seja excluída do serviço público. Por essa razão tratar-se desse assunto
em seguida.
1.4 Ética & Corrupção
Vivendo num mundo globalizado e sem fronteiras, assiste-se,
diariamente, notícias de práticas corruptas nos mais diversos segmentos, incluindo,
o serviço público, como conseqüência da falta de princípios morais a que chegou a
sociedade. Os atos de corrupção são conhecidos nos mais diversos países e
ilustrados pelo aumento da delinqüência, da violência e da proliferação dos delitos
na vida política e econômica.
É válido esclarecer que a corrupção não é característica estrutural de um
país em particular, ela está presente hoje, nos mais diversos lugares, independente
do grau de desenvolvimento econômico. A esse respeito, NOVAES (1992:34)
declara:
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A corrupção não se circunscreve aos limites territoriais do país; ao contrário, como fenômeno contemporâneo sua tendência é para o transbordamento de fronteiras, internacionalizando-se e desenvolvendo-se ao mesmo tempo da crescente globalização econômica dos mercados e das práticas comerciais, o que tem feito que junto às formas clássicas de corrupção surjam outras mais sofisticadas e elaboradas.
A corrupção pode ser entendida como a subversão dos valores sociais e
culturais proclamados como legítimos. Os atos de corrupção podem, em situações
extremas, chegar a tornar a moral estabelecida, ao ponto de gerar, nos cidadãos, o
conformismo e a acomodação diante das situações de degradação moral a que vem
sendo submetido o país.
Diante de tal realidade, a ética através do seu caráter normativo, deverá
adotar condutas marcadas pela seriedade e pela preservação da integridade e dos
direitos do cidadão, possibilitando o fortalecimento das relações, e pelo costume
consagrados pela tradição diante da complexidade que a sociedade cria para
orientar a conduta ética.
Podendo ser considerada como a destruição dos sentimentos morais dos
homens, a corrupção fundamenta-se na crise estrutural que abala os princípios da
credibilidade e confiança. Assim, toda ação corrupta é uma violação de uma norma
legal visando um benefício pessoal. A corrupção pública constitui a falta de ética no
exercício de uma função onde são transgredidas normas que regem a organização
para benefício próprio.
Diante dos conflitos causados pela corrupção, a ética assume papel
fundamental, pois ela trata de princípios, representando, portanto, a reflexão crítica
sobre a moralidade.
De acordo com SINGER (1994:51) é possível identificar fatores que
propiciam a corrupção. Os que mais se destacam são:
a) A falta de sistemas eficientes de controle. Para solucionar este
problema, deve-se aplicar e atualizar um sistema de prevenção da corrupção com
mecanismos modernos de fiscalização e auditoria, para garantir o normal
desempenho da função pública;
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b) A falta de adequados e imparciais sistemas na seleção do pessoal
administrativo. Além disso, os governos devem possuir um código de ética com força
jurídica que assinale com normas claras as obrigações e sanções que regem a
função pública;
c) A instabilidade no emprego, unida à baixos níveis de salários;
d) A competição entre empresas de diferentes países para vender seus
produtos dentro dos mercados internacionais;
e) A falta de mecanismos descentralizados no processo de controle,
assim como de sistemas que facilitem a participação da cidadania. Para resolver
este problema, deve-se promover e estabelecer canais de comunicação com a
sociedade, que propiciem a criação de mecanismos para a participação cidadã em
tarefas de controle governamental; com isto se poderia responder agilmente às
demandas, queixa ou denúncias que esta expõe;
f) Marcos jurídicos obsoletos e inadequados que não estabelecem as
bases para acautelar e sancionar a corrupção. Na busca pela solução deste
problema, deve-se desenvolver esforços permanentes e crescentes para simplificar
os trâmites administrativos, combatendo as complexidades oficiais que em alguns
casos se convertem em autênticos labirintos de burocratismo desmedido;
g) A insuficiência dos programas educativos que inculquem nas crianças
e jovens o respeito à legalidade, junto com um espírito de serviço desinteressado
para seu país.
Tais fatores devem ser evitados a fim de que o serviço público possa
resgatar sua credibilidade e se possa realizar um trabalho de qualidade que atenda
aos anseios da sociedade em que a instituição se insere. Ao longo do tempo os
consumidores e os mercados tornaram-se cada vez mais exigentes, as empresas
que não se pautarem em padrões de excelência e de qualidade terão
irreversivelmente os seus “dias contados”, seja qual for o setor ou o local onde
opere. A qualidade é o tema do próximo capítulo.
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CAPÍTULO II
A QUALIDADE COMO FILOSOFIA
A Filosofia representa os Princípios e/ou Fundamentos para uma gestão
de qualidade. Sem a Filosofia as ferramentas e métodos utilizados pela empresa
perdem o seu real significado. São os Princípios que convencem, que mostram a
razão da necessidade de mudanças. Satisfazer as exigências do cliente diante do
atual cenário mundial cada vez mais globalizado tornou-se uma preocupação
constante na vida das organizações, entretanto, tal tarefa exige mudanças não só
estruturais como também práticas de gestão e treinamento, bem como quebra de
antigos paradigmas.
Na opinião de PINHEIRO & BRANDÃO, 2003:02 na literatura existem
várias definições para o termo qualidade não havendo um consenso entre os
diversos autores. Dentre as diversas definições, podem ser citadas como principais
as que se referem à abordagem transcendental que considera qualidade como
sendo uma característica de excelência, inata ao produto, intrinsecamente ligada a
sua marca. E a que se refere à abordagem baseada no usuário, já que nesta a
preocupação maior será a de satisfazer as necessidades do cliente, relacionando as
especificações do produto ou serviço com as reais expectativas do consumidor.
Dentre todas estas definições, um enfoque maior será dado a que se refere à
abordagem baseada no usuário visto que esta tende a englobar todas as demais
abordagens, focando as necessidades do cliente.
Cumpre ressaltar -se que o conceito de qualidade é antigo, pois desde a
época da produção artesanal já havia preocupação em distinguir produtos de alta e
de baixa qualidade. Na era industrial surge o controle do produto acabado e em
seguida o controle ao longo do processo. Qualidade num contexto geral significa
prover as partes interessadas das evidências necessárias para se estabelecer a
confiança de que a qualidade está sendo conduzida de forma adequada.
Atualmente, a qualidade abrange todas as áreas e adquirindo maior
importância com a gestão da qualidade total idealizada por W. Edwards Deming.
23
Seu trabalho sobre qualidade foi absorvido pelos japoneses. Para Deming a
qualidade deve ser o objetivo principal da produção. CAMPOS, V. in (RAMIRES,
M.R.R.2002:33) define: Um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende
perfeitamente, de forma confiável, de forma acessível de forma segura e no tempo certo às
necessidades do cliente.
Com o modelo de Edwards Deming as organizações passaram a atribuir
a determinados funcionários a função de inspecionar os produtos para verificar se os
mesmos estariam de acordo com as especificações originais. Essa inspeção
consistia no registro dos defeitos detectados após a conclusão do processo
produtivo.
A questão da qualidade no atendimento é uma preocupação da
administração pública, onde o Governo Federal já conta com uma norma sobre o
assunto, o Decreto No 3.507, de 13 de junho de 2000, que “Dispõe sobre o
estabelecimento de padrões de qualidade do atendimento prestado aos cidadãos
pelos órgãos e pelas entidades da Administração Pública Federal direta, indireta e
fundacional, e dá outras providências”.
De acordo com o artigo 1º desse decreto:
Ficam definidas as diretrizes normativas para o estabelecimento de padrões de qualidade do atendimento”, enquanto o artigo 2º. diz que os referidos padrões “deverão ser observados na prestação de todo e qualquer serviço aos cidadãos-usuários; avaliados e revistos periodicamente; mensuráveis; de fácil compreensão; e divulgados ao público.
De acordo com o referido decreto os órgãos e as entidades públicas
federais deverão implementar os padrões de qualidade do atendimento, de acordo
com as diretrizes nele estabelecidas, bem como divulgar amplamente esses padrões
de qualidade junto aos cidadãos-usuários. A gestão de qualidade requer pessoas
motivadas para orientar as ações com a finalidade de assegurar a satisfação ao
cliente.
Nos últimos anos, o serviço público vem sendo atingido pelas profundas
transformações ocorridas nas mais diversas áreas exigindo instituições flexíveis e
adaptáveis, que produzam bens e serviços de ótima qualidade, assegurando alta
24
produtividade aos investimentos feitos, respondendo às necessidades dos clientes
que deseja satisfazer a suas necessidades e expectativas.
No grande mercado global dos tempos atuais, a qualidade dos produtos e
serviços passou a ser umas das preocupações centrais de qualquer empresa, por
essa razão, para satisfazer um cliente a empresa há que lhe oferecer um
produto/serviço adaptado às suas necessidades e expectativas, a um preço justo e
com garantias de qualidade.
Na busca da excelência os gestores das empresas devem considerar o
processo de inovação em tudo o que se faz, procurando antecipar o futuro. A
implantação e implementação de ambiente de qualidade total, que evolua
constantemente, aprimorando as pessoas, processos, sistemas e a forma de
gerenciar, não são mais uma opção e sim uma necessidade para assegurar sua
sobrevivência no mercado cada vez mais competitivo.
Quando se fala hoje em qualidade, esta não pode ser limitada ao produto
e ao processo de sua fabricação. A empresa é um organismo complexo e todos os
seus componentes têm que atingir bons padrões de desempenho. Assim, a
chamada qualidade total se baseia nesse conceito que inclui, na exigência de
qualidade, atendimento às necessidades e expectativas dos clientes, tanto internos
como externos com a adoção de práticas de excelência, que possam dar garantias
de qualidade reconhecidas universalmente para os seus produtos e serviços.
É importante esclarecer que dentro da empresa todos os setores são
interdependentes e a qualidade tem que abranger não somente a área industrial
como também a administrativa, a comercial, a financeira, de recursos humanos,
dentre outras.
Sob a perspectiva da gestão da qualidade, pode-se dizer que um produto
ou serviço — prestado por um órgão público — é de qualidade quando satisfaz às
necessidades dos clientes internos ou externos ou ainda quando atende e/ ou até
mesmo supera — suas expectativas.
25
Sabe-se que as grandes mudanças sempre assustam, no entanto, os
gestores modernos precisam assumir o desafio de ser competente, demonstrar
conhecimentos técnicos e operacionais, gerando confiança e convicção na sua
equipe de trabalho. Assim, poderá criar um ambiente de responsabilidade onde cada
pessoa se sinta motivado a aprender e a demonstrar um bom desempenho no seu
trabalho, direcionando as pessoas para atitudes inovadoras e renovadoras.
Apesar de haver contradições nas organizações modernas criadas pela
tecnologia, pela lógica de mercado, pela especulação financeira e leis injustas, que
visam à concentração de rendas, há que se considerar, também, os aspectos
positivos sinalizados nesse processo, que são favoráveis aos colaboradores. Por
exemplo, até a alguns anos, considerava-se empresa moderna aquela que investia
em maquinário e sistemas.
Atualmente, as organizações estão priorizando a qualificação do ser
humano. A necessidade da busca incessante de novos aprendizados obriga aos
gestores a adotarem posturas comportamentais de abertura, sensibilidade e bom
relacionamento interpessoal. Esta aprendizagem inovadora, prepara as
organizações para as novas situações, propiciando as modificações, renovações,
resoluções de problemas.
Nesse sentido, as organizações estão tentando desenvolver capacidades
empreendedoras de seus funcionários, estimulando-os e capacitando-os para o
empreendedorismo resultando em modificações e melhorias em toda a organização.
De acordo com LEZANA E TONELLI in (LEZANA, 2001:56):
Empreendedores são pessoas que perseguem o benefício, trabalham individual e coletivamente. Podem ser definidos como indivíduos que inovam, identificam e criam oportunidades de negócios, montam e coordenam novas combinações de recursos (funções de produção), para extrair os melhores benefícios de suas inovações num meio incerto.
A gestão administrativa do serviço público deverá ter como expectativa a
busca da melhoria da qualidade de vida dos funcionários e melhor aplicação dos
recursos da instituição de maneira que os resultados possam ser maximizados, bem
como passem a agir mais preventivamente do que corretivamente com o passar do
tempo.
26
Segundo Paladini (2004), o conceito de qualidade têm tido várias
abordagens conceituais nos últimos tempos, gerando restrições na forma de
entender qualidade como adequação ao uso, sendo que para ele é uma relação
direta que se dá entre as áreas produtivas e os consumidores, de quem produz com
quem consome. Generalizando essa interação vem definir o termo Qualidade:
[...] Aqui, o objetivo da ação é o processo produtivo. Se se deseja adequar um produto ou serviço inteiramente ao uso, todos os setores, áreas, pessoas ou, enfim, elementos que tiverem alguma participação, direta ou indireta, em sua produção serão igualmente responsáveis pela qualidade. Nada nem ninguém na empresa esta excluído desse esforço, até porque, se a qualidade é o objetivo da organização, qualquer item de produção que não estiver comprometido com esse empenho não contribui para o objetivo em questão e torna-se, por isso, perfeitamente dispensável – seja uma pessoa, uma maquina ou uma operação. (PALADINI, 2004:33)
Paladini considera ainda, que o sucesso da Gestão da Qualidade se deve
à simplicidade e coerência aos seus conceitos básicos havendo uma variedade de
conceitos que interferem diretamente nos processos de implantação. Assim, as
práticas da instituição decorrem de políticas e decisões que refletem o entendimento
que se tem do funcionamento da organização. Apresentando um rol de estratégias
para uma implantação efetiva da Gestão da Qualidade nas empresas, sendo assim
classificados:
a) Uma Filosofia: que caracteriza a Gestão da Qualidade como filosófica
empresarial que procura melhorar resultados, inclusive financeiro, sistema de gestão
empresarial, garantir sobrevivência em longo prazo, uma organização direcionada
para os clientes em razão de satisfazê-los com visão voltada para melhoria de
produtos ou serviços oferecidos aos consumidores.
b) Um Conjunto de Métodos: processos e sistemas que as organizações
empregam para agradar seus consumidores e ao mesmo tempo reduzir custos,
recuperar investimentos e envolver seus funcionários sendo uma extensão do
planejamento dos negócios da empresa.
c) A Melhoria Continua: processo de melhoria continua de todas as
atividades, buscando a redução das variações do processo produtivo.
27
d) Um Serviço (ao Consumidor e aos Clientes): conjunto de serviços
prestados ao consumidor não apenas para satisfazê-lo, tudo isso através do
processo de trabalho contínuo melhorado.
e) Envolvimento da Mão de Obra: processo que envolve toda mão de
obra com intuito de melhorar o atendimento aos clientes, estando comprometida
com os consumidores internos e externos.
A Gestão da Qualidade pode ser considerada como um processo único,
ainda que suas estratégias envolvam diferentes situações, diversos elementos,
variados contextos. Juran define meta de qualidade da seguinte forma:
Definimos planejamento de qualidade como (a) a atividade de fixação das metas de qualidade, e (b) o desenvolvimento de produtos e processos necessários à realização daquelas metas. Estas definição e baseada no fato de que não e possível planejar em termos abstratos. Só se pode planejar depois que a meta foi estabelecida.
Os dialetos predominantes diferem a respeito do termo “planejamento” incluir ou não a fixação de metas. A expressão “planejamento estratégico”, amplamente usada, e quase sempre interpretada como incluindo a fixação das metas estratégicas. Por outro lado, algumas partes da indústria (e dos meios acadêmicos) interpretam o termo “planejamento” como sendo limitado, em escopo, a atividade de estabelecimento dos meios a serem usados para alcançar as metas (JURAN, 2002:27-28).
Nesse sentido, metas estratégicas de qualidade é um resultado lógico do
movimento para conseguir a qualidade máxima. As metas estratégicas de qualidade
constituem uma categoria especial que só recentemente entrou nos planos da
empresa. Ainda de acordo com Juran algumas empresas tem adotado a palavra
‘Visão’ como expressão daquilo que gostariam de realizar, ou de onde gostariam de
estar, em algum ponto futuro. Na sua concepção:
Uma importante consideração, na fixação de metas de qualidade, é a escolha da base adequada. No nível mais baixo da hierarquia, e as metas de qualidade são em geral estabelecidas sobre uma base tecnológica. A maior parte dessas metas é publicada em especificações e procedimentos, que definem os alvos de qualidade pra o nível de supervisão e os trabalhadores abaixo desse nível (JURAN, 2002:34-35).
Considera-se de fundamental importância que no estabelecimento das
metas de qualidade o primeiro passo seja estabelecer metas, pois não é possível se
28
planejar em termos abstratos. A qualidade é um processo que envolve toda
organização e por isso todos devem estar comprometidos e conscientes dessa nova
realidade.
29
CAPÍTULO III
A CONTRIBUIÇÃO DA ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Nas sociedades primitivas, as expedições para caça de grandes animais
eram empreendimentos coletivos precedidos de planejamento, divisão do trabalho e
logística. Essas expedições, embriões de empresas, tinham lideres que eram os
protótipos dos gerentes. Muitas idéias e técnicas da atualidade têm raízes antigas e
procuram resolver problemas que as organizações sempre enfrentaram e
continuarão a enfrentar.
Ao longo dos séculos, essas idéias e técnicas, influenciadas pelas
circunstâncias de cada momento histórico, foram evoluindo continuamente e
demandando práticas administrativas que se estabilizaram com o passar do tempo.
Vale salientar que o avanço impulsionado pela Expansão da Revolução Industrial na
América, criou uma nova realidade para as organizações, exigindo o
desenvolvimento de métodos totalmente novos de administração. Nesse contexto,
surge o Taylorismo, criado por Frederick Taylor. Na concepção de (WOOD,
1995:08), surgiu com o objetivo de:
Racionalizar a produção a fim de possibilitar o aumento da produtividade no trabalho, evitando o desperdício de tempo e economizando mão de obra. O trabalho intelectual foi separado do manual e as tarefas foram decompostas em movimentos elementares, reduzindo a complexidade do saber operário e introduzindo o desinteresse e a alienação do trabalhador.
Este modelo de gestão foi utilizado pelas organizações tendo como
principal objetivo o aumento da produtividade, não levando em consideração os
aspectos relacionados à satisfação no trabalho. Os trabalhadores não podiam
reclamar dos salários, horários de trabalho, barulho e sujeira nas fábricas. O
trabalhador especializou-se e perdeu o controle sobre os meios de produção e a
visão de conjunto dos bens que produzia.
O ser humano transformou-se no operário especializado na operação de
máquinas, o que desumanizou o trabalho. A ênfase foi colocada na eficiência, não
30
importa a que custo humano e social. Os trabalhadores tornaram-se dependentes do
emprego oferecido pela fábrica, numa cultura que aceitava e encorajava a
exploração (cultura de autoritarismo mecânico). As empresas tinham apenas
máquinas e administradores. A esse respeito MORGAN (1996:22) diz
A vida organizacional é freqüentemente rotinizada com a precisão exigida de um relógio. Espera-se que as pessoas cheguem ao trabalho em determinada hora, desempenhem um conjunto predeterminado de atividades, descansem em horas marcadas e então retomem as suas atividades até que o trabalho termine. Freqüentemente o trabalho é muito mecânico e repetitivo. Elas são planejadas à imagem das máquinas, sendo esperado que os seus empregados se comportem essencialmente como se fossem partes das máquinas.
A referência de Morgan sobre a vida organizacional ainda perdura
atualmente em algumas empresas públicas. Embora haja muitos programas de
incentivo à implementação de mudanças nas organizações, ainda se encontram em
pleno funcionamento modelos de gestão extremamente tradicionais e que não
valorizam o potencial do funcionário.
Nesse sentido, Morgan afirma que os teóricos clássicos pouca atenção
deram aos aspectos humanos da organização e reconhece a necessidade de
liderança, iniciativa, benevolência, equidade (...), a organização inicialmente foi
compreendida como um problema técnico (MORGAN, 1996:30).
Diante do contexto apresentado por Morgan, compreende-se que o setor
público esteve, ao longo dos anos submetidos a todas as formas de apropriação e
comportamentos que, certamente ocorrem, em virtude de seus gestores, chefes ou
dirigentes serem alocados através de critérios que não levavam em conta a
condição do conhecimento técnico, mas a ascensão política.
Apesar de ainda haver modelo de gestão tradicional, durante as últimas
duas décadas, tem-se assistido, a mudanças importantes na sociedade que tiveram
uma influência determinante sobre a maneira como se percebia o Estado e como se
consideravam os serviços públicos.
A crise do Estado-Providência, o desmoronamento das experiências
socialistas, a hegemonia da empresa privada como modelo organizacional eficiente
31
e do mercado como mecanismo de regulação das trocas, têm de fato influenciado
profundamente não só a visão da ação pública, mas também as políticas, os
programas, as estruturas e a cultura das organizações estatais. (PEGORARO,
1999:11).
A falta de ética, tão criticada pela sociedade, na condução do serviço
público por administradores e políticos, seja ela por causa do enfrentamento das
longas filas ou da morosidade no andamento de processos, muitas vezes tem
fundamento. No que se refere ao gerenciamento dos recursos financeiros, têm-se
notícia, em todas as esferas de governo, de denúncias sobre desvio de verbas
públicas, envolvendo administradores públicos e políticos em geral. Desfazer a
imagem negativa do padrão ético do serviço público brasileiro é, hoje, um dos
grandes desafios do governo.
Refletindo sobre a questão, acredita-se que uma alternativa viável poderia
ser a oferta à sociedade de ações educativas de boa qualidade, nas quais os
indivíduos pudessem ter, desde o início da sua formação, valores fundamentados na
moralidade. Dessa forma, seriam garantidos aos mesmos, comportamentos mais
duradouros e interiorização de princípios éticos, pois se exige daqueles que
representam o Estado o cumprimento e o respeito às leis, à luz da ética como norte
fundamental nas relações interpessoais.
A nível organizacional, pode-se notar quanto as noções e os princípios
administrativos oriundos da empresa privada (eficiência, produtividade,
desempenho, competência, liderança empresarial, qualidade total), têm invadido as
administrações, os serviços sociais, as entidades sem finalidade lucrativa, até as
igrejas. A figura do gerente tendo-se tornado, sem dúvida, uma das figuras centrais
da sociedade contemporânea onde brilha esse novo espírito do capitalismo de que
nos falam. Boltanski e Chapiello in (CHANLAT 2002: 02)
A gestão humanista contribui com as organizações através de um novo
estilo de agir econômico, onde o lucro passa a ser considerado meio e não fim em si
mesmo. E assim, na medida em que os trabalhadores tornam-se conscientes de que
não trabalham somente para o próprio bem-estar ou o da empresa, mas por uma
finalidade social que tem dimensões nacionais, os objetivos organizacionais passam
32
a constituir um incentivo à produtividade, trazendo, em contrapartida, substanciais
progressos no relacionamento entre empresários, trabalhadores e empresa.
Comprovadamente, a prática vem demonstrando que a produtividade e a
solidariedade podem andar juntas.
3.1. A Importância do Controle na Administração Pública
Ao longo da história administrativa, o serviço público foi tratado como
sinônimo de ineficiência e descaso. Identificar-se como servidor público era motivo
de estabilidade econômica não havendo, na maioria das vezes, satisfação pessoal e
nem motivação para o exercício da função. Em virtude de determinados modelos de
gestão pública em que o público é confundido ou apropriado de forma arbitrária, os
valores morais e éticos não eram considerados como elementos que valorizam o
indivíduo em suas relações interpessoais, provavelmente, os modelos adotados não
tinham como objetivo a prestação de contas ou a satisfação do público.
Com isso, os procedimentos no setor público, trazem até os dias atuais
certa tendência a funcionar de forma a beneficiar um círculo de poucos, não
importando com os demais, predominando o nepotismo e o clientelismo como se
fosse um comportamento ético.
Assim, os serviços públicos são prestados de forma inconveniente do
ponto de vista ético e às vezes, até humano. A aplicação de normas éticas aliadas
aos valores morais pode possibilitar uma espécie de controle disciplinar no setor
público. A ética deve estar agregada a uma autonomia do cidadão em escolher
servir à sociedade, sem que isso signifique que o servidor venha transigir os
objetivos da organização ou do setor em que atua.
Para que as pessoas possam realizar-se a ética organizacional surge
como instrumento para que as empresas possam investir na realização dos
indivíduos, procurando aproveitar os talentos dos seus empregados, dando-lhes
oportunidades, fornecendo-lhes as informações necessárias, enfim, oferecendo
condições para que possam realizar-se como pessoas livres e conscientes.
33
Vive-se na “era do conhecimento” em que a sociedade se transforma
constantemente e pode-se admitir uma crise instrumental para a gestão de pessoas
no setor público (política de remuneração, ausência de prêmios, remuneração fixa,
estreito horizonte de desenvolvimento profissional para a maioria das carreiras)
É importante compreender que a essa crise ainda deve ser adicionada
uma característica essencial do trabalho na área pública: a de que ele está focado
na prestação de serviços de natureza intelectual que depende fundamentalmente da
atuação de especialista à ausência de ações da maioria dos órgãos que visam
melhorar as condições de trabalho e desenvolvimento humano, sobretudo no
tocante à qualidade de vida no trabalho.
Observa-se ainda, que a maioria dos órgãos de Recursos Humanos são
caracterizados como órgãos de administração de pessoal em que suas atividades
estão centralizadas na escrituração, registro e controle. E vem assim se resumindo
em suas próprias regras, geradas no calor de decisões precipitadas e urgentes,
sempre com a preocupação focada no controle das pessoas.
Foi partindo destas práticas que os gestores de recursos humanos foram
se distanciando da elaboração de planos de ação que possam contribuir diretamente
para o aumento da produtividade das equipes. De acordo com a opinião da
professora da USP, a Dra. Ana Cristina Limongi França in (PORTO, 2006:03)
A questão central da qualidade de vida é a de determinar quais condições devem existir para melhores índices de produtividade preservando condições de vida saudáveis. Novos desafios recaem sobre o gerente da área pública que busca garantir a melhor performance da sua equipe e ainda gerar desenvolvimento humano, sem afetar a segurança e a saúde dos servidores e funcionários.
Segundo Petrella, in (CHANLAT 2002:02): A solidariedade está na base
do desenvolvimento social e do funcionamento eficaz da economia de um país.
Historicamente, não há desenvolvimento equilibrado sem uma burocracia
competente, íntegra, independente e dedicada à causa do bem comum. Os que
lutam pelas mudanças do setor público devem notar isso se não quiserem uma
diminuição da qualidade dos serviços e uma desmobilização de seu pessoal. Elizete
Passos (2000:80), ao tratar sobre a ética nas Organizações, declara que:
34
a) Misturam-se verdades com meias verdades e com inverdades, tendo
como saldo conclusões perigosas que chegam a afirmar que o problema ético no
serviço público é estrutural e sem saída;
b) De fato, sabe-se que essa é uma realidade complexa, que precisa ser
analisada cada situação separadamente, dentro do seu contexto e não de forma
simplista e apressada;
c) É verdade que aquilo que a sociedade fala sobre o serviço público é o
que se vê na prática através da morosidade, do descaso com suas demandas e das
esperas em longas filas. Também, pelo que é divulgado nos meios de comunicação
de massa demonstrando o empreguismo, o uso do poder em causa própria, e do
dinheiro público ilicitamente ou em ações que não são consideradas prioritárias pela
população.
d) Do mesmo modo, a má conservação dos bens públicos (monumentos,
ruas, carros, propriedades) é motivo de crítica e de descrédito da sociedade;
e) Ela não tem condições de saber de quem é a responsabilidade, quais
são as fontes dos desmandos apresentados na prática;
f) Na ausência de tais esclarecimentos, faz generalizações distorcidas,
muitas vezes impregnadas de preconceitos que definem os funcionários públicos
como preguiçosos, incompetentes e irresponsáveis quando de fato, existem entre
eles, pessoas que se portam dessa forma, assim como em qualquer espaço de
trabalho, mas, também aquelas que são sérias e preocupadas com o serviço público
e com o bem comum, funcionários que ingressaram no serviço público através de
concurso e que trabalham tanto quanto aqueles da iniciativa privada.
É necessário entender que os problemas de ordem ética no serviço
público existem, porém, como esclarece Carneiro (1998:03); os funcionários públicos
não são responsáveis pela deterioração dos serviços públicos, pela burocratização e
pela quebra dos padrões de conduta ética da administração pública. Os seres
humanos, suas atitudes antiéticas na vida em geral e, por extensão, no trabalho.
35
Na administração pública o controle é indispensável desde que os
recursos sejam públicos e comprometidos com os objetivos do Estado. O controle do
Estado, em sentido amplo se dá de várias formas e tem sido enfatizado como uma
necessidade para se alcançar resultados positivos.
3.2. Desafios a serem vencidos pela ética na sociedade brasileira
Os seres humanos, para satisfazer as suas necessidades, convivem em
sociedade e a convivência os desafia a descobrir como agir na relação com os
outros e a criar formas de viver que se diferenciam uma das outra. Atualmente a
sociedade passa por uma grave crise de valores, caracterizada pela falta de decoro,
de respeito pelo outro e de limites. No Brasil, já existe uma consciência, que
continua crescendo, de que a questão da ética é tão importante quanto à
lucratividade. Contudo, As pessoas têm dificuldades em assimilar normas morais e
respeitar as leis e as regras sociais apresentando uma grande resistência em
admitirem suas atitudes antiéticas na vida em geral e, por extensão, no trabalho.
Há, ainda, as que não fazem uma auto-análise dos seus comportamentos,
mas, ao contrário, passam a assumir uma postura bem mais cômoda, embora
desonesta: culpam a organização e os outros pelas conseqüências dos seus atos.
Quando a ética é negligenciada numa organização, passa a prevalecer o
sentimento de desconfiança, a falta de lealdade dos empregados, a utilização da
tecnologia a serviço da fraude, colocando em jogo o destino da organização e
tornando-se o motivo do desmoronamento de muitas instituições A ética de uma
organização deve seguir uma orientação humanista, ou seja, reconhecendo o valor
principal dos seres humanos. Não se pode esquecer que as pessoas envolvidas
com a organização são seres humanos com emoções e sentimentos e não
máquinas ou peças da engrenagem produtiva. A esse respeito Passos (2000:58)
declara:
A ética profissional caracteriza-se por um conjunto de normas e princípios que tem por fim orientar as relações dos profissionais com os seus pares, destes com os seus clientes, com sua equipe de trabalho, com as instituições a que servem, dentre outros.
36
A ética profissional estuda e regula o relacionamento do profissional,
visando à dignidade humana e à construção do bem-estar sócio-cultural A ética é
indispensável ao profissional porque na ação humana "o fazer" e o "agir” estão
interligados. O professor Oscar d'Alva Souza, no seu livro "Ética Individual & Ética
Profissional - Princípios da Razão Feliz" (2001:71) afirma:
A ética profissional pode ser compreendida como uma reflexão pessoal do agente profissional, buscando definir diretrizes lógicas e valorativas orientadoras de seu procedimento no trabalho... O refletir ético-profissional traduz densa complexidade e dificuldade normativa da indicação de uma moral exemplar, pois apresenta invariavelmente como questão prática a problematização de duas realizações felizes, a do profissional e a de seu cliente. (SOUZA, 2001:71).
Os códigos ou normas de ética profissional seguem sempre a orientação
teórica da sociedade. Tal orientação deve ser seguida por todos os códigos de ética
profissional, para que possuam sempre um caráter verdadeiramente ético e não um
amontoado de fórmulas prontas, sem objetividade, que servem apenas para
"sacramentar" a prática exercida. Historicamente, não há desenvolvimento
equilibrado sem uma burocracia competente, íntegra, independente e dedicada à
causa do bem comum. “A solidariedade está na base do desenvolvimento social e
do funcionamento eficaz da economia de um país” (Petrella, in CHANLAT: 2002:07).
Os reformadores do setor público devem notar isso se não quiserem uma diminuição
da qualidade dos serviços e uma desmobilização de seu pessoal. O novo
gerenciamento público não pode, em caso nenhum, ignorá-lo. Pois os grandes
ideais éticos estão na base de toda ação de serviço público e parte integrante de
toda democracia digna deste nome. Petrella lembra a famosa advertência feita por
Max Weber na virada do século XX.
Quando o cumprimento do dever profissional não pode ser diretamente ligado aos valores espirituais e culturais mais elevados – ou, inversamente, quando não pode ser sentido como uma simples coerção econômica - o indivíduo renuncia em geral a justificá-lo. Nos Estados Unidos, no lugar mesmo do seu paroxismo, a perseguição da riqueza, despojada de seu sentido ético-religioso, tende hoje a associar-se às paixões puramente agonísticas, o que lhe confere quase sempre a característica de um esporte. (Pretella, in CHANLAT (2002: 07).
37
Este dever social é, normalmente, exercido dentro das organizações.
Estas são estruturadas por pessoas com formações éticas diferentes. Entretanto,
cada organização possui a sua cultura que conduz a maneira de ser e agir dos seus
participantes. As organizações públicas, por possuírem um caráter social, devem ser
analisadas de forma diferenciadas no contexto ético-empresarial. As entidades
públicas visam ao bem coletivo e fazem parte do patrimônio do Estado. Na maioria
das vezes, seus gestores são temporários, enquanto seus servidores são
permanentes.
3.3. A Organização Ética na Secretaria da Fazenda do Estado do
Ceará
O serviço público deve ser definido levando-se em consideração a
Constituição Federal, pois é nela que se encontram as características básicas
dessas atividades que, estando previstas como competências estatais, são regidas
por um regime jurídico específico, que não se confunde com aquele que rege as
atividades econômicas.
Considerando que as necessidades de mudança na gestão empresarial
vêm se tornando imprescindíveis, percebe-se que é preciso encontrar novos
modelos de gestão compatíveis com os desafios atuais, focados num novo
paradigma cultural e institucional. A presença crescente do pensamento gerencial no
universo dos serviços públicos está também, estreitamente associada à crítica feita
ao modelo burocrático por numerosos auditores, políticos, empresários ou cidadãos
reclamando organizações mais flexíveis, mais dinâmicas e mais inovadoras
(Osborne, Gaebler e Peters, in (CHANLAT: 2002: 02).
Nesse processo de mudança, a Secretaria da Fazenda do Estado do
Ceará compreende que as orientações técnicas precisam estar aliadas à ética não
só no sentido da formação de normas e princípios, mas precisa também, estar
comprometida com a dignidade da pessoa e com a justiça social. Para se falar em
ética, pressupõe-se que o homem seja livre para construir sua própria vida.
Pressupõe-se também, que nem sempre o homem aja bem, que muitas vezes deixa
de fazer o que deveria, ou erra naquilo que faz. Em terceiro lugar, pressupõe-se
igualmente, que o sistema social vigente perdeu sua auto-evidência moral.
38
Dessa forma, supõe-se que todo ato moral inclui a necessidade de
escolha entre as várias opções possíveis. Assim, os princípios éticos ou morais têm
a ver com os valores que o indivíduo tem em relação ao bem e ao mal. Para que o
indivíduo possa escolher as melhores decisões e prevenir as possibilidades de
erros, a reflexão ética é vista como uma orientação segura a ser seguida.
Da mesma forma, uma boa formação ética pode ajudar os servidores a
descobrir a melhor forma de agir para serem úteis à organização, sem compactuar
com situações injustas. Uma organização precisa ser vista como um organismo vivo,
onde cada integrante tem um papel importante e útil a cumprir, a fim de garantir o
seu perfeito funcionamento.
A ética do serviço público, que força o funcionário a deixar de lado suas
posições pessoais, participa da consolidação da democracia. A introdução de formas
empresariais de gestão no sistema público talvez seja uma ameaça a essa
separação das ordens de existência, já que doravante todas as esferas serão
reguladas pelo mesmo ethos, o dos negócios. O funcionário, caução tradicional do
interesse geral e do bem comum, deverá de agora em diante obedecer às
exigências dos clientes, até mesmo do seu chefe imediato.
A ética, em termos profissionais, contempla todas as profissões e significa
um padrão a que um determinado conjunto de pessoas está submetido na medida
em que atua. Esse padrão muitas vezes manifesta-se ou se expressa na forma de
CÓDIGOS DE ÉTICA e são limitados pelos parâmetros impostos pela lei e pelo
padrão mais geral da sociedade a que pertence esse grupo.
Quando se exige, ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO ou na VIDA PÚBLICA
em geral, o que se está pedindo é, antes de tudo, que se fixe um padrão a partir do
qual se possa julgar a atuação dos servidores públicos ou das pessoas envolvidas
na vida pública, sobretudo, o que se exige é que a atuação dos servidores seja ética.
No atual Estado brasileiro, que tem como inspiração a noção de bem
estar social a Constituição prevê várias atribuições que cabem ao Estado prestar,
pois o serviço público é o campo próprio de sua atuação.
39
Cumpre esclarecer que a prestação dos serviços públicos hoje está
estruturada sobre gigantescos bancos de dados, que dependem muito da qualidade
das informações inseridas nos diversos sistemas. Caminha-se para integração dos
diversos sistemas e bancos de dados. Não há como negar que hoje é exigida
padronização e qualidade das tarefas dos servidores mais humildes de qualquer
órgão público. A informatização tornou-se uma realidade e avança a passos largos
em direção às tarefas que ainda não foram revisadas.
3. 4. Conselho de Ética
No contexto da Administração Pública Estadual, a Secretaria da Fazenda
do Estado do Ceará - SEFAZ vem desenvolvendo ações no sentido de contribuir
para melhoria de seus serviços, assumindo uma nova identidade organizacional
onde estão presentes a missão, a visão de futuro e os valores que norteiam as
ações da organização.
Os valores éticos podem ser compreendidos como um conjunto de ações
éticas que auxiliam gerentes e funcionários a tomar decisões de acordo com os
princípios da organização. Quando bem implementados, os valores éticos tendem a
especificar a maneira como a empresa administrará os negócios e consolidar
relações com fornecedores, clientes e outras pessoas envolvidas.
Nesta perspectiva, compreende-se que uma Administração Pública
eficiente é aquela capaz de cumprir todas as suas funções em atendimento aos
princípios e regras pré-estabelecidos. Nessa compreensão, a SEFAZ procura
cumprir suas metas dentro do padrão de qualidade exigido pela sociedade atual.
Cumpre considerar que a SEFAZ tem como principais atribuições dirigir,
orientar e coordenar as atividades de fiscalização, tributação, arrecadação e controle
dos tributos e demais rendas do Estado, exercendo a coordenação geral, a
orientação normativa e as atividades inerentes ao controle interno da instituição.
Assim, o Conselho de Ética da SEFAZ tem por competência verificar a
aplicação da legislação de pessoal, participando, também, de seminários, palestras
40
e discussões a respeito da ética profissional, em parceria com a Corregedoria. O
Conselho é composto por cinco membros efetivos distribuídos da seguinte forma:
Corregedor – membro nato
Dois membros indicados pela Secretaria da Fazenda
Dois membros escolhidos em eleição direta pelos servidores fazendários.
Vale ressaltar que,quando se fala em ética profissional, se estar se
referindo ao caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão,
a partir de estatutos e códigos específicos. A simples introdução de um código de
ética deve ter em seu conteúdo, dispositivo que promovam principalmente, a
prevenção de possíveis desvios da conduta prevista no próprio código, modulando
assim a postura ética pretendida pela organização.
3.5. O Código de Ética
A constituição de 1988 nasceu num momento político que tinha como
paradigma a luta existente entre o comunismo e o capitalismo. Seguindo o exemplo
de diversos países europeus, mesclando princípios de igualdade com liberdade, veio
a se consubstanciar em uma Carta do "bem estar social",
Tendo em vista a desigualdade social existente, o Estado passa a
desempenhar atividades ao cidadão, de forma a tornar sua vida mais digna.
Segundo Roberto Bazilli (1994: 37), este passa de mero guardião da ordem a um
estado prestador e realizador do bem estar dos cidadãos.
A Constituição de 1988, visando prestar ao cidadão as utilidades que o
mesmo precisa para viver dignamente, de forma a não depender apenas do
mercado para prover suas necessidades, atribui diversas competências ao Estado
brasileiro, obrigando a Administração Pública a desempenhar certas atividades que
o Estado, por considerá-las atinentes a interesses integrados em sua esfera de ação
própria.
41
Nesse sentido, a Constituição Brasileira deve ser interpretada como
sendo uma Carta do bem estar social que, ao mesmo tempo em que previu a
liberdade de iniciativa característica do regime capitalista, preocupou-se com a
desigualdade social e previu um Estado prestador de serviços públicos. .As leis,
além de normatizarem determinado assunto, trazem, em seu conteúdo, penalidades
de advertência, suspensão e reclusão do servidor público que infringir dispositivos
previstos na legislação vigente. Uma das mais comentadas na atualidade é a Lei de
Responsabilidade Fiscal, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para
a administração.
Assim sendo, o administrador público deve ter um Código de Conduta de
linguagem simples e acessível, evitando termos jurídicos excessivamente técnicos,
que norteie o seu comportamento enquanto permanecer no cargo e o proteja de
acusações infundadas. Na ausência de regras claras e práticas de conduta, corre-se
o risco de inibir o cidadão honesto de aceitar um cargo público de relevo.
É importante esclarecer que as leis, além de normatizarem determinado
assunto, trazem, em seu conteúdo, penalidades de advertência, suspensão e
reclusão do servidor público que infringir dispositivos previstos na legislação vigente.
Uma das mais comentadas na atualidade é a Lei de Responsabilidade Fiscal, que
estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão
fiscal.
Refletindo sobre a questão, acredita-se que uma alternativa, para o
governo, poderia ser a oferta à sociedade de ações educativas de boa qualidade,
nas quais os indivíduos pudessem ter, desde o início da sua formação, valores
arraigados e trilhados na moralidade. Dessa forma, seriam garantidos aos mesmos,
comportamentos mais duradouros e interiorização de princípios éticos.
A moralidade administrativa constitui-se, atualmente, num pressuposto de
validade de todo ato da administração pública. A moral administrativa é imposta ao
agente público para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que
serve, e a finalidade de sua ação: o bem comum. O administrador público, ao atuar,
não poderia desprezar o elemento ético de sua conduta.
42
Outros caminhos ou alternativas viáveis seriam a repreensão e a
repressão, e nesse ponto há de se levar em consideração as leis punitivas e os
diversos códigos de ética de categorias profissionais e de servidores públicos, os
quais trazem severas penalidades aos maus administradores.
Criada pelo Presidente da República em maio de 2000, a Comissão de
Ética Pública entende que o aperfeiçoamento da conduta ética decorreria da
explicitação de regras claras de comportamento e do desenvolvimento de uma
estratégia específica para a sua implementação. Na formulação dessa estratégia, a
Comissão considera que é imprescindível levar em conta, como pressuposto, que a
base do funcionalismo é estruturalmente sólida, pois deriva de valores tradicionais
da classe média, onde ele é recrutado.
Qualquer iniciativa que parta do diagnóstico de que se está diante de um
problema endêmico de corrupção generalizada será inevitavelmente equivocada,
injusta e contraproducente, pois alienaria o funcionalismo do esforço de
aperfeiçoamento que a sociedade está a exigir. Afinal, não se poderia
responsabilizar nem cobrar algo de alguém que sequer teve a oportunidade de
conhecê-lo. MULLE (2006:02).
Do ponto de vista da Comissão de Ética Pública, a repressão, na prática,
é quase sempre ineficaz. O ideal seria a prevenção, através de identificação de
tratamento específico, das áreas da administração pública em que ocorressem, com
maior freqüência, condutas incompatíveis com o padrão ético almejado para o
serviço público. Essa é uma tarefa complicada, que deveria ser iniciada por aqueles
que detêm poder decisório.
Além disso, presume-se ser necessária a criação de mecanismo ágil de
formulação dessas regras, assim como de sua difusão e fiscalização, devendo existir
uma instância à qual os administradores públicos possam recorrer em caso de
dúvida e de apuração de transgressões, que seria, no caso, a Comissão de Ética
Pública, como órgão de consulta da Presidência da República.
Os códigos de ética trazem, em seu conteúdo, o conjunto de normas a
serem seguidas e as penalidades aplicáveis no caso do não cumprimento das
43
mesmas. Normalmente, os códigos lembram aos funcionários que estes devem agir
com dignidade, decoro zelo e eficácia, para preservar a honra do serviço público.
Enfatizam que é dever do servidor ser cortês, atencioso, respeitoso com os usuários
do serviço público. Também, é dever do servidor ser rápido, assíduo, leal, correto e
justo, escolhendo sempre aquela opção que beneficie o maior número de pessoas.
Cumpre esclarecer que as organizações, assim como as pessoas, têm
características próprias, por isso cada grupo ocupacional deve ter seu Código de
Ética, servindo os demais apenas como referência.
Num mundo impregnado de valores contraditórios, a prática da ética
estimulada desde a infância em cada ser humano deve ser constantemente exigida
para que se possa perpetuar. Um Código de Ética é o oxigênio necessário para que
as bases da conduta moral se fortaleçam.
Os códigos discorrem, ainda, sobre as obrigações, regras, cuidados e
cautelas que devem ser observadas para cumprimento do objetivo maior que é o
bem comum, prestando serviço público de qualidade à população. Afinal, esta última
é quem alimenta a máquina governamental dos recursos financeiros necessários à
prestação dos serviços públicos, através do pagamento dos tributos previstos na
legislação brasileira – ressalta-se, aqui, a grande carga tributária imposta aos
contribuintes brasileiros. MULLE (2006:02).
De acordo com os códigos de ética a função do servidor deve ser
exercida com transparência, competência, seriedade e compromisso com o bem
estar da coletividade. A observância dos princípios elencados acima garantirá o
sucesso da instituição. Além disso, é relevante ter consciência de que toda a
sociedade vai se beneficiar através da ética aplicada dentro da empresa, bem como
os clientes, os fornecedores, os sócios, os funcionários, o governo. Se a empresa
agir dentro dos padrões éticos, ela só tende a crescer, desde a sua estrutura em si,
como aqueles que a compõem.
44
CONCLUSÃO
A presente pesquisa monográfica teve como objetivo central analisar a
importância da Ética no complexo sistema de trabalho de uma organização onde a
alocação de recursos sobre o capital humano em um breve espaço de tempo,
deverá estar se tornando um dos principais objetivos do administrador moderno.
Tendo como Fundamentação Teórica o pensamento de autores como, por
exemplo, Idalberto Chiavenato, Elizete Passos, Adolfo Vasques, Cecília Arruda,
dentre outros, compreendemos que, atualmente o conhecimento das pessoas passa
a ser um dos maiores bens de uma Instituição e devido a isso, passa a interferir
diretamente no futuro dela, sendo que sem dúvida, a ética será uma das mais
importantes ferramentas para conduzir estas pessoas ao melhor caminho.
A ética tem sido um dos mais trabalhados temas da atualidade, porque se
vem exigindo valores morais em todas as instâncias da sociedade, sejam elas
políticas, científicas ou econômicas. A questão deveria ser conduzida com muita
seriedade, porque desfazer a imagem negativa do padrão ético do serviço público
brasileiro não tem sido uma tarefa fácil.
Refletindo sobre esta questão, acredita-se que uma alternativa viável,
para o governo, poderia ser a oferta à sociedade de ações educativas de boa
qualidade, nas quais os indivíduos pudessem ter, desde o início da sua formação,
valores focados na moralidade. Dessa forma, seriam garantidos aos mesmos,
comportamentos mais duradouros e interiorização de princípios éticos, desta
formando-se assim, a base de sustentação do novo modelo de gestão.
Para que haja uma administração eficaz e eficiente, necessário se faz que
sejam cumpridas todas as funções inerentes aos princípios que regem a instituição.
Nesse sentido, o sistema atual necessitaria de algumas adaptações para
se moldar conforme os fundamentos do modelo sistêmico, sendo que a principal
força da excelência organizacional está baseada na capacidade e no
comprometimento da alta direção em desenvolver um sistema de gestão eficaz, que
45
estimule as pessoas a um propósito comum, considerando valores, diretrizes e
estratégias da organização.
Segundo Neise Silva (1999:07) os homens enfrentam como grande
desafio a necessidade de autoconhecimento e auto-ajuste, para que possam
equilibrar-se no mundo e na convivência com os outros. A cooperação parece ser,
nos dias de hoje, o único caminho possível para o bom desenvolvimento da
sociedade.
Compreendendo que a satisfação do usuário está relacionada ao acesso
à informação clara e objetiva, pressupõe-se que a administração pública deve estar
preparada para ouvir os cidadãos, sendo flexível para redimensionar sua estrutura
organizacional de acordo com as necessidades específicas dos usuários,
extrapolando os limites formais e primando pela qualidade dos serviços prestados.
O estudo realizado nos proporcionou a possibilidade de evidenciar que o
comportamento ético e a busca da a qualidade total podem favorecer a formação de
uma boa imagem do servidor público e que as empresas que almejam se manter no
mercado hoje, não podem deixar de primar pela qualidade na prestação de seus
serviços.
Concluímos este trabalho compreendendo que a ética, para ser
construída no cotidiano de uma organização pública, precisa, em primeiro lugar, ser
compreendida como um referencial de qualidade para o setor público pondo-se em
prática uma política de integração que atenda as necessidades do servidor.
Assim sendo, os códigos de ética não podem deixar de ter um
compromisso direto com a sociedade e, assim, precisam ser meios para atingir o
indivíduo, já que o princípio básico de toda ética é o respeito à dignidade humana.
Por essa razão, os servidores públicos devem conhecer os principais valores que
definem sua conduta ética, reconhecendo quais os padrões éticos que a SEFAZ tem
como referência.
Com base no estudo realizado através da pesquisa bibliográfica e
documental da SEFAZ verificamos que os valores que definem a conduta ética dos
46
servidores são a Ética, a Eqüidade Fiscal, Responsabilidade Social, Qualidade dos
Serviços, Cidadania, Credibilidade e Legitimidade. Verificamos ainda, que os
padrões éticos tidos como referências para os servidores são os princípios, valores e
normas que norteiam a SEFAZ, assegurando a defesa dos legítimos interesses e
direitos de seus servidores e garantindo que os objetivos organizacionais
prevaleçam sobre os pessoais.
Esperamos com essa pesquisa contribuir para uma ação repensada dos
servidores a fim de que se conscientizem de que o compromisso e a
responsabilidade com a melhoria dos serviços prestados estão nas mãos do
servidor, em cada atendimento aos cidadãos, em cada comportamento dentro da
repartição, em cada cumprimento de uma obrigação, onde se pode optar pelo
caminho do desperdício, da imoralidade, da negligência, ou pelo caminho do
exemplo, da ética e da moralidade.
47
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50
ANEXOS
51
REGRAS DEONTOLÓGICAS
I - A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios morais são
primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no exercício do cargo
ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício da vocação do próprio poder
estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão direcionados para a
preservação da honra e da tradição dos serviços públicos.
II - O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta.
Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o
conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre
o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4°, da
Constituição Federal.
III - A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o
mal, devendo ser acrescida da idéia de que o fim é sempre o bem comum. O
equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público, é que
poderá consolidar a moralidade do ato administrativo.
IV- A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos direta ou
indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, como contrapartida,
que a moralidade administrativa se integre no Direito, como elemento indissociável
de sua aplicação e de sua finalidade, erigindo-se, como conseqüência em fator de
legalidade.
V - O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade deve ser
entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como cidadão,
integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser considerado como seu
maior patrimônio.
VI - A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se integra
na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e atos verificados na
conduta do dia-a-dia em sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom
conceito na vida funcional.
VII - Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse
superior do Estado e da Administração Pública, a serem preservados em processo
previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer ato
administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade, ensejando sua omissão
52
comprometimento ético contra o bem comum, imputável a quem a negar. Decreto nº.
1.171/94.
VIII - Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou falseá-la
ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou da
Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder
corruptivo do hábito do erro, da opressão, ou da mentira, que sempre aniquilam até
mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação.
IX - A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço público
caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que paga seus
tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral. Da mesma forma,
causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimônio público, deteriorando-o, por
descuido ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa ao equipamento e às
instalações ou ao Estado, mas a todos os homens de boa vontade que dedicaram
sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus esforços para construí-los.
X - Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que compete ao
setor em que exerça suas funções, permitindo a formação de longas filas, ou
qualquer outra espécie de atraso na prestação do serviço, não caracteriza apenas
atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas principalmente grave dano
moral aos usuários dos serviços públicos.
XI - 0 servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus superiores,
velando atentamente por seu cumprimento, e, assim, evitando a conduta negligente
Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de desvios tornam-se, às vezes, difíceis
de corrigir e caracterizam até mesmo imprudência no desempenho da função
pública.
XII - Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é fator de
desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz à desordem nas
relações humanas.
XIII - 0 servidor que trabalha em harmonia com a estrutura organizacional,
respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode receber
colaboração, pois sua atividade pública é a grande oportunidade para o crescimento
e o engrandecimento da Nação.
53
DOS PRINCIPAIS DEVERES DOS SERVIDORES
XIV - São deveres fundamentais do servidor público:
a) desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, função ou emprego público de
que seja titular;
b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, pondo fim ou
procurando prioritariamente resolver situações procrastinatórias, principalmente
diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso na prestação dos serviços
pelo setor em que exerça suas atribuições, com o fim de evitar dano moral ao
usuário;
c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do seu caráter,
escolhendo sempre, quando estiver diante de duas opções, a melhor e a mais
vantajosa para o bem comum;
d) jamais retardar qualquer prestação de contas, condição essencial da gestão dos
bens, direitos e serviços da coletividade a seu cargo;
e) tratar cuidadosamente os usuários dos serviços, aperfeiçoando o processo de
comunicação e contato com o público;
f) ter consciência de que seu trabalho é regido por princípios éticos que se
materializam na adequada prestação dos serviços públicos;
g) ser cortês, ter urbanidade, disponibilidade e atenção, respeitando a capacidade e
as limitações individuais de todos os usuários do serviço público, sem qualquer
espécie de preconceito ou distinção de raça, sexo, nacionalidade, cor, idade,
religião, cunho político e posição social, abstendo-se, dessa forma, de causar-lhes
dano moral;
h) ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de representar contra
qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se funda o Poder Estatal;
i) resistir a todas as pressões de superiores hierárquicos, de contratantes,
interessados e outros que visem obter quaisquer favores, benesses ou vantagens
indevidas em decorrência de ações morais, ilegais ou aéticas e denunciá-las;
j) zelar, no exercício do direito de greve, pelas exigências específicas da defesa da
vida e da segurança coletiva;
l) ser assíduo e freqüente ao serviço, na certeza de que sua ausência provoca danos
ao trabalho ordenado, refletindo negativamente em todo o sistema;
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m) comunicar imediatamente a seus superiores todo e qualquer ato ou fato contrário
ao interesse público, exigindo as providências cabíveis;
n) manter limpo e em perfeita ordem o local de trabalho, seguindo os métodos mais
adequados à sua organização e distribuição;
o) participar dos movimentos e estudos que se relacionem com a melhoria do
exercício de suas funções, tendo por escopo a realização do bem comum;
p) apresentar-se ao trabalho com vestimentas adequadas ao exercício da função;
q) manter-se atualizado com as instruções, as normas de serviço e a legislação
pertinentes ao órgão onde exerce suas funções;
r) cumprir, de acordo com as normas do serviço e as instruções superiores, as Das
Vedações ao Servidor Público
XV - É vedado ao servidor público;
a) o uso do cargo ou função, facilidades, amizades, tempo, posição e influências,
para obter qualquer favorecimento, para si ou para outrem;
b) prejudicar deliberadamente a reputação de outros servidores ou de cidadãos que
deles dependam;
c) ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente com erro ou infração a
este Código de Ética ou ao Código de Ética de sua profissão;
d) usar de artifícios para procrastinar ou dificultar o exercício regular de direito por
qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material;
e) deixar de utilizar os avanços técnicos e científicos ao seu alcance ou do seu
conhecimento para atendimento do seu mister;
f) permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos, paixões ou interesses
de ordem pessoal interfiram no trato com o público, com os jurisdicionados
administrativos ou com colegas hierarquicamente superiores ou inferiores;
g) pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda financeira,
gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qualquer espécie, para si,
familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento da sua missão ou para
influenciar outro servidor para o mesmo fim;
h) alterar ou deturpar o teor de documentos que deva encaminhar para providências;
i) iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite do atendimento em serviços
públicos;
j) desviar servidor público para atendimento a interesse particular;
55
DAS COMISSÕES DE ÉTICA
XVI - Em todos os órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta,
indireta autárquica e fundacional, ou em qualquer órgão ou entidade que exerça
atribuições delegadas pelo poder público, deverá ser criada uma Comissão de Ética,
encarregada de orientar e aconselhar sobre a ética profissional do servidor, no
tratamento com as pessoas e com o patrimônio público, competindo-lhe conhecer
concretamente de imputação ou de procedimento susceptível de censura.
XVII -- Cada Comissão de Ética, integrada por três servidores públicos e respectivos
suplentes, poderá instaurar, de ofício, processo sobre ato, fato ou conduta que
considerar passível de infringência a princípio ou norma ético profissional, podendo
ainda conhecer de consultas, denúncias ou representações formuladas contra o
servidor público, a repartição ou o setor em que haja ocorrido a falta, cuja análise e
deliberação forem recomendáveis para atender ou resguardar o exercício do cargo
ou função pública, desde que formuladas por autoridade, servidor, jurisdicionados
administrativos, qualquer cidadão que se identifique ou quaisquer entidades
associativas regularmente constituídas.
XVIII - À Comissão de Ética incumbe fornecer, aos organismos encarregados da
execução do quadro de carreira dos servidores, os registros sobre sua conduta
Ética, para o efeito de instruir e fundamentar promoções e para todos os demais
procedimentos próprios da carreira do servidor público.
XIX - Os procedimentos a serem adotados pela Comissão de Ética, para a apuração
de fato ou ato que, em princípio, se apresente contrário à ética, em conformidade
com este Código, terão o rito sumário, ouvidos apenas o queixoso e o servidor, ou
apenas este, se a apuração decorrer de conhecimento de ofício,cabendo sempre
recurso ao respectivo Ministro de Estado.
XX - Dada a eventual gravidade da conduta do servidor ou sua reincidência, poderá
a Comissão de Ética encaminhar a sua decisão e respectivo expediente para a
Comissão Permanente de Processo Disciplinar do respectivo órgão, se houver, e,
cumulativamente, se for o caso, à entidade em que, por exercício profissional, o
servidor público esteja inscrito, para as providências disciplinares cabíveis. O
retardamento dos procedimentos aqui prescritos implicará comprometimento ético
da própria Comissão, cabendo à Comissão de Ética do órgão hierarquicamente
superior o seu conhecimento e providências.
56
XXI - As decisões da Comissão de Ética, na análise de qualquer fato ou ato
submetido à sua apreciação ou por ela levantado, serão resumidas em ementa e,
com a omissão dos nomes dos interessados, divulgadas no próprio órgão, bem
como remetidas às demais Comissões de Ética, criadas com o fito de formação da
consciência ética na prestação de serviços públicos. Uma cópia completa de todo o
expediente deverá ser remetida à Secretaria da Administração Federal da
Presidência da República.
XXII - A pena aplicável ao servidor público pela Comissão de Ética é a de censura e
sua fundamentação constará do respectivo parecer, assinado por todos os seus
integrantes, com ciência do faltoso.
XXIII - A Comissão de Ética não poderá se eximir de fundamentar o julgamento da
falta de ética do servidor público ou do prestador de serviços contratado, alegando a
falta de previsão neste Código, cabendo-lhe recorrer à analogia, aos costumes e aos
princípios éticos e morais conhecidos em outras profissões;
XXIV - Para fins de apuração do comprometimento ético, entende-se por servidor
público todo aquele que, por força de lei, contrato ou de qualquer ato jurídico, preste
serviços de natureza permanente, temporária ou excepcional, ainda que sem
retribuição financeira, desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer órgão do
poder estatal, como as autarquias, as fundações públicas, as entidades paraestatais,
as empresas públicas e as sociedades de economia mista, ou em qualquer setor
onde prevaleça o interesse do Estado.
XXV - Em cada órgão do Poder Executivo Federal em que qualquer cidadão houver
de tomar posse ou ser investido em função pública, deverá ser prestado, perante a
respectiva Comissão de Ética, um compromisso solene de acatamento e
observância das regras estabelecidas por este Código de Ética e de todos os
princípios éticos e morais estabelecidos pela tradição e pelos bons costumes.