a teoria freudiana da transferência

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O singular da experincia analtica H algo de singular na relao entre paciente e psicanalista. Ao compararmos essa relao com outras similares, apesar de objetivos diferentes as estruturas se assemelham, como no caso da educao, relao aluno professor ou de um paciente com seu mdico, que tambm requer o estabelecimento de algum tipo de vnculo afetivo entre os seus participantes , a psicanlise requer um manejo especial desse vnculo trasferencial a fim de operar em uma tica prpria que permita que ao sujeito do inconsciente se manifestar, ter uma voz que emerge dessa relao transferencial, o desejo.

o IDEAL DE EDUCAOA educao tida por Antipoff (2002, p. 177-188) como uma atividade que implica uma disponibilidade constante de aprendizagem e crescimento, j que na tarefa educativa no h como retirar a personalidade daquele que educa e h uma relao ntima entre o educador e o educando; os dois objetivos de educar aos outros e a si mesmo so inseparveis.

A arte de ensinar, ou melhor, a arte de educar a mais delicada no mundo. No basta, como em outras artes, vestir de forma a ideia, escolhendo vontade a matria-prima.Aqui o artista no tem escolha: recebe quantos meninosnasceram no municpio. A grande arte consistir em adap-.tar a sua ideia ao feitio particular do educando, e no universopsicolgico da criana fazer ressoar o seu prpriouniverso. Explcita ou implicitamente, deve haver entre osdois, entendimentos. Seno, na melhor das hipteses, os feitos educativos sero transitrios, no passando de um verniz muito superficial; na pior, criar rebeldia e revoltas.(ANTIPOFF, 2002, p. 216)

aprendizagem: interveno sobredois fenmenos de transfernciaindesej ados1Jcia Soares SantosNESTE ARTIGO ABORDAREMOS O TEMA DA TRANSFERtNCIA NA EDUCAAOou, mais especificamente, os fenmenos subjetivos que, na relaoeducativa, impedem a instalao do vnculo transferencial indispensvelpara o processo de ensino e aprendizagem.umaNo campo da psicanlise, a transferncia definida comoreedio dos impulsos e fantasias despertadas e tornadasconscientes durante o desenvolvimento da anlise eque traz como singularidade caracteristica a substituiode uma pessoa anterior pela pessoa do mdico. Ou, paradizer de outro modo: toda uma srie de acontecimentospsquicos ganha vida novamente, no mais como passado~mas como relao atual com a pessoa do mdico.(FREUD, 1988, p. 998)Na transferncia existe uma repetio de vivncias do passadorelacionadas s figuras parentais, e no somente recordaes. Ademanda de anlise comporta uma dimenso transferencial porqueo paciente se enderea a algum a quem ele supe um saber: sabercomo cur-lo de seu sintoma. Porm, esse fenmeno no exclusi-1. Texto produzido no mbito do curso de Mestrado em Educao, do Programade Ps-graduao em Educao: conhecimento e incluso social, FAElUFMG, soborientao da Profa. Dra. Ana Lydia Santiago. Linha de pesquisa: Psicologia, Psicanlisee Educao.

res familiares. Recusando o professor, a criana recusa, consequentemente,o saber por ele transmitido, uma vez que os alunos nodistinguem entre o professor e a disciplina por ele lecionada. Se naeducao - mais do que o conhecimento - o que leva o aluno a seater aos estudos o amor transferencial pelo outro, no havendoo amor na relao entre professor e aluno no h a aprendizagem.Freud, no texto "Alguns tipos de carter encontrados no trabalhopsicanaltico" (1916), j dizia que o amor que toma possvel aeducao, seja ela de que natureza for. Portanto, nos fenmenos derecusa, a inibio sintomtica e, por conseguinte, os problemas deaprendizagem surgem porque a pulso de saber interditada, e odesejo de saber abandonado. Desaparecendo o desejo de saber, impossvel a configurao do sujeito suposto saber e, consequentemente,o estabelecimento da transferncia entre aluno e professor.Nesse caso, a aprendizagem no ocorre, pois o aluno no tem noprofessor o fiel depositrio de seu desejo. Alm disso, se o professorno tem o seu saber suposto pelo alu,n o, no ter reconhecida a suaautoridade, nem tampouco conseguir estabelecer o respeito e o limite,indispensveis na relao educativa, diz Tizio (2003).Por serem os fenmenos de amor erotizado e de recusa, naspalavras de Sntiago (2008, p. 113-131), sintomas da educao,)dois entre tantos fatores que podem dificultar a transferncia ao sabere, consequentemente, o desenvolvimento do ensino/aprendizagem, que nos interessa estud-los. Assim, neste trabalho, importou-nos conhecer o que os professores podiam nos ensinar sobreesses dois fenmenos, para, a partir da, construirmos estratgias decomo lidar com tais manifestaes no espao escolar. Isso porqueestudos recentes, ligados ao tema da transferncia na educao, tmrevelado que os professores testemunham seu incmodo com essesdois fenmenos. Interessou-nos tambm investigar como o professortem respondido s manifestaes de recusa ou de amor erotizado3. Os sintomas escolares aparecem, conforme Santiago (2008), sob a forma da noaprendizagem(fracasso escolar), da violncia, da agressividade etc.dos seus alunos e qual dessas manifestaes considera mais difcil desuportar.A metodologia proposta, neste estudo, foi a Conversao, objetivandoa realizao de pesquisa-interveno no mbito da interlocuoentre psicanlise e educao.A Conversao um mtodo criado pelo psicanalistajacquesAlainMiller para a aplicao da psicanlise aos sintomas da modernidade,entre os quais se podem localizar os sintomas escolares: segregao,fracasso escolar, violncia, 'entre outros. O interesse maiorda Conversao pela singularidade do sujeito e por aquilo que ogrupo ser capaz de produzir, a partir da conversa. .Para Miller (2003), a Conversao pode ser definida da seguintemaneira:Uma Conversao uma srie de associaes livres. Aassociao livre pode ser coletivizada na medida em queno somos donos dos significantes. Um significante chamaoutro significante, no sendo to importante quem oproduz em um momento dado. Se confiamos na cadeiade significantes, vrios participam do mesmo. Pelo menos a fico da Conversao: produzir - no uma enunciaocoletiva - seno uma 'associao livre' coletivizada,da qual esperamos um certo efeito de saber. Quando ascoisas passam bem a mim os significantes de outros medo ideias, me ajudam, e, finalmente, resulta, s vezes, emalgo novo, perspectivas inditas. Cp. 15-16)Essa definio de Conversao, criada por Miller, que temorientado a pesquisa-interveno de orientao psicanaltica aplicadaao campo da educao. No Ncleo Interdisciplinar de Pesquisaem Psicanlise e Educao (Nipse), por exemplo, propomos a Conversaocomo metodologia da pesquisa-interveno nas investigaesdos sintomas escolares e, dessa forma, temos constatado que aassociao livre coletivizada, proposta a partir de um impasse qualquer,possibilita aos sujeitos participantes construir algo novo, umasada indita para aquilo que no vai bem. O objetivo da Conversaono , portanto, buscar um consenso a partir do que dito, masres por meio da carncia dos alunos, a nosso ver, aponta para umasegunda consequncia: a dessuposio de saber no aluno, ou seja,os professores demonstram baixa expectativa quanto capacidadede aprendizagem das 'crianas provenientes dos meios populares, oque j foi ressaltado por outros autores, como Patto (1993) e Mrech(1999). Assim disse um professor:Eu fico at com pena da UM". Ela vem pra escola tododia! J est com trs anos de escolarizao e ainda nosabe nem o nome completo. Ela me escreve umas cartinhas(risos) do jeito dela, n! Ningum sabe o que estescrito ali. Ento eu peo a ela pra ler pra mim; peo pratraduzir. H mais de um ano estou tentando alfabetizla,mas nada tem dado certo. O problema dela foge domeu controle ... A vida dela muito complicada. Ela vivenuma pobreza que s vendo! Tem dia que ela vem comfome. Nessas condies difcil de aprender; essa crianano aprende! (fala de um professor da segunda etapa doprimeiro ciclo)Outro dado que os professores~ambm puderam nos confidenciardiz do modo como tm reagido, mesmo que de maneira inconsciente,ao amor erotizado dos seus alunos. O fato de acreditaremque o fenmeno do amor erotizado nada mais que uma carnciaafetiva da criana faz com que os professores busquem suprir parteda demanda de afeto supostamente endereada a eles pelo aluno.O problema do "l" carncia, sabe? Quando eu peo paravir at a minha mesa para eu tomar leitura, voc precisaver: ele cola em mim, parece que vai sentar no meu colo!Na sala, quando ele t muito calado, eu sei que aconteceualguma coisa, ento eu espero os meninos sarem para orecreio para eu conversar com ele. Ele me conta as coisasque acontecem com a famlia dele e eu fico com muita d!To pequeno e to sofrido! J tive at vontade de pedir ame dele para deix-lo passar um fim de semana l emcasa, mas depois desisti. (fala de uma professora da primeiraetapa do primeiro ciclo)Entre todas as professoras entrevistadas, apenas duas disseramse incomodar com o fato de algumas crianas apresentarem porelas um amor alm do desejado. Para uma dessas professoras, os alunospara os quais o amor ao professor ganhou excessiva importnciageralmente ficam muito dependentes: solicitam a todo o tempo apresena do professor, tentam monopolizar a sua ateno, enfim,parecem infantilizados, tolhidos na sua possibilidade de crescimentoe autonomia intelectual. Porm, o que todo professor busca, segundoessa professora, " formar um aluno autnomo, capaz de tomarsuas prprias decises, mesmo que essas contrariem a vontade doprofessor" (fala de uma professora da segunda etapa do primeirociclo). J a segunda professora justifica o seu incmodo perante oamor erotizado de seus alunos dizendo que as crianas com tal perfildesejam ficar muito "grudadas" ao professor, e o toque, em excesso, algo que lhe causa desconforto, pois se sente invadida. Por isso, narelao em sala de aula, diz no responder s demandas afetivas dosalunos: abraos, beijos etc.Ao contrrio do amor erotizado, o fenmeno de recusa, conformenos revelaram os professores, o mais difcil de ser suportadona relao diria com as crianas. A recusa, conforme j mencionamos,faz com que a criana, de maneira radical, se oponha a tudoque ofertado pelo professor - sua autoridade, seus ensinamentos- causando neste uma desmotivao pelo trabalho. O fenmeno derecusa, tal como o de amor erotizado, faz com que os professores tenhamalgumas interpretaes equivocadas. Por exemplo: os problemasde aprendizagem nos fenmenos de recusa podem acontecer,como j mencionamos, devido interdio da pulSO de saber e aoabandono do desejo de saber pela criana. Porm, para os professores,os problemas de aprendizagem, nesses casos, so resultados dodesinteresse, indisciplina e falta de limite de alguns alunos provenientesde famlias omissas, que no se preocupam com o desempenhoescolar dos filhos.Na minha sala o "B" no faz nada. Ele nem abre o caderno!Fala que no vai fazer e no faz. Eu j fiquei doentepor causa dele. Ele me fazia muita raiva, me deixavamuito angustiada. Ele parece que vem para a escola sAt aqui, ao tratar da manifestao de alguns fenmenos subjetivosno espao escolar, levamos em considerao apenas a perspectivado aluno. Entretanto, sempre preciso lembrar que o professortambm est sujeito aos mesmos processos inconscientes aosquais os alunos se submetem. Se o professor pode encarnar para oaluno algo fantasmtico, h tamblTI os casos em que o aluno emprestapara o professor algo irreal; algo que eles no sabem dizer,mas que implicante e que torna dramtico o convvio em sala deaula, quando no culmina numa reprovao para a criana. Assimuma professora nos disse:Eu no sei bem explicar o que , mas tem uns meninosque a gente olha pra eles, no primeiro dia e diz:ah, esse no vai dar, no! A gente tenta ser profissional,n?! Ento, a gente fica com aquele menino ali... o anointeiro, mas tem algo nele que demais! Na minha sala,mesmo, eu tenho um [aluno] que o dia que ele falta eudou graas a Deus. Ele no indisciplinado, nem nada,mas consegue me irritar mais do que todo mundo. Eumudei ele de sala, sabe? 1!u at expliquei para a me deleque a mudana era porque ele estava mais adiantado doque os outros meninos. Disse que ele podia estar numasala melhor! Ento, ele ficou l na outra sala dois dias edepois voltou chorando. Disse que no queria ficar l ...todo dia chorava e a tive de aceit-lo de volta. (Fala deuma professora da segunda etapa do primeiro ciclo dealfabetizao) .Esse exemplo nos d a ideia de que, se a relao pedaggicafavorece as implicaes imaginrias, isso no algo que se d de maneiraunilateral. Tanto os professores como os alunos esto sujeitosa serem tomados por fenmenos inconscientes e de difcil manejo.O professor, tal como o aluno, est sujeito a repetir, nas relaes quemantm, aspectos da sua relao original. Alm disso, no possvelque o professor se mantenha indiferente aos afetos despertados pelascrianas e direcionados sua pessoa, j que tambm age e reage pormeio de circuitos inconscientes.':, ";j';REFERNCIASA criana, o professor e a subjetividade interferindo na aprendizagem:interveno sobre dois fenmenos de transferncia indesejadosCORDI, Anny. 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A transferncia um conceito que aparece de forma difusa na obra de Freud. Nos chamados Artigos sobre a tcnica, de forma no to evidente na Interpretao dos sonhos, Inibies sintomas e ansiedadeO conceito lacaniano do sujeito suposto saber, implica que o psicanalista e seu discurso fazem parte do inconsciente.Temos dispersas nos textos trs formas de transferncia diferenciadas por Freud,. transferncia relacionada com a funo de repetio, relacionada com a resistncia e identintificada com a sugesto.Lacan com o sujeito suposto saber articula os trs aspectos da transferncia de Freud. segundo Miller o piv sobre o qual giram os distintos aspectos da transferncia ; o fundamento transfenomnico dos fenmenos da transferncia.

Encontramos o termo transferncia, empregado por Freud, desde A ClenCla dos sonhos; diz-se lJbertraqung desde A cincia dos sonhos. Qual o seu uso? A propsito da psicologia dos processos onricos, Freud explica como o sonho se apodera do que ele chama de restos diurnos as lembranas do que aconteceu no dia anterior, como o sonho se apodera do que ele chama de restos diurnos para monta- os com um valor diferente, com uma significao diferente daquela do momento de sua primeira emergncia.

So ento formas esvaziadas de seu sentido muitas vezes insignificantes e o desejo do sonho as investe de um novo .significado. a primeira vez que Freud fala de transferncia de sentido de deslocamento, de utilizao pelo desejo de formas alheias a ele as quais se apodera e s quais carrega, infiltra e dota de uma nova significao.

Isso muito importante, mesmo que depois o termo transferncia tenha assumido um significado muito mais especializado em Freud. Trata-se aqui dos disfarces do desejo que, permanecendo inconsciente, se exprime apoderando-se das representaes mais andinas. Expressa-se ao se deslocar o recalcado para uma representao cuja prpria banalidade a torna aceitvel para a conscincia.

Podemos ento diZer ue a primeira transferncia freudiana corresp9nde aos tropos da transferncia, poderamos falar da tropologia da transferncia.Esse um princpio geral. O desejo se apodera de formas errantes, que nada valem em si mesmas, que foram desposadas de sua significao, que foram separadas de sua significao primeira, funcionam como letras, e isso o que se compreende melhor a partir a teoria lacaniana do significante. defato, essas fQrmas so significantes aos quais o desejo prQPorciona um significado diferente e novo.

Nesse sentido, transferncia, a primeira transferncia freudiana, o processo geral do inconsciente -- o sonho, o lapso, o chiste que o desejo se mascara, se aferra a significantes esvaziados, enquanto tais, de significao. Essa uma ainda uma concepo muito geral da transferncia.

Diversamente, a partir do caso Dora emerge a significao precisa da transferncia freudiana. A transferncia, em sentido psicanaltico, se produz quando o desejo se aferra a um elemento particular que a pessoa do terapeuta. Talvez possam ver, em curto-circuito, que essa pessoa nao exatamente uma pessoa. Essa pessoa, como talvez tenham entendido, espero, pela anlise precedente, mais o significante do analista do quesua pessoa. Decerto isso sempre resultava misterioso quando se imaginava tratar-se da pessoa do analista. H um artigo muito divertido de Thomas Szaz sobre a transferncia, no International Journal, que diz: "Quando me olham, a mim que sou feio como um piolho, me pergunto como possvel que se aferrem minha pessoa." Isso d origem idia de que a transferncia sobretudo um fenmeno ilusrio, um fenmeno imaginrio. Eisso no est errado, S que encontramos esse-tipo de iluso a cada momento, na existncia. Esse um pequeno curto-circuito para fazer com que notem que "a pessoa do analista" deve ser entendida entre aspas.A.simL a transferncia freudiana o momento em que o desejo do paciente se apodera do terapeuta, em que opsicanalista - no sua pessoa - imanta as cargas liberadas pelo recalque.Essa concepo da transferencia j implica muitas coisas. Implica, precisamente, que no h exterioridade do analista com relao ao inconsciente Evidentemente que se se imagina o inconsciente algo que est em algum lugar no paciente, e se pensa que o psicanalista.que ~()lado, separado por uma pequena dist~cia, que .est_aiem.mapoJtrona,Com suas diferentes preoc:upaes, seu cOlllo que inomoda, SU-J ostasque doem, seu peso que ele cuida, evidente lUte esse analim.njo_ t(lpl nada ver com o inconsciente que, supe-se, est escondido no -RCie.nte.(..... ' Ma.s a prpria idia da tran. SfernCia... j... n.. o.s c. o. n. d., u. z. a. ~.?m.pr~n?er .q. u.. ~ .. / . analista, na medida em que opera com a cura pSlcanallt1Ca, nao_ _e ~xteno0r_. _.' ao inconsciente do pacien.t~.J1.q\l~ talvez seja necessria uma idia ~ais, sofisticada do que essa idia grosseira demcO:~sCiente.