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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO BRUNO CAVALCANTE DE SOUZA A “REVOLTA” DE JEÚ E A ESTELA DE DÃ: Um Estudo Em 2 Reis 10,28-36 SÃO BERNARDO DO CAMPO 2016

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

BRUNO CAVALCANTE DE SOUZA

A “REVOLTA” DE JEÚ E A ESTELA DE DÃ:

Um Estudo Em 2 Reis 10,28-36

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2016

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BRUNO CAVALCANTE DE SOUZA

A “REVOLTA” DE JEÚ E A ESTELA DE DÃ:

Um Estudo Em 2 Reis 10,28-36

Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Ademar Kaefer

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2016

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A Dissertação de Mestrado intitulada “A Revolta de Jeú e a Estela de Dã: Um Estudo Em 2 Reis 10,28-36”, elaborada por Bruno Cavalcante de Souza foi apresentada e aprovada em 21 de Março de 2016, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. José Ademar Kaefer (Titular/UMESP), Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira (Titular/UMESP) e Prof. Dr. José Adriano Filho (Titular/FUV).

__________________________________________

Prof. Dr. José Ademar Kaefer

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

_______________________________________

Prof. Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião

Área de Concentração: Linguagens da Religião

Linha de Pesquisa: Literatura e Religião no Mundo Bíblico

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Esta pesquisa foi produzida com o apoio do

CNPQ que ofereceu bolsa de estudos integral entre

2014 e 2015.

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Para a família “Cavalcante de Souza”, meu alicerce.

À minha amada Esposa Cristiane Fiori

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus todo poderoso, que me capacitou e vocacionou para o ministério pastoral,

me levando por caminhos pelos quais jamais sonhei passar. À minha querida e amada esposa

Cristiane Fiori, por seu amor, carinho, incentivo e compreensão que fizeram com que ela

suportasse minhas ausências e minhas jornadas de estudo, bem como aos meus sogros, Eliana

e GG, que me concederam o privilégio de seu amor e confiança.

Aos meus amados pais, Jane e Aparecido, que me mostraram o valor da honestidade,

e da vida simples, me despertando sempre para o valor dos estudos, mesmo sem poderem ter

tido o privilégio de estudar. Ao meu irmão Jonathan, eterno sonhador e parceiro para a vida

toda. Obrigado por seu amor e sua amizade.

À Igreja Presbiteriana Independente de Rancharia, comunidade que me ensinou a

preciosidade da vida em comunhão, e do amor que sempre se multiplica na vida de todos

aqueles que buscam vivê-lo intensamente. Aos pastores que passaram por minha vida, e pelos

exemplos que me deram de como servir ao Senhor com alegria: Ary Botelho, Douglas

Alberto, José Claudemir, Wanderley José, Edson Carlos, dentre outros, queridos e amados.

Ao meu orientador Prof. Dr. José Ademar Kaefer. Obrigado pela confiança, atenção,

amizade, carinho e compreensão que creditou ao receber e orientar um simples rapaz de

“rancheria”. Seu amor pela bíblia e pela seriedade na pesquisa me emocionaram! Guardá-lo-ei

sempre em meu coração.

Gratidão aos tios: Carlos, Patrícia, Gilbas e Elaine, por me receberem de uma forma

tão fidalga durante os longos períodos de viagens! Aos primos e primas, um “big” beijo, pela

amizade e companheirismo. Ao professor e amigo Everson Spolaor que me mostrou o

“caminho das pedras”: Quantas conversas e quantas lágrimas! Deus seja contigo meu amigo!

A amiga Kellen Araújo, pelo incentivo. Sua perseverança me abriu as portas para um

novo mundo. Ao amigo Silas Klein pelo prazer da companhia em tantas caronas que me deu:

Sucesso sempre parceiro! A irmã Jony Cerqueira Leite, você me abriu as portas e me fez

enxergar que o sonho era possível, Obrigado!

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Aos meus amados avós maternos Ezequiel e Nilza (Obrigado pelo Presente), e

paternos Roque e Eva (ambos In Memoriam). Aos meus tios maternos e paternos, vocês

sempre estão em minhas orações.

Ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista

de São Paulo, por tornar tudo isto uma realidade. Realmente, aqui encontrei a excelência em

ensino e a qualidade de uma formação que vai além da sala de aula.

Ao meu amigo Telmo Teixeira Lima, por sua paciência e, pelo fato de ter acreditado

em mim. Obrigado! As “ovelhinhas” da TTL Controladoria; Elisandra, Melissa e Marcela.

Enfim, agradeço a todos aqueles que me apoiaram tornando este um sonho possível.

O espaço é sempre limitado para tantos agradecimentos! Por isso de uma forma muito

amorosa, de maneira tal que as palavras jamais poderão traduzir, o meu muito obrigado!

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“Nem foi Tempo Perdido. Somos Tão Jovens...”.

Renato Russo – Tempo Perdido

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SOUZA, Bruno Cavalcante. A Revolta de Jeú e A Estela de Dã: Um Estudo em 2 Reis 10,28-36. São Bernardo do Campo: Umesp, 2016. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

RESUMO

A pesquisa tem por objetivo trabalhar o evento da Revolta de Jeú, em conjunto com a Estela de Dã, tendo como ponto de partida para tal, a exegese da perícope de 2 Reis 10-28,36. A história Deuteronomista apresenta o ato da Revolta de Jeú como sendo um feito demasiadamente importante, na restauração do culto a Javé em Israel, a partir de um contexto onde o culto a outras divindades, em Israel Norte, estava em pleno curso. No entanto, a partir da análise conjunta da Estela de Dã, que tem como provável autor o rei Hazael de Damasco, somos desafiados a ler esta história pelas entrelinhas não contempladas pelo texto, que apontam para uma participação ativa de Hazael, nos desfechos referentes a Revolta de Jeú, como sendo o responsável direto que proporcionou a subida de Jeú ao trono em Israel, clarificando desta forma este importante período na história Bíblica. Para tal análise, observar-se-á três distintos tópicos, ligados diretamente ao tema proposto: (1) A Revolta de Jeú e a Redação Deuteronomista, a partir do estudo exegético da perícope de 2 Reis 10,28-36, onde estão descritas informações pontuais sobre período em que Jeú reinou em Israel; (2) Jeú e a Estela de Dã, a partir da apresentação e análise do conteúdo da Estela de Dã, tratando diretamente dos desdobramentos da guerra em Ramote de Gileade, de onde se dá o ponto de partida à Revolta de Jeú; e por fim (3) O Império da Síria, onde a partir da continuidade da análise do conteúdo da Estela de Dã, demonstraremos a significância deste reino, além de apontamentos diretamente ligados ao reinado de Hazael, personagem mui relevante no evento da Revolta de Jeú.

Palavras-Chave: Jeú, Hazael, Estela de Dã, Israel, Síria.

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SOUZA, Bruno Cavalcante. The Revolt of Jehu and the Stele of Dan: A Study in 2 Kings 10.28, 36. São Bernardo do Campo: Umesp, 2016. Thesis (Master of Sciences of Religion) – Humanities and Law Faculty, Universidad Methodist of São Paulo (UMESP).

ABSTRACT

The research aims to work the event of Jehu's revolt, together with the stele of Dan, taking as a starting point for such exegesis of the perícope of 2 Kings 10 to 28.36. The story Deuteronomist presents the act of Jehu's revolt as an important achievement too, the cult of the restoration to the Lord in Israel, from a context where the worship of other deities in Israel North, was in full swing. However, from the joint analysis of the stele of Dan, whose probable author King Hazael of Damascus, we are challenged to read this story between the lines not covered by the text, pointing to an active participation of Hazael on outcomes related to revolt of Jehu as being directly responsible that gave the rise of Jehu king in Israel, thus clarifying this important period in the Biblical story. For this analysis, it will be observed three distinct topics directly related to the proposed theme: (1) The Revolt of Jehu and the Deuteronomist Writing, from the exegetical study of the perícope of 2 Kings 10.28 to 36, which are described timely information about the period in which Jehu reigned in Israel; (2) Jehu and the Stele of Dan, from the presentation and analysis of the contents of the stele of Dan, comes directly from the war unfolding in Ramoth-Gilead, where takes place the starting point of the revolt of Jehu; and finally (3) The Empire of Syria, where from the ongoing analysis of the contents of the stele of Dan demonstrate the significance of this kingdom, and notes directly related to the reign of Hazael very important character in the Revolt of Jehu event .

Keywords: Jehu, Hazael, Stele of Dan, Israel, Syria.

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SUMÁRIO

Introdução 13

CAPÍTULO I: A REVOLTA DE JEÚ E A REDAÇÃO DEUTERONOM ISTA 17

1.1. Tradução Interlinear do Texto da Bíblia Hebraica Stuttgartensia 18

1.1.1. Proposta de Tradução (literal) do Texto Massorético 20

1.2. Crítica Textual 21

1.2.1. Aparato Crítico da BHS 21

1.3. Delimitação 23

1.4. Estrutura do Texto 25

1.5. Coesão do Texto 26

1.6. Gênero Literário 29

1.7. Data e Autoria 31

1.8. Comentário Exegético 33

1.8.1. Declaração de Sumário/Transição (v.28) 33

1.8.2. Comentário Teológico (v.29-31) 35

1.8.3. Aviso de Derrota (v.32-33) 38

1.8.4. Concluindo o Currículo do Reinado (v.34-35) 40

1.8.5. Demonstração do Corpo do Reinado (v.36) 42

1.9. Considerações Intermediarias 42

CAPÍTULO II: JEÚ E A ESTELA DE DÃ 44

2.1. A Arqueologia e a Bíblia 45

2.2. A Arqueologia e a Revolta de Jeú: O Tell Dã 47

2.3. As Escavações em Tell Dã 49

2.4. Estrutura do Tell Dã 52

2.5. A Estela de Dã 54

2.5.1. A Estela de Dã e a Revolta de Jeú 57

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2.5.2. Jorão, Rei de Israel (852-841 a.C) 59

2.5.3. Ocozias, Rei de Judá (841 a.C) 60

2.5.4. Jeú, Rei de Israel (841-814 a.C) 61

2.6. Considerações Intermediárias 66

CAPITULO III: O IMPÉRIO DA SÍRIA 68

3.1. A Origem dos Arameus 68

3.1.1. Damasco 72

3.2. A Influência de Aram-Damasco em Israel 74

3.3. A Estela de Dã e o Reino da Síria 77

3.4. A Estela de Dã e o Reinado de Hazael 79

3.5. Considerações Intermediárias 86

Considerações Finais 89

Referências Bibliográficas 93

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Introdução

Esta dissertação tem por finalidade estudar o evento da Revolta de Jeú, descrita nos

capítulos 9 e 10 do segundo livro dos Reis, em uma análise conjunta com a Estela de Dã. De

maneira geral, os textos dos livros dos Reis sempre desempenharam um papel significativo,

em grande parte das propostas que apresentaram por objetivo a reconstrução da história de

Israel, principalmente em casos que tratem de eventos específicos.

Além disso, muitos livros que procuram trabalhar a história de Israel aparentam

argumentar sobre o tema, partindo unicamente de um relato básico acerca da narrativa bíblica,

sem adentrar a outros horizontes, muito significativos para a construção desta história.

(ROBCKER, 2012, p.2).

A história do golpe político de Jeú, descrita em 2 Reis 9 e 10, representa um exemplo

prático de uma narrativa que se enquadra nos moldes descritos por Robcker mencionados

acima, sendo o relato sobre Jeú muitas vezes citado em reconstruções históricas a respeito de

Israel Norte. Como um dos episódios mais violentos da Bíblia, a Revolta de Jeú relata a

escalada do general de Israel ao trono, através de um genocídio que acabou por eliminar toda

a Dinastia Omrida.

A tradição sobre Jeú se apresenta da seguinte maneira: Com a morte de Acab, em

aproximadamente 853 a.C, o reino de Israel começa a perder seus territórios na região da

Transjordânia para a Síria, que naquele tempo a partir de sua capital, Damasco, demonstrava

grandiosa relevância, especialmente do ponto de vista político-militar, estando por detrás das

rebeliões arquitetadas e executadas pelos vassalos israelitas.

A partir do contexto em voga, os reis Jorão de Israel, e Ocozias de Judá, uniram-se

em batalha contra Hazael, rei de Damasco, em Ramote de Gileade. Neste espaço Jeú, filho de

Josafá, e neto de Ninsi, é apontado pelo texto bíblico como o general deste exército. Jeú fica

no comando das tropas após o rei Jorão, acompanhado de Ocozias, voltar para Jezrael, para

tratar dos ferimentos ocasionados pela batalha.

Neste intervalo, a pedido do profeta Eliseu, um mensageiro não identificado pelo

texto, vai até o acampamento dos israelitas, e termina por ungir ao general Jeú como rei de

Israel, encarregando-o de pôr termo à Dinastia Omrida, em seus últimos representantes: Os

descendentes de Acab.

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Estrategicamente, antes de enviar seu mensageiro a Ramote de Gileade para ungir o

general Jeú como novo rei, o profeta unge em primeiro lugar a Hazael, como rei em Damasco,

no lugar de Ben-Haddad, de acordo com 2 Reis 8,7-15. Jeú parte em direção à Jezrael

juntamente com aqueles que lhe juraram fidelidade, guiando seu carro de uma forma mui

furiosa conforme 2 Reis 9,20.

Ao chegar a Jezrael, Jeú acaba por exterminar os reis Jorão e Ocozias, iniciando em

seguida o seu derramamento de sangue contra a Dinastia Omrida, que se se estendeu,

conforme a redação deuteronomista, de uma forma muito rápida, chegando no mesmo dia a

Judá. Vale a pena destacar que, neste ínterim, Jeú também mata os profetas de Baal, em

Samaria. Resumidamente, esta é a forma pela qual a redação deuteronomista lê e interpretada

os textos que perfazem o evento da Revolta de Jeú, desencadeados por volta do século IX.

A partir de tais apontamentos, um elemento surge mudando completamente os

ângulos pelos quais a redação deuteronomista conta esta história: A Estela de Dã. Como uma

ferramenta importante na construção desta pesquisa, o seu conteúdo nos convida a observar a

questão da alternância de poder em Israel e, por conseguinte, em Judá, por um outro prisma,

não contemplado pela redação deuteronomista.

Sendo provavelmente erigida pelo rei Hazael, que a configurou em Dã, onde foi

encontrada durante as escavações nos anos de 1993 e 1994, a Estela nos aponta que a

ascensão de Jeú ao poder, antes de tudo, fora arquitetada pelo próprio rei de Damasco, que

tornou tanto a Israel, quanto a Judá, seus vassalos. Robcker (2012, p.03) nos diz que além da

inscrição da Estela de Dã fontes advindas do acadiano, destacando nesta ocasião as fontes de

Salmanassar III, apontam que a imagem bíblica sobre Jeú, pode não ser completamente

confiável.

Aqui se constrói o eixo pelo qual se baliza esta dissertação. Tendo a exegese como

metodologia para o estudo sobre a Revolta de Jeú, a partir da perícope de 2 Reis 10,28-36,

algumas perguntas centrais se elevam em consideração aos aspectos apresentados: Embora a

unidade macro que trata especificamente de Jeú, a saber, os capítulos 9 e 10 de 2 Reis,

abordem o seu reinado positivamente, o resumo de seus atos (10,28-36) aponta-lhe crítica.

Então, qual o saldo de seu reinado? Positivo ou Negativo?

Do ponto de vista religioso, com o assassinato dos profetas de Baal, podemos dizer

que o culto a Baal foi realmente extinto em Israel? Qual a relação que se dá entre Baal e

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Javé? Qual o formato e que tipo de culto era aquele prestado ao bezerro de ouro, tão criticado

pelo autor da perícope de 2 Reis 10,28-36?

Continuando, se a Síria, com Hazael de Damasco, era tão forte ao ponto de subjugar

os reinos de Israel e Judá, tornando-os seus vassalos, e o texto bíblico em sua forma

sincrônica, sequer menciona esta possibilidade ao narrar o evento da Revolta de Jeú, quais

tipos de influência Israel Norte teria sofrido mediante tal situação de submissão? Qual o teor

histórico dos versos 32 e 33 da perícope, que trata da perda dos territórios de Israel na

Transjordânia? Qual a relação dos mesmos versos com a Estela de Dã?

Qual a importância/relevância da cidade bíblica de Dã no contexto da revolta de Jeú?

Por que este fora o local escolhido por Hazael, provável autor da Estela, para erigi-la? E, por

conseguinte, como analisar o nível de presença do poderoso império Assírio, através do rei

Salmanassar III, contemporâneo a Jeú, que subjugou a Hazael de Damasco, neste pleito? A

partir destes questionamentos, podemos ver que o horizonte para o desenvolvimento da

pesquisa é amplo e deveras convidativo.

Nossa hipótese inicial é a de que Hazael teria matado os reis de Israel e Judá e, que

consequentemente tenha sido responsável por estabelecer Jeú no poder. Uma segunda

hipótese diz que a Revolta de Jeú, não se trata de um ato revolucionário vindo de dentro.

Antes, trata-se de uma articulação político-militar, orquestrada por Damasco, que acabou por

dominar Israel, já fragilizado por uma política interna conduzida equivocadamente, pois como

já foi destacado, neste período o reino da Síria se expandiu muito, chegando inclusive a se

apoderar de territórios que pertenciam a Israel Norte. Uma terceira hipótese diz possivelmente

tenha sido Jeú aquele que introduziu o Javismo em Judá, de maneira que a história

deuteronomista parece fazer questão de apontar que não lhe era agradável aos olhos, ao

destruir o culto institucionalizado a Baal, que houvesse quaisquer resquícios de oposição a

Javé, em Israel, e em Judá, lugar para onde a Revolta se expande.

Como vistas a trabalhar estes pontos, a pesquisa se desenvolverá em três capítulos.

No primeiro, nos ocuparemos, como mencionado acima, da exegese, a partir do método

histórico crítico, da perícope de 2 Reis 10,28-36, objetivando ressaltar a forma pela qual se

tem lido e interpretado a tradição de Jeú, além de se lançar olhares atentos a história bíblica,

com uma abordagem do reino do norte.

Em sequência, no capítulo II, faremos uma apresentação seguida de uma análise do

conteúdo presente na Estela de Dã, que é o elemento surpresa dentro da temática em torno de

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Jeú. Com esta análise, pontuaremos as observações que seu conteúdo traz sobre os fatos a

partir da ótica do reino da Síria, e de seu governante Hazael, provável autor da Estela, que é

uma personagem central nesta história. Além disto, consideraremos o papel de cada um dos

reis envolvidos na Revolta de Jeú, discorrendo cuidadosamente sobre o enquadramento de

cada um dentro do texto.

Por fim, dedicaremos o capítulo III a observar o reino da Síria. Neste capítulo, será

abordado um breve histórico acerca das origens dos Arameus, no entanto, dar-se-á ênfase a

pessoa de Hazael durante sua trajetória como rei, o que nos ajudará, sem sombra de dúvidas a

entender melhor o contexto por detrás dos desdobramentos em Ramote de Gileade, bem

como, sobre boa parte do histórico dos confrontos entre Israel e a Síria.

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CAPÍTULO I

A REVOLTA DE JEÚ E A REDAÇÃO DEUTERONIMISTA

O evento da Revolta de Jeú será trabalhado em prospecto ao que a redação

deuteronomista apresenta sobre o tema, partindo da exegese da perícope de 2 Reis 10,28-36.

Pretende-se empreender um estudo exegético sobre esse tema, apresentando a

maneira pela qual o texto tem sido lido tradicionalmente, e pontuar relevantes observações

sobre o texto. Com finalidade de clarificar os motivos presentes por detrás desse fato, além de

compreender a importância da história bíblica, agora, partindo do reino do norte.

Para desenvolver esse capítulo, serão trabalhados os seguintes tópicos: Tradução

Interlinear do texto da Bíblia Hebraica Stuttgartensia (B.H.S.), Proposta de tradução literal do

Texto Massorético, Crítica Textual, Aparato Crítico da B.H.S., Delimitação, Estrutura e

Coesão do Texto, Gênero Literário, Data e Autoria, Comentário Exegético - e por fim - a

Conclusão. Também estarão presentes os principais conceitos que nortearão a construção

dessa dissertação, nos temas que a mesma se propõe a analisar. A história que traz um breve

relato sobre o reinado de Jeú, também faz menção a Hazael de Damasco, que é personagem

central na Revolta de Jeú, além do fato de ser o provável autor da Estela de Dã, que será

analisada no decorrer desse trabalho.

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1.1 Tradução interlinear do texto da Bíblia Hebraica Stuttgartensia 28 מישראל את־הבעל יהוא וישמד de Israel a baal Iehu E destruiu

החטיא אשר בן־נבט ירבעם חטאי רק 29 fez pecar o qual filho de Nebat Jeroboão os pecados Somente de

אשר הזהב עגלי מאחריהם יהוא !א־סר את־ישראל o qual o ouro bezerros de depois Iehu não desviou Israel de de eles

בדן ס ואשר בית־אל Em Dã e o qual Beith-el

לעשות אשר־הטיבת יען אל־יהוא יהוה ויאמר 30 para executar o qual fizeste por causa para Iehu YHWH e disse Bem de

רבעים בני אחאב לבית עשית בלבבי אשר ככל בעיני הישר quartos filho Ahab para a tens em meu o conforme em O de casa feito coração qual todo meus direito de olhos

ישרא על־כסאל+ ישבו

Israel para ti sobre o trono de se assentarão

בתורת־יהוה ללכת שמר !א ויהוא 31 em lei de YHWH para andar vigiou não E Iehu

אשר ירבעם חטאות מעל סר !א בכל־לבבו א!הי־ישראל

o qual Jeroboão pecados de se não em todo Deus de Israel de sobre desviou seu coração

את־ישראל החטיא Israel fez pecar

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ויכם בישראל לקצות יהוה החל ההם בימים 32 e golpeou em Israel para YHWH iniciou os estes Em os a eles cortar os dias limites

ישראל בכל־גבול חזאל Israel em todo território de Hazael

הגלעד את כל־ארץ השמש מזרח מן־הירדן 33 o Gileade toda a terra o sol de lugar Desde o de nascer Jordão

והגלעד ארנן על־נחל אשר מערער והמנשי והראובני הגדי e o Arnon sobre a o qual desde e o e o o gileade torrente Aroer mansassita Rubenita gadita rio

והבשן e o Basã

עשה וכל־גבורתו י יהוא וכל־אשרדבר ויתר 34 e toda sua força fez e tudo o Iehu de E resto de que discursos atos de

ישראל למלכי הימים דברי על־ספר כתובים הלוא־הם Israel? para os dias discursos sobre escritos acaso reis de atos de livro de não eles

בשמרון אתו ויקברו עם־אבתיו יהוא וישכב 35 em Samaria e enterraram a ele com seus pais Iehu E deitou-se

תחתיו בנו יהואחז וימ!6 em lugar dele seu filho Jeoacaz E reinou

עשרים על־ישראל יהוא מל6 אשר והימים 36 vinte sobre Israel Iehu reinou que E os dias que

בשמרון פ ושמנה־שנה em Samaria E oito anos

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1.1.1. Proposta de Tradução Literal do Texto Massorético

28 – E destruiu1 Iehu a Baal de Israel;

29 – Somente os pecados de Jeroboão filho de Nebat, o qual fez2 pecar Israel não desviou3

Iehu depois de eles. Bezerros de o ouro o qual Beith-el e o qual em Dã;

30 – E disse4 YHWH para Iehu: Por causa de o qual fizeste5 bem para executar6 o direito em

meus olhos, conforme todo o qual em meu coração tens feito7 para a casa de Ahab, filho de

quartos se assentarão8 para ti sobre o trono de Israel;

31 – E Iehu não vigiou9 para andar10 em lei de YHWH Deus de Israel, em todo seu coração

não se desviou11 de sobre pecados de Jeroboão, o qual fez12 pecar Israel;

32 – Em os dias, os estes, iniciou13 YHWH para cortar14 os limites em Israel e golpeou15 a eles

Hazael em todo território de Israel;

33 – Desde o Jordão, de lugar de nascer o sol toda a terra de o Gileade, o Gadita, e o

Rubenita, e o Manassita, desde Aroer, o qual sobre a torrente (rio) Arnon, e o Gileade, e o

Basã;

34 – E resto de discursos (atos) de Iehu e tudo o que fez16 e toda sua força, acaso não eles

escritos sobre livro de discursos (atos) de os dias para reis de Israel?

35 – E deitou-se17 Iehu e enterraram 18a ele com seus pais em Samaria, e reinou19 Jeoacaz, seu

filho, em lugar dele;

.Verbo Hifil Imp. 3° Pessoa Masc. Singular - שמד 12 .Verbo Hifil Perf. 3° Pessoa Masc. Singular - שמד

.Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular - סור 34 .Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Singular - אמר

5 .Verbo Hifil Perf. 2° Pessoa Masc. Singular - טוב

.Verbo Qal Infin. Construto - עשה 6 .Verbo Qal Perf. 2° Pessoa Masc. Singular - עשה 7 .Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Plural - ישב 8 .Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular - שמר 9 .Verbo Qal Infin. Construto - הלך 10 .Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular - סור 11 .Verbo Hifil Perf. 3° Pessoa Masc. Singular - חטא 12 .Verbo Hifil Perf. 3° Pessoa Masc. Singular - חלל 13 .Verbo Piel Infin. Construto - קצה 14 .Verbo Hifil Imp. 3° Pessoa Masc. Singular - נכה 15 .Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular - עשה 16 .Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Singular - שכב 17

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36 – E os dias que reinou20 Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria;

1.2 Crítica Textual

Nessa etapa, passa-se a análise do aparato crítico da B.H.S., objetivando aprimorar a

proposta de tradução, conhecendo as variantes que são apresentadas na composição do texto.

A tarefa da crítica textual é de suma importância em apontar os diferentes manuscritos

encontrados - à que se referem ao Antigo Testamento - sempre na tentativa de restaurar o

texto original, ou perceber fontes e camadas do mesmo (SILVA, 2000, p.45).

1.2.1. Aparato Crítico da Bíblia Hebraica Stuttgartensia

O aparato crítico é sobremodo importante, pois demonstram as situações pelas quais

passaram o texto hebraico, desde a antiguidade até a idade média - de modo que se possam

apontar as variantes existentes nas versões bíblicas clássicas - tais como: a Septuaginta21,

Vulgata22, Vetus Latina23, Peshitta24, o Pentateuco Samaritano25, Targum26, e os Manuscritos

do Mar Morto27; dentre outras referências (FRANCISCO, 2008, p.69).

O episódio de 2 Reis 10,28-36 nos traz as seguintes observações:

Verso 28: o termoהבעל (a baal) é acompanhado da seguinte nota explicativa: [2

Mss ÖN min + tyb cf ÖL]: “Dois Manuscritos Hebraicos Medievais (M.H.M.) citados nas

edições de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg, o Códice Basiliano-vaticano, junto

.Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Plural - קבר 18 .Verbo Qal Imp. 3° Pessoa Masc. Singular - מלך 19 .Verbo Qal Perf. 3° Pessoa Masc. Singular - מלך 2021 Versão da Bíblia Hebraica traduzida em etapas para o Grego Koiné, entre o século III e o século I a.C., em Alexandria. 22 Versão da Bíblia traduzida para o latim, entre o final do século IV e o início do século V d.C., por São Jerônimo, a pedido do Bispo Dâmaso I. 23 Coletânea de textos traduzidos para o latim, antes da Vulgata. 24 Versão padrão da Bíblia no idioma Siríaco. 25 Nome que se dá a Torá usada pelos Judeus Samaritanos. 26 Nome atribuído às traduções das frases e comentários aramaicos da Bíblia hebraica, escritos e compilados da época do segundo templo, até o inicio da Idade Média. 27 Coletânea de textos e fragmentos de texto encontrados nas cavernas de Qumran, no Mar Morto, entre fim da década de 1940 e durante a década de 1950.

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com o Códice Vêneto (Sec. VIII/IX) minúsculo, acrescentam בית (casa) ao vocábulo הבעל (a

baal), conforme a Recensão de Luciano de Antioquia. ” O verso ficaria a partir da variante:

“E destruiu Iehu a casa de Baal de Israel”;

Verso 29: o termo construto עגלי (bezerros de), bem como בדן (em Dan), traz que [a-

a add?]: “Os editores da Bíblia Hebraica Stuttgartensia consideram o verso 29 como uma

adição típica da redação Deuteronomista”. O propósito aqui é tecer uma crítica a Jeú por ter

seguido as mesmas práticas pecaminosas de Jeroboão28 (ROBCKER, 2012, p.33-50).

O termo בית (beith) anota, [mlt Mss Seb Vrs tyBB.]: “Muitos M.H.M. (de 21 a 60 de

B. Kennicott, G.B de Rossi e de C.D. Ginsburg - e de 16 a 60 em B. Kennicott, G.B de Rossi

e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel) e na situação textual sevirin29, em todas as versões, traz a

preposição ב (Em)”.

Ficaria então: “Somente os pecados de Jeroboão, filho de Nebat, o qual fez pecar

Israel não desviou Iehu depois de eles Bezerros de Ouro o qual em Beith-el e o qual em

Dan.” ;

Verso 30: O termo ככל (Conforme todo), traz a explicativa: [Ms Seb lkB., ÖN min

(ãç) kai panta]: “(M.H.M.) nas edições de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg, na

situação textual sevirin, vem com o termo atrelado à preposição ב (Em)”.

O verso seria: “E disse YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar

o direito em meus olhos, em todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho

de quartos se assentarão para ti sobre o trono de Israel;” .

O Códice Basiliano-vaticano, junto com o Códice Vêneto (Sec. VIII/IX) minúsculo

das versões Peshita e Vulgata trazem a expressão kai panta (e todo)”. Que seria: “E disse

YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar o direito em meus olhos, e todo

o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho de quartos se assentarão para ti

sobre o trono de Israel;”;

Verso 31: O termo מעל (De Sobre), explica-se [pc Ms Or å lKOmi]: “Poucos M.H.M.

(de 3 a 10 nos M.H.M. citados por B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg - e de 3 a 6

nos M.H.M. de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel) dos Massoretas

Orientais e o Targum trazem a expressão lKOmi (De todo). ”

28 Cf.Comentário Exegético, p.19. 29 Particípio passado masculino plural da raiz verbal rbs (aram, sbr. Supor, sugerir, ser de opinião de, cogitar), na construção piel (Cf. Francisco, 2008, p.247)

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O verso ficaria “E Iehu não vigiou para andarem lei de YHWH Deus de Israel, em

todo seu coração não se desviou de todo, pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel”;

Verso 33: O termo והראובני (e o Rubenita), traz a nota [sic L, mlt Mss Edd War-]: “O

Códice L, muitos M.H.M. e edições impressas da Bíblia Hebraica, cf. Êxodo 33,10, substitui

o Kibbuts ( U), pelo shureq (W).

O termo נחל (a torrente/rio), traz [2 Mss ÖãAå

Mss + tpF]: “Dois M.H.M. por B.

Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg da Septuaginta, do Códice Ambrosiano (Sex

VI/VII) e dos Manuscritos do Targum - acrescentam ao vocábulo a palavra tpF (aprisco).

A versão seria: “Desde o Jordão, de lugar de nascer o sol toda a terra de o Gileade,

o Gadita, e o Rubenita, e o Manassita, desde Aroer, o qual sobre a torrente (rio), o aprisco,

Arnon, e o Gileade, e o Basã”;

Verso 34: O termo וכל (e todo), explica [pc Mss åMsç bgW]: “Poucos M.H.M. (de 3 a

10 nos M.H.M. por B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg - e de 3 a 6 nos M.H.M. em

B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel), nos M.H.M. de B. Kennicott,

G.B de Rossi e C.D. Ginsburg do Targum e da Vulgata, trazem a expressão bgW (e feito de).

Ficaria: “E feito de discursos (atos) de Iehu e tudo o que fez e toda sua força, acaso

não eles escritos sobre livro de discursos (atos) de os dias para reis de Israel?”.

Como resultado da análise do aparato crítico, aponta-se que 2 Reis 10, 28-36 - não é

uma perícope que apresenta profundas mudanças em seu histórico de variantes. Com isso

mantém-se a tradução do texto conforme a bíblia hebraica nos apresenta em sua forma final,

não adotando nenhuma das variações apresentadas.

1.3. Delimitação

Os livros de Reis eram originalmente um único volume, sendo mais tarde

subdividido em dois pelos tradutores da Bíblia hebraica para o grego (Septuaginta). Neles

narra-se a história da monarquia israelita dos últimos dias de Davi - através da divisão do

Reino Unido para os reinos rivais de Israel e Judá - até a destruição de Jerusalém e do exílio

na Babilônia (COGAN, TADMOR, 1988, p.03).

A história que desencadeará no golpe de Jeú especificamente, tem seu início no

capítulo 9 de 2 Reis; onde se pode apontar a sucessão de acontecimentos que envolvem tal

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fato - a fim de identificar o texto em exame como uma unidade perfeitamente localizada e

delimitada; no capítulo 9,1 a 9,14 - temos descrito o episódio onde Jeú é ungido como rei por

um dos “filhos dos profetas”, enviado por Eliseu, à Ramote de Gileade, sendo inclusive

aclamado pelos seus comandados.

Em seguida, a partir de 9,15 até 9,37 a narrativa apresenta o início de um genocídio,

começando pela realeza. Em 9,24 - Jeú mata Jorão de Israel - em 9,27 Ocozias de Judá - e por

fim - em 9,33 - Jezabel - ao lançá-la da janela de onde estava.

O capítulo 10 prossegue na temática da Revolta de Jeú. Após o general ter eliminado

Jorão, Ocozias e Jezabel, ele haveria de eliminar os setenta filhos de Acab, conforme nos diz

o verso 1 do capítulo 10; além de assassinar brutalmente os profetas de Baal, conforme os

versos 25-27 do mesmo capítulo.

O verso 28, onde tem início o estudo analisado, apresenta uma ruptura clara em

relação à narrativa anterior, embora a temática ainda continue a mesma. Se no início do

capítulo 10 temos o relato do assassinato dos filhos de Acab e dos profetas da Baal, que vai

até o verso 27 - a perícope que se inicia no verso 28 - seguindo até o verso 36 é

desproporcionalmente breve, em relação à primeira, e aparece como um conjunto de

documentos de arquivo e reelaboração teológica do redator deuteronomista (CROCETTI,

1994, p.149), que tem por objetivo retratar o balanço do reinado de Jeú.

A seguir, no capítulo 11 a partir do versículo 1, temos exposta uma nova ruptura em

relação ao estudo em questão - onde se marca o início de outra unidade - com novos

personagens, porém bem próximas em temática e enredo. A cena de ação se desloca de Israel,

no norte; para Judá - no sul - a partir da narrativa que aponta uma sucessão de eventos, não

menos violentos, que culminam na substituição de Atalia por um descendente legítimo de

Davi - Joás - no trono de Judá.

A ruptura é acentuada pelo fato do capítulo 11 de 2 Reis ser a primeira instância em

que o editor de Reis incorporou uma narrativa que deriva de fontes judaicas. Assim, mesmo

que a cadeia de acontecimentos em Jerusalém teve seu início no assassinato de Ocozias (9,27-

28), o narrador de 2 Reis 11 concentra-se exclusivamente sobre o papel central desempenhado

pelo sacerdote Joiada na restauração da monarquia davidita e da renovação da aliança entre

YHWH e as pessoas.

Assim sendo, torna-se evidente o fato de que os capítulos 9 e 10 de 2 Reis, já não

compõem as histórias pertencentes ao bloco do ciclo dos profetas Elias (1 Reis 17,1 – 2 Reis

1,18) e Eliseu (2 Reis 2,1 – 8,29) - mas antes estão voltados exclusivamente a Revolta de Jeú,

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25

sendo assim a passagem presente no capítulo 10,28-36, um relato único, com um objetivo

específico, perfeitamente localizada como uma unidade bem delimitada.

1.4. Estrutura do Texto

Do ponto de vista da estrutura, em uma visão geral, o livro Reis como um todo é uma

composição complexa que emprega um método sincrônico de narração, não muito diferente

dos modelos mais antigos da Mesopotâmia, que coordenam as histórias da Assíria e da

Babilônia (COGAN, TADMOR, 1988, p.119).

Seguindo uma ordem cronológica, geralmente a narração se alterna entre os reinados

dos reis de Israel e Judá. A estrutura narrativa consiste em fórmulas cronológicas - a

declaração sobre a duração do reinado particular de um rei e seu sincronismo com a do seu

homólogo no reino rival, por exemplo; Ocozias - filho de Acabe - começou a reinar em

Samaria no ano dezessete de Josafá - rei de Judá - cf. 1 Reis 22,52.

Esse reinado, trazido como exemplo acima, pode ter existido de forma independente

na lista de reis ou anotada em crônicas reais e do templo. Mas, ao contrário, nas crônicas da

Mesopotâmia, as fórmulas cronológicas em Reis, são colocadas no início de cada reinado e

não no seu fim.

A preocupação com a história da redação, certamente nos levará a encontrar razões

para detectar, dentro do prospecto do redator deuteronomista, vestígios editoriais na

constituição da perícope que estamos estudando.

Na tentativa de empreender a reconstrução dessa história, especialistas apontam

algumas evidências, dos assim chamados - retoques redacionais (HAM, 1999, p.156). Por

exemplo, a argumentação aponta que um redator tenha trabalhado os versos 28-29, e outro os

de 30-32, e que o 29 tenha sido uma adição posterior.

O texto de 2 Reis 10,2-36 é um texto complexo no quesito estruturação. Teóricos

como Adolfo Ham e Jorge Pixley, propõem uma abordagem tríplice: Sumário e Transição

(V.28); uma Avaliação do Reino (V.29-32); e por fim, um Resumo Final do Reinado (V.34-

36) (HAM, 1999, p.156-157).

Wiseman também traz uma divisão tripartite, no entanto um pouco mais simplória:

Resumo dos feitos de Jeú (V.28-33); Demais Acontecimentos (V.34); e Um Pequeno

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Histórico da Duração do Reinado (V.35-36), que segundo o referido autor, não era algo

comum de se fazer em relatos desta natureza, a não ser que se a intenção do autor fosse

ressaltar o início de uma grande dinastia - que no caso de Jeú - se entendeu entre os anos de

841 a 752 a.C..

Com a finalidade de adentrar com maior profundidade aos temas do texto, O.

Long (1991, p.142) propõe uma divisão um pouco mais sistêmica, em relação às demais

apontadas, mas com algumas similaridades. Inicia-se com um Sumário (V.28); que também

pode ser entendido como uma partícula de transição entre perícopes; os versos 29 e 31 trazem

um breve comentário teológico acerca das práticas cultuais durante o reinado de Jeú; 32 e 33

um aviso de derrota para Hazael - que haveria de retomar os territórios da Transjordânia; 34 e

35 retratam o curriculum do reinado e no 36 traz a demonstração do corpo do reinado.

Após observar estas propostas, parece bem mais adequado o modelo trazido por O.

Long. Dadas as informações, apresenta-se a seguinte estrutura:

I – Declaração de Sumário/Transição; V.28

II – Comentário Teológico; V.29-31

III – Aviso de Derrota; V.32-33

IV – Concluindo o Currículo do Reinado; V.34-35

V – Demonstração do Corpo do Reinado. V.36

1.5. Coesão do Texto

De forma geral, uma relevante observação se faz necessária: Dentro do relato acerca

do reinado de Ocozias, se inseriu a narrativa profética da Revolta de Jeú. Tendo sido levado

em conta os pontos de contato e conteúdo literário desta narrativa entre as frases, e as notícias

do golpe contra Ocozias. Um compositor provavelmente fundiu as duas unidades literárias,

ele terminou a notícia e distribuiu suas partes pelos lugares mais apropriados na história: antes

do início da mesma em (8,28a) incluindo referências à proclamação de Jeú e a tomada de

poder, e (9,14a) com referência ao ataque contra Ocozias.

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27

A narrativa, não contém qualquer referência que indique um processo de sucessão,

em uma perspectiva dinástica (BARRERA, 1984, p.188). Este fato torna a narrativa em

exame; como sendo uma unidade perfeitamente coesa, conforme demonstrado abaixo, sendo

um texto crucial para a compreensão dos relatos sobre Jeú.

Barrera (1984, p.188) ainda aponta que tal carência no processo redacional, só é

compensada com a adesão do trecho que vai de 10,28-36 - assim como ocorre nos casos das

narrativas sobre Davi e Salomão (1 Reis 2,11; 11,42) - ressaltando que parte da formula

inicial sobre o comportamento moral e religioso de Jeú, está armazenada em 10,29-31. O fato

é seguido pelo relato dos versos 32 e 33, que enquadram historicamente esse reinado,

terminando com a fórmula conclusiva que vai dos versos 34 a 36.

Existem outras peculiaridades interessantes na definição da coesão da história. Após

o Sumário (V.28), se é conduzido imediatamente aos versos 29-31, onde se tem uma estrutura

em forma de quiasmo30, que aponta questões da organização redacional aplicadas para união

de versículos. Essas traçam o eixo do tema, que concordando com a proposta de estrutura, se

desdobram em um comentário teológico que faz referência aos pecados de Jeroboão, em

comparação àqueles cometidos por Jeú - que são semelhantes - colocando entre ambos o 29 e

31 - ordenadamente - um discurso centrado em Javé.

No bloco de versículos (28-31), é possível averiguar alguns contrastes da narrativa,

que podem revelar a outras camadas presentes no texto. O verso 28 - somado ao 30 -

representa a redação deuteronomista, que faz uma menção positiva ao reinado de Jeú em

destruir a “Baal de Israel”; já os 29 e 31 - de provável origem pós-exílica - contrariando este

argumento, revelam uma face negativa desse, pelo fato de Jeú, não ter se desviado dos

pecados de Jeroboão:

28 – E destruiu Iehu a Baal de Israel;

על מיש ד יהוא את־הב ראל׃וישמ

31 – E Iehu não vigiou para andar em lei de Javé, Deus de Israel, em todo seu coração, não

se desviou de sobre pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel;

ר לויהוא !א שמ ללכת בתורת־יהוה א!הי־ישרא

יא את־ישראל׃ ר החט ם אש אות ירבע ר מעל חט בכל־לבבו !א ס

30

Estrutura sintática em que dois segmentos de frase têm duas ou três das suas palavras repetidas em ordem inversa e de tal modo que a final do primeiro segmento é a inicial do segundo.

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29 – Somente os Pecados de Jeroboão, filho de Nebat, o qual fez pecar Israel, não desviou

Iehu de depois de eles bezerros de o ouro, o qual Beith-el e o qual em Dã;

ל יא את־ישרא ר החט ם בן־נבט אש י ירבע ק חטא ר

ם עגלי ר יהוא מאחריה ר בדן׃ ס!א־ס ל ואש ר בית־א ב אש הזה

30 – E disse Javé para Iehu: Por causa de o qual fez o bem para executar o direito em meus

olhos conforme todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab filho de quartos,

se assentarão para ti, sobre o trono de Israel;

ת לעשות הישר ה אל־יהוא יען אשר־הטיב אמר יהו וי

ב בנ ית אחא ית לב י עש ר בלבב י ככל אש ים ישבו ל+ בעינ י רבע

א ישראל׃ על־כס

Dando prosseguimento a análise do texto, os versos 32-33, mencionam o rei Hazael

de Damasco, e a ameaça que o reino da Síria representou a Israel, durante o reinado de Jeú.

Desde o capítulo 8, versículos 7 a 15, a figura do governante Sírio paira na memória do leitor

de introspecção de Eliseu, de acordo com 2 Reis 8,11-12.

Esse ponto do texto demonstra sua coesão, pelo fato de que é bem possível perceber,

pela menção ao nome de Hazael - e que ele é uma figura que se move perifericamente à

margem do reinado de Jeú (2 Reis 8,28; 9,15) - personagem central da narrativa, confrontando

agora o leitor de forma direta com o relato da vitória militar sobre o Norte, e posteriormente

sobre o Sul (LONG, 1991, p.144).

Os versos de 34 a 36 são aqueles que encerram o breve relato sobre o reinado de Jeú.

Favorecendo a uma melhor compreensão, pode-se apontar o 34-35 como sendo fechamento

do currículo do reinado iniciado pelo sumário (V.28); e o 36 - como o fechamento definitivo

dos relatos sobre este reino - apontando perfeita sincronia na tarefa à qual realizam, conforme

demonstrado abaixo:

28 – E Destruiu Iehu a Baal de Israel; (Inicio)

על מישראל׃ ד יהוא את־הב וישמ

34 - E resto de, de discursos/atos de Iehu e tudo o que fez e toda sua força acaso não eles

escritos sobre livro de discursos/atos de os dias para reis de Israel?;

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י ה וכל־גבורתוויתר דבר ר עש יהוא וכל־אש

י ישראל׃ ים למלכ י הימ פר דבר ים על־ס ם כתוב הלוא־ה

35 – E deitou-se Iehu com seus pais enterraram a ele em Samaria, e reinou Jeoacaz seu filho

em lugar dele;

יו ויקברו אתו בשמרון וימ!6וי ב יהוא עם־אבת שכ

ז בנו תחתיו׃ יהואח

36 – E os dias que reinou Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria; (Fim)

ים ל עשר ים אשר מל6 יהוא על־ישרא והימ

ושמנה־שנה בשמרון׃ פ

Favoráveis à tarefa de coesão; são os diferentes campos semânticos que se formam

no decorrer da perícope, que contribuem também à tarefa de identificação das camadas

redacionais do texto. O nome “Jeú” ( יהוא), que é o principal personagem da história, percorre

boa parte da extensão dos versículos, ocorrendo 7 vezes.

Em volta desta referência, os demais termos que perpassam a extensão da narrativa,

evidenciando sua coesão, realçam as mais relevantes características do reinado de Jeú, à luz

da redação deuteronomista. A menção a palavra “Pecado” (י em conjunto com a ,(חטא

expressão “Pecados de Jeroboão” (ם י ירבע ocorre 4 vezes no texto, destacando o fato de ,(חטא

que Jeú incidiu nos mesmos erros cometidos por Jeroboão.

A grande ocorrência da palavra “Israel” ( לישרא ), 07 vezes ao todo, ligada a Jeú,

somada à ocorrência de outras localidades geográficas: Gileade, Gade, Aroer, Basã - dentre

outras mencionadas diretamente às questões de território - nos versos 32 e 33 do episódio,

além de dar uma prédica sobre a extensão (limites) do reinado de Jeú, revelam uma nova

camada da redação, apontando para a influência Síria, na pessoa de seu rei, Hazael.

Dados os fatos, podemos apontar que a descrição de 2 Reis 10,28-36 - pela gama

significativa de evidências apresentadas - constitui-se em uma narrativa coesa e bem

construída.

1.6. Gênero Literário

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Os livros de 1 e 2 Reis, são uma das principais fontes de todo o estudo acerca da

história de Israel, que abarca o período compreendido entre os séculos X e IX a.C. Trata-se de

uma obra que parece apresentar em seus relatos, uma valorização que compreende um pouco

mais o lado político de toda a história, onde quase nada é relatado sobre os problemas

econômicos e sociais que se erguem em seu decorrer (BUIS, 1997, p.07).

O livro em si, constitui-se em um importante tratado teológico sobre os

acontecimentos, com forte presença do movimento profético, que acaba por funcionar como

sendo um movimento “porta-voz “ do autor, ressaltando uma das intenções do livro, que é a

de promulgar uma mensagem religiosa.

Partindo destas informações, pode-se apontar também, que boa parte dele dedica-se a

explicar a interferência de Javé na história dos homens, evidenciando assim um pouco desta

perspectiva religiosa da obra, a qual foi mencionada acima.

Apontar um gênero literário específico para os manuscritos de 1 e 2 Reis é um

trabalho difícil. Em todo o enredo, se podem encontrar similitudes com as inscrições reais,

listas monárquicas e anais reais que remetem ao Egito e a Mesopotâmia. Porém Burke O.

Long (1991, p.4-5), traz uma interessante perspectiva analítica sobre todo o conjunto da obra:

1. Entre as características literárias, se destacam algumas articulações sinóticas dos dois

reinos (norte e sul), e outros eventos da história exterior dos impérios;

2. Uma segunda análise é a parataxe, que consiste na colocação paralela de pequenas unidades

textuais para a construção de unidades maiores. Não há subordinação, e nem clímax. A

história se encerra quando aparece o último elemento, sem a necessidade de um sumário, ou

conclusão - e para isso - se utilizam diferentes ferramentas: conjunções, frases conectivas e

adverbiais, repetições, etc. Por Exemplo: “E aconteceu que...” 1 Reis 11,15; “Depois destas

coisas...” 1 Reis 17,17 e 21,1 - dentre outras;

3. Uma terceira observação é a analogia, por exemplo: entre Jeroboão e Basa - Elias e Eliseu -

Salomão e Joás - Jeroboão e Manasses - Jeroboão e Jeú; e outros;

4. Uma quarta alternativa, são as estruturas avaliativas em fórmulas de julgamento (1 Rs 22-

43) ou a estrutura de apostasia/reforma - por exemplo - a reforma de Josias depende muito de

Joiada (2 Reis 12,4-16 e 22,3-7). Uns são exemplos de apostasia e outros de reforma.

A descrição de 2 Reis 10,28-36 é uma composição literária pós-exílica, de gênero

narrativo por parte do escritor deuteronomista, que oferece uma série de declarações ao

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31

período do reinado de Jeú. Os elementos importantes são genéricos: (1) Comentário

Teológico (29-31); (2) A conclusão do resumo do reinado (vv.34-35); (3) Nota histórica

(vv.32-33) e (4) Duração do reinado (v.36) (LONG, 1991, p.144).

1.7. Data e Autoria

Não apenas sobre o estudo, mas em se tratando dos livros dos Reis, de maneira geral,

as teorias que abordam o trabalho de escrita e compilação da obra, são sobremodo extensas.

Existe um grande problema de aceitação entre o que pode ser pós-exilico, ou algo

fruto de uma editoração. O caso é que a maioria dos comentários que são somados ao padrão

histórico, traz em seu bojo o ponto de vista de diferentes editores. Algumas observações são

necessárias à tarefa de datação e autoria do texto.

Em primeiro lugar: o fato de que parece haver um único autor responsável pela tarefa

de seleção das fontes históricas presentes no texto, que permitiram que ele levasse adiante sua

interpretação dos eventos (WISEMAN, 2008, p.49). Casualmente, este mesmo autor parece

intercalar seus próprios comentários (Cf. 2 Reis 17,1-23), porém trata suas fontes de maneira

reverente ressaltando sua credibilidade de uma forma clara e objetiva.

Um ponto a ser ressaltado, é o fato de que as intenções do autor, sempre pairam em

torno de evidenciar a ação de Javé nas diferentes narrativas acerca dos reis. O lado

econômico, político e social quase não encontram espaço nos textos, prova disso são as

narrativas reduzidas do internacionalmente conhecido Omri (1 Reis 16,22-28), e do longo

reinado de Jeroboão II (2 Reis 14,23-29).

A tradição judaica, durante um tempo, atribuiu a autoria dos livros a Jeremias pelo

fato da proximidade que o livro tem com o do referido profeta - tendo basicamente o mesmo

final - bem como o do profeta Isaías, tanto na teologia, na linguagem e no propósito. É

possível que por sua presença no seio da corte - além do círculo dos escribas em Jerusalém -

que Jeremias tenha tido acesso aos primeiros arquivos do estado de ambos os reinos hebreus

que antecederam a queda da cidade em 586/587 a.C. (WISEMAN, 2008, p.50).

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32

A sugestão é que a história tenha sido concluída por volta de 580 a.C. a partir de

registros existentes, seja por Jeremias ou por alguém próximo a ele - quem residia com

Gedalias em Mispa - antes dele e seu grupo retirarem-se para o Egito (NOTH, 1968, p.415).

Argumentando em sentido contrário, Wiseman (2008, p.50) trata a possibilidade que

o autor possa ter sido alguém durante o exílio na Babilônia, pelo menos vinte anos depois de

561 a.C. que foi o ano onde se fez a última referência à libertação de Joaquim para que

pudesse ir rumo a um refúgio que fosse mais favorável.

A proposta de Noth, coloca como data aproximadamente o ano de 580 a.C. e um

único autor/compilador que trabalha com as fontes históricas, isso parece mais aceitável,

dentro da tarefa à qual se propõe esse ponto do trabalho.

Somado a estas informações, a visão do referido autor, Weinfeld (1972, p.320-365)

aponta que provavelmente pertence à tradição deuteronomista, uma vez que os livros de Reis

compartilham em muito as ideias e a linguagem de Deuteronômio.

A obra completa, compõe uma narrativa que segue desde Deuteronômio a 2 Reis, o

que automaticamente colocaria Reis como parte dos profetas anteriores, na Bíblia hebraica

(Josué-Reis).

Esta inclusão traria o entendimento de que a nação inteira era o povo da aliança, que

fora separado por Deus - e que nesse ínterim - a monarquia foi o viés político pela qual se

daria o ajuntamento desse povo novamente, mesmo que a nação fosse julgada e grandemente

influenciada pelos seus vizinhos politeístas, voltando inclusive às práticas Cananeias.

Acerca do peso de Deuteronômio sobre Reis, algo importante deve ser ressaltado.

Existem aqueles que pensam que o livro de Deuteronômio foi encontrado por Josias,

no ano de 622 a.C. na época da reforma que este realizou no templo. Assim sendo, a

conclusão à qual se chega, é que a obra se tratava de algo terminado pouco antes deste

período, e que sua influência em relação aos livros de Reis, date do início do século seguinte.

Contudo, não se tem certeza de que o “Livro da Lei” - do qual 2 Reis 22,3 nos fala -

seja o livro de Deuteronômio em sua forma final, mesmo que contivesse provisões que

motivaram a reforma de Josias.

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33

O foco gira em torno do seguinte argumento: a descoberta do livro; que incluiu

documentos do início do Pentateuco, escritos nos primórdios da monarquia, formando assim

base de qualquer avaliação por toda a história dos reinos hebraicos (WISEMAN, 2008, p.51).

Archer (2012, p.357) diz que a composição de Reis deve ser datada depois da queda

de Jerusalém, provavelmente após a época do exílio. No entanto, ele relata que é possível que

apenas o capítulo final de 2 Reis 25, pertença diretamente, à época do exílio.

O talmude babilônico assevera sobre a possibilidade levantada anteriormente de que

Jeremias era o autor o livro de Reis31. Archer (2012, p.358-359) parece entender da mesma

maneira. Para ele, o tom profético do livro de Reis aponta para o fato de que possivelmente,

seu autor possa ter sido um profeta e que, assim como Jeremias, possuía considerável

capacidade literária.

Archer ainda nos diz que o fato de não haver a mínima alusão ao próprio Jeremias,

nos capítulos que tratam sobre Josias seria outro indício. Tendo sido Jeremias o último grande

profeta de Judá, possuindo uma importância singular na história deste reino, não haveria outra

razão para a omissão de uma referência ao ministério do profeta, a não ser o fato de que ele -

possivelmente - seja o autor do livro.

1.8. Comentário Exegético

1.8.1 Declaração de Sumário/Transição (v.28)

וישמד יהוא את־הבעל מישראל

28 – E destruiu Iehu a Baal de Israel;

O verso 28 demonstra que era dada importância para a história dos reis em seus

feitos, destacando fatos e registros históricos sobre os respectivos reinados, que seriam

compostos. Destaque aqui, em se tratando desse estudo, para a expressão וישמד יהוא

.E destruiu a Iehu a Baal de Israel”, demonstrando esta questão“ את־הבעל מישראל

31

Disponível em: http://www.come-and-hear.com/bababathra/bababathra_15.html. Acesso em 17/02/2016

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34

Interessante, ainda neste versículo 28, a luz da indicação da crítica textual (cf. item

3); seria de pensar na questão de “Baal de Israel”, como sendo entendido pelo acréscimo da

terminação בית (beith) a expressão que a colocaria como “Casa de ,(habaal) מישראל הבעל

Baal de Israel” mostrando o que de fato Jeú destruiu - que foi o culto institucionalizado a Baal

- com a derrubada do templo e o assassinato dos profetas.

O fato do anúncio da destruição do deus de Tiro era importante. O sentido perpassa o

de uma simples luta entre deuses, no caso Javé e Baal.

Antes de qualquer coisa, destruir a Baal era importante, pelo fato do baalismo ser a

representação de um sistema tributário explorador de uma forte ingerência estrangeira,

seguida de uma invasão cultural e de uma estratificação social característica das cidades-

estado, onde os deuses legitimavam a estrutura hierárquica, representada pelo rei e as elites

(PIXLEY, 1987, p.146-148).

Ainda sobre a questão do baalismo, Norman Gottwald nos diz:

Devemos esforçar-nos por salientar o fato de que o complexo político-cultural, como uma totalidade, é que se detestava e se impugnava, isto é, não os deuses e os cultos como práticas religiosas autônomas erradas, senão os deuses e os cultos, enquanto contrapartes e contrafortes ideológicos e funcionais deturpados, da opressão socioeconômica e política (GOTTWALD, 1986, p. 590-591).

Pode-se caminhar na seguinte direção; não foi o ódio a Baal que provocou a

destruição do seu templo e o assassinato de seus profetas durante a Revolta de Jeú, antes, tal

feito se deu pelo fato de que o templo de Baal em Samaria era enquanto incrustação

estrangeira - posto avançado da Fenícia - em Israel (ASTOUR, 1959, p. 37).

Robker relata que o testemunho contido no verso 28, presumidamente fora alterado

pelo relato da destruição de Israel, contido em 2 Reis 17 - especialmente no versículo 16 deste

capítulo - onde tem-se um ato claro de adoração a Baal por parte da nação. Ressalta ainda, que

não é pelo fato de Israel ter sido destruída, no capítulo 17, que Baal tenha sido destruído

(ROBKER, 2012, p.33). Provavelmente é por essa razão, que alguns manuscritos, tanto

do hebraico - quanto do grego - trabalham o texto a partir do princípio que, Jeú só destruiu o

templo de Baal em Samaria sem inteiramente remover o culto a Baal do contexto popular.

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1.8.2 Comentário Teológico (v.29-31)

מאחריהם עגלי הזהב אשר רק חטאי ירבעם בן־נבט אשר החטיא את־ישראל !א־סר יהוא 29 בית־אל ואשר בדן ס

29– Somente os pecados de Jeroboão filho de Nebat, o qual fez pecar Israel não desviou Iehu

depois de eles bezerros de o ouro o qual Beith-el e o qual em Dã;

30יען אשר־הטיבת לעשות הישר בעיני ככל אשר בלבבי עשית לבית אחאב ◌יאמר יהוה אל־יהואו

בני רבעים ישבו ל+ על־כסא ישראל30 – E disse YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar o direito em meus

olhos, conforme todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho de quartos

se assentarão para ti sobre o trono de Israel;

ויהוא !א שמר ללכת בתורת־יהוה א!הי־ישראל בכל־לבבו !א סר מעל חטאות ירבעם אשר 31 החטיא את־ישראל

31 – E Iehu não vigiou para andar em lei de YHWH Deus de Israel, em todo seu coração não

se desviou de sobre pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel;

Do ponto de vista redacional, essa parte da história se inicia a partir de um advérbio

restritivo רק (Somente), que leva diretamente o texto para a avaliação do escritor, sobre o

reinado de Jeú V.29-31.

Para o resumo conclusivo contido nos versos 34-35, o narrador acrescentou uma

explicação sobre a duração do reinado. Normalmente uma declaração típica do material que

introduz um governante pela primeira vez, assim como no caso de Davi, em 1 Reis 2,11 e

Jeroboão, em 1 Reis 14,20.

O relato sobre a descendência de Jeú assentar-se ao trono até a quarta geração (v.30),

faz coro ao verso 28. Essa constatação demonstra que ambos os textos são de um mesmo

autor, provavelmente o deuteronomista, que tece elogios a Jeú, e seria recompensado com a

continuidade de seu reinado, pois ele havia feito àquilo que era bom aos olhos de Javé.

Após a morte de Jeú, seu filho Joacaz (814-798 a.C.) assume o trono em Israel. Este

foi um período difícil, já que ele teve uma redução considerável em seu exército, de acordo

com 2 Reis 13,7 - além do fato de que foi nesta época que provavelmente Israel perdeu a

Galiléia - ficando reduzida apenas à região da Samaria (FERNANDES, 1998, p.68). No

entanto, o deuteronomista parece considerar de bom alvitre o reinado de Joacaz, de acordo

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com 2 Reis 13,3-5 - embora a grande responsável pela libertação de Israel do domínio arameu

tenha sido a Assíria (KAEFER, 2015 p.84).

Joás (798-782 a.C.) deu continuidade à dinastia de Jeú. Fernandes (1998, p.71) nos

diz que, em termos políticos e econômicos o reinado de Joás constitui uma antecipação

daquilo que ele chama de “glória jeroboânica”, haja vista ter sido Joás sucedido por Jeroboão

II. Também neste período, de acordo com 2 Reis 13,20 - morre o profeta Eliseu.

Jeroboão II (793-753 a.C.) teve o reinado mais longo da história de Israel, de acordo

com 2 Reis 14,25-38. Durante o seu reinado Israel retoma as fronteiras do tempo de Omri e

Acab (2 Reis 14,25), além do fato de que cidades como Betsaida, Hazor e até mesmo Dã -

passam a ser administradas por Israel norte - que retomou o caminho do desenvolvimento

(KAEFER, 2015, p.84).

Por fim, o último rei da dinastia de Jeú foi Zacarias (753 a.C.). Este teve um curto

período de reinado, apenas seis meses, sendo posteriormente assassinado por Salum, de

acordo com o relato de 2 Reis 15,8-12 - fato este que pôs um fim abrupto a esse governo.

Os estudiosos, no entanto, preocupados com a reconstrução de uma história de

redação - naturalmente - encontram razões para detectar os vestígios de vários editores dentro

desta unidade. Por exemplo, Gray (1970, p.562) coloca ao menos dois redatores, um para os

versos 28 e 29 e outro para 30 a 32 pelo contraponto das opiniões que hora convergem em

elogiar o reinado de Jeú, e hora divergem sobre este mesmo assunto.

Wurthwein (1977, p.343) atribui aos versos 28 a 31 a uma redação mais tardia - à

deuteronomista - que envolve uma série de glosas secundárias; posições estas encontradas

também em Dietrich (1972, p.34) e em Barré (1988, p.22-23) que entendem o V.29 como

estando sozinho, sendo uma expansão em uma composição do redator.

Outra possibilidade que merece destaque é o fato de que os versos 29-31 podem ser

pós-exílicos. Isto se dá pelo fato da existência de algumas peculiaridades no escopo do texto.

A expressão “pecado” (חטאי ) aparece duas vezes, além do fato de haver uma menção clara a

lei de Javé (בתורת־יהוה א!הי־ישראל), que também revela uma tendência pós-exílica, uma

vez que a lei e o pentateuco, apenas foram concluídos em 400 a.C..

Como de costume, as divergências entre os estudiosos indicam os motivos

problemáticos para tais hipóteses. Em qualquer caso, a forma de quiasmo presente entre os

versos 29-31 é um ponto importante à integridade autoral, coloca em questão o fato de como a

desunião argumentativa pode ser feita, pois se tem uma avaliação teológica nos versículos 29

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37

e 31 que repetem a questão dos "pecados de Jeroboão" e ordenadamente um enquadramento

de discurso centrado em Javé.

Sobre a questão dos pecados dos quais não se desviou Jeú, e que o texto faz menção

a história de Jeroboão I, a quem são atribuídos estes pecados em primeira instancia, faz

compreender a que temática se refere o autor.

Jeroboão I (927-907 a.C.), não tinha residência fixa quando iniciou o seu reinado em

Israel, chegando a habitar em diferentes localidades, tais como: Siquém (Tell Balata) - as

montanhas de Samaria e Penuel (Tilal edh-Dhahab) cf. 1 Reis 12:25 - bem como em Tirza

(Tell el-Far’a) sob o impacto da campanha de Shoshenk I (943-922 a.C.) na Palestina

(DONNER, 2000, p.281). Ele fortaleceu a influência religiosa dos santuários de Betel e Dã,

onde introduziu bezerros de ouro na adoração. Harrison (2010, p.213) diz que há uma boa

probabilidade de que Jeroboão tenha sido influenciado pelo antigo culto ao touro Mênfis, no

Egito, onde esteve por um tempo.

Além disso, mantinha bosques para o culto da fertilidade em Samaria. Nestes locais

eram prestados cultos as divindades cananeias agrícolas, além dos deuses Quemos, Milcom e

Astarote (HARRISON, 2010, p.214).

Fica difícil optar seguramente por qualquer uma das argumentações apresentadas,

haja vista, que há de se considerar as intenções e convicções de Jeroboão I e seus conselheiros

de um lado; as opiniões de seus contemporâneos, e ainda de seus pósteros, que nem sempre

são contempladas pela argumentação contida no texto.

No entanto, uma coisa fica clara: provavelmente os adoradores residentes em Israel,

prenderam-se à adoração daquilo que viam: o bezerro de ouro que representava o deus estatal

Javé, mas que também podia ser considerado símbolo de um dos deuses cananeus da

tempestade; dos quais inicialmente Javé não se diferenciava muito (DONNER, 2000, p.283).

O relator ao escrever sobre o reinado de Jeú, retoma indiretamente o contexto de um

henoteísmo32 ascendente no período de Jeroboão I, que a luz do signo do Deuteronômio,

traduz como sendo pecado de idolatria à adoração das imagens de touro.

Além do mais a circunstância descrita em 1 Reis 12,28 - que alude a este contexto -

acaba quase que por retornar ao texto de Êxodo 32,4 - evidenciando que a saga do bezerro de

ouro é uma etiologia polêmica; com a qual a imagem do touro, interpretada como ídolo, foi

reprojetada para o período mosaico.

32 Forma de religião onde se cultua uma única divindade, considerada suprema, mas sem negar a existência de outros deuses.

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1.8.3 Aviso de Derrota (v.32-33)

בימים ההם החל יהוה לקצות בישראל ויכם חזאל בכל־גבול ישראל 32

32 – Em os dias, os estes, iniciou YHWH para cortar os limites em Israel e golpeou a eles

Hazael em todo território de Israel;

ארנן מן־הירדן מזרח השמש את כל־ארץ הגלעד הגדי והראובני והמנשי מערער אשר על־נחל 33 והבשן והגלעד

33 – Desde o Jordão, de lugar de nascer o sol toda a terra de o Gileade, o Gadita, e o

Rubenita, e o Manassita, desde Aroer, o qual sobre a torrente (rio) Arnon, e o Gileade, e o

Basã;

Esse ponto do texto é de extrema relevância para a compreensão da tradição em

torno de Jeú. Até mesmo em uma leitura despretensiosa, é clara a ruptura que este bloco

possui em relação aos versos anteriores (28-31) e posteriores (34-36), pois aqui não há

qualquer referência à Jeú, aos pecados de Jeroboão - a Baal - ou a qualquer outra temática,

antes o texto trata especificamente de uma situação história real - que é a perda dos territórios

de Israel a partir da inserção de uma personagem central: Hazael, de Damasco.

A tradição conta que Hazael foi um usurpador (2 Reis 8,7-15) e que teria sido

designado rei pelo profeta Eliseu, de acordo com 2 Reis 8,12-15. No início, Jeú teve paz com

ele, pois Damasco estava lutando contra as forças de Salmanassar. De 841 a 837 a.C., os

assírios acossaram Damasco, mas não a conseguiram conquistar e tiveram de dar-se por

satisfeitos com o saque e a devastação das cercanias do oásis el-ghuta33 (DONNER, 2000,

p.325).

A forma “Em os dias, os estes” é uma típica frase editorial que introduz citações

provenientes de documentos de arquivo (2 Reis 16,6 - 18,16 - 20,12 - 24,10...) que na

perícope em questão, parece apontar outra observação que se reporta especificamente aos dias

em que Jeú reinou sobre a casa de Israel. Este tema será revisto e ampliado nos capítulos II e

III dessa dissertação.

O estudo traz a recordação da batalha de Damasco contra Israel, que no tempo de

Jeú, Hazael já havia ocupado praticamente todos os territórios israelitas na Transjordânia e

33 Oasis localizado em torno do rio Barada, onde Damasco foi fundada.

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que tinham sido agregados a Israel durante o reinado de Acab (KAEFER, 2012, p.41). A

Estela de Dã34 aborda esse tema, levando ao entendimento através de seu conteúdo, que

Hazael, além de recuperar as terras, se encarregou de eliminar todos os reis que formaram a

coalizão anti-damasco.

A referência territorial conquistada por Hazael, presente no texto, faz alusão aos

territórios da região montanhosa da Transjordânia, que estavam arrolados a Israel, mas que

pertenciam, anteriormente, em sua maioria a Damasco. As linhas 3 e 4 da Estela de Dã, que

será trabalhada nos capítulos a seguir, retratam que durante um determinado período, Israel

dominou Damasco.

A Transjordânia, geograficamente falando, possui alguns pontos de convergência

com a formação topográfica da Cisjordânia. Além disso, é composta por três regiões

principais: a planície, Gileade e o Basã - conforme as referências presentes em Deuteronômio

3,10 - Josué 20 e 2 Reis 10,33.

A planície fica ao norte do Arnon, sendo palco da batalha entre Israel e Moabe. O

Basã é a parte que fica ao norte do Yamurk e, por fim, Gileade é a seção claramente israelita

da Transjordânia abrangendo as regiões do mar morto e do mar da Galiléia; de acordo com as

informações de Genesis 37,25 - Josué 22,9 - 2 Samuel 2,9 - Ezequiel 47,18 e Amós 1,3 -

dentre outros textos bíblicos.

A região de Basã se destaca pelo seu alto índice de fertilidade, em relação as demais

localidades. Especialmente para as atividades voltadas à pecuária (Amós 4,1) e para à

edificação de cidades (1 Reis 4,13). Gileade detinha a maior concentração da população

israelita na Transjordânia, abrigando inclusive alguns reis em tempos de crise política. Trata-

se também de uma região altamente fértil.35

Aroer, localizava-se a margem do vale de Arnon (Deuteronômio 2,36) por onde os

israelitas passaram durante sua peregrinação no deserto (Números 32,34). É listada como uma

cidade pertencente à tribo de Ruben (Josué 13,16) mas posteriormente foi integrada ao

território de Gad (Números 32,34). Às vezes traduzida como “vale/desfiladeiro”, Aroer possui

como uma de suas principais características, o fato de ser alimentada por uma fonte de águas,

inclusive citada no verso 33 (COGAN, TADMOR, 1988, p.117).

34

Cf. Capítulo II 35 http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/judaica/ejud_0002_0007_0_07310.html. Acesso em 15/02/2016.

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Mesmo não citada no texto, há uma localidade de extrema importância na região da

Transjordânia que merece ser destacada: Edom. Ela se apresenta como uma área de difícil

acesso, possuindo muitas localidades militares. O controle dessa região representava a

garantia de obtenção de recursos para chefes militares, além do fato de que - o domínio desta -

possibilitava o controle da extremidade sul da “Estrada Real” (SIQUEIRA, 1997, p.126).

Paralelo a isso, o texto retoma a temática de 2 Reis 8,7-15 e, paira na memória do

leitor introspectivo de Eliseu, movendo-se as margens do sucesso do pleito de Jeú (Cf. 8,28 -

9,15), confrontando diretamente com a primeira das vitórias militares de Hazael, já que 2 Reis

12,18 - 13,3-7 - 14 - 19 - 22-24, nos mostram os demais êxitos militares alcançados pelo rei

Sírio.

1.8.4 Concluindo o Currículo do Reinado (v.34-35)

34 ויתר דברי יהוא וכל־אשר עשה וכל־גבורתו

הלוא־הם כתובים על־ספר דברי הימים למלכי ישראל

34 – E resto de discursos (atos) de Iehu e tudo o que fez e toda sua força, acaso não eles

escritos sobre livro de discursos (atos) de os dias para reis de Israel?

וישכב יהוא עם־אבתיו ויקברו אתו בשמרון 35 וימ!6 יהואחז בנו תחתיו

35 – E deitou-se Iehu e enterraram a ele com seus pais em Samaria, e reinou Jeoacaz, seu

filho, em lugar dele;

Novamente tem-se uma ruptura entre as estruturas textuais. Os versos 34 e 35

diferem dos posteriores e anteriores, pois introduzem uma temática voltada para o

encerramento padrão dos relatos dos Reis (o resto do discurso... o resto da história) que

também pode ser verificada em textos como: 2 Reis 21,17 e 25 - 23,28, dentre outros. É

possível que essas sejam fórmulas do deuteronomista utilizadas para concluir a narrativa

sobre os reis e sua história.

Os livros das crônicas dos reis de Israel e Judá - ou simplesmente o livro dos Anais

reais de Israel e Judá - mencionados na maioria dos relatos sobre os Reis, inclusive aqui, são

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dois conjuntos de anais reais, mencionados em 1 e 2 Reis - mas posteriormente perdidos. O

autor refere-se a essas obras como a sua fonte, onde informações adicionais podem ser

encontradas. Essas referências mostram como o historiador de Reis utiliza fontes extensas de

forma seletiva (MONTGOMERY, 1951, p.24).

De todos os reis de Israel, apenas Jorão e Oseias não são mencionados nos registros

reais. Dos reis de Judá, o mesmo se aplica a Atalia, Jeoacaz, Joaquim e Zedequias. É incerto

se esses livros foram registros reais próprios ou anais editados com base nos registros. É

possível, tendo em conta as referências negativas a certos reis: Zinri (1 Reis 16), Selum (2

Reis 15) e Manassés (2 Reis 21) que os registros foram editados (COGAN, 2000, p.89-91).

Somado a este fato, o autor dos registros dos reis de Judá, ao sul, dificilmente

poderia ter acesso a todos os fatos reais do reino do norte. O conteúdo destes livros parece

idêntico ao dos anais assírios; provavelmente os fatos narrados nos livros dos Reis têm por

base este material. O livro das Crônicas menciona o livro dos reis de Israel e de Judá (1

Crônicas 9,1 - 2 Crônicas 16,11 - 20,34 e 27,7), onde o cronista parece estar se referindo as

mesmas obras, mas provavelmente não as têm à sua disposição (MONTGOMERY, 1951,

p.38).

Pode-se também considerar nessa abordagem, onde é citado o trecho ויתר דברי יהוא

E resto de, de discursos (Atos) de Iehu e tudo o que fez” o episódio da submissão“ וכל־אשר

de Jeú a Salmanassar III em 841 a.C., retratado no obelisco negro. Esse foi descoberto por

Henry Layard, no ano de 1846, em Calesh - Iraque, que retrata a figura de Jeú prostrado

diante do rei Assírio e emissários Israelitas com tributos atrás dele.

A inscrição apresenta-se da seguinte forma: “O tributo de Jeú, filho de Omri; recebi

dele prata, ouro, uma tigela saplu dourado, um vaso de ouro com fundo de pontas, copos de

ouro, baldes de ouro, uma equipe para um rei (e) puruthu madeira” (OPPNHEIM, 1969,

p.281).

A expressão וכל־אשר “E tudo o que Fez”, está geralmente ligada a períodos de

guerra (Cf. 1 Reis 10,6). Alguns sustentam que Jeú tenha reconquistado Moabe, integrando-a

ao território de Israel (WISEMAN, 2008, p.202).

Jeú foi o grande responsável pela eliminação da Dinastia Omrida que reinou em

Israel durante 42 anos (884-842 a.C). Sua dinastia chegaria até a quarta geração, no ano de

753 a.C., nos dias de Zacarias, filho de Jeroboão II. Possui grande importância para a redação

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deuteronomista, por ser o grande disseminador do Javismo em Israel e Judá, no entanto,

aprofundar-se-á mais nessa temática, dentre outras, nos capítulos seguintes.

1.8.5 Demonstração do Corpo do Reinado (v.36)

36 והימים אשר מל6 יהוא על־ישראל עשרים ושמנה־שנה בשמרון פ

36 – E os dias que reinou Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria;

A expressão בשמרון em Samaria, estaria fora de posição no que diz respeito à

construção do relato da localidade onde se deu o reinado de Jeú, considerando a referência de

1 Reis 22,52 - onde de fato Samaria é devidamente identificada como parte integrante de

Israel, e não como um território isolado como o versículo em questão nos leva a entender. A

partir dessa constatação, é bem possível que esse verso seja um relato mais tardio, sobre a

história de Jeú (EISSFELDT, 1922 p.75).

Não é de praxe o historiador colocar a duração do reinado no final. Talvez sua

intenção fosse a de ressaltar uma longa dinastia.

1.9 Considerações Intermediarias

O texto de 2 Reis 10,28-36, apresenta um resumo do reinado de Jeú, a partir de duas

redações distintas: uma deuteronomista, evidenciada ao relatar a ação de Jeú - prometendo-lhe

uma dinastia até a quarta geração e, outra pós-exílica - destacada uma vez que Jeú - segundo o

texto (vv.29-31) não levou em consideração, andar segundo a lei de Javé, não se desviando de

sobre os pecados de Jeroboão.

Além dessas observações, através das análises realizadas, foi possível constatar que

os relatos de perda de território a que se referem os versos 32 e 33, se tratam de uma situação

histórica real, inclusive retratada pela Estela de Dã.

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As tarefas de delimitação e estruturação do texto mostram a ordem redacional em

polarizar os assuntos dentro de uma mesma unidade, através dos blocos destacados no corpo

da exegese. Chega-se à conclusão de que essa disposição textual favoreceu muito a percepção

de elementos de coesão que amarraram os assuntos dentro do estudo.

Dadas as informações de data e autoria, é possível que o livro tenha sido escrito por

volta do século VI. Embora carente de elementos de maior precisão, se tem como um autor

em potencial, o profeta Jeremias, conforme destacamos no corpo da exegese.

Conclui-se a partir de então, que a história do reinado de Jeú abordada em questão, é

um relato que apresenta visões diferentes sobre uma mesma situação. Um rei, que segundo o

texto - põe fim ao culto a outras divindades em Israel - não se aparta dos assim classificados

“pecados de Jeroboão”, além do fato de perder parte dos territórios de Israel para Hazael de

Damasco e, no entanto, sua dinastia chegaria até a quarta geração.

Para o ponto de vista da redação deuteronomista, como já destacado, a história de Jeú

é muito importante pelo fato de através dele, o Javismo ganhar expressão. No entanto, o

exame do texto faz que paire sobre o imaginário do leitor a impressão de que as entrelinhas

desta história precisem ser mais bem expostas, de maneira a se entender o papel de sua

trajetória na história de Israel e, quais as reais heranças que o reinado de Jeú trouxe. Sobre

isso, a Estela de Dã lança novas perspectivas ao levante, por isso passa-se em seguida à

análise de seu conteúdo.

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CAPÍTULO II

JEÚ E A ESTELA DE DÃ

No capítulo anterior, observou-se cautelosamente, através do estudo exegético,

como tradicionalmente tem sido lido os eventos que tratam da escalada de Jeú ao trono

em Israel Norte. A história deuteronomista - nome dado à composição dos livros que

seguem de Deuteronômio até 2 Reis pelo fato de discorrerem os princípios teológicos

elencados em Deuteronômio – como uma das fontes subjacentes da Bíblia Hebraica,

aponta este episódio como sendo um ato de revolta por parte de Jeú; que tinha por

objetivo, a eliminação do culto à outras divindades em Israel.

A partir desse contexto, se inicia uma apresentação/análise da Estela de Dã,

que acredita-se trazer novas perspectivas sobre os eventos em questão, envolvendo o

general Jeú, que mais tarde se tornaria o rei de Israel. Retomando a história naquele

período, por volta do século VIII d.C., o artefato aponta para uma face não contemplada

pelo redator deuteronomista, ao reproduzir a história de Israel.

Para o desenvolvimento da temática, serão trabalhados alguns pontos

considerados indispensáveis: A relação entre a bíblia e a arqueologia; o Tell Dã e seu

histórico de escavações e principais achados arqueológicos; a Estela de Dã em uma

abordagem genérica; e por fim - uma análise sobre o conteúdo da Estela de Dã e sua

relação com a Revolta de Jeú.

A descoberta da Estela de Dã causou um impacto significativo na compreensão

do mundo bíblico. Nesse caso, principalmente no reino de Israel Norte - tão pouco

explorado nos ambientes de pesquisa que - sempre tiveram suas atenções voltadas a

Judá e consequentemente, Jerusalém.

Ela surge no cenário da pesquisa bíblica, relatando - dentre outras coisas - o

conflito de Israel contra Damasco em Ramote de Gileade. Seu conteúdo, embora

fragmentado, evidencia uma participação clara e efetiva de Damasco na subida de Jeú

ao poder.

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2.1. A arqueologia e Bíblia

Quando se olha para um texto bíblico pela primeira vez, geralmente em uma

comunidade religiosa, quase nunca se presta atenção que por detrás de todo discurso

hermenêutico empregado nas solenidades litúrgicas, há toda uma história que se

constrói a partir disso, tanto de fatos históricos concretos, quanto da defesa de

interesses, por parte daqueles que a escreveram.

Dentro do universo bíblico pode-se observar os mais diferentes modelos de

sociedades, nos mais diversos contextos; e como eles têm brindado à existência humana

com as variadas manifestações culturais - prospectos religiosos - bem como,

demonstrando toda sorte de articulações que nem sempre são perceptíveis a uma

simples leitura despretensiosa.

Nesse contexto, a exegese bíblica, em suas diferentes abordagens (histórico-

crítica, crítica da forma, dentre outras...) tem sido uma das mais eficazes ferramentas

empregadas na descoberta do que vem a ser esse universo tão amplo da Bíblia, através

de seus textos e contextos, que de uma maneira muito clara, se apresentam de forma a

demonstrar a ação de Deus na história (KAEFER, 2015 p.8).

Assim como anos de estudos detalhados do texto hebraico foram capazes de

precisar diferentes gêneros literários; fontes orais e escritas pelas quais caminham as

construções textuais - a arqueologia em paralelo - foi capaz de produzir um arcabouço

de conhecimento, que permitiu aos exegetas, permearem outros caminhos na intenção

de se desvendar os diferentes mistérios do texto bíblico.

Kaefer (2015, p.9) sobre a importância dessa, diz que as descobertas

arqueológicas podem causar certo mal-estar, devido às incertezas diante da palavra de

Deus, pelo fato de que para a vida em comunidade - o texto bíblico torna-se referência

para a fé e - consequentemente para o modo de agir daqueles que a integram.

Finkelstein (2003, p.16) diz que o conhecimento produzido pela mesma é tão

formidável, que é quase enciclopédico. Este cabedal de descobertas aponta informações

sobre as condições materiais, as línguas, as sociedades e o desenvolvimento histórico

dos séculos durante os quais as tradições do antigo Israel se solidificaram, transpondo

cerca de seiscentos anos, período esse compreendido entre os anos de 1000 a 400 a.C..

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Os métodos aplicados à investigação dos extratos arqueológicos têm sido muito

valiosos em se tratando da precisão de datas de acontecimentos históricos, além de

apresentarem, citações claras a certos personagens, reconfigurando totalmente suas

narrativas de participação na construção da história do povo da Bíblia.

Continuando, Finkelstein (2003, p.29) ainda relata que a arqueologia sempre

desempenhou papel crucial nos debates sobre a composição e a credibilidade histórica

bíblica. No começo, parecia refutar os mais radicais argumentos dos críticos, de que a

bíblia era um trabalho bem mais posterior e que grande parte de seu texto não era

historicamente confiável.

Desde o século XIX, quando a exploração moderna das terras da Bíblia teve

início, uma série de descobertas espetaculares e décadas de constante escavação e

interpretação arqueológica sugeriram que muitos dos relatos bíblicos eram

fundamentalmente confiáveis em relação aos principais contornos da história do antigo

Israel.

Thompson (2007, p.21), diz que a arqueologia na pesquisa bíblica possui toda a

fascinação da ciência - e busca desvendar a história das eras passadas escavando seus

remanescentes materiais. Além disso, ela acrescenta o interesse de que, mediante o seu

estudo, se possa obter melhor esclarecimento sobre os fatos que compõem o relato

bíblico.

Uma afirmativa contundente em consonância com o texto bíblico é o fato de

que ela não tem como propósito substituir o texto, mas sim auxiliá-lo (KAEFER, 2012,

p.35). Kaefer ainda nos diz que por mais que alguns estudiosos afirmem que as recentes

descobertas arqueológicas contradigam o texto bíblico, porque apresentam outras

verdades, isto não seria correto.

Dadas às circunstâncias, é possível afirmar que a arqueologia, a partir do que

se conclui sobre ela, torna-se uma ferramenta de grande ajuda à exegese Bíblia. Ela

percorre caminhos que passam despercebidos aos textos e, contribui significativamente

com a interpretação dos mesmos.

Resumindo, na perspectiva bíblica, ela vem nos ajudar a recontar a história. De

maneira que tanto os planos dos grandes reis e seus reinos, bem como, os hábitos

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cotidianos do povo - são reconstruídos - enriquecendo assim toda a compreensão que se

tem até agora sobre o antigo Israel.

2.2. A Arqueologia e a Revolta de Jeú: O Tell Dã

O Tell Dã está localizado no noroeste do Vale do Hule, à extremo norte de

Israel, próximo ao Monte Hermon. Na Bíblia, a antiga cidade de Dã serve comumente

de referência para falar do limite norte de Israel. É conhecida a expressão “de Dã até

Beersheva”, conforme os relatos presentes em: Juízes 20,1 - 1 Samuel 3,20 - 2 Samuel

3,10 - 1 Reis 5,5 (KAEFER, 2012, p.35). O sítio arqueológico possui uma extensão de

aproximadamente 50 acres, o que equivale cerca de 2,023 M².

Vale destacar que o Tell Dã estava próximo a duas importantes estradas de

comércio no período do Antigo Testamento, a saber; uma entre o Egito e Damasco - e a

segunda grande estrada vindo também de Damasco - porém partindo para o oeste da

cidade, chegando até o mar de Sidon36.1 Este pode ter sido o chamado “caminho do mar”

“Via Maris” (cf. vulgata), apontado no texto de Isaías 9,1 e citada também em Mateus

4,15-16.

Do ponto de vista bíblico, é possível localizar dois relatos diferentes sobre a

localidade de Dã, praticamente como se fossem duas cidades distintas. Conforme Josué

19,40-46 e Juízes 1,34-35 - Dã está localizada na região noroeste da Palestina - tendo

Efraim ao norte, Benjamin a leste e os filisteus ao sul.

No entanto, em Josué 19,47-48 e Juízes 18 encontra-se a tribo Dã migrando

para o norte, onde se apodera de Laís, dando-lhe, posteriormente o nome de Dã. Laís era

de fato o nome antigo da cidade, pois é com esse nome que ela aparece nos textos de

execração egípcia do século XIX, nos escritos cuneiformes da antiga cidade de Mari, na

Mesopotâmia - e na lista das cidades conquistadas por Tutmosis III (KAEFER, 2006,

p.147-161).

Yadin, (1968, p.9-23) afirma que a tribo de Dã, originou-se como um dos

povos do mar, que permaneceram em seus navios no início do Cântico de Débora, como

36http://www.netours.com/content/view/98/36/1/3/; Acesso em 07/09/2015.

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relato de Juízes 5. Essa hipótese é considerada pelo fato de não haver antes disso,

nenhuma menção no texto bíblico a qualquer terra em Israel que levasse o nome da

tribo.

Também é conhecida pelo bezerro de ouro de 1 Reis 12,26-33 - Jeroboão I a

instalou ali para que o povo não fosse ao templo de Jerusalém (KAEFER, 2012, p.35).

Friedman (2011, p.109) diz ser bem provável que Jeroboão estivesse tentando superar o

santuário em Jerusalém (Templo), através da criação de um lugar de adoração para

YHWH - representado pelo bezerro de ouro - com o objetivo de agregar toda a nação de

Israel.

O assento de YHWH na arca em Jerusalém - fora representado por um

querubim de cada lado - ao passo que Jeroboão estava utilizando os bezerros erigidos

em Betel e Dã, para representar os lados de seu assento para YHWH, fato este que,

implicaria que o seu reino fosse igual em santidade para a arca (FRIEDMAN, 2011,

p.109).

De acordo com as escavações realizadas no local, a cidade foi originalmente

ocupada no final do período Neolítico, sendo abandonada em algum momento durante o

4° milênio, a.C. por quase mil anos (YOSEF, 1987, p.91-113). A partir da idade do

ferro I, ela efetivamente permaneceu como uma cidade israelita em sua totalidade, até

que os exércitos de Tiglate-Pileser III destruíram a maior parte do reino do norte no

final do ano de 732 a.C., incluindo o bamah372 de Dã que voltou a ser construído tempos

depois, mas nunca recuperou sua importância primeira no cenário da época.

Após a conquista, os Assírios deportaram a população israelita nativa, e

reassentaram a cidade com os seus colonos, que vieram a familiarizar-se com a religião

do antigo Israel. O rei assírio enviou um sacerdote israelita de volta da Assíria para

instruir os colonos sobre os rituais adequados para o culto a YHWH383.

Talvez isto explique o porquê do centro religioso de Dã, estabelecido por

Jeroboão I, no final do século X a.C. ter mantido a sua importância durante anos,

mesmo depois dos israelitas do norte desaparecerem dos registros históricos.

37

Nome dado aos assim chamados “lugares altos”, dados comumente pelas bíblias, onde os judeus cultuavam as divindades. Vide tópico “Escavações em Tel Dã”. 383

https://teldan.wordpress.com/discoveries/. Acesso em 15/09/2015

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Uma inscrição datada do período Helenista faz referência a Zilas (transcrição

aramaica), que fez um voto a Deus que estava em Dã, dando assim um forte indício de

que o local - de fato - é a Dã bíblica.

Por sua localização privilegiada, o Tell Dã é um dos sítios arqueológicos mais

atraentes em Israel e, consequentemente um dos mais escavados. Além de ser rico em

água - por ter uma das nascentes do Jordão cortando sua extensão - é também um local

muito bem arborizado. É possível que o nome Dã tenha sua origem no nome da fonte.

No hebraico, Dã é a raiz do verbo “julgar” segundo Gênesis 30,6 e 49,16.

2.3 As Escavações em Tell Dã

As escavações no Tell Dã começaram em 1966 - por Avraham Biran - do

Hebrew Union College, até o ano de 2003, quando se aposentou.

O resultado de suas pesquisas está contemplado em dois volumes, abordando

diferentes temáticas sobre o Tell; O primeiro, “ Dan I: A Chronicle of the Excavations,

the Pottery Neolithic, the Early Bronze Age and the Middle Bronze Age Tombs”, aborda

os anos de 1966 a 1992 - enfatizando os achados do Neolítico, Bronze Antigo e Médio.

O segundo, “ Dan 2: A Chronicle of the Excavations and the Late Bronze Age -

Mycenaean Tomb”, abrange de 1993 a 1999 – e enfatiza as Eras do Bronze Tardio e

Ferro - além de uma série de artigos sobre a Estela de Dã.

A partir de 2003 as escavações continuaram sob a direção de David Ilan,

também do Hebrew Union College, que voltou suas atenções à parte externa da área dos

portões - no lado leste - onde é possível ver uma extensa e intensa atividade

arqueológica. Vale ressaltar que apesar dos vários anos de escavações, a maior parte do

sítio ainda não foi explorada. Elas mostram que a cidade de Dã tem camadas

sobrepostas em suas edificações - datando de diferentes períodos, - como; o neolítico,

calcolítico, idade do bronze, idade do ferro, greco-romana, períodos medievais e

otomanos - fatos esses que demonstram a importância da cidade394.

39https://teldan.wordpress.com/discoveries/. Acesso em 15/09/2015.

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Passando à apresentação e análise dos extratos arqueológicos localizados em

Tell Dã, destaca-se um sistema de três portões do período do Bronze Médio, que se

encontra unido à muralha que contorna a cidade. Um quarto portão sendo datado no

período do ferro, também fora encontrado.

Portão de Dã. Imagem obtida em: http://www.blairrw.org/wordpress/?p=170 (Acesso em 27/12/2015)

A figura do portão era muito importante para a vida em sociedade daquela

época. Nesse grande espaço de uso público, funcionava o tribunal onde os anciãos se

reuniam com testemunhas - para julgar ou homologar acordos – veja em Rute 4,1-11

(KAEFER, 2012, p.35).

As pessoas se encontravam ali para discutir sobre a vida (Salmo 63,13) - o rei

realizava audiências - os profetas denunciavam as injúrias e injustiças dirigidas aos

pobres; além dos julgamentos iníquos dos juízes, segundo Amós 5,10-12,15 - Zacarias

8,16-17 e Jó 5,4 (KAEFER, 2012 p.36).

Outro destaque, dentre os extratos arqueológicos do Tell Dã, foi o escopo do

que seria a bamah (Lugar alto), o qual 2 Reis 12,25-33 faz referência. Dentro do local -

como parte componente deste lugar - foi encontrado um enorme altar de quatro chifres,

com três metros de altura - tamanho único nesse estilo - atualmente representado por

uma estrutura metálica.

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Bamah de Tell Dã com três matsebooth405. Foto by Ferrell Jenkins. Imagem Obtida em:

https://ferrelljenkins.wordpress.com/2010/03/page/2/ (Acesso em 27/12/2015).

Altar de Tell Dã. Imagem Obtida em: http://anirenicon.com/2012/09/08/israel-part-1-some-old-testament-

sites/. (Acesso em 27/12/2015).

Este seria um testemunho solitário que atestaria a provável administração da

cidade de Dã pelos reis Omri e Acabe, por volta do século IX a.C. aproximadamente,

em um período onde a cidade atingiu um alto nível de desenvolvimento (KAEFER,

2012, p.36).

Além destes achados, um terceiro extrato merece destaque especial: O portão

do arco de adobe, datado da Era do Bronze Médio. Trata-se de um portão muito bem

40 Representação de Divindades.

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preservado, além de ser o mais antigo desse estilo, sendo um trabalho de engenharia que

até então se acreditava ser de origem bem tardia. Abaixo uma imagem descritiva do

artefato.

Arco datado da Era do Bronze Médio. Imagem Obtida em: http://www.israel-in-photos.com/tel-dan.html

(Acesso em 27/12/2015).

2.4. Estrutura do Tell Dã

Como precursor dos trabalhos arqueológicos em Tell Dã, Biran dividiu o lugar

em sete áreas principais muito bem localizadas. As áreas 1, 2 e 3, na entrada do sítio,

parte sul, abrigam o conjunto de portões, entre eles os do século IX e VIII, que são os

que sobressaem à entrada do local. Somado a estes, tem-se: o pátio interno e externo; o

altar; o pavimento e a muralha.

Próximo ao centro, na ala norte, a área 4 - com a presença de um pavimento do

século VIII já escavado. A oeste, a 5 - que somada ao conjunto de portões que formam

as áreas 1, 2 e 3, é a mais importante - onde se encontra a bamah e o altar já

demonstrados acima pelas imagens. Na ala nordeste, a 6, com a presença de uma

fortaleza escavada, datada do período do Bronze Médio. E por fim, temos a 7 - a leste -

onde se e encontra o portão de adobe datado do Bronze Médio, também demonstrado

acima.

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Vale ressaltar que a área 5, devida a sua importância foi dividida em outras

quatro subáreas: 1) Norte, que se localiza a bamah; 2) Central, local do altar que fica

num piso abaixo da bamah; 3) Oeste, onde se encontram as salas, formando uma longa

estrutura retangular paralela ao complexo e 4) Sul, da qual se tinha uma prensa de azeite

de oliva.

No local onde se escavou o grande altar, foi encavado outro altar menor - mas

também de quatro chifres - de formato inteiriço. É o maior encontrado nesse formato.

Atrás do grande altar - ao sul - havia uma escadaria que conduzia até o alto, e outra que

levava a bamah.

Altar Menor de Tell Dã. Imagem obtida em: https://teldan.wordpress.com/israelite-temple/ (Acesso em

27/12/2015)

No complexo da área oeste - destinada aos sacerdotes e a preparação do culto -

foram encontrados vários objetos usados nos cultos; dentre eles - uma grande bacia de

cerâmica utilizada para os sacrifícios em cuja base há o desenho de um tridente.

Na área da bamah - foi encontrado um altar para a queima de incenso - de

tamanho menor em relação aos demais, juntamente com três pás de ferro usadas para

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esse fim. Debaixo do altar foi achada a cabeça de um cetro de bronze e prata, de

formato similar ao altar de quatro chifres.

2.5 A Estela de Dã

As escavações em Tell Dã foram iniciadas oficialmente como um projeto de

emergência pelo Departamento de Antiguidades de Israel e logo evoluíram para uma

expedição arqueológica de pleno direito.

Em 1974 elas se tornaram o maior projeto arqueológico da Glueck (Escola de

Arqueologia Bíblica) pertencente ao Hebrew Union College e ao Nelson (Instituição de

Religião Judaica) em Jerusalém (BIRAN; NAVEH, 1993, p.81). Nesse histórico de

escavações, chama a atenção à descoberta de uma peça de basalto com inscrições

aramaicas, e em bom estado de conservação.

A maior parte do fragmento, denominada parte A, foi encontrada no sítio

arqueológico de Tell Dã - no Israel norte - em Julho de 1993. A expedição foi liderada

pelo arqueólogo Avraham Biran, e o extrato fora localizado em uso secundário nos

restos de uma parede que fazem fronteira com a parte leste de um grande pavimento, na

entrada do portão exterior da cidade de Dã.

No ano seguinte, em escavações concentradas a leste da área onde fora

encontrado o fragmento A, foi achado outro fragmento, denominado B1. Ele continha

uma inscrição aramaica de seis linhas - e foram unidos ambos - como parte de um

mesmo extrato arqueológico.

No dia 30 de Junho de 1994, um terceiro fragmento - denominado B2 - fora

achado a exatos 8 metros de onde B1 tinha sido encontrado. Além do mesmo ser o

menor dos três, ele havia sido utilizado como parte componente para a construção do

pavimento que estava unido à muralha.

Em um esforço de se precisar a questão do período no qual a peça teria sido ali

colocada, a partir de análises na laje superior da área - a data que mais se aproxima no

tocante as constatações seria em meados do século IX - antes do início do século VIII.

No entanto, tais apontamentos são passíveis de dúvidas quanto à exatidão.

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Nessa época, para os construtores do pavimento, o fragmento não tinha

qualquer importância. Até mesmo

havia sido erigida por um rei sírio.

As escavações não puderam apontar os responsáveis

Há uma possibilidade de que

que juntos governaram entre

III , derrotou a Damasco (BIRAN; NAVEH, 1995, p.9)

feitos, pelo fato de Joás ter recuperado as cidades que haviam sido dominadas pelos

Sírios (2 Reis 13;25) - e a Jeroboão

e leste (2 Reis 14;25 e 28). No entanto, o p

contra os sírios três vezes -

1995, p.9-10).

Estela de Dã: Imagem Obtida em:

(Acesso em 09/09/2015)

a época, para os construtores do pavimento, o fragmento não tinha

qualquer importância. Até mesmo por se tratar de parte de uma Estela quebrada, que

havia sido erigida por um rei sírio.

não puderam apontar os responsáveis pela destruição da Estela

Há uma possibilidade de que tenha sido - Joás - neto de Jeú ou Jeroboão II

entre os anos de 800 a 745 a.C., época em que Tiglate

, derrotou a Damasco (BIRAN; NAVEH, 1995, p.9). A estes reis são atribuídos tais

feitos, pelo fato de Joás ter recuperado as cidades que haviam sido dominadas pelos

Jeroboão II por ter expandido os limites do reino para o norte

. No entanto, o pêndulo favorece mais a Joás, por

- derrotando Ben-Hadad - filho de Hazael (BIRAN; NAVEH,

Estela de Dã: Imagem Obtida em: http://iadrn.blogspot.com.br/2011/11/arqueologia

55

a época, para os construtores do pavimento, o fragmento não tinha

stela quebrada, que

pela destruição da Estela.

neto de Jeú ou Jeroboão II - seu filho -

, época em que Tiglate-Pileser

estes reis são atribuídos tais

feitos, pelo fato de Joás ter recuperado as cidades que haviam sido dominadas pelos

expandido os limites do reino para o norte

favorece mais a Joás, por haver lutado

filho de Hazael (BIRAN; NAVEH,

http://iadrn.blogspot.com.br/2011/11/arqueologia-de-tel-dan.html

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O monumento ficou na porta de Dã por mais de quatro décadas, como um

lembrete aos israelitas de que os mesmos estavam sobre o domínio dos sírios.416

Vejamos abaixo, a proposta de tradução do conteúdo da Estela42:7

1. [.....................].......[...................................] e cortou [.........................]

2. [.........] meu pai foi [contra ele quando] ele lutou em [....]

3. E meu pai deitou-se (morreu), e foi para seus [pais]. E O rei de I[s-]

4. rael entrou previamente na terra de meu pai. [E] Hadad me constituiu rei

5. E Hadad foi à minha frente [e] eu parti de [os] sete[.....]

6. do meu reino, e eu matei [sete]nta rei[s], que usavam milha[res de caros]

7. ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos). [Eu matei Jeo]rão filho de [Acabe]

8. Rei de Israel, e eu matei [Acaz]ías, filhos de [Jeorão re]i

9. Da Casa de Davi. E eu tornei [suas vilas em ruínas e tornei]

10. sua terra em [desolação........................]

11. outro ...[.........................................................................e Jeú gover]

12. nou sobre Is[rael......................................................................e eu pus cerco]

13. sobre[............................................................]

A união dos fragmentos A, B1 e B2, mesmo que limitadamente, demonstram a

temática do conteúdo da Estela, de maneira que - à luz desta tradução - alguns pontos da

história de Israel são rememorados, como também esclarecidos.

Umas das descobertas que mais chamou à atenção na Estela de Dã, foi a

expressão localizada na linha 9 do extrato, “byt dwd”, que foi traduzida como “Casa de

Davi”. Essa menção seria um importante indício que atestaria a existência de Davi, fato

este muito questionado pelos historiadores pela ausência de registros comprobatórios de

fontes extra bíblicas.

No entanto, Kaefer (2015, p.79) diz que há uma pequena quantidade de

historiadores que sugerem como tradução para “dwd”, a palavra “amado”, pois as letras

41http://www.biblearchaeology.org/post/2011/05/04/The-Tel-Dan-Stela-and-the-Kings-of-Aram-and-Israel.aspx. Acesso em 09/09/2015; 42 Tradução realizada a partir do texto em inglês: “The Tel Dan Inscription: A New Fragment”. Israel Exploration Journal. 1995, vol. 45, N°1. p.1-18

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que compõem o nome de Davi na inscrição - em hebraico - teriam este significado,

porém sendo pronunciada como dôd, usada comumente em livros como Cântico dos

Cânticos.

A Estela de Messa trás um caso parecido. Ela tem uma referência à palavra

“dwd”, caso este onde é bem mais provável que a expressão signifique “amado”, por

fazer referência direta à Javé, como divindade de Israel, que teve seu altar arrastado

perante a divindade Quemosh. Já na Estela de Dã, provavelmente a menção se refira de

fato a Casa de Davi, como sendo uma dinastia conhecida no reino da Síria e, por

conseguinte, detentora de certa importância a ponto de ser mencionada.

2.5.1 A Estela de Dã e A Revolta de Jeú

A partir da agora, se está adentrando ao universo da Estela de Dã. No entanto,

será examinado mais profundamente esse conteúdo, principalmente enfatizando o reino

de Damasco sob o domínio de Hazael - a quem ela se refere ao narrar os eventos em

Ramote de Gileade.

Esse capítulo é direcionado a Jeú - o genocídio empreendido por ele e - como a

Estela de Dã contribui a este contexto histórico no Israel Norte. Esse fato remete

automaticamente ao início da Dinastia Omrida, que foi aquela exterminada por

completo pelo general Jeú.

Antes de Omri ascender ao poder, Israel experimentara um período de grande

instabilidade, fato este que a deixou incapaz de defender-se de seus vizinhos hostis. Em

síntese, Israel era um estado reduzido em extensão territorial e grandemente

enfraquecido do ponto de vista econômico, ocasionado pelos muitos anos de lutas

internas (FERNANDES, 1998, p.32).

Entre os principais vizinhos hostis que possuía, era o reino de Damasco

ocupante de uma dessas posições, pois havia usurpado o posto de potência dominante

em toda a região da Palestina, Síria e Israel. Essa projeção aconteceu sobre a liderança

do rei Ben-Hadad I (aproximadamente 885-870 a.C.), que havia atacado Baasa,

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devastando assim o norte da Galiléia, e possivelmente se apoderando da Transjordânia

ao norte do Yamurk (BRIGHT, 2003, p.247).

Um monolito de Ben-Haddad II (870-842 a.C.) encontrado próximo de Alepo

mostra que em aproximadamente 850 a.C. sua influência dominante - embora

provavelmente não seu território real - alcançava a parte externa do norte da Síria

(BRIGTH, 2003, p.249).

Omri ascende ao poder através de um golpe militar. Ao que tudo indica, de

acordo com a narrativa deuteronomista, ele era o chefe do exército durante o reinado de

Elá (886-885 a.C.) - o qual foi assassinado por Zambri - que se proclamou rei - relato de

1 Reis 16,9-16. Porém para se afirmar no trono, Omri precisou vencer uma guerra civil,

que durou aproximadamente quatro anos contra “metade do povo” (1 Reis 16,15-22).

Não se tem muita certeza da origem tribal de Omri. Tendo em conta que seu

nome soa estrangeiro (BORN, 1987, p.85), alguns autores se perguntam se não se

tratava de um mercenário ou um soldado profissional que se tornou chefe do exército

(GOTTWALD, 1988, p.241).

A dinastia Omrida exerceu um reinado profundamente relevante em Israel. No

reinado do próprio rei Omri (876-869 a.C.) - Israel pôde experimentar novamente

estabilidade - podendo vir a gozar de grande força, prestígio e prosperidade, embora tais

atributos não tenham feito parte de toda a história que permeia os anais dessa dinastia -

que chegaria até os reis Jorão de Israel e Ocozias de Judá.

A Estela de Dã, dentre outros fatos, remonta o histórico dos conflitos entre

Israel e Damasco no período do reinado de Hazael. O rei arameu viria a dominar Israel

na segunda metade do século IX, e a Estela de Dã nos leva de volta àqueles dias.

Nas linhas 7 e 8, formadas pelos fragmentos menores da Estela, é possível

identificarmos - a partir da proposta de tradução descrita no item anterior - o nome de

dois reis: [Jeo]rão, rei de Israel (852-841 a.C.) e [Acaz]ias Ocozias (Casa de Davi), rei

de Judá (841 a.C.).

Partindo destes indícios, podemos apontar que aquele que encomendou a

estela, provavelmente tenha sido o rei Hazael de Damasco, que possivelmente a

configurou em Dã. O objetivo para tal, seria o de comemorar sua vitória sobre Jorão e

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Ocozias em Ramot de Galaad, no evento conhecido como a “Revolta de Jeú”, por volta

do ano 841 a.C. (2 Reis 8,28-29).

Outro fato que fortalece este argumento, se dá na linha 3, onde a expressão “E

meu pai deitou-se, ele foi para seus [ancestrais]” - parece se referir à doença de Ben-

Hadad - que o deixou de cama, antes de ser morto por Hazael, (2 Reis 8,7-15) deixa isso

evidente (KAEFER, 2013 p.39).

Por conta dos espaços presentes entre as linhas da Estela, pode-se atribuir uma

série de interpretações, e nesta oportunidade considerar-se-á o histórico de cinco dos

seis reis, que segundo entende-se - se encontram associados à Estela - e seu conteúdo:

Acabe; Ocozias: Jorão; Ben-Haddad II; Jorão e Jeú.

Hazael é o personagem central na descrição dos eventos narrados na Estela. No

entanto, será trabalhado mais incisivamente sobre ele ao se discutir o reino de Damasco

no capitulo III.

2.5.2 Jorão, Rei de Israel (852-841 a.C.)

A menção a Jorão de Israel - filho de Acabe - na Estela de Dã, é a primeira

referência deste rei fora dos limites da escritura. Conforme o redator deuteronomista, ele

reinou seguindo os mesmos preceitos de seus pais, porém não fora tão ruim quanto eles.

O caso é que o maior evento ocorrido em seu reino parece ser a remoção da pedra

sagrada de Baal, que Acabe tinha erigido (2 Reis 3,2).

Jorão reinou durante doze anos em Israel (2 Reis 31), sendo o quarto monarca

da Casa de Omri. A dinastia Omrida governou durante quase meio século, durante os

quais defenderam Israel contra vizinhos agressivos - expandindo as relações

diplomáticas e comerciais - construindo novas cidades - e desenvolvendo a economia -

através de uma aliança com os Fenícios (BERLYN, 2007.p.211).

A aliança selada através do casamento de Acabe com Jezabel trouxe um forte

cenário de opressão em Israel. Além desse fato, somado aos efeitos colaterais dessa

aliança, uma série de questões de viés religioso por ocasião do culto às divindades

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estrangeiras passou a ser um grande problema aos interesses do governo, perturbando o

equilíbrio da sociedade naqueles dias.

O poder pessoal de Jezabel foi diminuído durante o reinado de Jorão (2 Reis

3,1). Como rei, diferente de seus antecessores, não se submeteu aos mandos da rainha-

mãe.

Jorão chegou a empreender uma dura campanha contra Moabe e, acabou

falhando em subjugar o vassalo de outrora. De semelhante forma, travou uma batalha

contra Hazael de Damasco - em Ramot de Galaad - na qual também não foi bem

sucedido, mesmo antes de Jeú se rebelar (BERLYN, 2007, p.213). A disputa entre Israel

e Síria objetivava a conquista de pequenos estados a oeste do rio Eufrates.

Ao ser morto por Jeú, o corpo de Jorão foi jogado no campo de Nabot. Aos

olhos do redator deuteronomista, este episódio serviu para que se cumprisse a profecia

anunciada após o assassinado de Nabot por Jezabel (2 Reis 8,20-22).

2.5.3 Ocozias, Rei De Judá (841 a.C.)

Ocozias era o filho mais novo de Jorão, rei de Judá, - e neto de Josafá (2 Reis

8,16-29). Exerceu um período de reinado muito breve, durando cerca de um ano

aproximadamente (843-842 a.C.). Pouco depois de sua ascensão, tomou parte na batalha

de Ramot de Galaad - contra Hazael de Damasco - auxiliando Jorão, de quem era fiel

vassalo.

Sua ligação com a corte em Israel se dava também através de sua mãe Atalia,

que era filha de Jezabel e Acabe (2 Reis 8,26-27).

Jorão, tendo sido ferido em batalha, voltou a Jezreel para se recuperar. Ocozias

também deixou o campo de batalha, em Gileade, e depois de uma visita a Jerusalém,

veio a Jezreel para uma conferência com Jorão.

Enquanto isso, o golpe militar sob o comando de Jeú tinha começado. Jorão foi

surpreendido por ele e morto. Ocozias fugiu pelo caminho da "casa do jardim." Ele foi

ultrapassado por soldados de Jeú - e ferido dentro de seu carro, mas ainda assim,

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conseguiu escapar para o sul, e morreu ao chegar a Megido. Seu corpo foi levado para

Jerusalém e sepultado junto de seus pais (2 Reis 9,28).

A presença da figura de Ocozias na Estela de Dã, é muito importante. Para se

referir a ele, Hazael faz referência a Casa de Davi, fato esse que torna a Estela de Dã

como o primeiro relato extra bíblico a apresentar uma referência à existência desse

reinado.

Este fato também nos mostra que no século IX, a dinastia Davídica era

conhecida entre os grandes impérios da época. No entanto - na Estela de Dã - ela é

citada em segundo plano, após a menção a Casa de Omri, fato este que mostra que a

Dinastia Omrida era mais importante e respeitada do que a de Davi, em Judá.

2.5.4 Jeú, Rei De Israel (841-814 a.C.)

Jeú - o general dos exércitos de Israel - foi o responsável direto pelo

derramamento de sangue dos reis Jorão de Israel e Ocozias de Judá (2 Reis 9 e 10) no

evento que ficou conhecido como a “Revolta de Jeú”.

2 Reis 9, 1-10 diz que Eliseu envia um dos “Filhos dos Profetas”, para os

quartéis generais do exército israelita em Ramote de Gileade, com a estrita finalidade de

ungir Jeú como rei. Ele se aproveita do fato de que Jorão estava ausente, pois havia

voltado para Jezrael para tratar de seus ferimentos.

Ao perceberem a movimentação que estava acontecendo, e tomarem

conhecimento dos fatos que ali foram sucedendo, os oficiais comandados pelo general

Jeú aclamaram-no calorosamente como novo rei de Israel (2 Reis 9,13).

Após o episódio de sua unção como rei, Jeú de imediato sobe em seu carro

juntamente com os seus comandados - que conscientes do que ele estava por fazer - lhe

demonstraram fidelidade, e a toda velocidade parte em direção a Jezrael ao encontro do

rei Jorão e de seu parente Ocozias. Ao chegarem lá, Jorão é notificado da presença de

uma tropa, por sua sentinela.

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Jorão envia ao encontro da comitiva de Jeú - sem saber que se tratava da

comissão de seu general - dois cavaleiros, que vão saber se a situação estava em paz,

mas não obteve resposta. Ao descobrir que se tratava do general Jeú - e que o mesmo

estava por vir guiando como um doido - (2 Reis 9,20) - o rei Jorão pede que seu carro

seja preparado para que ele mesmo possa ir ao encontro do general para assim receber

as informações que ele daria.

Quando chegou ao local, Jorão percebeu que se tratava de um legítimo ato de

revolta, então vira o seu carro em retorno, e alerta a Ocozias - que tinha naquele ano

subido ao trono de Judá - participando da ação em Ramote de Gileade (2 Reis 8,28). Os

dois fogem em disparada, porém a fuga empreendida se torna inútil, uma vez que são

mortos por Jeú.

Jeú entra em seguida em Jezrael e, mandando lançar Jezabel de uma janela,

começou a exterminar não só toda a família de Acabe - mas tudo o que se relacionava

de alguma forma com a sua corte - acabou por se tornar um completo banho de sangue.

Dirigindo-se para Samaria, encontrou uma delegação da corte de Jerusalém e, com uma

brutalidade anormal e sem razão aparente alguma, eliminou a todos.

Conforme o redator deuteronomista (2 Reis 10,19-25), o genocídio realizado

por Jeú alcançou também aos profetas de Baal, que atraídos ao templo, em Samaria,

foram executados - eliminando assim o culto oficializado a Baal em Israel438. Como se

não bastasse, incluiria em sua lista de atrocidades a decapitação de 70 crianças/príncipes

(2 Reis 10,7).

A Estela de Dã surgiu como um elemento a inserir uma nova perspectiva ao

levante de Jeú, descrito no segundo livro dos Reis, e abordado sucintamente nos

parágrafos acima.

Logo que Hazael assume o trono em Damasco, começa a ampliar seus

domínios. Ele mesmo declara ter vencido os reis de Israel e Judá em Ramote de

Gileade, a 50 km a sudeste do mar da Galiléia. A linha 09 da Estela de Dã traz o

seguinte texto: [“...Suas cidades em ruínas virou...”], provavelmente em uma menção

direta aos resultados desta batalha.

43

Porém, vale a pena ressaltar que este não foi o fim do culto a outras divindades, pois o culto ao bezerro de ouro teria continuado tanto em Betel, quanto em Samaria, conforme 2 Reis 10,29

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A Estela de Dã reforça o argumento de que Hazael é o grande mentor por

detrás da “Revolta de Jeú”, quando demonstra que os reis - Jorão de Israel e Ocozias de

Judá - que foram mortos nos desdobramentos da batalha de Ramote de Gileade, tiveram

os seus assassinatos reivindicados por Hazael na Estela de Dã, nas linhas 07 e 08:

7. ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos). [Eu matei Jeo]rão filho de [Acabe]

8. Rei de Israel, e eu matei [Acaz]ías, filhos de [Jeorão re]i

9. Da Casa de Davi. E eu tornei [suas vilas em ruínas e tornei]

10. sua terra em [desolação........................]

11. outro ...[.........................................................................e Jeú gover]

12. nou sobre Is[rael......................................................................e eu pus cerco]

13. sobre[............................................................]

O fato de Hazael ter relatado a autoria dos assassinatos dos reis de Israel e

Judá, torna a ascensão de Jeú ao poder muito mais uma obra de estratégia política, e que

tornou Israel seu vassalo, do que simplesmente uma revolta que tinha por

representatividade uma abordagem popular, mesmo que houvesse certa conveniência a

este pleito.

Em um momento posterior a 836 a.C. - já durante o reinado de Jeú - Hazael

continua a empreender batalha contra Israel e Judá. Ele capturou todo o território no

leste israelita, a leste do Jordão (2 Reis 10,32-33) e no ano XXIII do reinado de Joás,

filho de Ocozias (2 Reis 12,6) - 814-815 a.C. - ele captura Gate e ataca Jerusalém.

Joás - que pagou para recuperar a cidade real - tomou todos os objetos sagrados

dedicados por seus antecessores: Josafá; Jorão e Ocozias, além daqueles que ele mesmo

havia consagrado para saldar o débito com Hazael.

Além de Dã, onde o domínio arameu é comprovado pela Estela celebrativa,

existe a possibilidade deste domínio ter deixado vestígios vistosos em Megido, por volta

do século IV a.C. - Hazor, por volta do século VI a.C. e em Yizre’el e na reocupação

Deir’alla, por volta do século IX a.C. - depois de um século de abandono (LIVERANI,

2008, p.154).

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Em uma estela que homenageia o deus Tiro Melqart, encontra-se uma

referência a Hazael, onde a ele são dedicados os marfins encontrados em Arslan Tash449.

Esses, provavelmente tomados como espólio pelos assírios, têm inscritos na parte

traseira como uma dedicação, a qual diz “ao nosso senhor Hazael” (PITTARD, 1994

p.104; EPHAL e NAVEH 1989, p.197).

Nas inscrições de Salmanassar III, a partir do 18° ano, Hazael já figura como

principal adversário dos assírios - herdando o papel já exercido por seu pai Haddad do

ano 6° ao ano 11° - sendo até mesmo capazes de resistir a repetidas campanhas. Ainda

seu filho Ben-Haddad III comandará a coalizão que assediou Hadrak na Síria

setentrional.

Sem dúvida, Damasco foi uma potência hegemônica de grande parte da Síria-

Palestina e que Israel, bem como Judá, teve de se restringir a uma posição de vassalo

que o texto bíblico minimiza e atribui, aliás, a punição divina.

A “Revolta da Jeú” acontece em um momento insatisfatório para Israel em

termos políticos (2 Reis 8,12) e por esse motivo, o povo vem a sofrer grandes

tormentos. O golpe não foi suficiente para resolver os problemas de Israel, e as

tentativas posteriores de matar Hazael, de quem Israel era vassalo, foram

completamente inúteis, o que fez com que o reino de Israel, durante a passagem de Jeú,

perdesse força, com as muitas guerras civis que ali se estabeleceram (MENDONÇA,

2013, p.8).

O reinado de Jeú pode ser caracterizado em três pontos distintos e

significativos:

Em primeiro lugar, destaca-se que apesar de tudo o que ele fez - o perfil das

coisas não sofreu muita ou quase nenhuma mudança (2 Reis 10,28-29).

Em segundo, aqueles que aparentemente demonstraram apoio para com a causa

empreendida pelo general, não receberam da parte dele qualquer tipo de satisfação em

relação as suas expectativas (2 Reis 10,30-31).

Por fim, a redação deuteronomista aponta um terceiro ponto, expresso com

material de arquivo “– Em os dias, os estes, iniciou Javé para cortar (os limites) em

Israel. E golpeou a eles Hazael em todo território de Israel” (2 Reis 10,32).

44Sitio Arqueológico no norte da Síria em Aleppo, cerca de 30 quilômetros a leste do Rio Eufrates.

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Um ponto importante da história merece ser destacado. Crocetti (1994, p.151)

aponta que Hazael conseguira dominar a Israel porque Jeú quebrara a aliança com os

fenícios ao exterminar a casa de Acabe, acabando assim com a sua garantia de proteção.

Somado a isto ele destruiu as boas relações com Judá e fez uma estrondosa revolução,

tal como a história nos apresenta. Jeú governou por 28 anos, e foi sepultado com seus

pais, em Samaria (2 Reis 10,35).

E de fato, os arameus não conseguiram impedir que o poderoso império

Assírio, invadisse e saqueasse suas terras, em 841 a.C., e paralelamente a tudo isso, a

ocasião haveria de juntar o opressor e oprimido na mesma situação - pois tanto Jeú -

quanto Hazael viriam a pagar tributos a Salmanassar III, por conta de sua quarta

expedição contra Damasco.

O obelisco de Salmanassar4510, que foi descoberto por Henry Layard em Calash,

Iraque, em 1846, nos conta um pouco dessa história. Neste é retratada a figura de Jeú

prostrado diante do rei Assírio, com emissários israelitas com tributos atrás dele, a

inscrição apresenta-se da seguinte forma: “O tributo de Jeú, filho de Omri; recebi dele

prata, ouro, uma tigela sapo dourado, um vaso de ouro com fundo de pontas, copos de

ouro, baldes de ouro, uma equipe para um rei...” dentre outras coisas que o obelisco

apresenta (OPPNHEIM, 1969, p.281).

O fato é que a descoberta da Estela de Dã faz olhar para o texto bíblico com

lentes que outrora pareciam distantes. A vitória do rei Hazael, sobre os reinos de Israel

e Judá, não fora um fato isolado apenas de consequências locais.

Essas novas diretrizes são sobremodo importantes para que se possam traçar os

rumos que a história tomou em um período pouco conhecido do relato bíblico - os

séculos IX e X - o esforço da arqueologia nessa tarefa, tem tornado cada vez mais

precisas estas informações, e de fato tem descoberto que o reino de Damasco possuía

grande força durante o reinado de Hazael (845-800 a.C.), e que em muito pode justificar

sua intervenção sobre os reinos de Judá e Israel, o que acabou por torná-los seus

vassalos (KAEFER, 2013, p.44).

Muito se tem para caminhar dentro deste prospecto, principalmente com a

ajuda da arqueologia, que se torna uma ferramenta cada vez mais reveladora e eficaz. O

que se tem diante dos olhos é nada mais nada menos do que uma importante página da 45 Monumento datado no ano de 827 a.C. construído durante o período Assírio.

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história, que vem à tona com a finalidade de complementar o sentido que o texto

sagrado tem.

Não se trata de suplementação do texto, mas muito mais uma perspectiva onde

tudo parece convergir para o propósito primeiro de Javé, mesmo que para isso sejam

adotados caminhos e posturas que parecem não ser lógicos, a não ser pela investigação

minuciosa e pelo debruçar nos caminhos da compreensão.

2.6 Considerações Intermediárias

Nesse capítulo, objetivou-se apresentar uma nova perspectiva ao evento da

“Revolta” de Jeú, a partir da Estela de Dã. Para tal, o tema proposto, obedeceu a

estrutura discriminada abaixo:

Em um primeiro momento, por ser a Estela de Dã um extrato arqueológico, foi

tecido um comentário sobre a relevância da arqueologia para a pesquisa bíblica.

Seguido da apresentação de um breve relato sobre o Tell Dã, o sítio arqueológico onde

ela foi encontrada - bem como - um histórico das escavações e demais achados

arqueológicos.

A partir de então, seguiu-se trabalhando especificamente com a Estela de Dã,

detalhando o conteúdo da inscrição, os personagens que nela se encontram, bem como o

contexto histórico do qual se refere.

A tradição de Jeú disposta em 2 Reis, nos capítulos 9 e 10, é um tanto quanto

complexa. Se é levado ao entendimento, a partir da perspectiva deuteronomista - de que

Jeú foi um rei que deteve como único compromisso - estabelecer o domínio de Javé

sobre Baal. Desse ponto de vista, ele é apenas uma ferramenta de purgação nas mãos de

Javé.

No entanto, dadas às circunstâncias apresentadas, chega-se a uma conclusão

contrária a esta perspectiva. Mais do que uma revolução, que tinha por objetivo

solidificar o culto a Javé em Israel e Judá - conforme nos apresenta a redação

deuteronomista - o genocídio empreendido por Jeú, a luz do que traz a Estela de Dã -

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parece ter se tratado de um golpe militar - que tinha como força maior, o rei Hazael de

Damasco. Hazael parece ser também o autor do conteúdo da Estela de Dã.

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CAPÍTULO III

O IMPÉRIO DA SÍRIA

No capítulo II observou-se - à luz da Estela de Dã - outra face acerca da “Revolta de

Jeú”, contada através de prospectos advindos do exame desse importante extrato

arqueológico. A análise do conteúdo da Estela somado à exegese da perícope de 2 Reis 10,28-

36 - capítulo I desse trabalho - serviram para proporcionar uma ampliação de tudo o que se

tem visto sobre esse acontecimento na história de Israel, inclusive norteando novas

conclusões.

Foram vistos relevantes desdobramentos envolvendo a figura de Jeú em Israel, além

do fato de perceber quão significativo era o reino de Damasco, sob a batuta de Hazael. O rei

arameu, galgou caminhos altaneiros na busca pela solidificação do seu domínio - durante os

séculos IX e VIII - fato esse inclusive constatado pela arqueologia, no qual demonstra que a

Síria - em seu reinado - alcançou significativas conquistas.

Visto ampliar a visão sobre esse importante reino na história bíblica, e deveras

crucial no evento o qual essa dissertação se propõe a analisar, nesse capítulo se atentará sobre

o reino da Síria - com ênfase especial aos reinados de Hazael e Ben-Haddad - em uma análise

conjunta com a Estela de Dã, que trata sobre o assunto.

De maneira a alcançar os objetivos projetados, serão trabalhados os seguintes

tópicos: A Origem dos Arameus; Damasco; A Influência de Aram-Damasco em Israel; A

Estela de Dã e o Reino da Síria; A Estela de Dã e o Reinado de Hazael e as Considerações

Intermediárias. A partir dessa proposta, segue uma análise sobre o tema preterido.

3.1 A Origem dos Arameus

É durante o reinado de Adadezer46, rei da cidade de Soba, que era uma das pequenas

cidades estado de Aram no século XI a.C. (THOMPSON, 2007, p.110), que os arameus

aparecem pela primeira vez na história bíblica como um reino consolidado.

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Somado a Soba, compunham o território arameu naquele tempo: as cidades de Betá,

Berotai471e, não menos importante - Damasco - que veio a ser nos tempos de Hazael, uma das

principais cidades do reino da Síria, sendo inclusive sua capital.

Antes do rei Adadezer, os arameus apresentavam registros biográficos paralelos com

os da história de Israel, em sua formação. No terceiro milênio a.C., encontravam-se divididos

entre Sírios482e Caldeus49, habitando respectivamente na Alta e Baixa Mesopotâmia

(HARRISON, 2010 p.32-50).

Dentre os arameus orientais, tem-se como um dos mais notáveis - Abraão - que surge

da cidade de Ur dos Caldeus50, que mesmo sendo uma cidade de origem suméria, tinha as

portas abertas para os caldeus/arameus (MERRIL, 2007, p.12).

A linhagem de Abraão51 mostra que os caldeus eram semitas, assim como todos os

arameus523. Sua migração juntamente com a família para Padã-Aram, terra dos arameus

ocidentais, coincide com o a invasão e domínio gutiano (2180-2070 a.C.) na Baixa

Mesopotâmia (HARRISON, 2010, p.52).

Os relatos sobre a origem dos patriarcas, em sua maioria, conduzem o leitor para

uma concepção de que os mesmos sempre são classificados - em sua ascendência - como

arameus. Mesmo que tenham habitado por longos períodos em cidades que permitiriam a eles

serem identificados a partir das mesmas, tais como Canaã, Padã-Aram e até mesmo Ur

(ALBRIGHT, 1941, p.181).

Na bíblia temos alguns exemplos: Jacó - neto de Abraão - foi reconhecido como

sendo um arameu, que desceu ao Egito, vindo a ser uma grande nação53.4Mesmo tendo

passado boa parte de sua vida em Canaã, além do fato de ter ido para Padã-Aram ao fugir de

Esaú e ter se hospedando na casa de Labão - seu tio - vindo a se casar posteriormente com Lia

46 Cf. 1 Crônicas 18,3-8 47 Cf. 1 Samuel 8,1-18 48 Arameus Ocidentais 49 Arameus Orientais 50 Cf. Gênesis 11,27-31 51 Cf. Gênesis 11,10-24 52 Cf. Gênesis 10,21-22 53 Cf. Deuteronômio 26,5

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e Raquel54; também temos o exemplo de Isaque que se casou com Rebeca - filha do arameu

Betuel55 - que era filho de Naor56, irmão de Abraão.

Desse modo, se pode concluir que Aram se relaciona intrinsecamente com Israel na

construção de sua história e na formação de seu povo, ou seja, segundo esses textos bíblicos,

as origens de Israel, seus patriarcas e suas matriarcas, estão em Aram, sendo por sua vez

arameia.

O contexto religioso dos arameus é indicado em diferentes trechos do antigo

testamento. O livro de Josué 24,2 - diz que o pai de Abraão e Naor - Terá, servia a outros

deuses, prática essa que não lhe era exclusiva, uma vez que Labão também tinha seus deuses

domésticos (terāpîm), conforme Gênesis 31,19 nos traz.

Hadade-Rimom era o principal deus do panteão arameu. Era o deus do trovão, vento

e chuva - sempre acompanhando por sua consorte Astarte. Seus adoradores acreditavam que

quando ele morria, as plantas secavam e por isso deveriam chorar a sua morte (KASCHEL,

ZIMMER, 2005, p.57), segundo Zacarias 12,11.

Ele também aparece no panteão semita oriental no período babilônico antigo, estando

entre os deuses acadianos sob o nome Adad (GREENFIELD, 2001, p.284).

Durante o século X enquanto Sheshonq I estava subjugando Judá, a dinastia aramaica

de Damasco crescia exponencialmente, tornando-se um poder dominante na região da Síria

(HARRISON, 2010, p.216).

A estela de Zakkir575, descoberta em 1940 ao norte da Síria, fez uma confirmação

geral à lista dos primeiros governantes sírios (1 Reis 15,18), embora a posição de Rezim,

fundador do estado damasceno, ainda seja incerta.

O crescimento do poder sírio foi estimulado pelas hostilidades que havia entre Judá e

Israel e pela perturbação que caracterizava a própria dinastia israelita. Quando Jeroboão I

morreu por volta de 910/909 a.C., seu filho Nadabe o sucedeu por dois anos, mas foi

assassinado por Baasa de Issacar na cidade filistéia de Gibetom.

54 Cf. Gênesis 28,5 e 31,20-24 55 Cf. Gênesis 25,20 56 Cf. Gênesis 22,20-23 57 Estela erigida por Zakkir, rei de Hamat, em gratidão ao deus Baal Shamin por livrá-lo da coalizão possivelmente liderada por Ben-Hadad III, filho de Hazael.

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Isso ocorreu por volta do terceiro ano do reinado de Asa - rei de Judá - que se tornou

monarca após a morte de Abias, o sucessor de Roboão.

Baasa fortificou a cidade de Ramá, há oito quilômetros de Jerusalém, transformando-

a em um posto militar avançado, ameaçando a fronteira de Judá58,6e em desespero Asa apelou

pelo auxílio de Ben-Haddad da Síria, enviando como suborno parte dos tesouros que restaram

do templo.

Ben-Haddad respondeu a este pedido enviando Baasa de volta à sua capital, Tirza -

enquanto Asa marchou para Ramá e a demoliu. Ele resgatou o material das ruínas de Ramá e

com ele construiu duas outras fortalezas em Judá, ato este que rendeu a Ben-Haddad

benefícios políticos.

Sua intervenção fez com que ele ganhasse o controle das prósperas rotas de

caravanas para os portos fenícios, permitindo com que viesse a aumentar a sua riqueza e

fizesse próspera a sua principal cidade – Damasco - assim como fez Salomão em Judá. Sobre

as rotas comerciais - os livros de Reis e Crônicas - trazem narrativas de guerras ocorridas nos

territórios de Ramote de Gileade e na região de Basã, entre os arameus e os israelitas - tanto

de Israel - quanto de Judá.

A região era cortada pelo chamado “Caminho do deserto de Edom”597, que ligava o

Egito à Mesopotâmia, passando por: Cades-Barnéia, ao sul de Canaã; continuava a leste por

Edom e subia a Transjordânia; atravessando os territórios de Amom; Moabe; Gileade;

Damasco e por fim à Mesopotâmia (ANDREW, WALTON, 2007, p.47).

O auge do poderio arameu se deu por volta dos anos 950 - 800 a.C. com a retomada

das regiões ao sul do Eufrates, o que coincidiu com o declínio da dominação israelita - da

dinastia Omrida - como relata (2 Reis 10,32-33) e as Estelas de Dã e Mesha. Damasco vem a

se tornar centro do estado arameu - já com Hazael - além de se tornar uma potência do oeste,

liderando os povos da região e coligações militares contra a Assíria - e também Israel - no

tempo dos Omridas (ANDREW, WALTON, 2007, p.172).

O fim da hegemonia dos sírios acontece por volta de 732 a.C., com a invasão dos

Assírios - promovida por Tiglate-Pileser III - quando este recebeu ouro e prata da parte de

58 Cf. 1 Reis 15,17 59 Cf. 2 Reis 3,8

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Acaz, rei de Judá - para que fosse liberto da ameaça de Resim de Damasco e Peca de Israel60.

Tiglate-Pileser matou Rezim, dez anos depois Salmaneser III, destruiu Samaria61.

3.1.1 Damasco

Damasco está situada sob a encosta leste da cordilheira Antilíbano62, nos confins da

estepe Síria. Ergue-se no canal principal do Rio Barada, na borda noroeste do oásis de Gutah,

sendo cercada por uma vasta área de pastagens (PITTARD, 1987, p.7-10). Também foi

chamada de “Sa-emari-su” pelos assírios, que significa "terra do burro" (HONIGMANN,

1983, p.104).

A imagem abaixo apresenta uma noção das condições geográficas, nas quais se

localiza a cidade de Damasco, bem como, uma ideia da extensão do território pertencente à

Síria:

Mapa da Síria. Imagem obtida em: http://resistir.info/chossudovsky/siria_09ago11.html. Acesso em 09/09/2015

___________________________ 60 Cf. 2 Reis 16,5-9 61 Cf. 2 Reis 18,9-10 62 Cordilheira a leste do Líbano, paralela ao monte Líbano, passando pela Síria e Israel.

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Ainda falando sobre a “terra do burro” destacamos o seguinte: o sufixo pronominal

“su” , da expressão “Sa-emari-su”, pode ser entendido como um dispositivo de determinação

de idade (LIPINSKI, 2001, p.33). Ele implica que seja uma raça particular de burros (LEWY,

1961, p.31-71) ou, o mais provável, simplesmente um elemento de identificação de espécies

(LIPINSKI, 2001, p.36).

Essa denominação pode facilmente ser explicada pelo fato de que o oásis de

Damasco foi ponto de convergência das caravanas de burros - advindas das várias rotas de

comércio - antes da domesticação do dromedário. Isso também pode ser atestado

anteriormente em textos neoassírios, que usam frases como "hurasu sa abni-su" "Recife de

Ouro" e "hurasu sa ma i-su" “Lugar de Ouro". Porém, nenhum texto neoassírio publicado

menciona Damasco ou o seu oásis (LIPINSKI, 2001,37).

O nome da cidade aparece assim, pela primeira vez como "t-m-q-s" na lista

geográfica do tempo de Tutmés III638(AHARONI, 1967, p.147). As fontes escritas a partir da

idade do bronze tardio e da idade do ferro I, não transmitiram nenhuma informação sobre

Damasco (WILL, 1944, p.1-44).

Assim, nada se sabe sobre as origens da presença arameia que possam retomar o

período anterior ao século XI a.C., já (I Reis 11,23-25) é uma das únicas informações

explícitas sobre os eventos que levaram à criação do estado de Aram-Damasco (LIPINSKI,

2000, p.348). Damasco foi um poderoso reino ao longo dos séculos IX e VIII a.C. durante os

reinados de Hezion, Tabremon - seu filho - e seguido por Rezim.

Os Registros dos anais assírios relatam que Adadezer (assírio "Adad-Idri") de

Damasco liderou uma coalizão de doze estados, que incluiu Acabe, de Israel, contra

Salmanassar III em Qarqar em 853 a.C. (LUND, 2005, p.44). Este Adadezer nunca fora

mencionado na Bíblia, embora Lipínski (2000, p.337-38, p. 374-75) pense diferente.

Salmanassar levou três campanhas subsequentes contra Adadezer em 849, 848 e 845 a.C..

A identidade do Ben-Haddad (1 Reis 20 e 22) continua a ser uma questão de debate.

Alguns acreditam que ele era o neto ou filho de Ben-Haddad I e assim o rotularam como

sendo Ben-Haddad II. Outros afirmam que "Ben-Haddad" serviu como um nome de trono

para o Adadezer relatado nos anais assírios (LUND, 2005, p.44).

63 Sexto Faraó da Dinastia Egípcia do Império Novo

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Com a morte de Ben-Haddad II - Hazael - que foi quem o matou (2 Reis 8,15),

assumiu o trono de Damasco em 843 a.C.. Jorão, o rei de Judá (841 a.C.) e Ocozias, seu filho

- neto de Acaz - rei de Israel (852-841 a.C.), travaram uma guerra contra Hazael em Ramote

de Gileade. Ele fora ferido (2 Reis 8,28-29) e juntamente com seu filho, retornam à Jezrael

para tratar dos ferimentos, onde ambos acabam sendo mortos por Jeú (2 Reis 9,14-29).

A Estela de Dã reconta esse episódio. Seu texto está creditando a Hazael essa vitória

sobre "o rei de Israel" e "o rei da casa de Davi" - isso é - Judá (LIPINSKI, 2000, p.378), no

evento conhecido como “A Revolta de Jeú”. Tempos mais tarde, Hazael empreenderia uma

batalha contra Salmanassar III, rei da Assíria, sendo forçado a retirar-se do norte de Israel

(YAMADA, 2000, p.192).

Ben-Haddad III governou Damasco após a morte de seu pai, Hazael. Ele cedeu

território para Jeoás (798-782 / 781 a.C.) de Israel, de acordo com 2 Reis 13,25. Além disso,

teve Zakkir de Hamat e Luash como inimigos, e fora atacado pelo rei assírio Adad-Nirari III

(810-783 a.C.), a quem prestou homenagem.

Nos dias do profeta Isaías, o rei Rezim da Síria em Damasco e o rei Peca, filho de

Remalias de Israel (740 - 731 a.C.) tentaram coagir o rei Acaz de Judá (732 - 715 a.C.) em

uma aliança antiassíria (2 Reis 16,5). Mesmo tentando substituí-lo com o seu fantoche Ben

Tabeal (Isaías 7,6) - Tiglate-Pileser III da Assíria (744-727 a.C.) termina por derrotar

Damasco em suas campanhas de 733 e 732 a.C., dividindo o reino em um número de

províncias assírias (LUND, 2005, p.45-46).

3.2. A Influência de Aram-Damasco em Israel

Do ponto de vista bíblico, se tem pelo menos três relatos de batalhas entre Israel e

Damasco. Nos dias de Acabe (1 Reis 20 e 22:1-38) em Samaria - Afeca, perto do Mar da

Galiléia e em Ramote de Gileade (2 Reis 9).

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Finkelstein (2007, p.272-273) e Amihai Mazar (2014, p.50) apontam também o fato

de que seja Hazael, quem provavelmente tenha destruído Tell Rehov649 durante a guerra contra

Israel, descrita na Estela de Dã.

A opressão dos arameus está diretamente descrita em diferentes textos que tratam

sobre reinados de Jeú e seu filho Jeoacaz (2 Reis 10,32-33 - 13:3-7 e 22), no entanto, a

importância desse período na história de Israel também é marcada pelo interesse profético,

tanto antes quanto depois do reinado de Jeú. Os acontecimentos que envolvem sua ascensão e,

a opressão de Hazael são postos em movimento no mesmo dia até o sul da terra de Israel

(BOLEN, 2013, p.13).

O profeta Elias havia superado os profetas de Baal em um encontro dramático no

Monte Carmelo, mas ele fugiu para salvar sua vida, por causa das ameaças da rainha Jezabel

(1 Reis 19,1-9). No Monte Sinai, defendeu duas vezes o seu zelo para com Javé: "Os israelitas

abandonaram a sua aliança, derrubaram os seus altares, e mataram os seus profetas à espada.

Eu sou o único que sobrou, e buscam a minha vida" (1 Reis 19,10-14).

Em resposta, Javé ordenou a Elias que voltasse e ungisse Hazael como rei da Síria -

Jeú como rei de Israel - e Eliseu como o seu sucessor, com a seguinte explicação: "Aquele que

escapar da espada de Hazael, Jeú matará. E aquele que escapar da espada de Jeú, Eliseu

matará. E eu vou preservar em Israel sete mil pessoas vivas, isto é, todos os joelhos que não se

dobraram a Baal e toda boca que não o beijou" (1 Reis 19,17-18).

Essa passagem tem sido criticada do ponto de vista de ser uma fonte historicamente

confiável, vindo até mesmo a ser considerada por alguns como sendo um “ex vaticinium

eventu” (lat. Profecia feita depois do fato ocorrido) com o objetivo de associar esses

indivíduos à autoridade profética de Elias (HASEGAWA, 2012, p.198). Além disso, é

evidente que o redator deuteronomista parece apoiar a ação de Jeú, apresentando-a como

sendo do próprio Javé.

Apesar das instruções, Elias não foi quem ungiu Hazael e Jeú - e também não há

registro de que Eliseu - que cumpriu a comissão dada a seu antecessor, tenha matado alguém.

Assim, a priori, a redação deuteronomista considera esse registro sendo autêntico da intenção

de Javé para punir Israel por sua contínua adoração a Baal.

64 Sítio arqueológico localizado a cerca de 6 km a oeste do rio Jordão, a 3 km a leste do monte Gilboa e a 5 km ao sul de Beth Shean. Foi encontrada neste local, em um dos extratos arqueológicos, uma menção a Nimshi, o avô de Jeú.

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Especificamente, Javé diz que Hazael vai matar a muitos - que Jeú vai matar aqueles

que escaparem à espada de Hazael - e que Eliseu matará os que escaparem à espada de Jeú.

Nos registros que se seguem desses reinados essa sequência de eventos não é relatada, no

entanto, os relatos sobre a “Revolta de Jeú” parecem ser uma indicação clara de que o seu

reinado, pelo menos em seu início, foi muito violento.

Talvez as palavras de Javé dirigidas a Elias, não representem uma sequência histórica

específica de relatos dos fatos - no entanto - a ordenação dos indivíduos implica que Hazael,

seria o maior precursor de uma sucessão de acontecimentos que evidenciariam um período de

opressão do reino da Síria sobre a nação de Israel (PROVAN, 1995, p.216).

O que não está claro a partir do texto bíblico, porém, é que se Jeú e Hazael foram

aliados neste esforço. A teoria de que Jeú era simplesmente um agente de Hazael, em seu

levante contra a casa de Acabe em Israel, tem sido defendida desde a descoberta da Estela de

Dã.

William Schniedewind (1996, p.76) foi um dos primeiros a sugerir que a diferença

entre o conteúdo da Estela de Dã e de 2 Reis 9 poderia ser resolvida se Jeú tivesse assassinado

os reis em nome dos arameus. Este fato seria o motivo pelo qual Hazael toma crédito pela

vitória em Ramote de Gileade, mas o redator deuteronomista atribui a mesma a Jeú.

Schniedewind (1996, p.84) para apoiar suas conclusões, diz que o texto de 1 Reis 19

desenvolve um importante papel na reconstrução das histórias em torno da Revolta de Jeú, por

se tratar de um texto fragmentado em sua construção, e não servir aos interesses do

deuteronomista em apontar os motivos do levante de Jeú como sendo unicamente de viés

religioso.

Esse argumento ganha força, pois, a arqueologia mostra que a época de maior

investida de Damasco, contra o reino do norte - foi levado a cabo por Hazael - sendo esse

período mencionado em vários textos bíblicos (1 Reis 19,17 - 2 Reis 8,12 - 10,32-33 - 13,3 e

22 - Amós 1,3), bem como na Estela de Dã (NA’AMAN, 1997, p.122-128; LIPINSKI, 2000,

p.377-383).

Hazael reinou durante aproximadamente 42 anos (842-800 a.C.), chegou ao poder

em 843 a.C. (LEMAIRE, 1991, p.91-108; LIPINSKI 2000, p.376) e os eventos descritos na

Estela de Dã - a matança dos reis de Israel e Judá e, consequentemente - a ascensão de Jeú ao

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trono em Israel - ocorreram imediatamente depois, em 842 a.C. (FINKELSTEIN, 2007,

p.270).

A partir destes apontamentos, é seguro para propor que as destruições de Hazor e

Hamah, também foram causadas no decurso da campanha de Hazael (FINKELSTEIN, 2007,

p.270). Além desses locais, entram na lista - Tell Rehov - como mencionado acima, e

provavelmente Jezrael.

As ambições de Hazael não se limitaram ao território do Reino do Norte. Em 2 Reis

12,18 - existem relatos de que ele conquistou a cidade de Gate (dos filisteus) na Sefelá6510

inferior.

Escavações no Tell-es-Safi6611, onde ficava localizada a cidade de Gate, revelou que ela

atingiu o seu apogeu no século IX a.C., quando foi provavelmente o maior e mais dominante

centro urbano no sul de Israel, sendo completamente destruída no final Ferro II A, para nunca

mais recuperar sua prosperidade passada (UZIEL, MAEIR, 2005, p.50-75).

Maeir (2004, p.319-334), a partir de amostras arqueológicas, atribui à destruição do

Tell-es-Safi, como parte da campanha de expansão de Hazael. Sharon (2007, p.1-46), propõe

uma data que se aproxima de 843-842 a.C. para o acontecimento dos fatos.

3.3 A Estela de Dã e o Reino da Síria

Até o presente momento, desde o início desse capítulo, a pretensão foi de apresentar

de maneira objetiva, um prospecto do que foi o reino da Síria e, como a força e a história dele

se entrelaçam com a da nação de Israel.

Passar-se-á a observar agora, de forma mais incisiva, os desdobramentos ocorridos em

Damasco - que corroboraram para ascensão de Hazael - o grande algoz de Israel por detrás da

Revolta de Jeú ao trono. A partir de alguns trechos importantes desse fato - descritos na Estela

de Dã - que provavelmente tem o rei arameu como seu autor.

65 Designação normalmente aplicada à região no centro-sul de Israel de 10-15 km de baixas colinas entre o Monte Hebrom central e as planícies litorâneas da Filístia dentro da área da Judéia, em uma altitude de 120-450 metros acima do nível do mar. A área é fértil e um clima Mediterrâneo temperado prevalece na região.

66 Aldeia palestina situada a 35 quilômetros, a noroeste de Hebrom.

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Para tal, se traz novamente para o texto, o conteúdo da Estela de Dã6712 que já foi

apresentada no capítulo anterior:

1. [.....................].......[...................................] e cortou [.........................]

2. [.........] meu pai foi [contra ele quando] ele lutou em [....]

3. E meu pai deitou-se (morreu), e foi para seus [pais]. E O rei de I[s-]

4. rael entrou previamente na terra de meu pai. [E] Hadad me constituiu rei

5. E Hadad foi à minha frente [e] eu parti de [os] sete[.....]

6. do meu reino, e eu matei [sete]nta rei[s], que usavam milha[res de caros]

7. ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos). [Eu matei Jeo]rão filho de [Acabe]

8. Rei de Israel, e eu matei [Acaz]ías, filhos de [Jeorão re]i

9. Da Casa de Davi. E eu tornei [suas vilas em ruínas e tornei]

10. sua terra em [desolação........................]

11. outro ...[.........................................................................e Jeú gover]

12. nou sobre Is[rael......................................................................e eu pus cerco]

13. sobre[............................................................]

Nos anos seguintes, desde a publicação completa dos fragmentos da Estela de Dã, os

estudos advindos têm aparentado lidar, na maioria dos casos, com o significado do ponto de

vista linguístico e histórico da inscrição (BIRAN, NAVEH, 1993, p.81-93).

As principais preocupações desses estudos tem sido o idioma da inscrição, o seu

roteiro em relação ao aramaico antigo (TROOPER, 1993, p.398-405), bem como a

importância da inscrição para o estudo histórico da Bíblia hebraica em geral, e os reinos

israelitas em particular (SCHNIEDEWIND, 1996, p.75-90).

Dois aspectos da Estela de Dã que não foram totalmente investigados, no entanto, são

a análise literária da inscrição e seu significado para o estudo histórico do Estado Sírio

durante a idade do Ferro II, reconstruindo parte da história política que influenciou a produção

da inscrição (DEMSKY, 1995, p.30-32).

67

Tradução realizada a partir do texto em inglês: “The Tell Dan Inscription: A New Fragment”. Israel Exploration Journal. 1995, vol. 45, N°1. p.1-18

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3.4 A Estela de Dã e o Reinado de Hazael

Hazael de Damasco, reinou durante aproximadamente 42 anos (842-800 a.C.) -sendo o

rei mais poderoso do império sírio - referido em vários trechos do Antigo Testamento, bem

como em várias inscrições assírias contemporâneas.

O fato de que a Estela de Dã é um produto da propaganda real de Hazael é evidente.

Seu texto é de natureza autobiográfica, em primeira pessoa - constando de uma tríplice

referência para a expressão "meu pai” nas linhas 2, 3 e 4 - que são de extrema importância

para a compreensão dos eventos que o levaram ao trono.

Os motivos apologéticos encontrados nela servem a um papel distinto na promoção

real, justificando o trabalho realizado pelo narrador da inscrição. Seguindo uma ordem - será

apresentada na sequência uma análise de algumas linhas da Estela, estes elementos descrevem

de maneira progressiva a legitimidade de Hazael em sua ascensão ao poder.

Esse estudo literário oferece duas configurações possíveis, proporcionando uma data

mais definitiva para a inscrição: no início do reinado do requerente ou no momento da

nomeação de seu sucessor. Dadas às circunstâncias, é possível que a Estela de Dã seja datada

por volta do século VIII a.C. (TADMOR, p.37-38).

Na linha 03 tem-se: “E meu pai deitou-se (morreu), e foi para seus [pais]” - é

possivelmente o trecho que releva o motivo de maior incompreensão nessa inscrição

(HALPERN, 1994, p.30-32). Usualmente essa frase, conhecida a partir da Bíblia hebraica,

especialmente nos livros de 1 e 2 Reis, é uma expressão significando: sucessão legítima.

Os avisos de mortes reais encontrados em Reis demonstram o significado político da

expressão estereotipada "deitou-se com seu pai." Nos anais reais de Israel, a expressão era

utilizada apenas para governantes que foram sucedidos por seus filhos (NAVEH, 2002,

p.241).

O fato de que um rei deposto nunca "iria para seus pais", essa expressão significava

integridade dinástica. A importância política dessa frase, também pode ser vista nas tradições

bíblicas que cercam a casa real de Judá. Prova disso é que o termo "se deitou com seus pais" é

duas vezes aplicado a Davi em um discurso direto; pela primeira vez no Oráculo Dinástico de

2 Samuel 7,12 - pelo profeta Natan e - em seguida, na sucessão narrativa em 1 Reis 1,21 por

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Bate-Seba. Ambos são textos importantes que lidam com as pretensões dinásticas da Casa de

Davi.

No caso de Hazael, a história é diferente. De acordo com a Bíblia hebraica e algumas

fontes assírias - ele foi um usurpador - (PITTARD, 1987 p.132-138) e por isso, pode parecer

estranho que ele faça uso de uma terminologia que implique sucessão dinástica.

É possível que o pai de Hazael tenha sido um importante líder de uma tribo arameia

durante o tempo de Hadadezer (SCHNIEDEWIND, 2001, p.90-91). E mesmo sem um

conhecimento mais profundo de suas origens, é claro que ele escolheu, como ferramenta de

legitimidade do seu poder - a terminologia de sucessão dinástica.

Sendo assim, a explicação que melhor poderia se aplicar, em relação ao conteúdo da

Estela de Dã, é que as referências frequentes a seu pai na inscrição, mostram que a

legitimidade política de Hazael era uma questão de perspectiva (KOTTSIEPER, 1998, p.485-

487).

Somado a isso, destaca-se o fato de que o fraseado da Estela de Dã não é exatamente

paralelo à fórmula encontrada no livro bíblico dos Reis, e a última palavra foi restaurada na

publicação inicial ("pais" = [bhw] h) (BIRAN, NAVEH, 1995, p.92). Embora essa seja

uma alternativa aceitável, Biran e Naveh notaram que essas reconstruções não se encaixam na

lacuna existente (PUECH, 1994, p.222).

Em relação à linha 4, a expressão “Haddad me constituiu rei”, é semelhante à forma

usada na narrativa deuteronomista de sucessão entre Davi e Salomão, descritas em 1 Reis

1,43 - 3,7 e em 2 Crônicas 1,8-11.

Provavelmente, o significado dessa expressão não foi destacar o evento da ascensão

iminente de Hazael ao trono, mas sim demonstrar a justificativa teológica para o curso dessa

ação. O uso do verbo hmlk indica que um oráculo profético, possivelmente tenha endossado a

afirmação de Hazael, pois se trata de um termo que era geralmente usado nos casos da

fundação das dinastias (LEMAIRE, 1998, p.6-7).

O conteúdo da linha 4 "Haddad me constituiu rei" é seguido na linha 5 pela

afirmação “ E Haddad foi à minha frente”. Como principal divindade síria, Haddad teria ido à

frente de Hazael conduzindo suas batalhas (MULLER, 1982, p.137-139). Juntas, as contas das

linhas 4-5 compreendem um motivo literário que pode ser chamado de "validação por eleição

divina.” (SURIANO, 2007, p.167).

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Oráculos e unção profética também eram frequentemente utilizados no

estabelecimento de dinastias reais, tanto em Judá e Israel, onde a questão dinástica era quase

sempre endossada pela divindade.

Suriano (2007, p.163) nos diz que na literatura semita, o verbo hmlk, referindo-se ao

autor que foi constituído rei na linha 4 da Estela de Dã, pode se referir também a usurpadores

ou situações de sucessão difícil. No entanto, frases como “do meu reino, e eu matei [sete]nta

rei[s], que usavam milha[res de carros]” - linha 6 - demonstrações de violência, eram

comuns na literatura em matéria de sucessão e de estabelecimento do poder.

Essas informações nos dão a ideia de como era de natureza complexa e dinâmica as

relações presentes na sociedade arameia durante o período de Ferro II.

A Estela de Zakir, também contém alguns paralelos interessantes com o uso dessa

forma verbal (NAVEH, 2002, p.240). Zakir, que foi "feito rei" por Baal-Shameyn, foi

possivelmente um usurpador - já que não há menção a sua genealogia - além do fato dele não

aparecer relacionado ao seu antecessor no trono de Hamat, o rei Luwian Uratamis, filho de

Irhilinas (MILLARD, 1990, p.50-52). A segunda ocorrência do verbo hmlk na Estela de Zakir

está dentro de uma referência direta a um oráculo de Baal-Shameyn (LEMAIRE, 2001, p.95).

A linha 6 da Estela de Dã possui uma frase que, uma vez reconstruída, chegou ao

seguinte resultado: "E eu matei setenta reis". A base da leitura é uma observação parcial feita

sobre o Fragmento A e um ayin parcial sobre o Fragmento B1 (PUECH, 1994, p.224-225).

Várias fontes semíticas do noroeste contém a mesma referência de se "matar setenta

homens". Nos estados de publicação inicial destas fontes - o número setenta é simbólico -

expressando "totalidade” (COGAN, 1988, p.113), no entanto, o significado da frase em

questão no contexto abordado é muito mais específico.

O motivo literário de se matar setenta indivíduos representa metaforicamente a

eliminação de todos os outros pretendentes ao poder. Fensham (1977, p.114-115), aponta a

relação desta metáfora com aspectos ligados à de ritos de sucessão, em que "setenta" parentes

foram obrigados a conferir legitimidade mediante um herdeiro.

Smith (1997, p.83) mostra a simbologia do número “setenta” ao tratar sobre o ciclo

ugarítico de Baal, onde ele “convida seus irmãos... os setenta filhos de Athirat [e El] à

dedicação de seu palácio”. Já Suriano (2007, p.168) na Estela de Dã, diz que os "[sete]nta

rei[s], que usavam milha[res de caros]; ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos)”, não eram

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membros da casa real (filhos ou irmãos), mas em vez disso, reis anônimos (mlkn), chefes das

tribos dos arameus.

Kaefer (2012, p.40) entende que a expressão tenha por objetivo, representar a

totalidade dos reis - tal como aparece em Juízes 9,2b e em 2 Reis 10,1-11 - neste caso, sendo

uma referência a todos os reis que formaram a coalizão anti-Damasco.

Além disso, todos os exemplos citados por Biran e Naveh (1995, p.16) parecem

envolver uma sucessão de golpes políticos, seguido pelo assassinato direto de setenta pessoas:

Abimelek matou os filhos de Gideão - setenta - (Juízes 9,5); Jeú matou os setenta filhos de

Acabe (2 Reis 10,6-7; cf. v. 1) e o usurpador sem nome de Sam’al, do ciclo ugarítico de Baal

assassinou Bir-Sar e seus setenta irmãos.

A realidade de que o reino da Síria tenha existido, juntamente com grupos tribais

menores - conforme se apontou ao olhar a Estela de Dã - pode estar por trás da curiosa

tradição bíblica que alcança os trinta e dois reis que acompanham Ben-Haddad, rei da Síria -

em Damasco - em sua invasão de Israel, conforme 1 Reis 20 (KOTTSIEPER, 1998, p.488).

Esses reis provavelmente representavam grupos baseados em parentescos menores de

uma sociedade patrimonial (1 Reis 20,1-16). Ben-Haddad, o chefe do reino patrimonial, leva

uma coalizão de chefes tribais, cujas características os identificavam como líderes de vários

grupos nômades de atividades pastoris (BUCCELLATI, 1967, p.131).

Da mesma forma - a reforma em 1 Reis 20,24 - onde Ben-Haddad é aconselhado a

substituir os reis por governadores (ou capitães [pahôt]) provavelmente reflete um aspecto de

transição na história política de Aram-Damasco. Embora se possa questionar essa datação, o

escritor bíblico não tinha nenhuma razão para criar uma conta de reforma política em

Damasco (CAMPBELL, 1964, p.136-137).

A reorganização narrada no versículo acima pode ter sido uma reestruturação militar

e não uma política global de reforma (PITTARD, 1987, p.154). É importante, no entanto, ter

em mente que um aspecto fundamental da vida tribal entre os pecuaristas é o "potencial

militar” (ROWTON, 1973, p.251). Parece que a reforma política referida foi projetada

unicamente para consolidar o controle de Damasco.

Alianças militares eram um fenômeno importante na política da Ásia ocidental

durante a Idade do Ferro (TADMOR, 1975, p.39-40). Essas alianças (tais como as descritas

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por Salmaneser III, mais notavelmente no obelisco negro) fortaleciam ainda mais os estados,

que por sua vez, pressionavam os mais fracos em vassalagem.

Essa última tendência certamente descreve as ações de Ben-Hadad III, filho de

Hazael descrito na Estela de Zakir, especialmente à luz das políticas expansivas de seu pai no

levante (LEMAIRE, 1989, p.38,42-43). Alianças certamente ocorreram entre grandes reinos,

que passaram a se identificar usando terminologia de parentesco, como: "Casa de Adini" ou

"Casa de Davi" - presente na linha 09 da Estela de Dã.

No entanto, o mesmo mecanismo de política de alianças militares também teria

fornecido os meios para a dominação de pequenas tribos - à base do parentesco - por uma

entidade estatal maior.

Lipinski (2000, p.498-500) ao tratar sobre o termo mlk utilizado na construção dos

argumentos descritos acima - a luz da Estela de Dã - quando se refere aos lideres dos grupos

tribais menores em Damasco, diz haver um amplo campo semântico, por detrás dessa palavra.

De fato, a inscrição bilíngue de Tell Fekheryeh6813 contém um exemplo notável de

mlk e suas nuances. Na versão aramaica Hadad-yith refere-se a si mesmo e a seu pai,

Shamashnuri, usando o termo mlk (linhas 6, 7, e 13), e a versão acadiana usa o termo

"governador" para referir-se aos mesmos (sakin mati [escrito gar kur]; linhas 8, 9 e 19)

(MILLARD, 1982, p.13-16; 23-24).

Além disso, na curta Estela de Melqart6914, o rei Ben-Hadad de Aram-Damasco, autor

da Estela, mencionada na Bíblia hebraica, segundo Pittard (1988, p.3-21) pode ser

interpretado como um líder local do norte da Síria. Da mesma forma, a menção frequente de

‘rpd mlky’ nos Tratados Sefire7015 pode implicar Mati’el como rei de Arpad, que era governada

por vários chefes tribais "reis" (BUCCELLATI, 1967, p.53-55).

Além disso, algumas referências assírias para incursões dos arameus, entre os séculos

XII e VIII, testemunham a presença de grupos tribais, onde cada um era liderado por um

chefe (BRINKMAN, 1968, p.273-275).

68 Inscrição localizada em uma estátua neoassíria de Adad-it'i/Hadad-yith', no final de 1970, escrita em aramaico e acadiano, sendo a mais antiga inscrição aramaica de que se tem notícia.

69 Estela erigida por Ben-Hadad, filho de Tab-Rimom, rei da Síria em honra ao deus Melqart.

70 Tratado realizado entre os reis de Arpad, no noroeste da Síria.

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Historicamente falando, a única ocorrência do termo “reis” (mlkn) na linha 6 da

Estela de Dã, onde o mesmo substitui o uso mais comum de terminologia de parentesco na

sucessão, indica um importante aspecto social e político de Aram-Damasco no nono século.

Os rivais políticos de Hazael, não eram membros da casa real de Hadadezer (LEMAIIRE,

1988, p.8).

Dadas às circunstâncias, a tradução literal do termo, atenderia melhor ao propósito de

denotar uma liderança local. A declaração de Hazael que ele "matou setenta reis" é

provavelmente uma indicação do tipo de luta pelo poder que ocorreu em uma sociedade

composta de elementos tribais.

Akkermans (2003, p.366-368) narra que nesse período na Síria - durante a Idade do

Ferro - os grupos tribais de base pastoril e urbana, certamente entraram em conflito entre si,

dado a natureza complexa da sua sociedade.

Na falta de dados claros com os quais trabalhar, os estudiosos costumam descrever a

aparição desses grupos pastoris, no contexto social e político das cidades-estados em colapso.

(DORNEMANN, 2000, p.199-214).

Embora o termo "pastores" esteja sendo utilizado nessa ocasião, verifica-se que os

povos "nômades" do antigo Oriente são mais bem entendidos como entidades étnicas que

também poderiam incluir elementos sedentários em diferentes graus (SCHWARTZ, 1989,

p.281-285).

Quem quer que os sírios tenham sido, as observações apontadas, convidam a focá-los

como entidades dinâmicas constituídas tanto de componentes urbanos, quanto pastoris, ao

invés de um grupo equilibrado em um estágio específico do desenvolvimento ao longo de

uma trajetória.

Assim, enquanto os sírios são designados como um grupo nômade desde o século

XII a.C. nos registros de Tiglate-Pileser I, eles continuam a aparecer como tais em incursões

relatadas dentro do Império Assírio durante o século VIII (CAVIGNEAUX, 1990, p.343-

344). No entanto, a partir do século X, é que os estudiosos têm notado indícios que apontam à

ascensão do Estado Sírio, a saber, a partir da aparição de inscrições reais em aramaico antigo,

como a própria Estela de Dã (AKKERMANS, 2001, p.219-221).

É dentro desse contexto sócio-histórico que se pode tentar reconstruir o surgimento

de Hazael. Após a morte de Hadadezer (KOTTSIEPER, 1998, p.485) o líder tribal arameu foi

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capaz de derrotar seus rivais e reivindicar o trono de Aram-Damasco (SCHNIEDEWIND,

2001, p.91).

A fluidez de elementos tribais seminômades dentro de uma sociedade patrimonial se

encaixa bem com o caráter agressivo e móvel de Hazael, que pode ter conquistado vários

grupos tribais antes dele, até que finalmente tomou o controle de Aram-Damasco.

Estudos recentes têm mostrado que suas campanhas eram muito mais extensas do

que se pensava anteriormente, envolvendo não só a Palestina, no sul (MAEIR, 2004, p.319-

334), mas também norte da Síria, durante o final do século IX correspondente ao declínio

temporário no poder da Assíria (BRON, 1989, p.484).

O século IX a.C., é um período muito importante para os acontecimentos em

Damasco, que envolvem o rei Hazael. Segundo Michel (1949, p.266), a carreira dele começa

a partir do Monte Hermon, como representante assírio. Vale destacar que esse monte está em

estreita proximidade com o sítio arqueológico de Dã (Tell el-Qadi).

As inscrições reais dos assírios que registram a campanha de Salmaneser III (841

a.C.) em Damasco, no entanto, dizem que Hazael foi derrotado e forçado a fugir do Monte

Hermon para Damasco, onde ele foi cercado pelos assírios (YAMADA, 2000, p.188-191).

O império assírio viria a sofrer um enfraquecimento durante o reinado de Shamshi-

Adad V, no final do século IX (HALLO, 1960, p.162-164) o que fez o flanco norte de Hazael

ficar temporariamente livre de qualquer ameaça assíria, fato esse que teria permitido

consolidação de seu controle sobre Aram-Damasco e em toda a campanha do levante, a partir

do extremo norte da Síria para a Palestina, no sul (YAMADA, 2000, p.320).

O efeito dos esforços de Hazael para desenvolver Aram-Damasco em uma potência

maior pode ser visto em inscrições neoassírias do século VIII, que se referem à terra de Aram,

sul da Síria (TADMOR, 1994, p.138-139). Com as políticas expansionistas e a adesão do seu

filho Ben-Haddad, o poder de Aram-Damasco estava em ascensão no final do século IX. A

Estela de Dã representa muito bem este clima político (SURIANO, 2007, p.175).

Dentro do corpo das inscrições reais semitas do Noroeste, existem duas grandes

categorias: dedicatória e memorial (MILLER, 1974, p.9-18). A Estela de Dã é uma inscrição

que reflete um memorial (SCHNIEDEWIND, 1996, p.85-86), pois fez uso de vários motivos

literários apologéticos.

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Como Tadmor (1983, p.37) mostrou em seu estudo sobre os pedidos de desculpas

reais assírios, muitas vezes elas servem como componentes de obras literárias maiores,

elogiando os reis. A Estela de Dã, como se pode ver, possui muitos motivos apologéticos no

bojo de sua inscrição, no entanto, duas características essenciais não devem ficar de fora de

uma análise completa do estrato: a referência desfavorável a um antecessor e reivindicações a

proezas militares.

Embora existam diferenças notáveis - a Estela de Dã é comparável a outras desculpas

autobiográficas encontradas em Hitita - e em inscrições reais assírias, bem como a sucessão

narrativa não autobiográfica da Bíblia hebraica, presente em 2 Samuel 9 e 1 Reis 2

(HOFFNER, 1975, p.49-62).

Por fim, pode-se entender que a Estela de Dã, é um importante documento no que diz

respeito à história de Damasco, principalmente ao reinado de Hazael. Trata-se de um novo

prisma, pelo qual se pode enxergar as entrelinhas do processo histórico, elucidando

importantes fatos que ampliam o seu significado.

A Revolta de Jeú - como um dos principais eventos desencadeados dessa época - por

volta dos séculos IX e VIII a.C., como nos mostra a Estela de Dã, leva a marca indelével da

influência damascena - que haveria de se impor como força dominante - imprimindo assim

sua marca na história.

3.5 Considerações Intermediárias

Os conflitos entre Israel e Judá, durante os reinados de Asa e Baasa, forneceram à

Síria de Ben-Haddad, a oportunidade de emergir como a nação mais poderosa da terra de

Canaã, por volta do século IX a.C.. No entanto, a supremacia militar e comercial da Síria,

começou a ser contrabalanceada pelo reino do Norte, no início da dinastia Omrida, por volta

de 885 a.C..

Além disso, o emergente poder dos assírios no oriente serviu como outro ponto de

contrabalanceio na Síria, nos dias de Acabe, rei de Israel.

Durante os anos em que o cerco de Assurnasipal exerceu forte pressão sobre a Síria,

no norte - Ben-Haddad e Acabe guerreavam com frequência entre si - até que Acabe com o

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tempo obteve equilíbrio do poder. Entretanto, por volta de 853 a.C., eles acabaram por unir

suas forças na famosa batalha de Carcar contra a Assíria, no norte de Hamate.

Após este fato, imediatamente as hostilidades entre Israel e a Síria se reiniciaram,

tendo sido Acabe morto no campo de batalha. Schultz (1977, p.159) diz que quando a Assíria

renovou seus ataques contra a Síria - Ben-Haddad provavelmente não gozou do apoio de

Jorão durante a batalha. Quando Ben-Haddad morreu, a Síria se viu sobre grande pressão por

parte dos invasores Assírios.

Na sequência, Hazael subiu ao trono e veio a se tornar um dos mais poderosos

monarcas da Síria, chegando a estender os seus domínios até a palestina.

A Estela de Dã adentra nas entrelinhas que remontam as performances

desempenhadas por Hazael - que acabaram por levá-lo ao trono - bem como demonstra a

força desse monarca, inclusive dentro dos territórios de Israel norte, ao remontar a batalha de

Ramote de Gileade, que culminou na subida de Jeú ao trono.

De maneira muito clara - a Estela de Dã como um documento biográfico - procura

trazer legitimidade ao reinado de Hazael, que claramente foi um usurpador através do

emprego de fórmulas literárias previamente elaboradas - tecendo algumas inclusive em

documentos como a Estela de Zakir - e os próprios oráculos proféticos da dinastia Davídica.

A história da Síria como reino estabelecido não chegou ao fim com Hazael. Ben-

Haddad III, seu filho - não conseguiu manter o reino estabelecido por seu pai. Adad-Nirari III,

rei da Assíria nessa época subjugou a Damasco - fazendo da Síria - um de seus vassalos.

Somado a isso, Haddad III ainda teve de enfrentar fortes pressões internas advindas

de estados sírios do norte, o que colaborou muito para que Damasco ficasse em situação de

extrema fraqueza. Nesse intervalo, Joás de Israel pôde reconquistar grande parte dos

territórios tomados por Hazael.

Nos dias de Jeroboão II - a Síria chegou a ficar sem sua capital - Damasco e a

entrada de Hamate, oportunidade essa onde foi restaurada a fronteira norte estabelecida por

Davi e Salomão (2 Samuel 8,5-11).

O reino da Síria ainda teve sua última chance para se recompor em toda a sua força e

imponência. Com a morte de Jeroboão II, por volta de 753 a.C.. Rezim, o último dos reis

arameus em Damasco reconquistou a independência da Síria.

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No entanto, Tiglate-Pileser III que ascendeu ao trono da Assíria, por volta de 745

a.C. através de invasão, tornou tanto a Síria quanto Israel em seus vassalos. Em resposta os

reis de Israel e da Síria ainda tentaram um último suspiro formando uma coalizão antiassíria

que contou com Edom e Filístia.

Acaz, rei de Judá, no entanto enviou tributo a Tiglate-Pileser III afirmando sua

lealdade. A coalizão foi um fracasso, tanto que por volta de 732 a.C., Tiglate-Pileser III já

havia reconquistado Damasco.

Com a morte de Rezim e a queda de Damasco, o reino da Síria chegou ao fim, para

nunca mais se reerguer novamente.

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Considerações Finais

Ao chegarmos ao fim desta pesquisa, é importante pensarmos sobre os motivos que

nos fizeram lançar olhares atentos à Revolta de Jeú e, consequentemente aos eventos que

aconteceram por detrás, nas entrelinhas, que fizeram com que este fosse um dos episódios

mais marcantes da história bíblica.

Perguntamos, no início da pesquisa, sobre qual teria sido a avaliação do redator

deuteronomista sobre o reinado de Jeú em uma perspectiva que abrangia o culto a Baal em

Israel, a relação de Javé com Baal, além do formato do culto ao bezerro de ouro, presente na

perícope de 2 Reis. Também questionamos sobre o tipo de influência que Israel teria sofrido

por parte de Hazael, incluindo na discussão a perca dos territórios da Transjordânia,

mencionados na Estela de Dã. De igual modo, trabalhamos com questão da importância da

cidade de Dã para Damasco, bem como sobre o nível da influência dos assírios sobre Hazael e

Jeú.

Nossas hipóteses eram três e consideravam o fato de que Hazael teria matado os reis

de Israel e Judá e, que consequentemente tenha sido responsável por estabelecer Jeú no poder,

além da possibilidade de que a Revolta de Jeú, não se tratou de um ato revolucionário vindo

de dentro, mas sim de uma articulação político-militar, orquestrada por Damasco. E por fim, a

ideia de que muito provavelmente tenha sido Jeú aquele que introduziu o Javismo em Judá.

No primeiro capítulo, procuramos demonstrar a maneira pela qual a redação

deuteronomista apresenta a tradição de Jeú. Para tal abordamos o estudo exegético da

perícope de 2 Reis 10,28-36. A perícope em questão, apresenta uma estrutura bem dividida e

coesa, no entanto, foi possível percebermos a presença de algumas camadas sobre o texto, que

nos mostraram diferentes características redacionais sobre o reinado de Jeú.

Foi possível entender que o texto possui características tanto da redação

deuteronomista, quanto da redação pós-exílica. Isto se demonstrou primeiramente pelo fato de

que os versos 28 e 30, tecem elogios as ações de Jeú, que teria feito desaparecer a Baal de

Israel, eliminando a Casa de Omri, o que lhe teria rendido a promessa da extensão de sua

dinastia até a quarta geração. Somado a isso, os versos 29 e 31, de possível origem, pós-

exílica, demonstram desaprovação do reinado de Jeú, pois o mesmo não se preocupou em

seguir a lei de Javé quando não se desviou dos pecados de Jeroboão.

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Também constatamos que há uma redação de teor histórico no relado sobre o reinado

de Jeú, que faz menção a tomada da região da Transjordânia por parte de Hazael, rei de

Damasco.

Tais fatos nos fizeram entender que a função da narrativa sobre Jeú, do ponto de

vista da redação deuteronomista é muito importante, pelo fato de ser ele, o disseminador do

Javismo, que chegaria até Judá, por onde a sua Revolta se expandiu. Também pudemos

entender que o fato de Hazael ser um elemento presente na redação do reinado de Jeú, mostra

que sua influência neste período foi notável e, que a Estela de Dã, trabalhada em nosso

segundo capítulo, se aproxima desta história ao expor um conteúdo que remonta a este

contexto, revelando algo cuja à redação bíblica parece não interessar, uma vez que o seu

interesse aparente seja apenas observar os desdobramentos históricos do ponto de vista

religioso.

A partir destas constatações iniciais, em nosso segundo capítulo, procuramos

apresentar e analisar o conteúdo da Estela de Dã. Seguimos a partir de uma breve abordagem

sobre o sítio arqueológico de Tell Dã, seu histórico de escavações e, uma breve apresentação

dos principais achados arqueológicos descobertos ao longo dos anos de trabalho.

Apontamos que o Tell Dã era uma importante localidade, no que diz respeito a

questão comercial, pelo fato de estar estabelecida por entre a estrada denominada “Caminho

do Mar”, ou conforme nos apresenta a Vulgata, “via maris”. Além deste fato, juntamente com

Betel, Dã era uma das fronteiras em Israel Norte, que também era conhecida pela questão

religiosa, devido ao fato de abrigar um dos bezerros de ouro edificados por Jeroboão I.

A Estela de Dã é um dos achados arqueológicos mais importantes de que se tem

notícia, no que diz respeito a pesquisa bíblica. Primeiramente, destaca-se o fato de ser a

primeira fonte extra bíblica a fazer menção a Casa de Davi, além de ser um grande documento

que nos permite observar os desdobramentos em Israel norte, entre os séculos XIX e VIII a.C.

O artefato lança novos olhares sobre o evento da Revolta de Jeú, passando a contar a história

a partir da ótica do conquistador, Hazael de Damasco.

Com isso, aprendemos que à medida que a história vai sendo narrada, mais vai

ficando claro que antes de qualquer coisa a Revolta de Jeú foi produto de um golpe militar,

orquestrado nada mais nada menos, do que por Hazael que estava em guerra contra Israel e

Judá, entre os séculos XIX e VIII. O rei de Damasco assume a responsabilidade pelo fato das

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mortes dos reis Jorão e Ocozias, além de confirmar que Jeú fora colocado no trono mediante a

sua intervenção direta.

Como conclusão deste capítulo, destacamos a Estela de Dã como um elemento

fundamental para a história da Revolta de Jeú, bem como para a compreensão de quão grande

era o império da Síria durante os séculos XIX/VIII a.C, a ponto de subjulgar, Israel e Judá,

quase que simultaneamente. A redação deuteronomista estabelece uma ligação sutil com os

eventos descritos na Estela de Dã, ao mencionar a perda dos territórios da Transjordânia, no

entanto, como um ponto positivo a ser ressaltado, destaca-se o fato da importância

arqueologia na perspectiva da pesquisa bíblica que, passa a contar a história, considerando

outra faceta que melhor elucida os eventos descritos no texto bíblico.

A partir destas constatações, em nosso terceiro capítulo, estabelecemos uma

abordagem que objetivou uma aproximação maior do reino da Síria, como sendo uma

personagem de destaque, conforme os capítulos anteriores nos mostraram, no evento da

Revolta de Jeú. Para tal, traçamos uma abordagem que compreendeu uma breve apresentação

das origens da Síria, sua relação com Israel e, com um enfoque mais direto, uma análise

direcionada a Hazael, a luz da Estela de Dã.

A pesquisa nos apresentou que o histórico de batalhas entre a Síria e Israel é extenso,

tendo vários reis, tais como: Asa, Baasa, Ben-Haddad, Acab, dentre outros, como personagens

desta longa trajetória de batalhas. Hazael é mais um deles. Como um usurpador, ele ascende

ao trono da Síria após assassinar Ben-Haddad, vindo a ser um dos reis mais poderosos deste

império, que sempre teve de uma forma muito evidente, a sombra da Assíria, como uma

constante ameaça.

A Estela de Dã, como um documento de teor biográfico, possui como finalidade

trazer legitimidade ao trono de Hazael em Damasco. O reino da Síria, de acordo com os

apontamentos traçados, teria sido um reino que existiu em conjunto com grupos tribais

menores, e Hazael, ao eliminar Ben-Haddad, que seria o chefe do reino patrimonial, bem

como os demais líderes das outras tribos, fato este que se dá mediante a menção de setenta

reis assassinados, na Estela de Dã, teria assumido o controle total do reino da Síria, que

gozaria de notável desenvolvimento.

Com isso, chegamos à conclusão de que o século XIX foi muito importante para o

desenvolvimento de Damasco, sobre o comando de Hazael. As políticas expansionistas de

Hazael foram muito intensas, sendo até mesmo testemunhadas em diferentes tipos de

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documentos, inclusive em inscrições Neo-assírias do século VIII, sendo a Estela de Dã um

importante relato acerca de caminho de conquistas empreendidas pela Síria. Contudo, a

grande notabilidade alcançada por este reino, não foi o suficiente para impedir que Tiglate-

Pileser III, rei da assíria em 732 a.C. viesse a subjulgar Damasco.

Por fim, destacamos que ainda há muito em que se avançar nesta pesquisa. O reino

de Israel Norte cada vez mais tem se mostrado um reino de proporções notáveis, munido de

uma história e de uma tradição própria, que durante muito tempo, passaram despercebidos aos

olhos das pesquisas. A presente pesquisa procurou adentrar a este universo e contribuir com a

rica história deste reino, através da releitura de um de seus eventos mais significativos, a

Revolta de Jeú. A partir destas considerações, convidamos outros pesquisadores a nos

acompanharem nesta tarefa deveras estimulante. Dito isto, declaramos nossa intenção de

prosseguir na pesquisa para a compreensão das diferentes tradições do norte, em conjunto

com a arqueologia, ampliando assim as perspectivas sobre este reino.

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FICHA CATALOGRÁFICA

Souza

Souza, Bruno Cavalcante de

A “revolta” de Jeú e a estela de Dã : um estudo em 2 Reis 10, 28-36

/ Bruno Cavalcante de Souza -- São Bernardo do Campo, 2016.

102fl. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Escola de Comunicação, Educação e Humanidades, Programa de Pós-Graduação Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo Bibliografia Orientação de: José Ademar Kaefer

1. Bíblia – A.T. – Reis – Crítica e interpretação I. Título CDD 222.507