a relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

77
UNAERP UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO Curso de Psicologia BRUNO ALBERTO PEREIRA DE SANT’ANA DANIELLY BOTELHO NUNES A RELAÇÃO ENTRE O USO DE DROGAS E AS EXIGÊNCIAS SOCIAIS EM DROGADICTOS. RIBEIRÃO PRETO – SP 2010

Upload: brunopsico12

Post on 02-Jul-2015

326 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

O presente estudo teve como objetivo revisar a literatura sobre o assunto, conhecer e compreender a relação entre o uso de drogas e o modo como são afetadas as relações sociais dos usuários que cometem abuso de substâncias psicoativas, estes que podem representar um número muito mais elevado que os de dependentes. Participaram da pesquisa 25 sujeitos, dos quais cinco indivíduos não preencheram os critérios necessários para a participação, sendo assim foram coletados 20 questionários do tipo fechado/múltipla escolha que abordaram aspectos referentes à utilização de sustâncias psicotrópicas e de exigências sociais. Os resultados revelaram que, ao contrário dos fatores de risco presentes na literatura, os participantes possuíam alto grau de escolaridade e renda e que há diálogo entre os membros da família. Foi possível aferir a complexa influência do ambiente familiar e do grupo de amigos na manifestação do uso abusivo de drogas. Pudemos constatar a banalização do uso do tabaco, da maconha e principalmente do álcool, seja por parte do próprio indivíduo ou da família. Os participantes fazem o uso quase que diário de substâncias, e alguns apresentaram propensão à dependência. Os sujeitos apresentaram perturbações em todos os campos das relações sociais e as exigências sociais são claramente afetadas. Apesar das condições desfavoráveis proporcionadas pela droga, a maioria dos entrevistados se considera normal, acham que o uso de drogas é normal e a grande maioria não tem a pretensão de parar. Nesta pesquisa, a maioria dos participantes teve acesso às informações sobre drogas pela própria família, ou possuem condições de terem ou já terem tido acesso a essas informações, eles fazem o uso porque querem, têm consciência disso e muitos não pretendem parar.

TRANSCRIPT

Page 1: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

UNAERP UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

Curso de Psicologia

BRUNO ALBERTO PEREIRA DE SANT’ANA DANIELLY BOTELHO NUNES

A RELAÇÃO ENTRE O USO DE DROGAS E AS EXIGÊNCIAS SOCIAIS EM DROGADICTOS.

RIBEIRÃO PRETO – SP 2010

Page 2: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

BRUNO ALBERTO PEREIRA DE SANT’ANA

DANIELLY BOTELHO NUNES

A RELAÇÃO ENTRE O USO DE DROGAS E AS EXIGÊNCIAS SOCIAIS EM DROGADICTOS.

Monografia apresentada à Universidade de Ribeirão Preto UNAERP, como requisito para obtenção do título de bacharel em Psicologia. Área de concentração- Saúde. Orientador - Prof. Dr. Sérgio Vinícius de Lima Grande

RIBEIRÃO PRETO – SP 2010

Page 3: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos vão a todos que colaboraram para a conclusão deste trabalho, a todos os participantes que nos receberam e nos atenderam prontamente, ao nosso orientador Prof. Sérgio de Lima Grande que esteve sempre disponível para atender nossas dúvidas com simpatia e atenção, às nossas famílias e, para f inal izar, a Deus por ter nos dado a capacidade, paciência e empenho para final izarmos este trabalho.

Page 4: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho primeiramente aos nossos pais; pelo esforço, ajuda e compreensão dedicados a nós.

Aos nossos irmãos, que sempre est iveram ao nosso lado.

Aos nossos namorados-parceiros que tiveram paciência, compreensão, cooperação e nos incentivaram.

Ao Prof. Wilson José Alves Pedro que com carinho aceitou o convite para part icipar desta i lustre banca examinadora, tendo se deslocado de sua cidade para isto.

À nossa famíl ia, por ter nos dado a vida, nos educado e por nos ter possibi l itado chegar aonde chegamos.

Bruno e Daniel ly.

Page 5: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

DROGA Me revolta ver as veias, vias, avenidas do teu coração Entupidas, destruídas, pela frágil, fácil, doce ilusão De que alguma coisa além de você mesmo pode iluminar Tua cabeça, tua alma, tua vida Prá te despertar Natureza, terra, fogo, mata, céu e mar São suficientes prá tua mente viajar Não há mais bela viagem do que a paisagem natural Naturalmente essa semente eu sei que um dia vai vingar E essa droga, entorpecente, finge, mente que é verdade E a felicidade, escapa, escapa, escapa, escapa, escapa Entre teus dedos E os segredos desse mundo Todo mundo sabe bem Que a droga é uma droga mesmo Nada além, não... E os segredos desse mundo Todo mundo sabe bem Que a droga é uma droga mesmo Nada além, não... Fábio Jr.

Page 6: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

DROGA MALDITA Eu falo Pela boca de todas as mães Que acordam de noite assustadas Sem saber o futuro dos filhos Diante das facilidades Se a tevê Já não tem mais censura E nossos ídolos levantam bandeiras Que arrastam os jovens Pela estrada do vício Da ilusão e do sonho Ninguém vê Que os jornais e as revistas Só nos mostram os crimes De total violência E a conseqüência da dependência Desta droga maldita Contra a humanidade. Eu falo Pela boca de todos os jovens Que acordam um dia assustados Sem saber por que se perderam Diante das facilidades Se eles vêem Que ninguém mais os censuram E os seus ídolos

Page 7: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

permanecem calados Aos que arrastam os jovens Pela estrada do vício Da solidão e do medo Pois eu falo Em nome dos jovens Que um dia partiram Ou se perderam Na experiência na total dependência Sem saber que a viagem Quase nunca tem volta Procura-se O que matou nossos jovens (Aracelli) Procura-se Aquele som de batera (Vítor Manga) Procura-se O que drogou nossos ídolos (Jimi Hendrix) E continua a matar tanta gente Procura-se Recompensa-se bem O que assassinou Cláudia Lessin e Janis Joplin. Vanusa e Márcio Antonucci

Page 8: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

NUNES, D. B. SANT’ANA, B. A. P. A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais em, drogadictos. Monografia do curso de Psicologia da UNAERP- Universidade de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2010. 78 p.

RESUMO O presente estudo teve como objetivo revisar a literatura

sobre o assunto, conhecer e compreender a relação entre o uso de drogas e o modo como são afetadas as relações sociais dos usuários que cometem abuso de substâncias psicoativas, estes que podem representar um número muito mais elevado que os de dependentes. Participaram da pesquisa 25 sujeitos, dos quais cinco indivíduos não preencheram os critérios necessários para a participação, sendo assim foram coletados 20 questionários do tipo fechado/múltipla escolha que abordaram aspectos referentes à utilização de sustâncias psicotrópicas e de exigências sociais. Os resultados revelaram que, ao contrário dos fatores de risco presentes na literatura, os participantes possuíam alto grau de escolaridade e renda e que há diálogo entre os membros da família. Foi possível aferir a complexa influência do ambiente familiar e do grupo de amigos na manifestação do uso abusivo de drogas. Pudemos constatar a banalização do uso do tabaco, da maconha e principalmente do álcool, seja por parte do próprio indivíduo ou da família. Os participantes fazem o uso quase que diário de substâncias, e alguns apresentaram propensão à dependência. Os sujeitos apresentaram perturbações em todos os campos das relações sociais e as exigências sociais são claramente afetadas. Apesar das condições desfavoráveis proporcionadas pela droga, a maioria dos entrevistados se considera normal, acham que o uso de drogas é normal e a grande maioria não tem a pretensão de parar. Nesta pesquisa, a maioria dos participantes teve acesso às informações sobre drogas pela própria família, ou possuem condições de terem ou já terem tido acesso a essas informações, eles fazem o uso porque querem, têm consciência disso e muitos não pretendem parar.

Palavras-Chave: Exigências sociais. Substâncias psicoativas.

Uso. Abuso. Adicto. Família. Relações sociais.

Page 9: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

NUNES, D. B. SANT’ANA, B. A. P. The relat ionship between drug use and social demands in drug addicts. Monograph of Psychology Course- UNAERP- Universidade de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2010, 78 p.

ABSTRACT This study aimed to review the literature on the subject, know

and understand the relationship between drug use and how are affected the social relations of users who perpetrate abuse of psychoactive substances, and these group probably may represent a far higher number than the addicts. In this research 25 subjects, of which five individuals did not fill the criteria necessary for participation, so 20 questionnaires were collected from the type of closed / multiple choice on aspects concerning the use of psychotropic substances and social requirements. The results revealed that, unlike risk factors present in the literature, the participants had high education level and income, and there is dialogue between family members. It was possible to measure the complex influence of family and group of friends in the manifestation of drug abuse. We have seen the trivialization use of tobacco, marijuana and primarily alcohol, either by the individual himself or family. Participants make use of substances almost daily, and some showed a propensity to addiction. The subjects showed disturbances in all fields of social relations and social requirements are clearly affected. Despite the unfavorable conditions offered by the drug, the majority of respondents considered themselves normal, think drug use is a normal thing and the vast majority does not intend to stop. In this research, most participants had access to drug information by their own families, or have conditions to they have or have had access to such information, they do because they want to use, they are aware of this and many do not intend to stop.

Keywords: Psychoactive substance. Use. Abuse. Adict.

Family. Social relations.

Page 10: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 13 2. METODOLOGIA 15 3. AS DROGAS: SUBSTÂNCIAS DE ABUSO 18 3.1. DEFINIÇÃO 18

3.2. T IPOS 19

3.3. ASPECTOS NEUROLÓGICOS 23

4. DROGAS E SOCIEDADE 25 4.1 MOMENTO HISTÓRICO 25

4.2 AS DROGAS NA SOCIEDADE ATUAL 26

4.3 POLÍTICA PÚBLICA SOBRE DROGAS NO BRASIL E EM ALGUNS

PAÍSES 27

5. FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DE DROGAS 30

6. O USUÁRIO DE DROGA 32 6.1. DEPENDÊNCIA 32

6.2. CONCEITO DE USO 32

6.2. CONCEITO DE ABUSO 33

6.3. CONCEITO DE DEPÊNDENCIA 34

7. CONSEQUÊNCIA DO USO 36 7.1. PROBLEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA x PROBLEMA DE SAÚDE

PÚBLICA 36

7.2. EXIGÊNCIAS SOCIAIS 38

7.3. ESTIGMA 40

7.4. TRATAMENTOS 42

8. RESULTADOS E DISCUSSÃO 45 8.1. RESULTADOS 45

Page 11: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

8.2. DISCUSSÃO 62

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS 72

10.REFERÊNCIAS 76

Page 12: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

1. INTRODUÇÃO

O uso de drogas psicoativas – substâncias que alteram o humor a

percepção e o funcionamento mental ou comportamento – é quase

universal. O abuso contínuo de drogas, (. . .) , pode levar ao uso compulsivo da substância, ou dependência (também chamada adicção). Embora, nem todos que abusam de substância desenvolvam a depêndencia, esse estado segue o período de abuso. (MORRIS e MAISTO, 2004, p. 136)

Levando-se em conta que nem todos os usuários de drogas

chegam a níveis crônicos, nem desenvolvem patologias severas, ou

apresentam comportamentos inadequados, e que os usuários

esporádicos podem representar um número muito mais elevado do que

os de dependentes, tem-se então estes usuários que fogem à

capacidade de mensuração populacional, como o grupo em questão no

presente estudo, cuja relação entre o comportamento e as exigências

sociais é desconhecida. Como se dá esta relação e o quanto isto afeta

a vida destes usuários?

As causas de abuso de substâncias e da depêndencia são uma combinação complexa de fatores biológicos, psicológicos e sociais, que var iam de pessoa para pessoa e de acordo com a substância. (MORRIS; MAISTO, 2004, p.136)

Alguns usuários de drogas, por não alcançarem níveis patológicos

graves, não são alvos de atenção pública. Estes indivíduos que

apresentam sofrimento relativamente menor que o dos dependentes

químicos, não procuram ajuda e nem passam por situações que

necessitem de intervenção emergencial. Logo, os seus sofrimentos,

angústias e dif iculdades são desconhecidos, sendo assim necessário

se conhecer e compreender a relação entre o uso de drogas e o modo

com são afetadas suas relações sociais.

Page 13: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

A droga provoca prazer, mas não é boa, pois prejudica o corpo, a mente, a famíl ia e a sociedade. Quanto maior o uso, maior o prejuízo. Cada ser humano pode ter maior ou menor resistência à droga, mas ninguém consegue contolar as reações bioquímicas que ela provoca dentro do organismo. Não se pode confundir prazer químico com felicidade. A droga causa momentos de alegria que desaparecem, dando lugar a um vazio na alma. A felicidade preenche o ser humano, fornecendo- lhe al imento durante os períodos dif íceis, valor izando-o pelo que é, e não pelo o que não possui naquele momento. (TIBA, 2007, p 17)

Portanto, o objetivo deste trabalho foi, através de pesquisa

quantitativa e qualitativa, revisar a l i teratura sobre o assunto, trazer

dados sobre como se dão e são afetadas as relações sociais destes

usuários, que aparentemente não necessitam de ajuda por não se

enquadrarem na categoria de Dependente de Substâncias Psicoativas,

de acordo com o DSM IV (2002).

Page 14: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

2. METODOLOGIA Para a realização desta pesquisa foram feitos os seguintes

procedimentos metodológicos: 1) Levantamento bibl iográf ico da

temática em questão; 2) Análise de livros, teses, revistas, bem como

consulta a sites profícuos; 3) Elaboração de questionário t ipo

fechado/mútipla escolha, abordando aspectos referentes a uti l ização de

substâncias psicotrópicas e de exigências sociais.

Além disso, houve a pesquisa de campo, envolvendo o total de 15

participantes, sendo de ambos os sexos e com idade entre 18 a 40

anos. Foram indivíduos que fazem ou já f izeram o uso de substâncias

ou que preencheram, de acordo com o DSM IV (2002), os aspectos

para uso abusivo de substâncias psicoativas, ou seja, de forma

esporádica ou habitual.

Foi apl icado um questionário em local previamente definido com

cada participante, e a escolha do local foi criteriosa, de maneira que foi

possível coletar os dados, de forma sigilosa, sem interferência de

barulho e nem de terceiros.

Foram uti l izados papéis sulf ite tamanho A4, lápis preto número 2,

computador e cronômetro.

O instrumento de investigação foi colhido através do questionário

estruturado. A aplicação do questionário consist iu em um roteiro de

questões, composto de perguntas fechadas e 1 (uma) aberta, que

estavam relacionadas por tópicos previamente definidos.

A seleção da amostra para a pesquisa foi feita através da técnica

de “bola-de-neve” 1

1 Snowball Sampling (BERNARCKI e W ALDORF, 1981).

. Este método permite a definição de uma amostra

através de referências feitas por pessoas que comparti lham ou

conhecem outras que possuem mesmas características de interesse da

pesquisa. Para o recrutamento de participantes os primeiros foram por

indicação pessoal, por contato direto por meios eletrônicos e pela

Page 15: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

técnica “Snowball Sampling”, onde os participantes indicaram outros

participantes, que por sua vez indicararam outros. Esta técnica foi

utl izada por ser particularmente adequada de fenômenos sociais em

áreas de ilegalidade.

Primeiramente foi feito um contato com um usuário, o qual foi o

participante inicial. A part ir dele, foi solicitado a indicação de mais

participantes e assim sucessivamente, não necessariamente nesta

ordem, até chegar no número total da amostragem.

Os participantes, inicialmente, foram contatados por telefone,

através de portal de relacionamento ou por moderador de mensagens

instantâneas, e convidados a part icipar da pesquisa. O convite tendo

sido aceito, era agendado data e local para o primeiro contato. Para

cada um dos part icipantes foi solicitado a indicação de outros, que

façam parte de seu círculo de amizade e com as características de

interesse para a pesquisa.

No momento em que foi feito o contato com o participante, o

pesquisador se apresentou, como estudante de psicologia e explicou o

seu interesse no contato e que se tratava de um trabalho acadêmico e

disse quem o indicou. Com a concordância e disponibil idade do

participante, foi agendado dia, horário e local para a apresentação

pessoal e a posterior aplicação do questionário, de acordo com a

disponibil idade de cada um.

Os part icipantes foram informados sobre o caráter da pesquisa,

cujas informações obtidas pelas coletas de dados seriam selecionadas

para se compor um trabalho acadêmico. Em seguida foi apresentado o

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi l ido e

assinado.

O tempo de duração da aplicação do questionário foi de, no

máximo, 60 minutos, e o anonimato dos participantes foi garantido

através da não identif icação da folha de respostas.

O método de pesquisa adotado foi o quantitat ivo, com o qual

pertende-se procurar identif icar um padrão de comportamento ou

opinião, assim como o desvio em relação a este padrão, através de

coleta de informações e do tratamento estatíst ico. O procedimento

Page 16: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

quantitativo foi escolhido por ser neutro, l ivre de juízos de valores,

objetivo e lógico.

O questionário era constituido por perguntas fechadas com

alternativas que deveriam prever quase todas as possibi l idades de

respostas e, se fosse necessário, uma opção de alternativa aberta,

para aquelas respostas que nao se adequaram dentre as opções

sugeridas.

Houve, também, no questionário, uma pergunta aberta, na qual o

participante pode dissertar sobre assuntos e temas abordados nas

questões fechadas. Neste momento esperava-se que o sujeito pudesse

expor conteúdos relacionados às questões das exigências sociais e do

contexto do uso da droga.

Esta pesquisa seguiu as normas éticas estipuladas pela

Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre Pesquisas

em Seres Humanos.

Esta pesquisa foi encaminhada para o Conselho de Ética,

garantindo o sigi lo, anonimato e desistência do participante, para que

não oferecesse qualquer r isco ao mesmo. Além disso, os dados foram

util izados para f ins de pesquisa, podendo ser divulgado em reuniões e

revista científ ica.

No decorrer da pesquisa, caso fosse necessário, poderia o

entrevistado, se quisesse, ter sido encaminhado para um

acompanhamento psicológico. Não houve a demanda e nem hoveram

interessados.

Page 17: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

3. AS DROGAS: SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

3.1. Definição

Def inir o que é droga depende de vár ios fatores e de quem está def inindo. Se for um adolescente que exper imentou pela primeira vez e gostou, vai nos dizer que é o “maior barato”. Uma def inição popular interessante é a de Yoko Ono, viúva de John Lennon, ela disse: “Droga é tudo aqui lo que faz mal ao homem e à mulher, inclusive dinheiro, trabalho, comida, sexo e outros prazeres ‘curt idos’ de forma abusiva”. (ADAILTON, 2009, p.55)

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1981) define “droga”

como “qualquer substância capaz de modif icar a função dos organismos

vivos, resultando em mudanças f isiológicas ou de comportamento”. Se

o cri tério para definir drogas for esse, então os remédios receitados

pelos médicos, a maconha, a cocaína, o tabaco, o álcool, o chocolate e

o café também são drogas.

Estas definições, consequentemente, nos trazem certa “confusão”

para compreender e separar as drogas. Por conta desta dif iculdade,

foram criadas as classif icações de “drogas lícitas” e “drogas il íci tas”.

A questão é que toda droga pode prejudicar a saúde, se for usada

de forma abusiva. Há um alto índice de mortes pelo o uso do tabaco e

do álcool, são drogas lícitas, de fácil acesso e que comprometem a

vida de muitos.

De acordo com Adailton (2009), nem toda droga é psicotrópica,

mas toda droga psicotrópica age na mente, diretamente no Sistema

Nervoso Central (SNC).

A palavra “droga” engloba todas as substâncias tóxicas que exercem efeito sobre a mente, sobre a psique alterando a sua normalidade (vem daí o termo psicotrópico, junção das palavras psico = mente e trópico ou tropismo = atração). Droga

Page 18: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

psicotrópica, portanto é droga que tem atração pela mente; age na mente. (ADAILTON, 2009, p. 56)

Adailton (2009) nos mostra que através do conhecimento de como

as drogas agem na mente, é possível entender melhor como as

mesmas transformam funções f isiológicas, psicológicas ou

imunológicas do organismo de maneira transitória ou permanente.

3.2. Tipos

- Drogas estimulantes

As drogas est imulantes mais conhecidas são as anfetaminas e de

acordo com suas estruturas químicas podem produzir

psicoestimulações, alucinações e sedações. São capazes de

intensif icar o estado de alerta e produzir uma sensação de competência

e bem-estar. Muitos que já uti l izaram relatam um súbito estado de

euforia, mas, depois que os efeitos da droga acabam os usuários

podem cair em um estado de exaustão e depressão.

As anfetaminas geram hábito: os usuár ios podem vir a acreditar que não conseguem viver bem sem elas. Altas doses podem provocar suor, tremores, palpitações cardíacas, ansiedade e insônia – o que pode fazer com que tomem barbitúr icos ou outras drogas para combater esses efeitos. (MORRIS e MAISTO, 2004, p. 145)

As anfetaminas mais usadas são: Ecstasy, Efedrina, GHB, Ice ou

Crystal, Poppers, Speed, Cocaína, Crack, Merla e o Tabaco.

O Ecstasy é também conhecido como a “pílula do amor”, pois é

estimulante e alucinógena. Geralmente é muito consumida em raves 2

2 Rave: é um tipo de

e

baladas. Seus efeitos duram de oito a doze horas.

festa que acontece em sítios, chácaras, fazendas (longe dos centros urbanos) ou galpões, com música eletrônica. É um evento de longa duração, normalmente acima de 12 horas, onde DJs e artistas plásticos, visuais e performáticos apresentam seus trabalhos, interagindo, dessa forma, com o público.

Page 19: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Efedrina é anfetamina sintét ica, uti l izada para emagrecimento,

para não sentir o cansaço ou aumentar o efeito do ecstasy. Pode

causar depressão, ansiedade e pânico.

GHB é usado como sedativo, e geralmente é diluído em bebidas

para que o usuário perca o nível de consciência, de memória, mas

esteja acordado para fazer o que lhe pedem e depois não se lembra de

nada do que aconteceu. Portanto, na maioria da vezes é uti l izado para

sedar pessoas com intuito de estrupá-las, violentá-las e etc.

Ice ou Crystal é anfetamina pura, os usuários buscam euforia,

bem-estar, aumento de energia, agitação física, pensamento rápido.

Com a util ização desta droga o indivíduo pode se tornar agressivo e

violento, principalmente pela paranóia provocada. É uma droga

perigosa pois pode provocar convulsões, derrames, coma e morte

súbita.

Poppers, mais conhecida como “gás hi lariante”. Seus usuários

buscam euforia, sedação leve e aumento do prazer sexual. Pode

causar sufocação e coma.

Speed, é uma droga sob a forma de pó branco, por isso também é

chamada de “cocaína dos pobres”, sendo que seus efeitos são

parecidos com os do ecstasy.

Já a cocaína é a droga que predomina no mundo do crime. Pode

ser inalada ou injetada. O uso de cocaína pode desencadear surtos

paranóides, crises psicót icas e condutas perigosas. A inalação deixa

lesões graves no nariz, a injeção deixa marcas de picada e há também

o risco de contaminação por outras doenças (DST/aids).

Merla é feita com água de bateria de carro, ácido sulfúrico,

querosene, gasolina, benzina, metanol, cal virgem, éter e pó de giz. È

uma droga extremamente destrutiva poque pode provocar hemorragia

cerebral, alucinações, delírios, convulsão, enfarte cardíaco e morte.

Crack é feito de subprodutos da extração de cocaína. Atinge o

cérebro em menos de dez segundos, gerando uma excitação que dura

de cinco a vinte minutos, seguida de rápida depressão. Leva uma

dependência quase imediata.

Page 20: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

- Drogas depressoras São substâncias químicas uti l izadas para retardar o

funcionamento do organismo por meio da aceleração ou desaceleração

dos impulsos nervosos. As mais conhecidas são álcool; barbitúricos e

tranquilizantes e opiáceos.

O álcool é sempre depressor do Sistema Nervoso Central (SNC).

De acordo com Tiba (2007), em pequenas quantidades deprime o

superego – responsável pela ética e por condutas sociais adequadas,

tornando as pessoas aparentemente mais l ivres e eufóricas.

A droga psicoativa uti l izada mais frequentemente nas sociedades

ocidentais é o álcool, pois é de fácil acesso e seu alto potencial pode

gerar dependência acarretando graves problemas de saúde.

Os barbitúricos e tranquilizantes, são medicações prescritas por

médicos, mas também são util izadas como drogas.

O efeito das primeiras doses de barbitúricos é de calma, sonolência ou sono, dependendo da dose empregada. Com o uso continuado, surge tolerância rápida aos efeitos sedat ivos e a dose tende a aumentar. ( . . .) A dependência f isiológica dos barbitúricos desenvolve-se em cerca de 5 a 8 semanas de uso continuado e a ret irada abrupta leva a uma grave síndrome de abst inência (. . .) . (GRAEFF, 1989, p. 107)

Os opiáceos são substâncias similares ou derivadas à semente

de papoula. Da papoula se extrai o ópio, que vai dar a morf ina, base

original da qual foi sintetizada a heroína. É altamente viciante e sua

aquisição é i legal.

Os sinais imediatos dos opiáceos são: euforia intensa, seguida de vár ias horas de tranquil idade e bem-estar, com devaneios e sensação de ausência de problemas, podendo diminuir ansiedades e angústias, atenção, pressão arter ial e com grande f requência causa náuseas e vômitos. (TIBA, 2007, p 316)

- Drogas alucinógenas

Page 21: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Os alucinógenos são drogas naturais ou sintét icas que provocam alterações de percepção do mundo exterior ou, em alguns casos, sensações de paisagens imaginár ias, cenár ios, seres que podem parecer mais reais do que o mundo exter ior. (MORRIS e MAISTO, 2004, p 146)

Esta droga produz um quadro psicótico art if icial e transitório,

pequenas quantidades produzem grandes efeitos que duram pelo

menos de seis a sete horas e tem um custo mais elevado que outras

drogas. Apresenta altos riscos para a vida dos usuários.

Apesar dos alucinógenos desenvolverem rápida tolerância, não se

desenvolve a dependência f ísica nem a síndrome de abstinência com

uso esporádico, mas facil ita o uso abusivo. Podendo desencadear

quadros psicót icos se os usuários já t iverem uma predisposição.

Os alucinógenos mais encontrados são: Akineton e Artane

(remédio usado para doença de Parkinson), Ayahuasca 3

De acordo com Tiba (2007), a neurociência comprovou

cientif icamente que maconha vicia, o que clinicamente já se sabia,

apesar de muitos tentarem disseminar o contrário. Há tempos se

observa que o usuário tende a consumir a maconha de modo crescente,

haja vista que a mesma provoca tolerância (há canabistas

, Chá de lír io

ou de Trombeta, Cogumelos, ácido lisérgico (LSD, droga sintét ica e

muito potente) e a maconha.

A droga ilegal mais uti l izada no mundo é a maconha, segundo a

ONU (TIBA, 2007). Um de seus ingredientes é o tetraidrocanabinol

(THC), que possui algumas propriedades químicas em comum com

alucinógenos, mas é bem menos potente.

4

3 Refere-se a uma

que fumam

de oito a doze baseados por dia), e seus usuários apresentam

síndrome de abstinência.

bebida ritual produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi (caapi ou douradinho), que serve como IMAO e folhas do arbusto Psychotria viridis (chacrona) que contém o princípio ativo dimetiltriptamina. A bebida é utilizada em rituais religiosos com o objetivo de induzir visões pessoais e estados alterados por meio da ingestão de uma substância. Era utilizada pelos incas e também por tribos indígenas da Amazônia. É utilizada em países como Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil. 4 Canabista: indivíduo que faz o uso de maconha. O termo canabistas vem do nome científico da droga, que é Cannabis Sativa, que é uma planta herbácea da família das Canabiáceas.

Page 22: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

3.3. Aspectos neurológicos

Silva e Laranjeira (2004) destacam a importância da compreensão

dos mecanismos de ação neurobiológicos das drogas de abuso por

permitirem entender diversas alterações comportamentais e

conseqüências sociais do aumento progressivo de seu consumo. E

muitas das consequências do uso da droga são de caráter cerebral, ou

seja, muitas das alterações comportamentais do usuário ocorrem pela

ação direta da substância no sistema nervoso central.

A droga dá prazer, se não desse não haveria vício, pois ninguém usaria a segunda vez. Não seria tão grave se esse prazer pudesse ser obt ido da mesma maneira e intensidade nas próximas vezes, como é o prazer do sexo ou da boa comida. O problema principal das drogas está no modo como o cérebro reage a elas: exige cada vez mais droga para cada vez menos prazer. (HERCULANO-HOUZEL, 2002, p.87)

O sistema de recompensa compreende regiões cerebrais (área

tegumentar ventral; núcleo accumbens e córtex pré-frontal)

relacionadas ao sistema límbico que é um sistema f i logeneticamente

muito antigo nos organismos vivos e presente em todos os vertebrados.

A dopamina é o neurotransmissor responsável pela comunicação

dos neurônios envolvidos no sistema de recompensa e um dos

principais neurotransmissores relacionados à sensação de prazer.

As drogas agem diretamente sobre o sistema de recompensa do

cérebro, aumentando a quantidade de dopamina disponível para ativar

o sistema. O resultado não é qualquer ativação: a dopamina circulante

de tal sistema pode chegar a ser dez vezes maior que a encontrada

durante prazeres cotidianos, vindos “de dentro”. E com tamanha

ativação, é apenas natural que a sensação de prazer proporcionada

pelas drogas seja “ inigualável”. É o êxtase, mesmo.(Ibid)

Estas informações nos ajudam a compreender melhor os

mecanismos f isiológicos envolvidos na droga como um estímulo que

Page 23: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

pode ter funções reforçadoras de alto valor. Pois o efeito prazeroso

conquistado pela uti l ização da droga no organismo ocorre a curto

prazo, mantendo o comportamento de auto-administração, entretanto

as consequências prejudiciais ocorrem tarde demais para terem um

efeito punitivo. Induzindo assim a uma dependência f isiológica intensa.

A dependência consiste numa verdadeira adaptação do organismo à presença cont inuada da droga, de tal forma que a sua ret irada desencadeia distúrbios f isiológicos muitas vezes acentuados, (. . .) . É tal o desconforto gerado por esta síndrome de ret irada ou síndrome de abstinência, que evitá- lo passa a ser motivação adicional para o uso cont inuado dessas drogas. (GRAEFF, 1989, p. 105)

Segundo Herculano-Houzel (2002), indivíduos diferentes têm

suscetibi l idades diferentes ao vício. Pesquisas com ratos contribuiram

para indicar de onde vem estas diferenças, pois uns f icavam

prontamente viciados e outros não. Algumas diferenças foram

apontadas no comportamento e na química cerebral dos animais.

Os predispostos ao vício, eram aqueles que reagiam a um novo ambiente com agitação e buscavam novidade, variedade e est imulação emocional, e os que não vic iam exploravam o ambiente tranquilamente. E na química cerebral, os responsivos exibiram uma hiper-at ivação dopaminérgica generalizada do sistema de recompensa: o número de receptores é reduzido. A química cerebral dos animais responsivos deve contr ibuir para a propensão ao vício, mas a resposta exagerada ao estresse parece ser a chave. (HERCULANO-HOUZEL, 2002, p.91 e 92)

Page 24: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

4. DROGAS E A SOCIEDADE

4.1.Momento Histórico

Em quase todas as culturas cohecidas ao longo da história, as

pessoas buscaram maneiras de alterar a consciência desperta, a

ingestão de drogas vem de longa data.

A ação das drogas sobre o organismo é estudada pela

Farmacologia, ciência bastante antiga, que entre os primit ivos se

misturava com a magia. Conhecia-se a ação curativa ou anestésica de

certos extratos vegetais e os alteradores da consciência t inham as

vezes funções mágico-religiosas.

De todas as substâncias psicoativas, o álcool é a que tem a mais longa histór ia de uso general izado. Evidências arqueológicas sugerem que grupos da Idade da Pedra começaram a produzir hidromel (mel fermentado, codimentado com seivas ou f rutas), há cerca de 10 mil anos. Egípcios, babilônios, gregos e romanos consideravam o vinho como uma “dádiva dos deuses”. (MORRIS E MAISTO, 2004, p. 135)

Morris e Maisto (2004) ressaltam que na Bíblia o produto – vinho

- também é muito citado; na Idade Média recebeu o nome de “água da

vida”; até no século XIX a maioria dos ocidentais bebia álcool como

acompanhamento em todas as refeições e entre elas, como bebida

estimulante, além de servi- lo em ocasiões sociais e religiosas.

Há mais de 4000 anos a.C. os Sumerianos (atual Irã), uti l izavam

a papoula de ópio como a "planta da alegria", que traduzia o contato

com os deuses. Há 500 anos a.C. o povo Cita (habitantes do Rio

Danúbio / Rio Volga - Europa Oriental), queimavam a maconha

(cânhamo) em pedras aquecidas e inalvam os vapores dentro de suas

barracas ou tendas. Aproximadamente no ano de 1500, o Cactus

Peyoteera era ut i l izado em cerimônias religiosas (no descobrimento da

América). O ópio foi por muito tempo cult ivado l ivremente por

Page 25: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

camponeses, por volta do século XVI, como fonte de alívio de sua tr iste

real idade sofredora. Na mesma época, os espanhóis uti l izavam as

drogas alucinógenas como uma forma de auto-cast igo, pois para este

povo, droga signif icava "demônios".

Nos séculos XVIII e XIX, a Farmacologia tornou-se mais

científ ica, comprovando o efeito de vária drogas tradicionais como a

cânfora, quina ou coca, e descartando as inef icazes. A descoberta de

medicamentos naturais prosseguiu com os antibióticos, extraídos de

fungos, e os tranqüil izantes, extraídos de plantas.

O ópio (morf ina / anestésico) incentivado na guerra civil

americana (1776) era uti l izado para fornecer alívio à dolorosa vida dos

soldados.

A primeira droga sintética ut i l izada pela medicina foi o hidrato de

cloral 5

5 É uma droga

, em 1869. A partir daí os remédios, antes extraídos de ervas

pelo boticário, começaram a ser fabricados por grandes indústrias.

Durante a 2ª Grande Guerra Mundial, receitas de anfetaminas

(est imulantes) eram util izadas para combater a fadiga.

Em 1960 foi o auge do LSD (a era dos ácidos), muitos psiquiatras

receitavam impiedosamente o consumo deste tipo de droga. Em 1970

prol iferação da cocaína e seus derivados, entre eles o "crack", e mais

recentemente aparecendo o ecstasy, deveras popular entre as classes

média e alta.

4.2 As drogas na sociedade atual

Na maioria das culturas, as substâncias eram usadas como parte

de rituais rel igiosos, como remédios, bebidas nutrit ivas ou

estimulantes. Na atualidade os motivos para o uso de drogas

psicoativas mudaram, em nossa sociedade o uso é primordialmente

recreativo.

sedativa e hipnótica, assim como um reagente químico e precursor de sínteses orgânicas.

Page 26: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

As próprias drogas mudaram, hoje as substâncias psicoativas são

em geral mais fortes do que aquelas uti l izadas em outras culturas e em

outras épocas. Parece improvável que a humanidade em geral seja algum dia capaz de dispensar os “Paraísos Artificiais”, isto é, a “...busca da autotrancedência através das drogas” ou "...umas férias químicas de si mesmo. [...] A maioria dos homens e mulheres levam vidas tão dolorosas – na pior das hipóteses – ou tão monótonas, pobres e limitadas – na melhor delas – que a tentação de transcender a si mesmos, ainda que por alguns momentos, é e sempre foi um dos principais apetites da alma. (HUXLEY apud GRAEFF, 1989, p.101)

4.3. Política Pública sobre drogas no Brasil e em alguns países

A posse de drogas deixou de ser crime na Espanha, Portugal, Itália, República Tcheca, nos três países bálticos6, na Argentina, México e Colômbia. Praticamente todos os outros países europeus, embora teoricamente mantenham a proibição, estão deixando de prender gente pelo uso de drogas. Um bom exemplo é o Reino Unido, onde a posse de maconha continua criminalizada, mas apenas 0,2% das pessoas pegas com a droga vai para a cadeia. (O Brasil não tem números confiáveis, mas também aqui usuários de maconha raramente vão presos.) Nos EUA, já são 14 os Estados que adotaram a descriminalização – o mesmo aconteceu em vários Estados alemães e canadenses, territórios australianos e cantões suíços. (BURGIERMAN, 2009)7

6 Região no nordeste da

Burgierman (2009) destacou o caso de Portugal que em 2001

descriminalizou a posse e o uso de drogas. Desde então, nem o

consumo nem o número de usuários cresceu, mas a quantidade de

gente procurando ajuda médica para combater a dependência

aumentou.

Descriminalizar as drogas, aparentemente teve um impacto

posit ivo em quase todos os lugares que tentaram.

Europa, na costa leste do mar Báltico, onde estão localizados os estados da Lituânia, Letônia e Estônia. 7 Disponível em <http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/drogas/o-brasil-na-moda-a-a-legalizacao-das-drogas>. Acessado em 11/05/2010

Page 27: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

“Af inal, o uso de drogas está deixando de ser crime, mas a venda

continua i legal. Portanto, continua havendo o incentivo para que

organizações criminosas se f inanciem com esse comércio.”

(BURGIERMAN, 2009) 8

As FARC ou FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia–Exército do Povo) é uma organização de inspiração marxista que atua mediante táticas de guerrilha e lutam pela implantação do socialismo na Colômbia.(...) A organização já na década de 1980 envolveu-se no

tráfico ilícito de entorpecentes. (...) controlam a maior parte do refino e distribuição de cocaína dentro da Colômbia, sendo responsável por boa parte do suprimento mundial de cocaína e pelo tráfico dessa droga para os Estados Unidos.9

Há divergências ao que se refere às FARC, pois alguns governos como

Colômbia, EUA, Canadá e União Européia consideram as FARC uma

organização

terrorista, e há governos como Equador, Bolívia, Brasil, Argentina e Chile que não

lhes aplicam esta classificação.

Quanto ao Brasil propriamente dito, Garcia, Leal e Abreu (2008) ressaltaram

que o debate sobre drogas que tem sido organizado em torno de discursos

científicos que tendem a configurar a questão ora como problema de segurança

pública (relacionado ao tráfico e à repressão), ora como problema de saúde pública

(relacionado à repressão da demanda por um lado e à redução de danos por outro).

Posto isso, em 2003, o Governo Federal brasileiro implantou como Programa

estratégico, O Segundo Tempo, já passou por várias mudanças, que têm por

objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte de forma a promover

o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de

formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, priorizando áreas de maior

vulnerabilidade social. O esporte pode ser um caminho pacífico no combate às

drogas e é mais eficaz que punições severas.

Estabelecer políticas públicas sobre drogas é considerar a formulação e execução, pois sem ações, sem resultados, não há garantia de sua efetivação. É exigir que o Estado implante

8Disponível em <http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/drogas/o-brasil-na-moda-a-a-legalizacao-das-drogas>. Acessado em 11/05/2010 9Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Forças_Armadas_Revolucionárias_da_Colômbia#cite_note-17>. Acessado em 11/05/10

Page 28: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

um projeto de governo, através de programas e de ações voltadas para setores específicos envolvidos com a temática. Entre as expectativas de mudanças, espera-se: uma política que articule uma proposta de prevenção ampla, preservadora dos direitos humanos, permanente e realista; que dê atenção aos usuários de drogas, reduzindo os danos à sua saúde e à sociedade (doenças como AIDS e Hepatites, overdoses, dependência e mortes violentas, acidentes de trânsito e de trabalho, entre outros); que promova a inserção de grandes setores da sociedade, proporcionando alternativas de vida e evitando deixá-los à mercê do tráfico como forma de subsistência. (MESQUITA Apud GARCIA; LEAL; ABREU, 2008)10

10 Disponível em <

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822008000200014>. Acessado em 12/05/2010

Page 29: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

5. FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DE DROGAS

Há uma complexidade nas causas do abuso e da dependência de

substâncias químicas, pois resultam de uma combinação de vários

fatores: biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Considerando tudo

isso, também variam em relação a pessoa e droga ut l izada.

De acordo com alguns autores, o fato de uma pessoa usar uma

droga psicoativa e quais os efeitos que essa droga produzirá também

dependerá das expectativas dessa pessoa, do seu contexto social de

crenças, e valores culturais.

O contexto no qual as drogas são uti l izadas é outro determinante

importante de seus efeitos. Hoje em dia, muitos jovens acham que só

vão se divertir se consumir álcool ou usar alguma droga, acham que

precisam fazer isso para vencer sua timidez social e serem aceitas ou

para esquecer totalmente dos seus problemas por alguns instantes.

De acordo com Schenkere e Minayo (2004), há alguns estudos

que nos ajudam a entender como a famíl ia está envolvida no

desenvolvimento saudável, ou não, de seus membros, já que ela é

entendida como sendo o elo que os une às diversas esferas da

sociedade. Os estudos apontam para a complexa inf luência da famíl ia,

da escola e do grupo de amigos no caso da manifestação do uso

abusivo de drogas, principalmente na adolescência.

O ambiente familiar acaba por inf luenciar o jovem a experimentar

as drogas ut il izadas pelos pais e parentes próximos, característica esta

que preocupa, uma vez que o uso cotidiano de álcool e tabaco no

ambiente doméstico é elevado.

Estudos mostram que há fatores de riscos que podem levar à

indução dos jovens ao consumo de drogas, como por exemplo: baixo

nível de escolaridade, salário que não é suf iciente para satisfazer

necessidades básicas, conflitos intra e interfamil iares, falta de

Page 30: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

discipl ina, falta de diálogo entre os membros da famíl ia e baixa

expectativa do futuro educacional dos f i lhos.

A droga é usada hoje: por simples cur iosidade; como uma aventura sem compromisso, dada a banalização de seu uso; na busca do prazer sem preocupação com os r iscos; para o jovem mostrar perante seus amigos que é corajoso e destemido fazendo o que t iver vontade; por imaginar que vai só exper imentar sem tornar-se um vic iado; por pensar que se usar uma vez só nada de mal lhe acontecerá; por falhas na educação e por baixa auto-est ima, que faz o jovem absorver comportamentos indesejáveis de seus conviventes. (TIBA, 2007, p.126)

Não existe uma regra geral que explique todos os casos, mas,

conforme Morris e Maisto (2004), os psicólogos identif icaram diversos

fatores que, especialmente se combinados, aumentam a probabil idade

de que uma pessoa venha a usar drogas em excesso.

Page 31: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

6. O USUÁRIO DE DROGA

6.1. Dependência

Diante das angústias e sofrimentos os seres humanos tendem

muitas vezes a buscar alívio imediato de maneira autotranscendente ou

simplesmente dando “férias” a si mesmo através do uso de substâncias

psicoativas. Freud (1955) diz que, além do prazer, a droga propicia um

certo de grau de independência do indivíduo em relação ao meio

ambiente. Isto visto pelo lado psicológico.

Pelo lado f isiológico as drogas atuam diretamente nas vias

neurológicas, nos sistemas de recompensa. Elas são responsáveis pela

motivação, estimulação, comportamento, entre outras funções

sensoperceptivas e cognit ivas do ser humano.

Têm-se, então, a busca pelo equil íbrio psicológico, e muitas

vezes f isiológico, através da dependência do uso de drogas. O vício

está mais relacionado ao estado mental ou à interação entre corpo e

mente. Por isso, seu uso e abuso estão int imamente ligados aos

reforços instalados, e que o ato de consumir drogas está sujeita às

pressões internas e externas do indivíduo, às internalizações durante

seu desenvolvimento (seu meio ambiente), e a uma necessidade

imediatista do corpo de repor aquilo que lhe falta, uma forma de lidar

com o cotidiano que lhe causa muita angústia.

6.2. Conceito de Uso

Definiremos o Uso como qualquer consumo de substância feita de

forma experimental, ocasional, esporádica ou regular, feita de maneira

moderada e não representando, necessariamente um padrão desviante

Page 32: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

ou causador de prejuízo ou sofrimento clínico. De forma que não

caracterize abuso ou dependência.

6.3. Conceito de Abuso

De acordo com Graeff (1989), se considera abuso a auto-

administração de uma droga que desvia dos padrões sócio-culturais

aceitos. Deve-se levar em conta os fundamentos de auto-administração

e os padrões de uso de drogas numa determinada sociedade e numa

determinada época histórica. Em 2005 Graeff, juntamente a Guimarães,

f izeram uma leitura do DSM IV (1994) sobre o abuso de substâncias,

este que é caracterizado pelo uso de forma recorrente e desaptada,

isso levando em conta os problemas sociais, legais e familiares do

indivíduo, causando disfunção ou doença signif icativa.

Encontramos como definição de abuso de substância, de acordo

com DSM IV(2002):

“A. Um padrão mal-adaptat ivo de uso de substância levando a prejuízo ou sofr imento cl in icamente signif icat ivo, manifestado por um (ou mais) dos seguintes aspectos, ocorrendo dentro de um período de 12 meses: (1) uso recorrente da substância resultando em um fracasso em cumprir obrigações importantes relat ivas a seu papel no trabalho, na escola ou em casa (por ex., repetidas ausências ou f raco desempenho ocupacional relacionados ao uso de substância; ausências, suspensões ou expulsões da escola relacionadas a substância; negl igência dos f i lhos ou dos afazeres domésticos); (2) uso recorrente da substância em situações nas quais isto representa perigo f ís ico (por ex., dir ig ir um veículo ou operar uma máquina quando prejudicado pelo uso da substância); (3) problemas legais recorrentes relacionados com o uso de substâncias (por exemplo: prisões por conduta imprópria relacionadas a substâncias) (4) uso cont inuado da substância, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos da substância (por ex., discussões com o cônjuge

Page 33: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

acerca das conseqüências da intoxicação, lutas corporais). B. Os sintomas jamais sat isf izeram os critér ios para Dependência de Substância para esta classe de substância.”

Sendo que os sintomas de abuso jamais devem satisf izer os

critérios para dependência de substância para determinada classe de

substância.

Há ainda uma subdivisão, informal, do conceito de abuso, feita

pelo autor Tiba (2007), onde ele separa em dois grupos: o dos usuários

esporádicos e o dos usuários habituais. Ele ut i l iza argumentos como

ritmo de evolução, a intensidade do uso, os locais de util ização, a

posse da substância pelo usuário, o uso feito de forma coletiva ou

individual, exposição a riscos, entre outros de maneira a designar,

dentro do conceito de abuso, essa diferença entre esse dois t ipos de

usuários. O abuso compreende, de acordo como DSM IV, aspectos

siginif icat ivos mas de menor perturbação e prejuízo para o sujeito.

6.4. Conceito de Dependência

Graeff (1989), cita a definição da Organização Mundial de Saúde

(OMS), eladorada em 1974, para definir a dependência, onde a OMS

diz que “a dependência de drogas é um estado mental e, muitas vezes,

f ísico, que resulta da interação entre um organismo vivo e uma droga”.

Interação que pode ser subdivida em dependência f ísica e psíquica. Ele

acrescenta que para uma determinada droga levar o indivíduo à

dependência é necessário que cause efeitos centrais de natureza

psicológica. Quanto à sua leitura do DSM IV (1994), junto ao

Guimarães (2005), a definição para dependência é de um padrão

desadaptado de uso de drogas, levando a perturbações graves,

dif iculdade de controlar o comportamento adicto, sofrem de abstinência

e apresentam tolerância aos efeitos da droga.

Encontramos como definição de dependência de substância, de

acordo com DSM IV(2002):

Page 34: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

“Um padrão mal-adaptat ivo de uso de substância, levando a prejuízo ou sofr imento cl in icamente signif icat ivo, manifestado por três (ou mais) dos seguintes critér ios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses: (1) tolerância, def inida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. uma necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquir ir a intoxicação ou efeito desejado. b. acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância; (2) abst inência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a. síndrome de abstinência caracter íst ica para a substância. b. a mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para al iviar ou evitar sintomas de abstinência; (3) a substância é f reqüentemente consumida em maiores quant idades ou por um período mais longo do que o pretendido; (4) existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância; (5) muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância (por ex., consultas a múlt iplos médicos ou fazer longas viagens de automóvel), na ut i l ização da substância (por ex., fumar em grupo) ou na recuperação de seus efeitos; (6) importantes at ividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância; (7) o uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema f ísico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora o indivíduo reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo continuado de bebidas alcoól icas, embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou pelo consumo do álcool). Especif icar se: - Com Dependência Fis iológica: evidências de tolerância ou abstinência ( isto é, presença de Item 1 ou 2). -Sem Dependência Fis iológica: não existem evidências de tolerância ou abstinência ( isto é, nem Item 1 nem Item 2 estão presentes).”

Page 35: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

7. CONSEQUÊNCIA DO USO

7.1. Problema de Segurança Pública x Problema de Saúde Pública

A pouco tempo atrás o adicto era visto como delinquente, ou

marginal, e se acreditava que a solução era a sua reclusão do convívio

social.

É reconhecido que as consequências da manufatura, da síntese,

do tráf ico e uso de drogas resultem em ameaça ao bem-estar coletivo,

e o Estado age, uniformente, contra estes problemas de maneira

punitiva.

A concepção delineada antigamente no Código Penal configurava

uma perspectiva criminalizadora do consumo de drogas. Houve um

período que prevaleceram as ações governamentais de enfoque

repressivo, que buscou controlar o tráf ico e o consumo de substâncias

psicoativas, enviando para a prisão tanto traf icantes como usuários,

dando tratamento igual aos dois.

Cirino e Medeiros (2006) destacam que, quando o usuário é

considerado como delinquente, tanto a prevenção quanto os

tratamentos se basearão num aspecto mais repressivo. A prevençao é

feita de modo que as mensagens amedrontem e o tratamento é a

prisão, seja em cadeias, clínicas especial izadas ou internações

compulsórias em hospitais psiquiátricos.

Norteador dessa linha de conduta com o usuário é o pensamento

de que a conduta de consumir drogas de abuso resulta em lesão a um

bem jurídico e que este se situa na esfera do patrimônio jurídico de um

sujeito diferente daquele que seja usuário de drogas.

Page 36: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

O filme “Tropa de Elite” 11

Analisando por este ponto de vista, seria o adicto culpado pela

falta de segurança pública? Uma vez que, sendo considerado enfermo,

poderia passar de culpado para vít ima do próprio sistema, ou como

(2007) e a Revista Veja (2009, ed.2136)

levantaram uma discussão sobre um dos possíveis culpados pela

violência l igada às drogas, que seria o consumo. Logo o consumidor

que teria a culpa pelo tráf ico e, por consequência, responsabilidade

sobre os traf icantes que geram a violência urbana. O usuário seria o

f inanciador direto dessa violência.

Com a nova Constituição (05/10/1988), o tráf ico de drogas é

definido como crime inaf iançável, prevendo-se o confisco dos bens de

traf icantes e a autorização para expropriação de terras empregadas no

plantio i l ícito. Por outro lado, descriminaliza o usuário e torna-se

obrigação do Estado manter programas de prevenção e assistência a

usuários de drogas, de acordo com Garcia, Leal e Abreu (2008). A

partir desse ponto o adicto passa de criminoso para doente, fazendo o

uso passar de crime para patologia.

O usuário sendo caracterizado como doente acarreta um modelo

de atenção dir igido a alguém que requer cuidados, geralmente de

ordem médica e/ou psicológica, necessitando de medicação e

tratamentos de desintoxicação.

Se por uma lado essa mudança traz uma visão menos agressiva

em relação ao usuário, por outro não deixa de ser preconceituosa e

tendo suas limitações, tal como, nada fazerem contra os motivos e os

incentivos que levam tantas pessoas a fazerem uso de substâncias

psicoativas. Kalina e Kovadloff (1980) colocam o drogadcito como uma

versão f iel e l iteral do mundo onde vive, onde o valor da sociedade

moderna se baseia na produção e consumo de coisas. Essa mesma

sociedade que reprime e patologiza o adicto é a mesma que fomenta a

adicção.

11 “Tropa de Elite” é um filme brasileiro de 2007, dirigido por José Padilha, que tem como tema a violência urbana na cidade brasileira do Rio de Janeiro e as ações do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

Page 37: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

denunciante de cumplicidade, e submissão, entre o indivíduo e a

sociedade, que é mantenedora da conduta adicta.

O toxicômano renuncia à análise e ao questionamento; sendo

assim não faz diferença como o Estado o vê, porque ele só irá ver sua

angústia e sua onipotência para resolver o fato, de forma fantasiosa e

rápida.

7.2. Exigências Sociais

As exigências sociais são claramente afetadas no viciado,

principalmente dentro do contexto famil iar.

A família é a que mais sofre, isso porque o sujeito se afasta dos

outros círculos sociais ao qual pertencia anteriormente. Há um

afastamento da escola/faculdade (passa a encabular aula para sair

e/ou usar drogas), há o distanciamento dos amigos que não util izam,

brigas na rua por motivos banais se tornam frequentes, faltas e

problemas no trabalho (seu desempenho cai, podendo vir a ser

demitido), o diálogo com a família muda e seus relacionamentos

amorosos são igualmente prejudicados.

A família tem um importante papel tanto na motivação, como

sendo mantenedora desse comportamento, quanto na superação,

recuperação da dependência de substâncias.

As pessoas que fazem uso abusivo ou são dependentes de

substância psicoativa apresentam perturbações em todos os campos de

suas relações sociais, em níveis diferentes, e com suas particula-

riedades.

De acordo com Tiba (2007), em jovens estudantes é comum que

os que fazem uso de drogas passem a apresentar desinteresse, notas

baixas, brigas na escola, atos de vandalismo, tendem a ter elevados

números de faltas e evasão escolar. Ele passa a não ter estímulo para

estudar, e passa a preferir a rua, a turma e as drogas.

Page 38: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

O usuário de qualquer idade quando passa a consumir drogas

começa a andar com a turma nova, a turma dos que usam, e

respectivamente a isto, deixa de andar com a turma antiga, a dos

“caretas”, porque estes provavelmente irão crit icar sua nova forma de

agir ou poderão eles mesmos excluí-lo do grupo por ser drogado. Nesta

galera nova pode haver pessoas que fazem mais do que usar drogas,

por exemplo criminosos de verdade que podem inf luenciar o sujeito a

fazer atividades ilegais ou ampliar as possibi l idades de algo acontecer

de ruim, num âmbito policial ou de violência em geral.

Desentendimentos passam a ser comuns, o estado alterado não

permite que o adicto perceba que está agindo de forma agressiva. As

discussões e empurrões podem ser rot ineiras, sua percepção e

cognição alteradas podem resultar num desentendimento referente aos

atos ou at itudes de outrem, ou simplesmente podem surgir paranóias,

delír ios e alucinações que impelem o sujeito a violência.

Como um dos principais problemas sociais, Tiba (2007) aponta

para o campo profissional, onde cai o rendimento, sua atenção e seu

raciocínio não são mais tão velozes e ef icazes. Faltas por causa de

ressaca e indisposição por noites em claro passam a ser comum, faltas

não justif icadas e a apresentação pessoal deteriorada podem ser

determinantes para a sua demissão do cargo.

Os relacionamentos dos drogadictos passam a ser quase que

exclusivamente com pessoas que também fazem o uso de substâncias.

Quando isso não ocorre é comum que hajam discussões que levem ao

rompimento da relação ou até mesmo ao ponto de agressão física. E

quando os dois fazem uso de drogas pode haver discussões tanto pela

diferença de frequência ou ritmo de cada um, quanto pela disputa pela

própria droga. Tentam criar acordos de uso e estratégias de

recuperação, acordos rompidos e estratégias falidas acabam por

detonarem mais angústia e, um incentivando o outro, caem facilmente

em recaídas ou quadros violentos e criminosos. No caso de um casal

de usuários, acabam por viver numa montanha-russa com a emoção, o

parceiro e a droga.

Page 39: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

É possível verif icar nas obras de Tiba (2007), Kalina e Kovadloff

(1980) e Cirino e Medeiros (2006), que a família está num ponto central

em relação à adicção. Seja pelo uso de drogas que pode surgir como

forma de contestação ou separação dos pais, ou por inf luência de pais

que fazem uso de drogas, ou pela negligência familiar, como sintoma

de problema familiar, etc. Das exigências sociais citadas a mais

siginif icante é a da familiar, por ela ser a primeira sociedade de que

f izeram parte, os familiares criam expectativas a seu respeito, fazem

cobranças, cuidam e de forma geral apl icam e dedicam energia

psíquica e f ísica no indivíduo.

Cada pessoa que passa a usar drogas tem uma vivência diferente

em casa, na família. Alguns pais são intolerantes e podem chegar a

expulsar de casa o f i lho, outros podem entender aquilo como não

prejudicial ao f i lho em virtude de não atrapalhar os estudos ou

trabalho, e passa a permirtir que se faça o uso “moderado” até mesmo

dentro de casa.

No caso de dependentes a procura por ajuda especializada é

fundamental pelo fato de o dependente apresentar, não somente perigo

para ele mesmo, mas como para toda a sua família. A recuperação em

muitos casos depende justamente do apoio familiar, é a suposta

responsabil idade que o indivíduo sente a respeito de sua família, sobre

a felicidade deles, que leva algumas pessoas a criarem pensamentos e

atitudes para lutar contra a adicção. A presença da mãe nesse

momento é o de maior relevância por ser uma f igura central na vida do

sujeito.

7.3. ESTIGMA

Segundo Goffman (1963), no contexto histórico do surgimento do

termo, o est igma era referente a um sinal ou marca corporal que

evidenciava uma pessoa a ser evitada. Atualmente o termo é mais

Page 40: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

aplicado à própria desgraça. É a sociedade estabelecendo os meios de

categorizar as pessoas e os atributos comuns para cada categoria.

O termo estigma, portanto, será usado em referência a um atributo profundamente depreciativo, mas o que é preciso, na realidade, é uma linguagem de relações e não de atributos. Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem, portanto ele não é, em si mesmo, nem honroso nem desonroso. (GOFFMAN, 1963, p.13)

Ele ainda menciona que há três tipos de est igma: as abominações

do corpo, as culpas de caráter individual e os estigmas tribais de raça,

nação e religião. No caso do vício se enquadraria no segundo tipo,

onde as culpas são “(...)percebidas como vontade fraca, paixões

tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade(...)”.

(ibid, p.14)

Na sociedade contemporanêa ocidental, alguns indivíduos que

fazem uso de substâncias psicoativas parecem não se sentirem

marginalizados e depreciados, ou podem ter a sensação de que “todos”

fazem esse uso, logo, esse indivíduo se sentir ia dentro do “normal”,

conforme trecho abaixo:

O indivíduo estigmatizado tende a ter as mesmas crenças sobre identidade que nós temos; isso é um fato central. Seus sentimentos mais profundos sobre o que ele é podem confundir a sua sensação de ser uma “pessoa normal”, um ser humano como qualquer outro, uma criatura, portanto, que merece um destino agradável e uma oportunidade legítima. (ibid, p.16)

Além desse sentimento de normalidade, Goffman (1963) coloca

que o indivíduo estigmatizado, ao entrar numa situação social mista,

pode se retrair ou tentar se aproximar com agressividade, vaci lando

entre os dois comportamentos, e a agressividade pode provocar nos

outros respostas desagradáveis.

A estigmatização leva a um interesse de vida colet iva daqueles

que pertencem a uma categoria particular. No caso de usários, seja

para uti l izar ou para se tratar, cujo atr ibuto comum fortalece o vínculo e

incentiva (para usar ou recuperar).

Page 41: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

O que se sabe é que os membros de uma categoria de estigma particular tendem a reunir-se em pequenos grupos sociais cujos membros derivam todos da mesma categoria, estando esses próprios grupos sujeitos a uma organização que os engloba em maior ou menor medida. (ibid, p.32)

A “visibi l iadade” do estigma, nos usuários, vai depender de qual

substância é uti l izada, de como e por quanto tempo que é uti l izada,

classe social, meio social, entre outros fatores. Por exemplo, o usuário

esporádico de maconha muito se diferencia do dependente de crack.

O “encobrimento” é “onde o estigma é escrupulosamente invisível

e conhecido só pela pessoa que o possui, que não conta nada sobre

ele a ninguém” (ibid, p.84), e é importante para manter reservado seu

defeito diante de uma classe de pessoas e da polícia, mas se expõem

para “(.. .)outras classes sociais, ou seja, cl ientes, cúmplices,

contatos(...)” (ibid, p84-85).

Como resposta à situação que o estigmatizado se encontra,

desviante às normas sociais, ele busca os valores gerais de identidade,

e:

O fracasso ou o sucesso em manter tais normas têm efeito muito direto sobre a integridade psicológica do indivíduo. Ao mesmo tempo, o simples desejo de permanecer fiel à norma – a simples boa vontade – não é o bastante, porque em muitos casos o indivíduo não tem controle imediato sobre o nível em que apóia a norma. (ibid, p.138-139)

7.4. Tratamentos

Existem diversos t ipos de tratamentos para a dependência do uso

de drogas, tratamentos tanto psíquicos quanto f isiológicos, como por

exemplo a farmacoterapia, psicanálise, terapia comportamental, terapia

psicossocial, terapia familiar, estratégias de Redução de Danos, entre

outros t ipos de terapias.

Page 42: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Alguns dos principais t ipos de prof issionais especial izados que

atendem esta clientela são: médico, psiquiatra, psicólogo, assistente

social, enfermeiro entre outros prof issionais que atuam de forma

indireta, assim como os voluntários.

Mas, possívelmente, o melhor tratamento é o da prevenção e

conscientização, baseada na autoestima da pessoa e no equil íbrio

entre corpo e mente.

O tratamento está vinculado diretamente com o contexto, a

época, a abordagem e todo o âmbito psicossocial e cultural. O

tratamento deve variar de uma cultura para outra em virtude dos

valores agregados ao signif icado que o uso de drogas tem para aqueles

sujeitos daquela determinada sociedade. Depende também do ritmo,

frequência, intensidade e tolerância que o sujeito apresenta com a

substância uti l izada.

Em clínicas de recuperação, primeiramente é feita a higienização,

a desintoxicação, no usuário. Esta parte é a mais simples, a fase da

retirada, uma ação mecânica de extração da substância, que está no

corpo do indivíduo, e que é a geradora do transtorno. A segunda parte,

que é a mais dif ícil , diz respeito a manutenção. Neste momento o

indivíduo pode sofrer com a abstinência, podendo ter recaídas, gerar

ansiedade, depressão ou outro sintoma psíquico.

Graeff (1989) coloca que na farmacoterapia a mais usada é a

terapia de reposição, que consiste em usar a mesma droga, mas por

outra via de administração, ou outra droga com mecanismo de ação

semelhante, porém, com propriedades farmacocinéticas diferentes, que

sejam menos nocivas permitindo uma melhora na qualidade de vida.

Uma outra abordagem é o uso de antagonistas, que funcionam

bloqueando os receptores relacionados a substância de uso do

dependente.

As psicoterapias podem ajudar em casos de dependentes

considerados leves, mas Tiba (2007) acredita que deve-se trabalhar

juntamente ao tratamento farmacológico para obter sucesso em

dependentes graves. Isso para que possa ser feita a desintoxicação,

Page 43: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

util izar a farmacoterapia e a psicoterapia como formas de evitar

recaídas e amenizando as síndromes de abstinência.

Em Cirino e Medeiros (2006) é possível encontrar a estratégia de

Redução de Danos, que não é exatamente um tratamento, mas sim uma

capacidade de melhoria na qualidade de vida e na prevenção de

patologias mais graves. Ela consiste em conscientizar o usuário e dar

noções de saúde e higiene, pode ser feita através de campanhas ou

ações educacionais e se mostram eficazes como um primeiro contato

com estes usuários que, posteriormente, após terem adquirido mais

conhecimento, podem procurar o tratamento de recuperação através de

um processo tolerante e empático, respeitando a diversidade e o

momento de cada um.

Cirino e Medeiros (2006) ainda citam o Centro de Atenção

Psicossocial de Álcool e Drogas, que se constitui como um serviço

ambulatorial de atenção diária, que presta cuidados intensivos, semi-

intensivos e não intensivos. Sua equipe é formada por assistente

social, clínico geral, psicólogo, terapeuta ocupacional, psiquiatra,

enfermeiro e técnico de enfermagem. O usuário pode ser atendido pelo

centro, através de encaminhamento dos familiares, encaminhamento

jurídico, médico ou por vontade própria. Não existe restrição quanto a

clientela atendida, a única exigência é de que seja morador do

município onde se localiza a unidade. Trabalham com o ex-dependente

em todas as áreas, fazem acompanhamento pelo tempo que o indivíduo

apresentar ser necessário.

Page 44: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

8. RESULTADOS E DISCUSSÃO

8.1. RESULTADOS

A pesquisa contou com a participação de 25 sujeitos, sendo que

cinco indivíduos responderam somente o Questionário de Seleção, e os

demais responderam o Questionário de Seleção e o Questionário de

Participação. Apesar dos esforços, só foi possível abranger a faixa

etária dos 20 aos 32 anos, com sujeitos de ambos os sexos, sendo 52%

de homens e 48% de mulheres, todos brasileiros.

Dos 25 participantes, dois não preencheram, de acordo com o

DSM IV (2002), os aspectos para uso abusivo de substâncias

psicoativas, e três se auto-avaliaram de maneira a preencher, de

acordo com o DSM IV (2002), os aspectos para dependência de

substâncias psicoativas. Sendo assim, esses cinco indivíduos não

preencheram as características para part icipação da presente

pesquisa.

O contato e a definição do local para aplicação dos Questionários

foram feitos de maneira sigi losa por se tratar de um fenômeno social

em área de ilegalidade. Cada part icipante definiu o local e horário

apropriados, de acordo com a disponibi l idade de cada um, para a

real ização da coleta de dados. Aos sujeitos foram solicitadas

indicações de outros part icipantes que compart i lham ou conhecem

outras pessoas que possuem as mesmas características.

Os sujeitos foram informados sobre o tema, os objetivos da

pesquisa, o sigilo e que as informações obtidas servirão para compor

um trabalho acadêmico. Foi apresentado a eles o TCLE - Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido -, o qual foi l ido e assinado.

O tempo de duração da aplicação dos questionários teve uma

média de 30 minutos, salvo nos casos dos part icipantes que

Page 45: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

responderam somente o Questionário de Seleção, o qual teve duração

média de 5 minutos.

O início do questionário era destinado à identif icação do sujeito,

no qual foi possível aferir o estado civil (Figura 1), escolaridade (Figura

2), a renda pessoal (Figura 3) e a renda familiar (Figura 4). Foi

constatado que, dentre os 20 part icipantes, 17 já passaram ou estão

passando por algum tipo de tratamento médico, psiquiátr ico ou

psicológico, sendo que os tipos estão subdivididos na Figura 5.

Três sujeitos informaram que tomam remédios, sendo esses:

Anticoncepcional, Omeprazol e Cloridrato de Sertralina. Um indivíduo

informou ter tomado, entre os anos de 2003 e 2004, Ocaldil.

16

2 2

Estado Civil

Solteiro Casado Outro

Figura 1. Estado Civil Outro: amigado, relação estável.

1 13

1

15

Escolaridade

Ensino Médio Incompleto Ensino Técnico Completo

Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo

Pós-Graduação

Figura 2. Escolaridade

Page 46: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

7

54

Salário

Até 2 salários mínimos De 2 até 5 salários mínimosAcima de 5 salários mínimos

Figura 3. Renda

12

15

2

Renda familiar

Até 2 salários mínimos De 2 a 5 salários mínimosAcima de 5 salários mínimos Não respondeu

Figura 4. Renda familiar

Page 47: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

2

5

14

Tipo de tratamento

Médico Psiquiátrico Psicológico

Figura 5. Tipo de tratamento que o participante passou ou está passando.

Após a identif icação do participante foram investigados aspectos

relacionados à condição de usuário. A idade em que os participantes

uti l izaram substância psicoativa pela primeira vez variou entre sete a

16 anos, resultando na média de 12,65 anos. A substância psicoativa

experimentada pela primeira vez, pela maioria, foi o álcool, com 16

respostas, em segundo lugar f icaram o tabaco e a maconha, ambos

com duas respostas cada.

A seguir temos os gráf icos referentes ao contexto em que foi

uti l izado drogas pela primeira vez (Figura 6), o que levou a usar a

primeira vez (Figura 7), o que já ut i l izou na vida (Figura 8), o que

util izou nos últ imos 12 meses (Figura 9), frequência da util ização

(Figura 10), estado emocional sob o efeito de substância psicoativa

(Figura 11), estado emocional no cotidiano (Figura 12) e a forma de

obtenção da droga (Figura 13).

Em relação ao tempo de uso temos: um indivíduo que util iza a 7-

12 meses; um indivíduo a cinco anos; dois indivíduos a seis anos; cinco

indivíduos a sete anos; dois indivíduos a oito anos; dois indivíduos a

nove anos; 4 indivíduos a 12 anos; um indivíduo a 13 anos; um

indivíduo a 14 anos; e um indivíduo a 15 anos. Resultando na média de

8,85 anos.

Page 48: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

11

3

8

12

Contexto em que usou a 1ª vez

Festa Em casa Numa roda de amigos Com algum parente Outro

Figura 6. O contexto em que o participante utilizou substância psicoativa pela primeira vez. Outro: Com um amigo

O que levou a usar pela 1ª vez

15

723126

7 1

Curiosidade Influência de amigosInfluência da mídia Fácil acesso e obtençãoPara fugir da realidade Para relaxarPara descontrair Para festejar ou comemorarOutro (Para fazer parte da turma)

Figura 7. Motivos que levaram os participantes a usar pela primeira vez.

Page 49: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

15

7

1

7

1

7

2 2

1720

2

9

13 2

7

1518

2

Tipo de droga (s) já utilizada (s) na vidaEcstasy Efedrina GHB Poppers

Speed Cocaína Crack Merla

Tabaco Álcool Barbitúricos TranquilizantesOpiáceos Ayahuasca Chá de lírio Cogumelos

LSD Maconha Outro

Figura 8. Tipo (s) de substância (s) psicoativa (s) utilizada (s) na vida. Outro: Meme (maconha + crack), quetamina (anestésico veterinário)

9

2 36

12

20

3

9

15

Tipo de droga (s) que utilizou nos últimos 12 meses

Ecstasy Efedrina PoppersCocaína Tabaco ÁlcoolTranquilizantes LSD Maconha

Figura 9. Tipo (s) de substância (s) psicoativa (s) utilizada (s) nos últimos 12 meses.

Page 50: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Frequencia de uso

8

4

3

9

3

4

Eventualmente em festas

Eventualmente para relaxar

mensalmente

Diariamente

De 3 a 5 dias por semana

Aos finais de semana

Figura 10. Frequência da utilização da substância psicoativa.

8

2

9 8 8

3

9

43

1 12

7

3

9

Estado emociaonal sob efeito de drogas

Feliz Alegre Aliviado Descontraído Animado

Tranquilo Confiante Eufórico Ansioso Angustiado

Triste Depressivo Agressivo Inpulsivo Outro

Figura 11. Definição do estado emocional do sujeito quando está sob efeito de substância. Outro: Tabaco causa efeito nenhum, Relaxado e Desligado do Mundo

Page 51: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

11

76 6

54

1

13

3

1 1

6

Estado emocional no cotidiano

Feliz Alegre Descontraído Animado

Tranquilo Confiante Eufórico Ansioso

Angustiado Triste Agressivo Impulsivo

Figura 12. Definição do estado emocional do sujeito no cotidiano.

Forma de obtenção da droga

15

3

7

7

1

10

2

Amigos

Familiares

Traficantes do meio social

Na "Boca de fumo"

Drogarias

Estabelecimentos comerciais

Trabalho

Figura 13. Forma de obtenção da droga.

Dos vinte part icipantes que responderam o Questionário de

participação, sete informaram que tem ou já t iveram relação com

criminosos, além da compra de drogas. Os mesmos sete relataram já

terem feito coisas ilegais, tais como: compra, uso, transporte e venda

de drogas; vandalismo; perturbação a paz pública; furto; roubo; porte

de arma; cúmplice de um crime; e direção perigosa.

Quando questionados sobre a existência de ritual para a

uti l ização da substância, 10 indivíduos disseram haver algum tipo de

ritual, conforme a seguir: sempre util izar na companhia de alguém, não

util izando sozinho; em grupo ou festas grandes; com amigos; em

eventos; modo de preparo; somente após os f i lhos dormirem; fumar

maconha antes das refeições; cheira cocaína somente bebendo álcool.

Page 52: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Foi aferido que 18 participantes possuem familiares que usam ou

usavam substâncias psicoativas, somente dois participantes

informaram não haver usuários na família. O grau de parentesco

desses familiares que usam ou usavam esta presente na Figura 14, e

as drogas que usam ou usavam estão na Figura 15.

3

7

10 10 11 11

Grau de parentesco

2º grau ou mais Avós Pais Primos Irmãos Tios

Figura 14. Grau de parentesco dos familiares que fazem uso de substâncias psicoativas.

3 25

2

1416

1 1 1 2

10

1

Tipo de droga (familiares)

Ecstasy Poppers Cocaína Crack

Tabaco Álcool Barbitúricos Tranquilizantes

Opiáceos LSD Maconha Outra (heroína)

Figura 15. Tipo (s) de droga (s) utilizada (s) pelo (s) familiar (es).

Page 53: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Os problemas relacionados com o cumprimento de obrigações

foram relatados da seguinte forma: faltar às aulas; atraso e falta ao

trabalho; atraso na entrega de trabalhos; dif iculdade para acordar no

dia seguinte.

Somente um participante informou já ter t ido problemas legais

decorrentes do uso de drogas. O sujeito relatou já ter sido preso em

virtude de porte de drogas.

Em relação aos problemas de saúde decorrentes do uso

exagerado de substâncias psicoativas, 13 participantes responderam

que tem ou já t iveram problemas de saúde. Entre eles estão:

constipação, depressão, ressaca, problemas estomacais e renais,

dores no corpo, enxaqueca, alergias, intoxicações, tosse, náusea,

tontura.

Nove part icipantes já tentaram parar, ou já pararam, de util izar

substâncias psicoativas, e somente dois, desses nove participantes, já

procuraram algum tipo de ajuda. Um procurou ajuda psicológica e o

outro procurou ajuda do pai, do terapeuta e de amigos.

As famílias, de 17 participantes, sabem que estes uti l izam

substâncias psicoativas. Descobriram através: do próprio participante,

acharam em suas coisas, alguém contou, algum parente deu, o

participante mudou de comportamento, precisou de cuidados médicos,

teve mudança no corpo ou teve problemas legais. Na sua grande

maioria, 13 de 17 sujeitos, a família f icou sabendo através do próprio

parente usuário, o qual contou para sua família sua condição.

As drogas de que a família tem conhecimento que o participante

faz uso seguem na Figura 16, e o tempo que sabem sobre o uso segue

na Figura 17.

Page 54: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

4

13

9

1 12

7

1

13

Drogas que a família sabe que usaEcstasy Poppers Cocaína

Tabaco Álcool Tranquilizantes

Chá de lírio LSD Maconha

Outra (sabem de todas)

Figura 16. Tipo (s) de droga (s) que os familiares sabem que o participante usa.

Tempo que a família sabe do uso

1

4

3

1

2

1

2

3

4 anos

5 anos

6 anos

7 anos

8 anos

9 anos

10 anos

12 anos

Figura 17. Tempo que a família tem conhecimento do uso de droga por parte do participante.

Em relação ao comportamento da famíl ia frente ao uso de

substâncias, quando questionado o participante sobre como eles

estimulam a manter ou parar de usar, seis indivíduos responderam que

seus familiares ajudam a manter o uso através de inf luência direta ou

indireta dos próprios familiares, facil idade de obtenção dentro de casa

e um participante explicou que a família pede para que ele tenha limite

e conversam sobre o uso indevido. Em contraponto, 12 part icipantes

informaram que seus familiares ajudam a parar de usar através de

pedidos da mãe, pedidos de que mantenha o uso de droga lícita e

Page 55: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

abandone o uso de drogas i l ícitas, conversando sobre o assunto,

tentativas de troca (“compra”, chantagem), sendo intolerante ou

solicitando que diminua o consumo.

Os participantes relataram, de acordo com a Figura 18, ter havido

mudança na participação em eventos familiares.

Mudanças em eventos familiares

2

3

4

2

2

2

6

Reuniões

Festas

Almoços

Aniversários

Datas comemorativas

Projetos

Outro

Figura 18. Mudanças na participação em eventos familiares decorrentes do uso de drogas. Outros: não houve mudanças, nunca teve o costume de frequentar eventos familiares, afastamento natural por causa da idade e de estudos, vai pouco pra casa da família.

Depois que passaram a fazer uso de substâncias, seis relataram

que o diálogo entre eles e a família mudou, nove disseram que não,

dois responderam que já não havia diálogo anteriormente e um

respondeu que recentemente tudo está normal, isso devido a aceitação

por parte deles da condição de usuário.

Têm-se 15 participantes que negam haver desentendimentos,

discussões ou agressões por causa da droga, e dois part icipantes

assinalaram haver tais desentendimentos.

16 participantes t iveram disponibil ização de informações por

parte da famíl ia contra três que não t iveram.

De acordo com as informações fornecidas pelo participante,

presentes na Figura 19, foi possível aferir as expectat ivas provenientes

de seus familiares a seu respeito diante de sua condição de usuário.

Page 56: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

3

54

2

5

Expectativa da família em relação ao usuário

Não tem expectativa alguma

Gostariam que parasse de usar

Esperam que pare de usarSabem que irá parar, por isso não se preocupam

Outro

Figura 19. Expectativa que a família tem a seu respeito em relação ao uso de droga. Outros: que o sujeito se torne um bom profissional, acham que não usa mais droga ilícita, não dá mais “trabalho”, estão sempre presente e controlando.

È de bom alvitre salientar que, no questionário, o sujeito poderia

falar sobre a mãe ou o responsável. Desse modo, todos ressaltaram a

mãe. Assim, as respostas foram:

-Mãe, o dinheiro vem dela.

- Nenhuma.

- Ela gostaria que eu parasse.

- Ajuda a lembrar sobre o abuso.

- Muito importante.

- Quando se deparou com um f ilho que usava drogas o “baque” foi

grande, e as relações com ela f icaram bastante dif íceis, mas com o

tempo e muita conversa tudo se normalizou, e hoje é ótima e muito

importante.

- Ela é um porto seguro, só não faço, ou f iz, mais coisas por pensar no

desgosto dela.

- Total

- Ela está sempre colocando muito l imites impedindo às vezes o uso da

substância.

- A importância da mãe é principalmente o respeito, e saber que é a

pessoa que sempre estará ao seu lado e que só quer seu bem.

Page 57: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

- É muito importante, estamos sempre conversando sobre muitos

assuntos, tenho muita l iberdade pra conversar e relatar problemas.

- Não tem muita importância.

- Minha mãe faz o uso de tabaco, sempre conversamos sobre o uso,

mas nada sobre parar.

- Ela está sempre do seu lado para te ajudar, seja qual for o problema.

- Acredito que tenho idade suficiente para escolher e assumir a

responsabil idade das conseqüências das minhas escolhas.

- Fundamental, às vezes pouco, mas são as palavras mais sábias.

- Essencial para mostrar o que é bom ou não para nós, impondo limites.

Diante disso, 3 participantes não responderam.

A respeito do comprometimento com as exigências sociais, e

como essa relação é afetada pelo uso de drogas, temos os seguintes

resultados (Figura 20).

8

7

2

3

Faltas a compromissos decorrentes do uso ou da sua recuperação

Poucas vezes Algumas vezes Muitas vezes Não

Figura 20. Faltas a compromissos sociais em virtude de estar sob o efeito de substâncias psicoativas ou tentando se recuperar de seus efeitos.

Os participantes foram questionados sobre o quanto foram

afetadas algumas faculdades depois que passaram a usar drogas, para

isso foi uti l izado uma escala de 0 a 5, na qual cada número signif ica

Page 58: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

que: 0 - não foi afetada, 1 - muito pouco afetada, 2 - pouco afetada, 3 -

afetada, 4 – consideravelmente afetada, 5 - muito afetada. Os

resultados obtidos seguem nas Figuras 21, 22, 23, 24, 25, 26 e 27.

Um participante informou que o seu Desempenho Físico foi

afetado (3 - afetada), e um part icipante informou que a sua Disposição

foi afetada (3 - afetada).

Comprometimento

42%

21%

32%

5%

0 1 2 3

Figura 21. Comprometimento.

Responsabilidade

38%

26%

26%

5% 5%

0 1 2 3 4

Figura 22. Responsabilidade.

Page 59: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Raciocínio

26%

31%16%

16%

11%

0 1 2 3 4

Figura 23. Raciocínio.

Memória

17%

33%11%

28%

11%

0 1 2 3 4

Figura 24. Memória.

Atenção

27%

28%11%

28%

6%

0 1 2 3 4

Figura 25. Atenção.

Page 60: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Desempenho

47%

11%16%

21%0% 5%

0 1 2 3 4 5

Figura 26. Desempenho escolar, acadêmico ou profissional.

Apresentação social

58%24%

0%

12% 6%

0 1 2 3 4

Figura 27. Apresentação social.

Quando questionados sobre abandono de compromissos sociais

por causa do uso, apenas 10% responderam que já abandonaram

algum compromisso, como trabalho ou estudos. E 90% responderam

que nunca abandonaram compromissos sociais.

Em relação aos cuidados com a aparência, 10 % responderam

que houve mudança nos cuidados, e 90% responderam que não.

No quesito violência 25% informaram já terem brigado por causa

de droga. E 35% já praticaram algum ato de vandalismo relacionado ao

uso de drogas.

Page 61: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Dos 11 participantes que possuem relacionamento amoroso

estável, sete informaram que seus parceiros também fazem uso de

drogas, sendo que quatro indivíduos disseram haver conflitos entre o

casal por causa da droga. A média de duração dos relacionamentos

varia de um a mais de cinco anos, sendo que sete sujeitos

responderam que seus relacionamentos duram entre um a dois anos,

três responderam durar entre três a cinco anos, e um respondeu que

seus relacionamentos duram cinco anos ou mais.

Quatro indivíduos assinalaram que o casal já tentou alguma

estratégia de recuperação, mas somente três obtiveram êxito. Em

relação a desentendimentos ou discussões pela diferença de

frequência ou ritmo de uso de cada um, seis participantes responderam

já ter t ido problemas.

Em decorrência do uso de droga, quatro sujeitos disseram ter

ocorrido distanciamento de amigos ou parceiros. Apesar disso, 14

participantes relataram que sua turma de amigos é antiga. Nove deles

experimentaram e/ou começaram a usar juntos à turma de amigos.

Sendo que quatro informaram ter havido disputa pela droga entre seus

amigos.

Referente às exigências sociais, de acordo com a própria visão

do participante, quatro responderam se sentirem “estranhos”, 13 dizem

achar ser visível o fato de serem usuários, seis se sentem “rotulados”,

um se acha marginalizado, 13 acham o uso de drogas normal e apenas

cinco (dos 20 participantes) gostariam de não ser usuários.

8.2. DISCUSSÃO

Diferentemente dos estudos que mostram que alguns dos

principais fatores de riscos que podem induzir jovens ao consumo de

droga, como o baixo nível de escolaridade, a baixa renda familiar ou

falta de diálogo entre os membros da família, foi possível aferir nesta

Page 62: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

pesquisa que: 75% dos participantes possuem o ensino superior

incompleto, 20% recebem acima de cinco salários mínimos por mês e

75% possuem renda familiar superior a cinco salários mínimos,

somente 10% responderam não haver diálogo com a famíl ia e 80%

responderam que tiveram disponibil ização de informações por parte da

família.

De acordo com a literatura, o ambiente familiar acaba por

inf luenciar o jovem a experimentar as drogas uti l izadas pelos pais e

parentes próximos, isso devido ao uso cotidiano de álcool e tabaco

dentro das residências, e nesta pesquisa não foi diferente. A idade

média em que os participantes começaram a usar foi há de 12,65 anos,

sendo que 80% começaram com álcool, 10% com tabaco e 10% com

maconha. Vale salientar que 15% começaram em casa e 5%

responderam que iniciaram com um parente. Questionamos sobre os

tipos de drogas já ut i l izadas na vida, onde obtivemos 100% de

respostas posit ivas para álcool, 90% para maconha e 85% para tabaco.

E quando perguntado sobre quais os tipos de drogas util izadas, nos

últ imos 12 meses, obtivemos os mesmos 100% para álcool, 75% para

maconha e 60% para tabaco.

Essas altas porcentagens talvez possam ser explicadas pelo grau

de parentesco dos familiares, onde 55% informaram terem irmãos e

50% terem pais que fazem ou já f izeram uso de drogas. As mesmas

porcentagens, consecutivamente, foram aferidas para tios e primos,

com os quais o convívio famil iar pode não ser tão grande, mas podem

inf luênciar assim como os amigos, dependendo da relação estabelecida

entre o sujeito e seu parente. Os tipos de drogas util izadas por esses

familiares são: 80% álcool, 70% tabaco e 50% maconha.

Esses fatores reafirmam, em consonância com Tiba (2007), que a

droga psicoativa mais uti l izada frequentemente nas sociedades

ocidentais é o álcool, pois é de fáci l acesso por ser uma droga lícita e

de fácil obtenção, com alto potencial que pode gerar dependência, e,

segundo a ONU (Tiba, 2007) a maconha é tida como a droga i legal

mais uti l izada no mundo, devido à tolerância que provoca em seus

usuários.

Page 63: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Já dissemos anteriormente que, na sociedade atual ocidental, as

drogas são principalmente usadas por curiosidade, primordialmente de

maneira recreativa, para se divertir. Quando os participantes foram

indagados sobre os motivos que os levaram a usar a droga pela

primeira vez, no resultado f icou claro ao verif icar que 55% dos

participantes responderam que o contexto em que estava quando usou

substância psicoativa pela primeira vez foi em festas, e 40%

responderam que era numa roda de amigos. Os motivos que os levaram

a usar pela primeira vez foram: para 75% a curiosidade, 35% para

festejar ou comemorar, 30% para descontrair, sendo que 35% disseram

ter feito por inf luência de amigos. Os estudos apontam para a complexa

inf luência da família, da escola e do grupo de amigos no caso da

manifestação do uso abusivo de drogas, principalmente na

adolescência.

Muitos jovens acham que só vão se divert ir se usar alguma droga

e acham, também, que precisam fazer isso para vencer sua timidez

social e serem aceitas ou para esquecer “totalmente” de seus

problemas por alguns instantes. Tiba (2007) relata que a uti l ização da

droga é usada hoje como uma aventura sem compromisso, dada a

banalização de seu uso, uma busca de prazer sem preocupação com os

riscos e para o jovem mostrar, perante seus amigos, que é corajoso e

destemido fazendo o que t iver vontade.

Um fator marcante dessa amostragem é o alto índice de

participantes que já uti l izaram Ecstasy e LSD, 75% cada, sendo que

45% continuam util izando regularmente. Essas substâncias são

estimulantes e alucinógenas, principalmente o LSD, este que era

comum na época do surgimento do movimento hippie e atualmente,

ambas as drogas, são consumidas em festas raves, na sua maioria.

Outro ponto signif icativo é os 35% de participantes que informaram já

terem consumido cogumelos, um alucinógeno muito potente que pode

desencadear quadros psicót icos, caso haja predisposição, além de

apresentar alto risco de vida ao usuário.

De acordo com Herculano-Houzel (2002), indivíduos diferentes

têm suscetibi l idades diferentes ao vício e se a droga não

Page 64: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

proporcionasse prazer não haveria vício. A sensação de prazer

proporcionada pela droga age diretamente sobre o sistema de

recompensa do cérebro e inf lui diretamente nos sentimentos do sujeito

e por consequência no comportamento, o que pôde ser observado nos

resultados quando foi sol icitado aos part icipantes que definissem seu

estado emocional quando sob efeito de substância, onde obtivemos

40% que responderam se sentirem felizes, animados e tranquilos, e

45% responderam se sentirem alegres, descontraídos e eufóricos.

Herculano-Houzel (2002) constatou que em pesquisas com

animais os “predispostos ao vício, eram aqueles que reagiam a um

novo ambiente com agitação e buscavam novidade, variedade e

estimulação emocional”. Dos sujeitos da pesquisa, 65% se definiram,

no cotidiano, como sendo ansiosos e 30% como impulsivos, sal ientando

que 75% dos entrevistados experimentaram substâncias psicoativas

impulsionados pela curiosidade. Apenas 25% dos participantes

responderam serem tranquilos no cot idiano. Aqui f ica possível verif icar

a relação entre o comportamento e a química cerebral que,

possivelmente, inf lui ou inf luirá na propensão à adicção. Os autores

indicam que a resposta exagerada ao estresse parece ser a chave para

o vício.

Quando o sujeito está sob efeito de substância psicoativa, este

estado alterado não permite que o adicto perceba que está agindo de

forma violenta, e, no questionário apenas dois part icipantes relataram

perceber esta agressividade.

A maioria dos participantes uti l izam a substância psicoativa

quase que diariamente, informação essa que pode levá-los a

dependência segundo Graeff (1989), a qual consiste numa verdadeira

adaptação do organismo à presença continuada da droga, de tal forma

que a sua retirada desencadeia distúrbios f isiológicos muitas vezes

acentuados, é tal o desconforto gerado por esta síndrome de ret irada,

que evitá-lo passa a ser motivação adicional, para o uso continuado

dessas drogas. Tiba (2007) propõe uma subdivisão, informal, do

conceito de abuso, onde ele separa em dois grupos: o dos usuários

esporádicos e o dos usuários habituais. Os usuários habituais são os

Page 65: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

que estão na l inha tênue entre abuso e a dependência, onde os

aspectos signif icat ivos, de menor perturbação e prejuízo para o sujeito,

podem se alcançar altos níveis de perturbação e prejuízo e, assim,

levando o indivíduo a uma condição de dependente.

Os relacionamentos dos entrevistados são, na maioria, com

pessoas que também fazem o uso de substância psicoativa (55% dos

participantes possuem relacionamento amoroso estável, sendo que

35% informaram que seus parceiros também fazem uso de drogas).

Quando isso não ocorre é comum que haja discussões que levem ao

rompimento da relação ou até mesmo ao ponto da agressão física (20%

dos participantes disseram haver conflitos entre o casal por causa da

droga). Temos 20% dos indivíduos que assinalaram que o casal já

tentou alguma estratégia de recuperação, sendo que 15% obtiveram

êxito, mas voltaram a usar. Quando os dois fazem uso de drogas pode

haver discussões tanto pela diferença ou ritmo de cada um, quanto

pela disputa da própria droga. Em relação a desentendimentos ou

discussões pela diferença de frequência ou ritmo de uso de cada um,

30% dos part icipantes responderam já ter t ido problemas.

Conforme já vimos na revisão de literatura, os desentendimentos

são comuns, e o adicto não percebe muitas vezes que está agindo de

forma agressiva e, justamente em decorrência do uso de droga e de

brigas, 20% dos sujeitos disseram ter ocorrido distanciamento de

amigos ou parceiros. E 20% informaram ter havido disputa pela droga

entre seus amigos.

De acordo com Schenker e Minayo (2004), estudos indicam o

envolvimento da famíl ia no desenvolvimento saudável, ou não, de seus

membros, já que ela é entendida como sendo o elo que os une às

diversas esferas da sociedade. As famíl ias, de 85% dos participantes,

sabem que estes uti l izam substâncias psicoativas e 65% descobriram

pelo próprio parente usuário, o qual contou para sua família a sua

condição. Nesta pesquisa foram investigadas as drogas de que a

família tem conhecimento que o participante faz uso, sendo que

destacaram-se o álcool, o tabaco e a maconha.

Page 66: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

Estudos mostram que a famíl ia é a que mais sofre. Isso porque o

sujeito se afasta dos círculos sociais ao qual pertencia anteriormente.

Depois que passaram a fazer uso de substâncias, 30% dos

participantes relataram mudanças no diálogo com a família, e um

respondeu que recentemente tudo está normal devido à aceitação por

parte deles da condição de usuário, no entanto, 45% dos part icipantes

disseram que não houve mudanças e dois responderam que já não

havia diálogo anteriormente.

Assim, é indubitável o fato de que a família tem um importante

papel tanto na motivação, como sendo mantenedora desse

comportamento, quanto na superação e/ou recuperação da

dependência de substâncias. Em relação ao comportamento da família,

frente ao uso de substâncias por parte do participante, foi possível

identif icar como os membros da mesma estimulam a manter ou a parar

de usar, 30% dos indivíduos responderam que seus famil iares ajudam a

manter o uso através de inf luência direta ou indireta, como a facil idade

de obtenção dentro de casa e um participante explicou que a família

pede para que ele tenha limite e conversam sobre o uso indevido.

Cada pessoa que passa a usar drogas tem uma vivência diferente

em casa, na família. Alguns pais são intolerantes e podem chegar a

expulsar o f i lho de casa, outros podem entender aquilo como não

prejudicial ao f i lho em virtude de não atrapalhar os estudos ou

trabalho, e passa a permitir que se faça o uso “moderado” até mesmo

dentro de casa.

De acordo com isso, 60% dos participantes informaram que seus

familiares ajudam a parar de usar através de pedidos da mãe, pedidos

de que mantenha o uso de droga lícita e abandone o uso de drogas

il ícitas, conversando sobre o assunto, tentativas de troca (“compra”,

chantagem), sendo intolerante ou solicitando que diminua o consumo.

De acordo com a l i teratura, a presença da mãe nesse momento é

o de maior relevância por ser uma f igura central na vida do sujeito. Foi

pedido que os part icipantes relatassem a importância da f igura da mãe

ou do responsável neste contexto, desse modo todos ressaltaram

somente a f igura materna. Obtivemos 60% de respostas dos

Page 67: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

participantes que destacaram o respeito, a segurança, a amizade e os

limites para impedir o uso da substância e importantes conselhos dados

pela mãe. Temos 40% dos participantes que relataram que a f igura

materna não tem importância alguma, um deles informou que a

importância da mãe no contexto é somente que o dinheiro para comprar

drogas vem dela e outro part icipante trouxe em sua fala que já tem

idade suficiente para escolher e assumir responsabil idades por isso e

não vê a importância da mãe neste contexto.

É possível verif icar nas obras de Tiba (2007), Kalina e Kovadloff

(1980) e Cirino e Medeiros (2006), que a família está num ponto central

em relação à adicção. Os familiares criam expectat ivas a seu respeito,

fazem cobranças, cuidam e de forma geral apl icam e dedicam energia

psíquica e f ísica no indivíduo.

De acordo com as informações fornecidas pelos part icipantes, foi

possível aferir as expectativas provenientes de seus familiares a seu

respeito diante de sua condição de usuário. As respostas aferidas

foram que: 15% não têm expectat iva alguma; 25% gostariam que o

indivíduo parasse; 20% esperam que o indivíduo pare de usar; e 10%

sabem que o indivíduo vai parar e por isso não se preocupam.

Cabe ainda ressaltar que, no caso de dependentes, a procura por

ajuda especializada é fundamental pelo fato de o dependente

apresentar não somente perigo para ele mesmo, mas como para toda a

sua família. A recuperação em muitos casos depende justamente do

apoio familiar, e a responsabil idade, que se supõe, que o indivíduo

sinta a respeito de sua famíl ia, sobre a felicidade deles, que leva

algumas pessoas a criarem pensamentos e ati tudes para lutar contra a

adicção.

Diante de todas as considerações feitas, é relevante af irmar,

também, que o uso recorrente, de acordo com os depoimentos dos

participantes, causa diversos problemas de saúde (constipação,

depressão, ressaca, problemas estomacais e renais, dores no corpo,

enxaqueca, alergias, intoxicações, tosse, náusea e tontura). Este fato é

um possível agravante da condição de usuário, trata-se do sét imo

critério da definição de dependência de substância, de acordo como

Page 68: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

DSM IV (2002), no qual o indivíduo continua a usar a substância apesar

de ter consciência de problemas físicos ou psicológicos causados ou

exacerbados pela substância. Os drogadictos apresentam perturbações

em todos os campos de suas relações sociais, e não são diferentes em

relação aos problemas relacionados com o cumprimento de obrigações

(faltas ou atrasos às aulas ou ao trabalho, dif iculdade para acordar,

abandono de compromisso, etc.), as exigências sociais são claramente

afetadas em decorrência do uso ou da sua recuperação.

Os part icipantes foram questionados se já haviam tentado parar

ou pararam de usar drogas, 45% responderam afirmativamente a essa

pergunta, mas continuavam a usar até o momento da pesquisa,

implicando assim numa tentativa mal-sucedida. Apenas 10% dos

entrevistados chegaram a procurar ajuda prof issional para parar. Mais

uma vez foi constatado um fato possivelmente agravante da condição

de usuário, pois se trata do quarto cri tério da definição de dependência

de substância, de acordo como DSM IV (2002), no qual existe no

indivíduo um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido

de reduzir ou controlar o uso da substância.

Temos ainda alguns participantes que apresentaram outro indício

de propensão à dependência, de acordo com o sexto critério para

dependência do DSM IV (2002), onde importantes atividades sociais,

ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude

do uso da substância. Foi aferido que 75% dos entrevistados foram

afetados de alguma forma em seus compromissos sociais e 10%

relataram ter sido muito às vezes que isso ocorreu.

Sendo assim, se, por exemplo, esses três critérios, ou outros

mais, se manifestarem na mesma pessoa, dentro de um período de 12

meses, o indivíduo passa de usuário que comete abuso para um

dependente de substâncias.

Como já esperado, de acordo com o conceito de abuso de

substâncias, no qual se enquadram os entrevistados, foi aferido que um

dos participantes teve problemas legais decorrentes do uso de

substâncias, ele foi preso por porte de drogas. Os demais part icipantes

não tiveram problemas legais, porém 35% deles informaram que as

Page 69: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

relações com criminosos vão além da compra e que já cometeram atos

il ícitos, provavelmente em virtude de inf luência de criminosos, atos

estes, tais como: transporte e tráf ico de drogas, vandalismo,

perturbação a paz pública, furto, roubo, porte de arma e cúmplice de

um crime. Um participante respondeu já ter cometido direção perigosa,

decorrente do uso de substância, representando assim perigo f ísico

iminente a ele e a outrem. Essas atitudes e atividades i legais

aumentam signif icativamente a possibi l idade de algo ruim acontecer

como, por exemplo, ser preso, ser processado, ser vít ima de violência

nas ruas ou por parte da polícia, etc.

De acordo com a auto-avaliação de algumas faculdades dos

participantes, pode-se notar que, depois que passaram a usar drogas,

foram afetadas, como no comprometimento, que obteve 5% de

respostas signif icativas. Sobre a responsabil idade foi aferido 10% de

respostas informando estar afetada ou consideravelmente afetada. No

raciocínio essa porcentagem aumenta para 28% de respostas

informando estar afetada ou consideravelmente afetada. Na memória

houve mais um aumento, indo para 39% de respostas informando estar

afetada ou consideravelmente afetada. A atenção detém 34% de

respostas informando estar afetada ou consideravelmente afetada.

Referente ao desempenho (escolar, acadêmico e prof issional), tem 21%

de respostas informando estar afetada essa faculdade e um agravante

de 5% de respostas informando estar muito afetada, houve ainda um

participante que informou ter o seu desempenho físico afetado e outro

que sua disposição também está afetada. No campo prof issional a

atenção e raciocínio não sendo mais tão velozes e ef icazes implicam

na queda de rendimento nesse âmbito social, ocasionando advertências

ou até mesmo o desligamento do funcionário, por exemplo. O uso

recorrente da substância resultando em um fracasso em cumprir

obrigações importantes relativas a seu papel no trabalho, na escola ou

em casa é o primeiro critério de definição de abuso de substância, de

acordo com DSM IV(2002).

Quando indagados sobre a apresentação social 18% das

respostas informaram estar afetada ou consideravelmente afetada esta

Page 70: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

faculdade, sendo que 10% responderam que mudaram seus cuidados

em relação à aparência. Essa apresentação pessoal deteriorada pode

ser determinante para uma demissão do cargo, expulsão da escola,

entre outros.

Diferentemente da li teratura - onde encontramos que o usuário

depois que passa a consumir drogas começa a andar com uma turma

nova, a turma dos que usam, deixando de andar com a turma antiga (a

dos “caretas”) - aferimos que 70% dos entrevistados relataram que sua

turma de amigos é antiga. 45% deles experimentaram e/ou começaram

a usar juntos à turma de amigos. Esses resultados apontam para uma

alta signif icância da inf luência do grupo de amigos na propensão ao

uso de substâncias.

Na sociedade contemporânea, ocidental, alguns indivíduos que

fazem uso de substâncias psicoativas parecem não se sentir

marginalizados e depreciados, ou podem ter a sensação de que “todos”

fazem esse uso, logo, esse indivíduo se sente dentro do “normal”.

O últ imo aspecto abordado pelo questionário foi o Estigma,

referente às culpas de caráter individual. Os part icipantes não se

sentem estigmatizados, ao contrário, 80% responderam se acharem

normais. Goffman (1963) diz que “seus sentimentos mais profundos

sobre o que ele é podem confundir a sua sensação de ser uma “pessoa

normal”.

Quanto à “visibil idade” do estigma, 65% dizem achar ser visível

esse fato de serem usuários, independente da droga consumida pelo

entrevistado. 30% se sentem “rotulados” e somente 5% se consideram

marginalizados. Ou seja, a maioria dos participantes se consideram

“normais”, sem qualquer atributo depreciat ivo, sendo que 65%

consideram o uso de drogas normal e apenas 25% gostariam de não

ser usuários.

Page 71: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parte da sociedade contemporânea ocidental tem a cultura do

imediatismo, do poder através da posse, da compra, onde se preza a

facil idade e comodidade para solucionar os problemas que surgem. O

capital ismo trouxe à sociedade falsas necessidades e soluções

mágicas, a fantasia de se ter nas mãos, ou melhor, nos “bolsos”, o

controle da situação. Mas as pessoas se angustiam de novo

rapidamente por surgirem novas “necessidades”.

O comportamento de alguns indivíduos se repete quando o

assunto é a uti l ização de drogas. Crianças, jovens e adultos ao se

depararem com dif iculdades e problemas buscam a solução mais rápida

e barata e acabam caindo no mundo das drogas. Seja qual for o

sofrimento, a angústia, o desespero ou a frustração, melhor do que

resolvê-los é fugir deles e ir para um mundo de fantasias, onde

acreditam não poderem ser atingidos. O poder de compra,

principalmente das drogas lícitas, proporcionam essa capacidade de

fuga, mas ao acabar o efeito da substância o indivíduo se depara com

outra necessidade, agora ao invés de fugir do problema inicial ele terá

que fugir dos problemas que a uti l ização e a não util ização da droga

lhe proporcionará.

Para não general izarmos, iremos restringir nossas considerações

à população sudeste do Brasi l, a qual fez parte da presente pesquisa,

sendo que esta região é a mais r ica e bem instruída do país, pólo

educacional e de desenvolvimento, mas, em contraponto, também onde

se encontra o maior mercado consumidor de drogas do país, onde

pudemos constatar a banalização do uso do tabaco, da maconha e

principalmente do álcool, seja por parte do próprio indivíduo, da

família, da mídia ou da cultura da sociedade em geral. A droga nos

Page 72: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

parece estar presente não só nos momentos de sofrimento mas também

nos momentos de busca de felicidade e bem estar.

As idéias que antecederam o início desse trabalho visavam

verif icar os prejuízos advindos do uso de subtâncias psicoativas e

como são afetadas as exigências sociais nos adictos, visto que nenhum

indivíduo vive sozinho, sem o contato e as relações sociais inerentes à

vida em grupo. Desde o momento em que a pessoa nasce ela já faz

parte de uma sociedade, nesse primeiro caso a famíl ia, e com o passar

dos anos vão se inserindo, ou são inseridos, em outros grupos, de

modo a praticamente extinguir a possiblidade de pensar em um

indivíduo separado da sociedade, sendo que esta é responsável pelos

seus integrantes. As habil idades e faculdades de cada um fazem

diferença nessas relações sociais e caso elas estejam debilitadas

poderá ocorrer danos e prejuízos em todos os âmbitos da vida do

sujeito. No caso dos usuários não é diferente, o uso de substância, de

acordo com a literatura e com os nossos resultados, ocasiona em um

déficit em todas as áreas da vida do sujeito, afetando de diversas

maneiras e em graus diferentes, levando a um prejuízo nas relações

sociais.

Apesar das condições desfavoráveis proporcionadas pela droga, a

maioria dos entrevistados se consideram normais, acham que o uso de

drogas é normal e a grande maioria não tem a pretensão de parar. Nos

parece que, por não sofrerem demasiadamente em virtude das

consequências das drogas, e pela punição do uso ser tardia, pudemos

constatar que essas pessoas não se vêem como “doentes”, como

“marginalizados”, acreditam serem capazes de parar se quiserem e

quando quiserem. Esses indivíduos não percebem o quão tênue é a

l inha que separa o uso habitual ou esporádico do uso desadaptado e

clinicamente signif icativo, seguindo pela mesma l inha temos o DSM IV

(2002) que diferencia os usuários por critérios pré-estabelecidos e para

que o usuário seja diagnosticado como dependente deve preencher três

ou mais critérios pré-estabelecidos, caso contrário ele entra em outra

categoria e, em virtude desse diagnóstico, os meios de tratamentos

podem ser diferentes e não suf icientes para alcançar a ef icácia

Page 73: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

desejada. Se o indivíduo possui dois critérios é porque de alguma

forma está sendo afetado e, se não for manejado esse comportamento,

poderá ser agravada a situação. Sendo assim, o DSM IV (2002) serviria

nesse caso mais como um parâmetro, um elemento importante a se

levar em conta, para poder avaliar uma situação ou compreender o

fenômeno em detalhe, mas não se deve tomar como base para definir

quem e quando deve se ajudar. Af inal, nenhum mal pode ser

considerado menor ou desdenhado, o menosprezo do sofrimento

intrínseco causa revolta e angústia e assim pode fomentar o

comportamento adicto de fuga.

Diante desse fenômeno social, que abrange a área de i legalidade

e que alguns autores colocam, também, dentro da área de saúde

pública, como uma enfermidade, temos estes indivíduos que não

necessitam de rótulos, de nome para sua condição ou que as

estratégias de recuperação se baseiem somente no que o uso acarreta,

mas talvez de atenção ao que os leva a usar e o que os reforça a

continuarem a usar. Nesta pesquisa, a maioria dos participantes

tiveram acesso à informações sobre drogas pela própria família, ou

possuem condições de terem ou já terem tido acesso a essas

informações, eles fazem o uso porque querem, têm consciência disso e

muitos não pretendem parar.

Considerando o contexto da sociedade moderna baseada na

produção e consumo de coisas e o indivíduo como sendo uma versão

f iel e l iteral do mundo onde vive, f ica dif íci l esperar que uma pessoa

ande na “contramão”, que esta pessoa busque outras maneiras de se

confortar, se alegrar ou transcender, pois nos parece que a mesma

sociedade que reprime e patologiza o adicto é a mesma que fomenta a

adicção.

Sem o intuito de culpabil izar a sociedade pelas desventuras dos

usuários de drogas e nem de relacionar o uso de drogas

exclusivamente ao capital ismo como fuga para o sofrimento (sendo que

existem diversas maneiras de fuga, como o por exemplo o vício por

compras, pelo trabalho, por sexo, comida, etc.), sabendo que o uso de

substâncias é proveniente de longa data, levantamos aqui uma singela

Page 74: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

visão de fatos e fatores que, emaranhados, acabam por constituir em

uma realidade fatidíca a esses indivíduos. Os infortúnios causados pelo

uso indevido e desmedido são decorrentes de uma complexa rede de

acontecimentos e experiências, sendo que existem sim fatores que

contribuem para a condição de adicto, mas que não são determinantes

a ponto de estagnar a vida do indivíduo.

Page 75: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

REFERÊNCIAS

ADAILTON, Miguel. Quem ama protege . São Paulo: Companygraf., 2009.

ASSOCIAÇÃO Psiquiátrica Americana. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais . 4ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 2002.

BERNARCKI, P. WALDORF, D. Snowball sampling: problems and techniques of chain referral sampling. Sociological Methods and Research, pág. 141-163, 1981.

BURGIERMAN, Denis Russo. O Brasil na moda e a legalização das drogas. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/drogas/o-brasil-na-moda-a-a-legalizacao-das-drogas/>. Acesso em: 23 nov. 2009.

CIRINO, Oscar. MEDEIROS, Regina. Álcool e outras drogas: Escolhas, impasses e saídas possíveis. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

FRANÇA, Ronaldo. SOARES, Ronaldo. Uma prova de fogo. In: Revista Veja. Editora Abril , ed.2136, ano 42, n.43, p.102-110, 2009.

FREUD, Sigmund. El malestar en la cultura. In: Obras Completas . Buenos Aires, Santiago Rueda Editor, vol. 19, p. 11-90, 1955.

GARCIA, Maria L. T; LEAL, Fabiane. X; ABREU, Cassiane. C. A política antidrogas brasileira: velhos dilemas. Porto Alegre, Psicologia & Sociedade, V.20, n.2, 2008.

GARCIA, Maria L. T; LEAL, Fabiane X; ABREU, Cassiane. C. A política antidrogas brasileira : velhos dilemas. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010271822008000200014>. Acesso em: 12 de maio de 2010.

Page 76: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Nova Jersey, Prentice-Hall Inc., 1963.

GRAEFF, Frederico Guilherme. G. Drogas Psciotrópicas e seu modo de ação. 2. ed. rev. ampl. São Paulo, EPU, p. 101-105, 1989.

GRAEFF, F.G. GUIMARÃES, F.S. Fundamentos de Psicofarmacologia . São Paulo, Editora Atheneu, p. 197-201, 2005.

HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Sexo, Drogas, Rock'n'Roll.. . & Chocolate : O Cérebro e os prazeres da vida cot idiana. Rio de Janeiro: Vieira E Lent - Fatto, 2002.

KALINA, Eduardo. KOVADLOFF, Santiago. Drogadicção: Indivíduo, Familía e Sociedade. Rio de Janeiro, F. Alves, 2.ed., p.15-24, p.45-72, 1980.

TIBA, Içami. Juventude & Drogas: anjos caídos. São Paulo, Integrare Editora, 8ª ed, 2007. MORRIS, Charles G.; MAISTO, Albert A. Introdução à Psicologia. 6. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004. ORGANIZACION Mundial Salud. Preparacion de indicadores para vigilar los progressos realizados em logro de La Salude para todos em El ano 2000 . Genebra, OMS, 1981 PADILHA, José. Tropa de Elite . Dir. José Padilha. Universal Pictures, Rio de Janeiro, 2007. SCHENKER, Miriam; MINAYO, Maria C. S. A importância da família no tratamento do uso abusivo de drogas: uma revisão da literatura. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, jun. 2004. Disponível em : <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2004000300002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 abr. 2010.

Page 77: A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais

WIKIPÉDIA. Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia . Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Forças_Armadas_Revolucionárias_da_Colômbia#cite_note-17>. Acesso em: 11 de maio de 2010. SILVA, Claudio. J. da; LARANJEIRA, Ronaldo. Neurobiologia da dependência química. In: FIGLIE, N. B., BORDIN, S. e LARANJEIRA, R. Aconselhamento em Dependência Química. São Paulo: Roca, 2004