a relação entre o uso de drogas e as exigências sociais
DESCRIPTION
O presente estudo teve como objetivo revisar a literatura sobre o assunto, conhecer e compreender a relação entre o uso de drogas e o modo como são afetadas as relações sociais dos usuários que cometem abuso de substâncias psicoativas, estes que podem representar um número muito mais elevado que os de dependentes. Participaram da pesquisa 25 sujeitos, dos quais cinco indivíduos não preencheram os critérios necessários para a participação, sendo assim foram coletados 20 questionários do tipo fechado/múltipla escolha que abordaram aspectos referentes à utilização de sustâncias psicotrópicas e de exigências sociais. Os resultados revelaram que, ao contrário dos fatores de risco presentes na literatura, os participantes possuíam alto grau de escolaridade e renda e que há diálogo entre os membros da família. Foi possível aferir a complexa influência do ambiente familiar e do grupo de amigos na manifestação do uso abusivo de drogas. Pudemos constatar a banalização do uso do tabaco, da maconha e principalmente do álcool, seja por parte do próprio indivíduo ou da família. Os participantes fazem o uso quase que diário de substâncias, e alguns apresentaram propensão à dependência. Os sujeitos apresentaram perturbações em todos os campos das relações sociais e as exigências sociais são claramente afetadas. Apesar das condições desfavoráveis proporcionadas pela droga, a maioria dos entrevistados se considera normal, acham que o uso de drogas é normal e a grande maioria não tem a pretensão de parar. Nesta pesquisa, a maioria dos participantes teve acesso às informações sobre drogas pela própria família, ou possuem condições de terem ou já terem tido acesso a essas informações, eles fazem o uso porque querem, têm consciência disso e muitos não pretendem parar.TRANSCRIPT
UNAERP UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO
Curso de Psicologia
BRUNO ALBERTO PEREIRA DE SANT’ANA DANIELLY BOTELHO NUNES
A RELAÇÃO ENTRE O USO DE DROGAS E AS EXIGÊNCIAS SOCIAIS EM DROGADICTOS.
RIBEIRÃO PRETO – SP 2010
BRUNO ALBERTO PEREIRA DE SANT’ANA
DANIELLY BOTELHO NUNES
A RELAÇÃO ENTRE O USO DE DROGAS E AS EXIGÊNCIAS SOCIAIS EM DROGADICTOS.
Monografia apresentada à Universidade de Ribeirão Preto UNAERP, como requisito para obtenção do título de bacharel em Psicologia. Área de concentração- Saúde. Orientador - Prof. Dr. Sérgio Vinícius de Lima Grande
RIBEIRÃO PRETO – SP 2010
AGRADECIMENTOS
Nossos agradecimentos vão a todos que colaboraram para a conclusão deste trabalho, a todos os participantes que nos receberam e nos atenderam prontamente, ao nosso orientador Prof. Sérgio de Lima Grande que esteve sempre disponível para atender nossas dúvidas com simpatia e atenção, às nossas famílias e, para f inal izar, a Deus por ter nos dado a capacidade, paciência e empenho para final izarmos este trabalho.
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho primeiramente aos nossos pais; pelo esforço, ajuda e compreensão dedicados a nós.
Aos nossos irmãos, que sempre est iveram ao nosso lado.
Aos nossos namorados-parceiros que tiveram paciência, compreensão, cooperação e nos incentivaram.
Ao Prof. Wilson José Alves Pedro que com carinho aceitou o convite para part icipar desta i lustre banca examinadora, tendo se deslocado de sua cidade para isto.
À nossa famíl ia, por ter nos dado a vida, nos educado e por nos ter possibi l itado chegar aonde chegamos.
Bruno e Daniel ly.
DROGA Me revolta ver as veias, vias, avenidas do teu coração Entupidas, destruídas, pela frágil, fácil, doce ilusão De que alguma coisa além de você mesmo pode iluminar Tua cabeça, tua alma, tua vida Prá te despertar Natureza, terra, fogo, mata, céu e mar São suficientes prá tua mente viajar Não há mais bela viagem do que a paisagem natural Naturalmente essa semente eu sei que um dia vai vingar E essa droga, entorpecente, finge, mente que é verdade E a felicidade, escapa, escapa, escapa, escapa, escapa Entre teus dedos E os segredos desse mundo Todo mundo sabe bem Que a droga é uma droga mesmo Nada além, não... E os segredos desse mundo Todo mundo sabe bem Que a droga é uma droga mesmo Nada além, não... Fábio Jr.
DROGA MALDITA Eu falo Pela boca de todas as mães Que acordam de noite assustadas Sem saber o futuro dos filhos Diante das facilidades Se a tevê Já não tem mais censura E nossos ídolos levantam bandeiras Que arrastam os jovens Pela estrada do vício Da ilusão e do sonho Ninguém vê Que os jornais e as revistas Só nos mostram os crimes De total violência E a conseqüência da dependência Desta droga maldita Contra a humanidade. Eu falo Pela boca de todos os jovens Que acordam um dia assustados Sem saber por que se perderam Diante das facilidades Se eles vêem Que ninguém mais os censuram E os seus ídolos
permanecem calados Aos que arrastam os jovens Pela estrada do vício Da solidão e do medo Pois eu falo Em nome dos jovens Que um dia partiram Ou se perderam Na experiência na total dependência Sem saber que a viagem Quase nunca tem volta Procura-se O que matou nossos jovens (Aracelli) Procura-se Aquele som de batera (Vítor Manga) Procura-se O que drogou nossos ídolos (Jimi Hendrix) E continua a matar tanta gente Procura-se Recompensa-se bem O que assassinou Cláudia Lessin e Janis Joplin. Vanusa e Márcio Antonucci
NUNES, D. B. SANT’ANA, B. A. P. A relação entre o uso de drogas e as exigências sociais em, drogadictos. Monografia do curso de Psicologia da UNAERP- Universidade de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2010. 78 p.
RESUMO O presente estudo teve como objetivo revisar a literatura
sobre o assunto, conhecer e compreender a relação entre o uso de drogas e o modo como são afetadas as relações sociais dos usuários que cometem abuso de substâncias psicoativas, estes que podem representar um número muito mais elevado que os de dependentes. Participaram da pesquisa 25 sujeitos, dos quais cinco indivíduos não preencheram os critérios necessários para a participação, sendo assim foram coletados 20 questionários do tipo fechado/múltipla escolha que abordaram aspectos referentes à utilização de sustâncias psicotrópicas e de exigências sociais. Os resultados revelaram que, ao contrário dos fatores de risco presentes na literatura, os participantes possuíam alto grau de escolaridade e renda e que há diálogo entre os membros da família. Foi possível aferir a complexa influência do ambiente familiar e do grupo de amigos na manifestação do uso abusivo de drogas. Pudemos constatar a banalização do uso do tabaco, da maconha e principalmente do álcool, seja por parte do próprio indivíduo ou da família. Os participantes fazem o uso quase que diário de substâncias, e alguns apresentaram propensão à dependência. Os sujeitos apresentaram perturbações em todos os campos das relações sociais e as exigências sociais são claramente afetadas. Apesar das condições desfavoráveis proporcionadas pela droga, a maioria dos entrevistados se considera normal, acham que o uso de drogas é normal e a grande maioria não tem a pretensão de parar. Nesta pesquisa, a maioria dos participantes teve acesso às informações sobre drogas pela própria família, ou possuem condições de terem ou já terem tido acesso a essas informações, eles fazem o uso porque querem, têm consciência disso e muitos não pretendem parar.
Palavras-Chave: Exigências sociais. Substâncias psicoativas.
Uso. Abuso. Adicto. Família. Relações sociais.
NUNES, D. B. SANT’ANA, B. A. P. The relat ionship between drug use and social demands in drug addicts. Monograph of Psychology Course- UNAERP- Universidade de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2010, 78 p.
ABSTRACT This study aimed to review the literature on the subject, know
and understand the relationship between drug use and how are affected the social relations of users who perpetrate abuse of psychoactive substances, and these group probably may represent a far higher number than the addicts. In this research 25 subjects, of which five individuals did not fill the criteria necessary for participation, so 20 questionnaires were collected from the type of closed / multiple choice on aspects concerning the use of psychotropic substances and social requirements. The results revealed that, unlike risk factors present in the literature, the participants had high education level and income, and there is dialogue between family members. It was possible to measure the complex influence of family and group of friends in the manifestation of drug abuse. We have seen the trivialization use of tobacco, marijuana and primarily alcohol, either by the individual himself or family. Participants make use of substances almost daily, and some showed a propensity to addiction. The subjects showed disturbances in all fields of social relations and social requirements are clearly affected. Despite the unfavorable conditions offered by the drug, the majority of respondents considered themselves normal, think drug use is a normal thing and the vast majority does not intend to stop. In this research, most participants had access to drug information by their own families, or have conditions to they have or have had access to such information, they do because they want to use, they are aware of this and many do not intend to stop.
Keywords: Psychoactive substance. Use. Abuse. Adict.
Family. Social relations.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 13 2. METODOLOGIA 15 3. AS DROGAS: SUBSTÂNCIAS DE ABUSO 18 3.1. DEFINIÇÃO 18
3.2. T IPOS 19
3.3. ASPECTOS NEUROLÓGICOS 23
4. DROGAS E SOCIEDADE 25 4.1 MOMENTO HISTÓRICO 25
4.2 AS DROGAS NA SOCIEDADE ATUAL 26
4.3 POLÍTICA PÚBLICA SOBRE DROGAS NO BRASIL E EM ALGUNS
PAÍSES 27
5. FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DE DROGAS 30
6. O USUÁRIO DE DROGA 32 6.1. DEPENDÊNCIA 32
6.2. CONCEITO DE USO 32
6.2. CONCEITO DE ABUSO 33
6.3. CONCEITO DE DEPÊNDENCIA 34
7. CONSEQUÊNCIA DO USO 36 7.1. PROBLEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA x PROBLEMA DE SAÚDE
PÚBLICA 36
7.2. EXIGÊNCIAS SOCIAIS 38
7.3. ESTIGMA 40
7.4. TRATAMENTOS 42
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO 45 8.1. RESULTADOS 45
8.2. DISCUSSÃO 62
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS 72
10.REFERÊNCIAS 76
1. INTRODUÇÃO
O uso de drogas psicoativas – substâncias que alteram o humor a
percepção e o funcionamento mental ou comportamento – é quase
universal. O abuso contínuo de drogas, (. . .) , pode levar ao uso compulsivo da substância, ou dependência (também chamada adicção). Embora, nem todos que abusam de substância desenvolvam a depêndencia, esse estado segue o período de abuso. (MORRIS e MAISTO, 2004, p. 136)
Levando-se em conta que nem todos os usuários de drogas
chegam a níveis crônicos, nem desenvolvem patologias severas, ou
apresentam comportamentos inadequados, e que os usuários
esporádicos podem representar um número muito mais elevado do que
os de dependentes, tem-se então estes usuários que fogem à
capacidade de mensuração populacional, como o grupo em questão no
presente estudo, cuja relação entre o comportamento e as exigências
sociais é desconhecida. Como se dá esta relação e o quanto isto afeta
a vida destes usuários?
As causas de abuso de substâncias e da depêndencia são uma combinação complexa de fatores biológicos, psicológicos e sociais, que var iam de pessoa para pessoa e de acordo com a substância. (MORRIS; MAISTO, 2004, p.136)
Alguns usuários de drogas, por não alcançarem níveis patológicos
graves, não são alvos de atenção pública. Estes indivíduos que
apresentam sofrimento relativamente menor que o dos dependentes
químicos, não procuram ajuda e nem passam por situações que
necessitem de intervenção emergencial. Logo, os seus sofrimentos,
angústias e dif iculdades são desconhecidos, sendo assim necessário
se conhecer e compreender a relação entre o uso de drogas e o modo
com são afetadas suas relações sociais.
A droga provoca prazer, mas não é boa, pois prejudica o corpo, a mente, a famíl ia e a sociedade. Quanto maior o uso, maior o prejuízo. Cada ser humano pode ter maior ou menor resistência à droga, mas ninguém consegue contolar as reações bioquímicas que ela provoca dentro do organismo. Não se pode confundir prazer químico com felicidade. A droga causa momentos de alegria que desaparecem, dando lugar a um vazio na alma. A felicidade preenche o ser humano, fornecendo- lhe al imento durante os períodos dif íceis, valor izando-o pelo que é, e não pelo o que não possui naquele momento. (TIBA, 2007, p 17)
Portanto, o objetivo deste trabalho foi, através de pesquisa
quantitativa e qualitativa, revisar a l i teratura sobre o assunto, trazer
dados sobre como se dão e são afetadas as relações sociais destes
usuários, que aparentemente não necessitam de ajuda por não se
enquadrarem na categoria de Dependente de Substâncias Psicoativas,
de acordo com o DSM IV (2002).
2. METODOLOGIA Para a realização desta pesquisa foram feitos os seguintes
procedimentos metodológicos: 1) Levantamento bibl iográf ico da
temática em questão; 2) Análise de livros, teses, revistas, bem como
consulta a sites profícuos; 3) Elaboração de questionário t ipo
fechado/mútipla escolha, abordando aspectos referentes a uti l ização de
substâncias psicotrópicas e de exigências sociais.
Além disso, houve a pesquisa de campo, envolvendo o total de 15
participantes, sendo de ambos os sexos e com idade entre 18 a 40
anos. Foram indivíduos que fazem ou já f izeram o uso de substâncias
ou que preencheram, de acordo com o DSM IV (2002), os aspectos
para uso abusivo de substâncias psicoativas, ou seja, de forma
esporádica ou habitual.
Foi apl icado um questionário em local previamente definido com
cada participante, e a escolha do local foi criteriosa, de maneira que foi
possível coletar os dados, de forma sigilosa, sem interferência de
barulho e nem de terceiros.
Foram uti l izados papéis sulf ite tamanho A4, lápis preto número 2,
computador e cronômetro.
O instrumento de investigação foi colhido através do questionário
estruturado. A aplicação do questionário consist iu em um roteiro de
questões, composto de perguntas fechadas e 1 (uma) aberta, que
estavam relacionadas por tópicos previamente definidos.
A seleção da amostra para a pesquisa foi feita através da técnica
de “bola-de-neve” 1
1 Snowball Sampling (BERNARCKI e W ALDORF, 1981).
. Este método permite a definição de uma amostra
através de referências feitas por pessoas que comparti lham ou
conhecem outras que possuem mesmas características de interesse da
pesquisa. Para o recrutamento de participantes os primeiros foram por
indicação pessoal, por contato direto por meios eletrônicos e pela
técnica “Snowball Sampling”, onde os participantes indicaram outros
participantes, que por sua vez indicararam outros. Esta técnica foi
utl izada por ser particularmente adequada de fenômenos sociais em
áreas de ilegalidade.
Primeiramente foi feito um contato com um usuário, o qual foi o
participante inicial. A part ir dele, foi solicitado a indicação de mais
participantes e assim sucessivamente, não necessariamente nesta
ordem, até chegar no número total da amostragem.
Os participantes, inicialmente, foram contatados por telefone,
através de portal de relacionamento ou por moderador de mensagens
instantâneas, e convidados a part icipar da pesquisa. O convite tendo
sido aceito, era agendado data e local para o primeiro contato. Para
cada um dos part icipantes foi solicitado a indicação de outros, que
façam parte de seu círculo de amizade e com as características de
interesse para a pesquisa.
No momento em que foi feito o contato com o participante, o
pesquisador se apresentou, como estudante de psicologia e explicou o
seu interesse no contato e que se tratava de um trabalho acadêmico e
disse quem o indicou. Com a concordância e disponibil idade do
participante, foi agendado dia, horário e local para a apresentação
pessoal e a posterior aplicação do questionário, de acordo com a
disponibil idade de cada um.
Os part icipantes foram informados sobre o caráter da pesquisa,
cujas informações obtidas pelas coletas de dados seriam selecionadas
para se compor um trabalho acadêmico. Em seguida foi apresentado o
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi l ido e
assinado.
O tempo de duração da aplicação do questionário foi de, no
máximo, 60 minutos, e o anonimato dos participantes foi garantido
através da não identif icação da folha de respostas.
O método de pesquisa adotado foi o quantitat ivo, com o qual
pertende-se procurar identif icar um padrão de comportamento ou
opinião, assim como o desvio em relação a este padrão, através de
coleta de informações e do tratamento estatíst ico. O procedimento
quantitativo foi escolhido por ser neutro, l ivre de juízos de valores,
objetivo e lógico.
O questionário era constituido por perguntas fechadas com
alternativas que deveriam prever quase todas as possibi l idades de
respostas e, se fosse necessário, uma opção de alternativa aberta,
para aquelas respostas que nao se adequaram dentre as opções
sugeridas.
Houve, também, no questionário, uma pergunta aberta, na qual o
participante pode dissertar sobre assuntos e temas abordados nas
questões fechadas. Neste momento esperava-se que o sujeito pudesse
expor conteúdos relacionados às questões das exigências sociais e do
contexto do uso da droga.
Esta pesquisa seguiu as normas éticas estipuladas pela
Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre Pesquisas
em Seres Humanos.
Esta pesquisa foi encaminhada para o Conselho de Ética,
garantindo o sigi lo, anonimato e desistência do participante, para que
não oferecesse qualquer r isco ao mesmo. Além disso, os dados foram
util izados para f ins de pesquisa, podendo ser divulgado em reuniões e
revista científ ica.
No decorrer da pesquisa, caso fosse necessário, poderia o
entrevistado, se quisesse, ter sido encaminhado para um
acompanhamento psicológico. Não houve a demanda e nem hoveram
interessados.
3. AS DROGAS: SUBSTÂNCIAS DE ABUSO
3.1. Definição
Def inir o que é droga depende de vár ios fatores e de quem está def inindo. Se for um adolescente que exper imentou pela primeira vez e gostou, vai nos dizer que é o “maior barato”. Uma def inição popular interessante é a de Yoko Ono, viúva de John Lennon, ela disse: “Droga é tudo aqui lo que faz mal ao homem e à mulher, inclusive dinheiro, trabalho, comida, sexo e outros prazeres ‘curt idos’ de forma abusiva”. (ADAILTON, 2009, p.55)
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1981) define “droga”
como “qualquer substância capaz de modif icar a função dos organismos
vivos, resultando em mudanças f isiológicas ou de comportamento”. Se
o cri tério para definir drogas for esse, então os remédios receitados
pelos médicos, a maconha, a cocaína, o tabaco, o álcool, o chocolate e
o café também são drogas.
Estas definições, consequentemente, nos trazem certa “confusão”
para compreender e separar as drogas. Por conta desta dif iculdade,
foram criadas as classif icações de “drogas lícitas” e “drogas il íci tas”.
A questão é que toda droga pode prejudicar a saúde, se for usada
de forma abusiva. Há um alto índice de mortes pelo o uso do tabaco e
do álcool, são drogas lícitas, de fácil acesso e que comprometem a
vida de muitos.
De acordo com Adailton (2009), nem toda droga é psicotrópica,
mas toda droga psicotrópica age na mente, diretamente no Sistema
Nervoso Central (SNC).
A palavra “droga” engloba todas as substâncias tóxicas que exercem efeito sobre a mente, sobre a psique alterando a sua normalidade (vem daí o termo psicotrópico, junção das palavras psico = mente e trópico ou tropismo = atração). Droga
psicotrópica, portanto é droga que tem atração pela mente; age na mente. (ADAILTON, 2009, p. 56)
Adailton (2009) nos mostra que através do conhecimento de como
as drogas agem na mente, é possível entender melhor como as
mesmas transformam funções f isiológicas, psicológicas ou
imunológicas do organismo de maneira transitória ou permanente.
3.2. Tipos
- Drogas estimulantes
As drogas est imulantes mais conhecidas são as anfetaminas e de
acordo com suas estruturas químicas podem produzir
psicoestimulações, alucinações e sedações. São capazes de
intensif icar o estado de alerta e produzir uma sensação de competência
e bem-estar. Muitos que já uti l izaram relatam um súbito estado de
euforia, mas, depois que os efeitos da droga acabam os usuários
podem cair em um estado de exaustão e depressão.
As anfetaminas geram hábito: os usuár ios podem vir a acreditar que não conseguem viver bem sem elas. Altas doses podem provocar suor, tremores, palpitações cardíacas, ansiedade e insônia – o que pode fazer com que tomem barbitúr icos ou outras drogas para combater esses efeitos. (MORRIS e MAISTO, 2004, p. 145)
As anfetaminas mais usadas são: Ecstasy, Efedrina, GHB, Ice ou
Crystal, Poppers, Speed, Cocaína, Crack, Merla e o Tabaco.
O Ecstasy é também conhecido como a “pílula do amor”, pois é
estimulante e alucinógena. Geralmente é muito consumida em raves 2
2 Rave: é um tipo de
e
baladas. Seus efeitos duram de oito a doze horas.
festa que acontece em sítios, chácaras, fazendas (longe dos centros urbanos) ou galpões, com música eletrônica. É um evento de longa duração, normalmente acima de 12 horas, onde DJs e artistas plásticos, visuais e performáticos apresentam seus trabalhos, interagindo, dessa forma, com o público.
Efedrina é anfetamina sintét ica, uti l izada para emagrecimento,
para não sentir o cansaço ou aumentar o efeito do ecstasy. Pode
causar depressão, ansiedade e pânico.
GHB é usado como sedativo, e geralmente é diluído em bebidas
para que o usuário perca o nível de consciência, de memória, mas
esteja acordado para fazer o que lhe pedem e depois não se lembra de
nada do que aconteceu. Portanto, na maioria da vezes é uti l izado para
sedar pessoas com intuito de estrupá-las, violentá-las e etc.
Ice ou Crystal é anfetamina pura, os usuários buscam euforia,
bem-estar, aumento de energia, agitação física, pensamento rápido.
Com a util ização desta droga o indivíduo pode se tornar agressivo e
violento, principalmente pela paranóia provocada. É uma droga
perigosa pois pode provocar convulsões, derrames, coma e morte
súbita.
Poppers, mais conhecida como “gás hi lariante”. Seus usuários
buscam euforia, sedação leve e aumento do prazer sexual. Pode
causar sufocação e coma.
Speed, é uma droga sob a forma de pó branco, por isso também é
chamada de “cocaína dos pobres”, sendo que seus efeitos são
parecidos com os do ecstasy.
Já a cocaína é a droga que predomina no mundo do crime. Pode
ser inalada ou injetada. O uso de cocaína pode desencadear surtos
paranóides, crises psicót icas e condutas perigosas. A inalação deixa
lesões graves no nariz, a injeção deixa marcas de picada e há também
o risco de contaminação por outras doenças (DST/aids).
Merla é feita com água de bateria de carro, ácido sulfúrico,
querosene, gasolina, benzina, metanol, cal virgem, éter e pó de giz. È
uma droga extremamente destrutiva poque pode provocar hemorragia
cerebral, alucinações, delírios, convulsão, enfarte cardíaco e morte.
Crack é feito de subprodutos da extração de cocaína. Atinge o
cérebro em menos de dez segundos, gerando uma excitação que dura
de cinco a vinte minutos, seguida de rápida depressão. Leva uma
dependência quase imediata.
- Drogas depressoras São substâncias químicas uti l izadas para retardar o
funcionamento do organismo por meio da aceleração ou desaceleração
dos impulsos nervosos. As mais conhecidas são álcool; barbitúricos e
tranquilizantes e opiáceos.
O álcool é sempre depressor do Sistema Nervoso Central (SNC).
De acordo com Tiba (2007), em pequenas quantidades deprime o
superego – responsável pela ética e por condutas sociais adequadas,
tornando as pessoas aparentemente mais l ivres e eufóricas.
A droga psicoativa uti l izada mais frequentemente nas sociedades
ocidentais é o álcool, pois é de fácil acesso e seu alto potencial pode
gerar dependência acarretando graves problemas de saúde.
Os barbitúricos e tranquilizantes, são medicações prescritas por
médicos, mas também são util izadas como drogas.
O efeito das primeiras doses de barbitúricos é de calma, sonolência ou sono, dependendo da dose empregada. Com o uso continuado, surge tolerância rápida aos efeitos sedat ivos e a dose tende a aumentar. ( . . .) A dependência f isiológica dos barbitúricos desenvolve-se em cerca de 5 a 8 semanas de uso continuado e a ret irada abrupta leva a uma grave síndrome de abst inência (. . .) . (GRAEFF, 1989, p. 107)
Os opiáceos são substâncias similares ou derivadas à semente
de papoula. Da papoula se extrai o ópio, que vai dar a morf ina, base
original da qual foi sintetizada a heroína. É altamente viciante e sua
aquisição é i legal.
Os sinais imediatos dos opiáceos são: euforia intensa, seguida de vár ias horas de tranquil idade e bem-estar, com devaneios e sensação de ausência de problemas, podendo diminuir ansiedades e angústias, atenção, pressão arter ial e com grande f requência causa náuseas e vômitos. (TIBA, 2007, p 316)
- Drogas alucinógenas
Os alucinógenos são drogas naturais ou sintét icas que provocam alterações de percepção do mundo exterior ou, em alguns casos, sensações de paisagens imaginár ias, cenár ios, seres que podem parecer mais reais do que o mundo exter ior. (MORRIS e MAISTO, 2004, p 146)
Esta droga produz um quadro psicótico art if icial e transitório,
pequenas quantidades produzem grandes efeitos que duram pelo
menos de seis a sete horas e tem um custo mais elevado que outras
drogas. Apresenta altos riscos para a vida dos usuários.
Apesar dos alucinógenos desenvolverem rápida tolerância, não se
desenvolve a dependência f ísica nem a síndrome de abstinência com
uso esporádico, mas facil ita o uso abusivo. Podendo desencadear
quadros psicót icos se os usuários já t iverem uma predisposição.
Os alucinógenos mais encontrados são: Akineton e Artane
(remédio usado para doença de Parkinson), Ayahuasca 3
De acordo com Tiba (2007), a neurociência comprovou
cientif icamente que maconha vicia, o que clinicamente já se sabia,
apesar de muitos tentarem disseminar o contrário. Há tempos se
observa que o usuário tende a consumir a maconha de modo crescente,
haja vista que a mesma provoca tolerância (há canabistas
, Chá de lír io
ou de Trombeta, Cogumelos, ácido lisérgico (LSD, droga sintét ica e
muito potente) e a maconha.
A droga ilegal mais uti l izada no mundo é a maconha, segundo a
ONU (TIBA, 2007). Um de seus ingredientes é o tetraidrocanabinol
(THC), que possui algumas propriedades químicas em comum com
alucinógenos, mas é bem menos potente.
4
3 Refere-se a uma
que fumam
de oito a doze baseados por dia), e seus usuários apresentam
síndrome de abstinência.
bebida ritual produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi (caapi ou douradinho), que serve como IMAO e folhas do arbusto Psychotria viridis (chacrona) que contém o princípio ativo dimetiltriptamina. A bebida é utilizada em rituais religiosos com o objetivo de induzir visões pessoais e estados alterados por meio da ingestão de uma substância. Era utilizada pelos incas e também por tribos indígenas da Amazônia. É utilizada em países como Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil. 4 Canabista: indivíduo que faz o uso de maconha. O termo canabistas vem do nome científico da droga, que é Cannabis Sativa, que é uma planta herbácea da família das Canabiáceas.
3.3. Aspectos neurológicos
Silva e Laranjeira (2004) destacam a importância da compreensão
dos mecanismos de ação neurobiológicos das drogas de abuso por
permitirem entender diversas alterações comportamentais e
conseqüências sociais do aumento progressivo de seu consumo. E
muitas das consequências do uso da droga são de caráter cerebral, ou
seja, muitas das alterações comportamentais do usuário ocorrem pela
ação direta da substância no sistema nervoso central.
A droga dá prazer, se não desse não haveria vício, pois ninguém usaria a segunda vez. Não seria tão grave se esse prazer pudesse ser obt ido da mesma maneira e intensidade nas próximas vezes, como é o prazer do sexo ou da boa comida. O problema principal das drogas está no modo como o cérebro reage a elas: exige cada vez mais droga para cada vez menos prazer. (HERCULANO-HOUZEL, 2002, p.87)
O sistema de recompensa compreende regiões cerebrais (área
tegumentar ventral; núcleo accumbens e córtex pré-frontal)
relacionadas ao sistema límbico que é um sistema f i logeneticamente
muito antigo nos organismos vivos e presente em todos os vertebrados.
A dopamina é o neurotransmissor responsável pela comunicação
dos neurônios envolvidos no sistema de recompensa e um dos
principais neurotransmissores relacionados à sensação de prazer.
As drogas agem diretamente sobre o sistema de recompensa do
cérebro, aumentando a quantidade de dopamina disponível para ativar
o sistema. O resultado não é qualquer ativação: a dopamina circulante
de tal sistema pode chegar a ser dez vezes maior que a encontrada
durante prazeres cotidianos, vindos “de dentro”. E com tamanha
ativação, é apenas natural que a sensação de prazer proporcionada
pelas drogas seja “ inigualável”. É o êxtase, mesmo.(Ibid)
Estas informações nos ajudam a compreender melhor os
mecanismos f isiológicos envolvidos na droga como um estímulo que
pode ter funções reforçadoras de alto valor. Pois o efeito prazeroso
conquistado pela uti l ização da droga no organismo ocorre a curto
prazo, mantendo o comportamento de auto-administração, entretanto
as consequências prejudiciais ocorrem tarde demais para terem um
efeito punitivo. Induzindo assim a uma dependência f isiológica intensa.
A dependência consiste numa verdadeira adaptação do organismo à presença cont inuada da droga, de tal forma que a sua ret irada desencadeia distúrbios f isiológicos muitas vezes acentuados, (. . .) . É tal o desconforto gerado por esta síndrome de ret irada ou síndrome de abstinência, que evitá- lo passa a ser motivação adicional para o uso cont inuado dessas drogas. (GRAEFF, 1989, p. 105)
Segundo Herculano-Houzel (2002), indivíduos diferentes têm
suscetibi l idades diferentes ao vício. Pesquisas com ratos contribuiram
para indicar de onde vem estas diferenças, pois uns f icavam
prontamente viciados e outros não. Algumas diferenças foram
apontadas no comportamento e na química cerebral dos animais.
Os predispostos ao vício, eram aqueles que reagiam a um novo ambiente com agitação e buscavam novidade, variedade e est imulação emocional, e os que não vic iam exploravam o ambiente tranquilamente. E na química cerebral, os responsivos exibiram uma hiper-at ivação dopaminérgica generalizada do sistema de recompensa: o número de receptores é reduzido. A química cerebral dos animais responsivos deve contr ibuir para a propensão ao vício, mas a resposta exagerada ao estresse parece ser a chave. (HERCULANO-HOUZEL, 2002, p.91 e 92)
4. DROGAS E A SOCIEDADE
4.1.Momento Histórico
Em quase todas as culturas cohecidas ao longo da história, as
pessoas buscaram maneiras de alterar a consciência desperta, a
ingestão de drogas vem de longa data.
A ação das drogas sobre o organismo é estudada pela
Farmacologia, ciência bastante antiga, que entre os primit ivos se
misturava com a magia. Conhecia-se a ação curativa ou anestésica de
certos extratos vegetais e os alteradores da consciência t inham as
vezes funções mágico-religiosas.
De todas as substâncias psicoativas, o álcool é a que tem a mais longa histór ia de uso general izado. Evidências arqueológicas sugerem que grupos da Idade da Pedra começaram a produzir hidromel (mel fermentado, codimentado com seivas ou f rutas), há cerca de 10 mil anos. Egípcios, babilônios, gregos e romanos consideravam o vinho como uma “dádiva dos deuses”. (MORRIS E MAISTO, 2004, p. 135)
Morris e Maisto (2004) ressaltam que na Bíblia o produto – vinho
- também é muito citado; na Idade Média recebeu o nome de “água da
vida”; até no século XIX a maioria dos ocidentais bebia álcool como
acompanhamento em todas as refeições e entre elas, como bebida
estimulante, além de servi- lo em ocasiões sociais e religiosas.
Há mais de 4000 anos a.C. os Sumerianos (atual Irã), uti l izavam
a papoula de ópio como a "planta da alegria", que traduzia o contato
com os deuses. Há 500 anos a.C. o povo Cita (habitantes do Rio
Danúbio / Rio Volga - Europa Oriental), queimavam a maconha
(cânhamo) em pedras aquecidas e inalvam os vapores dentro de suas
barracas ou tendas. Aproximadamente no ano de 1500, o Cactus
Peyoteera era ut i l izado em cerimônias religiosas (no descobrimento da
América). O ópio foi por muito tempo cult ivado l ivremente por
camponeses, por volta do século XVI, como fonte de alívio de sua tr iste
real idade sofredora. Na mesma época, os espanhóis uti l izavam as
drogas alucinógenas como uma forma de auto-cast igo, pois para este
povo, droga signif icava "demônios".
Nos séculos XVIII e XIX, a Farmacologia tornou-se mais
científ ica, comprovando o efeito de vária drogas tradicionais como a
cânfora, quina ou coca, e descartando as inef icazes. A descoberta de
medicamentos naturais prosseguiu com os antibióticos, extraídos de
fungos, e os tranqüil izantes, extraídos de plantas.
O ópio (morf ina / anestésico) incentivado na guerra civil
americana (1776) era uti l izado para fornecer alívio à dolorosa vida dos
soldados.
A primeira droga sintética ut i l izada pela medicina foi o hidrato de
cloral 5
5 É uma droga
, em 1869. A partir daí os remédios, antes extraídos de ervas
pelo boticário, começaram a ser fabricados por grandes indústrias.
Durante a 2ª Grande Guerra Mundial, receitas de anfetaminas
(est imulantes) eram util izadas para combater a fadiga.
Em 1960 foi o auge do LSD (a era dos ácidos), muitos psiquiatras
receitavam impiedosamente o consumo deste tipo de droga. Em 1970
prol iferação da cocaína e seus derivados, entre eles o "crack", e mais
recentemente aparecendo o ecstasy, deveras popular entre as classes
média e alta.
4.2 As drogas na sociedade atual
Na maioria das culturas, as substâncias eram usadas como parte
de rituais rel igiosos, como remédios, bebidas nutrit ivas ou
estimulantes. Na atualidade os motivos para o uso de drogas
psicoativas mudaram, em nossa sociedade o uso é primordialmente
recreativo.
sedativa e hipnótica, assim como um reagente químico e precursor de sínteses orgânicas.
As próprias drogas mudaram, hoje as substâncias psicoativas são
em geral mais fortes do que aquelas uti l izadas em outras culturas e em
outras épocas. Parece improvável que a humanidade em geral seja algum dia capaz de dispensar os “Paraísos Artificiais”, isto é, a “...busca da autotrancedência através das drogas” ou "...umas férias químicas de si mesmo. [...] A maioria dos homens e mulheres levam vidas tão dolorosas – na pior das hipóteses – ou tão monótonas, pobres e limitadas – na melhor delas – que a tentação de transcender a si mesmos, ainda que por alguns momentos, é e sempre foi um dos principais apetites da alma. (HUXLEY apud GRAEFF, 1989, p.101)
4.3. Política Pública sobre drogas no Brasil e em alguns países
A posse de drogas deixou de ser crime na Espanha, Portugal, Itália, República Tcheca, nos três países bálticos6, na Argentina, México e Colômbia. Praticamente todos os outros países europeus, embora teoricamente mantenham a proibição, estão deixando de prender gente pelo uso de drogas. Um bom exemplo é o Reino Unido, onde a posse de maconha continua criminalizada, mas apenas 0,2% das pessoas pegas com a droga vai para a cadeia. (O Brasil não tem números confiáveis, mas também aqui usuários de maconha raramente vão presos.) Nos EUA, já são 14 os Estados que adotaram a descriminalização – o mesmo aconteceu em vários Estados alemães e canadenses, territórios australianos e cantões suíços. (BURGIERMAN, 2009)7
6 Região no nordeste da
Burgierman (2009) destacou o caso de Portugal que em 2001
descriminalizou a posse e o uso de drogas. Desde então, nem o
consumo nem o número de usuários cresceu, mas a quantidade de
gente procurando ajuda médica para combater a dependência
aumentou.
Descriminalizar as drogas, aparentemente teve um impacto
posit ivo em quase todos os lugares que tentaram.
Europa, na costa leste do mar Báltico, onde estão localizados os estados da Lituânia, Letônia e Estônia. 7 Disponível em <http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/drogas/o-brasil-na-moda-a-a-legalizacao-das-drogas>. Acessado em 11/05/2010
“Af inal, o uso de drogas está deixando de ser crime, mas a venda
continua i legal. Portanto, continua havendo o incentivo para que
organizações criminosas se f inanciem com esse comércio.”
(BURGIERMAN, 2009) 8
As FARC ou FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia–Exército do Povo) é uma organização de inspiração marxista que atua mediante táticas de guerrilha e lutam pela implantação do socialismo na Colômbia.(...) A organização já na década de 1980 envolveu-se no
tráfico ilícito de entorpecentes. (...) controlam a maior parte do refino e distribuição de cocaína dentro da Colômbia, sendo responsável por boa parte do suprimento mundial de cocaína e pelo tráfico dessa droga para os Estados Unidos.9
Há divergências ao que se refere às FARC, pois alguns governos como
Colômbia, EUA, Canadá e União Européia consideram as FARC uma
organização
terrorista, e há governos como Equador, Bolívia, Brasil, Argentina e Chile que não
lhes aplicam esta classificação.
Quanto ao Brasil propriamente dito, Garcia, Leal e Abreu (2008) ressaltaram
que o debate sobre drogas que tem sido organizado em torno de discursos
científicos que tendem a configurar a questão ora como problema de segurança
pública (relacionado ao tráfico e à repressão), ora como problema de saúde pública
(relacionado à repressão da demanda por um lado e à redução de danos por outro).
Posto isso, em 2003, o Governo Federal brasileiro implantou como Programa
estratégico, O Segundo Tempo, já passou por várias mudanças, que têm por
objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte de forma a promover
o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de
formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, priorizando áreas de maior
vulnerabilidade social. O esporte pode ser um caminho pacífico no combate às
drogas e é mais eficaz que punições severas.
Estabelecer políticas públicas sobre drogas é considerar a formulação e execução, pois sem ações, sem resultados, não há garantia de sua efetivação. É exigir que o Estado implante
8Disponível em <http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/drogas/o-brasil-na-moda-a-a-legalizacao-das-drogas>. Acessado em 11/05/2010 9Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Forças_Armadas_Revolucionárias_da_Colômbia#cite_note-17>. Acessado em 11/05/10
um projeto de governo, através de programas e de ações voltadas para setores específicos envolvidos com a temática. Entre as expectativas de mudanças, espera-se: uma política que articule uma proposta de prevenção ampla, preservadora dos direitos humanos, permanente e realista; que dê atenção aos usuários de drogas, reduzindo os danos à sua saúde e à sociedade (doenças como AIDS e Hepatites, overdoses, dependência e mortes violentas, acidentes de trânsito e de trabalho, entre outros); que promova a inserção de grandes setores da sociedade, proporcionando alternativas de vida e evitando deixá-los à mercê do tráfico como forma de subsistência. (MESQUITA Apud GARCIA; LEAL; ABREU, 2008)10
10 Disponível em <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822008000200014>. Acessado em 12/05/2010
5. FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DE DROGAS
Há uma complexidade nas causas do abuso e da dependência de
substâncias químicas, pois resultam de uma combinação de vários
fatores: biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Considerando tudo
isso, também variam em relação a pessoa e droga ut l izada.
De acordo com alguns autores, o fato de uma pessoa usar uma
droga psicoativa e quais os efeitos que essa droga produzirá também
dependerá das expectativas dessa pessoa, do seu contexto social de
crenças, e valores culturais.
O contexto no qual as drogas são uti l izadas é outro determinante
importante de seus efeitos. Hoje em dia, muitos jovens acham que só
vão se divertir se consumir álcool ou usar alguma droga, acham que
precisam fazer isso para vencer sua timidez social e serem aceitas ou
para esquecer totalmente dos seus problemas por alguns instantes.
De acordo com Schenkere e Minayo (2004), há alguns estudos
que nos ajudam a entender como a famíl ia está envolvida no
desenvolvimento saudável, ou não, de seus membros, já que ela é
entendida como sendo o elo que os une às diversas esferas da
sociedade. Os estudos apontam para a complexa inf luência da famíl ia,
da escola e do grupo de amigos no caso da manifestação do uso
abusivo de drogas, principalmente na adolescência.
O ambiente familiar acaba por inf luenciar o jovem a experimentar
as drogas ut il izadas pelos pais e parentes próximos, característica esta
que preocupa, uma vez que o uso cotidiano de álcool e tabaco no
ambiente doméstico é elevado.
Estudos mostram que há fatores de riscos que podem levar à
indução dos jovens ao consumo de drogas, como por exemplo: baixo
nível de escolaridade, salário que não é suf iciente para satisfazer
necessidades básicas, conflitos intra e interfamil iares, falta de
discipl ina, falta de diálogo entre os membros da famíl ia e baixa
expectativa do futuro educacional dos f i lhos.
A droga é usada hoje: por simples cur iosidade; como uma aventura sem compromisso, dada a banalização de seu uso; na busca do prazer sem preocupação com os r iscos; para o jovem mostrar perante seus amigos que é corajoso e destemido fazendo o que t iver vontade; por imaginar que vai só exper imentar sem tornar-se um vic iado; por pensar que se usar uma vez só nada de mal lhe acontecerá; por falhas na educação e por baixa auto-est ima, que faz o jovem absorver comportamentos indesejáveis de seus conviventes. (TIBA, 2007, p.126)
Não existe uma regra geral que explique todos os casos, mas,
conforme Morris e Maisto (2004), os psicólogos identif icaram diversos
fatores que, especialmente se combinados, aumentam a probabil idade
de que uma pessoa venha a usar drogas em excesso.
6. O USUÁRIO DE DROGA
6.1. Dependência
Diante das angústias e sofrimentos os seres humanos tendem
muitas vezes a buscar alívio imediato de maneira autotranscendente ou
simplesmente dando “férias” a si mesmo através do uso de substâncias
psicoativas. Freud (1955) diz que, além do prazer, a droga propicia um
certo de grau de independência do indivíduo em relação ao meio
ambiente. Isto visto pelo lado psicológico.
Pelo lado f isiológico as drogas atuam diretamente nas vias
neurológicas, nos sistemas de recompensa. Elas são responsáveis pela
motivação, estimulação, comportamento, entre outras funções
sensoperceptivas e cognit ivas do ser humano.
Têm-se, então, a busca pelo equil íbrio psicológico, e muitas
vezes f isiológico, através da dependência do uso de drogas. O vício
está mais relacionado ao estado mental ou à interação entre corpo e
mente. Por isso, seu uso e abuso estão int imamente ligados aos
reforços instalados, e que o ato de consumir drogas está sujeita às
pressões internas e externas do indivíduo, às internalizações durante
seu desenvolvimento (seu meio ambiente), e a uma necessidade
imediatista do corpo de repor aquilo que lhe falta, uma forma de lidar
com o cotidiano que lhe causa muita angústia.
6.2. Conceito de Uso
Definiremos o Uso como qualquer consumo de substância feita de
forma experimental, ocasional, esporádica ou regular, feita de maneira
moderada e não representando, necessariamente um padrão desviante
ou causador de prejuízo ou sofrimento clínico. De forma que não
caracterize abuso ou dependência.
6.3. Conceito de Abuso
De acordo com Graeff (1989), se considera abuso a auto-
administração de uma droga que desvia dos padrões sócio-culturais
aceitos. Deve-se levar em conta os fundamentos de auto-administração
e os padrões de uso de drogas numa determinada sociedade e numa
determinada época histórica. Em 2005 Graeff, juntamente a Guimarães,
f izeram uma leitura do DSM IV (1994) sobre o abuso de substâncias,
este que é caracterizado pelo uso de forma recorrente e desaptada,
isso levando em conta os problemas sociais, legais e familiares do
indivíduo, causando disfunção ou doença signif icativa.
Encontramos como definição de abuso de substância, de acordo
com DSM IV(2002):
“A. Um padrão mal-adaptat ivo de uso de substância levando a prejuízo ou sofr imento cl in icamente signif icat ivo, manifestado por um (ou mais) dos seguintes aspectos, ocorrendo dentro de um período de 12 meses: (1) uso recorrente da substância resultando em um fracasso em cumprir obrigações importantes relat ivas a seu papel no trabalho, na escola ou em casa (por ex., repetidas ausências ou f raco desempenho ocupacional relacionados ao uso de substância; ausências, suspensões ou expulsões da escola relacionadas a substância; negl igência dos f i lhos ou dos afazeres domésticos); (2) uso recorrente da substância em situações nas quais isto representa perigo f ís ico (por ex., dir ig ir um veículo ou operar uma máquina quando prejudicado pelo uso da substância); (3) problemas legais recorrentes relacionados com o uso de substâncias (por exemplo: prisões por conduta imprópria relacionadas a substâncias) (4) uso cont inuado da substância, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos da substância (por ex., discussões com o cônjuge
acerca das conseqüências da intoxicação, lutas corporais). B. Os sintomas jamais sat isf izeram os critér ios para Dependência de Substância para esta classe de substância.”
Sendo que os sintomas de abuso jamais devem satisf izer os
critérios para dependência de substância para determinada classe de
substância.
Há ainda uma subdivisão, informal, do conceito de abuso, feita
pelo autor Tiba (2007), onde ele separa em dois grupos: o dos usuários
esporádicos e o dos usuários habituais. Ele ut i l iza argumentos como
ritmo de evolução, a intensidade do uso, os locais de util ização, a
posse da substância pelo usuário, o uso feito de forma coletiva ou
individual, exposição a riscos, entre outros de maneira a designar,
dentro do conceito de abuso, essa diferença entre esse dois t ipos de
usuários. O abuso compreende, de acordo como DSM IV, aspectos
siginif icat ivos mas de menor perturbação e prejuízo para o sujeito.
6.4. Conceito de Dependência
Graeff (1989), cita a definição da Organização Mundial de Saúde
(OMS), eladorada em 1974, para definir a dependência, onde a OMS
diz que “a dependência de drogas é um estado mental e, muitas vezes,
f ísico, que resulta da interação entre um organismo vivo e uma droga”.
Interação que pode ser subdivida em dependência f ísica e psíquica. Ele
acrescenta que para uma determinada droga levar o indivíduo à
dependência é necessário que cause efeitos centrais de natureza
psicológica. Quanto à sua leitura do DSM IV (1994), junto ao
Guimarães (2005), a definição para dependência é de um padrão
desadaptado de uso de drogas, levando a perturbações graves,
dif iculdade de controlar o comportamento adicto, sofrem de abstinência
e apresentam tolerância aos efeitos da droga.
Encontramos como definição de dependência de substância, de
acordo com DSM IV(2002):
“Um padrão mal-adaptat ivo de uso de substância, levando a prejuízo ou sofr imento cl in icamente signif icat ivo, manifestado por três (ou mais) dos seguintes critér ios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses: (1) tolerância, def inida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. uma necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquir ir a intoxicação ou efeito desejado. b. acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância; (2) abst inência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a. síndrome de abstinência caracter íst ica para a substância. b. a mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para al iviar ou evitar sintomas de abstinência; (3) a substância é f reqüentemente consumida em maiores quant idades ou por um período mais longo do que o pretendido; (4) existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância; (5) muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância (por ex., consultas a múlt iplos médicos ou fazer longas viagens de automóvel), na ut i l ização da substância (por ex., fumar em grupo) ou na recuperação de seus efeitos; (6) importantes at ividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância; (7) o uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema f ísico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora o indivíduo reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo continuado de bebidas alcoól icas, embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou pelo consumo do álcool). Especif icar se: - Com Dependência Fis iológica: evidências de tolerância ou abstinência ( isto é, presença de Item 1 ou 2). -Sem Dependência Fis iológica: não existem evidências de tolerância ou abstinência ( isto é, nem Item 1 nem Item 2 estão presentes).”
7. CONSEQUÊNCIA DO USO
7.1. Problema de Segurança Pública x Problema de Saúde Pública
A pouco tempo atrás o adicto era visto como delinquente, ou
marginal, e se acreditava que a solução era a sua reclusão do convívio
social.
É reconhecido que as consequências da manufatura, da síntese,
do tráf ico e uso de drogas resultem em ameaça ao bem-estar coletivo,
e o Estado age, uniformente, contra estes problemas de maneira
punitiva.
A concepção delineada antigamente no Código Penal configurava
uma perspectiva criminalizadora do consumo de drogas. Houve um
período que prevaleceram as ações governamentais de enfoque
repressivo, que buscou controlar o tráf ico e o consumo de substâncias
psicoativas, enviando para a prisão tanto traf icantes como usuários,
dando tratamento igual aos dois.
Cirino e Medeiros (2006) destacam que, quando o usuário é
considerado como delinquente, tanto a prevenção quanto os
tratamentos se basearão num aspecto mais repressivo. A prevençao é
feita de modo que as mensagens amedrontem e o tratamento é a
prisão, seja em cadeias, clínicas especial izadas ou internações
compulsórias em hospitais psiquiátricos.
Norteador dessa linha de conduta com o usuário é o pensamento
de que a conduta de consumir drogas de abuso resulta em lesão a um
bem jurídico e que este se situa na esfera do patrimônio jurídico de um
sujeito diferente daquele que seja usuário de drogas.
O filme “Tropa de Elite” 11
Analisando por este ponto de vista, seria o adicto culpado pela
falta de segurança pública? Uma vez que, sendo considerado enfermo,
poderia passar de culpado para vít ima do próprio sistema, ou como
(2007) e a Revista Veja (2009, ed.2136)
levantaram uma discussão sobre um dos possíveis culpados pela
violência l igada às drogas, que seria o consumo. Logo o consumidor
que teria a culpa pelo tráf ico e, por consequência, responsabilidade
sobre os traf icantes que geram a violência urbana. O usuário seria o
f inanciador direto dessa violência.
Com a nova Constituição (05/10/1988), o tráf ico de drogas é
definido como crime inaf iançável, prevendo-se o confisco dos bens de
traf icantes e a autorização para expropriação de terras empregadas no
plantio i l ícito. Por outro lado, descriminaliza o usuário e torna-se
obrigação do Estado manter programas de prevenção e assistência a
usuários de drogas, de acordo com Garcia, Leal e Abreu (2008). A
partir desse ponto o adicto passa de criminoso para doente, fazendo o
uso passar de crime para patologia.
O usuário sendo caracterizado como doente acarreta um modelo
de atenção dir igido a alguém que requer cuidados, geralmente de
ordem médica e/ou psicológica, necessitando de medicação e
tratamentos de desintoxicação.
Se por uma lado essa mudança traz uma visão menos agressiva
em relação ao usuário, por outro não deixa de ser preconceituosa e
tendo suas limitações, tal como, nada fazerem contra os motivos e os
incentivos que levam tantas pessoas a fazerem uso de substâncias
psicoativas. Kalina e Kovadloff (1980) colocam o drogadcito como uma
versão f iel e l iteral do mundo onde vive, onde o valor da sociedade
moderna se baseia na produção e consumo de coisas. Essa mesma
sociedade que reprime e patologiza o adicto é a mesma que fomenta a
adicção.
11 “Tropa de Elite” é um filme brasileiro de 2007, dirigido por José Padilha, que tem como tema a violência urbana na cidade brasileira do Rio de Janeiro e as ações do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
denunciante de cumplicidade, e submissão, entre o indivíduo e a
sociedade, que é mantenedora da conduta adicta.
O toxicômano renuncia à análise e ao questionamento; sendo
assim não faz diferença como o Estado o vê, porque ele só irá ver sua
angústia e sua onipotência para resolver o fato, de forma fantasiosa e
rápida.
7.2. Exigências Sociais
As exigências sociais são claramente afetadas no viciado,
principalmente dentro do contexto famil iar.
A família é a que mais sofre, isso porque o sujeito se afasta dos
outros círculos sociais ao qual pertencia anteriormente. Há um
afastamento da escola/faculdade (passa a encabular aula para sair
e/ou usar drogas), há o distanciamento dos amigos que não util izam,
brigas na rua por motivos banais se tornam frequentes, faltas e
problemas no trabalho (seu desempenho cai, podendo vir a ser
demitido), o diálogo com a família muda e seus relacionamentos
amorosos são igualmente prejudicados.
A família tem um importante papel tanto na motivação, como
sendo mantenedora desse comportamento, quanto na superação,
recuperação da dependência de substâncias.
As pessoas que fazem uso abusivo ou são dependentes de
substância psicoativa apresentam perturbações em todos os campos de
suas relações sociais, em níveis diferentes, e com suas particula-
riedades.
De acordo com Tiba (2007), em jovens estudantes é comum que
os que fazem uso de drogas passem a apresentar desinteresse, notas
baixas, brigas na escola, atos de vandalismo, tendem a ter elevados
números de faltas e evasão escolar. Ele passa a não ter estímulo para
estudar, e passa a preferir a rua, a turma e as drogas.
O usuário de qualquer idade quando passa a consumir drogas
começa a andar com a turma nova, a turma dos que usam, e
respectivamente a isto, deixa de andar com a turma antiga, a dos
“caretas”, porque estes provavelmente irão crit icar sua nova forma de
agir ou poderão eles mesmos excluí-lo do grupo por ser drogado. Nesta
galera nova pode haver pessoas que fazem mais do que usar drogas,
por exemplo criminosos de verdade que podem inf luenciar o sujeito a
fazer atividades ilegais ou ampliar as possibi l idades de algo acontecer
de ruim, num âmbito policial ou de violência em geral.
Desentendimentos passam a ser comuns, o estado alterado não
permite que o adicto perceba que está agindo de forma agressiva. As
discussões e empurrões podem ser rot ineiras, sua percepção e
cognição alteradas podem resultar num desentendimento referente aos
atos ou at itudes de outrem, ou simplesmente podem surgir paranóias,
delír ios e alucinações que impelem o sujeito a violência.
Como um dos principais problemas sociais, Tiba (2007) aponta
para o campo profissional, onde cai o rendimento, sua atenção e seu
raciocínio não são mais tão velozes e ef icazes. Faltas por causa de
ressaca e indisposição por noites em claro passam a ser comum, faltas
não justif icadas e a apresentação pessoal deteriorada podem ser
determinantes para a sua demissão do cargo.
Os relacionamentos dos drogadictos passam a ser quase que
exclusivamente com pessoas que também fazem o uso de substâncias.
Quando isso não ocorre é comum que hajam discussões que levem ao
rompimento da relação ou até mesmo ao ponto de agressão física. E
quando os dois fazem uso de drogas pode haver discussões tanto pela
diferença de frequência ou ritmo de cada um, quanto pela disputa pela
própria droga. Tentam criar acordos de uso e estratégias de
recuperação, acordos rompidos e estratégias falidas acabam por
detonarem mais angústia e, um incentivando o outro, caem facilmente
em recaídas ou quadros violentos e criminosos. No caso de um casal
de usuários, acabam por viver numa montanha-russa com a emoção, o
parceiro e a droga.
É possível verif icar nas obras de Tiba (2007), Kalina e Kovadloff
(1980) e Cirino e Medeiros (2006), que a família está num ponto central
em relação à adicção. Seja pelo uso de drogas que pode surgir como
forma de contestação ou separação dos pais, ou por inf luência de pais
que fazem uso de drogas, ou pela negligência familiar, como sintoma
de problema familiar, etc. Das exigências sociais citadas a mais
siginif icante é a da familiar, por ela ser a primeira sociedade de que
f izeram parte, os familiares criam expectativas a seu respeito, fazem
cobranças, cuidam e de forma geral apl icam e dedicam energia
psíquica e f ísica no indivíduo.
Cada pessoa que passa a usar drogas tem uma vivência diferente
em casa, na família. Alguns pais são intolerantes e podem chegar a
expulsar de casa o f i lho, outros podem entender aquilo como não
prejudicial ao f i lho em virtude de não atrapalhar os estudos ou
trabalho, e passa a permirtir que se faça o uso “moderado” até mesmo
dentro de casa.
No caso de dependentes a procura por ajuda especializada é
fundamental pelo fato de o dependente apresentar, não somente perigo
para ele mesmo, mas como para toda a sua família. A recuperação em
muitos casos depende justamente do apoio familiar, é a suposta
responsabil idade que o indivíduo sente a respeito de sua família, sobre
a felicidade deles, que leva algumas pessoas a criarem pensamentos e
atitudes para lutar contra a adicção. A presença da mãe nesse
momento é o de maior relevância por ser uma f igura central na vida do
sujeito.
7.3. ESTIGMA
Segundo Goffman (1963), no contexto histórico do surgimento do
termo, o est igma era referente a um sinal ou marca corporal que
evidenciava uma pessoa a ser evitada. Atualmente o termo é mais
aplicado à própria desgraça. É a sociedade estabelecendo os meios de
categorizar as pessoas e os atributos comuns para cada categoria.
O termo estigma, portanto, será usado em referência a um atributo profundamente depreciativo, mas o que é preciso, na realidade, é uma linguagem de relações e não de atributos. Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem, portanto ele não é, em si mesmo, nem honroso nem desonroso. (GOFFMAN, 1963, p.13)
Ele ainda menciona que há três tipos de est igma: as abominações
do corpo, as culpas de caráter individual e os estigmas tribais de raça,
nação e religião. No caso do vício se enquadraria no segundo tipo,
onde as culpas são “(...)percebidas como vontade fraca, paixões
tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade(...)”.
(ibid, p.14)
Na sociedade contemporanêa ocidental, alguns indivíduos que
fazem uso de substâncias psicoativas parecem não se sentirem
marginalizados e depreciados, ou podem ter a sensação de que “todos”
fazem esse uso, logo, esse indivíduo se sentir ia dentro do “normal”,
conforme trecho abaixo:
O indivíduo estigmatizado tende a ter as mesmas crenças sobre identidade que nós temos; isso é um fato central. Seus sentimentos mais profundos sobre o que ele é podem confundir a sua sensação de ser uma “pessoa normal”, um ser humano como qualquer outro, uma criatura, portanto, que merece um destino agradável e uma oportunidade legítima. (ibid, p.16)
Além desse sentimento de normalidade, Goffman (1963) coloca
que o indivíduo estigmatizado, ao entrar numa situação social mista,
pode se retrair ou tentar se aproximar com agressividade, vaci lando
entre os dois comportamentos, e a agressividade pode provocar nos
outros respostas desagradáveis.
A estigmatização leva a um interesse de vida colet iva daqueles
que pertencem a uma categoria particular. No caso de usários, seja
para uti l izar ou para se tratar, cujo atr ibuto comum fortalece o vínculo e
incentiva (para usar ou recuperar).
O que se sabe é que os membros de uma categoria de estigma particular tendem a reunir-se em pequenos grupos sociais cujos membros derivam todos da mesma categoria, estando esses próprios grupos sujeitos a uma organização que os engloba em maior ou menor medida. (ibid, p.32)
A “visibi l iadade” do estigma, nos usuários, vai depender de qual
substância é uti l izada, de como e por quanto tempo que é uti l izada,
classe social, meio social, entre outros fatores. Por exemplo, o usuário
esporádico de maconha muito se diferencia do dependente de crack.
O “encobrimento” é “onde o estigma é escrupulosamente invisível
e conhecido só pela pessoa que o possui, que não conta nada sobre
ele a ninguém” (ibid, p.84), e é importante para manter reservado seu
defeito diante de uma classe de pessoas e da polícia, mas se expõem
para “(.. .)outras classes sociais, ou seja, cl ientes, cúmplices,
contatos(...)” (ibid, p84-85).
Como resposta à situação que o estigmatizado se encontra,
desviante às normas sociais, ele busca os valores gerais de identidade,
e:
O fracasso ou o sucesso em manter tais normas têm efeito muito direto sobre a integridade psicológica do indivíduo. Ao mesmo tempo, o simples desejo de permanecer fiel à norma – a simples boa vontade – não é o bastante, porque em muitos casos o indivíduo não tem controle imediato sobre o nível em que apóia a norma. (ibid, p.138-139)
7.4. Tratamentos
Existem diversos t ipos de tratamentos para a dependência do uso
de drogas, tratamentos tanto psíquicos quanto f isiológicos, como por
exemplo a farmacoterapia, psicanálise, terapia comportamental, terapia
psicossocial, terapia familiar, estratégias de Redução de Danos, entre
outros t ipos de terapias.
Alguns dos principais t ipos de prof issionais especial izados que
atendem esta clientela são: médico, psiquiatra, psicólogo, assistente
social, enfermeiro entre outros prof issionais que atuam de forma
indireta, assim como os voluntários.
Mas, possívelmente, o melhor tratamento é o da prevenção e
conscientização, baseada na autoestima da pessoa e no equil íbrio
entre corpo e mente.
O tratamento está vinculado diretamente com o contexto, a
época, a abordagem e todo o âmbito psicossocial e cultural. O
tratamento deve variar de uma cultura para outra em virtude dos
valores agregados ao signif icado que o uso de drogas tem para aqueles
sujeitos daquela determinada sociedade. Depende também do ritmo,
frequência, intensidade e tolerância que o sujeito apresenta com a
substância uti l izada.
Em clínicas de recuperação, primeiramente é feita a higienização,
a desintoxicação, no usuário. Esta parte é a mais simples, a fase da
retirada, uma ação mecânica de extração da substância, que está no
corpo do indivíduo, e que é a geradora do transtorno. A segunda parte,
que é a mais dif ícil , diz respeito a manutenção. Neste momento o
indivíduo pode sofrer com a abstinência, podendo ter recaídas, gerar
ansiedade, depressão ou outro sintoma psíquico.
Graeff (1989) coloca que na farmacoterapia a mais usada é a
terapia de reposição, que consiste em usar a mesma droga, mas por
outra via de administração, ou outra droga com mecanismo de ação
semelhante, porém, com propriedades farmacocinéticas diferentes, que
sejam menos nocivas permitindo uma melhora na qualidade de vida.
Uma outra abordagem é o uso de antagonistas, que funcionam
bloqueando os receptores relacionados a substância de uso do
dependente.
As psicoterapias podem ajudar em casos de dependentes
considerados leves, mas Tiba (2007) acredita que deve-se trabalhar
juntamente ao tratamento farmacológico para obter sucesso em
dependentes graves. Isso para que possa ser feita a desintoxicação,
util izar a farmacoterapia e a psicoterapia como formas de evitar
recaídas e amenizando as síndromes de abstinência.
Em Cirino e Medeiros (2006) é possível encontrar a estratégia de
Redução de Danos, que não é exatamente um tratamento, mas sim uma
capacidade de melhoria na qualidade de vida e na prevenção de
patologias mais graves. Ela consiste em conscientizar o usuário e dar
noções de saúde e higiene, pode ser feita através de campanhas ou
ações educacionais e se mostram eficazes como um primeiro contato
com estes usuários que, posteriormente, após terem adquirido mais
conhecimento, podem procurar o tratamento de recuperação através de
um processo tolerante e empático, respeitando a diversidade e o
momento de cada um.
Cirino e Medeiros (2006) ainda citam o Centro de Atenção
Psicossocial de Álcool e Drogas, que se constitui como um serviço
ambulatorial de atenção diária, que presta cuidados intensivos, semi-
intensivos e não intensivos. Sua equipe é formada por assistente
social, clínico geral, psicólogo, terapeuta ocupacional, psiquiatra,
enfermeiro e técnico de enfermagem. O usuário pode ser atendido pelo
centro, através de encaminhamento dos familiares, encaminhamento
jurídico, médico ou por vontade própria. Não existe restrição quanto a
clientela atendida, a única exigência é de que seja morador do
município onde se localiza a unidade. Trabalham com o ex-dependente
em todas as áreas, fazem acompanhamento pelo tempo que o indivíduo
apresentar ser necessário.
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO
8.1. RESULTADOS
A pesquisa contou com a participação de 25 sujeitos, sendo que
cinco indivíduos responderam somente o Questionário de Seleção, e os
demais responderam o Questionário de Seleção e o Questionário de
Participação. Apesar dos esforços, só foi possível abranger a faixa
etária dos 20 aos 32 anos, com sujeitos de ambos os sexos, sendo 52%
de homens e 48% de mulheres, todos brasileiros.
Dos 25 participantes, dois não preencheram, de acordo com o
DSM IV (2002), os aspectos para uso abusivo de substâncias
psicoativas, e três se auto-avaliaram de maneira a preencher, de
acordo com o DSM IV (2002), os aspectos para dependência de
substâncias psicoativas. Sendo assim, esses cinco indivíduos não
preencheram as características para part icipação da presente
pesquisa.
O contato e a definição do local para aplicação dos Questionários
foram feitos de maneira sigi losa por se tratar de um fenômeno social
em área de ilegalidade. Cada part icipante definiu o local e horário
apropriados, de acordo com a disponibi l idade de cada um, para a
real ização da coleta de dados. Aos sujeitos foram solicitadas
indicações de outros part icipantes que compart i lham ou conhecem
outras pessoas que possuem as mesmas características.
Os sujeitos foram informados sobre o tema, os objetivos da
pesquisa, o sigilo e que as informações obtidas servirão para compor
um trabalho acadêmico. Foi apresentado a eles o TCLE - Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido -, o qual foi l ido e assinado.
O tempo de duração da aplicação dos questionários teve uma
média de 30 minutos, salvo nos casos dos part icipantes que
responderam somente o Questionário de Seleção, o qual teve duração
média de 5 minutos.
O início do questionário era destinado à identif icação do sujeito,
no qual foi possível aferir o estado civil (Figura 1), escolaridade (Figura
2), a renda pessoal (Figura 3) e a renda familiar (Figura 4). Foi
constatado que, dentre os 20 part icipantes, 17 já passaram ou estão
passando por algum tipo de tratamento médico, psiquiátr ico ou
psicológico, sendo que os tipos estão subdivididos na Figura 5.
Três sujeitos informaram que tomam remédios, sendo esses:
Anticoncepcional, Omeprazol e Cloridrato de Sertralina. Um indivíduo
informou ter tomado, entre os anos de 2003 e 2004, Ocaldil.
16
2 2
Estado Civil
Solteiro Casado Outro
Figura 1. Estado Civil Outro: amigado, relação estável.
1 13
1
15
Escolaridade
Ensino Médio Incompleto Ensino Técnico Completo
Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo
Pós-Graduação
Figura 2. Escolaridade
7
54
Salário
Até 2 salários mínimos De 2 até 5 salários mínimosAcima de 5 salários mínimos
Figura 3. Renda
12
15
2
Renda familiar
Até 2 salários mínimos De 2 a 5 salários mínimosAcima de 5 salários mínimos Não respondeu
Figura 4. Renda familiar
2
5
14
Tipo de tratamento
Médico Psiquiátrico Psicológico
Figura 5. Tipo de tratamento que o participante passou ou está passando.
Após a identif icação do participante foram investigados aspectos
relacionados à condição de usuário. A idade em que os participantes
uti l izaram substância psicoativa pela primeira vez variou entre sete a
16 anos, resultando na média de 12,65 anos. A substância psicoativa
experimentada pela primeira vez, pela maioria, foi o álcool, com 16
respostas, em segundo lugar f icaram o tabaco e a maconha, ambos
com duas respostas cada.
A seguir temos os gráf icos referentes ao contexto em que foi
uti l izado drogas pela primeira vez (Figura 6), o que levou a usar a
primeira vez (Figura 7), o que já ut i l izou na vida (Figura 8), o que
util izou nos últ imos 12 meses (Figura 9), frequência da util ização
(Figura 10), estado emocional sob o efeito de substância psicoativa
(Figura 11), estado emocional no cotidiano (Figura 12) e a forma de
obtenção da droga (Figura 13).
Em relação ao tempo de uso temos: um indivíduo que util iza a 7-
12 meses; um indivíduo a cinco anos; dois indivíduos a seis anos; cinco
indivíduos a sete anos; dois indivíduos a oito anos; dois indivíduos a
nove anos; 4 indivíduos a 12 anos; um indivíduo a 13 anos; um
indivíduo a 14 anos; e um indivíduo a 15 anos. Resultando na média de
8,85 anos.
11
3
8
12
Contexto em que usou a 1ª vez
Festa Em casa Numa roda de amigos Com algum parente Outro
Figura 6. O contexto em que o participante utilizou substância psicoativa pela primeira vez. Outro: Com um amigo
O que levou a usar pela 1ª vez
15
723126
7 1
Curiosidade Influência de amigosInfluência da mídia Fácil acesso e obtençãoPara fugir da realidade Para relaxarPara descontrair Para festejar ou comemorarOutro (Para fazer parte da turma)
Figura 7. Motivos que levaram os participantes a usar pela primeira vez.
15
7
1
7
1
7
2 2
1720
2
9
13 2
7
1518
2
Tipo de droga (s) já utilizada (s) na vidaEcstasy Efedrina GHB Poppers
Speed Cocaína Crack Merla
Tabaco Álcool Barbitúricos TranquilizantesOpiáceos Ayahuasca Chá de lírio Cogumelos
LSD Maconha Outro
Figura 8. Tipo (s) de substância (s) psicoativa (s) utilizada (s) na vida. Outro: Meme (maconha + crack), quetamina (anestésico veterinário)
9
2 36
12
20
3
9
15
Tipo de droga (s) que utilizou nos últimos 12 meses
Ecstasy Efedrina PoppersCocaína Tabaco ÁlcoolTranquilizantes LSD Maconha
Figura 9. Tipo (s) de substância (s) psicoativa (s) utilizada (s) nos últimos 12 meses.
Frequencia de uso
8
4
3
9
3
4
Eventualmente em festas
Eventualmente para relaxar
mensalmente
Diariamente
De 3 a 5 dias por semana
Aos finais de semana
Figura 10. Frequência da utilização da substância psicoativa.
8
2
9 8 8
3
9
43
1 12
7
3
9
Estado emociaonal sob efeito de drogas
Feliz Alegre Aliviado Descontraído Animado
Tranquilo Confiante Eufórico Ansioso Angustiado
Triste Depressivo Agressivo Inpulsivo Outro
Figura 11. Definição do estado emocional do sujeito quando está sob efeito de substância. Outro: Tabaco causa efeito nenhum, Relaxado e Desligado do Mundo
11
76 6
54
1
13
3
1 1
6
Estado emocional no cotidiano
Feliz Alegre Descontraído Animado
Tranquilo Confiante Eufórico Ansioso
Angustiado Triste Agressivo Impulsivo
Figura 12. Definição do estado emocional do sujeito no cotidiano.
Forma de obtenção da droga
15
3
7
7
1
10
2
Amigos
Familiares
Traficantes do meio social
Na "Boca de fumo"
Drogarias
Estabelecimentos comerciais
Trabalho
Figura 13. Forma de obtenção da droga.
Dos vinte part icipantes que responderam o Questionário de
participação, sete informaram que tem ou já t iveram relação com
criminosos, além da compra de drogas. Os mesmos sete relataram já
terem feito coisas ilegais, tais como: compra, uso, transporte e venda
de drogas; vandalismo; perturbação a paz pública; furto; roubo; porte
de arma; cúmplice de um crime; e direção perigosa.
Quando questionados sobre a existência de ritual para a
uti l ização da substância, 10 indivíduos disseram haver algum tipo de
ritual, conforme a seguir: sempre util izar na companhia de alguém, não
util izando sozinho; em grupo ou festas grandes; com amigos; em
eventos; modo de preparo; somente após os f i lhos dormirem; fumar
maconha antes das refeições; cheira cocaína somente bebendo álcool.
Foi aferido que 18 participantes possuem familiares que usam ou
usavam substâncias psicoativas, somente dois participantes
informaram não haver usuários na família. O grau de parentesco
desses familiares que usam ou usavam esta presente na Figura 14, e
as drogas que usam ou usavam estão na Figura 15.
3
7
10 10 11 11
Grau de parentesco
2º grau ou mais Avós Pais Primos Irmãos Tios
Figura 14. Grau de parentesco dos familiares que fazem uso de substâncias psicoativas.
3 25
2
1416
1 1 1 2
10
1
Tipo de droga (familiares)
Ecstasy Poppers Cocaína Crack
Tabaco Álcool Barbitúricos Tranquilizantes
Opiáceos LSD Maconha Outra (heroína)
Figura 15. Tipo (s) de droga (s) utilizada (s) pelo (s) familiar (es).
Os problemas relacionados com o cumprimento de obrigações
foram relatados da seguinte forma: faltar às aulas; atraso e falta ao
trabalho; atraso na entrega de trabalhos; dif iculdade para acordar no
dia seguinte.
Somente um participante informou já ter t ido problemas legais
decorrentes do uso de drogas. O sujeito relatou já ter sido preso em
virtude de porte de drogas.
Em relação aos problemas de saúde decorrentes do uso
exagerado de substâncias psicoativas, 13 participantes responderam
que tem ou já t iveram problemas de saúde. Entre eles estão:
constipação, depressão, ressaca, problemas estomacais e renais,
dores no corpo, enxaqueca, alergias, intoxicações, tosse, náusea,
tontura.
Nove part icipantes já tentaram parar, ou já pararam, de util izar
substâncias psicoativas, e somente dois, desses nove participantes, já
procuraram algum tipo de ajuda. Um procurou ajuda psicológica e o
outro procurou ajuda do pai, do terapeuta e de amigos.
As famílias, de 17 participantes, sabem que estes uti l izam
substâncias psicoativas. Descobriram através: do próprio participante,
acharam em suas coisas, alguém contou, algum parente deu, o
participante mudou de comportamento, precisou de cuidados médicos,
teve mudança no corpo ou teve problemas legais. Na sua grande
maioria, 13 de 17 sujeitos, a família f icou sabendo através do próprio
parente usuário, o qual contou para sua família sua condição.
As drogas de que a família tem conhecimento que o participante
faz uso seguem na Figura 16, e o tempo que sabem sobre o uso segue
na Figura 17.
4
13
9
1 12
7
1
13
Drogas que a família sabe que usaEcstasy Poppers Cocaína
Tabaco Álcool Tranquilizantes
Chá de lírio LSD Maconha
Outra (sabem de todas)
Figura 16. Tipo (s) de droga (s) que os familiares sabem que o participante usa.
Tempo que a família sabe do uso
1
4
3
1
2
1
2
3
4 anos
5 anos
6 anos
7 anos
8 anos
9 anos
10 anos
12 anos
Figura 17. Tempo que a família tem conhecimento do uso de droga por parte do participante.
Em relação ao comportamento da famíl ia frente ao uso de
substâncias, quando questionado o participante sobre como eles
estimulam a manter ou parar de usar, seis indivíduos responderam que
seus familiares ajudam a manter o uso através de inf luência direta ou
indireta dos próprios familiares, facil idade de obtenção dentro de casa
e um participante explicou que a família pede para que ele tenha limite
e conversam sobre o uso indevido. Em contraponto, 12 part icipantes
informaram que seus familiares ajudam a parar de usar através de
pedidos da mãe, pedidos de que mantenha o uso de droga lícita e
abandone o uso de drogas i l ícitas, conversando sobre o assunto,
tentativas de troca (“compra”, chantagem), sendo intolerante ou
solicitando que diminua o consumo.
Os participantes relataram, de acordo com a Figura 18, ter havido
mudança na participação em eventos familiares.
Mudanças em eventos familiares
2
3
4
2
2
2
6
Reuniões
Festas
Almoços
Aniversários
Datas comemorativas
Projetos
Outro
Figura 18. Mudanças na participação em eventos familiares decorrentes do uso de drogas. Outros: não houve mudanças, nunca teve o costume de frequentar eventos familiares, afastamento natural por causa da idade e de estudos, vai pouco pra casa da família.
Depois que passaram a fazer uso de substâncias, seis relataram
que o diálogo entre eles e a família mudou, nove disseram que não,
dois responderam que já não havia diálogo anteriormente e um
respondeu que recentemente tudo está normal, isso devido a aceitação
por parte deles da condição de usuário.
Têm-se 15 participantes que negam haver desentendimentos,
discussões ou agressões por causa da droga, e dois part icipantes
assinalaram haver tais desentendimentos.
16 participantes t iveram disponibil ização de informações por
parte da famíl ia contra três que não t iveram.
De acordo com as informações fornecidas pelo participante,
presentes na Figura 19, foi possível aferir as expectat ivas provenientes
de seus familiares a seu respeito diante de sua condição de usuário.
3
54
2
5
Expectativa da família em relação ao usuário
Não tem expectativa alguma
Gostariam que parasse de usar
Esperam que pare de usarSabem que irá parar, por isso não se preocupam
Outro
Figura 19. Expectativa que a família tem a seu respeito em relação ao uso de droga. Outros: que o sujeito se torne um bom profissional, acham que não usa mais droga ilícita, não dá mais “trabalho”, estão sempre presente e controlando.
È de bom alvitre salientar que, no questionário, o sujeito poderia
falar sobre a mãe ou o responsável. Desse modo, todos ressaltaram a
mãe. Assim, as respostas foram:
-Mãe, o dinheiro vem dela.
- Nenhuma.
- Ela gostaria que eu parasse.
- Ajuda a lembrar sobre o abuso.
- Muito importante.
- Quando se deparou com um f ilho que usava drogas o “baque” foi
grande, e as relações com ela f icaram bastante dif íceis, mas com o
tempo e muita conversa tudo se normalizou, e hoje é ótima e muito
importante.
- Ela é um porto seguro, só não faço, ou f iz, mais coisas por pensar no
desgosto dela.
- Total
- Ela está sempre colocando muito l imites impedindo às vezes o uso da
substância.
- A importância da mãe é principalmente o respeito, e saber que é a
pessoa que sempre estará ao seu lado e que só quer seu bem.
- É muito importante, estamos sempre conversando sobre muitos
assuntos, tenho muita l iberdade pra conversar e relatar problemas.
- Não tem muita importância.
- Minha mãe faz o uso de tabaco, sempre conversamos sobre o uso,
mas nada sobre parar.
- Ela está sempre do seu lado para te ajudar, seja qual for o problema.
- Acredito que tenho idade suficiente para escolher e assumir a
responsabil idade das conseqüências das minhas escolhas.
- Fundamental, às vezes pouco, mas são as palavras mais sábias.
- Essencial para mostrar o que é bom ou não para nós, impondo limites.
Diante disso, 3 participantes não responderam.
A respeito do comprometimento com as exigências sociais, e
como essa relação é afetada pelo uso de drogas, temos os seguintes
resultados (Figura 20).
8
7
2
3
Faltas a compromissos decorrentes do uso ou da sua recuperação
Poucas vezes Algumas vezes Muitas vezes Não
Figura 20. Faltas a compromissos sociais em virtude de estar sob o efeito de substâncias psicoativas ou tentando se recuperar de seus efeitos.
Os participantes foram questionados sobre o quanto foram
afetadas algumas faculdades depois que passaram a usar drogas, para
isso foi uti l izado uma escala de 0 a 5, na qual cada número signif ica
que: 0 - não foi afetada, 1 - muito pouco afetada, 2 - pouco afetada, 3 -
afetada, 4 – consideravelmente afetada, 5 - muito afetada. Os
resultados obtidos seguem nas Figuras 21, 22, 23, 24, 25, 26 e 27.
Um participante informou que o seu Desempenho Físico foi
afetado (3 - afetada), e um part icipante informou que a sua Disposição
foi afetada (3 - afetada).
Comprometimento
42%
21%
32%
5%
0 1 2 3
Figura 21. Comprometimento.
Responsabilidade
38%
26%
26%
5% 5%
0 1 2 3 4
Figura 22. Responsabilidade.
Raciocínio
26%
31%16%
16%
11%
0 1 2 3 4
Figura 23. Raciocínio.
Memória
17%
33%11%
28%
11%
0 1 2 3 4
Figura 24. Memória.
Atenção
27%
28%11%
28%
6%
0 1 2 3 4
Figura 25. Atenção.
Desempenho
47%
11%16%
21%0% 5%
0 1 2 3 4 5
Figura 26. Desempenho escolar, acadêmico ou profissional.
Apresentação social
58%24%
0%
12% 6%
0 1 2 3 4
Figura 27. Apresentação social.
Quando questionados sobre abandono de compromissos sociais
por causa do uso, apenas 10% responderam que já abandonaram
algum compromisso, como trabalho ou estudos. E 90% responderam
que nunca abandonaram compromissos sociais.
Em relação aos cuidados com a aparência, 10 % responderam
que houve mudança nos cuidados, e 90% responderam que não.
No quesito violência 25% informaram já terem brigado por causa
de droga. E 35% já praticaram algum ato de vandalismo relacionado ao
uso de drogas.
Dos 11 participantes que possuem relacionamento amoroso
estável, sete informaram que seus parceiros também fazem uso de
drogas, sendo que quatro indivíduos disseram haver conflitos entre o
casal por causa da droga. A média de duração dos relacionamentos
varia de um a mais de cinco anos, sendo que sete sujeitos
responderam que seus relacionamentos duram entre um a dois anos,
três responderam durar entre três a cinco anos, e um respondeu que
seus relacionamentos duram cinco anos ou mais.
Quatro indivíduos assinalaram que o casal já tentou alguma
estratégia de recuperação, mas somente três obtiveram êxito. Em
relação a desentendimentos ou discussões pela diferença de
frequência ou ritmo de uso de cada um, seis participantes responderam
já ter t ido problemas.
Em decorrência do uso de droga, quatro sujeitos disseram ter
ocorrido distanciamento de amigos ou parceiros. Apesar disso, 14
participantes relataram que sua turma de amigos é antiga. Nove deles
experimentaram e/ou começaram a usar juntos à turma de amigos.
Sendo que quatro informaram ter havido disputa pela droga entre seus
amigos.
Referente às exigências sociais, de acordo com a própria visão
do participante, quatro responderam se sentirem “estranhos”, 13 dizem
achar ser visível o fato de serem usuários, seis se sentem “rotulados”,
um se acha marginalizado, 13 acham o uso de drogas normal e apenas
cinco (dos 20 participantes) gostariam de não ser usuários.
8.2. DISCUSSÃO
Diferentemente dos estudos que mostram que alguns dos
principais fatores de riscos que podem induzir jovens ao consumo de
droga, como o baixo nível de escolaridade, a baixa renda familiar ou
falta de diálogo entre os membros da família, foi possível aferir nesta
pesquisa que: 75% dos participantes possuem o ensino superior
incompleto, 20% recebem acima de cinco salários mínimos por mês e
75% possuem renda familiar superior a cinco salários mínimos,
somente 10% responderam não haver diálogo com a famíl ia e 80%
responderam que tiveram disponibil ização de informações por parte da
família.
De acordo com a literatura, o ambiente familiar acaba por
inf luenciar o jovem a experimentar as drogas uti l izadas pelos pais e
parentes próximos, isso devido ao uso cotidiano de álcool e tabaco
dentro das residências, e nesta pesquisa não foi diferente. A idade
média em que os participantes começaram a usar foi há de 12,65 anos,
sendo que 80% começaram com álcool, 10% com tabaco e 10% com
maconha. Vale salientar que 15% começaram em casa e 5%
responderam que iniciaram com um parente. Questionamos sobre os
tipos de drogas já ut i l izadas na vida, onde obtivemos 100% de
respostas posit ivas para álcool, 90% para maconha e 85% para tabaco.
E quando perguntado sobre quais os tipos de drogas util izadas, nos
últ imos 12 meses, obtivemos os mesmos 100% para álcool, 75% para
maconha e 60% para tabaco.
Essas altas porcentagens talvez possam ser explicadas pelo grau
de parentesco dos familiares, onde 55% informaram terem irmãos e
50% terem pais que fazem ou já f izeram uso de drogas. As mesmas
porcentagens, consecutivamente, foram aferidas para tios e primos,
com os quais o convívio famil iar pode não ser tão grande, mas podem
inf luênciar assim como os amigos, dependendo da relação estabelecida
entre o sujeito e seu parente. Os tipos de drogas util izadas por esses
familiares são: 80% álcool, 70% tabaco e 50% maconha.
Esses fatores reafirmam, em consonância com Tiba (2007), que a
droga psicoativa mais uti l izada frequentemente nas sociedades
ocidentais é o álcool, pois é de fáci l acesso por ser uma droga lícita e
de fácil obtenção, com alto potencial que pode gerar dependência, e,
segundo a ONU (Tiba, 2007) a maconha é tida como a droga i legal
mais uti l izada no mundo, devido à tolerância que provoca em seus
usuários.
Já dissemos anteriormente que, na sociedade atual ocidental, as
drogas são principalmente usadas por curiosidade, primordialmente de
maneira recreativa, para se divertir. Quando os participantes foram
indagados sobre os motivos que os levaram a usar a droga pela
primeira vez, no resultado f icou claro ao verif icar que 55% dos
participantes responderam que o contexto em que estava quando usou
substância psicoativa pela primeira vez foi em festas, e 40%
responderam que era numa roda de amigos. Os motivos que os levaram
a usar pela primeira vez foram: para 75% a curiosidade, 35% para
festejar ou comemorar, 30% para descontrair, sendo que 35% disseram
ter feito por inf luência de amigos. Os estudos apontam para a complexa
inf luência da família, da escola e do grupo de amigos no caso da
manifestação do uso abusivo de drogas, principalmente na
adolescência.
Muitos jovens acham que só vão se divert ir se usar alguma droga
e acham, também, que precisam fazer isso para vencer sua timidez
social e serem aceitas ou para esquecer “totalmente” de seus
problemas por alguns instantes. Tiba (2007) relata que a uti l ização da
droga é usada hoje como uma aventura sem compromisso, dada a
banalização de seu uso, uma busca de prazer sem preocupação com os
riscos e para o jovem mostrar, perante seus amigos, que é corajoso e
destemido fazendo o que t iver vontade.
Um fator marcante dessa amostragem é o alto índice de
participantes que já uti l izaram Ecstasy e LSD, 75% cada, sendo que
45% continuam util izando regularmente. Essas substâncias são
estimulantes e alucinógenas, principalmente o LSD, este que era
comum na época do surgimento do movimento hippie e atualmente,
ambas as drogas, são consumidas em festas raves, na sua maioria.
Outro ponto signif icativo é os 35% de participantes que informaram já
terem consumido cogumelos, um alucinógeno muito potente que pode
desencadear quadros psicót icos, caso haja predisposição, além de
apresentar alto risco de vida ao usuário.
De acordo com Herculano-Houzel (2002), indivíduos diferentes
têm suscetibi l idades diferentes ao vício e se a droga não
proporcionasse prazer não haveria vício. A sensação de prazer
proporcionada pela droga age diretamente sobre o sistema de
recompensa do cérebro e inf lui diretamente nos sentimentos do sujeito
e por consequência no comportamento, o que pôde ser observado nos
resultados quando foi sol icitado aos part icipantes que definissem seu
estado emocional quando sob efeito de substância, onde obtivemos
40% que responderam se sentirem felizes, animados e tranquilos, e
45% responderam se sentirem alegres, descontraídos e eufóricos.
Herculano-Houzel (2002) constatou que em pesquisas com
animais os “predispostos ao vício, eram aqueles que reagiam a um
novo ambiente com agitação e buscavam novidade, variedade e
estimulação emocional”. Dos sujeitos da pesquisa, 65% se definiram,
no cotidiano, como sendo ansiosos e 30% como impulsivos, sal ientando
que 75% dos entrevistados experimentaram substâncias psicoativas
impulsionados pela curiosidade. Apenas 25% dos participantes
responderam serem tranquilos no cot idiano. Aqui f ica possível verif icar
a relação entre o comportamento e a química cerebral que,
possivelmente, inf lui ou inf luirá na propensão à adicção. Os autores
indicam que a resposta exagerada ao estresse parece ser a chave para
o vício.
Quando o sujeito está sob efeito de substância psicoativa, este
estado alterado não permite que o adicto perceba que está agindo de
forma violenta, e, no questionário apenas dois part icipantes relataram
perceber esta agressividade.
A maioria dos participantes uti l izam a substância psicoativa
quase que diariamente, informação essa que pode levá-los a
dependência segundo Graeff (1989), a qual consiste numa verdadeira
adaptação do organismo à presença continuada da droga, de tal forma
que a sua retirada desencadeia distúrbios f isiológicos muitas vezes
acentuados, é tal o desconforto gerado por esta síndrome de ret irada,
que evitá-lo passa a ser motivação adicional, para o uso continuado
dessas drogas. Tiba (2007) propõe uma subdivisão, informal, do
conceito de abuso, onde ele separa em dois grupos: o dos usuários
esporádicos e o dos usuários habituais. Os usuários habituais são os
que estão na l inha tênue entre abuso e a dependência, onde os
aspectos signif icat ivos, de menor perturbação e prejuízo para o sujeito,
podem se alcançar altos níveis de perturbação e prejuízo e, assim,
levando o indivíduo a uma condição de dependente.
Os relacionamentos dos entrevistados são, na maioria, com
pessoas que também fazem o uso de substância psicoativa (55% dos
participantes possuem relacionamento amoroso estável, sendo que
35% informaram que seus parceiros também fazem uso de drogas).
Quando isso não ocorre é comum que haja discussões que levem ao
rompimento da relação ou até mesmo ao ponto da agressão física (20%
dos participantes disseram haver conflitos entre o casal por causa da
droga). Temos 20% dos indivíduos que assinalaram que o casal já
tentou alguma estratégia de recuperação, sendo que 15% obtiveram
êxito, mas voltaram a usar. Quando os dois fazem uso de drogas pode
haver discussões tanto pela diferença ou ritmo de cada um, quanto
pela disputa da própria droga. Em relação a desentendimentos ou
discussões pela diferença de frequência ou ritmo de uso de cada um,
30% dos part icipantes responderam já ter t ido problemas.
Conforme já vimos na revisão de literatura, os desentendimentos
são comuns, e o adicto não percebe muitas vezes que está agindo de
forma agressiva e, justamente em decorrência do uso de droga e de
brigas, 20% dos sujeitos disseram ter ocorrido distanciamento de
amigos ou parceiros. E 20% informaram ter havido disputa pela droga
entre seus amigos.
De acordo com Schenker e Minayo (2004), estudos indicam o
envolvimento da famíl ia no desenvolvimento saudável, ou não, de seus
membros, já que ela é entendida como sendo o elo que os une às
diversas esferas da sociedade. As famíl ias, de 85% dos participantes,
sabem que estes uti l izam substâncias psicoativas e 65% descobriram
pelo próprio parente usuário, o qual contou para sua família a sua
condição. Nesta pesquisa foram investigadas as drogas de que a
família tem conhecimento que o participante faz uso, sendo que
destacaram-se o álcool, o tabaco e a maconha.
Estudos mostram que a famíl ia é a que mais sofre. Isso porque o
sujeito se afasta dos círculos sociais ao qual pertencia anteriormente.
Depois que passaram a fazer uso de substâncias, 30% dos
participantes relataram mudanças no diálogo com a família, e um
respondeu que recentemente tudo está normal devido à aceitação por
parte deles da condição de usuário, no entanto, 45% dos part icipantes
disseram que não houve mudanças e dois responderam que já não
havia diálogo anteriormente.
Assim, é indubitável o fato de que a família tem um importante
papel tanto na motivação, como sendo mantenedora desse
comportamento, quanto na superação e/ou recuperação da
dependência de substâncias. Em relação ao comportamento da família,
frente ao uso de substâncias por parte do participante, foi possível
identif icar como os membros da mesma estimulam a manter ou a parar
de usar, 30% dos indivíduos responderam que seus famil iares ajudam a
manter o uso através de inf luência direta ou indireta, como a facil idade
de obtenção dentro de casa e um participante explicou que a família
pede para que ele tenha limite e conversam sobre o uso indevido.
Cada pessoa que passa a usar drogas tem uma vivência diferente
em casa, na família. Alguns pais são intolerantes e podem chegar a
expulsar o f i lho de casa, outros podem entender aquilo como não
prejudicial ao f i lho em virtude de não atrapalhar os estudos ou
trabalho, e passa a permitir que se faça o uso “moderado” até mesmo
dentro de casa.
De acordo com isso, 60% dos participantes informaram que seus
familiares ajudam a parar de usar através de pedidos da mãe, pedidos
de que mantenha o uso de droga lícita e abandone o uso de drogas
il ícitas, conversando sobre o assunto, tentativas de troca (“compra”,
chantagem), sendo intolerante ou solicitando que diminua o consumo.
De acordo com a l i teratura, a presença da mãe nesse momento é
o de maior relevância por ser uma f igura central na vida do sujeito. Foi
pedido que os part icipantes relatassem a importância da f igura da mãe
ou do responsável neste contexto, desse modo todos ressaltaram
somente a f igura materna. Obtivemos 60% de respostas dos
participantes que destacaram o respeito, a segurança, a amizade e os
limites para impedir o uso da substância e importantes conselhos dados
pela mãe. Temos 40% dos participantes que relataram que a f igura
materna não tem importância alguma, um deles informou que a
importância da mãe no contexto é somente que o dinheiro para comprar
drogas vem dela e outro part icipante trouxe em sua fala que já tem
idade suficiente para escolher e assumir responsabil idades por isso e
não vê a importância da mãe neste contexto.
É possível verif icar nas obras de Tiba (2007), Kalina e Kovadloff
(1980) e Cirino e Medeiros (2006), que a família está num ponto central
em relação à adicção. Os familiares criam expectat ivas a seu respeito,
fazem cobranças, cuidam e de forma geral apl icam e dedicam energia
psíquica e f ísica no indivíduo.
De acordo com as informações fornecidas pelos part icipantes, foi
possível aferir as expectativas provenientes de seus familiares a seu
respeito diante de sua condição de usuário. As respostas aferidas
foram que: 15% não têm expectat iva alguma; 25% gostariam que o
indivíduo parasse; 20% esperam que o indivíduo pare de usar; e 10%
sabem que o indivíduo vai parar e por isso não se preocupam.
Cabe ainda ressaltar que, no caso de dependentes, a procura por
ajuda especializada é fundamental pelo fato de o dependente
apresentar não somente perigo para ele mesmo, mas como para toda a
sua família. A recuperação em muitos casos depende justamente do
apoio familiar, e a responsabil idade, que se supõe, que o indivíduo
sinta a respeito de sua famíl ia, sobre a felicidade deles, que leva
algumas pessoas a criarem pensamentos e ati tudes para lutar contra a
adicção.
Diante de todas as considerações feitas, é relevante af irmar,
também, que o uso recorrente, de acordo com os depoimentos dos
participantes, causa diversos problemas de saúde (constipação,
depressão, ressaca, problemas estomacais e renais, dores no corpo,
enxaqueca, alergias, intoxicações, tosse, náusea e tontura). Este fato é
um possível agravante da condição de usuário, trata-se do sét imo
critério da definição de dependência de substância, de acordo como
DSM IV (2002), no qual o indivíduo continua a usar a substância apesar
de ter consciência de problemas físicos ou psicológicos causados ou
exacerbados pela substância. Os drogadictos apresentam perturbações
em todos os campos de suas relações sociais, e não são diferentes em
relação aos problemas relacionados com o cumprimento de obrigações
(faltas ou atrasos às aulas ou ao trabalho, dif iculdade para acordar,
abandono de compromisso, etc.), as exigências sociais são claramente
afetadas em decorrência do uso ou da sua recuperação.
Os part icipantes foram questionados se já haviam tentado parar
ou pararam de usar drogas, 45% responderam afirmativamente a essa
pergunta, mas continuavam a usar até o momento da pesquisa,
implicando assim numa tentativa mal-sucedida. Apenas 10% dos
entrevistados chegaram a procurar ajuda prof issional para parar. Mais
uma vez foi constatado um fato possivelmente agravante da condição
de usuário, pois se trata do quarto cri tério da definição de dependência
de substância, de acordo como DSM IV (2002), no qual existe no
indivíduo um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido
de reduzir ou controlar o uso da substância.
Temos ainda alguns participantes que apresentaram outro indício
de propensão à dependência, de acordo com o sexto critério para
dependência do DSM IV (2002), onde importantes atividades sociais,
ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude
do uso da substância. Foi aferido que 75% dos entrevistados foram
afetados de alguma forma em seus compromissos sociais e 10%
relataram ter sido muito às vezes que isso ocorreu.
Sendo assim, se, por exemplo, esses três critérios, ou outros
mais, se manifestarem na mesma pessoa, dentro de um período de 12
meses, o indivíduo passa de usuário que comete abuso para um
dependente de substâncias.
Como já esperado, de acordo com o conceito de abuso de
substâncias, no qual se enquadram os entrevistados, foi aferido que um
dos participantes teve problemas legais decorrentes do uso de
substâncias, ele foi preso por porte de drogas. Os demais part icipantes
não tiveram problemas legais, porém 35% deles informaram que as
relações com criminosos vão além da compra e que já cometeram atos
il ícitos, provavelmente em virtude de inf luência de criminosos, atos
estes, tais como: transporte e tráf ico de drogas, vandalismo,
perturbação a paz pública, furto, roubo, porte de arma e cúmplice de
um crime. Um participante respondeu já ter cometido direção perigosa,
decorrente do uso de substância, representando assim perigo f ísico
iminente a ele e a outrem. Essas atitudes e atividades i legais
aumentam signif icativamente a possibi l idade de algo ruim acontecer
como, por exemplo, ser preso, ser processado, ser vít ima de violência
nas ruas ou por parte da polícia, etc.
De acordo com a auto-avaliação de algumas faculdades dos
participantes, pode-se notar que, depois que passaram a usar drogas,
foram afetadas, como no comprometimento, que obteve 5% de
respostas signif icativas. Sobre a responsabil idade foi aferido 10% de
respostas informando estar afetada ou consideravelmente afetada. No
raciocínio essa porcentagem aumenta para 28% de respostas
informando estar afetada ou consideravelmente afetada. Na memória
houve mais um aumento, indo para 39% de respostas informando estar
afetada ou consideravelmente afetada. A atenção detém 34% de
respostas informando estar afetada ou consideravelmente afetada.
Referente ao desempenho (escolar, acadêmico e prof issional), tem 21%
de respostas informando estar afetada essa faculdade e um agravante
de 5% de respostas informando estar muito afetada, houve ainda um
participante que informou ter o seu desempenho físico afetado e outro
que sua disposição também está afetada. No campo prof issional a
atenção e raciocínio não sendo mais tão velozes e ef icazes implicam
na queda de rendimento nesse âmbito social, ocasionando advertências
ou até mesmo o desligamento do funcionário, por exemplo. O uso
recorrente da substância resultando em um fracasso em cumprir
obrigações importantes relativas a seu papel no trabalho, na escola ou
em casa é o primeiro critério de definição de abuso de substância, de
acordo com DSM IV(2002).
Quando indagados sobre a apresentação social 18% das
respostas informaram estar afetada ou consideravelmente afetada esta
faculdade, sendo que 10% responderam que mudaram seus cuidados
em relação à aparência. Essa apresentação pessoal deteriorada pode
ser determinante para uma demissão do cargo, expulsão da escola,
entre outros.
Diferentemente da li teratura - onde encontramos que o usuário
depois que passa a consumir drogas começa a andar com uma turma
nova, a turma dos que usam, deixando de andar com a turma antiga (a
dos “caretas”) - aferimos que 70% dos entrevistados relataram que sua
turma de amigos é antiga. 45% deles experimentaram e/ou começaram
a usar juntos à turma de amigos. Esses resultados apontam para uma
alta signif icância da inf luência do grupo de amigos na propensão ao
uso de substâncias.
Na sociedade contemporânea, ocidental, alguns indivíduos que
fazem uso de substâncias psicoativas parecem não se sentir
marginalizados e depreciados, ou podem ter a sensação de que “todos”
fazem esse uso, logo, esse indivíduo se sente dentro do “normal”.
O últ imo aspecto abordado pelo questionário foi o Estigma,
referente às culpas de caráter individual. Os part icipantes não se
sentem estigmatizados, ao contrário, 80% responderam se acharem
normais. Goffman (1963) diz que “seus sentimentos mais profundos
sobre o que ele é podem confundir a sua sensação de ser uma “pessoa
normal”.
Quanto à “visibil idade” do estigma, 65% dizem achar ser visível
esse fato de serem usuários, independente da droga consumida pelo
entrevistado. 30% se sentem “rotulados” e somente 5% se consideram
marginalizados. Ou seja, a maioria dos participantes se consideram
“normais”, sem qualquer atributo depreciat ivo, sendo que 65%
consideram o uso de drogas normal e apenas 25% gostariam de não
ser usuários.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parte da sociedade contemporânea ocidental tem a cultura do
imediatismo, do poder através da posse, da compra, onde se preza a
facil idade e comodidade para solucionar os problemas que surgem. O
capital ismo trouxe à sociedade falsas necessidades e soluções
mágicas, a fantasia de se ter nas mãos, ou melhor, nos “bolsos”, o
controle da situação. Mas as pessoas se angustiam de novo
rapidamente por surgirem novas “necessidades”.
O comportamento de alguns indivíduos se repete quando o
assunto é a uti l ização de drogas. Crianças, jovens e adultos ao se
depararem com dif iculdades e problemas buscam a solução mais rápida
e barata e acabam caindo no mundo das drogas. Seja qual for o
sofrimento, a angústia, o desespero ou a frustração, melhor do que
resolvê-los é fugir deles e ir para um mundo de fantasias, onde
acreditam não poderem ser atingidos. O poder de compra,
principalmente das drogas lícitas, proporcionam essa capacidade de
fuga, mas ao acabar o efeito da substância o indivíduo se depara com
outra necessidade, agora ao invés de fugir do problema inicial ele terá
que fugir dos problemas que a uti l ização e a não util ização da droga
lhe proporcionará.
Para não general izarmos, iremos restringir nossas considerações
à população sudeste do Brasi l, a qual fez parte da presente pesquisa,
sendo que esta região é a mais r ica e bem instruída do país, pólo
educacional e de desenvolvimento, mas, em contraponto, também onde
se encontra o maior mercado consumidor de drogas do país, onde
pudemos constatar a banalização do uso do tabaco, da maconha e
principalmente do álcool, seja por parte do próprio indivíduo, da
família, da mídia ou da cultura da sociedade em geral. A droga nos
parece estar presente não só nos momentos de sofrimento mas também
nos momentos de busca de felicidade e bem estar.
As idéias que antecederam o início desse trabalho visavam
verif icar os prejuízos advindos do uso de subtâncias psicoativas e
como são afetadas as exigências sociais nos adictos, visto que nenhum
indivíduo vive sozinho, sem o contato e as relações sociais inerentes à
vida em grupo. Desde o momento em que a pessoa nasce ela já faz
parte de uma sociedade, nesse primeiro caso a famíl ia, e com o passar
dos anos vão se inserindo, ou são inseridos, em outros grupos, de
modo a praticamente extinguir a possiblidade de pensar em um
indivíduo separado da sociedade, sendo que esta é responsável pelos
seus integrantes. As habil idades e faculdades de cada um fazem
diferença nessas relações sociais e caso elas estejam debilitadas
poderá ocorrer danos e prejuízos em todos os âmbitos da vida do
sujeito. No caso dos usuários não é diferente, o uso de substância, de
acordo com a literatura e com os nossos resultados, ocasiona em um
déficit em todas as áreas da vida do sujeito, afetando de diversas
maneiras e em graus diferentes, levando a um prejuízo nas relações
sociais.
Apesar das condições desfavoráveis proporcionadas pela droga, a
maioria dos entrevistados se consideram normais, acham que o uso de
drogas é normal e a grande maioria não tem a pretensão de parar. Nos
parece que, por não sofrerem demasiadamente em virtude das
consequências das drogas, e pela punição do uso ser tardia, pudemos
constatar que essas pessoas não se vêem como “doentes”, como
“marginalizados”, acreditam serem capazes de parar se quiserem e
quando quiserem. Esses indivíduos não percebem o quão tênue é a
l inha que separa o uso habitual ou esporádico do uso desadaptado e
clinicamente signif icativo, seguindo pela mesma l inha temos o DSM IV
(2002) que diferencia os usuários por critérios pré-estabelecidos e para
que o usuário seja diagnosticado como dependente deve preencher três
ou mais critérios pré-estabelecidos, caso contrário ele entra em outra
categoria e, em virtude desse diagnóstico, os meios de tratamentos
podem ser diferentes e não suf icientes para alcançar a ef icácia
desejada. Se o indivíduo possui dois critérios é porque de alguma
forma está sendo afetado e, se não for manejado esse comportamento,
poderá ser agravada a situação. Sendo assim, o DSM IV (2002) serviria
nesse caso mais como um parâmetro, um elemento importante a se
levar em conta, para poder avaliar uma situação ou compreender o
fenômeno em detalhe, mas não se deve tomar como base para definir
quem e quando deve se ajudar. Af inal, nenhum mal pode ser
considerado menor ou desdenhado, o menosprezo do sofrimento
intrínseco causa revolta e angústia e assim pode fomentar o
comportamento adicto de fuga.
Diante desse fenômeno social, que abrange a área de i legalidade
e que alguns autores colocam, também, dentro da área de saúde
pública, como uma enfermidade, temos estes indivíduos que não
necessitam de rótulos, de nome para sua condição ou que as
estratégias de recuperação se baseiem somente no que o uso acarreta,
mas talvez de atenção ao que os leva a usar e o que os reforça a
continuarem a usar. Nesta pesquisa, a maioria dos participantes
tiveram acesso à informações sobre drogas pela própria família, ou
possuem condições de terem ou já terem tido acesso a essas
informações, eles fazem o uso porque querem, têm consciência disso e
muitos não pretendem parar.
Considerando o contexto da sociedade moderna baseada na
produção e consumo de coisas e o indivíduo como sendo uma versão
f iel e l iteral do mundo onde vive, f ica dif íci l esperar que uma pessoa
ande na “contramão”, que esta pessoa busque outras maneiras de se
confortar, se alegrar ou transcender, pois nos parece que a mesma
sociedade que reprime e patologiza o adicto é a mesma que fomenta a
adicção.
Sem o intuito de culpabil izar a sociedade pelas desventuras dos
usuários de drogas e nem de relacionar o uso de drogas
exclusivamente ao capital ismo como fuga para o sofrimento (sendo que
existem diversas maneiras de fuga, como o por exemplo o vício por
compras, pelo trabalho, por sexo, comida, etc.), sabendo que o uso de
substâncias é proveniente de longa data, levantamos aqui uma singela
visão de fatos e fatores que, emaranhados, acabam por constituir em
uma realidade fatidíca a esses indivíduos. Os infortúnios causados pelo
uso indevido e desmedido são decorrentes de uma complexa rede de
acontecimentos e experiências, sendo que existem sim fatores que
contribuem para a condição de adicto, mas que não são determinantes
a ponto de estagnar a vida do indivíduo.
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