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A RELAÇÃO CAMPO/CIDADE ASSOCIADA À EVASÃO DE JOVENS RURAIS DE ASSENTAMENTOS DO SUDOESTE DE GOIÁS
Mainara da Costa Benincá
Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected]
Raquel Maria de Oliveira
Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected]
Cátia Regina A. Almeida Leal
Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected]
Dinalva Donizete Ribeiro
Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected]
Resumo Quando se discute a questão agrária no Brasil, abordam-se principalmente os aspectos de desenvolvimento sustentável, a assistência técnica da produção, a viabilidade econômica dos assentamentos rurais, os conflitos fundiários e os processos históricos de luta pela terra, portanto pouco tem sido estudado sobre a importância da permanência dos jovens no campo, de forma específica nos assentamentos de reforma agrária. Dessa forma o presente trabalho tem como objetivo estabelecer uma relação campo/cidade associada à evasão de “jovens rurais” do Assentamento Santa Rita e Assentamento Três Pontes no Sudoeste goiano, jovens esses participantes do Projeto de Intervivência Universitária. Para tal esta sendo realizado um acompanhamento desses jovens por meio de entrevistas para quantificar essa evasão, levantar os motivos que os fizeram sair e ao mesmo tempo avaliar os reflexos dessa evasão.
Palavras-Chave: Assentamentos de reforma agrária. Agricultura Familiar. Juventude
Rural. Êxodo Rural. Campo/Cidade.
Introdução
A concentração de terras nos Brasil remonta a época da colonização quando grandes
áreas foram distribuídas a uma minoria de povos que aqui chegaram. Essa concentração
perdura até hoje, conforme releva o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), de 2006, que quase 50% dos estabelecimentos
agropecuários do Brasil têm menos de 10 hectares e ocupam somente 2,36 % da área.
Para minimizar essa concentração de terras brasileiras, criou-se a reforma agrária com o
objetivo de implantar medidas visando a melhor distribuição da terra, mediante
modificações no regime de posse e uso, a fim de atender princípios de justiça social, do
desenvolvimento sustentável e ao aumento da produção no campo (INCRA, 2011).
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A formação de assentamentos é um exemplo de medidas da reforma agrária para conter
essa má distribuição de terras, não significando que é uma solução, pois os mesmos
enfrentam problemas de várias ordens como econômicas, naturais e sociais. Conforme
Santos (2006) a questão agrária apresenta-se como uma temática ampla que envolve não
somente o problema da terra, mas também os problemas decorrentes das relações
sociais de produção, do desenvolvimento das forças produtivas, imprimindo ao campo
um ritmo econômico, social e cultural, muito próximo daquele vivido nas grandes
cidades, principalmente se observarmos os condicionantes impostos à realização da
produção das necessidades básicas de sobrevivência.
Quando se discute a questão agrária no Brasil, abordam-se principalmente os aspectos
de desenvolvimento sustentável, a assistência técnica da produção, a viabilidade
econômica dos assentamentos rurais, os conflitos fundiários e os processos históricos de
luta pela terra, portanto pouco tem sido estudado sobre a importância da permanência
dos jovens nesses assentamentos.
Segundo Silvestro (2010) através de pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisas para a
Agricultura Familiar (CEPAF) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural
de Santa Catarina (EPAGRI), foram detectados que aproximadamente 15% dos
estabelecimentos familiares do Oeste de santa Catarina são habitados por casais com
mais de 41 anos de idade e sem o registro da presença permanente de jovens em seu
interior.
Essa é também uma realidade dos assentamentos de reforma agrária do sudoeste de
Goiás, onde a mão de obra é constituída por pessoas com faixas etárias mais elevadas,
em função do elevado índice de jovens que saem em busca de alternativas nos centros
urbanos. O êxodo rural nas regiões de predomínio da agricultura familiar atinge hoje as
populações jovens com muito mais ênfase que em momentos anteriores.
Segundo Braga (2006) o contato com alguns jovens assentados levou a inquietação
frente à problemática situação por eles descrita, em relação aos seus cotidianos e às suas
perspectivas, o que aponta para o entendimento de que faltam políticas públicas, ou
estas não estão sendo adequadas para a população em estudo. A mudança do perfil dos
jovens é o retrato hoje da juventude brasileira. [...] Os velhos troncos exigiam dos seus familiares, desde que os pequenos entendiam por gente, um treino seguro de todas as práticas no trabalho e na vida social. Meu pai dizia que o rapaz não podia constituir família antes de aprender a fazer tudo que é necessário numa casa. E o “tudo” que ele dizia, mesmo numa sociedade bastante
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simplificada, era sempre muita coisa. Ia da castração de animais à carpintaria tosca do carro de bois, do engenho de cana, das casas de esteio e dos currais das fazendas. O rapaz tinha que saber lidar com gado, amansar burro brabo, ter peito de atravessar rio a nado a ser educado de forma a sair-se bem nos salões civilizados (BERNARDES, 1986).
As atividades desenvolvidas pelos jovens do campo estão mais relacionadas com o
manejo das atividades produtivas de seus respectivos lotes, exigindo um maior
entendimento do que mão de obra propriamente dita. Os jovens de hoje necessitam de
conhecimentos para desenvolver atividades ligadas à agricultura e a pecuária, de forma
a exercer rentavelmente um retorno junto a seu lote, ou parcela de terra.
É necessário fazer um resgate quanto ao papel dessa juventude, que não se sente
pertencente ao seu território e que não se envolve com as atividades de seus devidos
assentamentos, provocando uma alta evasão e consequentemente um menor
fortalecimento por parte dos que se mantém, sendo que na maioria dos casos não
possuem capacidade física para o desenvolvimento de certas atividades junto a suas
propriedades.
Essa juventude rural que visualiza o residir na cidade, como a forma de mitigar todos ou
parte de seus problemas, são responsáveis pela aceleração do êxodo rural. A categoria
“juventude rural” é tratada a partir de uma perspectiva que a associa ao problema da
descontinuidade da reprodução social da produção familiar. É recorrente a imagem de
uma juventude rural “dragada” do meio rural para áreas urbanas, fascinada pelas
facilidades da “vida moderna” (CASTRO, 2005).
Partindo desse pressuposto o presente trabalho tem como objetivo estabelecer uma
relação campo/cidade associada à evasão de “jovens rurais” de assentamentos de
reforma agrária do Sudoeste goiano.
Revisão de Literatura
A agricultura familiar brasileira
A questão da propriedade da terra sempre esteve presente na história do Brasil pós-
independência. Tentativas de ordenar a ocupação do solo foram uma constante de
políticos no século XIX. No início dos anos 1960, passou a ocorrer uma espécie de
contraposição entre “desenvolvimento agrícola” e “reforma agrária” (propostas de
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redistribuição da propriedade da terra, como medida de justiça social e exigência do
desenvolvimento).
O Estatuto da Terra estabeleceu uma sistemática de intervenção, prevendo a realização
de estudos para o “zoneamento do país em regiões homogêneas”, capazes de indicar “as
regiões críticas que estão exigindo reforma agrária com progressiva eliminação dos
minifúndios e latifúndios. Através do Estatuto da Terra, art. 43, essas áreas seriam
identificadas e passíveis de desapropriação por interesse social (LEITE, S.; HEREDIA,
B.; MEDEIROS, 2004).
O processo de ocupação de áreas para o cultivo agrícola remonta há vários séculos, com
um problema comum para diferentes regiões, à desigualdade no acesso a terra pela
população mundial. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)
vem implantado um modelo de distribuição de terras para os que não a possuem; o que
ocasiona sérios problemas ambientais nas áreas destinadas a assentamentos agrários.
Essas áreas nem sempre são adaptadas ao uso agropastoril, possuem alta declividade,
solos pobres, condições climáticas impróprias, dificuldade de acesso a renda e
informação por parte das famílias assentadas e deficiência de mão de obra.
A polêmica em relação à apropriação de terras por parte dos chamados “sem terra” e às
questões ambientais em assentamentos é muito comum na atualidade, sendo que a
dimensão da utilização dos recursos naturais está a cada instante maior. O contraste da
agricultura familiar com a agricultura capitalista ou a chamada agricultura empresarial é
evidente, não só no que tange o tamanho das propriedades, o valor produzido, mas em
relação ao processo de degradação ambiental do conhecimento e o cumprimento das
leis.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agricultura familiar
hoje é a responsável por 10% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do país, emprega
mais de 80% da mão de obra no setor rural e é responsável por até 70% dos alimentos
produzidos no Brasil. Apesar de sua significativa importância, passa por sérias
limitações, principalmente, quando se trata de questões financeiras.
De acordo com o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD), até
1990 os projetos de assentamento existentes no Brasil totalizaram 876 núcleos, sendo
um valor muito aquém daquilo que estudos técnicos e avaliações dos movimentos dos
trabalhadores rurais veem como sendo o mínimo necessário para caracterizar um efetivo
processo de reforma agrária em um país como o Brasil.
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A partir dessa realidade, diversas políticas públicas visando a regularização,
ordenamento e algumas modificações na legislação agrária, as quais incluíram a
desapropriação de terras ociosa à penetração do capitalismo na agricultura, embora a um
custo socioambiental elevado. Contudo, a política agrária do Estado brasileiro tem-se
constituído historicamente numa resposta limitada à luta dos trabalhadores, consistindo
basicamente na desapropriação de terras em conflito ou para resolver conflitos. Fruto
dessas lutas camponesas é constituído os assentamentos rurais, áreas desapropriadas
pelo Estado para fins de Reforma Agrária. Essas áreas geralmente correspondem a
latifúndios, minifúndios ou áreas devolutas da União. Um dos maiores e principais
objetivos da Reforma Agrária é prover o uso adequado da terra, através da justiça social,
empregando um elevado número de trabalhadores rurais e aumentando os níveis de
produtividade agrícola (ROCHA, G. J, 2008).
O agricultor familiar é todo aquele que tem na agricultura sua principal fonte de renda
(+ de 80%) e cuja força de trabalho utilizada no estabelecimento venha
fundamentalmente de membros da família. É permitido o emprego de terceiros
temporariamente, quando a atividade agrícola assim necessitar. Em caso de contratação
de força de trabalho permanente externo a família, a mão-de-obra familiar deve ser igual
ou superior a 75% do total utilizado no estabelecimento (FAO-INCRA, 1996).
A relação campo/cidade: transformações do campo brasileiro
O problema de acesso a terra não ocorre somente no estado de Goiás e sim no Brasil.
Pode se atribuir a um dos fatores responsáveis por tal situação, a desigualdade no acesso
a terra no Brasil, que passa a ser pensado quando se propõe o programa de reforma
agrária na década de 1930, no governo de Getúlio Vargas. Os assentamentos são
formados para solucionar a falta de terras daquela grande parcela de população que vive
sem tais condições.
Na década de 50, foram feitos intensos debates a cerca da concentração fundiária, vista
como um entrave ao desenvolvimento do setor agrícola por apresentar grandes
distorções no campo. Como resposta a este problema, a Reforma Agrária era vista como
a solução, visto que, era precondição para a expansão da agricultura moderna
(ROMEIRO, 1998). e do sindicalismo atrelado. É por isso que, paralelamente à proposta
conservadora de reforma agrária (que, no geral, procurava conter e amortecer
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a prática de luta que os trabalhadores vinham desenvolvendo), estende-se a
legisl Durante muitos anos, principalmente após a década de 50, vários movimentos de
camponeses reivindicavam a reforma agrária, como o único meio de aquisição de terras: Estava claro para as frações emergentes e mais significativas da burguesia que o seu desenvolvimento independia de reformas na estrutura fundiária. Muito pelo contrário, lhes interessaria o campo como possível mercado consumidor. Nessa medida, tratava-se de transformá-lo de forma a torná-lo mercado para insumos modernos: máquinas, adubos, pesticidas etc., o que não necessariamente supõe reformulação na estrutura fundiária. O impasse que se colocava naquele momento é que parcela significativa dos trabalhadores rurais emergia na cena política de forma independente dos partidos políticos tradicionais ação trabalhista ao campo, num esforço de enquadrar os trabalhadores rurais nas mesmas normas rígidas de mobilização a que estavam sujeitos os urbanos (MOREIRA, 1999).
O processo de ocupação das áreas de Cerrados se aprofunda, principalmente, na década
de 1970 através de incentivos do governo a fim de desenvolver a região Centro-Oeste.
Assim, como em outras regiões brasileiras, a concentração fundiária é um dos principais
problemas, sendo que grande parte das áreas com suscetibilidade para a atividade
agrícola foram ocupadas pela pequena parcela da população que detinha capital, o
restante da população não teve acesso a essas áreas.
De acordo com Ribeiro (2005) a agricultura contemporânea, desenvolvida no Sudoeste
de Goiás, pode ser identificada e analisada a partir de dois matizes: um que reconhece a
importância e justifica este modelo de exploração, tendo em vista o bônus econômico
que gera; outro que percebe os problemas e prejuízos, sociais e ambientais, decorrentes
da mesma e, por isso, percebe-a como insustentável.
Essa inserção da região do Sudoeste Goiano no processo de produção agrícola mundial
fez da mesma um local de grande desenvolvimento agropecuário. Dessa maneira a
região é sinônimo de atração, pois oferece condições de ascensão econômica.
O acesso a terra, que permitisse a produção necessária à reprodução do trabalhador e de
sua família, era mediado pela relação com um grande proprietário. A grande plantação
aparece, portanto, excluindo o campesinato livre, isto é, camponeses que tenham acesso
livre a terra, dela extraindo, mediante o trabalho familiar, o produto necessário à sua
existência (GARCIA JR., 1983).
Os camponeses que se perpetuam em pequenas propriedades, de bases familiares, vivem
marginalizados frente aos grandes produtores, comprometendo assim, a sua existência e
a sua permanência no campo. A permanência do mesmo está relacionada diretamente
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com as condições financeiras, as condições naturais o acesso a créditos e assistência
técnica.
O tamanho do lote também é um fator a ser mencionado, segundo Leite (2004) o
tamanho ao mesmo tempo determina e é determinado pelo número de famílias
assentadas numa determinada área. As áreas podem variar, mas em média, na região
Centro-Oeste, estes lotes são de aproximadamente 25 ha, excluindo as áreas de reserva
legal. A degradação nos assentamentos ocorre por falta de conhecimento do manejo
correto e também pelo fato de o lote ser pequeno, logo tem que explorá-lo na sua
totalidade e com muita intensidade, senão não produz o suficiente para as necessidades
da família.
Um exemplo dessa ausência de recursos é o Assentamento Roseli Nunes, município de
São Jerônimo da Serra, Paraná, onde segundo Silvone (2008) possui uma área
extremamente irregular, e que os sucessos de projetos de reforma agrária em locais
como este necessitam, no mínimo, de investimento público e acompanhamento
frequente, como assistência técnica, e informação.
Nesse caso, evidencia-se a dificuldade de acesso a créditos, que dificulta manejos
corretos (máquinas e recursos para curva de nível etc.), falta de assistência técnica para
orientar o manejo mais adequado e consequentemente a alta evasão dos jovens rurais
pela ausência de atividades rentáveis em seus devidos lotes.
Segundo Mello (2006) existe três motivos da evasão nos assentamentos de reforma
agrária: a) a conjuntura familiar (mão de obra insuficiente); b) as políticas públicas
(falta de incentivo do governo, dívidas bancárias, valor da safra insuficiente); c) a falta
de conhecimento agrícola, somada com razões outras.
Esses problemas associados à ideia de que as cidades representam uma forma de
solução para os problemas dos que vivem no campo, como um local de moradia, de
lazer de educação e de saúde.
A evasão nos alerta para uma importante reflexão a ser feita. Como será dada continuidade ao processo de resistência deste assentamento, a resistência que ainda persiste mesmo com todos os problemas, se os principais atores sociais, com possibilidades de modificar a realidade configurada neste assentamento estão procurando novas formas de sobrevivência, seja por conta da ideologização do mundo urbano, ou pela dificuldade de produção, ou pela busca de trabalho assalariado, como segurança de sobrevivência, já que o trabalho do camponês não se constitui das relações capitalistas de assalariamento, pelo menos não formalmente (SANTOS, 2006).
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Portanto, discutir a realidade da juventude rural, significa pensar nos problemas e nas
perspectivas possíveis para essa parcela de jovens que se veem os centros urbanos como
uma maneira de melhorar suas condições de vida. Diante da nova face da agricultura os
jovens passam a serem atores fundamentais à medida que estão cada vez mais inseridos
no mundo globalizado, recebendo influências de culturas diferentes com valores sociais
que chegam ao campo projetando novas perspectivas e desafios quanto a sua
permanência do campo (VALVERDE, 2010).
A permanência desse jovem no campo é de significativa importância para a manutenção
das propriedades familiares, sendo esses atores fundamentais no para a expansão da
agricultura familiar brasileira, tendo em vista seus conhecimentos e capacidades de
aprimoramento das atividades desenvolvidas no campo.
Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo estabelecer uma relação campo/cidade associada
à evasão de “jovens rurais” do Assentamento Santa Rita e Assentamento Três Pontes no
Sudoeste goiano que participaram do Projeto de Intervivência Universitária, que foi
desenvolvido pelo Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Agricultura Familiar
(NEAF) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus Jataí.
Objetivos Específicos
1. Levantar a quantidade desses jovens que permanece no assentamento, bem como
os motivos que os fizeram sair.
2. Identificar as atividades que os mesmos têm desempenhado junto a seus lotes
e/ou lotes vizinhos.
3. Avaliar a evasão dos “jovens rurais” do Projeto de Intervivência Universitária
através a partir dos dados coletados in loco.
Métodos, técnicas e instrumentos.
A área de estudo corresponde ao Projeto de Assentamento Santa Rita, localizado no
município de Jataí Microrregião Sudoeste de Goiás e do Projeto de Assentamento Três
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Pontes, localizado no município de Perolândia, Microrregião Sudoeste de Goiás (Mapa
01).
Mapa. 01. Localização dos Projetos de Assentamentos Santa Rita e Três Pontes (GO) 2011.
Fonte: Sistema de Informações Georreferenciadas do Estado de Goiás – SIEG (Org.: QUEIROZ JÚNIOR, V. S, 2012).
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do presente trabalho partiu da
organização e posterior observação das quatro vivências do Projeto de Intervivência
Universitária “Jovens Rurais”, assim como da análise do Relatório técnico final do
mesmo.
O projeto contou com a participação de trinta e seis jovens de seis assentamentos,
quatro do Município de Jataí; – Assentamento Santa Rita, Assentamento Rio Claro,
Assentamento Padre Josimo e Assentamento Três T e dois do Município de Perolândia
– Assentamento Três Pontes e Assentamento Lagoa do Bonfim.
O acompanhamento desses jovens se deu por meio de entrevistas in loco com os jovens
e/ou membros de suas respectivas famílias para avaliar a evasão desses jovens
verificando a quantidade que permanecem no assentamento, e ao mesmo tempo os
motivos que os fizeram sair.
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As entrevistas permitiram identificar as atividades que os mesmos têm desempenhado
junto a seus lotes e/ou lotes vizinhos, bem como para avaliar a importância da
permanência dos jovens no campo.
A pesquisa está em andamento, e o acompanhamento da situação dos jovens no que se
refere a continuidade ou não nos assentamentos está acontecendo em dois dos seis
assentamentos de abrangência do projeto: Santa Rita e o Três Pontes.
Resultados preliminares
A partir das entrevistas foi possível verificar que, apesar da saída de alguns jovens dos
seus devidos assentamentos, é evidente a melhoria dos lotes em relação àqueles que
além de continuarem residindo no mesmo, colocam em prática os conhecimentos
adquiridos nas vivências do projeto dos “Jovens Rurais”.
De acordo com o Relatório Final do Projeto de Intervivência Universitária o mesmo
contribuiu com a formação pessoal e profissional, de forma evidente no ponto de vista
desses jovens, dando lhes a oportunidade de aprender técnicas que possam ser utilizadas
no seu dia-a-dia, na decisão de cursos que pretendem fazer, dando continuidade aos
estudos, na relação desses jovens uns com os outros e também na forma de se
posicionar em sociedade:
A partir do acompanhamento inicial verifica-se que dos dezenove jovens participantes
do projeto nos dois assentamentos – Santa Rita e Três Pontes - nove já não estão
residindo mais nos assentamento, ou seja, 47% dos jovens já residem nas cidades. A
relação dos jovens do Assentamento Santa Rita segue no gráfico 01 e dos jovens do
Assentamento Três Pontes no gráfico 02.
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Gráfico 01. Local de desenvolvimento das atividades dos jovens - Assentamento Santa Rita.
Fonte: BENINCÀ, Mainara da Costa. Gráfico 01. Assentamento Três Pontes.
Fonte: BENINCÁ, Mainara da Costa.
De acordo com o gráfico 01, observa-se que do total de doze jovens pertencentes ao
projeto, sete já não desempenham atividades no assentamento. Pode-se associar essa
evasão às condições naturais e consequentemente econômicas desse assentamento sendo
que a deficiência dos solos, a alta declividade, assim como a ausência de água de alguns
lotes dificulta o desenvolvimento de atividades produtivas. Outro aspecto prejudicial é a
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ausência de créditos, de assistência técnica e até mesmo de infraestrutura por parte de
grande parte dos assentamentos.
No caso do Assentamento Três Pontes, a situação apresenta-se mais favorável se
comparada com o caso anterior, sendo que, dos sete jovens pertencentes do projeto,
cinco desenvolvem suas atividades no assentamento e apenas dois nas cidades. Isso
pode ser explicado pelo fato de as condições naturais e econômicas dos lotes onde
ocorre a permanência dos jovens serem consideradas favoráveis ao desenvolvimento de
atividades agrícolas. O Assentamento Três Pontes possui a predominância por uma
declividade baixa, os solos são férteis e a disponibilidade de água é considerada regular.
Outro aspecto positivo é a participação das famílias assentadas no Projeto de Aquisição
de Alimentos (PAA) e no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB),
sendo essas mais uma fonte de renda.
O êxodo rural é uma consequência da lógica capitalista de produção que busca a todo
instante a obtenção de capital, desconsiderando qualquer outra possibilidade de
racionalidade além da capitalista, como a camponesa, por exemplo. Associada a isso as
dificuldades presentes no campo brasileiro, mas específico nas áreas de assentamentos
de reforma agrária, impulsionam a saída dos jovens para os centros urbanos.
O abandono do campo, esta presente em quase todos os casos a procura por um
emprego (ou subemprego) na cidade. O agravante dessa situação é esses jovens rurais
não possuem qualificação profissional, dessa forma, somente em casos pontuais
possuíram remunerações suficientes para terem uma vida digna nos centros urbanos.
Conclusão
A saída dos jovens dos assentamentos esta associada de forma direta com as perdas do
campo, ou melhor, das relações de produção, as quais sustentam a base alimentar do
Brasil. Perde-se a tradição camponesa, a mão de obra e os valores sociais que são
construídos nas relações entre os camponeses.
Da mesma forma em que o campo sente os reflexos dessa evasão, esta a cidade, pois
esses jovens vão compor uma massa urbana despreparada para o ritmo e tipo de trabalho
oferecido pela lógica dos grandes centros, transformando o urbano em um complexo
saturado de pessoas e consequentemente provocando um crescimento desordenado e
acelerado.
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Referências
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SILVESTRO, M. L. A agricultura precisa dos jovens. Disponível em: http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Materia.asp?id=21332&secao=Colunas%20e%20Artigos Acesso em: 17 Maio 2012
VALVERDE, L. Y. Contribuição do projeto “jovens rurais” para a permanência de jovens no campo. 53f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Educação Física)- Campus Jataí, Universidade Federal de Goiás, Jataí-GO, 2010.