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Área: Desenvolvimento e Meio Ambiente
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO NO TERRITÓRIO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ITAJAÍ
E A ANÁLISE DE INDICADORES SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS
Rogério Goulart Júnior
(IE/Unicamp) – [email protected]
Resumo
Neste artigo, primeiro é feita uma breve revisão da divisão do trabalho na rede urbana, destacando a problemática
ambiental urbana brasileira e os conflitos do capital e do trabalho para apropriação dos recursos e riquezas naturais e o
impacto ambiental da acumulação capitalista gerado pelas frações de capital na urbanização. Por fim, são analisados
alguns aspectos sobre a produção do espaço na Bacia Hidrográfica do Itajaí, com uma breve descrição sobre a formação
espacial e socioeconômica do território e ainda com um estudo estatístico de indicadores socioeconômicos e ambientais
municipais como forma de observar a configuração territorial e heterogeneidade espacial, em determinado período, por
meio da análise dos componentes principais.
Palavras chave: Desenvolvimento Urbano – Indicadores Socioeconômicos Ambientais – Bacia Hidrográfica do Itajaí
1. Introdução
As mudanças socioespaciais na cidade são reguladas pela lógica da acumulação de capital, e
o resultado desse processo numa sociedade capitalista é o desenvolvimento desigual e injustiças
sociais que são distribuídas tanto espacialmente quanto demograficamente.
O espaço é uma construção social em todas as suas dimensões. Essa descoberta significa que
o que se considera como acidental na produção do meio ambiente construído ou espaços de
assentamento deve tornar-se um objeto dirigido do pensamento social. Assim, a transformação da
sociedade deve ser feita através de uma criação consciente de novas relações socioespaciais que
vinculem a transformação da obra à transformação da vida da comunidade (GOTTDIENER, 2010).
A distribuição de atividades, isto é, a distribuição da totalidade de recursos, resulta da
divisão do trabalho. Esta é o valor que permite à totalidade dos recursos (mundial ou nacional)
funcionalizarem-se e objetivar-se. Isso se dá em lugares. O espaço como um todo reúne todas essas
formas locais de funcionalização e objetivação da totalidade (SANTOS, 2009a).
Em cada qual dos seus momentos, o processo social envolve uma redistribuição dos seus
fatores. E essa redistribuição não é indiferente às condições preexistentes, isto é, às formas herdadas,
provenientes de momentos anteriores. As formas naturais e o meio ambiente construído incluem-se
entre essas formas herdadas (SANTOS, 2009a).
2. Divisão do Trabalho na Rede Urbana
Segundo Corrêa (2006), no esforço para identificar a natureza e o significado da rede urbana
pode-se sugerir quatro pontos pertinentes, que não se excluem mutuamente: a divisão territorial do
trabalho; a relação entre rede urbana e os ciclos de exploração; relações entre rede urbana e
forma espacial; e o caráter mutável da rede urbana.
A rede urbana é o conjunto de centros urbanos que participam da criação, apropriação e
circulação do valor excedente (juros, renda e lucros). A partir do trabalho de Harvey (2005), afirma-
se que a rede urbana é a forma espacial através da qual, no capitalismo, se dão a criação, apropriação
e circulação do excedente (CORRÊA, 2006).
A divisão territorial do trabalho cria uma hierarquia ente lugares e, segundo a sua
distribuição espacial, redefine a capacidade de agir de pessoas, firmas e instituições. A divisão do
trabalho supõe a existência de conflitos (SANTOS, 2009a).
A divisão social do trabalho é frequentemente considerada como a repartição do trabalho
vivo. Essa distribuição, é vista através da localização dos seus diversos elementos, é chamada de
divisão territorial do trabalho. Essas duas formas de considerar a divisão do trabalho são
complementares e interdependentes.
Esse enfoque, todavia, não é suficiente, se não levarmos em conta que, além da divisão do
trabalho vivo, há uma divisão territorial do trabalho morto. A ação humana tanto depende do
trabalho vivo como do trabalho morto. O trabalho morto, na forma de meio ambiente construído tem
um papel fundamental na repartição do trabalho vivo (SANTOS, 2009a).
O meio ambiente construído constitui um patrimônio que não se pode deixar de levar em
conta, já que tem um papel na localização dos eventos atuais. Desse modo, o meio ambiente
construído se contrapõe aos dados puramente sociais da divisão do trabalho. Esses conjuntos de
formas ali estão à espera, prontos para eventualmente exercer funções, ainda que limitadas por sua
própria estrutura.
O trabalho já feito se impõe sobre o trabalho a fazer. A atual repartição territorial do trabalho
repousa sobre as divisões territoriais do trabalho anteriores. E a divisão social do trabalho não pode
ser explicada sem a explicação da divisão territorial do trabalho, que depende, ela própria, das
formas geográficas herdadas (SANTOS, 2009a).
A rede urbana dos países subdesenvolvidos constitui-se, em grande parte, na extensão de
uma ampla rede com sede externa localizada nos países centrais. Neste sentido, a própria rede urbana
é através da função de intermediação, parte da divisão internacional do trabalho (CORRÊA, 2006).
Assim, ideologia do desenvolvimento que tanto foi apreciada nos anos 50 e, sobretudo a
ideologia do crescimento reinante desde fins dos anos 60 ajudam a criar a chamada metrópole
corporativa, que direciona suas ações para deseconomias urbanas deixando de atender a produção de
serviços sociais e de bem-estar coletivo (SANTOS, 2009b).
Desse modo, o processo de urbanização corporativa se impõe à vida urbana como um todo,
como processo contraditório que se opõe as parcelas da cidade, frações da população, formas
concretas de produção, modos de vida, comportamentos.
2.1. Problemática Ambiental Urbana
No Brasil, assim como em muitos países da América Latina, estima-se que apenas 30% da
população tenham acesso à moradia no mercado privado. Nem mesmo aquilo que poderia ser
classificado como classe média tem acesso à moradia por meio do mercado privado (MARICATO,
2007).
(...) a aplicação da função social da cidade e da propriedade não se confunde com a luta pelo direito à
cidade ou para se ter a cidade como direito. A cidade como direito implica transformações na produção da
cidade e não apenas o acesso ao padrão de vida urbano (RODRIGUES, 2011, p.222).
As alternativas de habitação, que incluem infraestrutura e serviços urbanos, demandadas pela
maior parte da população, não são encontráveis nem no mercado e nem nas políticas públicas.
As áreas ambientalmente frágeis – beira de córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes,
mangues, áreas alagáveis, fundo de vale -, que, por essa condição, merecem legislação específica e
não interessam ao mercado legal, são as que “sobram” para a moradia de grande parte da população.
As consequências dessas gigantescas invasões são muitas: poluição dos recursos hídricos e dos
mananciais, banalização de mortes por desmoronamentos, enchentes, epidemias etc. (MARICATO,
2007).
O planejamento urbano modernista funcionalista, importante instrumento de dominação
ideológica, contribui para a consolidação de sociedades desiguais ao ocultar a cidade real e preservar
condições para a formação de um mercado imobiliário especulativo e restrito e uma minoria.
Abundante aparato regulatório (leis de zoneamento, código de obras, código visual, leis de
parcelamento do solo inspirado em modelos estrangeiros) convive com a radical flexibilidade da
cidade ilegal, fornecendo o caráter da institucionalização fraturada, mas dissimulada (MARICATO,
2007).
Uma permanente tensão se estabelece entre a condição legal e a condição ilegal e o que elas
representam para as instituições encarregadas do controle da ocupação do solo, financiamento
habitacional, preservação ambiental, entre outras (MARICATO, 2007).
O “desenvolvimento sustentável” e o “meio ambiente” passam a constar em todos os
documentos oficiais e oficiosos. A propriedade da terra, dos meios de produção, das riquezas
“naturais” ou produzidas, do mundo do trabalho, bem como a concentração de terras e de riqueza, a
pobreza, a necessidade de moradia adequada, de saneamento ambiental, de limpeza e iluminação
pública parecem desaparecer e deixam de ser analisadas no espaço geográfico (RODRIGUES, 2011).
O planejamento urbano acrescenta um elemento de organização ao mecanismo de mercado.
O marketing urbano (das construções e dos terrenos) gera expectativas que influem nos preços.
Assim, um primeiro momento do processo especulativo vem com a extensão da cidade e a
implantação diferencial dos serviços coletivos. O capitalismo monopolista agrava a diferenciação
quanto à dotação de recursos, uma vez que parcelas cada vez maiores da receita pública se dirigem à
cidade econômica, em detrimento da cidade social.
Os conjuntos residenciais levantados com dinheiro público (mas por empresas privadas) para
as classes médias baixas e os pobres se situam quase invariavelmente nas periferias urbanas, a
pretexto dos preços mais acessíveis dos terrenos, levando a extensão de serviços públicos, como luz,
água, às vezes esgotos, pavimentação e transporte custeados, também com os mesmos recursos.
Assim, se produzem novos vazios urbanos, ao passo que a população necessitada de
habitação, mas sem poder pagar pelo seu preço nas áreas mais equipadas, deve deslocar-se para mais
longe, ampliando o processo de periferização.
Todo melhoramento numa área pobre faz dela o teatro de um conflito de interesses com as
classes médias em expansão, para não falar das classes altas. A rapidez com que se instala o processo
de verticalização tem como paralelo um processo de suburbanização.
2.2. Urbanização e o Impacto Ambiental
Lefebvre (1999) critica o capitalismo porque este se baseia em sua suposição de que seu
espaço produzido destrói a vida cotidiana e o nível de civilização associado anteriormente à cidade.
Além do mais, a destruição da natureza que tal sistema engendra através da industrialização ameaça
romper os processos ecologicamente regeneradores, responsáveis pela sustentação da vida na terra.
Em lugar de um mundo onde os recursos naturais relativamente abundantes sejam utilizados
para produzir mercadorias em condições de escassez, temos agora uma abundância potencial de todo
gênero de mercadorias, mas uma crescente escassez de recursos naturais – a própria natureza está,
atualmente, ameaçada de exaustão.
As rupturas de causas diversas desencadeiam, portanto, processos de mudanças ecológicas e
sociais combinadas, ou seja, impactos ambientais de natureza estrutural, produtores de novas
mudanças que afetam de forma diferenciada e não planejada as estruturas de classes sociais
(COELHO, 2004).
A urbanização e a emergência dos problemas ambientais urbanos obrigam os estudiosos dos
impactos ambientais a considerar os pesos variados da localização, distância, topografia,
características geológicas, morfológicas, distribuição da terra, crescimento populacional, estruturação
social do espaço urbano e processo de seletividade suburbana ou segregação espacial (COELHO,
2004).
Para distinguir diferenciações no processo de transformação espacial, “Corrêa (1997) ressalta (...) sobre
meio ambiente e metrópole: (...) o meio ambiente é mutável sem que as formas espaciais existentes tenham
mudado substancialmente. E por tratar de uma espacialidade situada no bojo de uma sociedade de classes,
desigual, a espacialidade implica desigualdades, refletindo e condicionando a sociedade de classes e
tendendo à reprodução das desigualdades.” (COELHO, 2004, p.37)
Políticas públicas, entre as quais a erradicação da pobreza ou a proteção do ambiente, por
exemplo, são consideradas como resultado de uma luta entre interesses de classe, negociados pelo e
com o Estado. A maior equidade na alocação de recursos e de investimentos depende, quase sempre,
da ampliação da representatividade dos grupos sociais (COELHO, 2004)
Mas, associar a noção de “sustentabilidade” à ideia de que existe uma forma social durável
de apropriação e de uso do meio ambiente dada pela própria natureza das formações biofísicas, por
exemplo, significa ignorar a diversidade de formas sociais de duração dos elementos da base material
do desenvolvimento (ACSELRAD, 2001).
Como convém a um país onde as leis são aplicadas de acordo com as circunstâncias, o chamado Plano
Diretor está desvinculado da gestão urbana. Discurso pleno de boas intenções, mas distante da prática. (...)
A habitação social, o transporte público, o saneamento e a drenagem não tem o status de temas importantes
(ou centrais, como deveria ser) para tal urbanismo (MARICATO, 2007, p.64).
O que poderia ser uma oportunidade de desenvolvimento de propostas endógenas mais
sensíveis à práxis urbana da cidade periférica – o fim do planejamento funcionalista modernista – dá
lugar a outro movimento de dominação técnica, cultural, ideológica e política da periferia do
capitalismo: o Plano Estratégico (MARICATO, 2007).
Em nível local, o Planejamento Estratégico, cumpre um mesmo papel de desregular,
privatizar, fragmentar, e dar ao mercado um espaço absoluto. Ele reforça a ideia de cidade autônoma,
a qual necessita instrumentar-se para competir com as demais na disputa por investimentos,
tornando-se uma “máquina urbana de produzir renda” (ARANTES, 2000 apud MARICATO, 2007,
p.66).
A cidade como “ator político” (...) trata-se da “cidade corporativa” ou da “cidade pátria” que cobra o
esforço e o “consenso” de todos em torno dessa visão abrangente de futuro. Para tanto ela deve preparar-se,
e apresentar alguns serviços e equipamentos exigidos de todas as cidades globais (...). Trata-se agora da
“cidade mercadoria” (deve vender-se) e da “cidade-empresa” (que deve ser gerenciada como uma empresa
privada competente) (VAINER, 2000 apud MARICATO, 2007, p.66).
No entanto, a planificação urbana é voltada para os aspectos da cidade cujo tratamento
agrava os problemas, em vez de resolvê-los. Esta é a planificação preocupada com aspectos
singulares e não com a problemática global, planificação mais voltada para o chamado crescimento
econômico quando o que se necessita é de uma planificação sociopolítica que esteja de um lado
preocupada com a distribuição dos recursos sociais e, de outro, consagre os instrumentos políticos de
controle social, capazes de assegurar a cidadania plena (SANTOS, 2009b).
Com isso, é necessário entender que a crise ambiental decorre do sucesso do modo de
produção que provoca, contraditoriamente, problemas sociais e ambientais. Por isso, compreender o
processo de produção de mercadorias e desvendar causas e agentes da poluição do ar, do solo, das
águas, bem como dos desmatamentos e da perda da das diversidades biológicas e sociais determina
que a crise não seja do modo de produção, mas sim, provocada por ele.
A manutenção do paradigma ambiental implica atribuir a origem dos problemas ao consumo
e aos consumidores, sem apontar o sucesso do modo de produção, que continua a produzir mais e
mais mercadorias e a obsolescência programada (RODRIGUES, 2011).
“É um equívoco pensar que problemas urbanos podem ser resolvidos sem solução da
problemática social. É esta que comanda e não o contrário”. (SANTOS, 2009b, P.125)
3. Aspectos da Produção do Espaço no Território da Bacia do Itajaí
A Bacia do Rio Itajaí é a maior bacia da vertente atlântica do Estado de Santa Catarina, com
uma área de 15.500 km2, correspondendo a 16,15% do território catarinense. A área da bacia abarca
47 municípios e possui em torno de um milhão de habitantes, dos quais 76% concentram-se nos
centros urbanos.
As primeiras áreas de ocupação no processo de colonização foram na foz do rio Itajaí,
seguindo da região do médio vale por volta de 1850. A colonização do alto vale do rio Itajaí ocorreu
em torno de trinta anos depois, pela constituição de pequenas propriedades, algumas vezes
incentivadas por projetos de colonização (JOHNSSON & LOPES, 2003).
3.1 A Produção do Espaço no Território
A ocupação e formação territorial da Bacia do Itajaí teve início a partir de Itajaí, no Baixo
Vale, mas foi estruturada a partir da Colônia Blumenau, no Médio Vale. A ocupação do Alto Vale é
mais recente e deu-se a partir do Médio Vale. Blumenau e Brusque são os pontos a partir dos quais
os Rios Itajaí-açu e Itajaí Mirim, descendo o Planalto, tornam-se navegáveis, escoando o comércio
da sua hinterland para o Porto de Itajaí (FAAVI, 2010).
Os pequenos núcleos, que se desenvolveram a montante desses dois centros, atenderam aos
habitantes de seus vales, mas convergiram para a realização de suas trocas vitais em Blumenau e em
Brusque, as quais concentraram seus interesses econômicos e, desta forma, desenvolveram-se como
centros regionais.
No final do período regencial, a economia brasileira começara a apresentar sinais de
recuperação, graças ao surgimento de uma nova lavoura de exportação, a cafeeira. O café era
cultivado, a princípio, apenas para consumo doméstico e local. No começo do séc. XIX, o café se
transformou em um produto economicamente importante para o país.
Em 1847, os alemães Hermann Bruno Otto Blumenau, junto com Fernando Hackradt, foram
incentivados a percorrer o sul do Brasil com o objetivo de estabelecerem uma colônia germânica de
povoamento. Em 1848, escolheram o território nas margens do Rio Itajaí-Açu com a extensão que
fosse necessária para estabelecer o maior número possível de famílias (IBGE/Cidades, 2010).
Em 1849, obteve do Presidente da Província a concessão de duas léguas quadradas de terras
e nela construiu um engenho de serrar madeira e alguns ranchos. Nessa época, dissolvia-se em
Hamburgo a Sociedade de Proteção aos Emigrantes Alemães, a qual Herman Blumenau trabalhava.
A ocorrência modificou os planos do pioneiro que, apesar de dispor de recursos insuficientes,
constituiu com Fernando Hackradt a empresa exploradora Blumenau & Hackradt, a fim de
prosseguir em seu intento (IBGE/Cidades, 2010).
Nesta época, vários cafeicultores paulistas forçados pela escassez e encarecimento do
trabalhador escravo, começaram a trazer colonos europeus para suas fazendas. A mão-de-obra
assalariada, porém, só se tornaria importante na economia brasileira depois de 1870, quando o
governo imperial passou a subvencionar e a regularizar a imigração, e os proprietários rurais se
adaptaram ao sistema de contrato de colonos livres. Mais de um milhão de europeus imigraram para
o Brasil em fins do século XIX (Singer, 1977).
Em setembro de 1850 é feita a Fundação da Colônia de Blumenau, as margens do Rio Itajaí-
Açu, mas, os recursos próprios de H. Blumenau não eram suficientes para manter o nível de
investimentos à altura das necessidades do desenvolvimento da colônia. Pois, a busca de imigrantes
para a colônia implicava gastos elevados na Alemanha, pagando agentes recrutadores, publicidade,
financiamento de passagens de parte dos imigrantes, etc.
Mas, em fins de 1858 a situação estava desesperadora, pois a colônia estava longe de
permitir a recuperação do capital investido, exigindo ainda maiores inversões. O fator fundamental a
que se devia esta situação, é que a colônia não tinha se ligado firmemente a uma economia de
mercado, ou seja, não se inseriu numa divisão de trabalho nacional ou internacional (SINGER,
1977).
A colônia só poderia proporcionar lucros em longo prazo a após maciças inversões de
capital, para as quais H. Blumenau não possuía recursos. Então, em 1859, foi proposta compra da
Colônia de Blumenau para o governo Imperial. E assim ocorreu, sendo H. Blumenau escolhido como
diretor da colônia e recebendo salário mensal como funcionário público.
É importante observar que ambos os períodos se deram sob o reinado de D. Pedro II e a Lei
Eusébio de Queiroz e, ainda sem, a subvenção “oficial” do governo imperial à vinda de mão-de-obra
assalariada da Europa. Em 1865, o governo Imperial comissiona H. Blumenau para, na Alemanha,
incentivar a vinda de seus compatriotas ao império brasileiro. Com isso, entre 1856 e 1869 a grande
maioria dos imigrantes chegados ao império se encaminhou à Colônia de Blumenau (SINGER,
1977).
Assim, na década de 1860, a Colônia de Blumenau já começa a se tornar um centro econômico de alguma
importância na região, a ponto de atrair migrantes brasileiros. Em 1868 o governo enviou à colônia uma
comissão de engenheiros e agrônomos para facilitar a instalação dos colonos em seus lotes. (...) O
estabelecimento de linhas comerciais era justificável economicamente a partir de certo volume mínimo de
produtos a serem transacionados. Então, em 1860, intensifica a navegação no Rio Itajaí e o hinterland do
porto, quando a colônia de Blumenau já tinha mais de 5.000 habitantes e ao seu lado surgem outras (como
a de Itajaí e Brusque em 1860) (Singer, 1977, p.107).
Em 1873 o distrito criado com a denominação de Blumenau, pela lei provincial nº 694, de
31¬07-1873, subordinado ao município de Itajaí (IBGE/Cidades, 2010).
Até o final do séc. XIX, se realizava o comércio a varejo pelo escambo de produtos, ou seja,
sem dinheiro nas transações. O colono dirigia-se a um “vendista” e trocava seus produtos
agropecuários por outros, geralmente manufaturados. O “vendista” por sua vez revendia os produtos
aos atacadistas, que eram geralmente exportadores e importadores que negociavam os produtos. O
próprio “vendista” não era um comerciante especializado, e sim um agricultor que dedicava seu
tempo ao comércio por estar mais próximo das vias de acesso ou das vilas (Singer, 1977).
Só com a monetização crescente da produção camponesa, com a expansão da indústria local,
foi possível uma divisão de trabalho entre campo e cidade.
A fundação da Colônia Blumenau, em 1850, e posteriormente da Colônia Brusque, em 1860,
foram os primeiros passos para a formação da Rede Urbana do Vale do Itajaí, pois foi o seu
desenvolvimento que possibilitou a consolidação das povoações de Itajaí e do Baixo Vale, e que
alavancou a ocupação do Alto Vale do Itajaí. Isto mostra que o relevo condicionou fortemente a
ocupação dessa região, o que permitiu uma forte identificação com a Bacia do Itajaí (FAAVI, 2010).
Em 1879, um jovem imigrante, Hermann Hering, adquiriu um tear circular em Joinville e montou uma
tecelagem familiar na colônia de Blumenau. Os produtos encontram mercado e foram adquiridos mais
teares movidos por uma roda de água, e posteriormente pelo vapor. O mercado inicial era a, então,
província de Santa Catarina, com as colônias vizinhas e as cidades do litoral como N.S. do Desterro
(Singer, 1977, p.116)
Em 1880, a colônia é elevada à categoria de vila com a denominação de Blumenau, pela lei
provincial nº 860, de 04-02-1880, desmembrado de Itajaí (IBGE/Cidades, 2010). Antes, porém, que a
passagem da colônia para vila autônoma pudesse ser realizada, ocorreu uma enchente do Rio Itajaí,
que causou grande prejuízo, levando o governo imperial a adiar a instalação do governo municipal de
Blumenau para 1883.
As enchentes no Vale do Rio Itajaí constituem um dos maiores problemas da bacia e
remontam ao processo de assentamento dos primeiros núcleos humanos na região, em meado do
século XIX. Tal sistema resulta das condições naturais da bacia hidrográfica, mas é acentuada por
uma contínua sobrecarga da capacidade assimilativa e regenerativa do ambiente natural exercida pelo
processo de produção do espaço estabelecidos pela colonização estrangeira (THEIS et al., 2000).
Com o início do processo de industrialização, houve a expansão da rede de transporte para
articular os mercados urbano e rural e o sistema comercial (posterior aos “vendistas”), que para
distribuir os produtos industriais adquiriu autonomia deixando de lado a atividade agrícola e se
dedicando ao caráter mais capitalista.
Em 1883, a antiga vila de Blumenau é constituída de três distritos: Blumenau, Indaial e
Gaspar. Instalado em janeiro de 1883 (IBGE/Cidades, 2010). Neste ano, verifica-se o aumento dos
engenhos de açúcar e de mandioca, cujos produtos constituem importantes artigos de “exportação”.
Também, os engenhos de arroz e as serrarias se multiplicavam.
Os produtos agropecuários exportados continuam basicamente os mesmos: tábuas de
madeira, açúcar, cachaça, farinha de mandioca, feijão, fumo em folha, milho, manteiga, banha,
conservas de carne, ovos e aves. Com os principais compradores os novos imigrantes de Brusque e
outras colônias, mas os camponeses blumenauenses não conseguem vender todo o excedente
agropecuário pelo fato de sua economia ser baseada na pequena produção autossuficiente, tendo
como excedente os mesmos tipos de produtos (mesmo valor de uso), como açúcar, farinha de
mandioca, arroz, laticínios, etc. Com isso, tenta introduzir no Rio de Janeiro a manteiga, banha,
presunto, mas fracassam. (Singer p.110-111)
A solução foi estabelecer dentro da área colonial uma divisão de trabalho não mais baseada
na economia de subsistência-artesanato, mas na economia de mercado-indústria. Tão logo as
condições o permitiram esta solução foi aplicada. (Singer p.111)
A ocupação territorial do Vale do Itajaí, seguida pelo desenvolvimento da Colônia Blumenau
e pela industrialização do Vale, levou à formação de uma rede urbana nos moldes tradicionais, com
municípios polos exercendo sua centralidade em relação a uma hinterland de base
predominantemente agrícola.
A fixação de contingentes humanos em atividades primárias de subsistência, inicialmente com modesta
comercialização de excedentes e sob necessidades de minimizar despesas mediante processamento de
matérias-primas, o processo de colonização policultora implicou no gradativo surgimento de indústrias
rurais, absorvedoras de considerável força de trabalho das colônias (LAGO, 1999, p.70).
Conforme Lago (1999), nos espaços rurais e urbanos catarinenses a orientação geral de
ocupação, com fortes motivações de uso da terra como recurso agronômico e extrativista vegetal
segue uma tendência de histórica em que as relações homem/terra se intensificam nos espaços rurais,
mas se refletem de forma contundente em restritos ambientes urbanos, onde se concentram os efeitos
da construção antrópica.
Entre 1883 e 1886, são fundadas várias tecelagens, uma empresa de curtume, a primeira
fundição para fabricação de peças de ferro para máquinas de cortar forragens, moinhos e serrarias, e
ainda, duas tipografias.
No Estado de Santa Catarina, o primeiro governador do estado de Santa Catarina, nomeado
por Deodoro da Fonseca, foi o tenente Lauro Severiano Müller. Mais tarde confirmado pela
constituinte de 1891, foi logo deposto com a saída de Deodoro. Uma vez deflagrada, a revolução
federalista do Rio Grande do Sul teve pronto reflexo em Santa Catarina (IBGE/Cidades, 2010).
Seguiu-se uma época de instabilidade política, com sérios entrechoques provocados por
motivos locais ou mesmo municipais, e agravados pelos acontecimentos no resto do país. Após a
revolta da armada, Santa Catarina foi palco de numerosos episódios da revolução federalista.
Em 1894, a vila é elevada à condição de cidade, pela lei estadual nº 197, de 28-07-1894
(IBGE/Cidades, 2010).
Houve no perío 1889-1900, um aumento nas exportações de Blumenau, porém graças à
severa desvalorização da moeda brasileira com o “encilhamento” (proposto por Rui Barbosa).
Porém, entre 1890-1910, o desenvolvimento industrial foi mais lento que na década anterior, pois
dependia muito do crescimento da população da região do Vale do Itajaí e Litoral Catarinense. Mas,
ocorre também certa concorrência, no mercado regional, com tecelagens fundadas em Brusque no
período (Singer, 1977).
Em 1907, é fundada a Caixa Econômica sob o nome de “Sindicato Agrícola”, mas composta
pelos industriais Bruno Hering e A. Schrader (da Hering e da Têxtil Garcia e Cremmer que produzia
gazes medicianais), este último também era o então prefeito da cidade. A partir desta época pôde a
indústria de Blumenau (assim como a agricultura e comércio) contar com financiamentos de origem
local. (Singer p.119)
Em 1909, é iniciada a indústria de laticínios (não caseira), como outras indústrias de base
agropecuária (de fécula, banha, etc.) que se desenvolveriam durante a Primeira Guerra Mundial.
Assim, entre 1907-1909, concluíram-se vários empreendimentos (estrada de ferro, banco, usina
hidrelétrica) que havia de proporcionar as condições para um novo impulso industrializador. (Singer
p.119)
Em 1911 houve enchente, que contou com ajuda federal e estrangeira, e com as sobras dos
donativos houve a conclusão da Ponte do Salto.
Essas sobrecargas (enchentes) incluem a ausência de matas ciliares ao longo dos rios, dadas
a ocupação indevida nas encostas, a descaracterização da paisagem natural do relevo por aterros e
cortes, a intensificação do desmatamento, as práticas agrícolas inadequadas com o uso intensivo do
solo (JOHNSSON & LOPES, 2003).
Em linhas gerais houve integração da economia de Blumenau numa divisão do trabalho
nacional e internacional referente aos produtos industriais. A indústria de Blumenau aproveita de um
processo de substituição de importações, e ganha o mercado nacional com seus produtos, tendo em
1916 os tecidos como destaque na pauta. (Singer, 1977).
Com a Primeira Guerra Mundial, houve redução nas importações globais de Blumenau, pois a sua maioria
era proveniente do exterior. Durante a Primeira Guerra, fundou-se a primeira fábrica de fécula, e adquriram
características industriais as fábricas de banha, derivados de carne, de conservas, e de beneficiamento de
arroz; expandiram-se ainda a indústria de fiação e tecelagem e de metalurgia (Singer, 1977, p.119).
Em 1925, houve nova enchente. O processo de integração da economia no todo nacional se
manteve estável, nos anos da guerra, indicando que os produtos blumenauenses não substituíram
produtos importados no mercado nacional. “Assim, aprofundava-se a divisão do trabalho entre
campo e cidade, com expansão da indústria e substituição da agricultura de subsistência pela
agricultura comercial” (Singer, 1977, p.124).
O expressivo contingente rural catarinense ainda presente, mesmo a despeito da velocidade
da urbanização, está intimamente relacionado à forte influência da imigração estrangeira, em grande
parte orientada para o uso da terra agrícola em substanciais extensões espaciais estruturadas em
pequenas propriedades familiares (LAGO, 1999).
Durante e após a 1ª. Guerra Mundial já havia numerosos comerciantes locais que se
dedicavam à exportação de banha, manteiga, arroz, madeira e fécula para o Rio de Janeiro e São
Paulo com correspondentes nestas praças.
Neste contexto, o comerciante Feddersen se destaca ao conceder crédito aos lavradores e
estabeleceu filiais em todo o Vale do Itajaí (de modo a superar o sistema antigo de vendas),
promovendo a exportação de fumo e melhorando sua qualidade.
Novas malharias e tecelagens foram criadas e o parque industrial de Blumenau se
diversificaou com fábricas de chocolate (em 1923 e 1928); de chapéus (1923); de papelão (1928), de
móveis (1929), de gaitas (1923); de ferramentas agrícolas (1925).
Nos anos 1930, surgem mais tecelagens e empresas ligadas ao ramo (gazes medicinais,
camisas, linhas para bordados) e uma fábrica de calçados e artefactos de couro. Uma revolução
tecnológica teve lugar na fiação e tecelagem, com substituição da mão-de-obra por máquinas e
intensa concentração do capital. Blumenau e Brusque que, já eram centros têxteis importantes,
conseguem se adaptar bastante bem a este período de reajustamento (FAAVI, 2010).
A partir da década de 30, uma série de desmembramentos é efetuada com base no município
de Blumenau: Rio do Sul (1930), Ibirama (1934), Timbó (1934), Indaial (1934), Gaspar (1934) e
Rodeio (1936).
Em 1938, pelo decreto-lei estadual nº 86, de 31-03-1938, desmembra do município de
Blumenau os distritos de Indaial e Ascurra. Para formar o novo município de Indaial. Sob a mesma
lei acima citado desmembra o distrito de Gaspar. Elevado à categoria de município (IBGE/Cidades,
2010).
Na década de 40 ocorreram apenas dois desmembramentos: de Bom Retiro nasce Ituporanga
(1948) e de Rio do Sul nasce Taió (1948). No final da década de 50 e início dos anos 60 foram
retomados os desmembramentos com a criação de 31 novos municípios. Foi a partir daí que o Vale
do Itajaí se dividiu em três regiões: o Alto Vale, ligado à expansão da fronteira agrícola e à
exploração florestal; o Médio Vale, com Blumenau e Brusque atendendo com suas indústrias têxteis
o mercado nacional; e o Baixo Vale, vinculado ao Porto de Itajaí (FAAVI, 2010).
A Rede Urbana do Vale do Itajaí estruturou-se no modelo hierárquico tradicional. No
entanto, uma nova hierarquia urbana está se formando, com base na globalização da economia, que
renova também a economia urbana.
As melhorias nos sistemas de transporte e de comunicação possibilitam a descentralização
industrial, o que altera o esquema hierárquico tradicional das redes urbanas, intensificando as trocas
entre os diversos níveis urbanos e regionais.
Neste modelo, os municípios estão organizados funcional e hierarquicamente em três sub-
redes, articuladas entre si, localizadas no Alto, Médio e Baixo Vale, e polarizadas, respectivamente
por Rio do Sul, Blumenau e Itajaí. O centro regional de toda a rede urbana é Blumenau, sendo Itajaí
o ponto de articulação com o exterior através da BR-101 e do porto (FAAVI, 2010).
Está se materializando, portanto, uma nova divisão interurbana do trabalho, com o
desmantelamento da hierarquia urbana tradicional, na qual determinados bens e serviços só eram
encontrados nos centros de posição hierárquica mais elevada.
Até recentemente, o modelo capitalista de industrialização levava, pelas leis da economia de
escala e da economia de aglomeração, a uma concentração industrial nas cidades-pólo. Foi o que
aconteceu no Vale do Itajaí até meados dos anos 80, especialmente na região do Médio Vale, onde a
centralidade de Blumenau inibiu o surgimento de uma série de funções urbanas nas cidades vizinhas,
como Pomerode, Gaspar e Indaial.
Os desmembramentos mais recentes ocorreram no fim dos anos 80 e início dos anos 90,
resultando num total de 52 municípios na região do Vale do Itajaí, dois quais 47 fazem parte da bacia
do Itajaí. As emancipações geram autonomia política e administrativa, mas nem sempre asseguram
autonomia financeira. Ao longo do tempo, o vínculo socioeconômico entre os municípios
emancipados e os municípios-mãe tende a permanecer, reforçando as interações funcionais da rede
urbana, como é o exemplo dos municípios de Pomerode e Indaial com Blumenau (IBGE/Cidades,
2010).
Na década de noventa esta situação começa a ser gradativamente alterada, com a
desconcentração espacial das atividades econômicas, expressa no deslocamento de capitais e mão-
de-obra qualificada para centros intermediários. As enchentes de 83 e 84 marcam esta mudança, que
já se fazia sentir no elevado custo da terra, na falta de áreas planas propícias à urbanização, na
elevação do custo da mão-de-obra.
A análise das taxas de crescimento dos municípios do Vale do Itajaí indica um crescimento
mais acelerado no Baixo Vale do Itajaí. O Alto Vale apresenta a menor taxa média de crescimento.
Já no Médio Vale, os municípios Indaial, Brusque e Gaspar cresceram mais aceleradamente do que
Blumenau.
No Baixo Vale as cidades que cresceram também são periféricas ao centro regional (Itajaí):
Balneário Camboriú, Camboriú, Itapema e Navegantes. No Alto Vale o fenômeno ainda não ocorre.
A incidência de municípios com taxa de crescimento total negativa é pequena, em geral, e levemente
superior no Alto Vale. No entanto, com as taxas de crescimento rural a situação é diferente, pois 69%
dos municípios estão perdendo população rural.
Por último, em relação à emancipação político-administrativa no Vale do Itajaí, pode-se
dizer que na medida em que as comunidades instaladas no Vale do Itajaí se desenvolveram, as
antigas colônias se transformaram em cidades e distritos.
A seguir foi elaborado um estudo de indicadores socioeconômicos e ambientais dos 47
municípios da bacia do Itajaí. O exercício obteve resultados da análise dos componentes principais
de variáveis municipais que pode ser utilizada como monitoramento e estudos sobre as atividades
econômicas predominantes e indicadores sociais, econômicos e ambientais.
3.2. Metodologia de Análise da Bacia do Itajaí
Com base em estudos executados, utilizando os softwares de versão free do SPSS 16.0 (ver
referências), sobre Análise dos Componentes Principais utilizando o Método de Ward (Kageyama,
2010) foram elaboradas as análises referentes aos dados de 47 municípios pertencentes à Bacia
Hidrográfica do Itajaí.
Os dados foram obtidos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE / Sidra e
IBGE / Perfil dos Municípios) e do cadastro de usuários de água da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Santa Catarina (SDS / Sirhesc), e construídas algumas
das variáveis ou indicadores municipais que refletissem características relacionadas ao uso da água
na Bacia do Itajaí.
O índice de gestão dos recursos hídricos (Igrh), que mede a qualidade na adequação das
instituições municipais, condições do meio ambiente e ações de gestão dos recursos hídricos, foi
construído a partir dos Suplementos Especiais sobre Meio Ambiente no canal Perfil dos Municípios
Brasileiros do site do IBGE (ver Referências). Os dados dos Suplementos Especiais sobre Meio
Ambiente continham quatro tópicos principais, dos quais foram considerados apenas os itens
referentes aos 47 municípios da Bacia do Itajaí sobre: articulação institucional de meio ambiente;
recursos financeiros para o meio ambiente; legislação ambiental; meio ambiente e condições de vida
humana; recursos naturais (ar, água e solo) afetados; e ações de gestão dos recursos hídricos.
As variáveis consideradas foram referentes aos usos de água no meio rural da Bacia do Itajaí:
IRD (relação da demanda hídrica do usuário irrigação com a total); CRD (relação da demanda
hídrica do usuário pecuária com a total); CABSEST (cabeças de suínos por estabelecimento de
criação); RPOP (população rural dos municípios da bacia do Itajaí); GINI (índice de concentração de
renda municipal); YPC (renda per capta municipal); AREEST (área de estabelecimentos agrícolas do
total municipal, que variam entre o ponto mínimo e máximo de 2,39 e 122, 16 hectares); e IGRH
(índice de gestão dos recursos hídricos).
Análise dos Componentes Principais
Nesta análise a avaliação das diversas variáveis é feita considerando-se o padrão de
agrupamento realizado a partir da distância euclidiana média. A importância relativa dos caracteres é
avaliada pelo método dos componentes principais, em que as variáveis são identificadas a partir dos
elementos dos autovetores associados aos menores autovalores da matriz de correlação entre os
dados originais.
Tabela 1 – Percentual de variância explicada entre as variáveis
Fonte: Autor (SPSS 16.0)
Utilizando o Método de Rotação Varimax (SPSS ) obtiveram-se três componentes com
mais de 65% de variância explicada. No Componente 1 as variáveis com maior explicação são:
RPOP com +0,859; e YPC com -0,865. No Componente 2 as variáveis explicativas são: AREEST
com +0,754; CABSEST com +0,762; e IGRH com -0,794. No Componente 3 as variáveis
explicativas são: IRD com -0,755; CRD com +0,729; e GINI com +0,561.
Tabela 2 – Método de Rotação Varimax (SPSS)
Fonte: Autor (SPSS 16.0).
A interpretação dos resultados dos componentes principais seria que no Componente 1 as
variáveis com maior correlação (RPOP com +0,859 e YPC com -0,865) estão influenciando este
fator 1 com a determinação de que “municípios com grande população rural apresentam baixa
renda”, ou seja, municípios rurais com baixa renda.
No Componente 2 as variáveis com maior correlação (AREEST com +0,754; CABSEST
com +0,762; e IGRH com -0,794) estão influenciando este fator 2 com a determinação de que
“municípios com grande agropecuária apresentam pior gestão dos recursos hídricos”, ou seja,
municípios agropecuários com baixo IGRH.
Já, no Componente 3 as variáveis com maior correlação (IRD com -0,755; CRD com +0,729;
e GINI com +0,561) estão influenciando este fator 3 com a determinação de que “municípios com
alta demanda hídrica para pecuária e com concentração de renda têm baixa demanda hídrica para
agricultura”, ou seja, municípios com pecuária e concentração de renda.
Método de Ward
Neste método, consideram-se, para formação inicial do grupo, aqueles dados que
proporcionam a menor soma de quadrados do desvio. Admite-se que, em qualquer estágio, há perda
de informações, em virtude do agrupamento realizado, o qual pode ser quantificado pela razão entre
a soma de quadrados dos desvios e a soma de quadrados total dos desvios.
Então, a soma de quadrados dos desvios dentro é calculada considerando-se apenas os
acessos dentro do grupo, e a soma de quadrados dos desvios total é calculada levando-se em conta
todos os indivíduos disponíveis para a análise de agrupamento. A análise é feita a partir das somas de
quadrados dos desvios entre acessos ou, alternativamente, a partir do quadrado da distância
euclidiana.
Assim, a partir das variáveis dos 47 municípios da Bacia do Itajaí foram considerados, após
análise do “dendograma”, quatro “clusters” com fatores extraídos, e então foram construídos os
Gráficos dos Scores (municipais) confrontando os três componentes principais, ou seja, C1 com C2,
e C2 com C3.
Gráfico 1 – Scores entre Componente 1 e Componente 2
Fonte: Autor (SPSS 16.0)
Onde, o Cluster 1 (verde claro) – a maior parte dos é composta por municípios rurais de
baixa renda per capta que apresentam baixa participação agropecuária e equilibrado IGRH. Mas, há
municípios que apresentam grande participação agropecuária e pior IGRH.
O Cluster 2 (amerelo) – a maior parte é composta, também, por municípios rurais de baixa
renda per capta que apresentam baixa participação agropecuária e equilibrado IGRH. Com exceção
de ITU, AGR, PRN, PRG e LAU com maior participação agropecuária e pior IGRH.
O Cluster 3 (verde escuro) – a maior parte é composta por municípios não rurais (urbanos)
de alta renda per capta que apresentam baixa participação agropecuária e melhor IGRH. Com
exceção de RIS, GUA, ITA, ILH e IND com grande participação agropecuária e pior IGRH.
O Cluster 4 (vermelho) – é composto pelo município rural de TRO de baixa renda per capta
que apresenta grande participação agropecuária e o pior IGRH.
Gráfico 2 – Scores entre Componente 2 e Componente 3
Fonte: Autor (SPSS 16.0)
Onde, O Cluster 1 (verde claro) – a maior parte dos é composta por municípios com alta
demanda hídrica agrícola e renda menos desigual que apresentam equilibrado IGRH. Mas, há
municípios que apresentam grande participação agropecuária e pior IGRH, como BEN, ITU, POU,
MIR e GUA.
O Cluster 2 – a maior parte é composta por municípios com alta demanda hídrica pecuária e
renda mais desigual que apresentam baixa participação agropecuária e melhor IGRH. Com exceção
de SAL, AGL, LAU, PRN e DON com maior participação agropecuária e pior IGRH que os outros
municípios do grupo.
O Cluster 3 - a maior parte é composta por municípios com pouca demanda hídrica agrícola
e pecuária (urbanos) e renda com pouca desigualdade que apresentam baixa participação
agropecuária e melhor IGRH. Com exceção de RIS, GUA, ITA e ILH com grande participação
agropecuária e pior IGRH que os outros municípios do grupo.
O Cluster 4 – é composto pelo município de TRO com alta demanda hídrica pecuária e renda
muito desigual que apresenta grande participação agropecuária e o pior IGRH.
Com isso, pode-se estudar, mesmo que parcialmente, a formação socioespacial, a
configuração territorial e a heterogeneidade espacial, encontradas no território da Bacia Hidrográfica
do Itajaí, na região do Vale do Itajaí. Os municípios com predomínio das atividades pecuárias
apresentaram o IGRH mais alto, indicando, talvez, a necessidade de melhor controle e participação
municipal nas questões ambientais e ações ligadas aos recursos hídricos.
Nota-se o crescimento da pecuária nas últimas décadas, sendo representada na análise pela
criação de suínos com presença marcante no Alto e Médio Vale, ocorrendo criação de bovinos
principalmente no Baixo Vale junto à atividade agrícola da rizicultura.
4. Considerações Finais
No Brasil, a planificação está preocupada com aspectos singulares e não com a problemática
global, é a planificação para o crescimento econômico, mas o que se necessita é de uma planificação
sociopolítica que minimize a problemática ambiental urbana.
Por isso, a crise ambiental decorre do sucesso do modo de produção que provoca,
contraditoriamente, problemas sociais e ambientais. E compreender o processo de produção de
mercadorias e desvendar causas e agentes da poluição, desmatamentos e perda ecológicas e sociais.
Com isso, o estudo da produção do espaço, em determinado território como o da bacia do
Itajaí, serve para identificar o processo da configuração territorial e da heterogeneidade espacial
acrescentando características socioambientais do recorte hidrográfico por meio de análise estatística
de indicadores municipais sociais, econômicos e ambientais.
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