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A PRODUÇÃO DESIGUAL DO ESPAÇO URBANO: uma análise dos

equipamentos públicos educacionais no bairro Cristo Rei

Cátia Aparecida Basso1

Eduardo Donizete Girotto2

RESUMO

Conhecer ou reconhecer o espaço vivido e seu entorno como elemento

integrante do todo é essencial para que o aluno entenda e se sinta parte integrante

do processo de transformação do lugar, compreendendo que suas ações podem

fazer a diferença. Neste sentido, uma das tarefas essenciais no ensino de geografia

é possibilitar ao aluno, identificar os elementos a sua volta como parte real daquilo

que ele estuda através dos livros e que enquanto cidadão pode atuar e contribuir

para modificar exercendo assim a sua cidadania. Portanto, este artigo é resultado do

projeto de intervenção desenvolvido na Escola Estadual Cristo Rei com as turmas da

7ª série B e D do período matutino com o objetivo de discutir e problematizar a

produção desigual do espaço urbano do bairro no qual a escola está inserida. A

partir desta pesquisa, foi possível reafirmar a importância de se construir estratégias

didáticas para o ensino de geografia que tenha como ponto de partida as práticas

sociais desenvolvidas pelos alunos, com o intuito de problematizá-la, resultando

assim em nossas ações e percepções acerca da realidade.

PALAVRAS-CHAVES: LUGAR, ESCOLA e CIDADANIA.

1Graduada em Geografia e especialista em Orientação e Supervisão Escolar. Email: [email protected]

2 Professor do Colegiado de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Francisco

Beltrão. Email: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A organização e a produção do espaço urbano de Francisco Beltrão tem

ocorrido de forma desigual. Na área urbana, temos bairros com maiores

investimentos onde as condições de vida das pessoas são melhores, enquanto

outros ficam relegados ao segundo plano.

Esta desigualdade do espaço urbano beltronense também pode ser verificada

no que diz respeito ao acesso aos bens públicos, como as escolas, as creches, aos

postos de saúde, espaços culturais, entre outros.

Um dos exemplos desta desigualdade da produção do espaço urbano pode

ser encontrada na Escola Estadual Cristo Rei, objeto de nossa investigação e

intervenção. A escola está situada no bairro Cristo Rei desde 1968 e compartilha o

espaço físico com a Escola Municipal Rubens Amélio Bonatto desde 1991, quando

ocorreu a municipalização da Educação Infantil e das séries iniciais do ensino

fundamental (1ª a 4ªsérie).

A partir de nossa vivência como docente desta unidade escolar, é possível

perceber que esta ocupação do mesmo espaço físico (estrutura) traz alguns

entraves para o ensino/aprendizagem das crianças de ambas as escolas tais como:

Crianças de 04 a 14 anos utilizam as mesmas instalações de banheiros,

lavatórios e salas;

Há uma biblioteca pequena para atender as duas escolas ao mesmo tempo o

que requer determinação de horários que atrapalha o trabalho pedagógico.

Isto também se estende a quadra esportiva e laboratório de informática;

No aspecto pedagógico cada escola segue uma orientação que vem das

secretárias as quais pertencem, com propostas diferentes apesar de dividirem

o mesmo espaço;

Os espaços externos têm degraus e escadas que dificultam a acessibilidade

de alunos, professores, pais e comunidade escolar.

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Neste sentido, este artigo tem como objetivo apresentar os resultados do

projeto de intervenção desenvolvida durante o Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE) na Escola Estadual Cristo Rei e que tinha o objetivo de

levantar quais equipamentos educacionais públicos3 existem no bairro Cristo Rei

e quais condições os mesmos oferecem para a população. Para tanto,buscamos

reconhecer e analisar as condições dos equipamentos educacionais públicos

existentes no bairro Cristo Rei, relacionando com a produção desigual do espaço

urbano na cidade de Francisco Beltrão.

O projeto foi desenvolvida com as turmas da 7ª série B e D do período

matutino da Escola e tinha como principais objetivos:

Permitir aos alunos (as) a investigação e reconhecimento do lugar onde vive.

Mapear a área territorial do bairro situando os equipamentos educacionais

existentes nele.

Oportunizar as crianças a compreensão de que sua comunidade faz parte da

totalidade do espaço geográfico e que tal relação pode ser interpretada a

partir da categoria lugar.

Pesquisar junto à comunidade, através de entrevistas, as condições dos

equipamentos educacionais públicos para o atendimento da demanda da

comunidade.

No entanto antes de apresentarmos as atividades desenvolvidas e os

resultados alcançados durante o projeto, faremos um breve resgate histórico da

cidade de Francisco Beltrão e do bairro Cristo Rei, com o intuito de

compreendermos melhor a produção deste espaço urbano.

3 Nesta pesquisa, definimos por “equipamentos educacionais públicos” as escolas e as creches.

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Histórico do Município

O território que hoje se constitui no município de Francisco Beltrão (Figura 1)

era ocupado por índios, posteriormente caboclos e luso-brasileiros que se

dedicavam a extração da erva-mate e criação de porcos.

Figura 1

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Brazil_location_map.svg acesso em 11/07/2012.

Mais tarde, na década de 40, chegaram aqui, vindos de Santa Catarina e Rio

Grande do Sul, descendentes de italianos, alemães, poloneses e outros para se

fixarem na terra e trabalhar na agricultura.

As primeiras casas desta cidade surgiram em 1947 à margem direita do rio

Marrecas, onde se formou o povoado batizado de “Vila Marrecas”. Com a

emancipação política em 14/12/1952, recebeu o nome de Francisco Beltrão. A

legalização de posse das terras ocorreu entre 1962 e 1974 pela Getsop (Grupo

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Executivo para as terras do sudoeste do Paraná.) que forneceu mais de 50 mil

títulos, realizando verdadeira reforma agrária na região.

Até a década de 70 a população urbana era inferior a população rural, o

surgimento e expansão de atividades industriais e comerciais alteraram esse

quadro, já na década de 80, aproximadamente 60% da população beltronense era

urbana.

Histórico do Bairro Cristo Rei

A área que constitui o bairro Cristo Rei (figura 2) teve sua ocupação ainda no

período inicial da colonização do município, quando ainda era denominado de

“Marrecas”, conforme contou seu Sebastião Albuquerque de Souza, conhecido pelo

apelido de “seu Pureza” em entrevista realizada por alunos da Escola em 1993. Ele

contou que chegou ao município junto com seu sogro Prudente Alves da Silva e seu

irmão Florindo Albuquerque de Souza em 1942. Juntos derrubaram a mata que

cobria a encosta do Morro do Calvário para plantar milho, feijão e outros alimentos

para a sobrevivência de sua família. Mais tarde com a instalação do DER

(Departamento de Estradas e Rodagem) a ocupação se ampliou.

Figura 2

Fonte: Google Maps, acessado em julho de 2012.

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O bairro Cristo Rei é assim constituído: Ponto de partida: Rua Piquiri com a

divisa do lote n° 510; seguindo pela divisa do lote n° 510 até alcançar a divisa do lote

n° 940, daí seguindo pela divisa do lote n° 940 até alcançar a rua Santa Inês;

seguindo pela rua Santa Inês até alcançar a rua São Miguel; daí seguindo pela rua

São Miguel até alcançar a Avenida Progresso, seguindo até o rio Marrecas; pelo rio

Marrecas, margem esquerda até encontrar a Avenida Cristo Rei; continuando por

esta até encontrar a rua do Aeroporto; seguindo esta até encontrar a rua São Lucas

esquina com a rua São Luiz; seguindo por esta até encontrar a rua Santa Luzia; daí

segue pela divisa do lote n° 73 da gleba n° 57-FB até alcançar a rua Piquiri, ponto de

partida.

Histórico da Escola Estadual Cristo Rei.

A Escola Estadual Cristo Rei (figura 3) – Ensino Fundamental (código 00039),

é mantida pelo Governo do Estado do Paraná e administrada pela Secretaria de

Estado da Educação, pertencendo ao Núcleo Regional de Educação de Francisco

Beltrão (código 012). Seu funcionamento teve início em 14 de fevereiro de 1968. Foi

inaugurado o novo prédio pelo Decreto n° 8942 com o nome de “Grupo Escolar

Cristo Rei”. A autorização para funcionamento veio através do Decreto n° 2.685

DOE 203 de 21 de dezembro de 1976, passando a denominar-se Escola Estadual

Cristo Rei – Ensino de 1° Grau. O reconhecimento do Curso Regular de 1° Grau

deu-se pela Resolução n° 2.632 DOE 1184 de 19 de novembro de 1981.

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Figura 3

Fonte: Catia Ap. Basso

Teve a cessação definitiva do ensino de 1ª a 4ª série, pela Resolução n° 979

de 14 de Março de 1991, passando a ofertar o Ensino de 5ª a 8ª série. Em 06 de

junho de 1983 com a Resolução n° 2020/83, passou a denominar-se “Escola

Estadual Cristo Rei – Ensino de 1° Grau”. Passa a funcionar, porém, no mesmo

prédio, a Escola Municipal Professor Rubens Amélio Bonatto, pelo decreto n° 053/91

de 18 de fevereiro de 1991, que atende Educação Infantil e séries iniciais do Ensino

Fundamental.

A partir da resolução n° 764/99 ficou concedido o funcionamento de

atividades de Educação de Jovens e Adultos, passando a denominar-se Colégio

Estadual Cristo Rei, a qual foi revogada pela Resolução n° 966/02, sendo

atualmente nomeado de Escola Estadual Cristo Rei – Ensino Fundamental pela

resolução n° 3.841/02 renovando o reconhecimento do estabelecimento pela

resolução n° 4.480/02 de 25 de novembro de 2002. A Escola Estadual Cristo Rei,

oferta o Ensino fundamental de 5° a 8° série, no período matutino e noturno,

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contando com um quadro de professores habilitados para o desempenho das

funções pedagógicas num total de 35 professores e 8 funcionários, além de Direção,

Professor Pedagogo, APMF e Conselho Escolar. Os alunos oriundos dos bairros,

Cristo Rei, São Miguel, Novo Mundo, Cango, São Francisco, Centro e Comunidades

do interior do município de Francisco Beltrão.

O Regimento Escolar está fundamentado na LDB – Lei de Diretrizes de Bases

da Educação Nacional 94394/96 de 20 de dezembro de 1996, está aprovado pelo

parecer n° 100/2002 em 23 de abril de 2002.

O Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola deixa claro que a mesma

deseja contribuir na formação de um cidadão crítico e atuante no seu espaço de

vivência, e a geografia como disciplina pode contribuir muito nesta formação.

Neste sentido, feito este histórico, passemos a apresentação do projeto.

Fundamentos teóricos do projeto: algumas considerações

Com base nas diretrizes curriculares de geografia do Paraná (2008, p. 14) a

escola pública brasileira, nas últimas décadas, passou a atender um número cada

vez maior de estudantes oriundos das classes populares. Ao assumir essa função,

que historicamente justifica a existência da escola pública, intensificou-se a

necessidade de discussões contínuas sobre o papel do ensino básico no projeto de

sociedade que se quer para o país.

A depender das políticas públicas em vigor, o papel da escola define-se de

formas muito diferenciais. Da perspectiva das teorias críticas da educação, as

primeiras questões que se apresentam são Quem são os sujeitos da escola pública?

De onde eles vêm? Que referências sociais e culturais trazem para a escola? Um

sujeito é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está inserido,

mas é, também, um ser singular, que atua no mundo a partir do modo como o

compreende e como dele lhe é possível participar. Ao definir qual formação se quer

proporcionar a esses sujeitos, a escola contribui para determinar o tipo de

participação que lhes caberá na sociedade.

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Nesse sentido, a escola deve incentivar a prática pedagógica fundamentada

em diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino, de aprendizagem

(internalização) e de avaliação que permitam aos professores e estudantes

conscientizarem-se da necessidade de uma transformação emancipadora. Um

projeto educativo, nessa direção, precisa atender igualmente aos sujeitos, seja qual

for sua condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural e às

possíveis necessidades especiais para aprendizagem. Com isso, entende-se a

escola como o espaço do confronto e diálogo entre os conhecimentos

sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular (p. 15).

Entende-se que, para a formação de um aluno consciente das relações

socioespaciais de seu tempo, o ensino de Geografia deve assumir o quadro

conceitual das abordagens críticas dessa disciplina, que propõem a análise dos

conflitos e contradições sociais, econômicas, culturais e políticas, constitutivas de

um determinado espaço (p. 53).

A geografia vem trabalhando a noção de espaço enquanto produto do trabalho humano a partir da relação que o homem – enquanto ser social - mantém com a natureza. Aqui nos propomos a analisar o espaço enquanto condição, meio e produto da reprodução da sociedade, o que nos leva necessariamente a discutir o papel do homem enquanto sujeito, percorrendo sua vida, valores, cultura, lutas, ansiedades e projetos, portanto o homem agindo. Logo pensar o urbano significa pensar a dimensão do humano. Entender o espaço urbano do ponto de vista da reprodução da sociedade significa pensar o homem enquanto ser individual e social no seu cotidiano, no seu modo de vida, de agir e de pensar. (Carlos, 2007, p.53)

Conhecer ou reconhecer o espaço vivido e seu entorno como elemento

integrante do todo é essencial para que a criança entenda e se sinta parte do

processo de transformação do lugar, compreenda que suas ações podem fazer a

diferença. Cabe a geografia ajudar aos alunos os elementos de sua volta como parte

real daquilo que ela estuda através dos livros.

Portanto, partindo de uma concepção de geografia voltada para a “formação

da cidadania o desenvolvimento da consciência da necessidade de luta pelo direito à

cidade” (Cavalcanti, 2008, p.8) é que elaboramos e desenvolvemos o nosso projeto

de intervenção pedagógica.

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O projeto: atividades desenvolvidas

Para iniciarmos o projeto, realizamos uma atividade de reconhecimento do

espaço do bairro através do uso do computador. Para tanto fomos à sala de

informática da escola, onde os alunos acessaram o Google mapas e puderam

visualizar no mapa virtual do município o bairro Cristo Rei e a localização da Creche

e das escolas municipal e estadual, as quais utilizam de forma compartilhada o

mesmo espaço. Também puderam verificar que nos outros bairros, exceto na Escola

Estadual da Cango e Escola Municipal Frei Deodato, estas já foram separadas

territorialmente.

Após as observações promovemos um debate com os mesmos sobre o

compartilhamento do espaço das escolas e pudemos perceber que os pais e

responsáveis pelas crianças são favoráveis, pois lhes da segurança saber que os

filhos(as) menores estão no mesmo espaço que os maiores. Já na visão dos alunos

isto é ruim, segundo a maioria destes, pois as necessidades em relação aos

espaços são diferentes especialmente os banheiros, que segundo aqueles que têm

irmãos menores, os mesmos sofrem e até mesmo choram quando precisam utilizá-

los.

Os alunos das séries finais falaram sobre a biblioteca que não tem espaço

adequado para garantir livros direcionados as diferentes necessidades de leitura e

principalmente interesse literário. Assim eles acabam sendo penalizados. Além

disso, reclamam da falta de liberdade durante os intervalos (recreio), visto que

precisam cuidar dos menores e serem vigiados pelos mesmos.

Após isso em sala em sala de aula com o uso do mapa dos bairros do

município de Francisco Beltrão (Figura 4) realizamos a atividade de definição dos

limites deste, refletindo sobre sua condição periférica ou não. Depois de realizar

pesquisa referente ao que se denomina por periférico, concluiu-se então que este

fica na periferia oeste da área urbana do município.

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Figura 4

Outro momento importante do projeto se refere à pesquisa realizada com a

comunidade do bairro no mês de Novembro de 2011. Naquele momento, foram

aplicados 100 (cem) questionários, sendo que, entre os que retornaram 18 eram de

profissionais que atuam e responsáveis por crianças que freqüentam o Centro

Municipal de Educação Infantil Professora Ivanir de Albuquerque, 46 eram de

profissionais e responsáveis por crianças que frequentam a Escola Municipal

Rubens Amélio Bonatto, 36 eram de profissionais, responsáveis e crianças que

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frequentam a Escola Estadual Cristo Rei. A seguir apresentamos alguns dos

resultados obtidos com este questionário:

Referente à pergunta sobre a qualidade do ensino/aprendizagem ofertado

pelas instituições: 53% responderam ótimo, 42% que é bom, 2% razoável e 2%

péssima.

Sobre a estrutura física que as instituições ( escolas e cmei) oferecem (salas,

banheiros, refeitório, biblioteca, laboratórios, quadra esportiva, área de lazer e pátio)

responderam: 46% que atende parcialmente, 26% que precisa melhorar sugerindo

as melhorias em relação ao prédio, mais salas, ampliação do espaço coberto e

refeitório na creche. 25% disseram que atende as necessidades e 3% que não

atende.

Quanto à questão de como as instituições são vistas pela comunidade, 67%

responderam que são uma importante conquista da comunidade, 17% que é uma

obrigação do poder público que está sendo cumprida, 9% que é uma necessidade

parcial da comunidade, pois não atende aos interesses de todos, 2% disseram que

não tem nenhuma importância e 5% não responderam.

Quanto ao questionamento de como é a participação da comunidade junto as

entidades de luta e defesa dos direitos da mesma (associação de moradores e

outras) junto ao poder público, responderam: 33% que participam ativamente; 11%

que não participa mas mesmo assim é atendida; 50% delega essa função para

alguns e espera por resultados e 6% não responderam.

Ao serem questionados sobre quantas vezes no ano ocorrerem reuniões com

as lideranças da comunidade para discutir as necessidades da mesma

responderam: 38% com freqüência, mas não participa; 28% disseram que não

sabem; 6% afirmaram que só no período eleitoral; 24% disseram que ocorrem

regularmente e participam; 4% não responderam.

Sobre a participação na elaboração do plano diretor do município, na reunião

que ocorreu no bairro responderam: 15% que participaram; 5% não lembra; 2% não

vai a essas reuniões e 78% que não participou. Na questão sobre como ficou as

propostas em relação à educação 92% não responderam. Do restante, 4 falaram

que não foi discutido e 4 que haveria melhorias como a amplificação dos espaços do

CMEI, mão única e passeio novo em frente as escolas e a construção do prédio para

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funcionamento da escola municipal. Destas propostas a definição da mão única em

frente ao prédio onde funcionam as escolas municipal e estadual foi efetivado em

2011 e a troca do passeio com nova arborização no 1º semestre de 2012. Quanto a

ampliação dos espaços do CMEI e a construção do prédio para funcionamento da

Escola Municipal ainda não se concretizou.

Após a tabulação destes dados e organização em slides para TV Pendrive

e/ou data show apresentamos as turmas envolvidas os resultados aqui expostos

ainda no mês de dezembro. Agendamos uma reunião com representantes da

comunidade para expor os resultados da pesquisa realizada, mas devido as

inúmeras atividades de final de ano o envolvimento destes foi pequeno. Aqueles que

vieram concordaram com as respostas do questionário apresentadas o que deixa

claro o desinteresse da grande maioria em participar junto a associação das

reivindicações das necessidades da comunidade junto as autoridades. Como

sugestão pediram que este trabalho de análise e pesquisa sobre as condições dos

equipamentos públicos existentes no lugar (bairro) continue, pois perceberam nas

crianças o possível despertar para uma atuação mais efetiva para as necessidades

da comunidade e estímulo aos responsáveis em se comprometer com as

associações de moradores que após eleitas se sentem abandonadas pelos que as

mesmas representam. Aos colegas de trabalho o resultado da pesquisa foi

apresentado em fevereiro na semana pedagógica.

Os alunos concluíram que as suas participações e a de seus familiares junto

as entidades representativas do bairro, CMEI e escolas realmente é inexpressiva

que não se utilizam destas para garantir seus direitos de cidadãos a um espaço

educacional público de qualidade. Enquanto que os colegas de trabalho afirmaram

que apenas foi comprovado o pouco envolvimento da comunidade em relação as

questões educacionais e sociais.

Paralelo a isso, foram muito importantes às discussões ocorridas durante as

atividades do grupo de Trabalho em Rede (GTR). Entre os assuntos debatidos, o

que mais se destacou foi a cidadania. Sobre isso transcrevo as palavras de

Benevides (apud Cavalcanti, 2008, p.85)

Cidadãos ativos são mais do que titulares de direitos, são criadores de

novos direitos e novos espaços para expressão de tais direitos,

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fortalecendo-se a convicção sobre a possibilidade, sempre em aberto, da

criação e da consolidação de novos sujeitos políticos, cientes de direitos e

deveres na sociedade.

Após muita troca de idéias, ficou claro que precisamos através da Escola e

das aulas de geografia aprofundar a compreensão de ser cidadão, pois na

sociedade atual que é capitalista, excludente e competitiva, temos o triste hábito de

“eleger” pessoas e entregar a elas a função de todo o comando e organização das

instâncias sociais e políticas.

Uma das participantes do GTR questionou sobre o Plano Diretor do

município, e o que consta neste sobre as necessidades dos equipamentos públicos

educacionais do bairro, como a comunidade havia se envolvido durante a

elaboração do mesmo.

Considerações Finais

A participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE)

contribuiu muito para minha formação, pois depois de muitos anos em sala de aula

já cansada dos problemas diários que envolvem a escola e os que nela atuam, ficar

afastada um tempo e voltar às aulas nas universidades, as quais estimulam uma

atuação mais efetiva e prática do cotidiano da disciplina e as conversas com colegas

de diferentes escolas e municípios compartilhando experiências, nos dão um novo

vigor para melhorar nossas metodologias de trabalho.

Com este projeto foi possível perceber que é fundamental que no dia a dia da

disciplina de geografia o entorno das crianças seja elemento de pesquisa e estudo,

para primeiramente concretizar o que ela estuda e o mundo a sua volta, pois só

assim fará vínculo com a realidade e perceberá o quanto é importante a sua atuação

de modo mais consciente.Também é necessário que ela entenda a dinâmica política

deste espaço e as forças que o modificam ou não, sendo essencial para tal,

atividades de leitura, análise, pesquisa e debate que tenham como pontos de partida

o município, o bairro e as instituições de interesse público.

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Acreditamos que através deste projeto, oportunizamos aos educando uma

reflexão mais concreta sobre o lugar (bairro) e a importância da sua participação

mais efetiva e comprometida com o mesmo. Além disso, os alunos perceberam que,

se quiserem suas necessidades atendidas pelas autoridades responsáveis, cabe a

toda a comunidade uma atuação mais efetiva. Se envolver mais e participar

ativamente das discussões referente ao que é disponibilizado aos cidadãos de cada

parte da cidade pelo poder público que na maioria das vezes está condicionado aos

interesses econômicos de determinados grupos é fator fundamental para o exercício

pleno de uma verdadeira democracia. Só assim eles realmente perceberão a

importância de fortalecer as instituições representativas de cada comunidade como

as associações de moradores e pessoas públicas (vereadores) comprometidas com

as causas sociais e que compreenderão a importância da geografia em suas vidas.

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Referências

CALLAI, Helena Copetti. Fundamentos Teórico-Metodológicos do Ensino de

Geografia. Íjui: Unijui, 2004.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Cidade. Editora Contexto 8ª edição 1ª reimpr. São

Paulo, 2007.

_________________________. O Lugar no/do Mundo. Editora FFLCH. São Paulo,

2007.

CAVALCANTI, Lana de Souza. A Geografia Escolar e a Cidade. Ensaios sobre o

ensino de geografia para a vida urbana cotidiana. Campinas: Editora Papirus, 2008.

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano: série Princípios. 4ª Ed. 3ª Reimpr.

Editora Ática, 2002.

FRANCISCO BELTRÂO. História e Geografia de Francisco Beltrão: educando

com o coração. 2ª edição. Paraná: Galga, 2007.

GIROTTO, Eduardo Donizete. “Debates e Contribuições sobre a Escola Pública: De

professor para professor”. IN: GARCIA, P. S. (org.) Debates e contribuições sobre

a escola pública: de professor para professor. São Paulo: LCTE, 2010.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná,

Geografia. Paraná: SEED, 2008.

SANTOS, Milton. O Espaço Dividido: Os Dois Circuitos da Economia Urbana

dos Países Subdesenvolvidos. São Paulo: EDUSP, 2008.

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SEABRA, Odette; CARVALHO, Mônica de LEITE, José Corrêa. Território e

Sociedade: Entrevista com Milton Santos. 2ª. Ed. 2ª. Reimpr. São Paulo: Editora

Fundação Perseu Abramo, 2004.

Sites consultados

HTTP://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/11/294909.shtml acesso em 02 de

março de 2011 – 03 – 02

http://maps.google.com.br/m/maps?q=parana&ll=-26.068503, 53.067055&z=15

Acesso em: 05/06/2011 às 14h00min