a ponte ano vi nº3 15.08.2013

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INFORMATIVO DO IX FESTIVAL DE ARTES DO VALE DO SÃO FRANCISCO Tambores e batuques, cânticos e tradições Foto Rodolfo Araújo Ano VI Edição nº 03 do IX Aldeia | Petrolina, 15 de agosto de 2013 por Carlos Laerte tambor, este instrumento fundamental O – e em alguns casos sagrado – para o repertório de cânticos das comunidades quilombolas por este país afora, também vai marcar presença durante a 9ª edição da Aldeia do Velho Chico – Festival de Artes do Vale do São Francisco. Comemorado como uma das melhores novidades desta edição, o Projeto Sonora Brasil cruza a programação do Aldeia com o tema Tambores e Batuques, nos quatro últimos dias do Festival. No dia 15, às 21h no Terraço da Galeria (Sesc Petrolina), o grupo Raízes do Bolão, do quilombo do Curiaú (AP), apresenta o marabaixo e o batuque: tradições em louvor ao Santo Expedito, São Tiago e São José. Falando sobre a vida social, o trabalho e as crenças religiosas dos quilombolas, os cânticos voltam a ecoar no dia 16, no mesmo horário e lugar, com o Samba de Cacete, da região de Cametá (PA), que será apresentado pelo grupo Samba de Cacete da Vacaria. Um costume que vem da solidariedade e da união de forças entre a comunidade, que se ajuda sempre que um precisa do outro para executar uma tarefa. Da limpeza do terreno ao plantio, o Samba de Cacete é tocado no intuito de animar o grupo para que o trabalho seja feito com eficiência e rapidez. Também se apresentando com instrumentos fabricados artesanalmente, de acordo com as tradições de sua comunidade, o grupo Raízes do Samba de Tocos, da cidade de Antônio Cardoso (BA) mostra no dia 17, durante o Virarte, o Samba de Roda do agreste baiano. Representando a tradição do Samba de Roda da Bahia, este grupo se apresenta em algumas festividades religiosas, principalmente as ligadas a São Cosme e São Damião. Projeto Sonora Brasil apresenta cultura quilombola durante os quatro últimos dias da 9ª edição do Aldeia do Velho Chico e estende programação até o domingo (18). por Carlos Laerte Domingo E para que ninguém fique pensando que esta edição do Aldeia do Velho Chico termina no sábado, como acontece tradicionalmente com as atrações do Virarte, no domingo (18), o projeto Sonora Brasil encerra oficialmente a programação com o Alabê Ôni, o único dos quatro grupos que não veio de uma comunidade rural. Formado por músicos, pesquisadores da cultura negra, que recuperam a história do Tambor de Sopapo, originário da região das charqueadas de Pelotas (RS), e desaparecido do contexto da tradição oral, o grupo gaúcho apresenta um repertório de maçambiques, quicumbis, alujás e candombes. Considerado o maior projeto de circulação musical não comercial do país, o Sonora Brasil, já em sua 16ª edição, tem como objetivo desenvolver programações identificadas com o desenvolvimento histórico da música nacional. Com este projeto, o Sesc busca despertar no público um olhar crítico sobre a produção e sobre os mecanismos de difusão de música no país, incentivando novas práticas e novos hábitos de apreciação musical, promovendo apresentações de caráter essencialmente acústico, que valorizam a pureza do som e a qualidade das obras e de seus intérpretes. 18/08 Domingo BAQUE OPARÁ (Petrolina/PE) | Terraço da Galeria 19h Livre Gratuito SAMBA DE VEIO (Petrolina/PE) | Terraço da Galeria 20h Livre Gratuito Mostra Sonora Brasil: ALABÊ ÔNI / Tambor de Sopapo (RS) | Terraço da Galeria 21h Livre Gratuito

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Informativo número 03 da IX edição do Aldeia do Velho Chico – Festival de Artes do Vale do São Francisco. Petrolina/PE, 2013.

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Page 1: A PONTE ano VI nº3 15.08.2013

INFORMATIVO DO IX FESTIVAL DE ARTES DO VALE DO SÃO FRANCISCO

Tambores e batuques, cânticos e tradições

Foto Rodolfo Araújo

Ano VI Edição nº 03 do IX Aldeia | Petrolina, 15 de agosto de 2013

por Carlos Laerte

tambor, este instrumento fundamental O – e em alguns casos sagrado – para o repertório de cânticos das comunidades

quilombolas por este país afora, também vai marcar presença durante a 9ª edição da Aldeia do Velho Chico – Festival de Artes do Vale do São Francisco. Comemorado como uma das melhores novidades desta edição, o Projeto Sonora Brasil cruza a programação do Aldeia com o tema Tambores e Batuques, nos quatro últimos dias do Festival. No dia 15, às 21h no Terraço da Galeria (Sesc Petrolina), o grupo Raízes do Bolão, do quilombo do Curiaú (AP), apresenta o marabaixo e o batuque: tradições em louvor ao Santo Expedito, São Tiago e São José. Falando sobre a vida social, o trabalho e as crenças religiosas dos quilombolas, os cânticos voltam a ecoar no dia 16, no mesmo horário e lugar, com o Samba de Cacete, da região de

Cametá (PA), que será apresentado pelo grupo Samba de Cacete da Vacaria. Um costume que vem da solidariedade e da união de forças entre a comunidade, que se ajuda sempre que um precisa do outro para executar uma tarefa. Da limpeza do terreno ao plantio, o Samba de Cacete é tocado no intuito de animar o grupo para que o trabalho seja feito com eficiência e rapidez. Também se apresentando com instrumentos fabricados artesanalmente, de acordo com as tradições de sua comunidade, o grupo Raízes do Samba de Tocos, da cidade de Antônio Cardoso (BA) mostra no dia 17, durante o Virarte, o Samba de Roda do agreste baiano. Representando a tradição do Samba de Roda da Bahia, este grupo se apresenta em algumas festividades religiosas, principalmente as ligadas a São Cosme e São Damião.

Projeto Sonora Brasil apresenta cultura quilombola durante os quatro últimos dias da 9ª edição do Aldeia do Velho Chico e estende programação até o domingo (18).

por Carlos Laerte

Domingo E para que ninguém fique pensando que esta edição do Aldeia do Velho Chico termina no sábado, como acontece tradicionalmente com as atrações do Virarte, no domingo (18), o projeto Sonora Brasil encerra oficialmente a programação com o Alabê Ôni, o único dos quatro grupos que não veio de uma comunidade rural. Formado por músicos, pesquisadores da cultura negra, que recuperam a história do Tambor de Sopapo, originário da região das charqueadas de Pelotas (RS), e desaparecido do contexto da tradição oral, o grupo gaúcho apresenta um repertório de maçambiques, quicumbis, alujás e candombes. Considerado o maior projeto de circulação musical não comercial do país, o Sonora Brasil, já em sua 16ª edição, tem como objetivo desenvolver programações identificadas com o desenvolvimento histórico da música nacional. Com este projeto, o Sesc busca despertar no público um olhar crítico sobre a produção e sobre os mecanismos de difusão de música no país, incentivando novas práticas e novos hábitos de apreciação musical, promovendo apresentações de caráter essencialmente acústico, que valorizam a pureza do som e a qualidade das obras e de seus intérpretes.

18/08 DomingoBAQUE OPARÁ (Petrolina/PE) | Terraço da Galeria 19h Livre Gratuito

SAMBA DE VEIO (Petrolina/PE) | Terraço da Galeria 20h Livre Gratuito

Mostra Sonora Brasil: ALABÊ ÔNI / Tambor de Sopapo (RS) | Terraço da Galeria 21h Livre Gratuito

Page 2: A PONTE ano VI nº3 15.08.2013

Expediente

Informativo número 03 da IX edição do Aldeia do Velho Chico – Festival de Artes do Vale do São Francisco, realizado pelo Sesc Petrolina com apoio do seu Departamento Nacional.

15 de agosto de 2013. Tiragem 2.000 exemplares.

Assessoria de ImprensaClas Comunicação & Marketing

Jornalista Responsável Luciana Passos (DRT/BA- 3737)

Reportagem Carlos Laerte (DRT/PE-1781)Luciana Passos

RevisãoAriane SamilaRenata Pimentel

PautasThom Galiano

FotosArquivo Sesc

Projeto GráficoMiro Borges

Coordenação Geral do FestivalJailson LimaGaliana Brasil

Gerente do Sesc PetrolinaHednilson Roberto Bezerra da Silva

Ano

VI

Ediç

ão n

º 03

| 1

5 de

ago

sto

de 2

013

Cursos de Artes

Dança de SalãoSEG e QUA – 05/08 a 04/1219 às 20h (Adultos iniciantes)20 às 21h (Adultos avançados)Com/dep R$ 30,00 Usuário R$ 60,00

Dança ContemporâneaSEG e QUA – 05/08 a 04/1219 às 21h (Adulto)Com/dep R$ 22,00 Usuário R$ 44,00

Dança do VentreTER e QUI – 08/08 a 07/1219 às 20h (Adultos iniciantes)Com/dep R$ 30,00 Usuário R$ 60,00

Ballet ClássicoSEG e QUA – 05/08 a 04/1216 às 17h (07 a 09 anos)17 às 18h (acima de 09)Com/dep R$ 30,00 Usuário 60,00

TER e QUI – 06/08 a 05/1209 às 10h (3ª idade)15 às 16h (07 a 09 anos)16 às 17h (04 a 06 anos)18 às 19h (acima de 17 anos)

2013.2

Foto Silvia Nonata

Viúva,porém honesta

FOTO CHAMADA

Grupo Magiluth Recife/PE

17/08 Sábado

Teatro Sesc Petrolina 23h 16 anos Gratuito

Com/dep R$ 30,00 Usuário R$ 60,00

QUA e SEX 07/08 a 06/1209 às 10h (04 a 06 anos)10 às 11h (07 a 09 anos)Com/dep R$ 30,00 Usuário R$ 60,00

ViolãoSEG e QUA – 05/04 a 04/1219 às 20h30 (Avançados)Com/dep R$ 30,00 Usuário R$ 60,00

TER e QUI – 06/08 a 05/1216 às 17h30 (Iniciante)19 às 20h30 (Avançado)Com/dep R$ 30,00 Usuário R$ 60,00

Iniciação TeatralSÁB e DOM – 24/08 a 20/1215 às 18h (iniciantes)Com/dep R$ 22,00 Usuário R$ 44,00

Pintura para CriançasTER e QUI – 20/08 a 18/1216 às 17h30 (06 a 12 anos)Com/dep R$ 22,00 Usuário R$ 44,00 In

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portou por cá, pelas bandas do Vale do A São Francisco, um grupo de teatro com malabaristas, equilibristas, ilusionis-

tas e tantos outros “istas”, formado apenas por dois atores/palhaços que armaram barraca no Aldeia do Velho Chico e saíram colecionando sorrisos dentro e fora do SESC. Carregando na mochila dois trabalhos, Cavaco e Sua Pulga Adestrada e O Circo de Lampezão e Maria Botina, utilizaram de elementos circenses para dar vida a situações mirabolantes, daquelas que fazem as crianças apertarem as mãos e arregalarem os olhos. No primeiro dia, estávamos no Salão do SESC, crianças e adultos à espera de um palhaço que espalhou por aí uma história cabeluda, dizendo que tem uma pulga adestrada e que ela iria se arriscar aos maiores perigos. De repente surge uma voz, depois uma cabeça, lá atrás do palco um braço entre as cortinas e 1, 2, 3... “Tchanram”, a chegada triunfal de Cavaco (Anderson Machado), um palhaço que sorrateiramente conquistou a plateia com o seu sorriso, como ele diz, seu maior atributo. Ele veio de muito longe para realizar o show da pulga mais corajosa e esperta. A

estrela, que chega de paraquedas no palco, quase ninguém enxerga, mas todos acredi-tam, inclusive, na proeza de ela ser atirada de um canhão em direção ao espaço. Nesse trabalho, onde tudo dá errado para poder dar certo, vemos um ator que consegue se multiplicar em cena para dar conta de segurar uma plateia no riso e na tensão. Já para ver o segundo trabalho do grupo e acompanhar a estória de encontros e desen-contros de Lampezão e Maria Botina, atravessamos o Rio São Francisco e chegamos à Ilha do Massangano, que encantou os visitantes, e estes retribuíram montando na frente da igrejinha um cenário que se transformou em um picadeiro, arrancando gargalhadas dos presentes. Nesse trabalho, além de Cavaco, entra em cena uma palhaça de voz singular, Nina (Giulia Cooper), juntos eles não poupam esforços nas gagues e malabares. Nos dois trabalhos da caravana fica bem claro o tratamento às crianças por igual, sem subestimar o potencial de entendimento e nem criando convenções que reafirmem pudores. Seja trazendo o público para cena ou lançando mão de elementos da cultura Pop, os trabalhos

Uma caravana comandada por uma pulga

CRÍTICA

por Adriano Alves

se criam em total interação com o público e as crianças que já nascem em meio à tecnologia. E trabalhar com essas crianças dos novos tempos pode ser uma difícil tarefa para os artistas da ludicidade, fazer com que elas vejam o que não é real sem necessitar de aparatos técnicos de última geração, reativando o prazer de imaginar o impossível. Na primeira apresentação um menino no colo da mãe chamou a atenção de todos ao seu redor. Ele embarcou na história de forma que chorava e sorria conforme os problemas apareciam e eram solucionados. Ficou assim memorável a total crença dos meninos naquele palhaço que, atrapalhado, conseguia domar uma pulga e também dizer que o encantamen-to ainda é possível.

Então, para que sairmos de

nosso lar para ir ao teatro?

Para quê levar as crianças a

um espetáculo?

Chegamos a tempos nos quais o distancia-mento das pessoas é alarmante, pouco se encontra e muito menos se comunga, tudo está mais compacto e dentro das nossas casas, comandado por controles remotos ou até sem eles. Então, para que sairmos de nosso lar para ir ao teatro? Para quê levar as crianças a um espetáculo? Simplesmente para dar a possibilidade a elas de se encontrarem com um mundo paralelo a esse da virtuose no virtual, deixar que ali, olho-no-olho com os atores, ela saiba que não precisa de muito para voar. Estar na Ilha do Massangano, instalado no ponto de encontro da comunidade, muito se assemelha às práticas mambembes da Idade Média, quando os grupos eram multiplicadores que, de cidade em cidade, transportavam nas suas carroças o mundo das fantasias. Hoje, grupos que se dedicam à arte do teatro de rua são os responsáveis por tais feitos. A Caravana Tapioca está na estrada e se faz agente da cena, se faz sonho, se faz teatro.

e a tapioca feita por Maria Botina para Lampezão

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Ano VI Edição nº 03 | 15 de agosto de 2013

Cena 10

noite do último dia 10 de agosto foi de Anovidades no Aldeia do Velho Chico. Às 10h da noite, a programação surpresa da

Cena 10, formada por cenas representativas da produção artística local, foi revelada ao público, que compareceu em peso para prestigiar. Inovadora no Festival, a Cena 10 abarcou artistas que participaram de projetos do Sesc Petrolina durante o ano 2013. A nova ação conseguiu manter até o fim a curiosidade, instigada ainda quando tudo era novidade. Com apresentações de performance, teatro, dança, artes visuais e literatura em ambientes distintos do Sesc, o chão sinalizado com fitas vermelhas era a única pista para o público, que podia identificar os locais das cenas.

Mas se havia dúvida para percorrer o mapa desconhecido, o cicerone Paulinho Santos logo surgia como guia da grande plateia itinerante, f o r m ad a p o r t r i b o s d i v e r s a s , q u e compartilharam da variedade de gostos e preferências e exploraram espaços, para muitos, novos e desconhecidos.

Representando o Projeto Experimenta Cena, os grupos: Cia Biruta (Cristiane Crispim, Fernanda Luz e Antônio Veronaldo), Coletivo Passarinho (Raphael Moraes, Diego Rodrigues e

Ádila Madança) e os artistas: Lucylene Lima, Adriano Alves, Priscilla Shulemã e Pablo Diego, apresentaram trechos das obras do maior comediógrafo de todos os tempos – Moliére. As cenas cômicas e críticas à sociedade da época: A Visita, Arranjo para a filha do doente e Cacos de Molière arrancaram da plateia muitas risadas e interação.

Para animar ainda mais o público, o volume do som foi aumentado e os passos da dança subiram ao palco para demonstrar um pouco do que foi o Aldeia Vale Dançar. Na Mostra de Solos, Duos e Grupos, os bailarinos se encontraram para apresentar seus processos criativos. No Palco, as apresentações: Quarto 27, por Túlio Torres e Cleybson Lima, Devanear, com Wendell Brito e Wagner Damasceno, Mergulho, por Pedro Lacerda e Chão, com Fernanda Luz.

Ainda no compasso dos movimentos, as performances e artes visuais chegaram à Cena 10 para mexer com os sentimentos do público. Tendo o corpo como temática, a escultura, da Exposição Espaço Corpo – Poéticas da Matéria, do artista Ranilson Viana, foi apresentada como uma das dez Cenas. Na entrada do Teatro Dona Amélia, a obra do artista retratava a temática da liberdade utilizada em seus trabalhos, uma investigação sobre as possibilidades de criação da figura humana no suporte tridimensional. Numa mistura de sensações, questionamentos, inquietações e surpresas, corpo, nudez, ser humano, movimento, estaticidade ganharam espaço na cena performática: Maminha – Alcatra –

por Luciana Passos

Fotos Rubens Henrique

Contrafilé, interpretada por Wechila Andrade. O Terraço da Galeria Ana das Carrancas foi o palco da última cena. Finalizando a ação, o espaço recebeu os artistas Joedson Silva e Moésio Belfort, que representaram o Projeto Poesia no Jardim de Ana, a partir da interpretação do poema Desnudo.

No tempo de duas horas, as cenas com curta duração garantiram ao público momentos distintos e de interação. Mesmo de linguagens variadas, as apresentações se mantiveram interligadas ora pelas palavras, ora pelas expressões, ora pela temática, ora pelo espaço, o que garantiu a sintonia completa da Cena 10. Para o estudante Evangivaldo Almeida, o fato da programação não ter s ido reve lada antecipadamente gerou uma expectativa a mais. “As apresentações, cada uma com suas peculiaridades, conseguiram mexer, surpreender e agradar”, declarou Almeida. Segundo a jornalista Catarine Matos, a proposta da Cena 10 foi bastante interessante e chamou atenção pela variedade. “Gostei muito, principalmente pela mistura de linguagens, teatro, dança, entre outras, que garantiu uma programação diversificada para todos os públicos”. Com o resultado positivo e a aprovação do público, o Sesc deve repetir a dose na 10ª edição do Aldeia do Velho Chico. E já que a cidade fervilha com as produções, a expectativa é que a Cena 10 seja ampliada e se torne Cena 15, 16 ou quantas mais o Projeto abarcar. Enquanto isso, a curiosidade volta ao ponto de partida, até que uma nova programação seja revelada. Até ano que vem!

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om 15 anos de carreia, Isaar é hoje uma C das maiores cantoras de Pernambuco. De 1997 a 2004, integrou a banda Comadre

Fulozinha, com a qual passou oito anos, viajando pelo Brasil e exterior, e deixou seu trabalho registrado, até o momento, em dois discos. A cantora levou ainda sua bagagem musical para o projeto DJ Dolores & Orquestra Santa Massa e para o DJ Dolores & Aparelhagem, nos quais foi cantora principal e co-autora de inúmeras músicas. Em 2006, ela gravou o seu primeiro CD, “Azul Claro”. Em seu segundo álbum, “Copo de Espuma”, utilizou-se de uma sonoridade dançante para retratar a simplicidade da vida, as reflexões e grandes recordações, em dez faixas. Outras seis delas ganharam a poesia autoral de Isaar, que extrapolou os movimen-tos percussivos e o eco de sua voz e deixou brilhar também sua veia compositora. De volta ao Aldeia do Velho Chico, a cantora, de jeito manso, fala zen e timbre marcante, realizará, nesta edição do Festival, um show especial, intitulado “Isaar no Velho Chico”. Com músicas de seus dois cds, mais algumas canções em homenagem à cidade de

Isaar Petrolina e ao Rio São Francisco, a apresenta-ção certamente emocionará os ribeirinhos e todos presentes.

A. Ponte : Ao longo de sua carreira fez muitas participações em grupos e shows de outros artistas e amigos. Diante dessas experiênci-as, como foi optar por uma carreira solo e partir para a gravação de um disco seu?

Eu não havia pensado nisso até sair da Comadre Fulozinha, porque era a banda onde eu podia expor minhas ideias... Me senti órfã... Claro que participei muito ativamente nos projetos com DJ Dolores... Temos muitas parcerias e comecei a pensar, mas ainda não estava preparada. A cada trabalho eu ia me encorajan-do, recebendo conhecimento até me jogar.

A.P: Seu show é composto por um repertório com compassos caribenhos, Reggae e, em especial, pelo Coco e Maracatu. Esta diversidade de ritmos garante uma universalização do seu trabalho?

Eu já tive essa preocupação em garantir uma universalização do meu trabalho através de um sonoridade regional. Hoje, eu só quero garantir uma boa música. Me esforço para construir, dentro das minhas limitações, o melhor para o mundo.A.P: Em 2006, uma faixa de “Azul Claro” foi selecionada para a coletânea World 2006 (BBC de Londres). Como foi ver sua música

por Luciana Passos

TRÊS PERGUNTAS PARA

ao lado de uma de Gal Costa representando o Brasil internacionalmente?

Foi maravilhoso... Por que eu ainda não tinha lançado o CD. Mandei apenas uma demo (gravação musical demonstrativa amadora), ainda sem muita convicção. E também nem imaginei a grandiosida-de da coletânea, cheia de nomes do mundo inteiro. É uma satisfação saber que minha música foi ouvida por aí, pela Grécia, Senegal, Mali, Itália, Argentina, México, Índia... e quem sabe pela Gal Costa (risos).

VISUALIDADES ALDEIA

por Heitor Pants

Pensamento Balístico

Software: Adobe Flash Professional Cs6. Ferramenta: Mouse. Petrolina/PE, 2012.

Page 6: A PONTE ano VI nº3 15.08.2013

Ano VI Edição nº 03 | 15 de agosto de 2013

Aldeia

“Me impressionou muito essa sensação de pertencimento que a gente vê nos quatro cantos de Petrolina com o Aldeia do Velho Chico. Uma Aldeia de múltiplas linguagens que cresce ainda mais com o espaço Tecendo Ideias. Me gratifica muito participar deste rico momento de trocas e experiências. É o Sesc incrementando o processo de interiorização a partir da inversão do caminho sertão-beira mar”.

Rodolfo Araújo Cineasta e fotógrafo

“A afetividade que Ana das Carrancas coloca em suas peças emociona e encanta a todos. E isso vivenciamos ao visitar a exposição Os Olhos Cegos do Rio”.

Jane GondimProfessora de Artes Visuais

“Aqui no São Gonçalo estava realmente precisando de uma iniciativa dessas. O Aldeia é um grande incentivo para nossas crianças e nossos jovens gostarem da cultura e da arte. Cada vez que a Cena Biruta acontece, nosso bairro se movimenta e as pessoas ficam mais alegres e motivadas a viver”.

Valdenito Silva BatistaComerciante

“O projeto Tecendo Ideias promove encontros dos mais variados, tomando como centro questões do contemporâneo na arte. Tendo participado de praticamente todos os encontros, pude perceber a criação de vínculos entre artistas, estudiosos e o público. Os debates, com certeza, levaram os participantes a novas dimensões de vivência”.

José Barbosa Estudante

“O que mais me impressiona no Aldeia é o poder de mobilização cultural que o Sesc tem em misturar pessoas de todas as classes sociais e principalmente suprir a lacuna deixada pelo governo, em todas as esferas. Parabéns ao Sesc por este maravilhoso evento”.

Janko MouraJornalista

Entrevistas e fotos por Carlos Laerte

é...para mim

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“Fiquei verdadeiramente encantada ao chegar em Petrolina no dia do Abre Alas pro Velho Chico, e participar de tantas manifestações artísticas. Conheci o Samba de Véio, dancei ao som de Selma do Coco e, acompanhando o cortejo pelas ruas da cidade, me encontrei de novo com a cultura do meu Nordeste”.

Claudia Farahmandi Educadora Física

“O Sesc Petrolina tem cumprido muito além da sua missão. O Aldeia do Velho Chico contribui para o fortalecimento e o resgate da cultura de todo o Vale”.

Iuric PiresSecretário de Turismo e Cultura de Petrolina – PE

"Participar do Aldeia do Velho Chico foi, antes de mais nada, uma experiência única e revitalizadora. Levarei forjadas no meu coração as diversas manifestações artísticas que presenciei na linda Petrolina."

Marcos FelipeAtor

“A professora Cátia Cardoso nos pediu desenhos sobre a Semana Santa. Nós fizemos e hoje apresentamos a exposição “de Cores”, pra vocês. Para mostrar a arte e a vida na nossa Ilha”.

Antonia Aparecida de Oliveira Santos Estudante e moradora da Ilha do Massangano

“O Aldeia do Velho Chico ganhou nesta edição um brilho todo especial com o Teatro Dona Amélia. Um espaço renovado, bonito e bem estrutu-rado, onde artista e público interagem para a celebração do grande banquete da arte”.

Adayr Rodrigues Professora e artesã

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Ano VI Edição nº 03 | 15 de agosto de 2013

Da língua ao

Eros ou Ouroboros:

dos ímpetos humanos

por Renata Pimentel

Eis aqui uma pequena mostra do resultado de um encontro coletivo. Após quatro dias de prazer, de sustos e provocações, de olhares, cheiros e sensações, reunimos os textos a seguir, que se podem sorver como poemas, como fragmentos, como ficções de imagens em palavras, como pequenas narrativas de corpos e desejos, como encontros entre subjetividades e a língua: no moto contínuo de nos fabricarmos como humanos, de nos desvencilharmos do excesso de razão e – pela própria cópula entre razão e corpo, entre alma e sexo, entre dor e ardor, entre prazer e êxtase – restarmos animais e humanos... Melhores, mais lúcidos, transgredidos e em gozo.

É NECESSÁRIO RECORDAR...

Na profundeza do teu corpo encontro-meOu será que é você que me encontra?De repente somos um sóOu somos dois?

Os pensamentos misturam-seOs corpos misturam-seE quando te vaisOh! meu grande homemSinto-te aqui tão pertoTão perto, tão perto

De repente vem o teu cheiroQue me lembra aquele diaQue belo diaAquele em que me deixaste o teu cheiroQue eu carrego até hoje E dura para sempreSe existir para sempre...

Ariane Samila Soares

QUANDO ME ABRAÇASTEDESEJO

Depois daquele abraçoMe pergunto se pertenço a mim Nossos corpos desejososVocê nos meus e eu nos teus braçosMeu corpo te pertenceuMinha alma sempre foi tuaE nada aconteceu.Guerra declarada sem paz seladaSem beijo, sem lágrimasSem nenhuma palavra – seriam inúteis Se tu sabes que te amo De resto... Depois daquele abraçoMe pergunto se me pertenço a mim.Do tanto que te quero aqui.Do tanto que me quero aí.

Cristiane Quirino

JULGAMENTO E EU

Julga-me pelo meu desconsertoJulga-me pelos meus fardosJulga-me pelos meus tragos.

Julga-me até pelo fatoDe não te ter amadoComo os príncipes encantados.

Mas ao me julgarEsquece que meu desconsertoé causado pelo seu desprezoE que meus fardos hoje me provocam colapsos.

E que meus tragos são apenasMaus hábitos,Que servem para aliviar a dor.

Dor, por ser apenas mais um sapoEncantado, à espera de um beijorealmente apaixonado.

Eduardo Jeans

APRESENTAÇÃO AOS TEXTOS DA OFICINA

TRAVESSIA

Atravesso rioLevo o marMeu mar De amorSem barco Nado Sem nadaNavego Teu corpo De águas ProfundasVou fundoNo fundo de tiQue há um Mundo De mim

Jailson Lima

Page 9: A PONTE ano VI nº3 15.08.2013

HIPOCERTEZA

Trabalho com hipo. Sem. Só o sono é mais. Quando vem e chega hiper. Aranha tatanha tateia meu tic-tac de viver. Dormir, sonhar. Talvez morrer. Pelo menos um pouco de cada vez. Sempre mais. Um pouco de menos. Esta é certeza. (?!?) Haverá involução da evolução? A cobra que morde o rabo... Mordo o meu. Cadê? À procura dele me persigo. Sigo. Volto. Volteio. Vou. Vim. Nunca venci. Mesmo as vitórias. As do orgasmo. Ah, que batalhas. Noite-noite, mais que dia-a-dia. Mas quem foi que disse que amar é tolice, é bobagem, ilusão? Talvez a Doralice. Sei que não disse. Dizeu minha pequena. E eu cresci. Voltando a ser nina. Mais uma certeza. Incoerente, Cinderela persegue um sonho. De assumir não assumindo. A média, medida da mediocridade. Ou tudo. Ou nada. Nos limites a incerteza, (?!?) Mesmice. Eu, mulher. Trapezista. Que circo!

Elisabet Gonçalves Moreira

O PISCAR DA PIRANHA

O olho redondo sedento.No meio da multidão o banheiro é uma salvaçãoSujo, que alivia nos momentos de precisão.Banheiro branco amarelado com seu cheiro de água sanitáriae sorriso de cacos, azulejos caídos, com caralhos desenhadosentre nomes e telefones desconhecidos.O jeans se abre, mil maravilhas. Procuro no espelho quebrado reflexões em várias direções.Um corpo de veias grossas, pelos farpados, explícitos...amado...Medo, desejo a putaria, afinal.Balança a cabeça para mim, as duasUma redonda, a outra vermelha em forma de coração.Sim, claro, sim, agoraDois corpos, cheiro, suor, medo.A barba cerrada corta as faces, não somos mais quem somos. Não são mais corpos, é alma.Sangue, gemido e orifícios. O que sai e o que entra, ele a parte de dentro; eu a parte de foraSinto dentro um outro corpo, entrego ao amor vagabundo, sujo, não é o nome que faz o homem.Bate, bate, me bate. Corpo, coração, emoção. O prazer é divino, dividido com os caralhos anjos meninos desenhados nas paredes.Caralho! Esqueci!Vestir... Ele sai; eu fico, alimentado, regado, feliz.Medo, culpa, enfim... AfimEstou sem homem, sem nome, a piscar, piscar, bichar.

José Lírio

EU REZO

E de noite e de diamanhã tarde meio dianao tem hora nem lugar nem precisa mais falarque já sei o que tu querese tu o que eu tambémentão, só posso dizer amém,de joelhos não sei se aguento, mas tentoe numsssssssss aaaaaaaaaaaaahchego no céu

João Carlos

SABOR DA TERRADISSABOR?

Eu mesmaDegustandoSem gostoEsse gosto (sempre)de serque sabea sal.Esse malque me mataentre sabores- amargos- travos (que bem sei...)Onde estão os doces licores?

Elisabet Gonçalves Moreira

A DAMA

Encontrei um gozo que fode com a vida.A própria vida me deu de presente.Sem tal coisa – ser – não se tem vida. Libertinagem.Não há pecado em dizer trepar.Todo mundo trepa ou, como se diz, faz amorCom a concordância de seus desejos íntimos.Isso é normal ou anormal para a religião dos trepadores anônimos.Que loucura! Trancar os olhos,Trancar os olhos para fingir que não existe o que escrevo.Submeter-se preso aos padrões formaisDe uma sociedade que a condena.Continuar com as mentes pervertidas em silêncios barulhentos.Pode ser uma escolha, suas escolhas.Mas não a minha.Quero é foder na vida com a vida. Aqui, ali. Sou recompensada.Ah vão-te pras virgens que os pariu.Nasci foi da sacanagem.Gosto mesmo é da puta.É disso que vos falo. Priscilla Rodrigues Shullemã

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Ano VI Edição nº 03 | 15 de agosto de 2013

UM ALGUÉM HUMANO

Concentrei todo o meu pensamento, todo o meu objeto de desejo, na empreitada louca de desvanecer por uma noite minhas fantasias com um alguém. Conheci na praia. Lembro-me perfeitamente da areia brincando com nossos pés à beira do mar enquanto andávamos, como se quisesse mostrar que era um pedaço de pano para escorregar ao além. Mas aquilo era só uma viagem de família em que conheci alguém. E foi alguém que me pegou pela cabeça, estuprou meus neurônios e meus orifícios sem me tocar por seis meses, porque o objeto de desejo estava ausente. E passei seis meses assim, nessa ladainha, pensando, fantasiando. Como será o beijo daquela boca, daquela língua, mas antes de tudo daquele ser? Ultimamente tenho percebido o quão o todo é excitante... Podemos fazer um simples sexo por uma noite com alguém e acordar de manhã, tomar um café e dar adeus à criatura para, quem sabe, outro dia a encontrar. Contudo, quando estamos com alguém por inteiro, nos damos por inteiro e o prazer alcança as constelações, descontrola nossa unidade de sentido para revirar um pouco os olhos e exalar um cheiro delicioso, misturado com o pensamento vago e o sentimento gostoso de ser um animal feroz, um animal que morde, e de esquecer uma obrigação de merda, um capitalismo de merda, uma prova de biologia de merda, em prol do transcendente que nos mata aos poucos e, portanto, como é bom nos suicidar... São tão poucos segundos de total descontrole, de total violência, da luta contra o pudor, da luta contra o eu religioso, contra o eu deus de cada um, contra as normas instituídas, contra o que é proibido, e em contrapartida, há a curiosida-de, há o desejo de ver até onde esse corpo e essa alma podem alcançar em poucos segundos de orgasmo. Os diabinhos sempre nos fazem parar e dizer que isso não é bom, agradeço aos diabos que me infestam, ah se não fossem eles para proibir, porque com a proibição o desejo de transgredir aumenta. E transgrido a mim. Transgrido ao outro. Grito. Depois de todo um ritual de concentração de forças do pensamento, o universo me retribui com duas noites, se as minhas lembranças não são meras ilusões. Duas noites de pele, duas noites de brilhar, duas noites de espera, duas noites de escuro no escuro das quatro paredes. O tempo passou e a minha expectativa foi junto. Estabilizei ou desestabilizei minhas energias no cotidiano e, como costumo, gastei meus orgasmos nos pequenos prazeres. Levantar com o sol e receber uma uivada de vento frio da manhã na cara, poder escrever uma carta para uma ou duas pessoas amigas (só uma ou duas), escutar uma música, comunicar-se, pensar em nada, ler algo vez por outra, fazer um alongamento, masturbar-se, sentir o corpo e a alma numa unidade só e por aí vai. Mas sempre alguém vez ou outra aparece para me desestabilizar (ou será estabilizar?) ou eu corro atrás de alguém e alguém às vezes acaba lascado, alguém de dois, de três, alguém foi embora, alguém escreve, alguém transa, alguém conecta-se e alguém sente. Alguém é só alguém, ou pode ser a besteira que tanto pensamos e não queremos confessar. Ou vai me dizer que não gosta de imaginar tudo, tudo mesmo? Gosta sim, pena que existem centenas de barreiras para penetrar o espaço profundo da mente onde uma linguagem se opera, uma linguagem intangível, que não se exprime em simples símbolos, mas que existe e está dentro de cada um. Quem sabe não é o pensamento um poucozinho de nada do que realmente nos rege? E ele já é por si só um instrumento poderosíssimo. E que instrumento. E que orgasmo misturar palavras e lê-las. Acho que acabei de gozar. Preciso de um banho, ora essa. Vem tomar banho comigo? Calma, calma, não vamos fazer nada demais. Um banho é só um banho e uma noite de sexo é só uma noite de sexo ou algo mais... E assim o ciclo continua até a morte parcial deliciosa no chuveiro. Realmente, gozei.

Diego Rodrigues

OFÍCIO

O ator enamorado do texto corteja as palavras, descobre gestos, gostos, odores, sonoridades. Na tentativa de lhes dar carne, para que o verbo se faça, persegue o não-dito, encontra, abandona, semeia, extrai. O ator e o texto: jogo de poder, negociata, sedução. Cópula contínua. Pacto, traição.

Galiana Brasil

PÍER

Não havia quedado em meu ser que minha incauta tentativa de Sobrevivência nesse mundo de cachorro loucoEm algum momento arranharia tuas asas de lagarto ou te faria doer em Qualquer parte desse céu em que mergulhei um dia.Desde que te conheci voando, sempre te vi livre e, mesmo que não fosse assim,Você me cantou que não haveria de se prender a árvore alguma, que sim é um pássaro,Disposto mesmo a transver o mundo e que os laços que você amarrariaSeriam breves e só quando a lua se encontrasse com o rio. Entendi errado?Tenho as asas de agora ganhas na força da luz, das tempestades,Dos gritos de medo e dor, mas pintadas de um colorido transbordante de Não desistência e quando minhas asas e as tuas se encontram aconteceQue um resplendor de pureza e vastidão me amarra a vocêE não quero perder essa magia, quero é me perder nela. Todas as noites me levo a sentir sem pudor o cheiro do rio.É como um vício poder olhar para as águas a cada segundo Sair de si e entrar em outras águas. E quando sinto tua presença por perto, Pareço essa árvore soltando todas as suas peles. Nua.

Candice Machado

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hoje chamei deus para fazer amor à tarde solitária, ele veiodifícil gozar com ele, quase não ouço, geme baixinho, parece doraquela dor dos angustiados que amam platonica-mentemeus mamilos duros, suas mãos vacilantes vagarosa-menteviajo em plumas, voando em metas, deus amante fixomeu tesão pelo seu jeito tímido de me lamber o corpocomo quem se dá, mais do que recebe

antes da porta de entrada dos indivíduosainda há um labirintode quem estou perto, mais vejomas se não despovoar o pensamento, turvoainda não foi nessa era outro sexoque não necessite pedir desculpas ao corpo no dia seguinte não viro gente depois de virar bichocontinuo bicho no dia seguinteluta, medievais ainda e feras inconscientes de manhãnos birôs, nas oficinasa ginástica mais antigaa consagração dos falos aindaa derrota das deusas, desmodernasnaquele dia não haviapapel higiêniconenhum guardanapoo pano de prato aparou o molho que por educação não caíano chão do quartojoguei na piahoje serve à cozinhanem sei qual deles embrulhou os genessei de valores mais essenciaisque um pouco de higienedesconsideradoo despreparo para receber um rei com quem se deitaora, se os reis se deleitam aos cuidados das criadas escolhidasironias, há reis e reise há rainhase vadias.

Marta

SE ME PERGUNTAREM

Se me perguntarem o que eu quero fazer da vida, eu digo quero cantar. Se me perguntarem o que eu posso fazer por você, eu quero cantarpara fazer acontecer. E canto na mais pureza dos teus encantos.

Maria Cecília Gomes

A ESPIRAL, DOS OLHOS

Chegava às cinco horas e já não se contentava mais com aquele silêncio enorme que invadia a cidade, parecia que o dia não passava, não havia balanço de folhas, não havia nada, só apenas os seus passos até a praça, de um lado para outro, bulia com tudo, queria barulho, sons de riso, de gemidos, de suspiros, de palavras e foi se aproximando ao batente da porta azul, deixando-se seduzir pelo som de uma gaita, que ecoava nos quatro cantos da rua, colorindo olhos, rostos e coração... Ao entrar na casa, logo avistou uma escada, era enorme, toda iluminada, cordões de luzes fortes, que giravam, até que não se aguentou e subiu, subiu, até o 5ª andar, e, ali, no alto do prédio, parou por alguns instantes, olhando lá pro fundo, sentindo uma vontade imensa de pular, achava tão bonita aquela visão lá de cima, uma espiral imensa que lhe invadia os olhos e lhe fazia lembrar de sorrisos, dos passos da mãe quando subia pra lhe encontrar, dos gritos de guria, dos discos tocando aos domingos, das tantas memórias, que apertavam o coração, de saudade, da ainda menina, que enchia os olhos de lágrimas, as lágrimas que caíam, aos poucos, molhando devagar todo o chão do salão, mas era ali onde a moça queria estar, cheia de vontade, vontade de viver, no meio daquelas paredes repletas de fotografias, manchas de café na mesa e o som da gaita que dançava na boca do menino de cabelos grandes que a convidava pra dançar...

Lizandra Martins

Foto Lizandra Martins

Encontro-me no teu mar, águas que me encantam e que me levam a querer-te. Ah vontade... Vontade que não passa de estar em terras onde esse mar agita, onde águas parecem tornar-se fogo em um suspiro sem fim. Quero percorrer todo terreno, desde o mais encurvado ao mais escondido, achar o misterioso nessa terra que se abrasa a cada passo meu. E novamente essa vontade que não consegue se conter dentro de mim, não quero somente estar no mar, passear em terras, quero estar por dentro, bem dentro, até esse mar minar.

Herbet Júnior

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Programação Virarte IX FESTIVAL DE ARTES DO VALE DO SÃO FRANCISCO

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GALERIAANA DAS CARRANCAS

PALCO

17/08 Sábado

MERCADO CULTURAL | Sesc Petrolina 16h Livre Gratuito

Palco Giratório: SIMBÁ, O MARUJO / Trupe de Truões (Uberlândia / MG) | Teatro Sesc Petrolina 16h Livre R$10,00/R$5,00

AS LEVIANINHAS EM POCKET SHOW PARA CRIANÇAS / Cia Animée (Recife/PE) | Salão do Sesc 17h Livre Gratuito

MOSTRA DE QUADRILHAS | Ginásio Sesc 18h 14 anos Gratuito

MEU LIVRO PROIBIDO / Núcleo de Teatro do Sesc & Pé Nu Palco (Petrolina/PE) | Sala de Dança 20h Livre Gratuito

Intervenções | Espaços Sesc Petrolina 20h Livre Gratuito:

CONTATO CORPO / Herbet Junior (Juazeiro/BA)

SIGNOS / Adriana Santos (Petrolina/PE)

AMARRAS / Rafaedna Brito (Petrolina/PE)

O CORPO / Wechila Andrade (Juazeiro/BA)

AUSÊNCIA / Wagner Damasceno e Ádila Madança

EM BUSCA DO CORPO PERFEITO / Thierri Oliveira (Petrolina/PE)

TROCO FOTOS POR SORRISOS / Robério Brasileiro (Juazeiro/BA)

Mostra Sonora Brasil: SAMBA RAÍZES DE TÓCOS / Samba Rural (BA) | Terraço Galeria 21h 16 anos Gratuito

LEVIANAS EM CABARÉ VAUDEVILLE / Cia Animée (Recife/PE) | Salão do Sesc 22h Livre Gratuito

VIÚVA, PORÉM HONESTA / Grupo Magiluth (Recife/PE) | Teatro Sesc Petrolina 23h 16 anos Gratuito

ISAAR (Recife/PE) | Palco Sesc Petrolina 0h30 16 anos Gratuito

INTERVENÇÃO DANÇA SUJA | Espaço da Cantina 1h30 16 anos Gratuito

DESPERTAR / Coletivo Não Identificado (Juazeiro/BA) | Palco Sesc Petrolina 3h Livre Gratuito