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A POLA POL ÍÍTICA COMO TICA COMO VOCAVOCAÇÇÃOÃOMAX WEBER (1864-1920)
(Originalmente, uma conferência para estudantes da Universidade de Munich, Alemanha, em 1919)
QUESTÕES FUNDAMENTAIS DO TEXTO:
- O QUE É POLÍTICA?
- O QUE É O ESTADO MODERNO?
- COMO SURGEM OS POLÍTICOS PROFISSIONAIS? QUE IMPACTO O AUMENTO NA IMPORTÂNCIA DOS POLÍTICOS PROFISSIONAIS EXERCEU SOBRE OS PARTIDOS POLÍTICOS?
- QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS QUALIDADES DO “POLÍTICO POR VOCACÃO”?
- QUE RELAÇÃO EXISTE ENTRE ÉTICA E POLÍTICA?
O QUE É POLÍTICA?
QUE SENTIMENTO MOVE AS PESSOAS QUE SE ENTREGAM À POLÍTICA?
O DESEJO DE PODER.
PODER = CAPACIDADE DE DIRIGIR; CAPACIDADE DE DECIDIR; “A POSSIBILIDADE DE INFLUIR SOBRE OS OUTROS SERES HUMANOS”; A “CONSCIÊNCIA DE FIGURAR ENTRE AQUELES QUE DETÊM NAS MÃOS UM ELEMENTO IMPORTANTE DA HISTÓRIA QUE SE CONSTRÓI”.
As pessoas que se entregam à política e desejam o poder podem ter (e têm) objetivos, propósitos diferentes no que se refere ao que buscarão uma vez alcançado o poder.
“Qualquer homem que se entrega à política aspira ao poder –seja porque o considere como instrumento a serviço da
consecução de outros fins, ideais ou egoístas, seja porque deseje o poder “pelo poder”, para gozar do sentimento de
prestígio que só o poder confere” (61).
ENTÃO, PARA WEBER, POLÍTICA É:
O esforço de influência exercido sobre a direção do Estado [ou de um conjunto de estados, no caso da política internacional].
“Conjunto de esforços feitos visando a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre estados, seja no interior de um único estado” (60).
O QUE É O ESTADO MODERNO?
O ESTADO SE DEFINE PELO MEIO, PELO INSTRUMENTO QUE LHE É PRÓPRIO:
o uso da violência, da coação física.
A violência, a coação física, não é o únicoinstrumento do Estado; mas é o seu instrumento, específico, peculiar.
O Estado moderno é “uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território (...), reivindica o monopólio do uso legítimo da
violência física” (60).
“(...) o Estado consiste em uma relação de dominação do homem pelo homem, com base no instrumento da violência legítima – ou seja, da
violência considerada como legítima” (61).
“O Estado moderno é um agrupamento de dominação que apresenta caráter institucional e que procurou – com êxito – monopolizar, nos
limites de um território, a violência física legítima como instrumento de domínio e que, tendo esse objetivo, reuniu nas mãos dos dirigentes os
meios materiais de gestão” (66).
Mas o Estado só pode existir se os “dominados” se submeterem à autoridade reivindicada pelos “dominadores”.
Quais são, então, as razões, as justificações
internas, os fundamentos em que se apóia a dominação exercida pelo estado?
Weber aponta três fundamentos da legitimidade da dominação do estado:
1) a tradição: “a autoridade do “passado eterno”; a autoridade dos costumes santificados pela validez imemorial e pelo hábito, enraizado nos homens, de respeitá-los”.
Exemplo: o poder “tradicional” do patriarca ou do senhor de terras.
2) o carisma: “a autoridade que se baseia em dons pessoais e extraordinários de um indivíduo”: o chefe
(61).
O seguidor do líder carismático trabalha “com a devoção de um crente em favor do êxito da causa de uma personalidade e não somente em favor das abstratas mediocridades contidas num programa”(92).
Exemplo: o poder “carismático” exercido pelo profeta, pelo dirigente guerreiro eleito, pelo soberano escolhido por meio de plebiscito, pelo grande demagogo, pelo dirigente de um partido político.
3) a legalidade: “a autoridade que se impõe pela crença na validez de um estatuto legal e de uma “competência” positiva, estruturada em regras racionalmente estabelecidas” (61).
Exemplo: o “servidor do estado” atual.
De que maneira, por que meios o estado impõe sua dominação?
1) pela obediência do aparato administrativo, do “estado-maior administrativo”
A obediência do “estado-maior administrativo” ao detentor do poder não se baseia apenas nos motivos citados acima, que fundamentam a legitimidade da dominação do estado, do ponto de vista dos súditos comuns. Baseia-se em motivos relacionados a interesses pessoais: retribuição material e prestígio social (63).
2) pelos “meios materiais de gestão” (recursos financeiros; recursos militares; qualquer espécie de recurso utilizável para fins políticos).
Há casos em que o próprio “estado-maior administrativo” éproprietário – totalmente ou parcialmente – dos meios materiais de gestão (nesse caso, as pessoas da administração são economicamente independentes do detentor do poder).
Esse tipo de estado é organizado “segundo o princípio das ordens”.
É o caso do estado no período feudal.
Há casos em que o “estado-maior administrativo” não é proprietário dos meios materiais de gestão (nesse caso, as pessoas da administração são economicamente dependentes do detentor do poder).
É o caso do “Estado moderno”.
COMO SURGEM OS POLÍTICOS PROFISSIONAIS?
QUE IMPACTO O AUMENTO NA IMPORTÂNCIA DOS POLÍTICOS PROFISSIONAIS EXERCEU SOBRE OS PARTIDOS POLÍTICOS?
(66-107)
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS QUALIDADES DO “POLÍTICO POR
VOCACÃO”?
Que qualidades permitem ao político que esteja à altura do poder que exerce e da responsabilidade que esse poder lhe impõe?
1) Paixão: devoção apaixonada a uma causa, a um propósito, a um ideal.
A causa, o propósito, o ideal em questão depende das convicções pessoais de cada um.
2) Sentimento de responsabilidade (responsabilidade por tomar decisões e pelas conseqüências dessas decisões)
A atividade do “chefe político” está subordinada a um princípio de responsabilidade “estranho e oposto” ao que norteia o “funcionário” (81-82).
A honra do “funcionário” reside em executar as ordens que estão sob responsabilidade de uma autoridade superior (mesmo que a autoridade superior se obstine a seguir trilhas erradas, desprezando advertências. O funcionário pode alertar a autoridade superior, mas não tem o dever de decidir).
A honra do “chefe político” consiste na responsabilidade pessoal exclusiva, indelegável, pelo que faz.
3) Senso de proporção:
qualidade psicológica fundamental do político;
capacidade de distanciar-se dos homens e das coisas;
deixar que os fatos ajam sobre si no recolhimento e na calma interior do espírito;
“força de personalidade”;
capacidade de subjugar energicamente a própria alma.
4) Dominação da vaidade: “necessidade de se colocar pessoalmente em primeiro plano, da forma a mais evidente possível”.
“Existem apenas duas espécies de pecado mortal em política: não defender causa alguma e não ter sentimento de responsabilidade – duas coisas que, repetidamente,
conquanto não necessariamente, são idênticas. A vaidade, ou dizendo de outra maneira, a necessidade de se colocar pessoalmente, da forma a mais evidente possível, em
primeiro plano, induz freqüentemente o político à tentação de cometer um ou outro desses pecados ou os dois ao
mesmo tempo” (109).
QUE RELAÇÃO EXISTE ENTRE ÉTICA E POLÍTICA?
CONFRONTO ENTRE A ÉTICA DA CONVICÇÃOE A ÉTICA DA RESPONSABILIDADE
ÉTICA DA CONVICÇÃO
É A ÉTICA ABSOLUTA.
A ÉTICA DO SERMÃO DE JESUS CRISTO NA MONTANHA (MATEUS, 5-7) É UM BOM EXEMPLO DE ÉTICA ABSOLUTA (POR EXEMPLO: NÃO-VIOLÊNCIA INCONDICIONAL: “SE ALGUÉM LHE BATER NUMA FACE, OFEREÇA A OUTRA”) .
É A ÉTICA DO “TUDO OU NADA”.
INCONDICIONAL. PREOCUPA-SE COM OBEDECER ÀS DIRETRIZES ESTABELECIDAS E NÃO SE PREOCUPA, EM NENHUMA HIPÓTESE, COM AS CONSEQÜÊNCIAS DECORRENTES DESSA ATITUDE (POR EXEMPLO, A COAÇÃO TOTAL PARA QUE SE CUMPRA O MANDAMENTO “DÊ TUDO O QUE POSSUI”).
QUEM AGE DE ACORDO COM A ÉTICA DA CONVICÇÃO NÃO SE PREOCUPA COM OS RESULTADOS DO COMPORTAMENTO ASSUMIDO.
ÉTICA DA RESPONSABILIDADEÉ A ÉTICA DO POLÍTICO POR VOCAÇÃO.
TEM A VIOLÊNCIA COMO INSTRUMENTO ESPECÍFICO.
QUEM AGE DE ACORDO COM ESSA ÉTICA PREOCUPA-SE COM OS RESULTADOS PREVISÍVEIS DO COMPORTAMENTO ASSUMIDO; SENTE-SE RESPONSÁVEL PELAS CONSEQÜÊNCIAS PREVISÍVEIS DO COMPORTAMENTO ASSUMIDO.
MAS ESTA ÉTICA NÃO TEM RESPOSTA PARA QUESTÕES DO TIPO: QUE FIM É BOM? QUE FIM É SUFICIENTEMENTE BOM PARA JUSTIFICAR UM MEIO PERIGOSO OU DESONESTO?
“A idade não importa, mas sim a soberana competência do olhar, que sabe ver as realidades da vida, e a força da alma que écapaz de suportá-las e de elevar-se à altura delas (122)”.