a obra de ruy ohtake - uma contribuição para a compreensão do processo do desenho da arquitetura...
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Edmir Mantellatto
A Obra de Ruy Ohtake:Uma contribuio para a co mpreenso do processo do desenho da arquitetura
contempornea.
UNIVERSIDADE DE SO PAULOFaculdade de Arqui tetura e Urbanismo
So Paulo, 2012
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Ilustrao da capa:
Croqui demonstrativo do Museu do Surf, elaborado por Ruy Ohtake
Durante entrevista em seu escritrio, no dia 05 de maio de 2008.
Fonte: Arquivo pessoal.
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EDMIR MANTELLATTO
A obra de Ruy Ohtake:
Uma contribuio para a compreenso do processo do desenho da
arquitetura contempornea.
So Paulo2012
Dissertao de Mestrado apresentada Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo
como parte dos requisitos necessrios obteno do grau
de Mestre.
rea de concentrao: Projeto de Arquitetura
Orientador: Prof. Dr. Helena Aparecida Ayoub Silva
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OUELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
E-MAIL DO AUTOR: [email protected]
Mantellatto, Edmir
M292o A obra de Ruy Ohtake: uma contribuio para a compreensodo desenho da arquitetura contempornea / Edmir Mantellatto. SoPaulo, 2012.
260 p. : il.
Dissertao (Mestrado - rea de Concentrao: Projeto deArquitetura) FAUUSP.
Orientadora: Helena Aparecida Ayoub Silva
1.Arquitetura moderna Brasil 2.Projeto de arquitetura3.Ohtake, Ruy, 1938- I.Ttulo
CDU 72.036(81)
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Prof. Dr. ______________________________________________________Instituio:__________________________________________________
Julgamento:_________________________________________________ Assinatura: __________________________________________________
Prof. Dr. ______________________________________________________Instituio:__________________________________________________
Julgamento:_________________________________________________ Assinatura: __________________________________________________
Prof. Dr. ______________________________________________________Instituio:__________________________________________________
Julgamento:_________________________________________________ Assinatura: __________________________________________________
EDMIR MANTELLATTO
A obra de Ruy Ohtake:
Uma contribuio para a compreenso do processo do desenho da arquitetura contempornea .
Dissertao de Mestrado apresentada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de So Paulo como parte dos requisitos necessrios obteno
do grau de Mestre.
Aprovado em:
Banca Examinadora
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Para
Anglica,
Aline, Alice, Paulo e Laura
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AGRADECIMENTOS
Aos professores da FAUUSP
Lcio Gomes Machado, pelo incentivo e apoio;
Paulo Jlio Valentino Bruna, pelas valorosas conversas na
FAUUSP, sobre os caminhos a serem trilhados na presente
dissertao.
Celso Lamparelli, Maria Ruth do Amaral Sampaio e Jos
Tavares de Lira, pelas preciosas indicaes metodolgicas;
Monica Junqueira de Camargo e Hugo Segawa, pelo
compartilhamento das experincias e prticas
pedaggicas;
Jlio Roberto Katinsky, pelas observaes e orientaes
durante o exame de qualificao;
Helena Aparecida Ayoub Silva, pela dedicao e incentivo
durante a orientao deste trabalho.
Anglica, minha esposa, pelo apoio incondicional;
Aos meus filhos, pelo incentivo de retorno academia.
Ao arquiteto Ruy Ohtake, pela gentileza, apoio e sobretudo
pelas valiosas conversas em seu escritrio;
Aos colegas da Prefeitura Municipal de Santos que sempre
acolheram minhas solicitaes, disponibilizando todo o
material necessrio;
Enfim, a todos os que colaboraram direta ou indiretamente
para a realizao da presente dissertao de mestrado.
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Acho que preciso valorizar o desenho. assim que a arquitetura se expressa.
Fazer ressurgir a esperana.
Bela e expressiva.
Ruy Ohtake
WOLF, Jos. Uma pedra no caminho. Depoimentos sobre a Escola Paulista.
Revista AU 17, abril/ maio, 1988. p. 58.
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RESUMO
Este trabalho busca entender o processo de
elaborao dos projetos do arquiteto Ruy Ohtake, que
ainda no foi alvo de um estudo criterioso. A principal
referncia para um estudo de caso o projeto e a obra do
Museu do Surf (2006-2008) construdo na cidade de
Santos, SP. Analisa por meio deste projeto a metodologia
projetual do arquiteto, apresentando por meio do ambiente
cultural, as referncias, as caractersticas principais e a
transformao de seu repertrio formal. Identifica como
Ohtake projeta suas obras, as determinantes de suas
opes projetuais e, conclui que um desenho
contemporneo traz em si a imanncia de um processo.
Palavras-chave:Ruy Ohtake / Arquitetura contempornea brasileira /
Processo de projeto.
ABSTRACT
This work seeks to understand the process ofelaboration of projects by architect Ruy Ohtake, wich has
not been the subject of careful study. The main reference
for a case study is the work of the project and Surf Museum
(2006 2008) built in the city of Santos, SP. Through this
project examines the methodology projectual of the
architect, showing the environment through cultural
references, the main characteristics and the transformation
of this formal repertoire. Identifies how designs Ohtake his
works, the determinants of their choice about design, and
concludes that a contemporary design bears the
immanence of a process.
Keywords:
Ruy Ohtake / Brazilian contemporary architecture / Design
process.
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SUMRIO
CAP TULO 1
Introduo 15
CAP TULO 2
2.1 - A exposio RUY OHTAKE: PRESENTE! 27
CAP TULO 3
3.1 - O Ambiente cultural 533.2 - Caractersticas formais 87
3.3 - Principais publicaes 121
CAP TULO 4
4.1 - Histrico 1354.2 - Propostas de requalificao da rea 1434.3 - A proposta de Oscar Niemeyer 157
4.4 - A proposta de Ruy Ohtake 169
CAP TULO 5
5.1 - O Museu do Surf 1935.2 - Concluses 243
5.3 Referncias bibliogrficas 253
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INTRODUO
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INTRODUO
INTRODUO
Ruy Ohtake um dos arquitetos mais importantes
no cenrio da arquitetura brasileira.
Formado em 1960, pela Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de So Paulo, inicia sua
produo em um dos perodos culturalmente mais
expressivos, refletido no amadurecimento pela busca de
uma identidade nacional.
Suas maiores referncias neste perodo foram os
eventos emblemticos realizados pelos mestres Lcio
Costa e Oscar Niemeyer, bem como os novos rumos da
arquitetura brasileira, impulsionados principalmente por
Vilanova Artigas, protagonizador da expresso intelectual e
material da denominada escola paulista, responsvel por
sua formao.
Como sntese dessas referncias, atribu-se aOhtake a dicotomia entre a liberdade criativa de Oscar
Niemeyer e a aprendizagem do pensar, do discutir com
veemncia, e de projetar de Vilanova Artigas.
A linguagem formal e material de seus projetos
iniciais era comum entre os arquitetos seguidores desta
linha. A plasticidade e rusticidade do concreto armado, as
exploraes das texturas dos elementos de vedao sem o
uso de revestimentos, e as instalaes aparentes,
explicitavam a carga de trabalho humano dissipado na
materializao dos edifcios.
No entanto, esta linguagem caracterstica alterou-sepaulatinamente, quer sejam pelas circunstncias adversas,
ou pelas novas encomendas oriundas do setor pblico ou
privado.
A cada projeto sempre buscou o novo, transportou a
curva como detalhe interior para o exterior, contrapondo a
rigidez da ortogonalidade, esculpiu o volume puro
transformando-o em casca protetora do bloco contentor do
programa, buscou a cada novo projeto a apropriao da
natureza.
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18INTRODUO
Concebe sua arquitetura com novos materiais, e
novas tecnologias explorando as texturas e as cores no
ento presente revestimento.
Sugere em cada novo projeto contemporneo,
novas experimentaes, enfim mantendo-se na vanguarda,
que sempre regeu os princpios de modernidade.
O presente estudo pretende analisar o processo de
projeto do arquiteto Ruy Ohtake que muito tem a contribuir
neste sentido, pela sua extenso, pelo reconhecimento
nacional e internacional e, pela produo ininterrupta deuma arquitetura que tem como caracterstica a polarizao
entre o silncio introspectivo dos projetos iniciais dos anos
de 1960, e a inquietao das obras impactantes
contemporneas, fazendo com que a crtica no se mostre
indiferente perante sua obra.
Embora densa e expressiva, a obra de Ruy Ohtake
no foi alvo de estudos mais aprofundados pairando sobre
ela opinies diversas, quer sejam de enaltecimento ou de
estranhamento.
O arquiteto e professor do Instituto de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de So Paulo, em So Carlos,
Renato Anelli1, ao mesmo tempo em que destaca a
importncia de Ruy Ohtake no cenrio da arquitetura
contempornea brasileira, aponta que os trabalhos mais
recentes apresentam uma figuratividade estranha, no
correspondendo aos seus projetos iniciais. Entretanto
afirma que sua obra merecedora de estudos mais
detidos e que Ruy Ohtake um dos principais arquitetos
brasileiros na ativa.
Luiz Recamn2, tambm arquiteto e professor da
FAUUSP, na mesma oportunidade considera que a
trajetria de Ohtake tem desviado da tradio moderna
que caracterizaria o ncleo essencial da escola paulista a
que pertence.
1GIOIA, Mrio.ARQUITETURA DEVE PROCURAR SURPRESA.Folha de So Paulo, So Paulo, 13 de abril de 2008, Ilustrada E5.2Id. Ibid.
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INTRODUO
J o arquiteto Paulo Mendes da Rocha3, abstm-se
Estou fora, arquiteto no fala da obra de colega.
Enquanto Oscar Niemeyer afirma: Ele faz aquilo de
que gosta e no o que os outros gostariam que fizesse. E
isso, para mim, o fundamental, para Carlos Faggin,
professor de Histria da Arquitetura da FAUUSP:
Ele quer aparecer e consegue. Todos os arquitetos
querem isso, ainda que tenham suas obras chamadas de
melancia4.
Outra importante opinio do tambm arquiteto e
professor da FAUUSP, Rodrigo Queiroz. Para ele, [...]
mesmo sendo tributrio da escola paulista, ele coloca
3MACEDO,Luciana. INOVAES ARQUITETONICAS GERAMPOLEMICA. Folha de So Paulo, So Paulo, 23 de fevereiro de 2003,Urbanismo, C5.4ZAPPAROLI, Alecsandra. CORES, CURVAS E CONCRETO. VejaSo Paulo, So Paulo, 27 de julho de 2005. PERFIL.
sempre um elemento, uma curva, tenta sempre se
desvincular do cannico 5.
Farias (2008), afirma que a FAUUSP no exerce
controle sobre a produo dos alunos, porm de certa
maneira, deixa vestgios nos que a frequentaram.
A partir dessas afirmaes, pergunta-se:
De que maneira e como essas marcas evidenciam-
se na obra de Ruy Ohtake?
possvel que essas marcas desapaream, tendoem vista a busca constante por novas experimentaes?
Para Farias (1994), a obra de Ruy tem uma
influncia muito forte de Oscar Niemeyer, ao introduzir a
curva em sua produo, sobretudo a partir da dcada de
1970, a ponto de comparar seu procedimento de projeto a
um movimento pendular, ora referenciando-se arquitetura
paulista de Vilanova Artigas, ora aos pioneiros da
5MOLINA, Camila. RUY OHTAKE REVISITA SUA OBRA NA FAU. Oestado de So Paulo, So Paulo, 15 de setembro de 2008, VisuaisArquitetura, Caderno 2, D5.
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20INTRODUO
arquitetura moderna brasileira, desenvolvida a partir de
meados dos anos de 1930, no Rio de Janeiro.
H ainda afirmaes consensuais de que a obra de
Ruy Ohtake apresenta caractersticas de uma herana
cultural japonesa, quer seja pela fluidez dos espaos, quer
seja pelas curvas e finalmente justificam-na por meio da
convivncia em um contexto familiar onde a arte sempre foi
essncia.
Considerando tais afirmaes, o presente
estudo tem como objetivo a busca por um entendimentosobre sua obra e seu processo de projeto, at ento pouco
analisado. Propor uma leitura de sua produo,
investigando como ele projeta suas obras, quais so os
processos de gerao das formas que estruturam seu
partido arquitetnico, analisando e identificando as
influncias e referncias condicionadoras de seu repertrio
formal, ou seja, tentar revelar suas razes conceituais eevitar as aproximaes epidrmicas.
O motivo da escolha do personagem deve-se ao
fato de que o autor, desde o inicio de sua graduao na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos, FAUS,
de 1979 a 1983, nutria admirao pela obra de seusprofessores, Jon Maitrejean, Joo Walter Toscano, Michail
Lieders, Yopanan Rebello, Maurcio Nogueira Lima, entre
eles Ruy Ohtake. Nesse perodo seus principais projetos j
haviam sido publicados nos Cadernos Brasileiros de
Arquitetura e nos peridicos especializados.
Para tanto, o projeto de pesquisa iniciado em 2007,
tinha como objetivo a anlise, no de seus projetos iniciais,
mas, sim, de um projeto contemporneo como ponto de
partida para o entendimento de sua obra, o Museu do Surf,
projetado em meados de 2006 e com obras concludas em
2008, na cidade de Santos, SP.
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INTRODUO
A anlise de um projeto contemporneo no tem
sido uma prtica comum, sobretudo se o personagem
criador estiver em plena produo, como o arquiteto Ruy
Ohtake.
A inteno em estabelecer este recorte temporal
entender as relaes entre o projeto do Museu do Surf com
os projetos iniciais da produo de Ohtake, a fim de
verificar o distanciamento ou a ruptura preconizada pelas
opinies anteriormente apresentadas, de sua escola de
formao.
A escolha do Museu do Surf justifica-se tambm
pela possibilidade de se estabelecer uma leitura de sua
obra, ou seja, a transformao da imagem do projeto em
artefato, mediante as circunstncias para sua
materializao.
O Museu do Surf, ao contrrio de outros que foram
largamente construdos a partir de 1980 pelo mundo, no
um edifcio vigoroso, pelo contrrio, trata-se de uma obra
singela, devido s circunstncias de sua implantao, e
pouco divulgada. Mesmo assim, acredita-se que pela
simplicidade da obra, bem como pelo seu
acompanhamento por parte do autor, pode-se preencher
uma lacuna to pouco estudada e reconstruir os possveiscaminhos geradores do projeto e obra.
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22INTRODUO
O DESENVOLVIMENTO DA DISSERTAO
O desenvolvimento da dissertao se dar por trs
caminhos.
O primeiro pela pesquisa textual, visando obter um
entendimento sobre o relevo em que a produo do
arquiteto se insere, as circunstncias e o ambiente cultural
definido pelo recorte temporal definido pela sua formao,
que coincide com a inaugurao de Braslia, at o ano de
2008, ano de concluso das obras do Museu do Surf.
Posteriormente, por meio da reviso bibliogrficacontemplada pelos textos do prprio Ohtake, extrados de
publicaes e eventos em que tenha participado. Estes
textos expressos pela ptica do arquiteto talvez tenham
sido geradores dos primeiros textos crticos sobre sua obra.
Entre os mais importantes destacam-se o ensaio de
Agnaldo Farias em: La Arquitectura de Ruy Ohtake,
publicado em 1994. Outra grande contribuio,
presente na reviso bibliogrfica, o texto de Roberto
Segre em: Ruy Ohtake A Contemporaneidade da
Arquitetura Brasileira de 1999.
Nesse trabalho, Segre, igualmente a Farias, analisa a obra
de Ohtake desde o incio de sua produo, acrescentando
obras consideradas mais importantes no perodo,
contextualizando sua arquitetura nacional e
internacionalmente.
Obviamente as leituras dos autores apresentam-se por
meio de diferentes olhares, o que permite um entendimento
sobre o discurso e a prtica de Ruy Ohtake, enriquecendoa anlise proposta nesta dissertao de mestrado. Alm
das referncias acima citadas, outros textos foram
extrados de peridicos e publicaes nacionais
especializados em arquitetura como as revistas: AU,
Projeto Design, Arquitetura e Construo, Construo So
Paulo, etc.
Devido sua intensa atividade projetual natural o
surgimento de outros textos mais recentes, que tambm
sero alvos de uma reflexo analtica. Entre eles
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INTRODUO
destacam-se: Edifcios Hoteleiros, da srie Arquitetura
comentada, escrito por Roberto Segre em 2005, Helipolis,
um projeto de identidade cultural em conjunto com a
comunidade,de 2006, a publicao em 2008, de catlogosobre sua recente exposio na FAUUSP denominada Ruy
Ohtake: Presente!E, tambm, a obra publicada em 2008,
Ruy Ohtake 10 anos: 1998 2008, da srie Portflio Brasil.
O segundo caminho de aproximao obra de Ruy
Ohtake ser por meio do desenho, como veculo principal
da anlise. Para Robbins (1997), o meio para gerar,
testar e gravar o discurso conceitual e criativo de um
arquiteto.
O desenho, segundo PERRONE (1993), no deve ser
entendido como representao, mas sim, como um
procedimento investigativo sobre o pensamento, evoluo,
procedimento e transmisso de conhecimento. Sobre este
mtodo Zein, afirma que: [...] ao redesenhar voc aprende[...] e realmente entende o que aquela obra , ou deixa de
ser [...] a melhor maneira de estudar a arquitetura,
desenhar[...] (informao verbal)6. Os desenhos das obras
sero produzidos atravs da observao in loco, indicando
os aspectos mais caractersticos captando a atmosfera
local e temporal que envolve cada obra (PUNTONI, 2002),bem como por meios digitais.
E, finalmente, o terceiro caminho de anlise ser
pelo acompanhamento simultneo da obra. Por meio da
pesquisa in loco foi possvel verificar o percurso entre as
primeiras idias, desde os croquis, at a concluso da
obra. Para esta coleta de dados foram utilizados,
levantamentos fotogrficos, desenhos de observao
relatando as fases da obra, desde a sua locao no
terreno.
As trs vias de aproximao sistematicamente
fundidas sero responsveis pela anlise da obra e de seu
processo de criao e, sobretudo pelos argumentos
estruturadores da dissertao.
6Informao verbal. Palestra proferida por Ruth Verde Zein, naFAUUSP em 25/05/08.
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24INTRODUO
Coincidentemente, em setembro de 2008, a
FAUUSP realizou uma homenagem ao arquiteto Ruy
Ohtake, convidando-o a realizar uma exposio dentro de
sua prpria escola de formao, denominada Ruy Ohtake:
Presente! Assim sendo, a exposio desenhada pelo
protagonista, embora efmera, tornou-se aliada da
pesquisa por tratar-se de uma obra tambm
contempornea, indicou um rumo a seguir para a descrio
da trajetria de Ohtake, transformando-se no segundo
captulo da presente dissertao.
Por meio dele, sero abordados aspectos
importantes como o aprendizado da arquitetura, a
academia, as referncias conceituais e projetuais e a
herana cultural.
No segundo captulo, a anlise ser iniciada,
primeiramente, pela implantao, em seguida, pela
desmontagem do conjunto e na individualizao doselementos que compe os suportes expositivos,
observando cada parte de um todo, compreendendo sua
natureza, funo, sentido e suas relaes com as
representaes expostas.
Parte-se da premissa que a anlise, por meio dos
desenhos executivos da montagem e pelo redesenho dos
expositores, seja possvel identificar as referncias
projetuais e formais bem como os conceitos estruturadores
de sua obra. Ser apresentada tambm sua formao
acadmica, suas principais referncias e uma noo sobre
a herana cultural, fatores importantes para o entendimento
de seu processo criativo.
O terceiro captulo ter como pano de fundo o
ambiente cultural, desde o ano de sua formao em 1960
at o ano de concluso das obras do Museu do Surf, em
Santos, no ano de 2008, ser representado graficamente
por uma linha do tempo, afim de que se possa
compreender o relevo, os principais temas desenvolvidos e
suas relaes com os respectivos perodos, identificandoseus pontos de inflexo. Ainda na linha do tempo,
apresentada neste captulo, como base de anlise, optou-
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INTRODUO
se pela escolha de alguns temas competentes para a
tentativa de demonstrao das principais caractersticas
formais de sua obra, so eles: as residncias individuais,
os edifcios pblicos, os edifcios hoteleiros e os edifciosculturais, alm dos principais veculos de divulgao.
O quarto captulo ser precedente da anlise do
projeto Museu do Surf. Considerou-se importante entender
o suporte de sua implantao: o emissrio submarino de
Santos. Onde se insere e quais foram os fatores geradores
de sua formao? Qual sua relao com o desenho urbano
e com os habitantes da cidade? So algumas perguntas
necessrias para a compreenso das opes de projeto do
parque urbano As Ondas e do Museu do Surf idealizados
por Ruy Ohtake.
Nele sero apresentados a origem do aterro, os
vrios projetos para requalificao da rea local que,
obviamente, no deram certo.
Como ponto central, ser apresentado o projeto
desenvolvido por Oscar Niemeyer sem, no entanto, entrar
no mrito da anlise da proposta do Mestre, mas no
sentido de divulg-lo e apontar os motivos pelos quais
acabou no se materializando.
O quinto captulo dedicado prpria anlise do
projeto e obra do Museu do Surf, objeto do presente
estudo. Nele foi elencada uma estrutura analtica, talvez a
mais apropriada para o entendimento dos procedimentos
de projeto. Estabeleceu-se tambm a relao entre os
elementos de arquitetura e de composio presentes, tanto
no projeto contemporneo, quanto aos demais projetos
anteriores que, de certa maneira, fizeram parte de uma
somatria de procedimentos formais e conceituais do
projeto em estudo.
A anlise da obra, por meio de desenhos de
observao e imagens do local, propiciou a oportunidade
de se perceber, desde a linha traada no papel, s fiadas
dos elementos de alvenaria, a transformao da paisageme das relaes humanas da cidade, orquestrados pelo
desenho do arquiteto.
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2.1 - A EXPOSIO RUY OHTAKE: PRESENTE!
Desenho de memria, pelo autor.
Exposio Ruy Ohtake: Presente!
Fonte: Arquivo Pessoal.
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RUY OHTAKE: PRESENTE!
A falta de uma discusso mais organizada sobre sua
produo foi compensada recentemente com a exposio
intitulada RUY OHTAKE: PRESENTE! Realizada no
perodo de 15/09/2008 a 17/10/2008, na Faculdade deArquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo,
FAUUSP, em razo da comemorao de seus 60 anos de
fundao, tornando-se alm de homenagem, um momento
oportuno e propcio para uma primeira aproximao junto a
sua escola de formao.
Considerada pelo seu protagonista um repasse pela
sua obra, e que a mesma um projeto, oferece neste
sentido a possibilidade de se lanar um olhar mais
criterioso sobre sua produo.
Segawa (2002, p.95) corrobora neste sentido por
afirmar que [...] foi em uma obra de uso efmero que se
gestaram alguns dos discursos arqutipos que iriam
doravante povoar a arquitetura brasileira, referindo-se ao
Pavilho do Brasil em Nova York, em 1939. E por fim, que
a arquitetura de uso efmero marcou o incio do fim da
denominada escola paulista, ao referir-se ao Pavilho
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RUY OHTAKE: PRESENTE!
Oficial do Brasil na EXPO 70, em Osaka, tratando-se,
portanto de pontos de inflexo estudados na historiografia
da arquitetura moderna brasileira.
Momento oportuno, luz desse evento efmero, o
presente estudo tem como objetivo realizar uma leitura de
seu projeto expositivo, que embora seja um recorte
aparentemente reduzido perante a magnitude de sua obra,
pode clarear aspectos importantes ainda no discutidos, e
entender se a obra de Ruy Ohtake caracteriza-se pela
ruptura ou apresenta-se flexvel perante a arquitetura
paulista, cerne de sua formao.
Mantendo-se as devidas propores, Ohtake
encontra-se diante dos mesmos encargos e diretrizes de
projetos efmeros em que participou, seja do Pavilho do
Brasil na Feira Internacional de Osaka em 1970, ou do
Pavilho de Osaka em 1990.
Parte-se da premissa que a anlise, por meio de
desenhos executivos, bem como pelo redesenho, desses
expositores seja possvel identificar as referncias, as
recorrncias formais e os conceitos estruturadores de sua
obra.
A metodologia utilizada na presente leitura consiste
na anlise primeiramente da implantao, em seguida na
desmontagem do conjunto e na individualizao dos
elementos que compe os suportes expositivos,
observando cada parte de um todo, compreendendo sua
natureza, funo, sentido e suas relaes com as
representaes expostas.
Considerando que a obra de um arquiteto pode ser
analisada por diversos ngulos e que, segundo Baker
(1998), um desenho contemporneo afetado pelos que o
antecederam, pretende-se demonstrar por meio de um fio
condutor, suas referncias de formao e as
transformaes de seu repertrio formal at o foco dessa
anlise, verificando as noes de ruptura com a base de
sua formao, contribuindo assim para um melhor
entendimento sobre seu processo criativo.
Pelo fato de termos uma origem colonial, nossa cultura
sempre foi permevel e dcil em relao s demais
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(ALMEIDA, 1984). Nesse sentido a arquitetura brasileira e
as diversas manifestaes artsticas, foram influenciadas
principalmente, a partir das dcadas de 1920 e 1930, pelos
pioneiros do movimento moderno. Arquitetos renomadosdo velho continente e da Amrica do Norte, integrantes da
historiografia oficial da arquitetura mundial, tornaram-se
referncias - alguns com maior acento, e outros nem tanto -
para os arquitetos brasileiros.
Para Katinsky1, embora considere nomes como
Gropius, Mendelson, Frank Lloyd Wright e Mies Van der
Rohe, importantes nesse processo, a maior referncia para
os arquitetos brasileiros foi Le Corbusier. Por mais
polmico que possa parecer, foi por meio de seus
ensinamentos que os arquitetos brasileiros transformaram
e imprimiram um carter prprio a arquitetura brasileira,
adquirindo nos anos 40 e 50, prestgio internacional.
1CUNHA, Gabriel Rodrigues.ARQUITETURA PAULISTA?Disponvel em:acessado em 10/07/2009.
A arquitetura brasileira aps os anos de 1960, j
consolidada e desenvolvida pelos arquitetos paulistas,
redefiniu-se, trazendo em seu ncleo alm de uma esttica
prpria, um discurso poltico e social.
Reconhecidamente a obra mais emblemtica desse
perodo o edifcio da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de So Paulo, FAUUSP,
idealizada entre outras obras, pelo arquiteto Vilanova
Artigas, que segundo Sanovicz2, [...] foi um discpulo da
arquitetura carioca [...] e transformador de sua essncia,
regionalizando-a e, sobretudo, invertendo o processo de
projeto ao conceber a estrutura como arquitetura, conceito
depurado por Niemeyer nos anos de 1950, segundo
Segawa (2002).
Para Lemos (1979), como seu grande mentor, Artigas
no s imprimiu os novos rumos trilhados doravante pela
arquitetura brasileira, mas contribuiu tambm com arenovao do ensino de arquitetura por meio de uma
2WOLF, Jos. UMA PEDRA NO CAMINHO. Revista AU, So Paulo,n 17, Abril/maio de 1988. p.55.
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3 -
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reflexo crtica da realidade, marcando profundamente o
ensino e seus alunos.
A FAU tem uma caracterstica importante que
eu acredito que se mantm ate hoje, que o fato de que
todo mundo que passou por ela, foi marcado, de um jeito
ou de outro e esta marca a gente leva pro resto da vida,
de um jeito ou de outro, no d pra tirar, no d pra
mudar, mesmo indo tropeando pela produo de outros
colegas, descobrindo caminhos novos, mas a gente tem
esta base de nossa formao muito forte [...], e continua
afirmando,
[...] H de fato um lao comum bsico e nesta estrutura
bsica, h uma personalidade nica, que nos deu de
presente, nos brindou e at hoje nos brinda com este
prdio que o ARTIGAS. O ARTIGAS de um jeito ou de
outro um mestre de todos ns e alm do ARTIGAS h
vrios, grandes professores que passaram grandes
alunos, etc., mas so todos linhas exploratrias a partir de
um certo consenso bsico inicial que o ARTIGAS significa
para a arquitetura paulista. S para deixar claro isto, oARTIGAS no o pioneiro, os pioneiros so, Knesse de
Melo, Warchavchik, Miguel Fortes, mas o ARTIGAS
significa uma consolidao de tudo isto a partir de uma
obra primorosa, colocando a questo da arquitetura e da
construo de uma forma muito coesa e muito importante
e encontrando uma linguagem prpria profundamente
brasileira que ao mesmo tempo, profundamente
contempornea 3.
No ncleo de sua formao, idealizado e
materializado por seu mestre Vilanova Artigas, o qual Ruy
Ohtake considera como o grande do sculo XX 4,projetou
expositores que abrigaram 63 trabalhos entre projetos e
obras. Como suporte, o Salo Caramelo, considerado o
espao mais significativo da FAUUSP, cerne de sua
formao e local ideal para o dilogo entre mestre e
discpulo. Optando pela sntese, contrariou com a escolha
desse local, um dos eventos em comemorao ao
cinqentenrio da FAUUSP realizada em 1997, a
exposio dos desenhos de Abrao Sanovicz, que ocupou
3SAWAYA, Sylvio. Informao verbal em Procedimentos de Projeto,
Palestra realizada na FAUUSP, em 15/10/2008.
4MOLINA, Camila. Ruy Ohtake revisita sua obra. O Estado de So,So Paulo, 15/09/2008. Visuais Arquitetura, Caderno 2, D5.
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vrias dependncias da escola como o Museu, o Caracol,
as salas de aula e o Salo Caramelo.
Sobre sua formao Ruy Ohtake (informao
verbal)5 relata que Sanovicz e Katinsky, foram grandes
colaboradores,
Me lembro muito bem dos colegas, eu estava no 1 ano,
encontrava algumas vezes com Katinsky, aqui presente.
Cheguei a encontrar tambm o Katinsky e o Abrao
Sanovicz, prematuramente falecido, andvamos a p
saindo aqui da Fau Maranho, descendo pela Major
Sertrio, at .. Praa ..que trabalhavam l. E eu primeiro
anista, caminhava junto a eles para ouvir o que
conversavam sobre arquitetura e sobre o Brasil as
condies que a arquitetura estabelece com a historia do
Brasil, com a historia da cultura e ento eu ia junto com
eles, todos os dias, at onde trabalhavam e em seguida
voltava para a Fau para assistir s aulas.
Alm desse contato, frequentava tambm o
escritrio de Carlos Millan6
, onde aprendia por meio dos
5Informao verbal. Ruy Ohtake em Procedimentos de Projeto,Palestra realizada na FAUUSP, em 15/10/2008.
registros em papel manteiga, os ensinamentos do mestre.
Buscava com isso lies prticas, diferentes daqueles das
salas de aula, na procura de sua prpria identidade atravs
da simbiose entre os pensamentos de Niemeyer e Artigas(FARIAS, 1994).
desses mestres interessava-lhe o embate com a folha
afixada na prancheta, as pequenas descobertas que fazia
com que o dia fosse ganho. Os croquis que resultam da
deriva da mente e da mo, os esboos das idias
rabiscadas a margem das pranchas, os pequenos
detalhes construtivos feitos para esclarecer o mestre de
obras em meio a azafama dos canteiros de obras, e tudo o
mais, enfim, que compe esta prtica peculiar e superior
da inteligncia e da poesia. (FARIAS,1994, p.70).
6CAMARGO, Mnica Junqueira de. Disponvel em:HTTP://www.docomomo.org.br/seminrio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfacessado em 10/07/2009.
http://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfhttp://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfhttp://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfhttp://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfhttp://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdf -
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ENTRE OS ANGULOS RETOS, O ESPAO DINMICO
Uma das principais caractersticas do Salo
Caramelo a predominncia de ngulos retos.
Inserido em uma planta livre, provido de iluminao
zenital, subdividida em espaos amplos e alturas
diferenciadas, com divisrias baixas, integra-se entre os
ambientes internos e externos.
Ao mesmo tempo em que se apropria dos ngulos
retos, caracterstica marcante da escola paulista, Ruy
Ohtake explora esse enquadramento no sentido de facilitara apreenso do subjacente espao dinmico criado por
meio de seus expositores.
A implantao do conjunto de suportes expositivos
no apresenta qualquer vnculo, relao de paralelismo ou
mesmo qualquer outra subordinao de carter
geomtrico, com a ortogonalidade do Salo Caramelo
(Fig.1).
Neste sentido a implantao subverte essas regras
compositivas, aliando-se a predominncia da linha
diagonal, que segundo Sausmarez (1996), indicadora de
impulsos direcionais, criando um movimento dinmico e
fluido em contraposio rigidez absoluta do ngulo reto.
Essas caractersticas remetem ao denominado espaoorgnico de Zevi (1996), que atribui a Frank Lloyd Wright a
idealizao de uma arquitetura rica em movimentos que
expressam a ao da vida. As teorias de Wright
influenciaram a arquitetura mundial, primeiramente na
Europa por meio de Alvar Aalto e obviamente a arquitetura
brasileira. Os eventos organicistas tiveram um papel
importante na produo de arquitetos brasileiros, aexemplo disto o prprio prdio da FAUUSP.
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Figura 1 Projeto original da exposio
Fonte: Ruy Ohtake arquitetura e urbanismo
Figura 2 Implantao executada e editada pelo autor.
Fonte: Arquivo pessoal.
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O CONTEDO DA EXPOSIO
O contedo da exposio apresenta-se em quatro
blocos de expositores. Pela definio do projeto executivotemos, no sentido de entrada do Salo Caramelo:
BLOCO CIDADE; BLOCO MOBILIRIO; BLOCO 50
OBRAS + TEXTOS; BLOCO PROJETOS DETALHADOS.
Os grupos denominados BLOCO CIDADE e
BLOCO MOBILIRIO, foram dedicados aos projetos de
interveno urbana: O PARQUE ECOLOGICO DO TIETE,
O EXPRESSO TIRADENTES e o PARQUE ECOLOGICODE INDAIATUBA
e, as criaes dos mobilirios em madeira.
O grupo 50 OBRAS + TEXTOS, o maior e de posio
marcante expe projetos e obras concisamente
representados. Os expositores denominados PROJETOS
DETALHADOS foram posicionados em linha no sentido
horizontal, no obedecendo ao projeto original (Fig.2).Seu contedo apresenta dez obras, entre elas as mais
divulgadas. Entre elas esto: Hotel Renaissance, Hotel
Alvorada, Embaixada do Brasil em Tquio, Residncia
Tomie Ohtake, Expresso Tiradentes, Fundao Carlos
Chagas e Edifcio Quatiara, alem dos projetos mais
polmicos como: Hotel Unique e o Instituto Cultural TomieOhtake.
Comparando-se os desenhos das figuras 1 e 2,
torna-se visvel a distncia entre concepo e execuo.
Embora aparentemente dispostos aleatoriamente, no
obedeceram ao sentido original de implantao
determinados pelo arquiteto, pois segundo Ohtake7, as
mudanas ocorreram devido s goteiras, ocasionadas pelafalta de manuteno da cobertura do emblemtico edifcio,
assim sendo, pode-se concluir que as determinantes de
ordem climtica, prevaleceram sobre sua inteno plstica,
revelando uma postura identificada com o equilbrio entre a
dimenso esttica e a funcional (fig. 3).
7Informao pessoal fornecida por Ruy Ohtake, durante a ExposioRuy Ohtake: Presente!
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BLOCOMOBILIRIO
50 OBRAS +TEXTOS
PROJETOSDETALHADOS
Figura 3. Desenho do autor. Implantao dos suportes expositivos no Salo Caramelo.Fonte: Arquivo pessoal.
BLOCOCIDADE
PROJETO EXECUTADO
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Os desenhos de implantao da exposio remetem
aos seus primeiros projetos residenciais, um tema
considerado por Segre (1999), a essncia de sua carreira.
Comparando-se o croqui explicativo da casa praa (Fig.4)com o desenho de implantao executada da exposio
(Fig.4a), fica evidente a semelhana entre ambos, mesmo
apesar da distncia temporal, ambos apresentam
fragmentos agrupados em uma estrutura retangular, que os
articula. O conceito da casa praa em primeiro lugar a
negao da disposio tradicional dos compartimentos,
minimizando as reas de uso individual, privilegiando as deuso coletivo.
O desenho da casa praa uma [...] potica
devotada ao rarefeito, onde[...] cada elemento pensado
como se fora um casulo [...]. Alm disto compara com a
cidade valorizando a circulao das pessoas em meio aos
obstculos que [...] so os por assim dizer,
acontecimentos arquitetnicos que tornam mais rica esugestiva essa promenade feita a regio mais interior da
sociedade [...], (Farias, 1994, p.28).
Figura 4 Croquis explicativo da casa-praa.
Fonte: KATSUMATA, Mary.Cadernos Brasileiros d e Arquit etura,
Vol.1 e 2. So Paulo: Schema Editora Ltda, out. 1976, p16.
Figura 4a Desenho com nfase no projeto de implantao
da Exposio Ruy Ohtake: Presente! Editada pelo autor.
Fonte: Arquivo pessoal.
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PROJETOS DETALHADOS
No embate entre tradio e modernidade alguns
elementos da arquitetura brasileira tornaram-se smbolos
dessa polarizao caracterizada pelas condicionantesclimticas como, a luz solar, o calor e as intempries. Este
primeiro grupo a ser estudado (Fig. 5), apresenta uma
composio de painis verticais dispostos
desordenadamente e, quando observados em projeo
horizontal, compe linhas diagonais em relao a um perfil
metlico apoiado sobre os mesmos. Intuitivamente os dois
elementos, cuja filiao extrapola as denominadas EscolasCarioca e Paulista, remetem por um lado ao brise soleil,
introduzidos pelos ensinamentos de Le Corbusier, e por
outro, ao prtico, cujo uso e significados acompanham as
aes antrpicas relatadas pela histria.
Na arquitetura de Ruy Ohtake esses dois elementos
so recorrentes. Individualmente a viga prtico, apresenta-
se em seus projetos com claras referncias. A primeira, a
residncia de Oswaldo Bratke (Fig. 6), construda no ano
de 1955 em So Paulo. Nela a viga - prtico representa aFigura 6 Casa na Av. Morumbi. Arq. Oswaldo Bratke.Fonte: SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza.Oswaldo Arthur Br atke. So Paulo: Pr Editores, 1997.p.135
Figura 5 Desenho do autor com nfase nos elementos do grupode expositores, PROJETOS DETALHADOS.Fonte: Arquivo pessoal
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silhueta virtual ao configurar um ptio interno reafirmando o
conceito de sua existncia indicando os limites entre
cultura e natureza. A segunda uma referncia a Vilanova
Artigas, onde a casa e o lote formam um nico elemento,cabendo a viga - prtico, elemento caracterstico da escola
paulista, estabelecer o limite potencialmente invisvel com
a cidade.
A terceira referncia de Rino Levi, onde ao observar as
casas introspectivas assimila esses conceitos, prolongando
repetidamente, do limite frontal ao limite dos fundos do lote,
a viga prtico. Tanto Oswaldo Bratke quanto Rino Levi,
nunca foram rotulados ou enquadrados na Escola
Paulista8, porm so aludidas e utilizadas por Ohtake j em
seus primeiros projetos residenciais. Assim sendo, pode-se
concluir que suas referncias vo alm das denominadas
Escolas de arquitetura Carioca e Paulista. Os painis
8CUNHA, Gabriel Rodrigues.ARQUITETURA PAULISTA? Entrevistacom Jlio Roberto Katinsky.Disponvel em: acessado em 10/07/2009.
verticais posicionados ortogonalmente ao solo remetem ao
brise soleil, utilizados inicialmente no edifcio do ABI entre
1936 e 1938, no Rio de Janeiro.
Para BRUAND (2005), o projeto elaborado pelos
irmos M.M. Roberto que no pertenciam equipe de
Lucio Costa - no sofreu influncia direta de Le Corbusier,
pois fora elaborado antes de sua vinda ao Brasil em julho
de 1936.Componente funcional, o brise empregado no
controle da iluminao solar sobre os ambientes internos
Figura 7 - Residncia NadirZacarias. Projeto de Ruy Ohtakeem 1970.Desenho elaborado pelo autor.Fonte: Arquivo pessoal
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da edificao, posicionando-se tanto horizontal como
verticalmente. Adaptado pelos arquitetos cariocas em sua
primeira utilizao foi implantado verticalmente em uma
nica direo, desconsiderando sua funo privilegiandoseu aspecto esttico. Considerado como objeto das [...]
primeiras realizaes concretas de nossa arquitetura 9[...],
tornou-se uma das gneses da arquitetura paulista (Fig.8),
por meio tambm de [...] grandes empenas de concreto
usadas como quebra sol ou plano de reflexo(ZEIN, 2002,
p.22). Considerando que a arquitetura paulista foi
largamente difundida pelo Brasil, (SEGAWA, 2002), o usodesse elemento influenciou arquitetos e obras de outras
regies, chegando a ser ironicamente chamado por Estilo
Brise por (SEGAWA, 2008) informao verbal10.
Por meio de seu poder de sntese, a somatria dos
conceitos e referncias incorpora-se ao seu repertrio
formal, fundindo esses dois elementos em uma unidade
(Fig.8). Mesmo no exercendo controle sobre a luz solar,
9 Escola de Engenharia Mackenzie, agosto de 1945. Discurso deHenrique Mindlin, apud SEGAWA, 2002, p.105.10Informao verbal em aula da Ps-Graduao em 2008.
enfatiza a dimenso esttica, apresentando-se em
inmeros projetos como elemento filtrante entre arquitetura
e natureza (Fig.8 a)
.
Figura 8 - Croquis de Ruy Ohtake. Residncia Giuseppe Viscomi.Fonte: FARIAS, Agnaldo Aric Caldas; KATINSKY, Jlio Roberto;QUEIROZ, Rodrigo.Ruy Ohtake: Presente!So Paulo:FAUUSP, 2008, p.59.
Figura 8a Desenho do autor com nfase na utilizao dosbrises com finalidades estticas. Residncia Jos Egreja.Fonte: Arquivo pessoal.
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A CURVA: HERANA CULTURAL OU OPO
PROJETUAL?
Um dos principais elementos da exposio o
destinado ao grupo 50 OBRAS + TEXTOS.
Sua implantao, em diagonal ao salo caramelo,
carrega em si sua caracterstica mais divergente em
relao ortogonalidade, ponto de inflexo responsvel
pela flexibilidade no uso da forma como expresso. Poroutro lado apresenta-se como elemento divisor de uma
produo caracterizada pela ortogonalidade de uma
arquitetura racionalista e, de uma arquitetura que no
despreza uma fase posterior, mas sim, acrescenta e
insinua a concordncia entre os ngulos de retas
multidirecionais. A quem por ela caminha apresenta a
opo de permanncia ou de incorporao.Pela dimenso remete a dois dos projetos urbanos
mais importantes, O PARQUE ECOLGICO DO TIET e o
EXPRESSO TIRADENTES, tema preferencial de sua
carreira.
Trao sinuoso e contnuo evidencia dois aspectos
importantes; o referencial aos pioneiros da arquitetura
moderna brasileira, e a herana cultural como fundamento
do ato projetual. Tais questes surgem da afirmao de
Oscar Niemeyer em seu texto de apresentao do livro LA
ARQUITECTURA DE RUY OHTAKE. Niemeyer atribui ao
talento de Ohtake uma fora interior desconhecida,
presente a partir do nascimento, fora esta, responsvel
pela qualificao e caracterizao de sua obra. Estasinfluncias genticas incorporam ao poder de criao,
reflexos de um ambiente propcio que estimulam as
habilidades artsticas. Niemeyer tornou-se referncia para
uma legio de arquitetos, por meio de seus desenhos, tudo
indica o mesmo efeito por meio de suas palavras.
Na resenha deste livro Zein e Di Marco, afirmam que
enquanto a curva [...] o elemento geomtrico que deseja
a aproximao com a natureza [...] alguns edifcios
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remetem a [...] estrutura singela, equilibrada e harmnica
dos origamis, a tradicional arte oriental da dobradura.11
Seguindo esta orientao a assimilao da curva e a
fluidez do espao na obra de Ruy Ohtake vincula-se talvez
gentica e ao ambiente afetivo, ou seja, o convvio entre
cores, telas e esculturas, podem ter exercido importante
papel como elementos propulsores de sua capacidade
inventiva.
Katinsky (2008, p.29) refora argumentando e
afirmandoEssa condio no ter, antes de tudo, moldado
as escolhas, as opes do jovem estudante e depois do
jovem arquiteto? referindo-se ao fato de Ruy ser filho de
Tomie Ohtake, uma das mais importantes representantes
do abstracionismo no Brasil.
Marcos Acayaba entende que as caractersticas de
seu processo criativo so uma fuso entre os pensamentos
de Oscar Niemeyer e Katinsky, ao afirmar:
11DI MARCO,Anita Regina; ZEIN, Ruth Verde. A HERANA DASCURVAS. Revista PROJETO, So Paulo, n 184, p.98. Abril/maio de1995.
O jeito que voc tratava do espao, tinha alguma coisa a
ver com a arquitetura japonesa, a fluidez do espao dentro
desta soluo ortogonal tpica da arquitetura de So Paulo
naqueles anos
Tinha certa fluidez, uma luz muito peculiar, que eu no vi
em obras de outros colegas. Depois, anos 70, eu anotei
aqui, especialmente nesta casa do Yassuda, o Ruy
admirava o Oscar Niemeyer. Comea a se soltar um
pouco da ortogonalidade e o desenho do Oscar Niemeyer
comeou a aparecer na arquitetura dele.12
Segre (1999) apresenta uma viso holstica do
surgimento da curva na arquitetura no mundo e, por meiode um recorte mais reduzido, atribui o surgimento da curva
na arquitetura brasileira a influncia de Le Corbusier,
citando como exemplo, o projeto do sinuoso viaduto
habitao no Rio de Janeiro em 1930. Para ele a
concepo a partir da observao da exuberante paisagem
brasileira, imprimiu tanto na primeira gerao de arquitetos
do Rio de Janeiro, como nas posteriores, a possibilidade de
uso de uma linguagem de formas livres, sinuosas, abertas
12 Informao verbal. Marcos Acayaba em Procedimentos de Projeto,Palestra realizada na FAUUSP, em 15/10/2008.
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e integradas natureza circundante de espaos
transparentes e sombreados, porm no caso especifico de
Ruy Ohtake, reitera as mesmas opinies j mencionadas,
ao afirmar que a obra de Ohtake apresenta[...] traos de sua personalidade lapidadas na convivncia
com sua me, Tomie Ohtake (Kioto, 1913) e na indubitvel
herana da cultura japonesa. Dela recebe a infinita
laboriosidade artesanal, a nitidez das formas e espaos
em figuras abstratas e sinuosas; a paleta cromtica de
pigmentos claros e transparentes; a busca constante da
essncia no mistrio criativo de um sistema de imagens.
(Segre, 1999, p. 29).
No final da dcada de 1970, Ohtake negaria que sua
obra apresentasse vestgios de herana familiar. Antes de
ingressar na FAUUSP, estudou nos Colgios, Dom Bosco
e Roosevelt, no tendo freqentado casas de famlias
japonesas, sendo que a escolha pela arquitetura recebeu
pouca influncia de Tomie. Concorda em relao
discusso sobre arte em sua casa, mas no sobre a artejaponesa, mas sim, sobre Van Gogh, Gauguin, Picasso,
Bach, e Mozart. Nunca frequentou escola japonesa, muito
menos apresenta domnio nesse idioma.
Nos anos de 1980, porm, admite as influncias, e
diz ter sentido a vontade de estudar a cultura e a
arquitetura civil japonesa, sobre a qual se considera ser
bem informado, a partir de seu contato com arquitetos
japoneses, quando de sua contratao pelo Ministrio das
Relaes Exteriores, para o projeto da Embaixada do Brasil
em Tquio.
[...] Eles me disseram que aquele projeto era de
arquitetura brasileira, sem duvida, mas que alguns
detalhes tinham um pouco a ver com a arquitetura
japonesa, tais como a limpeza no tratamento da forma,
dos espaos, e a pouca mistura de materiais [...].13
Ohtake considera ter uma formao ocidentalizada e
identifica traos em comum entre tradies japonesas e a
arquitetura moderna brasileira, a busca da sntese,
presente nas obras de Oscar Niemeyer e Artigas,
13WOLF, Jos.A HERANA DO ORIENTE. Revista AU, So Paulo, n18, p 62. Junho de 1988.
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resultante da procura dos avanos tecnolgicos que
propiciem a qualidade do espao interior com a forma
exterior.
Considerando o aspecto da herana cultural, o
reencontro entre o ocidente com a cultura japonesa, no
final do sculo XIX, causou grande impacto nos meios de
expresso artsticos europeus, inclusive na arquitetura. A
influncia da arquitetura japonesa nas obras de Wright e o
grande interesse de Bruno Taut no estudo desses edifcios
decorrem pelo despojamento, pela ausncia de
ornamentos e a combinao de planos verticais ehorizontais sugerindo uma composio simples e a inter-
relao entre espaos internos e externos. (GONALVES,
2004).
Sob este ponto de vista da herana cultural, alguns
estudos do conta de que para os japoneses a linha curva
no um elemento geomtrico distinto, mas sim uma
derivao da linha reta14.
Segundo Bruno Taut, o Japo [...] ignora o conceito
de eixo arquitetnico, isto , que a linha reta existe apenas
em nossas mentes, a linha pela qual todos os arquitetos
iniciam seu trabalho 15.
Nesse sentido esses conceitos foram largamente
difundidos pelo ocidente, no se tornando especficos de
arquitetos de origem japonesa, a exemplo da citao de
Argan em que,
Mais tarde Aalto vir a descobrir que uma linha ou uma
superfcie curva no so menos racionais do que uma
linha reta ou uma superfcie plana. (ARGAN, 2006,
p.414).
14
ITOH, Teiji . Tradition in Japans formative culture. In: NEIVA,Simone; RIGH, Roberto. A importncia da cultura na constr uo doespao urbano no Japo.Revista Ps, v.15, n 24. So Paulo:Fauusp, v.1 (1990 -)
15Ibid, p.38.
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RUY OHTAKE: PRESENTE!
LINHA CURVA:
O surgimento deste elemento em sua obra, no
passvel de uma afirmao categrica. Para Farias (2008),
a procura por novas formas sempre fizeram parte das
experimentaes de Ruy Ohtake. Assim como as cores, a
curva foi sendo implantada paulatinamente, por meio de
linhas ou planos curvos, sempre acrescidos aos
fundamentos da ortogonalidade.
Embora no se pretenda afirmar categoricamente,
Ruy Ohtake obtm a curva inicialmente por meio do gesto,
(Fig.9), comprimindo as duas extremidades da linha, at
transform-la em arco. Pode-se sugerir que sua primeira
manifestao, nesse sentido, deu-se na residncia Rosa
Okubo,1964, Localizada no pavimento trreo, delineando a
cozinha e o lavabo, localizados na entrada secundria da
edificao, ou seja, do lado oposto a entrada principal
(Fig.10).
Figura 10 Residncia Rosa Okubo. nfase na curva.Fonte: Cadernos Brasileiros de Arquitetura, p.14.
Figura 9 Desenhos do autor com nfase na transformao da linha reta,
em curva.Fonte: Ar uivo essoal.
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RUY OHTAKE: PRESENTE!
Na residncia Chiyo Hama, o elemento curva
emoldura o setor de servios, agora posicionados na frente
(Fig. 11), da residncia, configurando o percurso de acesso
ao hall social (Fig. 12).
Nos anos de 1970, os projetos residenciais passam a ter
como caracterstica principal as linhas curvas, soltas e
exteriorizadas, vinculadas a natureza circundante. Este
movimento, do interior para o exterior verificado emoutros projetos a partir de 1972, como nos edifcios da Cia
City, onde a curva alm de participar da definio
volumtrica participa na concepo de outros elementos
como circulao vertical, na seqncia de arcos do
pavimento trreo, ou ainda nos projetos paisagsticos dos
mesmos.
Nessa poca os edifcios pblicos povoaram aspranchetas de vrios arquitetos. Como caractersticas
principais, o grande volume esculpido internamente para o
abrigo de suas funes apoiado por poucos pilares,
desenvolvido estruturalmente com a tecnologia do concreto
armado. Nesse caso, Ohtake busca suavizar a volumetria
pesada dos blocos. A associao da curva surge a partir do
arco, transformando-se de linha curva, a instrumento de
extruso dos volumes prismticos, tratando-os como casca,
invlucros, essncia do conceito, estrutura comoFigura 12 - Residncia Chiyo HamaFonte:Ruy Ohtake: Presente! p.51.
Figura 11 Desenhos do autor com nfase na transformao da linhareta, em curva.
Fonte: Arquivo pessoal.
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RUY OHTAKE: PRESENTE!
arquitetura, caracterstica marcante entre outras, da
produo de grande parte da gerao de arquitetos
paulistas (Fig. 13).
Em outros projetos prevalece o mesmo processo de
subtrao volumtrica com volumes triangulares, como a
Central Telefnica de Ibina (1974) e a agncia do
Banespa Butant (1976). Cronologicamente observa-seque o procedimento de projeto o mesmo, mas as opes
projetuais entre linhas curvas e linhas retas so variveis
no se restringindo a cronologia.
Na agncia bancaria do Unibanco da Alameda Lorena, (Fig.
14), projetada em 1975, subtra do prtico, limite do espao
pblico, a forma arqueada indicando o percurso da entrada
na rea semi-pblica, invertendo-a para demarcar o acessoao interior do edifcio, configurando o significado de
afetividade.
Figura 13 - Cotesp Campos do JordoDesenhos do autor com nfase na construo da forma.Fonte: Arquivo pessoal
Figura 14 Desenhos do autor com nfase na transformao da forma.Fonte: Arquivo pessoal.
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RUY OHTAKE: PRESENTE!
Outra soluo, talvez a mais
ousada nesse perodo, foi a
utilizada para agncia do
Banespa em Goinia (1977).Neste projeto Ohtake subverte a
relao entre lote e arquitetura
projetando o edifcio a partir da
desconstruo prismtica,
esculpindo-o, tornando a estrutura componente subjacente
forma (Fig.15). Por outro lado, recorre ao elemento mais
caro a sua produo, a lmina horizontal componente dosprticos, agora sinuosamente modelada. A mesma soluo
foi utilizada no Cartrio em
Itanham SP, em 1985
(Fig.16).
Na residncia Tomie Ohtake, a curva surge de modo
extrovertido, por meio da ondulao da viga prtico (Fig.
17). Ruy Ohtake afirma que naquele momento tinha
inteno de que o objeto Casa fosse mais participativo dacidade. Deveria agradar no somente seus usurios, mas
tambm qualquer cidado que por ela passasse,
admirando-a, de tal forma que seu olhar percorresse no
s as formas prismticas como tambm as curvas,
prenunciadas na viga frontal. Posteriormente, seguindo o
mesmo esquema de composio, as ondas surgem
tambm nos edificios residenciais.
Figura17 Croquis de Ruy Ohtake. Residncia Tomie Ohtake. nfase naconstruo da forma.Fonte: Arquivo pessoal
Fig.15 Banespa ag. GoiniaFonte: Arquivo pessoal
Figura16 Desenho do autor. Cartrio emItanham.
Fonte: Arquivo pessoal
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BLOCO MOBILIRIO e BLOCO CIDADE
Variao da linha curva, o elemento composto por
lminas ondulantes (Fig. 18), so suportes tanto dos
projetos urbanos como de mobilirios. Assim como os
outros elementos, originam-se a partir da viga prtico
flexionada, utilizada na residncia Tomie Ohtake e, pela
livre associao, agrupamentos e rotaes, seja nos planos
horizontal ou vertical. Recorrentes em suas obras a partir
da decada de 1980, ora apoiados em suas extremidades,
ora encurvados tangenciando o solo, remetem tanto ao
projeto do Hotel Las Americas, em So Domingos, na
Repblica Dominicana, no construido, quanto ao Hotel
Unique, em So Paulo. Em escala reduzida, so
claramente identificveis na sua produo de mobilirios.
Seu processo de criao pode ser entendido pela
livre associao do arco com o adicionamento da linha reta
(Fig.19).
Figura18 Desenho do autor com nfase nosExpositores, BLOCO CIDADE e MOBILIARIOS.Fonte: Arquivo pessoal
Figura19 Desenho do autor. nfase na criao e transformao daslminas.Fonte: Arquivo pessoal
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RUY OHTAKE: PRESENTE!
Mesmo sendo as lminas curvas elementos
contemporneos de sua obra, resgata no desenho do
mobilirio os pressupostos da arquitetura moderna
brasileira, seja pelos pioneiros radicados em So Paulo ouno Rio de Janeiro.
A produo do mobilirio de Ruy Ohtake, segundo
Katinsky (1996), tem uma origem histrica, ou seja, a
preocupao com a insero do mobilirio surge em seus
primeiros projetos habitacionais e foram pensados como
parte integrante do espao projetado. Inerente em cada
projeto, das paredes conquistaram autonomia mantendo aprincipio a mesma tecnologia de fabricao para
paulatinamente povoarem os espaos, configurando o
percurso ao qual Farias (1994) compara com o ambiente
urbano, mencionado anteriormente.
Para Katinsky (1996), Ruy Ohtake prope a
disseminao do desenho utilizando a tecnologia do ao
para, por meio de uma produo seriada, atender uma
necessidade cultural e no a mera satisfao de uma
exigncia local e atual.
Os traos de sua arquitetura so reconhecveis no desenho
de seus mobilirios, diferenciando-se na escala e funo
de ambos, porm ambos visam a produo do habitat
humano.
Nestes blocos de expositores, Ohtake indica que sua
atuao como arquiteto vai alm da criao de adaptaes
espaciais para atendimento das necessidades humanas
socialmente definidas (SERRA,2006). Desenha e indica as
relaes pessoais e de conforto no ambiente interno e,
aponta para a resoluo dos problemas externos (Fig.20),
ou seja, do ambiente urbano, tema pelo qual Ruy Ohtaketem grande afeio.
Figura 20 Desenho do autor. Estante Fillipeli, 1990, Estao D. Pedro eperfil transversal do Expresso Tiradentes, 1997.Fonte: Arquivo pessoal
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RUY OHTAKE: PRESENTE!
Pelo fato da exposio abrigar 63 obras de uma
intensa atividade projetual, pressupe-se antes de tudo um
grande desafio, traduzido em projeto e obra efmera,
dignos de uma anlise.Como sntese de um percurso de meio sculo, a
exposio aponta vrios caminhos para compreenso da
obra de seu autor. Por meio dela possvel verificar
quando o arquiteto se aproxima da histria, de sua escola
de formao, de suas referncias ou como alguns preferem
de suas heranas culturais.
O presente captulo tornou-se um balizamento pelo
qual se podem extrair argumentos e compreenso de um
processo criativo baseado nos mais singelos elementos
geomtricos, capazes de por meio de suas livres
associaes, criarem uma arquitetura impactante com
traos imanentes.
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3.1 O AMBIENTE CULTURAL
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O AMBIENTE CULTURAL
A produo do arquiteto Ruy Ohtake mantm-se
ininterrupta desde sua formao em 1960, at a
contemporaneidade.
Iniciada em um dos perodos mais frteis para a
arquitetura brasileira, integrada a um momento cultural de
amadurecimento na busca de uma identidade nacional,
transitou entre os mais graves problemas conjunturais que
afetaram os aspectos sociais, econmicos e polticos do
Brasil.
Neste espao de tempo sua obra revela-se como a
uma das mais importantes, ocupando um lugar de
destaque na arquitetura nacional e internacional, malgrado
pouco analisada.
Proporcionar um entendimento sobre ela requer
conhecer o processo de seu desenvolvimento. Das
condies ideais de seus anos iniciais e, ao mesmo tempo,
inimaginveis poucos anos aps, estendendo-se at ocenrio cultural diverso da contemporaneidade. Busca-se,
portanto, embora por meio de um recorte muito especfico,
um resultado capaz de levar a um entendimento de onde e
como desguam os pensamentos, os conceitos, as utopias
e as realizaes de uma gerao to privilegiada dearquitetos brasileiros.
A metodologia utilizada baseia-se na construo de
uma linha do tempo ora representada graficamente
possibilitando uma viso geral, de 1960 a 2008, ano este
de execuo das obras do parque urbano denominado,
As Ondas - Santos 21. Pretende-se, com isto, identificar os
pontos de inflexo, e as circunstncias que levaram o
arquiteto Ruy Ohtake a buscar, por meio de sucessivas
experimentaes, uma arquitetura que se analisada pela
sua dimenso esttica, distancia-se, aparentemente, de
suas referncias acadmicas, induzindo os menos atentos
a uma leitura superficial e no reveladora da estrutura de
sua obra. Primeiramente ser apresentada a linha
completa de sua trajetria (Fig. 21) e, posteriormente, a
contextualizao de sua obra nosperodos mais marcantes
doravante selecionados.
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O AMBIENTE CULTURAL
O ACERVO DE PROJETOS E OBRAS EM MEIO SCULO
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O AMBIENTE CULTURAL
Figura 21 Desenho do autor. Diagrama de obras no decorrer de meio sculo. Fonte: Arquivo Pessoal
* Dados obtidos pelo ndice da Arquitetura Brasileira.
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O AMBIENTE CULTURAL
Em uma primeira anlise, pode-se observar que sua
trajetria divide-se em trs momentos distintos.
O primeiro, compreendido entre os anos de 1960 a
1980, diferencia-se pelo volume de projetos e obras, e
identifica uma recorrncia cujo acervo compreende as
residncias individuais, alm de outros temas.
O segundo momento acontece a partir de 1980, ano
de uma profunda depresso nas atividades econmicas,
ocasionando a inexistncia de novos projetos, restando
quando muito o desenvolvimento e ou detalhamentos de
projetos anteriormente contratados, fenmeno este que ir
ocorrer em 1990 e 1992.
Entre altos e baixos, o predomnio de encomendas
orbitou entre os temas, habitao individual e coletiva,
sedimentando a tipologia de maior recorrncia em sua
trajetria.
Por fim, o terceiro momento, de 1992 a 2008,caracteriza-se por uma produo constante com temas
variados.
Diante de um quadro to diverso pergunta-se: por
que das constantes oscilaes?
Por que os primeiros 20 anos de produo
apresentam um nmero significativo de obras e, porque as
residncias individuais compem a maioria dos projetos e
obras apresentadas?
Quais os fatores determinantes das ocorrncias de
determinados edifcios e suas respectivas variaes
formais?
Quais os principais meios de divulgao dessasobras, nacionais e internacionais e quando ocorreram?
Estas so algumas perguntas que se pretende
discutir e encadear um raciocnio para a apresentao
deste captulo, que baseado na reviso bibliogrfica,
apresenta-se como elemento fundamental para o
conhecimento do cenrio em que a obra de Ruy Ohtake se
desenvolveu e que certamente auxiliar na compreenso
de seu processo projetual.
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O AMBIENTE CULTURAL
Em 1960, a arquitetura brasileira vivia seus
melhores momentos, ocupando lugar de destaque no
cenrio nacional e internacional, tornando-se parte da
cultura brasileira. Consolidada por meio dos eventosemblemticos de Lcio Costa e Oscar Niemeyer e pelo
enfoque social impulsionado por Vilanova Artigas como
caminho a ser desenvolvido, estruturaram a formao de
arquitetos a partir dos anos de 1950.
Eu entrei na FAUUSP em 1956, no auge da ebulio da cultura
brasileira que a meu ver a mais importante da histria do Brasil.
Nesta poca comearam os movimentos da msica popular
brasileira, a bossa nova, a dramaturgia brasileira, com a criao
do Teatro de Arena e do Teatro Oficina, o cinema novo com
Glauber Rocha, e a arquitetura que viria logo aps 1960, a
inaugurao de Braslia. Depois de todo este caudal que eu
entro na FAU [...] paralelamente quando entrei na FAU, tinha
sado o resultado do concurso de projeto de Braslia, tendo como
vencedor Lucio Costa, e durante meu curso em 5 anos na FAU,
foi feita a construo e no meu ltimo ano, a inaugurao de
Braslia. Portanto meus 5 anos da FAU foram ao longo da
construo de Braslia[...], (Informao verbal)1.
Nesse contexto, foi produzida talvez a grande parte
da arquitetura moderna desenvolvida pelos arquitetos
paulistas, conhecida tambm como a escola paulista
(SEGAWA, 2002). A burguesia em So Paulo, enriquecida
pelo comrcio ou pela indstria, desempenhava um papel
de destaque no desenvolvimento do pas. Esta ascenso
propiciou a essa classe social outra possibilidade de
acmulo de capital, agora tambm pela especulao
imobiliria, contribuindo para o aumento de novas
oportunidades para os arquitetos (BRUAND, 2005).
O contexto era favorvel para arquitetos e alunos
das Faculdades de Arquitetura, da Universidade de So
Paulo (USP) e MACKENZIE, as duas nicas escolas em
So Paulo na poca. Coincidentemente as duas escolas
1OHTAKE, Ruy. Informao verbal em Procedimentos de Projeto,palestra realizada na FAUUSP, em 15/10/2008.
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O AMBIENTE CULTURAL
eram vizinhas e possuam um numero reduzido de alunos,
o que permitia que se conhecessem pelos nomes2.
Ruy Ohtake considera que na poca de sua
formao a atividade profissional era mais herica, tendo
em vista que a arquitetura ainda estava se firmando no
cenrio cultural3.
A aspirao de todo recm-formado na poca era
montar seu prprio ateli, ou trabalhar com algum arquiteto
de renome, ou quando muito conciliar as duas coisas.
Alguns ingressavam no servio pblico, outros
trabalhavam pela manh em ateli prprio e a tarde para
outro profissional 4.
2MELENDEZ, Adilson, et al. Curvas personalizadas. Revista Projeto,So Paulo, n 171, p. K1, jan/fev 94.
3MELENDEZ, Adilson; MOURA, ride; SERAPIO, Fernando. Se eume preocupar com a crtica, vou ficar tolhido , fazendo arquiteturade 30 anos atrs.Revista PROJETODEIGN, So Paulo, n 272,pp.44-55. Outubro de 2002.
4MELENDEZ, Adilson, et al. Curvas personalizadas. Revista Projeto,So Paulo, n 171, p. K1, jan/fev 94.
Nesses anos de efervescncia cultural, o arquiteto
Ruy Ohtake, formado em 1960, encontra um momento
extremamente propcio para o desenvolvimento da
produo de sua arquitetura.
De incio, assim como a maioria dos recm-
formados, encontrou em suas primeiras atividades
profissionais, o respaldo familiar, projetando a reforma e
ampliao da garagem de seu tio, em uma residncia no
bairro da Aclimao. Dividia seus afazeres em dois
perodos, trabalhando meio perodo no Centro de
Pesquisas de Estudos de Urbanismo da FAU, onde eramdesenvolvidos planos diretores para as estncias, com
financiamento do governo estadual e, em seu prprio ateli
em outros projetos, geralmente pequenas intervenes
como reformas e ampliaes, garantindo assim o inicio de
uma produo ininterrupta (MELENDEZ, 2002).
Entre os afazeres descritos, Ruy Ohtake dedicou-se
tambm s atividades didticas, publicadas na Revista
Acrpole n. 386 de 1971. Foi Professor Assistente de
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O AMBIENTE CULTURAL
Composio I da Faculdade de Arquitetura Mackenzie,
entre 1963/1964; Professor Titular de Composio II da
Fundao Armando Alvarez Penteado, 1965/1966;
Professor do IADE, 1967/1968; Professor Assistente deDesenho do Objeto da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo de Santos, desde 1970; representante dos
Professores Assistentes no Conselho Departamental da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos, desde
1970.
Para Sanovicz (1988, p.56), o plano piloto de
Braslia e o surto desenvolvimentista, introduziram nestecenrio, novas perspectivas. Em 1959, elege-se em So
Paulo, o governador Carvalho Pinto, estabelecendo um
plano de ao governamental baseado nas iniciativas de
Juscelino Kubitschek.
Acontece que nesse meio tempo se elege Carvalho
Pinto. Ele prepara um plano de ao coordenado por
Plinio de Arruda Sampaio. Carvalho Pinto j tinha ido a
Braslia, onde se encontrou com Juscelino, que lhe
mostrou o trabalho dos arquitetos. Ele entendeu esse
fenmeno. Se quisesse ter o mesmo resultado, seria
necessrio usar os quadros que tinha em So Paulo. Foi
uma poca maravilhosa. Os arquitetos de repente,
tiveram de se preparar para um novo momento, que se
iniciava com a construo de fruns, escolas, etc.[ ]
A nossa gerao, enfim, pegou o bonde andando. Era
uma poca maravilhosa. Quando comeamos a
trabalhar, isso tudo j estava sistematizado [...]5.
Nesse contexto, foi produzida talvez a grande parte
da arquitetura moderna desenvolvida pelos arquitetos
paulistas, conhecida tambm como a escola paulista
(SEGAWA, 2002).
Sobre esta denominao muitos estudos foram
realizados e muitos ainda viro e, embora no seja o foco
deste trabalho, algumas posies devem ser mencionadas.
Oswaldo Bratke em depoimento a revista AU n. 17, revela
que quando a arquitetura moderna havia se consolidado, o
clima era de intercambio e no de rivalidade. Na mesma
revista Abrao Sanovicz relata que a arquitetura
5WOLF, Jos. Uma pedra no caminho. Depoimentos sobre a EscolaPaulista. AU 17: pp.56 e 57. abril/ maio, 1988.
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O AMBIENTE CULTURAL
desenvolvida em So Paulo s acontece em funo da
experincia carioca anterior.
Ruy Ohtake (1988, p.57), em sequncia, diz no ser
favorvel a qualquer regionalizao e, s a aceita como
segmentao didtica, pois Tudo faz parte da Arquitetura
Moderna Brasileira, uma das mais significativas
manifestaes de toda cultura brasileira 6
6WOLF, Jos. Uma pedra no caminho. Depoimentos sobre a EscolaPaulista. AU 17: pp.56 e 57. abril/ maio, 1988.
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O AMBIENTE CULTURAL
OS PRIMEIROS 20 ANOS
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Figura 22 Desenho do autor. Diagrama demonstrativo daproduo e condicionantes poltico/econmicas.Fonte: Arquivo pessoal
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O AMBIENTE CULTURAL
Os primeiros vinte anos aps a formao acadmica
de Ruy Ohtake (Fig.22) foram paradoxalmente acentuados:
Se por um lado representaram os momentos mais
profcuos da arquitetura brasileira, por outro forampautados pelo agravamento dos problemas de espao
urbano e, sobretudo pelo golpe militar de 1964, refletido
nos aspectos sociais, econmicos e polticos que
marcaram a histria do Brasil e a trajetria da arquitetura
brasileira.
Se, a economia caminhava a passos largos, antes
mesmo do incio do governo de Juscelino Kubitscheck, omesmo no se pode dizer sobre o fim de seu mandato,
pois se aprofundava numa crise de instabilidade poltico-
econmica sem precedentes.
Para Segawa (2002), o alto ndice inflacionrio e o
desequilbrio na balana comercial, foram responsveis
pela crise econmica do fim do governo JK. Politicamente,
a renncia de Jnio Quadros e as atitudes de seu sucessor
Joo Goulart, culminaram no golpe mili tar em 1964.
esteira das grandes realizaes arquitetnicas,
entre elas a inaugurao de Braslia, vieram tambm
subjacentes alguns dos mais graves problemas, pois
embora o movimento moderno da arquitetura brasileira, apartir dos anos 1960, j havia adquirido reconhecimento
nacional e internacional, os conflitos de espaos seguidos
pela escassez de habitaes populares, nas grandes
cidades no haviam sido equacionados, e o esforo do
poder pblico nesse sentido era quase nulo (BRUAND,
2005).
Bastos (2003) explica este fato argumentando queno perodo desenvolvimentista democrtico e progressista,
segundo a ptica de Juscelino Kubitschek, deixou de lado
em seu plano de metas aspectos importantes como,
habitao e infraestrutura das grandes cidades, que
passaram a ser desenvolvidos por meio de um carter
tecnocrtico pelo governo militar, estatizando a economia
gerando condies para criao de grandes empresas deengenharia consultiva.
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O AMBIENTE CULTURAL
Como decorrncia, no campo da arquitetura e
construo civil, para fazer frente crescente demanda
desenvolvimentista nas reas de infraestrutura,
transportes, comunicao e industrias, entre outros, osprojetos de grande porte eram desenvolvidos por empresas
de engenharia, que segundo Segawa (2002), muitas vezes
ampliaram o campo de atuao dos arquitetos.
Porm, como consequncia, os escritrios de
arquitetura, sem participarem diretamente desse processo,
tinham, na iniciativa privada, seu campo de atuao
(FARIAS, 1994).O entendimento de Ruy Ohtake sobre este fato de
que:
[...] os militares estabeleceram o golpe em 1964, mas eles no
tinham profissionais suficientes para tocarem o Brasil.
Estimulou-se ento a criao das grandes empresas de
engenharia com duas a trs mil pessoas em seus quadros.
Nesta poca, foram realizados grandes projetos no Brasil,
como aeroportos do Galeo e Cumbica, grandes hidreltricas,
etc. No lhes interessavam projetos polmicos e sim projetos
que passassem sem discusso. Ento a criatividade, que pode
gerar polemica, no interessava aos militares [...], (Informao
verbal)7.
Ainda em 1964, havia sido convidado, juntamente
com Dcio Tozzi, para ser assistente de Alfredo Paesani,
ento professor do Mackenzie, mas o incio dessa carreira
foi bruscamente interrompido, um ms aps as atividades
iniciais, em decorrncia do regime mili tar implantado.
7OHTAKE, Ruy. Informao verbal em Procedimentos de Projeto,palestra realizada na FAUUSP em 15/10/2008.
[...] embutidos em equipes organizadas por empresas
de engenharia consultiva (Themag, Hidroservice,
Promon, Figueiredo Ferraz, IESA, CNEC, Tenenge),
que, nos anos de 1960-1970, virtualmentemonopolizaram o planejamento das grandes obras civis
do regime militar.
Segawa (2002, p.160).
O AMBIENTE CULTURAL
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ESSNCIA E OS PRINCIPAIS CONCEITOS
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Figura 23 Desenho do autor. Diagrama demonstrativo de projetos deresidncias individuais e suas primeiras premiaes.Fonte: Arquivo pessoal.
Residncias individuais, com destaque para as primeiras premiaes.
1 - Rosa Okubo ; 2- Chiyo Hama.; 3- Tomie Ohtake ; 4 - Jlio Menoncello;
5 - Jos Roberto Filipelli ; 6 - Nadir Zacarias.
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O ano de 1964, apesar do golpe militar, marcou o
inicio de uma vasta produo de projetos e obras de
residncias individuais.
Entre as obras mais divulgadas des