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A MODIFICAÇÃO DO RELEVO ATRAVÉS DO PROCESSO DE
TERRAPLANAGEM NOS BAIRROS NOVA ITUIUTABA I, II, III E IV NA
CIDADE DE ITUIUTABA-MG
Silvanio de Cássio da Silva
Universidade Federal de Uberlândia/FACIP
Introdução
Nos últimos anos os problemas ambientais têm ganhado destaque na mídia e
preocupando a sociedade em geral, pois afetam direta e indiretamente a qualidade de
vida da população. Com isso, discussões que fundamentam o repensar do uso dos
recursos naturais de forma consciente e sustentável vêm ganhando destaque.
Na atualidade é muito comum observar na mídia diversas matérias sobre
impactos ambientais ocorridos na área urbana e isso tem acontecido, principalmente,
devido a forma como o relevo está sendo apropriado e ocupado.
Segundo Pedro Miyazaki (ano) isto está acontecendo graças a forma como o
relevo foi e está sendo apropriado e ocupado, uma vez que é possível observar duas
características marcantes, sendo a primeira relacionado ao relevo que sofre uma forte
interferência antrópica na sua forma e processos, e a segunda situação está ligada ao
grupo social ocupante destas áreas.
Ainda segundo Pedro Miyazaki (2014):
[...] a transformação da paisagem ocorre por meio da intervenção da
sociedade, que evidencia o modo de produzir e de consumir o espaço
urbano. Assim, os compartimentos geomorfológicos são apropriados e
ocupados pela mesma, que os esculturam a partir de construções e
edificações com diversos usos. Isso se configura no espaço por meio de
cortes em vertentes, terraplanagem em áreas de topos, retificação de
cursos d’água em fundos de vale, além da impermeabilização dessas
feições geomorfológicas. A sociedade, ao apropriar e ocupar o relevo,
passa a interferir diretamente nos processos morfodinâmicos
(pedológicos, geomorfológicos, hídricos, entre outros). Assim, as
diferentes morfologias do relevo sofrem um intenso processo de
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enculturação, cujo resultado é evidenciado nas formas que podem ser de
origem degradativa (como as erosivas), deposicionais (depósitos
tecnogênicos, aterros antrópicos) e intervencionistas (como exemplo os
taludes e obras de terraplanagem) (PEDRO MIYAZAKI, 2014.p. 133)
A ocupação do relevo, tem acontecido de forma desmedida e contínua
fomentando crescentes discussões em torno de como alcançar uma possível estabilidade
entre as ações praticadas pela sociedade (capital) representadas pelos agentes
transformadores do espaço e da paisagem propriamente dita. Essa relação afeta o
equilíbrio dinâmico da natureza existente, podendo provocar diversos danos naturais e
sociais.
É fácil identificar atualmente nas cidades os diferentes impactos, que são
oriundos da degradação dos recursos naturais, podendo citar a concentração
populacional em locais ambientalmente inadequados, a falta de infraestrutura de
saneamento básico entre outros.
Diante da concentração populacional em áreas urbanas, as cidades “sem
planejamento adequado” podem passar por um desastroso processo de expansão
territorial urbana. Muitas vezes isso resulta em uma ocupação de compartimentos do
relevo, sejam em áreas de topo, vertentes ou fundos de vale, de forma imprópria, no
qual são incorporadas parcelas das áreas rurais para serem loteadas, podendo apresentar
infraestrutura inadequada e/ou insuficiente gerando problemas ambientais urbanos, tais
como deslizamentos e desmoronamentos de solo e rochas, solapamento de margens de
córregos, também alagamentos oriundos da ocupação da planície de inundação,
processos tecnogênicos e surgimento de feições erosivas (sulcos, ravinas e voçorocas).
O processo de degradação ambiental tem início quando a exploração de um
determinado recurso natural se torna maior do que a capacidade da natureza de repor ou
reconstituir este recurso com suas características originais. Neste contexto, torna-se
necessário acompanhar o desenvolvimento local e apontar aspectos falhos no
planejamento e gestão da área, além dos recursos que estão, racionalizando a exploração
dos bens disponíveis e direcionando a ocupação do relevo para fins adequados em
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função de sua capacidade de exploração, na tentativa de preservar a qualidade do
ambiente (SILVA et al., 2003, p. 8-9).
Habitualmente as primeiras áreas a serem parceladas e loteadas são áreas
privilegiadas, na perspectiva dos agentes de produção do espaço urbano, que são os
proprietários fundiários e dos meios de produção, o Estado, os promotores imobiliários
e os grupos sociais (CORRÊA, 1995).
Em estudos efetuados por Miyazaki áreas que apresentam pouca declividade,
ou seja ,áreas planas , na maioria dos casos estão nas áreas de topo e são destinadas as
pessoas com maior poder aquisitivo, opondo-se a essas situação, as áreas com
declividades mais acentuadas, normalmente são desvalorizadas e destinadas à população
de um menor poder aquisitivo, já que estas áreas podem ser fundos de vale, vertentes
com declividades acentuadas, que são compartimentos do relevo não valorizados pelos
especuladores imobiliários. Alguns motivos que podem desvalorizá-los são o alto
investimento em infraestrutura (terraplanagem, construção de taludes), o tipo de uso e
ocupação (por exemplo, um lixão, uma área de “favela”) entre outros.
Nesta perspectiva, muitas cidades iniciaram a estruturação/construção de seu
sítio urbano, na maioria das vezes, em compartimentos geomorfológicos de topos
suavemente ondulados e planos. Todavia, com a necessidade da expansão territorial
urbana, são incorporadas novas áreas, englobando todos os compartimentos do relevo,
ou seja, iniciando o processo de ocupação, geralmente, em áreas de topos, estendendo-
se pelo domínio das vertentes até atingir os fundos de vale.
As áreas urbanas hoje vivenciam graves problemas referentes tanto a processos
erosivos como a movimentos de massa, desencadeados por ocupações irregulares de
encostas, de planícies de inundação e de outras áreas de frágil equilíbrio ecológico. Tal
situação é agravada pelo grande contingente populacional que hoje habita as cidades,
não havendo uma organização adequada para uma ocupação ordenada deste espaço. O
desmatamento e a remoção de solo nas vertentes as tornam desprotegidas e ocasionam
seu desequilíbrio.
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De acordo com Cunha 1991,
(...) A alteração da geometria da vertente, através da abertura
de taludes para construção das moradias pode levar à instabilidade da
vertente, intensificando ainda mais os processos erosivos e movimentos
de massa. Através de deslizamentos, escorregamentos e intensos
processos erosivos, o sistema busca naturalmente o equilíbrio que foi
rompido. Além das áreas diretamente afetadas, as áreas a jusante
também sofrerão consequências, recebendo grande quantidade de
sedimentos advindos da erosão e podendo ser soterradas pelos
movimentos de massa.
Com isso, se faz necessário compreender os impactos ambientais nos bairros
Nova Ituiutaba I, II, III e IV, analisando a influência do uso e ocupação do relevo no
local.
Considera-se a pesquisa relevante, pois o Município de Ituiutaba- MG ainda
carece de poucos estudos geográficos sobre a questão do histórico de ocupação do
relevo, relacionados a implantação de loteamentos habitacionais e os impactos gerados
nestes locais, principalmente em relação a ação do processo de terraplanagem nestas
áreas.
A escolha do loteamento Nova Ituiutaba como área de estudo justifica-se pelo
fato de estar localizado em um compartimento geomorfológico de vertente e por
manifestarem os mais diferentes impactos ambientais causados pela ação antrópica e
pela sociedade residente.
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Figura 01: Localização da Área de Estudo.
Org.: FERREIRA NETO, A. M.
Diante disso, torna-se importante investigar o histórico de implantação destes
loteamentos, modificação do relevo e a modificação da estrutura do solo que sofre a
ação de terraplanagem.
Objetivos
É fácil perceber que a ocupação das áreas de topo e das vertentes desencadeia
alguns problemas ambientais urbanos, como por exemplo, erosões, assoreamentos,
movimentos de massa entre outros, partindo desta afirmativa o objetivo geral desta
pesquisa foi realizar um estudo sobre a modificação do relevo na área onde foram
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implantados os bairros Nova Ituiutaba I,II,III e IV no Municipio de Ituiutaba-MG,
através do processo de terraplanagem.
Metodologia
Para alcançar os objetivos propostos foram adotados os seguintes
procedimentos:
a) Foram realizados trabalhos de revisão bibliográfica a respeito do assunto
estudado;
b) Investigação em acervos digitais e internet imagens de satélite e fotografias que
contemplaram as áreas de estudo, ilustrando-as antes do processo de
terraplanagem e implantação dos loteamentos;
c) Foram realizados trabalhos de campo para obtenção de informações da área
estuda, além da identificação dos principais impactos decorrentes do processo
de terraplanagem no relevo;
Resultados
Este trabalho consistiu em uma análise ambiental urbana que buscou
compreender os efeitos que o processo de terraplanagem provocaram no relevo onde
foram implantados os loteamentos Nova Ituiutaba I, II, III e IV no Município de
Ituiutaba-MG.
A partir de diversas observações em campo e traçando um comparativo com
imagens obtidas pelo Google Earth, pode-se notar que a ação antropogênica modificou
drasticamente a dinâmica dos processos naturais do lugar (figura 2).
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Figura 2.Imagens do local de implantação do Bairro
Fonte: Google Earth 2016 Org.: Silva 2016
Pode-se observar uma imagem da área no ano de 2006 período onde ainda
não havia sido implantado o loteamento em questão, e outra imagem de 2016 com a
área toda modificada com a implantação do loteamento, nela pode analisar o quanto o
ambiente natural foi afetado com a implantação do bairro, o que antes era apenas uma
área de pastagem rural se transformou em um ambiente totalmente urbanizado.
Os loteamentos Nova Ituiutaba é dividido em quatro etapas com o total de
1766 residências destinadas e população de baixa renda beneficiadas pelo Projeto
Minha Casa Minha Vida do governo federal, das quais 966 já estão sendo habitadas,
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causando a modificação neste compartimento do relevo, assim como danos irreversíveis
neste espaço natural.
Segundo Pedro (2011), alguns motivos que podem desvalorizá-los são o alto
investimento em infraestrutura (terraplanagem, construção de taludes), o tipo de uso e
ocupação (por exemplo, um lixão, uma área de favelas) entre outros (figura 4).
Figura:Topo e fundo de vale
Fonte:SILVA,S,C.2016
Foram feitos trabalhos de campo na área estudada para identificar os principais
impactos e avaliar a forma como o processo de terraplanagem modificou o relevo.
A ocupação da vertente provocou exigiu um trabalho grande de terraplanagem
no local para que pudesse ser instalados as residências e demais infraestruturas
importantes para um loteamento. No caso do Nova Ituiuataba III , este corte fica
extremamente evidente em uma simples visita a área, mostrando a quantidade de solo
depositado, formando uma grande área de aterro.
Figura 5:Muro de arrimo
Fonte: SILVA, S,C. 2015
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Na figura acima pode ser observado a construção de um muro de arrimo que
serve de suporte para a terraplanagem, este muro é um processo de contenção do solo
que estabiliza o solo, tendo o objetivo de proteger, apoiar e escorar áreas que
apresentem riscos de deslizamento, os identificados no Loteamento Nova Ituiutaba são
construídos em alvenaria casando duas técnicas de construção o incado e contraforte.
Todo terreno natural onde está implantada uma urbanização constitui uma
realidade tridimensional (MASCARÓ, 2003, p. 191). Entretanto, nem sempre as
variações de altura da área são consideradas no estudo de implantação de um
empreendimento. O resultado disso são soluções de nivelamento da área que ignoram os
impactos do trabalho de terraplanagem.
Analisar a área onde será construído um loteamento urbano é extremamente
necessário, pois, diversos sistemas de infraestrutura deverão ser implantados como, por
exemplo, sistema de tráfego, drenagem pluvial, abastecimento de água e de esgotos
sanitários, coleta de resíduos sólidos serviços de telecomunicação etc. Por mais que
estes serviços sejam de extrema necessidade para aqueles que irão ocupar estes
loteamentos, é necessário antes de tudo analisar os impactos ambientais que a execução
inadequada pode provocar.
Ao implantar um loteamento seja em qualquer tipo de relevo,os agentes
produtores do espaço urbano geralmente não levam em consideração os aspectos
naturais e seus processos, ignorando algumas características do terreno como
declividade, solo, erosão, podendo assim acelerar alguns problemas que já ocorriam de
forma natural na área como podemos observar na figura 7 abaixo.
Figura 6: Sulcos e Ravinas
Fonte:SILVA,S,C,2016
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Na imagem acima se pode observar que devido a declividade da área a
impermeabilização do terreno e a quantidade insuficiente de bocas de lobo , a água da
chuva é levada para a parte mais baixa do bairro em maior quantidade e velocidade,
acarretando o surgimento de uma ravina e também o transporte de sedimentos e lixo
para o curso d’ água localizado mais abaixo.
Observando que a expansão territorial urbana na cidade de Ituiutaba-MG, no
que se trata a dos bairros financiados pelo governo federal, por meio do Programa
Minha Casa Minha Vida, ocupam geralmente compartimentos geomorfológicos
afastados da área central da cidade e principalmente em áreas que eram anteriormente
ocupadas para o uso agrícola causando assim um desequilíbrio ambiental.
Em trabalho de campo realizado na área de pesquisa, foi observado a
declividade do terreno em que o loteamento foi instalado conforme observa-se na figura
8.
Figura:Visão geral do loteamento
Fonte:SILVA,S,C.2015
Casseti, (1991,p 86), fala sobre a ocupação do relevo que envolve não apenas a
relação homem e natureza, como também a relação homem e homem, onde os
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interesses dos agentes de produção do espaço estão acima do espaço natural, tendo em
vista a forma que acontece esta apropriação.
Foram coletados os dados de declividade da área onde está implantado o
loteamento Nova Ituiutaba, utilizando um equipamento GPS Garmin Nuvi, ficou
constatado que a parte mais alta do bairro onde se inicia as construções , identificada
como ponto 2 na imagem abaixo, está a 640 metros acima do nível do mar, enquanto a
altitude do ponto 4 localizado no final da área urbanizada, na parte baixa da vertente
está a 599 metros acima do nível do mar, constatando uma variação de 41 metros de
altitude do início ao fim do baixo conforme pode ser observado na imagem abaixo, estes
pontos também são indicações de onde foram coletado amostras de solo para análise em
laboratório.
Fonte: Google Earth Org.: Alves 2016.
Através da análise granulométrica das amostras coletadas de cada profundidade,
verificou-se a presença de maior quantidade de areia na parte mais superficial,
respectivamente na profundidade de 30cm em comparação as outras profundidades de
60cm e 105 cm. A fração de argila na profundidade 60cm diminuiu em comparação
com a superior e aumentou significativamente a profundidade de 105.
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Conclusão
O tema da presente pesquisa, se refere a análise da intensidade da
transformação antrópica da paisagem natural e o conjunto de problemas que este uso
pode acarretar a área.
O poderoso impacto negativo que é o loteamento de áreas naturais para
implantação de conjuntos habitacionais na cidade de Ituiutaba-MG, é a ocupação deste
relevo sem considerar as dinâmicas do processos naturais e na visão ambiental, de
grande risco para as gerações futuras, tendo em vista que estes problemas que
atualmente são causados irão colocar em risco possibilidade das gerações futuras terem
a chance de conhecer profundamente meio ambiente.
A forma capitalista que os meios de produção do espaço utilizam para o
controle é cruel e covarde, mesmo em Ituiutaba-MG é possível observar esta forma
predatória do uso e ocupação do espaço.
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