a mitificação do herói
TRANSCRIPT
A mitificação do herói - Os Lusíadas
Camões não escolheu um herói individual que motivasse o título da sua obra,
mas procurou que a sua epopeia enunciasse a história de todo o povo da "geração
de luso". A intenção em exaltar os portugueses levou Camões a torná-los
verdadeiros heróis que se foram construindo, ao longo da obra, e que mereceram
a mitificação.
Deste modo, estamos perante um herói colectivo, que é constituído pelas "armas
e barões assinalados", pelos Reis, por "aqueles que por obras valerosas/Se vão da
lei da morte libertando" e pelos navegadores, que no seu conjunto formam "o
peito ilustre lusitano".
Para que este se fosse construindo, vários elementos foram fundamentais, tais
como: a inteligência, pois os portugueses fizeram grande parte da viagem sem
que os Deuses se apercebessem; a coragem e a valentia, que demonstraram
perante as ciladas de Baco e perante o Gigante Adamastor, símbolo do perigo e
do inultrapassável, que permitiu a heroificação de Vasco da Gama, no momento
de inversão.
Além disso, o episódio do Velho do Restelo, que simbolizando a contraposição e
prenunciando vários perigos, mortes, tormentas e outros desastres, contribui para
a formação do herói, que enfrenta estes obstáculos com coragem e esforço.
Depois de todas as etapas vencidas, os portugueses merecem descanso, que
decorrerá na Ilha dos Amores, local concebido pelo épico, simbolizando a
recompensa pela heroicidade, a satisfação dos sentidos e a harmonia no
Universo. É aqui que os portugueses são mitificados e se tornam Deuses, como
se verifica quando as Ninfas se entregam aos navegadores, alcançando a glória.
Finalmente, a viagem, mais do que a exploração dos mares, é a passagem do
desconhecido para o conhecido, conseguida pelo esforço e motivada pelo amor,
tendo como resultado a posse do conhecimento.