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Tânia Margarida Marques de Mendonça Martins
A LETRA E O GESTO ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS EM LÍNGUA
GESTUAL PORTUGUESA E LÍNGUA PORTUGUESA
Orientador: Professor Doutor Augusto Deodato Guerreiro
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Departamento de Ciências da Educação da Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação
Lisboa
2011
Tânia Margarida Marques de Mendonça Martins
A LETRA E O GESTO ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS EM LÍNGUA
GESTUAL PORTUGUESA E LÍNGUA PORTUGUESA
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Departamento de Ciências da Educação da Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação
Lisboa
2011
Dissertação apresentada para obtenção de Grau de Mestre em Comunicação Alternativa e Tecnologias de Apoio no Curso de Mestrado em Comunicação Alternativa e Tecnologias de Apoio, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Orientador: Professor Doutor Augusto Deodato Guerreiro Co-orientadora: Professora Doutora Isabel Sofia Calvário Correia
i
Epígrafe
De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava
sempre começando, a certeza de que era preciso
continuar e a certeza de que seria interrompido antes de
terminar. Fazer da interrupção um caminho novo, fazer
da queda, um passo de dança, do medo, uma escada, do
sonho, uma ponte, da procura um encontro.
Fernando Pessoa
ii
Dedicatória
À minha família e a toda a Comunidade Surda!
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela vida e pelas graças e oportunidades concedidas.
Aos meus pais, Cândida Martins e Faustino Martins, pelo apoio incondicional e
financeiro, sem eles este grande sonho não teria sido realizado.
Agradeço ao meu irmão e amigo Pedro Martins pelo carinho, paciência e apoio ao
longo da elaboração desta Dissertação.
À minha co-orientadora Professora Doutora Isabel Correia, pela belíssima orientação,
apoio, amizade e dedicação, estando sempre disponível para ouvir as minhas dúvidas e tecer
palavras de incentivo. Agradeço também pelos bons comentários e sugestões que me facultou
durante todas as fases desta dissertação. A conclusão deste trabalho não representa o fim, mas
o início de futuras pesquisas e cooperação na busca do conhecimento mútuo.
Ao meu orientador, Professor Doutor Augusto Deodato Guerreiro, pelas preciosas
dicas ao longo de todo o mestrado, além do apoio na participação de congressos importantes
que vieram a contribuir na aquisição de novos conhecimentos. Agradeço ainda correções
sugeridas à dissertação, as quais proporcionaram um maior enriquecimento ao texto final.
Aos meus professores do curso de Mestrado em Comunicação Alternativa e
Tecnologia de Apoio, pelos conhecimentos transmitidos e dedicação na sua tarefa de formar
mestres.
À Alexandra Águeda e Ana Paula Duarte pela amizade, estímulo e paciência que
sempre tiveram nos momentos de incertezas e cansaço.
À Comunidade Surda e amigos surdos que estiveram sempre comigo e me deram
força, apoio e palavras de apreço nos momentos menos bons.
À Federação Portuguesa de Surdos, nas pessoas de Paulo Garcia e Tânia Laima que
estiveram sempre presentes na elaboração desta tese de mestrado opinando e dando palavras
de incentivo para a sua realização.
À Associação de Surdos do Porto que, desde o primeiro momento, se mostrou
disponível para colaborar neste sonho.
À Fundação Dionísio Pinheiro pelo apoio financeiro que me proporcionou ao longo
desta minha caminhada, os meus sinceros agradecimentos.
A todos os meus amigos pelo apoio e incentivo incondicional, desde aqueles mais
próximos até aqueles mais distantes, os meus sinceros agradecimentos.
iv
Ao meu sempre amigo e figura incontornável na comunidade surda, Professor, Patrão,
confidente, companheiro Hélder Duarte que sempre acreditou em mim, o meu mais sincero e
profundo agradecimento.
v
RESUMO
A Língua Gestual Portuguesa (LGP) é desde 1997, ano em que foi reconhecida na
Constituição da Republica Portuguesa, a língua oficial da comunidade surda em Portugal.
Esta língua manifesta-se como língua natural da pessoa surda sendo utilizada como forma de
expressão e comunicação e produzida através de um canal espácio-visual. O contato entre a
LGP e a Língua Portuguesa (LP), duas línguas supõe, necessariamente influências e
contaminações linguísticas. Apesar de a Língua Gestual Portuguesa ser um idioma de
modalidade espácio-visual e a Língua Portuguesa se codificar na oralidade, é frequente
encontrar-se em produções escritas de pessoas Surdas, utilizadora da LGP, erros que resultam
da interferência linguística. O objetivo deste trabalho é reflectir e aprofundar o conhecimento
explícito e reflexivo da LGP, através de uma abordagem comparatista, aprofundando e
investigando as competências metalinguísticas que os utilizadores têm como ferramenta de
acesso ao conhecimento da sociedade alargada. Para isso, vamos procurar aferir as
competências literácitas da pessoa surda, através da interpretação de um texto escrito e, num
segundo momento, reflectimos sobre a estrutura linguística da LGP, sobretudo, na sua
componente sintática e morfológica.
Palavras-chave: Língua Gestual Portuguesa, Língua Portuguesa, Linguística Contrastiva,
Literacia
vi
ABSTRACT
In 1997, the Portuguese Sign Language (in Portuguese, Língua Gestual Portuguesa – LGP)
was approved in the Constitution of the Portuguese Republic. Since then, it has been the
official language of the deaf community in Portugal. The Portuguese Sign Language is the
natural language of a deaf person. It is, therefore, a means of expressing himself/herself and a
medium of communication that is produced through a spatial-visual channel. Contact between
the Portuguese Sign Language and the Portuguese Language (in Portuguese, Língua
Portuguesa - LP), two different languages, forcefully presupposes linguistic influences and
interspersion between the two. Even though Portuguese Sign Language is a spatial-visual
idiom and Portuguese Language is encoded in sounds, people with deafness who use the
Portuguese Sign Language commonly make mistakes in their writings that result from a
linguistic interference from both the languages. This work aims to consider and study the
explicit and reflection-based knowledge of the Portuguese Sign Language. This will be
through a comparative approach that will study and explore the meta-linguistic skills that
signers have as a means to access the same knowledge of the broader society. For that reason,
I will study the literacy skills of the person with deafness through his/her interpretation of a
written text. Subsequently, I will examine the linguistic structure of the Portuguese Sign
Language, especially its morphologic and syntactic components.
Key Words: Portuguese Sign Language – LGP, Portuguese Language – LP, Contrastive
Linguistics, Literacy
vii
ABREVIATURAS
LGP – Língua Gestual Portuguesa
LP – Língua Portuguesa
L2 – Língua Segunda
TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação
LSF – Langue des Signes Française
ASL – Americain Sign Language
PL2 – Português Língua Segunda
M1 – Mão Dominante
M2 – Mão Não Dominante
LAD – Language Acquisition Device
SOV – Sujeito-Objeto-Verbo
OSV- Objeto – Sujeito-Verbo
SVO – Sujeito- Verbo-Objeto
OMS- Organização Mundial de Saúde
ASP – Associação de Surdos do Porto
WFD – World Federation of the Deaf
AFAS – Associação Familiar dos Amigos Surdos
INE – Instituto Nacional de Estatística
SNR – Serviço Nacional de Reabilitação
APD – Associação Portuguesa dos Deficientes
DGA – Direção Geral de Assistência
EUA – Estados Unidos da América
SI – Sistema de Informação
viii
ÍNDICE GERAL
Epígrafe ................................................................................................................................................. i
Dedicatória ........................................................................................................................................... ii
AGRADECIMENTOS.............................................................................................................................. iii
RESUMO ............................................................................................................................................... v
ABSTRACT ............................................................................................................................................ vi
ABREVIATURAS ................................................................................................................................... vii
Introdução ........................................................................................................................................... 1
PARTE I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................................... 4
1. Distinção entre Língua e Linguagem ....................................................................................... 5
2. A LGP como uma Língua Natural, Língua Materna, Língua Segunda .................................... 12
3. Ser surdo ............................................................................................................................... 14
4. Deficiência Auditiva e Surdez ................................................................................................ 18
5. Bilinguismo – Concetualização .............................................................................................. 27
PARTE II - MÉTODOS E RESULTADOS ................................................................................................ 30
1. Olhar para Compreender ...................................................................................................... 31
1.1. As Competências Literácitas do Português Mediadas pela Língua Gestual Portuguesa –
Análise de Dados ........................................................................................................................... 31
1.2. Resultados e Discussão ..................................................................................................... 35
1.3. Algumas Considerações..................................................................................................... 39
2. Ver para Ler ........................................................................................................................... 40
2.1. Do Português à Língua Gestual Portuguesa ...................................................................... 40
2.2. Aspetos Morfo-Sintáticos .................................................................................................. 42
2.3. Análise Frásica ................................................................................................................... 43
2.3.1. A Voz Passiva ............................................................................................................................. 43
2.4. Estrutura Suprassegmental da LGP ................................................................................... 56
PARTE III - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 59
Conclusões ........................................................................................................................................ 60
Bibliografia Citada: ............................................................................................................................ 62
Bibliografia Consultada: .................................................................................................................... 66
WEBGRAFIA ....................................................................................................................................... 69
REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS .............................................................................................................. 70
ANEXOS ................................................................................................................................................. i
ix
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Quadro Representativo do nível de surdez: Comité Internacional BIAPOZ e ANSI 19
Quadro 2 – Análise Compreensiva da Leitura Inferida 33
Quadro 3 – Análise da Estrutura Sintática da Produção Linguística dos Informantes 41
Quadro 4 - Variantes Linguísticas em LGP da Frase: A maçã foi comida por mim. 43
Quadro 5 -Variantes Linguísticas em LGP da forma verbal – “foi comida” 44
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Análise de Dados – Texto Informativo 32
Gráfico 2 - Distribuição de Percentagem de Informantes- Estrutura Sintática Utilizada 40
x
INDICE DE FIGURAS
Fig.1- Aparelho Fonador in http://www.panelamusical.com/2010/10/conhecendo-meu-instrumento.html
7
Fig.2- O Ouvido Humano in http://www.aparelhosauditivosecia.com.br 20
Fig. 3 - Níveis de intensidade sonora, em dB (decibéis) in http://audicao.webs.com/ 21
Fig.4 - Prótese Auditiva – In http://todaoferta.uol.com.br/comprar/aparelho-auditivo-amplificador-de-som-1WTWIYMFDV#rmcl
23
Fig.5 - Implante Coclear In http://pedagogiainclusaodevaneiosearte.blogspot.com 23
Fig.6 - “Ana Jorge” in Jornal de Notícias, de 27 de Janeiro de 2011 31
Fig.7 - Gestualização do conceito “Ontem” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 45
Fig.8 - Gestualização da expressão temporal “Semana Passada” retirada do CD – Inferir
pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 45
Fig.9 - Gestualização da expressão temporal “Este verão” retirada do CD – Inferir pelas
Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 46
Fig.10 - Variante A- Gestualização do conceito “Circo” retirada do CD – Inferir pelas
Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 47
Fig.11 - Variante B - Gestualização do conceito “Circo” retirada do CD – Inferir pelas
Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 48
Fig.12 - Variante C - Gestualização do conceito “Circo” retirada do CD – Inferir pelas
Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 48
Fig.13 - Variante A - Gestualização da expressão concetual “Fazer Bolo” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 49
Fig.14 - Variante B - Gestualização da expressão concetual “Fazer Bolo” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 50
Fig.15 - Variante A - Gestualização do conceito “Adorar” retirada do CD – Inferir pelas
Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 51
Fig.16- Variante B - Gestualização do conceito “Adorar” retirada do CD – Inferir pelas
Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 51
Fig.17 - Gestualização do conceito “Bolo” – Variante Dialetal do Porto- retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 51
Fig.18 - Gestualização do conceito “Bolo” – Variante Dialetal de Lisboa - retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 52
Fig.19 - Gestualização do conceito “Amigo” – Variante Dialetal do Porto - retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 53
Fig.20 - Gestualização do conceito “Amigo” – Variante Dialetal de Lisboa - retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional 53
xi
APÊNDICE
CD – Trabalho de Recolha de Dados: Inferir pelas Mãos. A LGP como Sistema
Comunicacional
ANEXOS
Anexo 1 – Ficha de Identificação dos Informantes
Anexo 2 – Instrumento de Recolha de Dados - Frases
Anexo 3 – a, b,c – Configurações da Mão
Anexo 4 – a,b,c – Localizações do Corpo
Anexo 5 – Expressões Faciais
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1
Introdução
Este estudo pretende ser uma contribuição para o conhecimento científico na área da
Linguística Contrastiva1, mais especificamente no âmbito da Língua Gestual Portuguesa
(designada por LGP) e da Língua Portuguesa (designada por LP).
O presente projeto visa ser uma investigação útil para os estudos da LGP e da LP, duas
formas de comunicação coexistentes no mesmo território, mas que, vistas como dois idiomas
plenos e autónomos, carecem de análises que procurem sistematizar o seu valor e a sua
representatividade.
Atentaremos em como o utilizador de Língua Gestual Portuguesa, pessoa surda2,
conceptualiza a informação através do Português mediado pela Língua Gestual Portuguesa.
Com isto, esperamos contribuir para uma melhor compreensão acerca das metalinguagens3
que o sujeito-pessoa surda, usa como ferramenta de acesso ao conhecimento da sociedade
alargada, isto é, como conceptualiza e concretiza os seus conceitos, pois só assim se atinge
Literacia, conceito que mais adiante será explanado no presente trabalho.
Este estudo visa ainda observar as variantes do gesto da Língua Gestual e, também,
num segundo momento, verificar como é que a Língua Gestual Portuguesa, essencialmente a
nível morfológico e sintático, difere da Língua Portuguesa.
Os objetivos específicos deste estudo são:
• Perceber as variações da Língua Gestual Portuguesa.
• Problematizar as interferências linguísticas nos níveis de literacia (compreensão e
leitura dos falantes nativos de Língua Gestual Portuguesa)
De modo a levar a cabo esses objetivos, partimos das seguintes questões centrais do estudo:
- Como é que o surdo acede à informação em Língua Portuguesa usando a Língua
Gestual Portuguesa como veículo de expressão?
1 Linguística Contrastiva é um ramo da Linguística que estuda e compara duas ou mais línguas (ou variantes linguísticas). Para mais informação veja-se Pinel, R. & Moreno, C. (1994) “La Linguistic Contrastiva y el Análises de Errores en la Ensenanza de Espanol a Alumnos de Lengua Materna Alemana in Asele. Actas V, Centro Virtual Cervantes. 2 Referente a utilizadores de Língua Gestual Portuguesa não havendo distinção na sua fluência linguística – informação recolhida no 2º Simpósio em Linguística Aplicada às Línguas Gestuais – Bristol, Julho 2010. 3 Linguagem utlizada para descrever outra linguagem., consultado em www.bfskinner.org.
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- Quais as diferenças estruturantes entre a Língua Gestual Portuguesa e a Língua
Portuguesa ao nível da morfologia e da sintaxe?
Seguidamente, descrevemos a metodologia utilizada neste estudo e explicitamos as
razões para as diversas escolhas metodológicas, elaboradas de acordo com os nossos objetivos
e perguntas de investigação.
O presente projeto relaciona-se, fundamentalmente, com duas áreas: a
conceptualização e a literacia, por um lado, e a organização de dois sistemas linguísticos, ao
nível da morfologia e da sintaxe, por outro.
Neste sentido, este estudo baseia-se numa amostra constituída por vinte e cinco
pessoas surdas4, falantes nativos de Língua Gestual Portuguesa, de regiões distintas. Dos 25
sujeitos convidados para esta pesquisa, dezanove são do Porto, cinco de Lisboa e, uma dos
Açores.
A primeira fase desta recolha de informação consiste na escolha de um texto, escrito
em Língua Portuguesa, no registo de língua corrente, para os utilizadores de Língua Gestual
Portuguesa gestuarem. Foi escolhido um texto informativo para os informantes5 lerem e
posteriormente produzirem aquilo que inferiram.
Deste modo, procurou-se perceber se a pessoa conseguia interpretar um texto numa
Língua Segunda e entender a mensagem que o texto lhe transmitia, reproduzindo a
informação que reteve em Língua Gestual Portuguesa.
Num segundo momento, pretendeu-se que as mesmas pessoas Surdas gestuassem 10
frases6 escritas em português. É nossa intenção perceber as diferenças basilares entre a
organização sintática do Português e da LGP e também se a ordem sintática seria variável ou
fixa de acordo com cada gestuante. Neste item analisámos a polissemia do gesto, a existência
ou não de dialetos, a marcação temporal, a pontuação e, ainda, a flexão verbal.
Os critérios de seleção dos informantes incidiram sobre as suas habilitações literárias
(com ou sem formação académica superior), e o nível etário entre os 25 e os 60 anos de idade,
4 Consultar, em anexo (Anexo 1), ficha de identificação dos sujeitos participantes no estudo. 5 Entende-se por Informante, segundo Spradley (1979) citado por Junior (2005) “falante nativo de uma região”, mas também colaborador que visa fornecer uma “descrição cultural”. Assim, neste estudo, usamos o termo informante relativo à pessoa surda que cede as informações à autora. 6 Consultar o anexo nº2
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de modo a obter uma amostra de pessoas surdas, que sendo jovens e adultos, pudessem
contribuir de uma forma rica e variada para esta investigação.
A variável idade é algo alargada, mas este fato é relevante para problematizar se a
relação com a compreensão do português escrito, nomeadamente ao nível da literacia, e o uso
de estratégias de inferência mudam consoante a faixa etária, logo, de acordo com diferentes
vivências dos informantes. Tendo um leque amplo de idade poder-se-á observar diversas
formas lexicais do mesmo conceito, logo, variedade diafásicas7, diferentes construções
sintáticas e processos morfológicos que poderão ser motivadas pela idade do informante.
A variável formação académica não obedece a nenhum princípio rígido uma vez que,
tendo várias formações diversificadas, poderemos analisar se estas influenciam a
compreensão leitora e a criação de metalinguagens.
Espera-se que este trabalho seja para todos nós uma mais-valia e que nos ajude a
refletir e a aprofundar o conhecimento explícito8 e reflexivo da LGP e, também, as
competências metalinguísticas dos seus utilizadores, pessoas surdas.
7 Nível de linguagem de cada gestuante que pode ser formal, informal ou coloquial. 8 Por Conhecimento Explícito entenda-se “progressiva consciencialização e sistematização do conhecimento implícito no uso da língua” In Sim-Sim et al (1997). Língua Materna na Educação Básica. Competências
Nucleares e Níveis de Desempenho. Lisboa: Ministério da Educação, p12.
PARTE I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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1. Distinção entre Língua e Linguagem
Segundo Chomsky (2006), defensor da teoria maturacionista, a linguagem desenvolve-
se graças às capacidades inatas da criança. Deste modo, defende-se que a criança nasce com
as estruturas necessárias ao despertar da linguagem e que por isso dispensa o ensino e apenas
exige tempo e condições normais para se desenvolver. Os nativistas, defensores da corrente
Chomskiana, assentam em pressupostos como a criatividade que a criança mostra, nas suas
competências linguísticas, utilizando enunciados nunca ouvidos ou pronunciados por alguém.
Chomsky defende que todo o ser humano nasce equipado com um dispositivo (LAD)
que lhe permite em condições normais adquirir as estruturas da linguagem e fazer a
aprendizagem sem que ninguém lhe ensine - para isso basta que a criança disponha de
condições normais e de tempo, rejeitando assim os factores ambientais. Este autor fala-nos
também em universais da língua o que dá origem ao entendimento da criança como um ser
que pensa, modifica e desenvolve conceitos por si próprio sem que ninguém lhos ensine. Esta
posição de Chomsky tem merecido algumas críticas quer dos que a acham reducionista, quer
dos que discordam da existência de qualquer dispositivo inato. Por exemplo, há a corrente
Behaviorista, baseada nos pressupostos de Skinner, ou seja, a capacidade da linguagem é
entendida não como capacidade inata, mas como resultado de um processo aprendizagem, em
que intervêm estímulos/respostas9.
Neste estudo seguimos a perspectiva de Noam Chomsky, uma vez que esta tem vindo
a ser seguida em diversos estudos sobre a linguagem e, também, linguagem e surdez (Santana,
2007).
A linguagem está localizada no cérebro e é inata ao homem sendo, portanto, a
faculdade de comunicação própria dos seres humanos. O ser humano tem características
biológicas para uma compreensão, percepção e produção da linguagem. Esta é, ainda, uma
propriedade única, inalterável e comum a toda a humanidade.
De fato, por Linguagem entende-se a capacidade inata, localizada sensivelmente no
hemisfério esquerdo, que o ser humano tem em utilizar e compreender uma língua, sistema
organizados de signos arbitrários e convencionais partilhados por uma comunidade (Fromkin
& Rodman, 1993).
9 Veja-se Skinner (1945).
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Para a fala ser produzida servimo-nos do aparelho fonador (dos pulmões ao nariz) e do
cérebro que compreende a mensagem. No caso dos das pessoas surdas é através das mãos e
dos olhos. O que permite (quer para) os ouvintes (como para) os surdos perceber as
mensagens é o cérebro, mais especificamente o hemisfério esquerdo (para compreender),
onde se situa, como já dissemos, a zona da linguagem.
Serrão (2006) evidencia que os especialistas em Antropologia evolutiva afirmam que o
Homo Erectus, durante cerca de 2 milhões de anos, não dispôs de linguagem simbólica, não
falava, mas que desenvolveu capacidades cognitivas e expressivas que prepararam o cérebro,
assim como os órgãos do aparelho fonador para a emergência da palavra, esta inicialmente
como instrumento de representação das coisas e, posteriormente, dos acontecimentos e do seu
significado.
O aparelho fonador (Barroso,1999) é constituído pelas seguintes partes:
Os pulmões, os brônquios e a traqueia – estes são os órgãos respiratórios que fornecem a
corrente de ar, ou seja, a matéria-prima da fonação;
• A laringe é o lugar onde se localizam as cordas vocais, que produzem a energia sonora
utilizada na fala;
• As cavidades (faringe, boca e fossas nasais) que funcionam como caixa-de
ressonância, uma vez que a cavidade bucal pode variar de forma e de volume, graças
aos movimentos dos órgãos activos, sobretudo da língua, importantíssimos na
fonação, tornando-se sinónimo de idioma.
O Aparelho Fonador funciona do seguinte modo: o ar é expelido dos pulmões por via
dos brônquios, penetra na traqueia e chega à laringe, onde, ao atravessar a glote, costuma
encontrar o primeiro obstáculo à sua passagem. A glote fica na altura da maçã-de-adão e é a
abertura entre as duas pregas musculares das paredes superiores da laringe, conhecidas com o
nome de cordas vocais. O fluxo de ar pode encontrar esta abertura aberta ou fechada. Se
estiver aberta, o ar força a passagem através das cordas vocais retesadas, fazendo-as vibrar e
produzir o som musical característico das articulações sonoras. Se a abertura estiver fechada,
as cordas vocais estão relaxadas e o ar escapa-se sem vibrações da laringe. Assim, as
articulações produzidas denominam-se não-vozeadas.
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Por Língua entende-se que seja o instrumento de comunicação e um sistema10
organizado de signos11 arbitrários uma vez que não existe relação direta entre o signo e o
mundo/ objecto representado, há muitas maneiras de representar um objeto, e convencionais
pois tem um conjunto de normas, regras que definem a língua. Por exemplo, o conceito de
peixe é arbitrário porque não existe relação direta entre o signo e o objeto. (Fromkim &
Rodman, 1993).
Saussure, fundador da Linguística, considera que a Linguagem é formada pela Língua
e pela Fala. Para ele, “ língua é o aspeto social da linguagem, já que é compartilhada por todos
os falantes de uma comunidade linguística” enquanto para o mesmo autor, a fala releva os
aspectos/características individuais que cada um aplica na utilização da sua linguagem.
A língua é a parte social da linguagem, exterior ao individuo, e este, por si só, não
pode criá-la nem modificá-la; ela só existe em virtude de um contrato assinado entre os
membros da comunidade. A língua, distinta da fala, é um objecto que se pode estudar
separadamente.
10 Conjunto de sons ou gestos que formam palavras, frases ou texto. 11 Entende-se por “Signo Linguístico” o mesmo que palavra biface, isto é, tem duas faces: o significado, imagem mental, conceito; o significante, imagem acústica ou imagem gestual.
Fig 1 - Aparelho Fonador
In http://www.panelamusical.com/2010/10/conhecendo-meu-instrumento.html
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Pensando na importância do ensino ou transmissão de uma língua com vista ao
desenvolvimento linguístico e estruturação do pensamento do surdo, importa referir que:
“a aquisição de itens lexicais e das regras gramaticais não determina o término da aquisição da linguagem pela criança, ao contrário, este é o ponto de partida, a partir do qual ocorrem diversas modificações na utilização que o indivíduo faz destas palavras. Para os surdos que são educados unicamente pela língua oral, os mesmos têm grande dificuldade em perceber que a língua não é formada por signos que representam directamente a relação entre o significado e significante” (Goldfield, 2002, p.65).
Os elementos prosódicos da fala; entoação, ritmo e intensidade comportam
informação/sentido que os surdos espontaneamente e auditivamente não podem aceder. O
único meio dito natural, em que a língua transmite aos surdos todas as mudanças de
significados inerentes à mesma, é a língua gestual. Só desse modo é que podem perceber que
as palavras podem assumir sentidos diferentes nos distintos contextos, incorporando então um
novo sentido para uma palavra.
Uma vez que o processo de aquisição da língua, por parte dos surdos, decorre de uma
forma mais lenta, caso estejam a adquirir uma língua oral, surgem mais e maiores entraves à
sua experiência cognitiva e linguística, bem como certas restrições à sua educação e contactos
sociais. O surdo vê-se, assim, rodeado de uma série de obstáculos que não lhe permitem
integrar-se normalmente na sociedade, como é o caso da reduzida capacidade de comunicação
verbal.
Comunicar, na expressão assertiva de (Guerreiro, 2007, p.14), significa:
"a permutabilidade de conhecimentos, reciprocidade intercompreensiva de mensagens apresentadas sob vários aspectos, legitimando o sentido e a condição de toda a vida social, sendo um processo essencial, não só da socialização, mas também da formação do indivíduo, atendendo a que este adquire consciência de si próprio, à medida que interioriza, exercita e consolida posturas e comportamentos nas trocas significacionais com os seus semelhantes".
Sobre a complexidade do conceito de comunicação e a respectiva evolução teórica ao
longo dos tempos, basta revisitarmos o amplo e sempre a crescer "estado de arte" a propósito
das cerca de mil e quinhentas teorias comunicacionais mais universalmente aceites, um
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número já considerável na diversidade das tradições, práticas e doutrinas em que têm vindo a
elaborar-se definições e teorias (Guerreiro, 2010). Verificamos que essa dimensão cognitiva
tem abrangido domínios desde a "teologia" à "filosofia", da "antropologia" à "sociologia", da
"linguística" à "psicologia", da "ciência política" ao "direito", até uma reflexão sobre as
relações entre comunicação e sociedade, com preponderante relevância para a comunicação
directa, técnica e social, comunicação linguística, aumentativa e alternativa, produtos
tecnológicos de apoio e meios humanos auxiliares e veículos de comunicação especial, em
cujos domínios ocorrem reflexões com uma heterogeneidade de importante interesse
científico e tecnológico, pedagógico e cultural e de sensibilização pública para o
estabelecimento da comunicação multidimensional, pluriétnica e intercultural, em que
ninguém se ache vazio de conhecimento e de saber, de intervenção na vida em igualdade de
circunstâncias e de oportunidades, desde que tenha, é claro, potencialidades, competências,
capacidades para inteligir e interagir com profundidade em tudo o que somos e em tudo o que
nos rodeia. (ibid.)
Todos estes vetores são determinantes para se conhecer com maior clareza os
utilizadores de comunicação alternativa e aumentativa e estabelecer de facto com eles o
propósito da comunicação, que é o de estabelecer interações que lhe permitam aprender,
desenvolver uma linguagem interior, exprimir-se e inserir-se na sociedade com uma real e
efetiva participação ativa, deixando de simbolizarem seres não pensantes, não colaborantes,
sem iniciativa própria, sempre submissos à vontade de outrem não potenciando e incentivando
neles a sua autodeterminação e consequentemente as possíveis autonomia e independência
que fazem do ser humano um ser único no mundo em que habitamos.
São necessários cuidados especiais não só por parte da família, mas também da escola
e, mesmo dos meios de comunicação social, de modo a verificar-se uma plena socialização do
surdo na realidade envolvente. Sem a linguagem, um instrumento crucial para a socialização,
torna-se difícil ultrapassar o plano da existência individual.
A Língua Gestual Portuguesa só foi considerada a Língua da Comunidade surda a
partir de 15 de Novembro, no artigo 74º, alínea h, da Constituição da Republica Portuguesa
(DR 1º Série A – nº 218 – 20/09/1997) - “Proteger e valorizar a língua gestual portuguesa,
enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de
oportunidades.”
Além disso, a Língua Gestual Portuguesa recebeu o estatuto de Língua de ensino dos
surdos, porque possuiu uma comunidade de falantes nativos, isto é, a comunidade surda.
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Os trabalhos desenvolvidos por Stokoe, a partir dos anos 60, foram os primeiros a
sustentar o que hoje é uma evidência inegável: os surdos possuem a sua própria Língua que
adquirem de forma natural, sempre que expostos a um ambiente linguístico favorável, ou seja,
um ambiente que lhes permita a aquisição e o desenvolvimento da sua própria língua. As
línguas gestuais utilizam uma modalidade de percepção e de produção diferente das línguas
orais. Enquanto nas línguas orais o input é auditivo, nas línguas gestuais ele é visual.
Relativamente ao output, nas línguas gestuais este é manual e não oral. Esta diferença de
percepção e de produção linguística levou a que as línguas gestuais não fossem consideradas
como “verdadeiras línguas”.
Apesar de a LGP ter muitas propriedades comuns a outras línguas naturais, as línguas
gestuais têm características próprias donde se destacam a modalidade motora (mãos, face e
corpo) e uma modalidade de percepção visual. Estas modalidades conferem um estatuto
diferente às línguas gestuais relativamente às línguas faladas e dificultam a percepção da sua
compreensão enquanto sistema linguístico pelos ouvintes.
A Língua Gestual Portuguesa tem o estatuto de uma língua autêntica e é a língua
natural e visual dos surdos. A LGP é falada através do espaço tridimensional, possuindo uma
estrutura gramatical tão rica como qualquer língua oral, ou seja, a LGP engloba parâmetros
fonológicos12, morfológicos, sintáticos e semânticos. “ A Língua Gestual Portuguesa possui
fonética, fonologia, sintaxe, semântica, morfologia, etc., daí que comunicar através da língua
gestual impõe 52 configurações da mão13, 18 localizações do corpo14 e outras tantas
expressões faciais15 e corporais.” (Amaral et al, 1994, pp.37-38).
A Língua Gestual Portuguesa possui como qualquer língua oral:
• Fonética (ciência que estuda os sons, mas em vez destes, temos gestos articulados);
• Fonologia (estudo da organização dos sons da língua, mas em vez de fonemas que
servem para diferenciar a forma sonora das palavras temos elementos de outra
natureza que cumprem com a mesma função diferenciadora da forma visual das
palavras);
12 CORREIA, I. - Querologia da LGP? Surdos Notícias. Lisboa: Edição e Propriedade de Federação Portuguesa das Associações de Surdos. nº4 (2010), p.15. 13 A configuração é uma das principais categorias a considerar no gesto. De seguida, apresentamos algumas propostas das configurações existentes em LGP, de modo a exemplificar como tem evoluído ao longo do tempo. (Anexos nºs 3 a,b,c) 14 A localização é considerada uma das principais categorias da fonologia em Língua Gestual podendo assumir duas caraterísticas que são o ponto e o modo de contacto. (Anexos nºs 4 a, b,c) 15 Consultar anexo nº5
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• Léxico (um vocabulário);
• Sintaxe (ciência que estuda a estrutura, regras para a construção das frases);
• Semântica (significado das palavras e frases);
• Pragmática (modos de utilização da língua adequados à expressão individual e à
comunicação entre pessoas) que lhes são próprias;
• Prosódia (a expressão facial e corporal é fundamental nas línguas gestuais que por si
só tem significado).
Todas estas componentes da Língua Gestual tiram partido do espaço tridimensional onde
os gestos são produzidos e percepcionados através da visão, porque se trata essencialmente de
uma Língua Visual, onde o som não desempenha qualquer papel produtivo. A comunicação
pode ser silenciosa, mas é sempre intencional, isto é, passamos sempre uma mensagem – Não
podemos não comunicar! (Guerreiro, 2011)
A LGP permite conduzir a pessoa surda a um rápido e completo desenvolvimento
cognitivo e julga-se que o ensino da pessoa surda, através da Língua Gestual portuguesa
obtém melhores resultados na composição da escrita e na comunicação em geral. Portanto, a
Língua Gestual é a língua “materna” da comunidade surda e é muito importante que esta seja
aprendida por todos, nomeadamente, pelos pais, familiares, amigos, professores, educadores,
técnicos, entre outros, de modo a que a pessoa surda desde cedo possa comunicar com todos
os que a rodeiam e possa ser facilmente integrada na sociedade sem preconceitos.
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2. A LGP como uma Língua Natural, Língua Materna, Língua Segunda
Pelo mundo inteiro, onde quer que haja um grupo de surdos, depressa se estabelece
uma comunidade linguística autónoma, independentemente da aceitação social da língua.
A faculdade da linguagem nos humanos manifesta-se e concretiza-se nas línguas
naturais uma vez que é o que distingue os seres humanos do resto das espécies e, esta pode-se
falar, gestuar, ouvir, ver. Trata-se de um sistema de sinais convencionais (signos arbitrários)
organizado em dois níveis sendo que primeiro nível é o do som/gesto e, o segundo nível é o
do significado. “Por Língua Natural entenda-se o sistema de comunicação verbal que se
desenvolve espontaneamente no interior de uma comunidade.” (Correia, 2010)
E assim aconteceu em Portugal, onde a Língua Gestual Portuguesa (LGP) começou
por ser a língua clandestina de crianças e jovens surdos, que na idade adulta, se reuniam em
associações. Aos poucos a Língua Gestual, emergente da necessidade comunicativa de quem
não está em contacto espontâneo com a oralidade, vai atribuindo significados distintos a
signos, que começam por ser simbólicos, mas que se vão tornando cada vez mais arbitrários.
“A Língua Gestual Portuguesa é um sistema de signos arbitrários e convencionais que são
organizados, são o veículo natural de expressão da comunidade surda” (ibid.). A um nível
cognitivo superior, o surdo é capaz de referir objectos ausentes e abstractos, assim como
distanciar eventos no tempo. Quanto mais complexo se torna o sistema linguístico, maior é a
sua produtividade e, ao tornar-se num sistema de regras fixas, impulsiona intuitivamente a
transmissão cultural da língua de geração em geração, o que permite a sua evolução e
enriquecimento. As línguas naturais permitem-nos falar de acontecimentos que não estão
presentes, afastados pelo tempo e pelo espaço.
A Língua Materna é aquela que a criança adquire no meio familiar sem necessidade de
aprendizagem formal. “Língua Segunda é o veículo de comunicação que o sujeito necessita
para se inserir numa comunidade mais abrangente. Por exemplo, um cidadão romeno que
habite em Portugal deve dominar o português de forma a compreender e a fazer-se
compreender com sucesso.” (ibid.).
Em suma, importa dizer que a aquisição da Língua Portuguesa pelos surdos é um processo
de aquisição de uma segunda língua, a qual é chamada por Quadros (1997) de Língua
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Segunda (L2), o que acaba por dificultar a compreensão de textos escritos na estrutura da
Língua Portuguesa.
A Língua Gestual existe em Portugal, há incontáveis gerações. Mas por ser usada por uma
minoria, ela, pura e simplesmente, aos olhos do cidadão comum, não existia.
Diz-se, entre os surdos, que a sua língua surgiu a partir do momento em que os dois
primeiros surdos se encontraram. Indetectável no tempo e na história, este encontro é, no
entanto, citado com muito orgulho, como reforço do valor atribuído à língua gestual, um dos
elos mais fortes da “identidade surda”. Os registos mais antigos que encontrámos sobre a
língua gestual portuguesa datam do final do século XV. Outros mais antigos existirão,
certamente. (Almeida, 2006). Em Portugal só se começou a promover a Língua Gestual
Portuguesa (LGP) depois do 25 de Abril, tendo sido realizada a primeira experiência bilingue
no Instituto Jacob Rodrigues Pereira, em 1983-85.
A LGP é um sistema organizado com modalidade de produção e de percepção diferente,
mas que é constituída por elementos comparáveis que se regem por regras gramaticais
idênticas.
A LGP prova que é uma língua igual em si e por si, independente da Língua Portuguesa –
ou mesmo de qualquer língua falada – quer na estrutura quer no vocabulário. Citando I. King
Jordan, o primeiro reitor surdo da Universidade de Gallaudet, “os surdos podem fazer tudo o
que os ouvintes fazem, excepto ouvir” (Sacks, 1998, p.171).
O reconhecimento constitucional da Língua gestual portuguesa foi um passo importante
na comunidade surda, mas são necessários outros passos igualmente importantes para que
haja uma verdadeira mudança na sociedade portuguesa.
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3. Ser surdo
Neste capítulo do nosso trabalho vamos equacionar a conceção de surdez. Num
primeiro momento apresentamos o que é “ser surdo” seguindo um ponto de vista
antropológico ou seja, que privilegia a surdez enquanto caraterística cultural de uma
comunidade. Num segundo momento, observaremos a definição de surdez do ponto de vista
médico/fisiológico, isto é, enquanto deficiência auditiva. Este estudo pretende ser isento
fornecendo assim diversos pontos de vista sobre a surdez. Todavia, a perspetiva que adotamos
é aquela que encara o “ser surdo” como alguém com identidade determinada pela língua que
usa e/ou pela comunidade em que se insere.
Estima-se que 42 milhões de pessoas acima de 3 anos de idade são portadoras de algum tipo
de deficiência auditiva, de moderada a profunda (OMS). (Dados estatísticos da Associação de
Surdos do Porto)
Em 1934 foi criado um Grupo Recreativo de Surdos – Mudos do Porto, que mais
tarde, em 1951 se recriou como sendo o Grupo Desportivo de Surdos – Mudos do Porto. Em
1974 o Grupo Desportivo de Surdos – Mudos do Porto passou a ser uma Delegação da
Associação Portuguesa de Surdos. Foi a 9 de Agosto de 1995 que a Associação de Surdos do
Porto (ASP) ganhou o nome que ainda hoje mantém e tem vindo a exercer ao longo destes
anos de trabalho em prol da Comunidade Surda da sua região.
O número de pessoas Surdas no mundo varia de acordo com a literatura que se
consulta, porque muito depende da definição de surdo considerada. As estimativas vão deste
4/5 milhões de utilizadores de línguas gestuais no mundo (Ladd, 2003) a 70 milhões de
pessoas que, em todo o planeta, são sócios da Federação Mundial de Surdos (WFD).Em
Portugal, o número de pessoas surdas é desconhecido porque ainda não foi realizado um
recenseamento que inclua esta categoria. O último recenseamento, em 2001, refere somente a
parte da população Portuguesa que é audiologicamente surda ou tem qualquer tipo de défice
auditivo (INE, 2002). Por ano, nascem aproximadamente 120 crianças surdas em Portugal
(AFAS, 2006) e, de acordo com um estudo recente, as pessoas com deficiência auditiva e as
pessoas surdas são aproximadamente 115 mil (SNR e INE, 2005) do número total de
Portugueses com deficiência. Os membros da comunidade Surda Portuguesa encontram-se
dentro deste grupo.
As comunidades Surdas caracterizam-se pelo uso das suas línguas gestuais nacionais,
que são aprendidas ou adquiridas como uma primeira língua pelas crianças Surdas,
dependendo de terem ou não pais surdos (Ladd, 2003).
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A língua gestual é utilizada de maneiras diferentes, uma vez que as pessoas Surdas
variam muito em termos dos seus trajetos pessoais de vida, dos caminhos através dos quais
aprendem a sua língua materna. As pessoas Surdas podem ser monolingues em língua gestual,
bilingues com um domínio maior da língua oral do seu país do que da língua gestual nacional,
ou ainda bilingues com um domínio maior da língua gestual nacional do que da língua oral do
seu país (Lane et al, 1996). Há pessoas surdas que escrevem e lêem sem dificuldades de
índole semântica/morfológica e que também conseguem fazer uma leitura labial perfeita.
Contudo, a língua-materna, a língua natural da pessoa surda em Portugal, é a LGP, sendo
nessa modalidade comunicacional que se deve investir.
Citando Baltazar, “Sabemos pela nossa própria experiência, como uma criança
prospera e se desenvolve quando centramos a atenção no seu ponto forte: a Língua Gestual.
(…) Língua é cultura; a Língua Gestual é sinónimo da Cultura da comunidade surda: deixem
as crianças surdas seguirem o seu caminho natural em direcção à sua língua – mãe, à sua
cultura, à sua comunidade. (Baltazar, 1998, p.138).”
A Língua Gestual Portuguesa e a cultura da comunidade surda constituem um
património valioso dos surdos portugueses. O reconhecimento das entidades oficiais apenas
veio reforçar o valor que a língua e a cultura dos surdos já representava para os membros da
comunidade surda portuguesa. (Almeida, 2007)
Segundo a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (2009), um indivíduo
com deficiência caracteriza-se por ter uma ou várias limitações físicas ou sensoriais,
temporárias ou definitivas, resultantes do intercâmbio entre as barreiras comportamentais e
atitudinais de outrem e as barreiras ambientais, sendo que estes indivíduos devem gozar do
pleno gozo de todos os direitos bem como das liberdades fundamentais dos seres humanos,
consagrados nos diversos documentos produzidos pela Organização das Nações Unidas e
também na Constituição da República Portuguesa (1986), devendo ser propiciadas
circunstâncias de igualdade de oportunidades em todas as áreas da vida, incrementando
sempre a sua autonomia, quer seja na tomada de decisões, quer seja em termos práticos, sem
qualquer tipo de discriminação.
As Novas Tecnologias são autênticos desafios contemporâneos, com a finalidade cada
vez maior de combater a info-exclusão, promovendo, assim, a acessibilidade plena de todos
os indivíduos ao TIC, bem como a produtos, equipamentos, softwares e serviços adaptados a
quem tem necessidades especiais. Por conseguinte, a Sociedade da Informação (SI) deve
desenvolver-se para todos
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Se em termos médicos a Surdez é definida como uma deficiência, em termos culturais
e sociais ela deve ser encarada como uma identidade cultural, e a pessoa surda como um
indivíduo pertencendo a uma comunidade linguística minoritária. Um pouco por todo o
mundo, no último Domingo de Setembro comemora-se o Dia Mundial do Surdo para
relembrar a todos o respeito que a Comunidade Surda nos merece enquanto cidadãos de
plenos direitos.
A Surdez é, portanto, a base sobre a qual se constrói toda a estrutura da Cultura e
Identidade Surda. Para tal é, no entanto, fundamental que a pessoa surda aceite a sua condição
de Surdez. O que é afinal a Identidade Surda? Vejamos a resposta que um surdo deu quando
questionado aquando da realização da tese de doutoramento de Santana (2007):
“José (nome fictício): A Identidade Surda é aceitar ser surdo. Se a pessoa não aceita
ser Surda, só, não tem identidade própria. É…ele fica revoltado. Não aceita. Ele tem vergonha
de ser surdo. Eu não… Eu não tenho vergonha de ser surdo. Eu exponho o meu problema, o
que foi que causou. Então, eu exponho minha identidade de surdo…”
É curioso ver como do ponto de vista da pessoa ouvinte, surdo é aquele que não ouve;
mas do ponto de vista da pessoa surda, surdo é alguém que fala Língua Gestual. A identidade
surda tem assim como expoente máximo a Língua Gestual, o idioma natural dos surdos por
ser uma língua visual e motora, e não uma língua auditiva. Desta forma se conclui que sem
Surdez, não há identidade Surda. Por seu lado, sem Identidade Surda não há Língua Gestual e
sem Língua Gestual não há Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa.
De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa (Dicionário das Línguas
Portuguesas Contemporâneas – Academia das Ciências de Lisboa), o Intérprete é aquele “que
transpõe um texto de uma língua para a outra” ou, melhor ainda, aquele “que permite, como
intermediário, a comunicação oral entre pessoas que não dispõem de uma língua comum,
traduzindo para o idioma de cada uma o que a outra diz”.
Ora, o Intérprete de Língua Gestual tem a mesma função, mas com a particularidade
de ser intermediário numa comunicação com a dupla vertente oral e gestual.
No dia 20 de Maio de 1999 foi aprovada a legislação que, promulgada a 22 de Junho
de 1999 pelo Presidente da República e referendada a 24 de Junho de 1999 pelo Primeiro-
ministro, homologava a Profissão do Intérprete de Língua Gestual Portuguesa na Constituição
da República Portuguesa, consagrando as características do Intérprete enquanto profissional.
Assim, considera-se Intérprete de Língua Gestual o profissional que interpreta e traduz
a informação de Língua Gestual para a língua oral ou escrita e vice-versa, de forma a
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assegurar a comunicação entre surdos e ouvintes. A função do intérprete passa então por
certificar-se de que surdos e ouvintes têm acesso às informações emitidas e comunicam tudo o
que pretenderem.
Segundo Guerreiro (2011), no âmbito de uma comunicação no Congresso de
Comunicação Alternativa e Aumentativa, só comunicando, seja por que forma possível for,
partilhamos saber e conhecimento e nos afirmamos com a justificação crítica dos nossos
discursos e acções, estabelecendo intercompreensão em todas as áreas do saber, no geral e em
particular.
Só comunicando, nos podemos sentir e assumir como responsáveis e lúcidos
intervenientes na promoção equilibrada da vida humana.
Só comunicando, nos consciencializamos e pugnamos por resultados inovadores e
criativos para o bem-estar social de todos os cidadãos e nos impomos como "paraísos"
dialogantes que somos na beleza interior de cada um, numa reciprocidade de valores e de
dignidade humana que engrandece as pessoas e o mundo.
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4. Deficiência Auditiva e Surdez
No que diz respeito à deficiência auditiva e à surdez, estas implicam a redução total ou
parcial da capacidade auditiva, envolvendo o ouvido médio (mecânica, condutiva) ou o
ouvido interno (nervo, sensorioneural).
A perda da audição pode ser classificada em condutiva ou de transmissão (geralmente
resultante de alguma anormalidade no ouvido externo ou médio), sensorioneural ou de
percepção (geralmente resultante de alguma anormalidade no ouvido interno, nervo auditivo
ou cérebro) ou mista (com características de perda auditiva condutiva e sensorioneural).
A perda auditiva condutiva é o tipo mais comum de perda auditiva temporária. A
perda da audição é uma deterioração desta função, enquanto a surdez é uma perda auditiva
profunda. A perda da audição pode ser causada por um problema mecânico no canal auditivo
ou no ouvido médio que obstrói a condução do som (perda condutiva de audição) ou por uma
lesão no ouvido interno, no nervo auditivo ou nas vias no nervo auditivo no cérebro (perda
neuro-sensorial da audição).
A perda auditiva condutiva ocorre quando as ondas sonoras não podem ser
transmitidas para o ouvido interno. A perda auditiva neuro-sensorial denomina-se sensorial
quando afeta o ouvido interno e neural e quando afecta o nervo auditivo ou as vias do nervo
auditivo localizadas no cérebro. A perda auditiva sensorial pode ser hereditária, pode ser
provocada por poluição sonora, por uma infecção viral do ouvido interno, entre outros. A
perda auditiva neural pode ser causada por tumores cerebrais que também danificam os
nervos circundantes e o tronco cerebral. Os tumores do ouvido não são comuns e ocorrem,
principalmente no ouvido externo.
A surdez sensorioneural resulta do dano do ouvido interno ou dos feixes nervosos
transmissores de mensagens ao cérebro. A surdez mista revela problemas na transmissão e
percepção do som. Consoante o grau, a surdez pode ser subdividida em: ligeira,
média/moderada, severa, profunda (1.º,2.º,3.ºgrau) e total, tal como podemos verificar no
Quadro 1.
Usualmente, os três primeiros tipos de surdez são designados por surdez parcial.
Apresentamos um quadro representativo de duas classificações internacionais: Comité
Internacional BIAPOZ e ANSI.
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Quadro 1: Quadro representativo de duas classificações internacionais: Comité Internacional
BIAPOZ e ANSI (in www.surduniverso.pt)
A deficiência auditiva é considerada genericamente como a diferença existente entre a
performance do indivíduo e a habilidade normal para a deteção sonora de acordo com padrões
estabelecidos pela American National Standards Institute (ANSI – 1989).
A audição é a capacidade de perceção e análise do som. O som é apreendido pelo
ouvido e analisado pelo cérebro. O som consiste em variações de pressão que se propagam no
ar sob a forma de ondas sonoras.
O ouvido externo, o canal auditivo e o ouvido médio amplificam as ondas sonoras, que
fazem vibrar o tímpano. Estas vibrações do tímpano são transmitidas ao estribo pelo martelo e
pela bigorna. O estribo move-se para trás e para diante como um "pistão", movendo o fluido
existente no ouvido interno. Na cóclea, estes movimentos ondulares agitam os filamentos
(cílios das células ciliadas do ouvido interno). Ao serem estimuladas, as células ciliadas
enviam impulsos nervosos para o cérebro, através do nervo auditivo.
A frequência do som determina qual o grupo de células ciliadas que é estimulado, o
que permite distinguir os diferentes sons. Se as células ciliadas se danificarem devido à idade,
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Fig.2: O Ouvido Humano in http://www.aparelhosauditivosecia.com.br
doença ou trauma auditivo, a pessoa terá dificuldades em ouvir e diferenciar os sons. As
células ciliadas danificadas não se regeneram.
Os movimentos ondulares do fluido na cóclea transmitem-se às células ciliadas do
ouvido interno. Ao serem estimuladas, essas células enviam impulsos nervosos para o
cérebro, através do nervo auditivo, conforme se pode observar na Fig. 2.
Os testes auditivos podem ser feitos no consultório médico, mas a melhor maneira de
testar a audição é através de uma câmara insonorizada e com um audiometrista (especialista
na perda de audição), utilizando um dispositivo electrónico (um audiómetro) que produz sons
a frequências específicas (tons puros) e volumes determinados.
A Fig.3 retrata a quantificação dos níveis de energia sonora (em decibéis), do conjunto
de alguns dos sons audíveis pelo ser humano. A capacidade de audição humana permite
detetar sons com frequências compreendidas entre os 20Hz e os 20Khz.
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Fig.3: Níveis de intensidade sonora, em dB (decibéis) in http://audicao.webs.com/
De acordo com os resultados do Censo 2001 existirão, em Portugal, cerca de 634.408
pessoas com deficiência. O conceito de deficiência, de acordo com a Organização Mundial de
Saúde (OMS), corresponde a qualquer perda ou anomalia de uma função ou de uma estrutura
psicológica, fisiológica ou anatómica.
Segundo a Associação Portuguesa de Deficientes (APD), o conceito de deficiência
resume “um grande número de diferentes limitações que se registam nas populações de todos
os países do mundo. A deficiência pode revestir a forma de uma limitação física, intelectual
ou sensorial, uma doença que requeira atenção médica ou enfermidade mental. Tais
limitações, doenças ou enfermidades podem ser de carácter permanente ou transitório”,
considerando também que o indivíduo portador de deficiência é “uma pessoa de corpo inteiro,
colocada em situação de desvantagem ocasionado por barreiras físicas / ambientais,
económicas e sociais que a pessoa, por causa das suas especificidades não pode transpor com
as mesmas prerrogativas que os outros cidadãos”.
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Segundo Dorziat (2003), a deficiência auditiva e/ou surdez é “a redução total ou
parcial da capacidade auditiva” (p.1), podendo-se distinguir vários níveis, adotando a escala
de BIAPOZ e ANSI:
1. Deficiência auditiva ligeira, com perda de 20 a 40 decibéis – as pessoas visadas
são consideradas desatentas e distraídas. Por não perceberem todos os sons da
palavra, principalmente, a voz fraca e distante, olham sempre para o rosto de quem
está a falar. É usual a solicitação da repetição de informações.
2. Deficiência auditiva média, com perda de 40 a 70 decibéis – para se compreender
a fala, é necessário uma voz forte, principalmente, em ambientes ruidosos. As
dificuldades na compreensão da fala são mais notadas quando em frases
complexas, envolvendo expressões abstratas, artigos, pronomes, conjunções, entres
outros. Geralmente, deverá haver um apoio visual para o entendimento da
mensagem.
3. Deficiência auditiva severa, com perda de 70 a 90 decibéis – só se percebem
vozes muito fortes e alguns ruídos do ambiente familiar. Verifica-se uma
dependência da compreensão verbal em relação ao apoio visual e à observação do
contexto em que se desenvolve a comunicação.
4. Deficiência auditiva profunda, com perda auditiva superior a 90 decibéis –
impossibilidade de identificação da voz humana. Não se adquire uma linguagem,
naturalmente no ambiente familiar, assim como não se adquire fala para a
comunicação, devido à ausência de modelo.
O tratamento da perda auditiva depende da causa. Na maioria dos casos, não há cura.
Nestes casos, o tratamento consiste em compensar essa perda com uma prótese auditiva. Esta
contém um microfone para receber sons, um amplificador para aumentar o seu volume e um
altifalante para transmitir os sons amplificados, tal como podemos observar na Fig.4.
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Por outro lado, o implante coclear (Fig.5) é um dispositivo auditivo para as pessoas
profundamente surdas e é formado por uma espiral interna, eléctrodos, uma espiral externa,
um processador de palavras e um microfone.
4. Breve Abordagem Histórica da Educação dos Surdos
A importância da Língua Gestual no desenvolvimento da criança com deficiência
auditiva só terá sido reconhecida no século XVIII, em França por Abbé de l´Epée (1712-
1789) que criou a primeira escola pública para ensinar os surdos provenientes de meios
Fig.4. Prótese Auditiva
In http://todaoferta.uol.com.br/comprar/aparelho-auditivo-amplificador-de-som-1WTWIYMFDV#rmcl
Fig.5. Implante Coclear
In http://pedagogiainclusaodevaneiosearte.blogspot.com
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sociais desfavorecidos. Em contato com eles, reconheceu o valor da Língua Gestual. A partir
desse reconhecimento, criou um sistema de gestos, a que chamou “gestos metódicos”, que
correspondiam às características gramaticais, sintáticas e morfológicas da Língua Francesa,
onde procurou fomentar a Língua Gestual Francesa (LSF – Langue de Signes Française).
Abbé de l´Epée, abade e deputado do parlamento, decidiu ensinar duas irmãs gémeas
surdas e ficou impressionado pelo modo como o gestuar das irmãs permitia que
comunicassem entre si, razão pela qual passou a defender que a Língua Gestual era a
modalidade natural de comunicação para os surdos e que era capaz de transmitir o
pensamento humano como qualquer língua oral (Ladd, 2003).
L'Epée adicionou gestos de sua própria autoria e o alfabeto manual ao que havia
aprendido das suas alunas e criou um método de ensino: "Os Gestos Metódicos" (Deluy,
1990).
Na abadia onde viveu, L'Epée fundou a primeira escola pública para os surdos. No
século XIX, o método gestualista16foi levado para os Estados Unidos da América, por Laurent
Clerc e T.H. Gallaudet, que fundaram em 1817 a primeira instituição de surdos, Hatfordd,
hoje o Gallaudet, no qual tem permanecido até hoje o método gestual (ASL – American Sign
Language).
Gallaudet criou uma Universidade onde o ensino era ministrado em Língua Gestual.
Esta corrente criou uma nova tendência na educação dos surdos. Em vez de obrigar os surdos
a integrarem-se na sociedade ouvinte, propõe-se aos ouvintes que aprendam a Língua Gestual
para integrarem os surdos.
Nos EUA, a Língua Gestual é a terceira língua estrangeira ensinada nos liceus a
crianças ouvintes. Nesse sentido, foi criada uma metodologia de ensino bilingue, em que a
Língua Gestual é considerada como uma língua materna e a língua dos ouvintes como língua
segunda. Só nos Estados Unidos, em termos estatísticos, “a prevalência de deficiências
auditivas sensorioneurais é de 5,95 para cada 1000 nascidos vivos e nas deficiências auditivas
por alterações do ouvido médio é de 20 para cada 1000 nascidos vivos” (Dados estatísticos da
ASP).
Em Portugal, não se instituiu qualquer tipo de educação para surdos até 1823, apesar
do prestígio do educador Jacob Rodrigues Pereira, português, mas residente em França. Jacob
16 Método que privilegia a Língua Gestual Portuguesa na educação dos surdos.
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Rodrigues Pereira, nascido em Espanha, em 1715, mas filho de uma família portuguesa, foi o
primeiro professor de surdos em França (Amaral & Coutinho, 1996). Jacob Rodrigues Pereira
utilizou o alfabeto manual, gestos, pronunciação e leitura labial com os seus alunos e os seus
métodos obtiveram resultados tão positivos que diversas personalidades europeias
importantes desejavam encontrar-se com os seus alunos (Salgueiro, 2010).
A Língua Gestual Portuguesa (LGP) começou por a língua clandestina de crianças e
jovens surdos. Aos poucos esse código gestual, emergente da necessidade comunicativa de
quem não está em contato espontâneo com a oralidade, vai atribuindo significados distintos a
signos, que começam por ser simbólicos, mas que se tornam cada vez mais arbitrários. A um
nível cognitivo superior, o surdo é capaz de referir objetos ausentes e abstratos, assim como
distanciar eventos do tempo. Quanto mais complexo é o sistema linguístico, maior é a
produtividade e, ao tomar-se num sistema de regras fixas, impulsiona intuitivamente a
transmissão cultural da língua de geração em geração, o que permite a sua evolução e
enriquecimento.
Per Aron Borg teve um papel muito importante no ensino dos surdos-mudos,
expressão utilizada à época, que com ele aprenderam, a comunicar através da Dactilologia e
também da Língua Gestual de origem sueca. O método de ensino do Instituto de Estocolmo
(Suécia) foi adaptado para o ensino em Portugal. Borg retirou-se para a Suécia em Junho de
1828. Nessa data, ficou a dirigir o seu irmão João Herman Borg a Instituição até Agosto de
1833, data em que faleceu.
Par Aron Borg criou dois institutos, o de Estocolmo (Suécia) em 1809 e o da Luz – em
Lisboa, se bem que a sua Dactilologia foi adoptada, não só na Suécia e em Portugal, mas
também na Finlândia, e veio a falecer no dia 22 de Abril de 1839, na Suécia.
Mais tarde, em 1870, surge um liceu em Lisboa, dirigido pelo Padre Pedro de Aguiar,
onde o ensino era gratuito, no qual se obtiveram bons resultados. Em 1877, veio a falecer,
deixando a direção a seu sobrinho, Eliseu de Aguilar. Este veio a dirigir o Instituto Municipal
de Lisboa (Palácio Arneiro), onde ensinava através do método da fala e Língua Gestual. Em
1891, foi suspenso e foi nomeado um novo diretor, Miranda de Barros, que, combatendo a
Língua Gestual, declara o início de um novo ensino oral.
O Instituto Araújo Porto inicia, em 1893, uma nova era do Ensino Especial para os
surdos, com a adoção do “método intuitivo oral”. Em 1913, dá-se a oficialização e a
institucionalização do método oral em Portugal.
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O período de 1915 a 1941 corresponde à estabilização do Ensino Especial neste
domínio, marcado pelo Instituto Jacob Rodrigues Pereira e Imaculada Conceição em Lisboa, e
pelo Instituto Araújo Porto, no Porto.
A partir de 1942, assiste-se a uma renovação do Ensino Especial, em Portugal,
renovação essa promovida pelo Instituo Jacob Rodrigues Pereira, onde se fazia sentir a
necessidade de novas instalações, professores especializados e assistência médica. A presença
do Provedor da Casa Pia, Doutor Tavares, no Congresso Internacional de Educadores de
Surdos de Groningue (Holanda), parece marcar uma data importante em Portugal.
A partir de 1955, regista-se um aumento significativo de instituições para a educação
de surdos em todo o país. Estes novos institutos criaram-se com base no modelo dos três até aí
existentes: o de Jacob Rodrigues Pereira, o da Imaculada Conceição e o de Araújo Porto. A
partir de 1965, a Direção-Geral da Assistência (DGA) desenvolve uma ação no âmbito da
educação de crianças deficientes auditivas, criando novos estabelecimentos de Educação
Especial.
Nos anos 70, regista-se um esforço desenvolvido para a integração familiar, escolar e
social da população com deficiência auditiva. Em 1974, assiste-se ao nível da educação dos
deficientes auditivos, a uma renovação pedagógica em Portugal, ou seja, só depois do 25 de
Abril, se começou a promover a Língua Gestual Portuguesa (LGP) tendo sido realizada a
primeira experiência bilingue no Instituto Jacob Rodrigues Pereira, entre 1983- 1985, como
anteriormente referimos. Embora a Língua Gestual Portuguesa fosse utilizada pela maioria da
comunidade adulta surda, era totalmente ignorada até então pela nossa sociedade, ou seja, o
“método intuitivo oralista” predominou até 1980 na educação das crianças e jovens surdos em
Portugal.
O estudo linguístico da LGP foi iniciado nos anos 80, por Martins et. al., no âmbito de
uma equipa multidisciplinar, tendo apresentado, em 1994, a primeira gramática de LGP.
Só mais tarde, como já dissemos, em 1997, a LGP foi reconhecida pelo Governo
Português como a língua oficial dos surdos (Lei Constitucional nº 1/97, artigo 47º, nº 2, alínea
h). Desde então, as escolas e instituições têm vindo não só a aceitar a importância da LGP na
educação das crianças surdas, como também a introduzi-la no ensino destas crianças. A
aprendizagem da referida língua por parte dos professores e educadores, bem como o
recrutamento de formadores surdos de Língua Gestual que ensinem às crianças surdas a sua
língua natural, são alguns aspetos desta mudança de filosofia de ensino.
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5. Bilinguismo – Concetualização
O bilinguismo é o conhecimento e uso regular de duas ou mais línguas, ou seja, ser
bilingue significa saber utilizar duas ou mais línguas. É, de igual modo, a aquisição e domínio
de duas línguas durante o período de aquisição da Língua Materna, língua que adquirimos em
contexto familiar por exposição ao meio, normalmente, o período de aquisição é entre os 2 e
os 6 anos17.
A aquisição da Língua materna é um ato inato que decorre apenas enquanto se é
criança e quando esta é exposta a estímulos.
O bilinguismo é a única via através da qual a pessoa surda poderá ser atendida nas
suas necessidades, quer dizer, comunicar com os seus pares desde uma idade precoce,
desenvolver as suas capacidades cognitivas, adquirir conhecimentos sobre a realidade externa,
comunicar plenamente com o mundo circundante e converter-se num membro do mundo
surdo e do mundo ouvinte. (Amaral et al, 1994).
O bilinguismo da pessoa surda implica o uso da Língua Gestual, usada pela
comunidade surda, e a Língua Oral, usada pela maioria dos ouvintes. Esta última adquire-se
na sua modalidade escrita, e quando, possível, na sua modalidade falada. Em cada indivíduo
as duas línguas jogarão papéis diferentes: em algumas pessoas predominará a Língua Gestual,
em outras predominará a Língua Oral e noutras haverá um certo equilíbrio entre ambas as
línguas.
A Língua Gestual deve ser a primeira língua (ou uma das primeiras) adquiridas pelas
crianças com uma perda auditiva severa, surdos profundos. Esta é uma língua natural,
plenamente desenvolvida, que assegura uma comunicação completa e integral.
Contrariamente à Língua Oral, a Gestual permite às crianças surdas, em idade precoce,
comunicar plenamente com os pais, desde que ambos a adquiram rapidamente. Esta tem um
papel importante no desenvolvimento cognitivo e social da criança, permitindo a aquisição de
conhecimentos sobre o mundo circundante. (Amaral et al, 1994). A mesma levará a criança a
um maior desenvolvimento da sua identificação com o mundo surdo, logo que entre em
contacto com esse mundo e facilitará ainda a aquisição da Língua Oral, seja na modalidade
escrita ou falada. Finalmente, o facto de ser capaz de utilizar a LGP será uma garantia de que
a criança maneja pelo menos uma língua.
17 Sobre este assunto veja-se Sim-Sim (1998) e Santana (2007).
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Para os surdos gestuantes, a linguagem é produzida pelos movimentos das mãos e dos
dedos movendo-se no espaço. Tanto as línguas orais como as gestuais são produzidas a nível
motor, contudo, a cargo de sistemas articulatórios muito diferentes. Esperar vários anos para
alcançar um nível satisfatório e negar durante esse tempo todo o acesso da criança surda a
uma língua que satisfaça as suas necessidades (a Língua Gestual) é praticamente aceitar o
risco de um atraso no seu desenvolvimento linguístico, cognitivo, social ou pessoal.
O Português, principalmente, na sua modalidade escrita, será um meio importante para
a aquisição dos conhecimentos. Grande quantidade do que aprendemos transmite-se através
da escrita, tanto em casa, como depois na escola. Por isso, o êxito académico da criança surda
e os seus futuros sucessos profissionais dependerão em grande medida de um bom manejo da
Língua Portuguesa na sua modalidade escrita.
A LGP e a cultura da comunidade surda constituem um património valioso dos surdos
portugueses. O reconhecimento das entidades oficiais apenas veio reforçar o valor que a
língua e a cultura dos surdos já representava para os membros dessa comunidade.
A Língua Portuguesa é também imprescindível na educação dos surdos, nas suas
vertentes de escrita e de leitura. Contudo, na oralidade não é fundamental na educação dos
surdos, poderá ser um complemento, mas não de carácter obrigatório. A oralidade pode ser
um factor de integração na sociedade, mas não deve ser privilegiada na sua educação, pois
implica um trabalho de reabilitação muito moroso, o que prejudica a sua formação escolar na
produção da escrita. Desta forma, é pedagogicamente aceitável que a oralidade seja
estimulada se a criança manifestar interesse e isso contribuir para o seu bem-estar e
desenvolvimento pessoal e académico.
Quando a emergência da literacia, capacidade de descodificar e compreender
enunciados, é simultânea com a aprendizagem de uma língua diferente, como é o caso das
crianças surdas, é evidente que o processo de estabelecer ligações e comparações entre a
Língua Gestual e a Língua Escrita é fundamental. A relação entre a palavra ou expressão
escrita e o conceito tornam-se acessíveis à criança através do gesto, permitindo-lhe o acesso
ao léxico da língua escrita.
Segundo Delgado-Martins (1997) e Sim-Sim (1998), as dificuldades que a criança
sente na parte gramatical da língua devem ser ensinadas e explicadas como se faz numa
segunda língua ou língua estrangeira.
Estando a criança surda em contato com as duas línguas é natural que surjam erros
resultantes de processos de interferência linguística. Assim, observam-se vários desvios e
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erros na produção escrita da Língua Portuguesa resultantes de interferência da Língua Gestual
Portuguesa. Mais adiante, neste trabalho, veremos algumas dessas ocorrências. Parece-nos
fundamental observar estes erros enquanto manifestações naturais de línguas em contacto
umas com a outras, devendo serem aproveitadas para construir o processo de aprendizagem
do Português Língua Segunda18. Assim, devemos procurar entender o erro, levar a criança a
percebê-lo e corrigi-lo. Acrescente-se também que a interferência linguística não é apenas da
LGP para a Língua Portuguesa mas de igual modo em sentido inverso.
O que é fundamental é proporcionar à criança uma aprendizagem profícua e um
conhecimento reflexivo e interrogativo de ambas as línguas, de modo a que se cumpra o que
propalado na Declaração dos Direitos das Crianças Surdas19.
18 Usamos PL2 para Português Língua Segunda. 19 A Declaração dos Direitos da Criança Surda, elaborada em Novembro de 1987 visa os principais direitos da criança surda, nomeadamente, o direito à educação integrada, às escolas especiais, à igualdade de acesso à educação contínua e o de serem ensinados por professores surdos e ainda o direito à educação bilingue. (Declaração dos Direitos das Crianças Surdas).
PARTE II
MÉTODOS E RESULTADOS
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1. Olhar para Compreender
1.1. As Competências Literácitas do Português Mediadas pela Língua Gestual Portuguesa – Análise de Dados
Este item pretende refletir brevemente como é que as pessoas surdas entendem, no
sentido de interpretar o mundo, o que lhes chega através do português.
A Literacia, capacidade de descodificar e compreender enunciados, é uma das
ferramentas que nos permite sermos cidadãos autónomos no mundo. (Delgado, 2000).
Ser capaz de entender o que lemos, seja na forma escrita, imagética, ou outra, faz com
que nos possamos movimentar em sociedade de forma plena, ou seja, construindo a nossa
visão do mundo e interpretando os signos que nos rodeiam. (Correia, 2011). O Ser Humano
pode assim ler o mundo pelos seus próprios olhos e agir sobre ele, construindo a sua
identidade e exercendo uma cidadania plena.
Para verificar as capacidades literácitas, os gestuantes surdos leram um texto
informativo (notícia) intitulado “Ana Jorge” escrito em português (Fig.6) e, em seguida,
gestuaram o que inferiram.
Fig.6- “Ana Jorge” in Jornal de Notícias, de 27 de Janeiro de 2011
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O tema do referido texto informativo relaciona-se com o Ministério da Saúde e
questões relativas à prescrição de medicamentos.
Vejamos os resultados analisados no Gráfico 1, de acordo com o que os informantes
inferiam da leitura realizada.
Gráfico 1 - Análise de Dados – Texto Informativo
Numa primeira análise, parece-nos que os gestuantes surdos não têm capacidades
literácitas desenvolvidas.
Para uma melhor compreensão, atentaremos numa análise exaustiva e pormenorizada,
apresentada no Quadro 2, para que, de algum modo, se possa melhor compreender quais as
dificuldades sentidas pelos sujeitos da amostra e o que deve ser feito para suprimir estas
possíveis lacunas que, provavelmente, poderão estar associadas a outros fatores.
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Quadro 2 – Análise Compreensiva da Leitura Inferida
Informantes Não
Compreendeu Compreendeu
Totalmente Compreendeu Parcialmente
Gestos Impróprios para
o Conceito
Enriqueceu a Informação
1 X X
2 X
3 X
4 X
5 X X
6 X
7 X
8 X
9 X
10 X
11 X X
12 X X
13 X X
14 X
15 X
16 X
17 X X
18 X X
19 X
20 X
21 X
22 X
23 X X
24 X
25 X
Dos 25 informantes, cerca de 15% conseguiu reproduzir a informação essencial do
texto sendo que apenas a ideia principal de que foi o Ministério de Saúde que pediu à Polícia
Judiciária para investigar farmácias e empresas de distribuição é a predominante.
Os seis informantes (4,12,13,17,18,23), que conseguiram reproduzir a informação
essencial do texto, acrescentaram pormenores importantes pois para além de conseguirem
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retirar o significado da notícia fazem, ainda, uma inferência pessoal indo para além da
informação veiculada na notícia.
Quarenta e oito por cento (48%) dos surdos não retiveram a informação geral da
notícia, devido, essencialmente, aos seguintes fatores:
• Não perceberam a tarefa e “traduziram” para Língua Gestual Portuguesa o texto;
• Não perceberam o texto;
• Perceberam uma ínfima parte do texto, insuficientemente, não identificaram o quem, o
como, o quê e o porquê do texto;
• Só identificaram alguns dos itens anteriores.
De seguida, vamos analisar pormenorizadamente a prestação dos informantes, procurando
aferir quais as limitações e/ou mais-valias observadas.
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1.2. Resultados e Discussão
O Informante 1 retirou partes essenciais da notícia não conseguindo gestuar o texto
na sua totalidade. Relativamente ao conceito de “Fraude” apesar de acessório para a
compreensão, o sujeito gestuou-o erradamente, mas fê-lo na mesma, produzindo o que julgou
que compreendeu. Assim, tendo duvidas relativamente ao conceito supramencionado,
oralizou “Fraude” e, ao mesmo tempo, gestuou “CASTIGO + FALÊNCIA”. Denotou-se que
o informante produziu o que achou, mas oralizou para desfazer as dúvidas.
O Informante 2 não conseguiu gestuar o texto assumindo a sua dificuldade na sua
compreensão, demonstrando-se inseguro na respetiva reprodução em Língua Gestual
Portuguesa. O informante tem défice de compreensão leitora, não entendendo o português
escrito da notícia.
O Informante 3 retirou apenas palavras do texto, não tendo qualquer tipo de coesão o
discurso gestual que reproduz. Não atingiu a informação essencial, pois apesar de perceber o
português escrito não tinha nível de Língua Gestual Portuguesa suficiente para reproduzir a
informação.
O Informante 5 devido ao sistema de ensino que, provavelmente, terá desenvolvido,
com aprendizagem da leitura e da escrita através do “Método Global” que incide no
reconhecimento geral da palavra, encontrava-se muito fixado à forma visual do português,
optando por traduzir o que não compreendeu. Na sua produção, comprovou-se que no que não
compreendeu, traduziu por aproximação ao vocábulo conhecido, pelo que é influenciado pela
sua memória/reconhecimento visual tal como se verificou ao gestuar o conceito de
“Auditorias” como AUDITÓRIO e “Reforço” como ESFORÇO.
Note-se que alguns intérpretes gestuam o conceito “Reforço” como “ESFORÇO +
DOBRO” o que nos leva a inferir que o informante poderá ter recorrido a uma técnica de
interpretação, contudo, não executou o gesto todo ficando-se apenas por ESFORÇO.
Enquanto estava a traduzir, olhava frequentemente para a notícia, pois introduziu
interrogativas e utilizou conetores que fazem parte da própria língua, a LGP: “LIGADO.
POR CAUSA. É IGUAL. “
Por outro lado, quando julgou compreender o que leu e produziu o que inferiu do
texto, gestuou conceitos como “Burla” e “Prescrever” erradamente pois não percebeu o
conceito em si. Gestuou “Burla” como ROUBAR e “Prescrever” como ESCREVER+
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ESCREVER. Denotou-se o uso do aspeto durativo transmitido através da duplicação do
gesto e pela expressão facial, sobrancelhas tensas querendo, assim, significar a ideia de
“escrever muito”.
O informante percebeu o português escrito, mas parecia estar de certa forma preso à
forma escrita não conseguindo gestuar com correção, uma vez que traduziu o que não
compreendeu.
O Informante 6 inferiu mal o texto, prendeu-se a duas palavras “Ministério da Saúde”
e “Polícia Judiciária” e proferiu algumas ideias descontextualizadas, em torno destas usando
bastantes conetores.
O Informante 7 não percebeu o texto, apenas retirou alguma informação do que
inferiu, no entanto não a soube explicar.
O Informante 8 não foi coerente pois ao misturar muita informação não conseguiu
gestuar o que inferiu, tornando-se muito confuso.
O Informante 9 não percebeu e o seu discurso gestual não teve sentido, mas baseou-
se em palavras esparsas e sem conexão.
O Informante 10 não percebeu o texto e aduziu informação que não se inferiu da
notícia. Gestuou erradamente, por lapso, a entidade a que o texto se referia, pois em vez de
gestuar MINISTÉRIO DA SAÚDE gestuou MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
O Informante 11 não percebeu o texto. O que gestuou não era o que se retirava da
notícia.
Devido ao sistema de ensino que, provavelmente, terá desenvolvido, com
aprendizagem da leitura e da escrita através do “Método Global” que incide no
reconhecimento geral da palavra encontra-se muito fixado à forma gráfica do português, tal
como vimos no Informante 5. Na sua produção, comprovou-se que, no que não
compreendeu, traduziu, sendo influenciado pela sua memória/ reconhecimento visual como se
verificou ao gestuar o conceito de “Penal” como PENA.
Ao gestuar ANTIDEPRESSIVOS denotou-se que o informante tinha uma ideia do
que seria porque após a datilologia acrescentou NERVOS, ao contrário do que aconteceu com
ANTIPSICÓTICOS em que apenas fez a datilologia.
O Informante 12 reteve o essencial da notícia e inferiu bem acerca desta, devido à sua
formação, indo para além da informação veiculada pela notícia.
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O Informante 13 percebeu a notícia e, devido à sua atividade profissional (Docente de
LGP), utilizou estratégia dialógica20.
Os Informantes 14 e 15 não conseguiram gestuar a notícia pois não tinham
conhecimentos de Língua Portuguesa suficientes.
O Informante 16 não percebeu o texto escrito acabando por inferir tudo de uma forma
errada, tendo construído uma narrativa nova.
O Informante 17 percebeu muito bem a notícia e gestuou de uma forma muito clara a
informação que inferiu.
O Informante 18 percebeu bem a notícia e no final de gestuar a informação que
inferiu, proferiu uma dedução pessoal.
O Informante 19 não percebeu a notícia e construiu uma história baseando-se em
palavras que retirou da notícia.
O Informante 20 não percebeu a notícia e inventou uma história descontextualizada.
O Informante 21 apesar de perceber parte da informação da notícia, inventou outra
história a partir da que leu e do que inferiu.
O Informante 22 não percebeu a notícia e teve consciência que não estava a perceber,
ao gestuar apoiou-se no texto olhando frequentemente para este.
O Informante 23 percebeu a notícia, indo mais além deduzindo e refletindo de uma
forma correta sobre o texto.
Por lapso, o informante, gestuou MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO em vez de
MINISTÉRIO DA SAÚDE. No entanto, na sua produção referiu-se a “Ana Jorge” como
Ministra da Saúde.
Como se verificou este informante comete o mesmo erro que o Informante 10. Tal
pode dever-se ao facto de, na sua grande maioria, os informantes trabalharem no Ministério
da Educação estando mais familiarizados com esta entidade. Assim, será mais prudente
considerar esta produção como lapso e não como erro linguístico ou desconhecimento do
conceito.
O Informante 24 não percebeu a notícia e falou de um tema que não estava associado
a este, desabafando acerca da sua vida pessoal e profissional.
20 Estratégia utilizada no Ensino da LGP e que consiste em criar espaço sintático e expressão corporal, simulando o diálogo enquanto se explica.
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O Informante 25 leu e oralizou enquanto tentava gestuar pois não percebeu a notícia
uma vez que não tinha conhecimentos de Língua Gestual Portuguesa suficientes para gestuar
o pouco que percebeu.
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1.3. Algumas Considerações
Qualquer língua, para ser usada pelos seus utilizadores, tem de ser aprendida, ou cada
uma das pessoas teria uma forma própria de usar o “código” e não seria percebido pelos
outros membros da comunidade.
Denota-se a necessidade de aprendizagem e atualização quer na LGP quer na LP para
combater dificuldades por um lado do que se lê por outro para produzir o que se compreendeu
para assim não comprometer ou limitar as capacidades literácitas da pessoa surda.
Os principais erros observados foram, como vimos, motivados pelas fracas
competências literácitas dos informantes. Todavia, isto deve-se ao contato interlinguístico,
como atrás descrevemos, que motiva várias interferências. É interessante verificar a forte
influência da Língua Portuguesa, sobretudo nos Informantes 5 e 10.
Salienta-se ter havido surdos que para além de terem entendido o que se pretendia,
acrescentaram informação relevante. Tal poderá dever-se ao seu percurso académico e
pessoal. Assim, a aprendizagem da Língua Portuguesa pode, ainda que paradoxalmente,
potenciar tanto a fluência interpretativa como a não compreensão dos conceitos. Referimo-nos
por um lado, aos erros motivados pela Língua Portuguesa e, por outro, ao enriquecimento
potenciado por um bom conhecimento desta Língua Segunda.
Contudo, o que ressalta deste estudo é a necessidade de metodologias de ensino
específicas do Português Língua Segunda que, respeitando o input de cada um, levem a uma
reflexão da língua. Além disso, é importante o aprofundamento da Língua Gestual Portuguesa
enquanto sistema linguístico rico e não apenas como meio de comunicação. É, portanto,
essencial que se promova a exposição à cultura nacional da pessoa surda insistindo na
acessibilidade plena à informação e ao meio. Só assim se alcançará a participação do surdo
enquanto emissor e recetor participante de toda a comunicação que a sociedade potencia.
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2. Ver para Ler
2.1. Do Português à Língua Gestual Portuguesa
O presente item prende-se com uma análise no âmbito da Linguística, Ciência que
atenta na Linguagem, na Língua e no Discurso, percebendo quais as variações de qualquer
Língua.
Iremos equacionar uma série de variáveis linguísticas como a sociolinguística, a
convencionalidade, a dialetologia e a norma mas, sobretudo, ter-se-á em conta o fundamental
problema da conceptualização.
Para este estudo, a autora do estudo redigiu 10 frases entre as quais constam frases
simples do tipo declarativo, exclamativo e interrogativo nas formas afirmativa, negativa e
enfática, bem como frases complexas, coordenadas e subordinadas.
Utilizaram-se ainda interjeições, expressões idiomáticas e uma frase na voz passiva.
Desta forma, tentou-se perceber as variações da Língua Gestual Portuguesa, utilizada
por falantes nativos, analisando as diferenças estruturantes, na Morfologia e na Sintaxe em
relação à Língua Portuguesa.
Após uma leitura silenciosa das frases, pelos utilizadores em Língua Gestual
Portuguesa, estes ao gestuarem, recorreram ao suporte escrito diversas vezes, o que fez com
que se denotasse, claramente, uma influência do português escrito.
No Gráfico 2, podemos observar qual a percentagem de sujeitos que utiliza a estrutura
sintática de acordo com a sua produção em LGP: – SOV (Sujeito-Objeto-verbo); SVO
(Sujeito, Verbo e Objeto) e OSV (Objeto, Sujeito, Verbo).
Gráfico 2: Distribuição de Percentagem de Informantes- Estrutura Sintática Utilizada
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Posteriormente, apresentamos o Quadro 3 que retrata a produção linguística por
sujeito informante de acordo com a estrutura sintática analisada no gráfico anterior.
Deste modo, podemos concluir que a ordem que ocorre com maior número de
frequências é a SOV (Sujeito-Objeto-Verbo).
ESTRUTURA SINTÁTICA
SOV SVO OSV
INFORMANTES Nº
1,2,3,4,5,11,12,13,16,1718,21,22,23
6,7,8,9,19,20 10,14,15,24, 25
Quadro 3 – Análise da Estrutura Sintática da Produção Linguística dos Informantes
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2.2. Aspetos Morfo-Sintáticos
Neste ponto do nosso trabalho vamos observar componentes sintáticas e morfológicas,
nomeadamente, construções passivas.
Estudos desenvolvidos por Sandler & Lillo M. (2006), em relação à American Sing
Language (designada ASL) e por Quadros (2004) relativamente à Língua de Sinais Brasileira
(designada LSB) demonstraram que a ordem básica tanto da ASL como da LSB é Sujeito-
Objeto-Verbo (SOV). Contudo, as autoras referiram haver variabilidade na estrutura sintática
de ambas as línguas.
Amaral et al (1994) mencionam que a ordem mais frequente na Língua Gestual
Portuguesa é Objeto-Sujeito-Verbo (OSV). As autoras apontam ainda que, em construções
que envolvem verbos específicos como “comprar”, “dar”, entre outros que requerem
Complemento Indireto, a ordem é Sujeito-Verbo-Objeto (SVO). Todavia, no nosso estudo não
usámos frases com esses verbos tendo em conta que a análise sintática da Língua Gestual
Portuguesa mereceria, certamente, um estudo mais aprofundado.
Como podemos constatar através dos dados apresentados relativamente ao nosso
estudo, não foi essa a conclusão a que chegámos. Porém, os limites da nossa amostra não
permitem afirmar assertivamente que a ordem dominante da Língua Gestual Portuguesa é
Sujeito-Objeto-Verbo (SOV), apesar de 56% dos nossos informantes a terem utilizado. Aliás,
é curioso notar que a variabilidade SVO/OSV é quase equivalente em termos de percentagem.
O que a nossa reflexão permite postular é que, à semelhança de outras Línguas Gestuais, há
variabilidade sintática.
Estudos mais aprofundados nesta área podem revelar se a prevalência de SOV deriva
ou não de SVO mas, por ora, como diz Sandler & Lillo-Martin (2006) “The study of syntax of
sign language is relatively young”.21(p.333)
21 Sandler & Lillo-Martin (2006):“The study of syntax of sign language is relatively young” (p.333): Os estudos sobre a sintaxe da Língua Gestual são relativamente recentes.
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2.3. Análise Frásica 2.3.1. A Voz Passiva
Na frase “ A maçã foi comida por mim.”, os informantes gestuaram a voz passiva de
diversas formas, de acordo com o apresentado no Quadro 4 :
FRASE: “A maçã foi comida por mim.”
Produção Linguística-LGP
Variante 1 Variante 2 Variante 3 Variante 4
MAÇÃ EU COMER DE.FACTO [Expressão facial “Morder o lábio
inferior””]
MAÇÃ EU DE.FACTO COMER [Expressão facial “Sobrancelhas franzidas
ou levantadas”]
MAÇÃ COMER [Expressão facial “Levar à
boca” com movimento brusco ou repetitivo]
MAÇÃ COMER [Expressão facial “Movimento brusco
de engolir”]
Apesar da variedade observada, alguns gestuantes não perceberam a frase dando-lhe
outro sentido, diferente da produção linguística escrita.
Deste modo, os informantes gestuaram, na sua maioria, o tempo verbal da Voz Passiva
“Foi comida” de diversas formas, tal como se pode comprovar pelos dados apresentados no
Quadro 5.
Quadro 4: Variantes Linguísticas em LGP da Frase: A maçã foi comida por mim.
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Produção Linguística- LGP da forma verbal composta “foi comida”
Variante 1 Variante 2 Variante 3 Variante 4 Variante 5
COMER + DE. FACTO;
DE FACTO + COMER
COMER+JÁ
COMER
[Duplicação do gesto e expressão facial, a boca aberta e sobrancelhas levantadas ou tensas]
COMER
[Repetição ou execução lenta/ brusca do verbo e sobrancelhas levantadas reforçando a ideia de duração, aspeto contínuo]
Em suma, como observámos a expressão passiva recorre essencialmente à seguinte
estrutura: Verbo+ Expressões de passado (DE.FATO, JÁ).
Nas Línguas, o tempo é marcado por uma linha temporal imaginária que limita os três
tempos naturais na Língua Gestual Portuguesa. Conforme o modo e a duração, a execução do
gesto vai-se afastando do corpo do executante, o que indica tempos mais longínquos:
• No Passado, marcado pelo gesto PASSADO, executado atrás do ombro
dominante, podendo haver diferenciação entre um passado mais recente e mais
remoto, sendo alterada a expressão facial e corporal, movimento e repetição do
gesto;
• No Futuro, a execução do marcador temporal (FUTURO, AMANHÃ,
DEPOIS.DE.AMANHÃ, DEPOIS) seguido do verbo. Ou, um futuro
próximo, expresso através da fórmula verbo + VA-VA;
• No Presente, o gesto é executado normalmente, à frente do corpo do
executante, sem qualquer tipo de alteração.
Por outro lado, para exprimir o passado, também se pode usar a fórmula verbo + JÁ,
verbo + DE. FACTO ou introdução de outras expressões que indicam que a acção já foi
executada.
Quadro 5: Variantes Linguísticas em LGP da forma verbal – “foi comida”
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Os informantes gestuaram as frases do Português na voz passiva usando construções
típicas do passado na Língua Gestual Portuguesa. Logo, os gestuantes atribuíram o
significado de acção concluída à voz passiva.
Para além dos três tempos naturais, este estudo permitiu também analisar outras
expressões de tempo, nomeadamente, advérbio de tempo (Ontem) e duas expressões
temporais (Semana Passada e Este Verão) utilizados nas frases fornecidas para que os
informantes as proferissem em LGP.
Deste modo, passaremos agora a apresentar visualmente a execução gestual dos
mesmos.
Relativamente ao advérbio de tempo “Ontem”, podemos observar a execução do gesto,
na Fig.7.
No que concerne à locução temporal “Semana passada”, a execução realiza-se do
seguinte modo (Fig.8):
Fig.7 – Gestualização do conceito “Ontem” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
Fig.8 – Gestualização da expressão temporal “Semana Passada” retirada do CD – Inferir pelas
Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
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No que se refere à locução temporal “Este verão”, a realização passa pela seguinte
sequência de gestos (Fig. 9).
A Língua Portuguesa é uma língua, no que à morfologia verbal diz respeito,
eminentemente flexional, isto é, acrescentam-se morfemas de TAM22 e PN23 à forma verbal.
Veja-se o exemplo:
Como se vê, e devido ao facto de ser uma língua de modalidade espácio-visual, a
Língua Gestual Portuguesa usa itens lexicais para exprimir o tempo ao invés de flexionar.
Estas palavras têm um comportamento semelhante aos advérbios temporais e outras locuções
de tempo do português uma vez que não ocupam um lugar rígido na frase, são móveis.
Neste campo, observou-se que os informantes ao gestuarem uma frase referente a uma
expressão idiomática, não conseguiram perceber o sentido havendo mesmo pessoas que não
gestuaram por não entenderem (Informantes 7,8, 9, 10). Os que gestuaram, produziram
português gestual no entanto não compreenderam o significado da expressão idiomática ou,
então, recorreram a exemplos para explicar o sentido. (Informantes. 10, 11, 12, 13, 18, 19).
22 Mateus et al (2004) - por TAM entende-se Tempo, Aspeto e Modo. 23 Mateus et al (2004) - por PN entenda-se pessoa, número sobre a flexão verbal do Português.
Fig.9 – Gestualização da expressão temporal “Este verão” retirada do CD – Inferir pelas
Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
Jant +a +va + s
Radical Tema TAM PN
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Neste âmbito da semântica, verificou-se na produção dos informantes das dez frases
em Língua Portuguesa, que houve gestos diferentes para o mesmo conceito, ou seja houve
variação lexical, como se constatou na execução dos gestos associados aos nos seguintes
conceitos:
• CIRCO
• FAZER BOLO
• ADORAR
• NÃO VER HÁ IMENSO TEMPO
• FILME
• MUNDO
• JANTAR
• AMIGO
A título exemplificativo, passaremos a descrever os gestos referentes a CIRCO e
FAZER BOLO para que se possa compreender o verificado.
Relativamente ao primeiro, selecionaram-se 3 dos 25 informantes do presente estudo
que executaram o gesto de formas diferentes.
O Informante 18, conforme vídeo aos 51m e 20s, retratado na Fig. 10 gestuou com a
sua Mão Dominante na configuração “garra”, um movimento direcionado ao nariz com a
palma da mão virada para o emissor.
Fig.10 – Variante A- Gestualização do conceito “Circo” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
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Já o Informante 2, conforme vídeo dos 3 m e 52s aos 3m e 53s, retratado na Fig.11
pode-se verificar igualmente um gesto com a sua Mão Dominante na configuração “garra”,
um movimento direcionado ao nariz com a palma da mão virada para o emissor, só que
acresce nesta execução de um movimento rotativo duplo, da Mão Dominante junto ao nariz.
Por fim, o Informante 23 executa o gesto de uma forma diferente dos casos
anteriores. Verificou-se que este dá uma ideia igual aos anteriores informantes (nariz de
palhaço) para retratar o gesto CIRCO, mas acrescenta um outro gesto – o aspeto visual de
uma tenda associada, evidentemente, neste contexto ao circo.
No vídeo observa-se, à 1h e 4m e 3s a 5s, o informante coloca ambas as mãos em
frente à cara em configuração “lambda”, palmas das mãos para o recetor, seguido de um
movimento descendente e rotativo (os pulsos e as palmas rodam para o emissor), como se
pode observar na Fig.12. Ao observar-se este gesto transparece a ideia visual de um maestro
com a sua batuta a coordenar a sua orquestra. Comprova-se a riqueza e beleza que a LGP por
si só acarreta.
Fig.11 – Variante B - Gestualização do conceito “Circo” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
Fig.12 – Variante C - Gestualização do conceito “Circo” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
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Passemos à explicação das diferentes formas de execução Da expressão concetual -
FAZER BOLO.
No vídeo dos, 1m e 33s aos 1m e 35s, o Informante 1 executou o gesto referente à
expressão citada, na seguinte ordem: BOLO + FAZER (Fig. 13).
No que diz respeito ao gesto BOLO, o referido informante gestuou, utilizando a Mão
Dominante em configuração “indicar” na horizontal na zona do queixo (abaixo do lábio
inferior) acompanhado de um movimento de deslize do dedo da esquerda para a direita sobre
o seu queixo.
Seguidamente, relativamente ao gesto de FAZER, o informante gestuou com a sua
Mão Dominante configuração “mão fechada”, colocada na zona frontal do tronco (braço e
antebraço fletidos com a palma da mão virada para o chão), acompanhado de movimentos no
pulso rotativos direcionados para baixo e de uma expressão facial “bochecha com ar”.
A Mão Não Dominante do informante foi posicionada como se estivesse a abraçar o
movimento rotativo da Mão Dominante. Este gesto transmite a ideia visual a qualquer pessoa
do acto de abraçar um recipiente para bater a massa de um bolo.
Já o Informante 12, executou o gesto FAZER BOLO exactamente da mesma forma,
alterando apenas a ordem de execução, ou seja, FAZER + BOLO24 (Fig.14).
24 Mais uma vez se observa que a ordem das palavras não está estabelecida. Veja-se o ponto 1, Parte II.
Fig.13 – Variante A - Gestualização da expressão concetual “Fazer Bolo” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
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Por considerarmos suficiente a transparência da explicação acima descrita, optámos
aleatoriamente pelos gestos CIRCO e FAZER BOLO. Contudo, o mesmo se aplica aos
restantes gestos usados neste estudo e que se encontram visíveis no CD - Inferir pelas Mãos - A
LGP como Sistema Comunicacional, o qual segue em anexo a este trabalho.
O que estes exemplos demonstram é a variedade lexical da LGP que à semelhança de
outras línguas tem vários significantes para o mesmo significado. Porém, pode ser arriscado
falar-se de variedade linguística uma vez que as diferenças não são abissais, mas parecem
indicar idioletos, isto é, dependentes do gestuante, pois, as produções têm execuções
semelhantes (varia a ordem, a mobilidade e é acrescentado, numa produção, informação
adicional). Esta observação compreende-se pois dever-se-á ao recurso do espaço e da imagem
visual típicos das Línguas Gestuais.
Por último, teremos apenas uma breve consideração sobre as produções do conceito
ADORAR (Figuras 15 e 16).
Fig.14 – Variante B - Gestualização da expressão concetual “Fazer Bolo” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
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Verifica-se que o informante que faz com a sua mão dominante em configuração
“punaise” (Fig.15) no peito não subcategoriza o conceito pois o gesto que gestuou
(ADORAR) aplicado “ a filme” é também usado muitas vezes para exprimir sentimento [traço
+ humano].
O informante que produz ADORAR com a mão dominante em configuração “mão
aberta” (Fig.16), usa um gesto que se aplica mais frequentemente a objetos inanimados [traço
+inanimado]. Todavia, é recorrente o uso de ambos na comunidade surda no contexto frásico
do nosso estudo.
A existência desta variedade de gestos para o mesmo conceito levantou outros factos
relacionados com a variedade dialetal e, ainda, a polissemia do gesto.
No que concerne à variedade dialetal, gestos que variam consoante a zona do país,
constatou-se que no Porto os gestos de BOLO e AMIGO são diferentes dos de Lisboa.
O gesto BOLO, no Porto, é executado da seguinte forma (Fig.17):
Fig.15 – Variante A - Gestualização do conceito “Adorar” retirada do CD – Inferir
pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
Fig.16 – Variante B - Gestualização do conceito “Adorar” retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A
LGP como Sistema Comunicacional
Fig.17 –Gestualização do conceito “Bolo” – Variante Dialetal do Porto- retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
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Assim, através da figura constatámos:
• Posição:
Mão Dominante em configuração “mão aberta”.
• Movimento:
Movimento nos dedos, iniciado pelo dedo mindinho até ao polegar, como se tratasse
do fecho de um leque, em frente à boca.
• Orientação:
Com a palma virada para o emissor, junto à boca.
• Expressão Facial:
Boca Fechada.
O gesto BOLO, em Lisboa, é executado de acordo com a apresentação da Fig.18:
Assim, através da figura constatámos:
• Posição:
Mão Dominante em configuração “indicar”.
• Movimento:
Um movimento de “deslizar” do dedo da esquerda para a direita sobre o queixo.
• Orientação:
Na horizontal na zona do queixo (abaixo do lábio inferior).
• Expressão Facial:
Bochecha sem ar.
Fig.18 –Gestualização do conceito “Bolo” – Variante Dialetal de Lisboa - retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
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Relativamente ao gesto correspondente ao conceito AMIGO, no Porto, verificámos
que a sua realização se processava de acordo com a Fig. 19.
Assim, através da figura constatámos:
• Posição:
Mão dominante em configuração “concha” com a palma virada para o emissor, em
frente à boca.
• Movimento:
Movimento duplo de toque para baixo entre as pontas dos pedos e a ponta do nariz.
• Orientação:
Com a palma virada para o emissor, em frente à boca.
• Expressão Facial:
Neutra.
Passaremos, agora a apresentar a gestualização do mesmo conceito, em Lisboa (Fig.
20).
Fig.19 –Gestualização do conceito “Amigo” – Variante Dialetal do Porto - retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
Fig.20 –Gestualização do conceito “Amigo” – Variante Dialetal de Lisboa - retirada do CD – Inferir pelas Mãos - A LGP como Sistema Comunicacional
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Assim, através da figura constatámos:
• Posição:
Mão dominante e Mão Não Dominante na configuração “mão aberta”
• Movimento:
Movimento de batimento duplo sobre o peito.
• Orientação:
Com a palma virada para o emissor, cruzados sobre o peito.
• Expressão Facial:
Boca aberta.
Verificou-se neste estudo que a Língua Gestual do Porto é mais conservadora, pois, os
informantes dessa cidade usam gestos também observáveis em gestuantes mais velhos,
oriundos do Norte, que observávamos ao longo do nosso contacto com a comunidade surda.
Acrescente-se que estes gestos são produzidos por informantes mais velhos ou por aqueles
que não abandonaram a sua região entrando em contacto com gestuantes de outras áreas
geográficas.
Quanto à existência da polissemia25 do gesto, verificou-se a produção de dois ou mais
gestos, com o mesmo significado, para o mesmo conceito como por exemplo em: FILME,
MUNDO, NÃO VER HÁ IMENSO TEMPO, FAZER BOLO.
Neste grupo existiam ainda os gestos pseudo-icónicos26, ou seja, só se percebem
dentro do contexto em que estão inseridos como é o caso de: MUNDO, FAZER BOLO
CIRCO, comprovando-se assim a riqueza típica da LGP que tem a capacidade de expressar
pouco, recorrendo a todo um leque de léxico gestual, diferenciado e provido de uma enorme
riqueza e sentido semântico, sem recorrer ao uso de artigos ou preposições. Trata-se de uma
língua que aproveita o facto de ser uma língua tridimensional.
Podemos ainda verificar que na LGP, por norma, não foram utilizados os artigos nem
outros conetores frásicos como “e”. Isto prende-se com o facto de a Língua Gestual
Portuguesa ser eminentemente lexical e pouco flexional. Assim, o género e número não são
exprimidos através de outras palavras, itens lexicais, numerais e quantificadores. A conexão
coordenada é visível no ritmo de movimento dos diversos gestos e no uso do espaço sintático.
25 Entende-se por polissemia, gestos diferentes para o mesmo conceito que não variam com a proveniência dos informantes. 26 Forma distinta de executar um gesto sem que nada altere o seu significado, denomina-se por aloqueremas na Língua Gestual Portuguesa Correia (2010).
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As línguas visuais são línguas naturais que partilham os mesmos parâmetros
linguísticos das línguas orais, inclusivamente a fonologia.
Iremos explanar este assunto de extrema importância no ponto seguinte do presente
estudo.
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2.4. Estrutura Suprassegmental da LGP
Por último, vamos deter a nossa atenção em elementos supra-segmentais, ou seja,
elementos acima da palavra e da frase, nas perspetivas de Correia (2010) e de Duarte (2000).
Considerando o campo Fonológico, a Língua Gestual é, segundo Stokoe, analisada
em três componentes básicos: a localização - TAB (em relação ao local do corpo onde o sinal
ocorrerá), a configuração da mão ou mãos - DEZ (por exemplo se a mão tomará a forma de
uma letra do alfabeto) e o terceiro componente SIG - o movimento e a orientação da mão.
Estes componentes, equivalentes aos fonemas das línguas orais, Stokoe denominou de
“queremas” (cheremas, do grego cheir, mão). Estes serviram de base à investigação das
Línguas Gestuais dando origem a novos queremas usados atualmente.
Os “queremas” constituem a unidade elementar visual da linguagem sinalizada, tal
como o fonema constitui a unidade elementar auditiva da linguagem falada. Quando se troca
um fonema de uma palavra, modifica-se o significado da mesma como em [f]aca e [v]aca.
Quando se modifica o querema do sinal, modifica-se o significado do mesmo, porque
modifica-se um dos eixos linguísticos. Os eixos linguísticos são três: o da tabulação (local do
corpo), o da designação (posição da mão) e o da signação (movimento da palma da mão).
Na LGP a expressão adquire funções semelhantes à entoação. A entoação é uma
flutuação da curva da frequência fundamental ao nível da frase que é responsável em
Português pela distinção de intenções comunicativas e expressivas (Delgado-Martins,1992).
Assim, a nossa curva entoacional varia consoante queiramos exprimir interrogações,
exclamações ou até manifestar dúvidas, certezas e outras reações inerentes ao discurso. Esta
unidade suprassegmental, assim designada porque condiciona os segmentos e está acima
deles, é fundamental na modelação de significados em português. (Correia, 2009).
Na Língua Portuguesa, a entoação depende exclusivamente das cordas vocais, na
medida em que estas são responsáveis pela variação do tom de voz, ou seja, na variação em
torno da Frequência Fundamental (F0). Na LGP, ao contrário do que acontece nas línguas
orais, as variações suprassegmentais relacionam-se com vários articuladores, como as
sobrancelhas, as pestanas, as faces e os lábios, sendo que podem ocorrer em simultâneo ou
independentemente, desempenhando uma ou várias funções. A expressão é um elemento
passível de criar sentidos distintos dependendo do contexto em que se insere. Não se trata
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apenas de mera reflexão das emoções do indivíduo ou de auxiliar de comunicação, mas
contribui efetivamente para a compreensão da globalidade do texto produzido.
Há diversas maneiras, mais ou menos enfáticas, de expressar tristeza, zanga,
descontentamento, entre outras emoções ou estados, mas isso deve ser tratado enquanto
elemento paralinguístico. O uso da expressão para representar uma pergunta ou uma
admiração independe da “expressividade” natural do emissor ou do seu estado de espírito.
(ibid.)
A localização é considerada uma das principais categorias da fonologia em língua
gestual e, de acordo com o modelo seguido, esta categoria divide-se em 2 tipos de
caraterísticas que são o ponto de contacto e o modo de contacto.
O movimento do gesto é uma parte fundamental e, segundo a fonologia, os
movimentos têm contrastes lexicais e morfológicos. Podemos dizer que existem dois tipos de
movimentos nos gestos que são o movimento geral (ex: AVIÃO) e o movimento interno (ex.:
ESPELHO ou EXEMPLO).
Os movimentos gerais podem ser em reta, oblíquos em arco ou círculo. Por sua vez, os
movimentos internos resultam da mudança da configuração e orientação durante um gesto,
existindo vários tipos como dedilhar, enganchar, torcer ou friccionar, etc..
O gesto, como unidade de significação, pode ser analisado em outras sub-unidades - os
queremas (iguais aos fonemas), que são definidos pela localização, configuração, movimento
da mão da Mão Dominante (M1) ou mãos, Mão Dominante (M1) e Mão Não Dominante
(M2). Pode ser indicador da pronúncia, pela intensidade e velocidade com que é executado, e
ainda indicador de expressividade, ironia, entre outros, expressões faciais codificadas que são
acompanhadas pelo gesto.
Os tipos de gestos, segundo a sua execução são os seguintes:
• Gestos de Mão Dominante, apenas executados com a mão dominante.
• Gesto de Mão Base, executados com as duas mãos, servindo a Mão Não Dominante
(M2) como base ou apoio para a Mão Dominante (M1).
• Gestos Bimanuais, utilização de duas mãos, com a mesma configuração, mas com a
possibilidade do movimento ser alterado.
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Nesta investigação podemos observar, conforme já mencionado, o papel da expressão
facial e da expressão corporal na “pontuação” da frase gestual nas seguintes formas:
• Na frase interrogativa:
O utilizador em LGP ergue a cabeça e as sobrancelhas encontram-se franzidas ou
levantadas. Manifesta-se também expressão corporal pois o corpo move-se um pouco
para a frente e os braços movimentam-se para cima ou para os lados.
• Na frase exclamativa:
O utilizador em LGP, tal como observamos, tem movimento no corpo (para trás ou
para a frente) expressando sentimento de alegria, admiração ou desagrado.
• Na frase declarativa
Os informantes têm uma expressão facial e corporal neutra ou mesmo nula.
As interjeições, como é o caso de: “Ah!” são acompanhadas de expressão facial
(sobrancelhas levantadas ou boca aberta) e são produzidas em datilologia. na frase “Ahhh!
Também vieste ao circo?!” o gestuante, não percebeu o significado da interjeição e acabou por
seguir a forma do português visual A-H, acompanhando com o movimento dos braços para o
lado. Alguns informantes, não perceberam o valor desta palavra confundindo com uma
onomatopeia do português a que acedem na sua forma escrita/“visual” AH.AH:AH gestuando
“RIR”
Considera-se que nenhum dos informantes, possivelmente, entendeu o valor da
interjeição porque não gestuou “ADMIRAR”, o gesto correspondente.
Verifica-se também neste estudo a dificuldade dos informantes em perceber
expressões idiomáticas. Ao produzir os informantes estão “colados ao português”, à sua forma
gráfica, não interpretando.
Nesta derradeira parte, observámos a estrutura sintática da Língua Gestual Portuguesa,
a variedade lexical, dialetal, polissémica e ainda, mesmo que de forma muito breve, a
expressão facial como entoação.
Conclui-se não apenas a variabilidade linguística da Língua Gestual Portuguesa, mas
sobretudo, a sua ampla plasticidade e riqueza.
PARTE III
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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CONCLUSÕES
Comunicar é sinónimo de viver. O ser humano vê, ouve, diz o mundo comunicando. A
comunicação é, ainda, uma necessidade do Ser Humano e este é, essencialmente, um ser
comunicativo.
Webster (2008) reforça esta ideia no seu conceito “comunicar” afirmando que se
perdesse todas as suas capacidades, à exceção de uma, escolheria ficar com a capacidade para
comunicar, porque com ela depressa recuperaria tudo o resto.
A capacidade para comunicar e interagir é a faculdade humana essencial que nos
permite ampliar exercitar e aplicar a inteligência, investigar, descobrir e inventar, desenvolver
e promover, instaurar e inovar intercompreensão, cidadania, inclusão e qualidade de vida para
todas as pessoas, no mundo que todos somos e constituímos. (Guerreiro, 2011).
A Língua Gestual Portuguesa é um sistema de comunicação rico das pessoas surdas.
Conforme os factos descritos, demonstrou-se a problemática relacionada com a
compreensão de frases escritas na estrutura da Língua Portuguesa por gestuantes surdos que
possuem como língua natural a Língua Gestual Portuguesa e que devido à sua ordem
gramatical, léxico e estrutura interna desta, não compreendem totalmente o texto. Assim, de
forma global, não se verificam capacidades literácitas por parte dos gestuantes surdos.
Denotam-se, frequentemente, problemas de decifração, ou seja, quando é requerido
que associem um conceito na sua língua natural, a LGP, e numa língua segunda, o português,
o gestuante surdo tem dificuldade, cometendo erros.
O desconhecimento dos conceitos ou mesmo as suas capacidades literácitas em LGP
podem, de certa forma, justificar este facto. Contudo, denota-se influências do seu percurso
profissional, pessoal, familiar e, ainda, situações em que erradamente o surdo, porque
memorizou palavras, associa estas à forma visual o que leva a erros e limitações nas suas
competências literácitas. Por exemplo, é comum que o surdo atribua erradamente um
significado a duas palavras formalmente parecidas, mas semanticamente afastadas. Correia
(2010)
Deve-se incrementar mais leituras de todos os géneros literários para que as pessoas
surdas não comportem limitações ou mesmo erros no que concerne às suas capacidades de
interpretação de qualquer texto que possam ler no seu dia-a-dia. Os informantes devem
compreender que as palavras numa frase ou texto, mediante um contexto, têm significado.
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O surdo conceptualiza o mundo como um ouvinte. Porém, a concretização dessa
conceptualização pode estar comprometida pela falta de acesso à Língua Portuguesa, (tem
acesso ao mundo através da LGP).
É fundamental que o surdo tenha cada vez mais conhecimento reflexivo da sua língua
natural, de modo a que o acesso à informação numa outra língua seja possível. É importante
que se fomente o interesse pela escrita, imprimindo-lhe significado para a pessoa surda.
É necessário que se encare o texto como algo fundamental para uma sociedade mais
inclusiva onde todos comunicamos através de algo que deve unir surdos e ouvintes como
cidadãos iguais. Só através da mediação em LGP é que esta inclusão será conseguida.
Como se verificou neste trabalho, a LGP e o Português são duas línguas distintas com
parâmetros definidores específicos. Observou-se a variabilidade sintática, a riqueza lexical e a
singularidade de expressão. Contudo, realçou-se também o afastamento em relação ao
Português, vetor de união entre todos nós. A comunicação plena parte, na nossa opinião, do
reconhecimento da diferença entre duas línguas e do seu igual estatuto digno.
A Língua Gestual Portuguesa é um sistema que está em constante evolução e
renovação, logo, oferece um mundo pleno de possibilidades. Resta compreendê-la, aceitá-la e
respeitá-la. Assim, a interacção será conseguida e o surdo será um agente social envolvido e
participante. Cumpre, neste âmbito, concluir que, “(…) para se alcançar a igualdade de acesso
à informação é necessário utilizar os pontos fortes de todos e não colocar a tónica no défice de
um isoladamente.” (Hoffmeister e Bahan, 1989a, 1989b, cit. in Bispo et al, 2009).
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ANEXOS
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Anexo 1 – Ficha de Identificação dos Informantes
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ii
Anexo 2 – Instrumento de Recolha de Dados - Frases
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iii
Anexo 3a – Configurações da Mão
DE ACORDO COM O GESTUÁRIO PUBLICADO PELO INR, I.P.
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v
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vi
Anexo 3b – Configurações da Mão
DE ACORDO COM O DICIONÁRIO DE LGP
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viii
Anexo 3c – Configurações da Mão
DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO FEITA PELA INVESTIGADORA PATRÍCIA DO CARMO
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x
Anexo 4 a – Configurações do Corpo
N
NN
N
N
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Anexo 4 b – Configurações do Corpo
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xii
Anexo 4 c – Configurações do Corpo
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xiii
Anexo 5 – Expressão Facial
Nota : O signwriting é um sistema para representar graficamente as Língua Gestuais. Foi desenvolvido por Sutton e tem vindo a ser aplicado no Brasil, e em Portugal, por Hélder Duarte. Recorremos a este quadro para ilustrar as expressões faciais a que aludimos no ponto Distinção entre Língua e
Linguagem