a lei, o sábado e o domingo
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Autor: Leandro Bertoldo. Para mais obras acesse o blog: http://pesquisasbiblicas.blogspot.comTRANSCRIPT
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Dedico este livro ao grande amigo, orientador, conselheiro e professor
Pedro B’ärg
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
“O povo de Deus tem uma obra especial a fazer em reparar as
brechas feitas em Sua lei; e quanto mais nos aproximamos do fim, tanto mais urgente
se torna essa obra. Todos quantos amam a Deus mostrarão que Lhe trazem o sinal
pela guarda de Seus mandamentos” (II TS, 503)
Ellen Gould White
Escritora, conferencista, conselheira,
e educadora norte-americana.
(1827-1915)
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
“E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os,
porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará. Mas, se é de Deus, não
podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo
contra Deus” (Atos 5:38-39).
Gamaliel
Doutor da Lei
Conselheiro do Sinédrio Judaico
Mestre do apóstolo Paulo de Tarso
(Século I)
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Sumário
Dados Biográficos
Prefácio
Chave de Abreviaturas
Introdução
1. Introdução
2. Interpretações contraditórias
3. A falta de mandamento bíblico
4. A melhor defesa é o ataque
5. A filosofia do domingo
6. Considerações finais
Capítulo 1
Os Dois Concertos 1.1 Introdução
1.2 A abolição do Antigo Concerto
1.3 A instauração do Novo Concerto
1.4 A mudança da lei
1.5 As leis que foram mudadas
1.6 Considerações finais
Capítulo 2
A Lei e o Novo Concerto
2.1 Introdução
2.2 O vigor da lei de Deus
2.3 A lei e as transgressões
2.4 Exemplos bíblicos
2.4 As duas leis em levítico
2.5 As duas leis em Isaías
2.6 Considerações finais
Capítulo 3
As Ordenanças Cravadas na Cruz
3.1 Introdução
3.2 Ordenanças cravadas na cruz
3.3 Uma lei que consistia em ordenanças
3.4 Ordenanças que nos era contrária
3.5 Ineficácia das ordenanças
3.6 Considerações finais
Capítulo 4
Um Sábado Cravado na Cruz
4.1 Introdução
4.2 Comer e beber 4.3 Espécies de sábados
4.4 Os sábados e as sombras 4.5 Os sábados cerimoniais
4.6 Sombras das coisas futuras
4.7 O sábado e a sombra
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
4.8 Os cerimoniais de holocaustos
4.9 Quem Paulo tinha em mente
4.10 Considerações finais
Capítulo 5
Questões Sobre o Sábado
5.1 Introdução
5.2 A origem do sábado
5.3 O sétimo dia
5.4 O sábado abominado
5.5 Oséias e o sábado
5.6 O sábado esquecido
5.7 A distinção entre lei moral e cerimonial
5.8 A classificação de conceitos
5.9 Considerações finais
Capítulo 6
A Lei em Gálatas
6.1 Introdução
6.2 A lei que nos serviu de “aio”
6.3 Remindo os que estavam debaixo da lei
6.4 O rudimento fraco e pobre
6.5 Alegoria dos dois concertos
6.6 Separados de Cristo
6.7 Considerações finais
Capítulo 7
Paulo e a Lei
7.1 Introdução
7.2 Uma glória transitória
7.3 Colossenses e o sábado
7.4 Indiferenças entre os dias
7.5 Um mandamento “ab-rogado”
7.6 O Santuário e os Dez Mandamentos
7.7 Todo o conselho de Deus
7.8 Considerações finais
Capítulo 8
Controvérsias Sobre o Sábado
8.1 Introdução
8.2 O sábado e as espigas
8.3 Davi e os pães da proposição
8.4 O sábado e os sacerdotes no templo
8.5 É lícito fazer bem nos sábados
8.6 O Senhor do sábado
8.7 Considerações finais
Capítulo 9
Jesus e o Sábado
9.1 Introdução
9.2 O paralítico e a cama
9.3 O sábado e a cura
9.4 O Pai trabalha até agora
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
9.5 O sábado e a circuncisão
9.6 Seria Jesus um pecador
9.7 Considerações finais
Capítulo 10
Os Cristãos e o Sábado
10.1 Introdução
10.2 Jesus guardou o dia do sábado
10.3 Fuga de Jerusalém
10.4 As discípulas guardaram o sábado
10.5 Paulo guardava o sábado com os judeus
10.6 Paulo ensinava os gentios no sábado
10.7 Paulo disputava nos sábados
10.8 Paulo guardou o sábado com os gentios
10.9 Considerações finais
Capítulo 11
Jesus e a Lei
11.1 Introdução
11.2 Jesus não revogou a lei
11.3 Jesus veio para cumprir as profecias
11.4 O sábado e o sétimo dia da semana
11.5 O sábado perdido no tempo
11.6 O sábado e a expressão “para sempre”
11.7 Os cerimoniais e a expressão “para sempre”
11.8 Considerações finais
Capítulo 12
O Primeiro Dia da Semana
12.1 Introdução
12.2 A ressurreição de Jesus
12.3 As portas cerradas no primeiro dia da semana
12.4 Os cristãos de Troas e o primeiro dia da semana
12.4.1 Os cristãos de Troas e o partir o pão
12.4.2 Os cristãos de Troas e o culto religioso
12.5 O caso da coleta para os santos
12.6 Considerações finais
Capítulo 13
A Bíblia e o Domingo
13.1 Introdução
13.2 Santidade de todos os dias
13.3 A observância de todos os dias
13.4 O dia de Pentecostes
13.5 O Concílio de Jerusalém
13.5.1 A falta de citação dos mandamentos 13.6 O “dia do Senhor” bíblico
13.7 Considerações finais
Capítulo 14
A Bíblia e o Dia do Senhor
14.1 Introdução
14.2 “Kyriaké hémerà” e o sábado
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
14.3 Transposição literária
14.4 O “dia do Senhor” na escatologia
14.5 Qual dia da semana é o “kyriaké hémerà”
14.6 “Kyriaké hémerà” e o domingo
14.7 Dia do Senhor e os Pais da Igreja
14.8 O vocábulo latino
14.9 A Vulgata Latina de Jerônimo
14.10 Considerações finais
Capítulo 15
O Domingo e os Pais da Igreja
15.1 Introdução
15.2 Rancores contra os judeus
15.3 Justino e Inácio
15.4 Testemunho de Justino
15.5 Constantino entra em cena
15.6 Considerações finais
Capítulo 16
A Imposição do Domingo
16.1 Introdução
16.2 Decreto dominical de Constantino
16.3 Os camponeses
16.4 A transferência do sábado
16.5 Concílio de Laodicéia
16.6 Carta do Papa Gregório I
16.7 Considerações finais
Epílogo
Bibliografia
Endereços
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Dados Biográficos
“Enquanto nos contentarmos com um conhecimento limitado, não estaremos
habilitados a obter mais claras visões da verdade. Aquele que prega a palavra da vida precisa dedicar tempo ao
estudo da Bíblia, e ao exame do próprio coração”.
Ellen Gould White (OE, 251).
Leandro Bertoldo é natural do Estado de São Paulo, nascido na cidade de São
Paulo, em 1959. Foi o primeiro dos dois filhos do casal José Bertoldo Sobrinho e Anita
Leandro Bezerra. Casado com Daisy Menezes Bertoldo. Tem uma filha de nome Beatriz
Maciel Bertoldo. É dono dos queridinhos, lindinhos, fofinhos, docinhos e engraçadinhos
da casa: Fofa, Pitucha, Calma e Mimo.
O autor é escrevente, cientista, escritor, palestrante e professor. Seus livros são
conhecidos em todo o Brasil e fora dele. Até o presente momento possui publicado vinte
e um livros direcionados para diversas áreas, como Física, Matemática, Química,
Teologia e Poesia.
No início da década de oitenta, quando ainda era graduando no curso de
Ciências Exatas e Tecnológicas, na Universidade de Mogi das Cruzes – UMC,
desenvolveu muitas de suas principais teses científicas em Física, Matemática, Físico-
Química e Linguística. Mais tarde, bacharelou-se em Direito pela mesma Universidade.
Atualmente é funcionário do Poder Judiciário do Estado de São Paulo.
Devido às intensas atividades evangelísticas da professora Célia Regina de
Souza Xavier e dos cursos bíblicos ministrados por seu ilustre esposo Valdir Gonçalves
Xavier, Leandro converteu-se ao cristianismo em 23 de abril de 1986. Foi preparado
para o batismo pelo distinto professor Pedro B’ärg entre julho/1986 a setembro/1987.
Foi batizado pelo dedicado e esforçado pastor Davi Marski em 26 de setembro de 1987.
Incentivado pela professora Ozilda Pereira Moreira, Leandro tornou-se professor
da Escola Sabatina e, por influência do diretor da Escola Sabatina, Antonio Prado
Júnior, também se tornou professor da Classe Bíblica, a princípio supervisionado pelo
professor Pedro B’ärg. A seguir, sob orientação do diretor de Ação Missionária,
Antenógenes Negrão, engajou-se nas atividades evangelísticas organizadas por sua
denominação.
Leandro realizou – junto com a sua namorada Daisy Menezes – durante três anos
consecutivos, trabalhos missionários no bairro da Vila Industrial, cidade de Mogi das
Cruzes – SP., distribuindo folhetos de casa em casa e ministrando estudos bíblicos aos
mais diversos interessados.
Posteriormente, junto com o saudoso amigo Paulo César Mazanti (1967-2008)
realizou, com excelente aproveitamento, durante dez anos ininterruptos, trabalhos
evangelísticos em classes bíblicas, residências, igrejas e na Favela do Gica.
No primeiro semestre de 1999, Leandro Bertoldo, Paulo Mazanti e Moacir dos
Passos, atendendo à solicitação do amigo Edson Felix, realizaram aos domingos uma
série de conferências bíblicas na nova igreja de César de Souza, e que foi concluída com
grande sucesso.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Em 07 de fevereiro de 2004, Leandro e Paulo conceberam um modelo e estilo
próprio de classe pós-batismal, a qual passaram a coordenar em conjunto. Atualmente,
essa classe vem sendo dirigida por Leandro Bertoldo e Nilton Satio Murakami.
Leandro também é Coordenador de Classes Bíblicas e tem recebido auxilio dos
professores Cínthia Passos Assumpção Pedroso, Maurício Epiphânio, Maurício Shoji
Kimoto, Moacir dos Passos, Nilton Satio Murakami e Willians Roberto da Silva.
Desde o seu batismo, Leandro tem assumindo cargos direcionados para diversas
áreas. Foi Secretário do Ministério Pessoal, Tesoureiro, Professor da Escola Sabatina,
Promotor de Literatura, Professor da Classe de Visitas, Ancião e Coordenador de Classe
Bíblica. Atualmente vem coordenando as classes bíblicas da igreja onde congrega.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Prefácio
“O sábado é sempre o sinal que distingue os obedientes dos desobedientes. Com
magistral poder tem Satanás procurado tornar nulo e inútil o quarto mandamento, a fim de que o sinal de Deus
seja perdido de vista. O mundo cristão tem calcado sob os pés o sábado do Senhor e observa o sábado instituído
pelo inimigo. Deus, porém, tem um povo leal a Ele. Esta obra deve ser levada avante da maneira devida”.
Ellen Gould White (CS,2352)
A presente obra de conteúdo eminentemente “apologético” está alicerçada na
profunda experiência que o autor possui, há quatro lustros, como professor de estudos
bíblicos.
Apenas a título de esclarecimento, a “apologética” é um ramo da Teologia tem
por objetivo a defesa da confissão de fé contra ataques desferidos por seus adversários.
De maneira simples, didática e objetiva, o escritor faz uma veemente defesa
bíblica dos principais versículos que abordam o tema da “lei de Deus” e do “santo
sábado do Senhor”. Assuntos que são polêmicos no mundo cristão. Essas questões são
assaz inquietantes para todos aqueles que estão considerando a observância do santo
sábado. “Muitos existem que jamais compreenderam as reivindicações do sábado
bíblico e o falso fundamento sobre o qual repousa a instituição do domingo”. (II TS,
318).
Neste livro, o autor proporciona ao seu público ledor um estudo sistemático e
profundo sobre a extensão e a eficácia da lei e do sábado nos dias de hoje. Identifica
pelas Escrituras Sagradas qual é o verdadeiro “dia do Senhor”. Também demonstra,
exclusivamente, pela Palavra de Deus qual é o dia sagrado de descanso e de culto
religioso estabelecido pelo próprio Criador do Universo. Esta obra é indispensável para
pesquisas e estudos bíblicos.
Na elaboração deste livro, o autor procurou, na medida do possível, pautar-se
pelo célebre argumento dialético conhecido pelo nome de "Navalha de Ockham",
princípio de que diante de duas interpretações iguais, a mais simples é a correta.
Didaticamente dividido em dezesseis capítulos, o livro trata sucintamente dos
principais temas relacionados com a lei, o sábado e o domingo. Em linhas gerais, a obra
trata da relação existente entre o decálogo com o Antigo e com o Novo Concerto;
considera as espécies de ordenanças que foram cravadas na cruz; avalia algumas
passagens paulinas sobre a lei e que são de difícil interpretação; analisa algumas
questões que são levantadas contra o sábado; ajuíza a atitude de Jesus perante o sábado;
também trata da guarda do sábado pelos primeiros cristãos; analisa as passagens bíblicas
que, supostamente, estariam defendendo a guarda do domingo; realiza uma profunda
análise sobre o termo “kyriaké hémerà” e mostra a origem pagã do domingo.
Sob a perspectiva das regras da Hermenêutica Sacra, cada capítulo desta obra
proporciona ao leitor, com fundamento exclusivo nas Escrituras Sagradas, uma
profunda análise lógica dos versículos bíblicos apresentados. Tudo com o objetivo de
esclarecer as principais controvérsias levantadas contra a santa lei de Deus e contra o
sábado bíblico.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Convém lembrar que todas as palavras em negrito apontadas nesta obra indicam
a ênfase dada pelo autor. Também esclarece que as repetições de alguns argumentos são
inevitáveis, haja vista a sua ampla aplicação.
Enfim, é o sincero desejo do escritor que muitas mentes sinceras e
espiritualmente esclarecidas possam enxergar e sentir a pujança das verdades defendidas
nas páginas desta singela obra.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Chave de Abreviaturas
AA – Atos dos Apóstolos
BS – Beneficência Social
CPPE – Conselhos, Professores, Pais e Estudantes
CS – Conselhos Sobre Saúde
CS – Cristo em Seu Santuário
DTN – O Desejado de Todas as Nações
E – Educação
EF – Eventos Finais
FEC – Fundamentos da Educação Cristã
FO – Fé e Obras
GC – O Grande Conflito
HR – História da Redenção
ME – Mensagens Escolhidas (Vols. I-III)
PP – Patriarca e Profetas
PR – Profetas e Reis
OE – Obreiros Evangélicos
RH – Review and Herald
RP – E Recebereis Poder – Meditação Matinal
RR – Reavivamento e Seus Resultados
ST – Signs of the Times
T – Testimonies (Vols. I-IX)
TS – Testemunhos Seletos (Vols. I-III)
VE – Vida e Ensinos
VJ – Vida de Jesus
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Introdução
“Em cada cidade há agentes satânicos organizando, ativamente, em partidos os que
se opõem à lei de Deus. Professos santos e descrentes confessos tomam posição ao lado desses partidos. Não é este
o tempo de o povo de Deus mostrar-se medroso. Não nos podemos permitir estar fora da guarda um só momento”.
Ellen Gould White (VIII T, 42)
1. Introdução
Contrariando a clareza meridiana da Palavra de Deus, os antagonistas do sábado
– “querendo ser doutores da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que
afirmam” (I Timóteo 1:7) – através de intricados argumentos, completamente contrários
às Escrituras Sagradas, procuram por todo tipo de suposições fantasiosas – abater o
sábado bíblico e defender a observância antibíblica do domingo pagão.
Os adversários do sábado aproveitam maliciosamente o fato indiscutível de que
nas epístolas do apóstolo Paulo e em muitas outras partes das Escrituras Sagradas “há
pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as
outras Escrituras, para sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo isto de
antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente
arrebatados, e descaiais da vossa firmeza” (II Pedro 3:16-17).
Esses “homens abomináveis” deliberadamente torcem o verdadeiro sentido das
palavras de Deus porque eles não encontram nas divinas Escrituras nenhum registro,
mandamento, ordem ou qualquer respaldo bíblico ordenando ou insinuando
explicitamente ou mesmo implicitamente a observância do domingo, o qual tem a sua
origem exclusivamente na tradição do paganismo romano do “dia do Sol”.
Contra a clara letra da Bíblia Sagrada, os adversários da verdade envidam todos
os esforças para colocar o domingo no lugar do santo sábado, o qual o Senhor
estabeleceu por Sua soberana autoridade e vontade. Com essa atitude os inimigos do
sábado trocam meia dúzia por nada ou seis por zero. “Pois mudaram a verdade de Deus
em mentira” (Romanos 1:25).
“Com os ensinadores protestantes há a mesma pretensão de autoridade divina
para a guarda do domingo, e a mesma falta de provas bíblicas”. (GC, 579). Os
adversários do sábado claramente manipulam os versículos bíblicos, privilegiando
passagens obscuras e descontextualizada para confundir o público.
A bem da verdade, o domingo é uma planta que não foi plantada por Deus em
Sua Igreja. Conforme Jesus Cristo afirmou: “toda a planta, que meu Pai celestial não
plantou, será arrancada” (Mateus 15:13). Por essa razão os santos do Altíssimo são
identificados nas Escrituras Sagradas como sendo aqueles que “guardam os
mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apocalipse 14:12).
2. Interpretações contraditórias
Com o único propósito de tornar a sua teologia e os seus argumentos sobre a
tradição da guarda do domingo pagão mais favorável e plausível aos olhos dos fiéis e do
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
público em geral, os inimigos da santa lei de Deus atacam o sábado bíblico sem nenhum
critério hermenêutico e de forma totalmente mal-intencionada.
Os adversários do sábado costumam empregar todos os tipos de tolices que
possam imaginar, fantasiar ou inventar para contradizer os mais claros e lúcidos ensinos
sobre a lei e o sábado. Eles são especialistas em somar “dois mais dois” para chegar à
conclusão irrefutável de que o resultado é cinco. São expertos em ignorar as mais claras
evidências bíblicas apresentadas sobre a validade da lei e do sábado.
De forma inescrupulosa e inconsequente, os “indoutos e inconstantes”
antagonistas das verdades bíblicas empregam contra o “santo sábado do Senhor” alguns
argumentos que são totalmente risíveis, ridículos, falsos, contraditórios e até mesmo
antibíblicos, os quais atentam seriamente contra a boa fé dos próprios adversários do
“santo sábado do Senhor”.
Note a seguir algumas das contradições existentes nas mais acariciadas pérolas
dos adversários da santa lei de Deus: a) o argumento de que o Novo Testamento repete
todos os mandamentos do decálogo menos o sábado é falso, haja vista que o
mandamento do sábado é repetido no Novo Testamento em mais de sessenta passagens;
b) o argumento de que o domingo é biblicamente o dia do Senhor é falso, sobretudo
porque a Bíblia Sagrada afirma explicitamente que o sábado é o dia do Senhor; c) o
argumento de que todos os dias são iguais contradiz o argumento de que os cristãos
devem guardar o domingo? d) o argumento de que Paulo ensinou que todos os dias são
iguais é falso, simplesmente porque Paulo combateu os heréticos que pensavam desse
modo; e) o argumento de que Oséias profetizou a abolição do sábado é falso, haja vista
que o profeta anunciou que sábado cessaria apenas para os israelitas porque eles
cessariam de existir como nação; f) o argumento de que basta guardar um dia qualquer
entre sete é falso, porque a Bíblia Sagrada estabelece que o sábado é o sétimo dia da
semana; g) o argumento ardiloso de que a lei e o sábado findaram com João Batista
contradiz o falso argumento de que a lei e o sábado foram cravados na cruz; h) o
argumento que Jesus não guardava a lei do sábado contradiz o argumento de que Jesus
veio para cumprir a lei; i) o argumento de que os Dez Mandamentos foram abolidos na
cruz, contradiz o fato irrefutável de que Jesus e os apóstolos ensinaram por preceito e
exemplo a observância dos Dez Mandamentos; j) o argumento de que o sábado é do
judeu é antibíblico, sobretudo porque as Escrituras Sagradas ensinam que o sábado é do
Senhor; k) o argumento de que os gentios nada tinham com o sábado contradiz o
registro bíblico que obriga os gentios a guardarem o sábado; l) o argumento de que o
sábado perdeu-se no tempo é equivocado, especialmente porque os adversários dos
sábado sabem identificar qual dia da semana corresponde ao domingo; m) o argumento
de que “kyriaké hémerà” refere-se ao domingo é falso pelos seguintes motivos:
primeiro: “kyriaké hémerà” não indica nenhum dia específico da semana; segundo: as
Escrituras jamais relacionaram “kyriaké hémerà” ao primeiro dia da semana; terceiro:
os apóstolos jamais empregaram “kyriaké hémerà” quando se referiam ao primeiro dia
da semana; quarto: a palavra domingo é de origem latina, mas o Novo Testamento foi
escrito em grego; quinto: as Escrituras Sagradas relacionam “kyriaké hémerà”
exclusivamente ao sábado bíblico, jamais o relacionou ao domingo pagão.
Apesar de todas essas discrepâncias, muitas outras tolices irrefletidas como essas
são veementes defendidas pelos adversários do “santo sábado do Senhor”.
3. A falta de mandamento bíblico
A verdade cristalina é que as suposições dos inimigos da lei de Deus contra o
“santo sábado do Senhor” são extremamente fantasiosas porque não estão em real
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
harmonia com o exato e perfeito conteúdo axiológico da Palavra de Deus. Seus
argumentos contra o “sábado do Senhor” são insatisfatórios porque distorcem o
verdadeiro sentido da mensagem bíblica. Suas interpretações sobre o domingo pagão
estão totalmente alienadas da realidade e do universo das divinas Escrituras. Seus
ensinos desprezam o contexto imediato e mediato do texto bíblico. Sua hermenêutica
abandona os mais elementares princípios bíblicos, os quais contradizem abertamente os
seus argumentos capciosos.
A verdade pura e cristalina é que o sábado é mandamento bíblico, mas o
domingo pagão não tem nenhum fundamento ou respaldo na Palavra de Deus. Quem
ensina tal coisa não é qualquer ser humano, mas sim as próprias Escrituras Sagradas,
que foram divinamente inspiradas pelo Espírito Santo (II Pedro 1:21). “Os cristãos não
deveriam receber outras doutrinas senão as que se apóiam na autoridade das Sagradas
Escrituras” (HR, 324). (História da Redenção, 342).
Deste modo – na falta de um claro mandamento bíblico ordenando
explicitamente a santificação do domingo – os detratores do santo sábado buscam por
todos os artifícios dar uma aparência bíblica e cristã a esse dia de origem pagã. Para
tanto, eles procuram relacionar ou vincular o domingo a alguns eventos bíblicos
“politicamente corretos” que se deram no primeiro dia da semana. Mas, a bem da
verdade é que tais eventos escriturísticos, por mais grandiosos, extraordinários ou
maravilhosos que possam ser, não servem de critério ou norma válida para demonstrar
ou provar que o domingo é um dia sagrado ou que deve ser observado por todos os
cristãos como mandamento bíblico. Mesmo porque nenhuma mensagem bíblica “é de
particular interpretação” (II Pedro 1:20). Por essa razão é fundamental que haja uma
clara determinação divina ordenando a santificação do domingo. É absolutamente
necessário que haja um claro “Está Escrito” ou um expressivo “Assim diz o Senhor”,
fato este, que não ocorre com o domingo pagão.
Destarte, o episódio de Jesus ter instituído e celebrado a Santa Ceia no quinto dia
da semana, não permite inferir que esse dia deve ser observado com propósito sagrado.
De igual forma, o fato de Jesus ter decidido morrer pela humanidade no sexto dia da
semana, não permite inferir que esse dia deve ser observado com propósito sagrado. O
fato de Deus ter criado o homem no sexto dia da semana, não permite inferir que esse
dia deve ser observado com propósito sagrado. Igualmente, o fato de Jesus ter
descansado na sepultura no sábado, não permite inferir que esse dia deve ser guardado
com propósito sagrado. O fato de Deus ter criado o céu e a terra no primeiro dia da
semana, não permite inferir que esse dia deve ser observado com propósito sagrado. Na
verdade os antigos patriarcas e profetas nunca consideraram sagrado o primeiro dia da
semana. Diante do que foi exposto, o fato de Jesus ter ressuscitado no primeiro dia da
semana – por uma questão de coerência – não permite inferir que esse dia deve ser
observado com propósito sagrado. Em todos esses casos, excetuando o dia do sábado,
falta um claro mandamento divino ordenando explicitamente a observância de qualquer
um desses dias.
Os argumentos dos adversários do sábado não estão somente em desalinho com
os fatos bíblicos, mas também em direta oposição a eles. Caso o domingo pudesse ser
guardado com base num fato bíblico, então qualquer dia pode ser guardado com base
num fato bíblico, inclusive o dia do sábado. É simplesmente uma questão de
consistência e bom senso: um equilíbrio intelectual e espiritual que falta aos adversários
do “santo sábado do Senhor”, que querem distorcer as Escrituras Sagradas a todo custo.
Mas, como afirma o apóstolo Paulo: “se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não
conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é
segundo a piedade. É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas” (I Timóteo
6:3-4).
4. A melhor defesa é o ataque
Os inimigos do sábado bíblico jamais passariam pelo teste realizado pelos
bereanos, que “foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de
bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas
eram assim” (Atos 17:11). Os adversários do “santo sábado do Senhor” seriam
sumariamente reprovados pelos bereanos e considerados como heréticos e falsos
profetas, simplesmente porque as Escrituras Sagradas nada ensinam sobre a observância
do domingo.
Os oponentes do santo sábado sabem muito bem, que a melhor defesa do
domingo pagão, consiste em atacar o sábado bíblico. Sua técnica contra o santo sábado
consiste no seguinte: “umas poucas palavras das Escrituras são separadas do contexto, o
qual, em muitos casos, mostraria ser o seu sentido exatamente o contrário da
interpretação a elas dada; e tais passagens desconexas são pervertidas e usadas em prova
de doutrinas que não têm fundamento na Palavra de Deus” (GC, 539).
Qualquer pessoa, um pouco mais esclarecida, pode notar como os antagonistas
do sábado tem formulado muitas invenções e suposições contra o “santo sábado do
Senhor”, mas quase nada tem a dizer em defesa do domingo, a não ser criar uma série
de fantasias homiléticas em torno do primeiro dia da semana, numa inútil tentativa para
justificar a guarda do domingo pagão. Para essas pessoas Jesus tem uma mensagem:
“em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:9).
As Escrituras Sagradas deixam claro que o sábado é um dia abençoado e
santificado por Deus desde a fundação do mundo, para ser observado por toda a
humanidade.
Quando o gênero humano estava perdendo a verdade divina de vista, o Senhor
fez questão de repetir o mandamento do sábado, colocando-o no centro de uma lei
moral para ser observado por todos os santos. Posteriormente, os profetas exortaram o
povo de Deus a não perderem de vista a guarda do sábado. Jesus e os apóstolos
ratificaram em seu viver a observância do santo sábado. Mas, e o domingo? Bem, o
estudo e a leitura das Escrituras Sagradas mostram claramente que o domingo nunca foi
um dia abençoado ou santificado por Deus. A bem da verdade, o domingo nem sequer é
mencionado na Bíblia Sagrada. De fato, o domingo pagão é uma contrafação do sábado
bíblico.
A doutrina do domingo é indefensável com as armas da Palavra de Deus, razão
pela qual os antagonistas do sábado, em vez que empregarem a rigorosa e objetiva
ciência da Hermenêutica Sacra, costumam empregar a arte subjetiva da Homilética
Sacra para abater o sábado bíblico e defender a guarda do domingo, cujas origens se
perde no seio do paganismo. Como diz o Espírito Santo nas Escrituras Sagradas: “À Lei
e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva” (Isaías
8:20). A triste realidade é que poucos querem de fato seguir o princípio escriturístico
insistentemente pregado por Jesus Cristo como base de qualquer ensino: “Que está
escrito na lei? Como lês?” (Lucas 10:26). “Está escrito” (Mateus 4:4: 21:13; Lucas
22:37 etc.).
5. A filosofia do domingo
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Diante das artimanhas dos inimigos do “sábado do Senhor” e da ausência de um
claro “Assim diz o Senhor” ou um de expressivo “Está Escrito” para justificar a guarda
do domingo, é muito oportuno lembrar a advertência proclamada pelo apóstolo Paulo:
“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs
sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não
segundo Cristo” (Colossenses 2:8).
Essa advertência paulina, mais do que nunca, é necessária nos dias de hoje,
porque a filosofia do domingo e as tradições dos homens alicerçadas nos rudimentos do
mundo, podem até mesmo apresentar alguma aparência de verdade aos olhos dos
homens, mas não estão verdadeiramente fundamentadas nas sóbrias e justas palavras de
Cristo. Os rudimentos do mundo não possuem o fundamento sólido de um claro e
expressivo: “Assim diz o Senhor”, razão pela qual o Espírito Santo adverte: “Há
caminho que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte”
(Provérbios 16:25). Os antagonistas do sábado sabem muito bem que eles não teriam a menor chance
em defender o domingo pagão num confronto honesto e honrado com a verdade bíblica,
empregando exclusivamente e rigorosamente as Escrituras Sagradas e as regras da
ciência da Hermenêutica Sacra. “Porque nada podemos contra a verdade, senão pela
verdade”. “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de
particular interpretação” (II Coríntios 13:8; II Pedro 1:20). Os adversários do sábado do
Senhor devem ser enfrentados unicamente com a Bíblia, e somente a Bíblia.
Quando acuados pela tremenda força das verdades bíblicas, os adversários do
sábado, obstinadamente, costumam empregar várias evasivas, tais como desviar de um
assunto para outro, desvirtuar o tema do debate, torcer os textos bíblicos, fantasiar o
assunto em pauta, ignorar sistematicamente as replicas, partir para ataques pessoais e
valer-se de muitos outros subterfúgios semelhantes a estes.
Aqueles que procuram desesperadamente encontrar supostas bases bíblicas para
a abolição do “santo sábado do Senhor”, quando não existe nenhuma, correm o risco de
perderem de vista uma verdade fundamental em sua vida espiritual cristã. Cuidado!
Alguns que não conservaram a fé e a boa consciência na verdade divinamente revelada
“fizeram naufrágio na fé” (I Timóteo 1:19).
6. Considerações finais
Em geral as pessoas são fáceis de serem manipuladas por “homens
abomináveis”, principalmente porque elas possuem pouco estudo, pouca leitura, pouco
conhecimento e pouco senso crítico. A verdade é que, diante do desenvolvimento
cultural e tecnológico dos dias de hoje, boa parte da população mundial é semi-
analfabeta. As poucas pessoas que lêem não sabem realmente interpretar o que está
lendo; as que sabem interpretar não possuem o menor senso crítico do que está lendo, e
as que possuem senso crítico pecam por falta de conhecimento universal. A maioria das
pessoas faz pouco uso de suas poderosas faculdades mentais. Pesa ainda sobre todos, o
fato indiscutível de possuírem uma certa tendência natural para a credulidade. Razão
pela qual, elas são facilmente levadas “em roda por todo o vento de doutrina, pelo
engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Efésios 4:14).
Desde que o pecado entrou no mundo, a obra de engano passou a imperar
sobremaneira entre todos os homens e persistirá até a “consumação dos séculos”. Nossa
única salvaguarda contra os erros, enganos, equívocos, mentiras e falsidades que se
insurgem diariamente contra as verdades bíblicas está unicamente em estribar-se no
correto estudo das Escrituras Sagradas. Devemos permitir que o Espírito Santo nos
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
ensine, e que a Bíblia Sagrada seja a nossa única regra de fé, bem como intérprete de si
mesma.
“Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim
também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da
simplicidade que há em Cristo” (II Coríntios 11:3). Por essa razão a presente obra vem a
lume com o objetivo de apresentar e demonstrar ao publico ledor a verdade fundamental
sobre a lei, o sábado e o domingo. Tudo analisado, fundamentado e contextualizado
dentro do universo das Escrituras Sagradas e nas regras da Hermenêutica Sacra “porque
nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus” (II Coríntios 2:17).
“Quando os que receberam a interpretação falsa da Palavra examinam com
decidido esforço as Escrituras, no intuito de conhecer o que é a verdade, o Espírito
Santo lhes abre os olhos do entendimento, e a Palavra é para eles uma nova revelação. O
seu coração é despertado com uma nova e viva fé, e vêem na lei divina coisas
maravilhosas. Os ensinos de Cristo têm para eles uma amplitude e um sentido que
nunca antes compreendiam”. (CPPE, 430).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 1 Os Dois Concertos
“O quarto mandamento tem sido pisado a pés; por isso, somos chamados para
reparar a brecha na lei de Deus e defender o sábado profanado”.
Ellen Gould White (VE, 86)
1.1 Introdução
A Bíblia Sagrada menciona a existência de vários concertos que Deus fez através
dos tempos com o Seu santo povo (Deuteronômio 29:1; Efésios 2:12). Ela também faz
referência a concertos individuais que o Senhor fez com muitas outras pessoas no
decorrer da história sagrada (Gênesis 9:17; 17:13; Levítico 26:42 etc).
Em geral, as Santas Escrituras mostram claramente a existência de dois
concertos, conhecidos pelo nome de “Antigo Concerto” e “Novo Concerto” ou “Antiga
Aliança” e “Nova Aliança”. Tais concertos (alianças) também são conhecidos pelo
nome de “Antigo Testamento” e “Novo Testamento”. Estas denominações não devem
ser confundidas com as designações que servem para intitular as Escrituras Sagradas
produzidas antes e depois de Cristo (Antigo e Novo Testamento).
A Bíblia Sagrada mostra claramente que o “Antigo Concerto” foi abolido e
substituído pelo “Novo Concerto”. O Antigo Testamento (Concerto/Aliança) estabelece
a expiação de pecados pelo sangue de animais e o Novo Testamento (Concerto/Aliança)
estabelece a expiação de pecados pelo sangue de Cristo.
As Escrituras Sagradas também deixam bem claro que a base comum do Antigo
Testamento (Concerto/Aliança), tanto quanto do Novo Testamento (Concerto/Aliança) é
o célebre “Concerto do Decálogo”: os Dez Mandamentos. Este concerto vigora para
santificar os crentes (João 17:17), mostrar aos homens o que é pecado (Romanos 3:20;
7:7) e condenar o pecado (Romanos 6:23). Este concerto foi inteiramente ratificado por
Jesus e pelos santos apóstolos, que ensinaram e praticaram os seus preceitos sagrados, a
ponto de ser repetido nos livros do Novo Testamento em mais de 200 passagens
bíblicas.
Através dos Dez Mandamentos, o Espírito Santo convence “o mundo do pecado,
e da justiça e do juízo.” (João 16:8). Uma vez convencido do pecado, o homem
reconhece que está condenado e perdido por causa de suas transgressões contra os
“mandamentos de Deus”, somente então ele é levado pelo Espírito Santo a crer em
Cristo para receber o perdão de seus pecados. “De maneira que a lei nos serviu de aio,
para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gálatas 3:24).
“A lei revela ao homem os seus pecados, mas não provê remédio. Ao mesmo
tempo que promete vida ao obediente, declara que a morte é a consequência para o
transgressor. Unicamente o evangelho de Cristo o pode livrar da condenação ou
contaminação do pecado. Deve ele exercer o arrependimento em relação a Deus, cuja lei
transgrediu, e fé em Cristo, seu sacrifício expiatório. Obtém assim ‘remissão dos
pecados dantes cometidos’ (Romanos 3:25), e se torna participante da natureza divina”
(RR, 12).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
1.2 A abolição do Antigo Concerto
O autor do livro de Hebreus é claro, claríssimo ao afirmar que o Antigo
Concerto foi mudado. Esse concerto consistia na expiação de pecados pelo holocausto
de animais ministrado pelo sacerdócio levítico. “Porque todo sumo sacerdote, tomado
dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus,
para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados” (Hebreus 5:1).
Mas qual foi a mudança ocorrida? Quem fez a mudança? Quando essa mudança
aconteceu? Bem, as Escrituras Sagradas informam que o sacerdócio levítico havia se
levantado segundo a ordem de Aarão, mas foi abolido e substituído pelo sacerdócio de
Cristo, que se levantou segundo a ordem de Melquisedeque.
A palavra “ordem” neste texto tem o sentido de sociedade religiosa cujos
membros seguem rigorosamente as regras estabelecidas por sua organização sacerdotal.
Observe o que diz as Escrituras Sagradas:
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Hebreus 7:11-12 – “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque
sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se
levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem
de Aarão? Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também
mudança da lei”.
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Note o que afirmam os dois versículos supra mencionados: “se a perfeição fosse
pelo sacerdócio levítico... que necessidade havia logo de que outro sacerdote se
levantasse”? Portanto, um novo sacerdócio levantou-se para ocupar o lugar do
sacerdócio predecessor.
“E assim todo sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas
vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados; mas este, havendo
oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de
Deus” (Hebreus 10:11-12).
Essa mudança de sacerdócio não é novidade alguma para quem estuda a Bíblia
Sagrada, sobretudo porque o profeta Daniel havia anunciado, muitos séculos antes, a
abolição do Antigo Concerto de sacrifício de animais e a inauguração do Novo
Concerto pelo Messias vindouro. Observe o que diz o santo servo de Deus:
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Daniel 9:27 – “E ele firmará um concerto com muitos por uma semana: e na metade
da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares”.
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Uma análise contextual mostra que o profeta Daniel está se referindo ao
Messias, que firmaria um Novo Concerto com muitas pessoas por uma semana profética
(sete anos). Que na metade da semana (3,5 anos) faria cessar o Antigo Concerto de
“sacrifício” de animais e “ofertas de manjares” ministrados pelos sacerdotes levitas no
“santuário terrestre”.
Observe que o profeta Daniel faz questão de dizer claramente qual é o concerto
que o Messias faria cessar. Trata-se do concerto relacionado com o cerimonial religioso
de “sacrifício e a oferta de manjares”, realizado pelo “sacerdócio levítico”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
“Como acima diz, Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não
quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então disse: Eis aqui
venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo”
(Hebreus 10:8-9). Uma análise contextual mostra claramente que o termo “primeiro” é
uma referência ao Antigo Concerto de expiação de pecados pelo holocausto de animais;
e, a expressão “segundo” é uma referência ao Novo Concerto de expiação de pecados
pelo holocausto de Cristo.
Nenhuma referência é feita ao concerto do decálogo ou ao santo sábado, que foi
abençoado e santificado por Deus na fundação do mundo, colocado no coração do
decálogo, ensinado pelos profetas, observado pelos santos do Altíssimo, ratificado por
Jesus e pelos santos apóstolos.
1.3 A instauração do Novo Concerto
Em cumprimento à profecia anunciada pelo profeta Daniel, o Messias firmaria
um concerto com o Seu povo durante a “última” das setenta semanas proféticas (Daniel
9:27). Esse concerto é conhecido universalmente pelos nomes de “Novo Concerto”,
“Novo Testamento” ou “Nova Aliança” e tem por base o próprio sangue do Messias.
Observe o que diz as Escrituras Sagradas:
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Mateus 26:28 – “Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é
derramado por muitos, para remissão dos pecados”.
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Sabemos que, por ocasião da morte do Messias – o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo (João 1:29 e 36) – o “Antigo Concerto” de remissão dos pecados pelo
sangue de animais perdeu totalmente a sua eficácia, passando a vigorar o “Novo
Concerto” de expiação de pecados por meio do sacrifício de Cristo, que “se entregou a
si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Efésios 5:2).
Conforme Daniel havia profetizado, a morte de Cristo ocorreu exatamente na
metade da última das setenta semanas proféticas. Com a Sua morte cessou
definitivamente a eficácia do cerimonial religioso levítico, que era realizado no
“santuário terrestre” (Hebreus 8:13-9:1). Observe o que testemunha o evangelista
Mateus:
Mateus 27:51 – “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e
tremeu a terra, e fenderam-se as pedras”.
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“Na primavera de 31 d.C., Cristo, o verdadeiro sacrifício, foi oferecido no
Calvário. Então o véu do templo se rasgou em dois, mostrando que a santidade e
significação do serviço sacrifical desapareceram. Chegara o tempo de cessar o sacrifício
terrestre e a oblação” (DTN, 233).
O véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo no santuário terrestre
(Êxodo 26:33) se rasgou de alto a baixo, expondo aos olhos curiosos o lugar santíssimo.
Com a manifestação desse fenômeno sobrenatural, Deus pôs fim ao Antigo
Concerto de expiação de pecados por meio do holocausto de animais, que eram
realizados, através do ministério sacerdotal levítico, no santuário terrestre.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Com o fim do Antigo Concerto, entrou em vigor o Novo Concerto de expiação
de pecados por meio do holocausto de Cristo, que foi realizado uma única vez em
benefício de toda a humanidade. “Doutra maneira, necessário lhe fora padecer muitas
vezes desde a fundação do mundo; mas, agora, na consumação dos séculos, uma vez se
manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”. (Hebreus 9:26).
1.4 A mudança da lei
É claro que, com a mudança de sacerdócio levítico para o sacerdócio de Cristo,
também se tornou absolutamente necessária a mudança da lei, especialmente porque se
trata de “ordens” sacerdotais totalmente distintas. Mas qual lei foi mudada? O que foi
mudado? Quando a lei foi mudada?
É evidente que a lei mudada não tem nenhuma relação com o decálogo,
sobretudo porque os Dez Mandamentos não possuem a função de realizar a purificação
do pecado de nenhum ser vivo.
As Escrituras Sagradas deixam bem claro que a lei mudada é aquela que
regulamentava todo o aparato do ritual de expiação de pecados pelo holocausto de
animais do ministério sacerdotal levítico, que era ministrado junto ao santuário terrestre.
Seria totalmente contraditório supor que o livro de Hebreus estaria ensinando a
mudança do decálogo, quando todo o restante do Novo Testamento torna a repetir
incisivamente os Dez Mandamentos e advoga a sua eficácia na vida de todo o crente.
Aliás, o próprio livro de Hebreus afirma explicitamente que a lei mudada é
aquela relacionada com o sacerdócio levítico, e não com os Dez Mandamentos. Observe
o que está escrito no texto sagrado: “mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz
também mudança da lei” (Hebreus 7:12). Destarte, a mudança de sacerdócio acarretou a
mudança da lei do sacerdócio levítico para a lei do sacerdócio de Cristo.
1.5 As leis que foram mudadas
As Escrituras Sagradas demonstram claramente e de forma abundante que a lei
mudada é aquela relacionada com o ritual de purificação dos pecados pelo holocausto
de animais, a qual passou do sacerdócio levítico para o sacerdócio de Cristo.
Note as mudanças que a lei cerimonial sofreu, conforme registrada pelo próprio
autor do livro de Hebreus:
Hebreus 2:17-18 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, convinha que Jesus Cristo,
“em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote
naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele
mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”.
Hebreus 4:15 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “não temos um sumo
sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como
nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.
Hebreus 5:9-10 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, sendo Jesus Cristo
consumado, “veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem.
Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Hebreus 6:20 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “Jesus, nosso precursor,
entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de
Melquisedeque”.
Hebreus 7:14 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, é “manifesto que nosso
Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo nunca Moisés falou de
sacerdócio”.
Hebreus 7:17 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, de Jesus “assim se testifica:
Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque”.
Hebreus 7:22-24 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “de tanto melhor
concerto Jesus foi feito fiador. E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em
grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer. Mas este, porque
permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo”.
Hebreus 7:26-27 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “nos convinha tal sumo
sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do
que os céus. Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia
sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque
isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo”.
Hebreus 8:2 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, Jesus Cristo é “ministro do
santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem”.
Hebreus 8:6 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, Cristo alcançou um
“ministério tanto mais excelente, quanto é mediador dum melhor concerto, que está
confirmado em melhores promessas”.
Hebreus 9:11-12 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “vindo Cristo, o sumo
sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por
mãos, isto é, não desta criação. Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu
próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna
redenção”.
Hebreus 9:15 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, Jesus Cristo “é Mediador
dum novo Testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões
que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da
herança eterna”.
Hebreus 9:24-26 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “Cristo não entrou num
santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora
comparecer por nós perante a face de Deus. Nem também para a si mesmo se oferecer
muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio.
Doutra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo:
mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado
pelo sacrifício de si mesmo”.
Hebreus 10:11-12 e 14 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “todo o sacerdote
aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que
nunca podem tirar os pecados. Mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
pecados, está assentado para sempre à destra de Deus. Porque com uma só oblação
aperfeiçoou para sempre os que são santificados”.
Observe que em nenhum momento o decálogo ou o sábado foram mencionados
ou insinuados. Mesmo porque os Dez Mandamentos não purificam o pecado de
ninguém, razão pela qual eles não são cerimoniais.
Os Dez Mandamentos tão-somente definem o que é pecado (I João 3:4), indicam
ao homem o que é pecado (Romanos 3:20; 7:7) e condena o pecado (Romanos 6:23).
Mas, esses mandamentos jamais tiveram a função de expiar o pecado, especialmente
porque “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22).
É evidente que o decálogo continua vigorando para os cristãos de todas as
épocas, principalmente porque o pecado ainda continua sendo praticado e os homens
continuam sendo condenados à morte pela transgressão da lei.
Caso a lei de Deus tivesse sido abolida não haveria mais pecadores na face da
Terra, especialmente porque “onde não há lei também não há transgressão” e “o pecado
não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13).
1.6 Considerações finais
“Satanás não pôde impedir o plano da salvação. Jesus foi crucificado e
ressuscitou no terceiro dia. Mas Satanás disse a seus anjos que ele faria mesmo a
crucifixão e ressurreição servirem a seus intuitos. Concordava com que aqueles que
professavam fé em Jesus cressem que as leis que regulavam os sacrifícios e ofertas
judaicas cessaram por ocasião da morte de Cristo, caso pudesse levá-los mais longe e
fazê-los crer que a lei dos Dez Mandamentos também morrera com Cristo”. (Primeiros
Escritos, 215).
O Senhor Jeová foi muito explicito e objetivo ao declarar em alto e bom som
para quem quiser ouvir que foi com Levi que Ele fez o Seu concerto.
O Concerto de Decálogo abrangia todas as pessoas, mas aos levitas coube com
exclusividade absoluta o concerto do exercício do ministério sacerdotal de expiação de
pecados pelo sangue de animais, realizado junto à tenda da congregação. Observe o que
diz a Bíblia Sagrada:
Malaquias 2:4-6 – “Então sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que o
meu concerto seja com Levi, diz o Senhor dos Exércitos. Meu concerto com ele foi de
vida e de paz, e eu lhas dei para que me temesse, e me temeu: e assombrou-se por causa
do meu nome. A lei da verdade esteve na sua boca, e a iniquidade não se achou nos
seus lábios: andou comigo em paz e em retidão, e apartou a muitos da iniquidade”.
Malaquias 2:7-8 – “Porque os lábios do sacerdote guardarão a ciência, e da sua boca
buscarão a lei, porque ele é o anjo do Senhor dos Exércitos. Mas vós vos desviastes do
caminho, a muitos fizestes tropeçar na lei: corrompestes o concerto de Levi, diz o
Senhor dos Exércitos”.
Hebreus 7:5 – “E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem,
segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham
saído dos lombos de Abraão”.
Hebreus 7:11 – “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque
sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem
de Aarão?”
Deuteronômio 10:8 – “No mesmo tempo o Senhor separou a tribo de Levi, para levar
a arca do concerto do Senhor, para estar diante do Senhor, para o servir, e para
abençoar em seu nome até ao dia de hoje”.
Números 25:13 – “E ele, e a sua semente depois dele, terá o concerto do sacerdócio
perpétuo; porquanto teve zelo pelo seu Deus, e fez propiciação pelos filhos de Israel”.
Números 18:21 – “E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por
herança, pelo seu ministério que exerce, o ministério da tenda da congregação”.
Estas, e muitas outras passagens bíblicas apresentadas no livro de Hebreus
mostram claramente que o concerto de expiação de pecados pelo holocausto de animais
foi deixado aos cuidados dos levitas. Somente eles poderiam exercer o ministério
sacerdotal e ninguém mais. Todavia, os Dez Mandamentos deveriam ser praticados por
todas as pessoas, em todas as épocas, e não somente pelos sacerdotes levitas.
“‘O Senhor separou a tribo de Levi para levar a arca do concerto do Senhor, para
estar diante do Senhor, para O servir e para abençoar em Seu nome’. Deuteronômio
10:8. ‘Meu concerto com ele foi de vida e de paz, e Eu lhas dei para que Me temesse, e
Me temeu. ... Andou comigo em paz e em retidão e apartou a muitos da iniqüidade’.
Malaquias 2:5-6” (E, 148).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 2 A Lei e o Novo Concerto
“Deus declarou que o sétimo dia é o sábado do Senhor. Quando ‘os céus e a Terra
foram acabados’, Ele exaltou este dia como um memorial de Sua obra criadora. Repousando no sétimo dia ‘de
toda a Sua obra que tinha feito’, ‘abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou’ Gênesis 2:1-3’”.
Ellen Gould White (PR, 180)
2.1 Introdução
“A mente deve prestar obediência à régia lei da liberdade, a lei que o Espírito de
Deus grava no coração e torna clara para o entendimento. A expulsão do pecado tem de
ser o ato da própria alma, pondo em exercício suas faculdades mais nobres. A única
liberdade que a vontade finita pode desfrutar consiste em estar em harmonia com a
vontade de Deus, cumprindo as condições que tornam o homem participante da natureza
divina, livrando-se da corrupção das paixões que há no mundo” (RP, 59).
Nos versículos bíblicos que se seguem, podemos observar que o autor do livro
de Hebreus faz uma clara referência ao Antigo e ao Novo Concerto.
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Hebreus 8:7-8, 10,13; 9:1 – “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se
teria buscado lugar para o segundo. Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão
dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei um
novo concerto. Porque este é o concerto que depois daqueles dias farei com a casa de
Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as
escreverei: e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo. Dizendo Novo Concerto,
envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de
acabar. Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário
terrestre”.
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Esse escritor, divinamente inspirado, afirma que, se o primeiro concerto (Antigo
Aliança) de expiação de pecados pelo sacrifício de animais fosse irrepreensível, nunca
se teria buscado lugar para o segundo concerto (Nova Aliança) de expiação de pecados
pelo sacrifício de Cristo.
Observe que no Novo Concerto, Deus colocaria as Suas leis – as que tinham sido
negligenciadas pelos antigos judeus – no entendimento (compreensão) e a escreveria no
coração do Seu povo santo.
A implantação do segundo concerto implicou no envelhecimento e no fim do
primeiro. Mas para que todos soubessem qual foi concerto que envelheceu e acabou, o
autor do livro de Hebreus fez questão de dizer explicitamente que “o primeiro tinha
ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”.
Quando esse escritor sacro diz, textualmente, que o primeiro concerto “tinha
ordenanças de culto divino”, ele está deixando bem claro de que não estava se referindo
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
ao concerto do decálogo, mas estava tratando do cerimonial religioso ministrado pelo
sacerdócio levítico, com seus múltiplos sacrifícios de animais de expiação de pecados
pelo sangue de animais, os quais eram realizados exclusivamente no “santuário
terrestre”.
Com a morte de Cristo, entramos na era do Novo Concerto (Mateus 26:28), onde
os Dez Mandamentos (Êxodo 34:28; Deuteronômio 4:12-13; 10:4), também chamados
por Paulo de “lei de Deus” (Romanos 7:22 e 25; 8:7), não foram abolidos, mas sim,
colocados na compreensão do cristão e também escrita em seu coração. Tanto é verdade
que Jesus Cristo e os santos apóstolos – por preceito e exemplo – ensinaram sobre o
dever do cristão observar a lei de Deus.
Reportando-se àqueles que estão vivendo na carne e que não obedecem à lei de
Deus, Paulo afirmou o seguinte: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra
Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que
estão na carne não podem agradar a Deus” (Romanos 8:7-8). Disso deduz-se que a
inclinação do espírito se sujeita à lei de Deus, enquanto que a inclinação da carne não se
sujeita à lei de Deus. Caso a lei de Deus tenha sido abolida, então a qual lei o santo
apóstolo está fazendo referência?
Que fique bem claro, o “Novo Concerto” não trata da expiação de pecados pelo
“sangue de animais”, mas cuida com exclusividade absoluta da expiação de pecados
pelo “sangue de Cristo”.
O decálogo (dez palavras) é uma lei comum em ambos os concertos.
Especialmente porque essa lei aponta para o pecado, o qual somente pode ser purificado
pelo derramamento de sangue, haja vista que “sem derramamento de sangue não há
remissão” (Hebreus 9:22).
Destarte, antes da cruz o pecador era purificado de todos os seus pecados
(transgressão da lei) exclusivamente pelo sangue de animais. Após a cruz o pecador é
purificado de todos os seus pecados (transgressão da lei) exclusivamente pelo sangue de
Cristo (I João 1:7).
2.2 O vigor da lei de Deus
“Muitos ensinadores religiosos afirmam que Cristo, pela Sua morte, aboliu a lei
e, em virtude disso, estão os homens livres de seus requisitos. Alguns há que a
representam como um jugo penoso; e em contraste com a servidão da lei apresentam a
liberdade a ser desfrutada sob o evangelho. Não foi, porém, assim que profetas e
apóstolos consideravam a santa lei de Deus... A declaração de que Cristo por Sua morte
aboliu a lei do Pai, não tem fundamento. Se tivesse sido possível mudar a lei ou pô-la de
parte, não teria sido necessário que Cristo morresse para salvar o homem da pena do
pecado” (RR, 11).
Jeremias 31:31-33 – “Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei um concerto novo
com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus
pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles
invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é
o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a
minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles
serão o meu povo”.
_________________________________________________________________
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Admitindo a absurda hipótese de que toda a lei – moral e cerimonial – foi
cancelada na cruz, então qual da “minha lei” seria escrita no coração dos adoradores que
estariam vivendo sob a égide do Novo Concerto? Se a lei foi abolida na cruz, então por
que Paulo ensinou que “pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20)?
Conjeturando que a lei foi abolida na cruz, então por que o pecado é definido pela
Bíblia Sagrada como transgressão da lei (I João 3:4)? Presumindo que a lei foi abolida
na cruz, então por ainda existem pecadores, posto que “onde não há lei também não há
transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13)?
Cuidando que a lei foi abolida na cruz, então por que o salário do pecado é a morte
(Romanos 6:23)? Cogitando que a lei foi abolida na cruz, então por que adulterar ou
matar são tidos como transgressões da lei (Tiago 2:11)? Julgando que a lei foi abolida
na cruz, então por que Paulo escreveu que “não conheceria a concupiscência, se a lei
não dissesse: Não cobiçarás” (Romanos 7:7)? Supondo que a lei foi abolida na cruz,
então por que Paulo disse que a inclinação da carne “não é sujeita à lei de Deus”
(Romanos 8:7)? Acolhendo a suposição de que a lei foi cravada na cruz, então por que
Jesus e os santos apóstolos repetiram e praticaram os preceitos do decálogo?
A resposta para todas essas perguntas é muito simples: Primeira, a “lei de Deus”
jamais foi abolida. Segunda, Deus jamais afirmou que Ele escreveria no coração dos
crentes “novas leis”, mas faz questão de deixar bem claro a Jeremias de que se tratava
das mesmas leis que os antigos judeus conheciam muito bem (Jeremias 31:31-33), mas
que não estavam em seu entendimento ou escrita em seus corações.
Caso se tratasse de outras leis ou leis diferentes, Deus estaria fazendo acepção de
pessoas, promulgando leis impossíveis de serem guardadas no coração para um
determinado grupo de indivíduos e proclamando outras leis possíveis de serem
guardadas no coração para outro grupo de pessoas. Desse modo, o Senhor Jeová estaria
dificultando a salvação para algumas pessoas e facilitando para outras. Mas a Bíblia
Sagrada ensina claramente que o Senhor Jeová não faz acepção de pessoas:
(Deuteronômio 10:17; Atos 10:34; Romanos 2:11; I Pedro 1:17). “Duas espécies de
peso, e duas espécies de medida, são abominação para o Senhor, tanto uma cousa como
outra” (Provérbios 20:10).
Ademais, as Escrituras Sagradas deixam bem claro que na cruz, com a morte do
“Cordeiro de Deus” (João 1:29; 36), foi definitivamente cancelado o concerto do
cerimonial religioso do sacerdócio levítico, e não o concerto dos Dez Mandamentos,
que foram ensinados por Jesus e pelos santos apóstolos por preceito e exemplo.
O concerto do sacerdócio levítico tinha uma função totalmente diferente do
concerto do decálogo. Enquanto o primeiro apontava para a morte de Cristo e realizava
a expiação do pecado por meio dos holocaustos de animais, o segundo apontava para o
pecado e condenava o pecador (transgressor) à morte.
2.3 A lei e as transgressões
“Após o pecado e queda de Adão, nada foi tirado da lei de Deus. Os princípios
dos Dez Mandamentos existiam antes da queda, e eram de caráter adequado à condição
de uma ordem de seres santos... Foi estabelecida então um sistema que requeria o
sacrifício de animais, para que se mantivesse diante do homem caído aquilo que a
serpente fizera Eva descrer: que a penalidade para a desobediência é a morte. A
transgressão da lei de Deus tornou necessário que Cristo morresse como sacrifício,
possibilitando assim ao homem escapar da penalidade, sendo ainda preservada a honra
da lei de Deus.” (CS, 22).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Gálatas 3:19 – “Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até
que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na
mão de um medianeiro”.
_________________________________________________________________
Note que o versículo em análise nada diz sobre os Dez Mandamentos. Mas, fala
claramente sobre uma lei que “foi ordenada por causa das transgressões”; uma lei que
ficaria vigorando “até que viesse a posteridade”.
Ora, somente existe “transgressões” se anteriormente existir alguma lei para ser
transgredida: “onde não há lei também não há transgressão” (Romanos 4:15). É
impossível transgredir uma lei que não existe: “o pecado não é imputado, não havendo
lei” (Romanos 5:13). Portanto, a lei que “foi ordenada por causa das transgressões” tem
que ser, obrigatoriamente, diferente da lei dos Dez Mandamentos.
A edição da Bíblia Almeida Revista e Atualizada coloca no lugar da palavra
“ordenada”, a expressão “adicionada”. A palavra “adicionar” quer dizer “acrescentar”,
“acrescer” ou “juntar”. Mas qual lei foi “adicionada” ou “ordenada por causa das
transgressões”?
Ora, o pecado é definido biblicamente como sendo a transgressão da lei moral (I
João 3:4). Então se segue que a lei adicionada ou ordenada por causa das transgressões
da lei moral é a lei cerimonial de expiação de pecados pelo holocausto de animais,
ministrada pelos sacerdotes levitas no santuário terrestre. Essa lei deveria ficar
vigorando até “que viesse a posteridade”, isto é Cristo.
2.4 As duas leis em levítico
A lei cerimonial era a única que “foi ordenada por causa das transgressões” da
lei moral. Ela era a única que possibilitava a expiação dos pecados que resultavam da
transgressão dos Mandamentos de Deus.
A título de exemplo de lei “ordenada por causa das transgressões” da lei moral,
considere a seguinte passagem bíblica:
Levítico 4:27-29 – “E se qualquer outra pessoa do povo da terra pecar por erro,
fazendo contra algum dos mandamentos do Senhor, aquilo que se não deve fazer, e
assim for culpada. Ou se o seu pecado, no qual pecou, lhe for notificado, [Lei Moral]
então trará por sua oferta uma cabra fêmea sem mancha, pelo seu pecado que pecou. E
porá a sua mão sobre a cabeça da expiação do pecado, e degolará a expiação do
pecado no lugar do holocausto [Lei Cerimonial]”.
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Caso a lei moral – que foi transgredida – fosse censurável, então no lugar de ser
ordenada uma outra lei por causa das transgressões daquela, deveria a lei moral ter sido
revogada. Mas, não foi isso que ocorreu.
Nos versículos supra mencionados, podemos vislumbrar a existência de duas
espécies de leis. Uma que é “transgredida” pela prática contrária a algum dos
mandamentos do Senhor (Levítico 4:27 – Lei Moral) e outra que “foi ordenada por
causa das transgressões” para fazer “expiação” do pecado através do holocausto de
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
animais, os quais eram realizados no lugar onde estava localizado o santuário terrestre,
sob a supervisão dos sacerdotes levitas (Levítico 4:29 – Lei Cerimonial).
Quando Cristo expirou na cruz, o ministério sacerdotal levítico, também
conhecido como Antiga Aliança ou Testamento, foi definitivamente abolido (Daniel
9:27; Mateus 27:51; Colossenses 2:14,16-17), passando a vigorar em seu lugar, o
ministério sacerdotal de Cristo, também conhecido como Nova Aliança ou Novo
Testamento.
2.5 As duas leis em Isaías
A transgressão dos Dez Mandamentos levou o Senhor a ordenar o
estabelecimento da lei cerimonial de sacrifício de animais. O simbolismo da expiação
de pecados pelo holocausto de animais era uma sombra que apontava para o sacrifício
do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
O profeta Isaías fez uma clara distinção entre a lei moral e a lei cerimonial
quando escreveu o seu livro:
Isaías 56:6-7 – “E aos filhos dos estrangeiros, que se chegarem ao Senhor, para o
servirem, e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos seus,todos os que
guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem o meu concerto [Lei
Moral]. Também os levarei ao meu santo monte, e os festejarei na minha casa de
oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar [Lei
Cerimonial], porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”.
_________________________________________________________________
Nos versículos supra mencionados podemos constatar que Isaías fazia questão
de distinguir duas espécies de leis, caso contrário o profeta estaria sendo redundante.
O profeta fez referência à lei moral quando fala dos estrangeiros guardando “o
sábado, não o profanando, e os que abraçarem o meu concerto” (Isaías 56:6) e também
fala da lei cerimonial quando diz que “os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão
aceitos no meu altar” (Isaías 56:7).
A lei do ministério sacerdotal levítico de holocausto de animais vigoraria “até
que viesse a posteridade” (Gálatas 3:19), isto é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo” (João 1:29). Quando Cristo expirou na cruz, cessou definitivamente a
eficácia do ministério sacerdotal levítico no santuário terrestre, passando a vigorar o
ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial.
2.6 Considerações finais
“A Bíblia com suas preciosas gemas de verdade não foi escrita para o sábio
somente. Ao contrário, destina-se ao povo comum; e a interpretação que lhe dá o povo
comum, quando auxiliado pelo Espírito Santo, harmoniza-se melhor com a verdade
como é em Jesus. As grandes verdades necessárias para a salvação tornam-se claras
como a luz meridiana, e ninguém errará o caminho exceto os que seguem seu próprio
juízo em vez da vontade de Deus, claramente revelada.” (VT, 331).
Observe a afirmação que o Novo Testamento faz sobre a abolição do Antigo
Concerto, o qual era ministrado pelo sacerdócio levítico no santuário terrestre, e que se
referia exclusivamente à expiação de pecados pelo holocausto de animais:
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Hebreus 7:11-12 – “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque
sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se
levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem
de Aarão? Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também
mudança da lei”.
Hebreus 7:19-21 – “(Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida
uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus. E visto como não é sem prestar
juramento (porque certamente aqueles, sem juramento, foram feitos sacerdotes. Mas
este com juramento por aquele que lhe disse: Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu
és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque)”.
Hebreus 7:22-24 – “De tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador. E, na verdade,
aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram
impedidos de permanecer. Mas este, porque permanece eternamente, tem um
sacerdócio perpétuo”.
Hebreus 8:5-6 – “Os quais servem de exemplar e sombra das coisas celestiais, como
Moisés divinamente foi avisado, Estando já para acabar o tabernáculo; porque foi
dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou. Mas agora
alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador dum melhor concerto,
que está confirmado em melhores promessas”.
Hebreus 8:7-8 – “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria
buscado lugar para o segundo. Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias,
diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei um novo
concerto”.
Hebreus 8:13; 9:1 – “Dizendo Novo Concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi
tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar. Ora também o primeiro tinha
ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”.
Hebreus 9:9-10 – “Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem
dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o
serviço. Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações
da carne, impostas até ao tempo da correção”.
Hebreus 9:15-17 – “E por Isso é Mediador dum novo Testamento, para que,
intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro
Testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque onde há
Testamento necessário é que intervenha a morte do testador. Porque um Testamento
tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?”.
Hebreus 9:18-21 – “Pelo que também o primeiro não foi consagrado sem sangue.
Porque, havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei,
tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissope, e aspergiu
tanto o mesmo livro como todo o povo. Dizendo: Este é o sangue do Testamento que
Deus vos tem mandado. E semelhantemente aspergiu com sangue o tabernáculo e todos
os vasos do ministério”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Hebreus 10:1-4 – “Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem
exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem
cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Doutra maneira, teriam deixado
de se oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam
consciência de pecado. Nesses sacrifícios, porém, cada ano se faz comemoração dos
pecados. Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”.
Hebreus 10:8-9 – “Como acima diz, Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo
pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então
disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para
estabelecer o segundo”.
Portanto, diante das contundentes provas apresentadas por todos os versículos
bíblicos retro expostos, ficou claramente demonstrado que a “lei ordenada por causa das
transgressões” refere-se com exclusividade à lei de expiação dos pecados pelo
holocausto de animais. Jamais se referiu ao decálogo ou ao “santo sábado do Senhor”.
A lei cerimonial de expiação de pecados pelo sangue de animais vigoraria até
que viesse a posteridade, que é Cristo. Quando então tal lei seria completamente
cumprida na vida de Cristo e abolida com a crucifixão de Jesus. Nada mais claro e
certo!
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 3 As Ordenanças Cravadas na Cruz
“Vi que o mandamento do sábado não fora pregado na cruz. Se assim fosse, os outros
nove mandamentos teriam sido também, e teríamos a liberdade de violá-los todos, assim como violamos o quarto”.
Ellen Gould White (VE, 93)
3.1 Introdução
Observando o Novo Testamento, podemos constatar que algumas leis
mencionadas no Antigo Testamento tinham que ser praticadas até o momento da morte
de Cristo, sobretudo porque os crentes eram tutelados por elas até a vinda de Cristo,
enquanto que outras leis deveriam ser observadas, mesmo após a morte de Cristo,
especialmente porque os crentes são santificados por elas.
As leis que deveriam ser observadas até o momento da morte de Cristo eram
aquelas que estavam relacionadas com a expiação de pecado por meio do holocausto de
animais, as quais estavam ao encargo do ministério sacerdotal levítico e eram realizadas
no santuário terrestre. Elas eram sombras (Hebreus 8:5; 10:1) que apontavam para a
morte do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). “E, sendo ele
consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem”
(Hebreus 5:9). As leis que deveriam continuar sendo obedecidas, mesmo após a morte de
Cristo, são aquelas que estão relacionadas com a santificação do homem, também
conhecida como lei moral. Essa lei é a norma de conduta estabelecida por Deus para ser
praticada tanto pelos crentes do Antigo como do Novo Testamento. Ela é o padrão pelo
qual o caráter do crente é aferido.
A lei moral foi praticada por preceito e exemplo por Jesus Cristo e pelos santos
apóstolos em diversas ocasiões. “Com efeito: Não adulterarás: Não matarás: Não
furtarás: Não darás falso testemunho: Não cobiçarás: e se há algum outro mandamento,
tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Romanos
13:9).
Supondo que a lei de Deus foi abolida com a morte de Cristo, então concluímos
que os crentes não podem mais cometer qualquer espécie de pecado; pois, “onde não há
lei também não há transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei”
(Romanos 4:15; 5:13). Como não comentem pecado não necessitam de perdão ou de um
advogado junto ao Pai, e nada tem para confessar diante de Deus. Deste modo, a
negação da lei implica na total destruição do plano da salvação.
“Ninguém se engane com a crença de que pode tornar-se santo enquanto
voluntariamente transgride um dos mandamentos de Deus. Um pecado cometido
deliberadamente faz silenciar a voz testemunhadora do Espírito e separa a pessoa de
Deus” (RR, 16).
3.2 Ordenanças cravadas na cruz
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O apóstolo Paulo ensina explicitamente que Cristo cravou na cruz a “cédula que
era contra nós nas suas ordenanças”. Observe o que diz o santo apóstolo:
Colossenses 2:14 – “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós,
cravando-a na cruz”.
____________________________________________________________________
Diante dessa afirmativa podemos levantar as seguintes questões: O que são
ordenanças? O que Paulo entendia pelo vocábulo “ordenanças”? Quais são as
“ordenanças” que Paulo estava se referindo? Em que contexto as Escrituras Sagradas
empregam a expressão “ordenanças”?
Bem, vamos verificar qual é o significado da palavra “ordenanças”. É evidente
que o sentido, significado e conteúdo axiológico dessa palavra deve ser procurada
somente na Bíblia Sagrada. Ela é, com exclusividade, nossa única regra de fé. “Não há
doutrina correta além da que se conforma com a Palavra divina. ... O Senhor proíbe o
ensino de qualquer outra doutrina. ... As Sagradas Escrituras devem ser explicadas por
outros textos mais claros; ...este santo Livro é, em todas as coisas necessárias ao cristão,
fácil de compreender e destinado a dissipar as trevas” (GC, 203). Então, vejamos:
Êxodo 12:43 – “Disse mais o Senhor a Moisés e a Aarão: Está é a ordenança da
páscoa; nenhum filho do estrangeiro comerá dela”.
Êxodo 39:37 – “O castiçal puro com suas lâmpadas, as lâmpadas da ordenança, e
todos os seus vasos, e o azeite para a luminária”.
II Reis 17:37 – “E os estatutos, e as ordenanças, e a lei, e o mandamento, que vos
escreveu tereis cuidado de observar todos os dias: e não temereis a outros deuses”.
I Crônicas 15:13 – “Pois que, porquanto primeiro vós assim o não fizestes, o Senhor
fez rotura em nós, porque o não buscamos segundo a ordenança”.
Ezequiel 44:8 – “E não guardastes a ordenança das minhas cousas sagradas; antes
vos constituístes, a vós mesmos guardas da minha ordenança no meu santuário”.
Ezequiel 44:14 – “Contudo, eu os constituirei guardas da ordenança da casa, em todo
o seu serviço, e em tudo o que nela se fizer”.
Ezequiel 44:15 – “Mas os sacerdotes levíticos, os filhos de Zadoque, que guardaram a
ordenança do meu santuário, quando os filhos de Israel se extraviaram de mim, se
chegarão a mim, para me servirem, e estarão diante de mim, para me oferecerem a
gordura e o sangue, diz o Senhor Jeová”.
Ezequiel 44:16 – “Eles entrarão no meu santuário, e se chegarão à minha mesa, para
me servirem, e guardarão a minha ordenança”.
Ezequiel 48:11 – “E será para os sacerdotes santificados dentre os filhos de Zadoque,
que guardaram a minha ordenança, que não andaram errados, quando os filhos de
Israel se extraviaram, como se extraviaram os outros levitas”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Hebreus 9:1 – “Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um
santuário terrestre”.
Diante dos versículos retro mencionados fica claro que a palavra “ordenanças” é
citada em muitas outras porções das Escrituras Sagradas. É digno de nota observar que
a maioria dessas citações faz referência aos cerimoniais religiosos do antigo culto divino
do sacerdócio levítico.
Evidentemente, o apóstolo Paulo – eminente doutor das Escrituras Sagradas –
tinha em mente que as “ordenanças” são tão-somente as leis cerimoniais de holocausto
de animais, os quais eram sacrificados no pátio do santuário terrestre.
Como prova dessa afirmação, verifica-se que em outra epístola, Paulo esclarece
que o primeiro concerto (Antiga Aliança) “tinha ordenanças de culto divino, e um
santuário terrestre” (Hebreus 9:1).
Portanto, mais uma vez fica claro que as “ordenanças” eram cultos divinos que
estavam relacionados com a expiação de pecados pelo holocausto de animais, os quais
eram realizados no “santuário terrestre”.
Nas Escrituras Sagradas os vocábulos “ordenança” ou “ordenanças”, são
aplicadas às leis cerimoniais relacionadas ao sacerdócio levítico. Nenhuma delas
nomeia o decálogo de ordenanças ou insinua que o sábado bíblico é uma ordenança.
Na maioria das vezes, em que as Escrituras Sagradas se refere ao decálogo ou a
qualquer um de seus mandamentos, ela emprega expressões, tais como: “lei de Deus”
(Romanos 7:22; 7:25; 8:7), “mandamentos” (marcos 10:19; Lucas 18:20) ou
“mandamentos de Deus” (Apocalipse 12:17; 14:12). Mas, nunca empregou a expressão
“ordenanças” para designar o decálogo ou a qualquer um de seus mandamentos.
Além disso, é claro que Paulo jamais considerou que as “ordenanças” fossem os
Dez Mandamentos ou o sábado semanal, sobretudo porque, em muitas outras passagens
bíblicas, o próprio apóstolo defende por preceito e exemplo a observância da lei e do
“santo sábado do Senhor”.
Caso o apóstolo Paulo estivesse considerando que a lei e o sábado eram
“ordenanças” que foram abolidas na cruz, então ele estaria na contra-mão do restante
das Escrituras Sagradas, bem como estaria contradizendo os seus próprios escritos. O
que, logicamente, não é o caso.
3.3 Uma lei que consistia em ordenanças
Efésios 2:15 – “Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que
consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a
paz”.
_________________________________________________________________
Nesse versículo, Paulo afirma explicitamente que Cristo “desfez” a “lei dos
mandamentos”. Ocorre que na Bíblia Sagrada existem centenas de leis e mandamentos.
Então, a qual lei Paulo estaria se referindo?
Bem, observe como o santo apóstolo responde a essa pergunta: “a lei dos
mandamentos, que consistia em ordenanças”.
Ora, como sabemos, “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”
nada mais era do que a lei cerimonial do sacerdócio levítico. Tal afirmativa advém do
fato de que o próprio apóstolo, no livro de Hebreus, ensina claramente que o primeiro
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
concerto tinha “ordenanças”, “culto divino” e “santuário terrestre” (Hebreus 9:1).
Portanto, está claro que as ordenanças eram os cerimoniais do culto divino realizados no
santuário terrestre através dos holocaustos de animais.
Ademais, as Escrituras Sagradas fazem vinte e duas referências sobre o termo
“ordenança” ou “ordenanças”. Todavia, nenhuma delas ensina, sugere ou insinua que se
trata dos Dez Mandamentos ou do santo sábado. Na realidade, essas referências deixam
bem claro que as “ordenanças” estão diretamente vinculadas às leis cerimoniais, as
quais regiam as atividades do sacerdócio levítico no santuário terrestre. Destarte, havia a
ordenança da páscoa (Êxodo 12:42); as lâmpadas da ordenança (Êxodo 39:37);
ordenança do santuário (Ezequiel 44:8); sacerdotes levitas que guardavam a ordenança
do santuário (Ezequiel 44:15) etc.
Além disso, as Escrituras Sagradas fazem uma clara distinção entre
“ordenanças”, “estatutos”, “lei” e “mandamento” (II Reis 17:34). Isto indica que o
termo “ordenanças” é um nome bem específico e distinto dos demais, o qual não
engloba “estatutos”, “leis” e “mandamentos”, caso contrário os escritores bíblicos
estariam sendo redundantes em seus escritos.
Portanto, a mencionada “lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”
não é de forma alguma a lei dos Dez Mandamentos. O que Paulo está fazendo é uma
referência às ordenanças das leis cerimoniais, com os seus múltiplos holocaustos de
animais realizados no santuário terrestre, sob a supervisão dos sacerdotes levitas.
O decálogo é uma lei moral que define o que é pecado. Portanto, os Dez
Mandamentos não realizam a expiação dos pecados, não purificam o pecador, não
perdoam o transgressor, não justificam pessoa alguma de seus pecados e nem salvam
aqueles que praticam o pecado, porque essa não é a sua função. A verdade é que “se
Adão não tivesse transgredido a Lei de Deus, nunca teria sido instituída a lei
cerimonial” (ME, I, 230).
Nunca é demais lembrar que o sábado foi santificado (separado) na criação do
mundo, bem antes da entrada do pecado. Portanto, o sábado não é uma lei cerimonial,
haja vista que não realiza a expiação do pecado de ninguém. Além do mais, o sábado
faz parte integrante dos Dez Mandamentos. Por ser moral, o sábado foi colocado no
coração do decálogo, que é uma lei moral. Assim, existe o dever do cristão de guardar
os Dez Mandamentos, os quais foram praticados por preceito e exemplo no Novo
Testamento por Jesus Cristo e pelos santos apóstolos. Como o sábado é um desses
mandamentos, então segue-se que os cristãos também precisam guardá-lo.
3.4 Ordenanças que nos era contrária
Paulo afirma que a “cédula” tirada do nosso meio e cravada na cruz “era contra
nós” em suas ordenanças. Também afirma que essa cédula “de alguma maneira nos era
contrária”. Observe o que diz as santas Escrituras:
Colossenses 2:14 – “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós,
cravando-a na cruz”.
_________________________________________________________________
Mas, qual era a “cédula” mencionada na Bíblia Sagrada que de alguma maneira
nos era contrária? Certamente não se tratava dos Dez Mandamentos, conforme as razões
a seguir elencadas: 1ª) o pecado não existe onde não há lei; a abolição da lei implicaria
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
na abolição do pecado; 2ª) Paulo estaria entrando em contradição, especialmente porque
em muitas passagens bíblicas ele defende vigorosamente a observância dos Dez
Mandamentos (Romanos 3:20; 7:7); 3ª) o decálogo é contrário ao comportamento dos
ímpios, dos injustos e dos pecadores e não contrário ao comportamento dos justos, dos
puros e dos santos, que vivem em harmonia com os preceitos da lei. “A lei mantém o
transgressor em sujeição, mas o obediente está livre” (ST, 18 de julho de 1878).
Observe o que o apóstolo Paulo afirma sobre a lei de Deus:
I Timóteo 1:9-10 – “Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os
injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para
os parricidas e matricidas, para os homicidas. Para os fornicários, para os sodomitas,
para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for
contrário à sã doutrina”.
__________________________________________________________________
Então, qual era a “cédula” que de alguma maneira nos era contrária em suas
ordenanças? A resposta está indicada na própria Escritura Sagrada. Observe:
I Samuel 15:22 – “Porém Samuel disse: Tem porventura o Senhor tanto prazer em
holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? eis que o
obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de
carneiros”.
Salmos 51:16-17 e 19 – “Porque te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria;
tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado;
a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. Então te agradarás de
sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão
novilhos sobre o teu altar”.
Eclesiastes 5:1 – “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; e inclina-te
mais a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal”.
Isaías 1:11 e 15 – “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o
Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios;
e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Pelo que,
quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; sim, quando
multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de
sangue”.
Jeremias 6:19-20 – “Ouve tu, ó terra! Eis que eu trarei mal sobre este povo, o próprio
fruto dos seus pensamentos; porque não estão atentos às minhas palavras, e rejeitam a
minha lei. Para que pois me virá o incenso de Sabá e a melhor cana aromática de
terras remotas? vossos holocaustos não me agradam, nem me são suaves os vossos
sacrifícios”.
Oséias 6:6 – “Porque eu quero misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de
Deus, mais do que os holocaustos”.
A lei cerimonial do sacerdócio levítico “de alguma maneira nos era contrária”
porque no Antigo Concerto os amantes do pecado cometiam todos os tipos de
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
atrocidades e, posteriormente, ofereciam sacrifícios de animais visando alcançar a
expiação dos seus pecados, mas sem o devido arrependimento ou mudança de atitude.
Tal situação criava um círculo vicioso. Muitos supunham que tinham plena
liberdade para pecar, bastando depois oferecer os holocausto de animais para
purificação dos seus pecados.
Os pecadores impenitentes haviam degenerado o sentido do cerimonial de
holocausto de animais a uma mera formalidade, sem maiores consequências espirituais.
Foi por essa razão que o Senhor afirmou: “Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e
da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros,
nem de bodes” (Isaías 1:11).
3.5 Ineficácia das ordenanças
Por que a cédula cravada na cruz “era contra nós nas suas ordenanças”? Por que
essa cédula “de alguma maneira nos era contrária”?
As Escrituras Sagradas falando o primeiro concerto de holocausto de animais,
afirma que “se aquele primeiro fora irrepreensível, não se teria buscado lugar para o
segundo” (Hebreus 8:7). Portanto, a “cédula que era contra nós nas suas ordenanças”
era totalmente repreensível.
Discorrendo sobre o sacerdócio levítico, o autor do livro de Hebreus afirma que:
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico ... que necessidade havia
logo de que outro sacerdote se levantasse ... ?” (Hebreus 7:11-12). Logo, a “cédula que
era contra nós nas suas ordenanças” refere-se ao sacerdócio levítico, o qual não trouxe
nenhuma perfeição.
Falando sobre a lei cerimonial, o livro de Hebreus afirma que “a lei nenhuma
coisa aperfeiçoou” (Hebreus 7:19). Logo, a “cédula que era contra nós nas suas
ordenanças” não aperfeiçoou coisa alguma.
Está escrito que os sacrifícios de animais realizados no santuário terrestre “é uma
alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à
consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço” (Hebreus 9:9). Por
conseguinte, a cédula “era contra nós nas suas ordenanças” porque não pode aperfeiçoar
aquele que faz o serviço religioso.
Também está escrito que os sacrifícios de animais oferecidos no santuário
terrestre não pode aperfeiçoar aqueles que se chegam a esses serviços: “porque, tendo a
lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos
sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se
chegam”. (Hebreus 10:1). Portanto, a cédula “era contra nós nas suas ordenanças”
porque não pode aperfeiçoar os que a eles se chegam.
Finalmente podemos acrescentar o fato de que a cédula “era contra nós nas suas
ordenanças” (Colossenses 2:14) “porque é impossível que o sangue dos touros e dos
bodes tire os pecados” (Hebreus 10:4).
3.6 Considerações finais
“O sistema típico de sacrifícios e ofertas foi estabelecido para que, através
desses rituais o pecador pudesse discernir a grande oferta, Cristo. Mas os judeus
estavam tão cegos pelo orgulho e pecado que apenas alguns deles podiam ver mais do
que a morte de animais como expiação pelo pecado; e quando veio Cristo, a quem essas
ofertas prefiguraram, não puderam reconhecê-Lo” (RH, 06 de maio de 1875).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
As ordenanças de sacrifício de animais tornaram-se totalmente ineficazes para
purificar o pecador por culpa exclusiva do próprio transgressor da lei de Deus. Em vez
de se arrepender e abandonar definitivamente o pecado, o transgressor da santa lei de
Deus continuava impenitente, vivendo na prática do pecado e do mal. Eles raciocinavam
que, no momento em que bem quisessem, poderiam se purificar de seus pecados por
meio do cerimonial dos sacrifícios de animais.
A possibilidade de alcançar facilmente a expiação dos pecados pelos holocaustos
de animais, tornava os pecadores empedernidos e mais depravados na transgressão dos
preceitos morais oriundos dos Dez Mandamentos.
Esses pecadores impenitentes ofereciam os sacrifícios de animais e esperavam
alcançar a purificação de seus pecados – não porque estivessem sinceramente
arrependidos ou desejassem corrigir-se do caminho do mal – mas com o fundamento do
ritual da expiação através do holocausto dos animais. No decorrer do tempo esse ritual
havia se tornado numa mera formalidade a ser seguida ao pé da letra sem a devida
compreensão do seu profundo significa espiritual. Essa distorção da vontade do Senhor
Jeová levou o profeta Samuel a proclamar que “obedecer é melhor do que o sacrificar”.
As Escrituras Sagradas mostram claramente que em várias ocasiões o Senhor
recusou os sacrifícios oferecidos por Seu povo por causa da falta de sincero
arrependimento e genuína conversão. Nessas ocasiões o Senhor os advertia de que, a
menos que fossem misericordiosos uns para com os outros, Ele não se agradaria dos
seus holocaustos e, portanto, não haveria purificação de pecados.
A falta de arrependimento e de conversão por parte do pecador, bem como a
crença simplista de que bastava realizar o sacrifício de animais para alcançar a
purificação de seus pecados, trabalhava contra o próprio pecador impenitente, razão
pela qual essa cédula, que era contra nós em suas ordenanças, ter sido tirada do meio de
nós e cravada na cruz.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 4 Um Sábado Cravado na Cruz
“Quando foram postos os fundamentos da Terra, também foi posto o fundamento do
sábado. Foi-me mostrado que se o verdadeiro sábado houvesse sido guardado, jamais teria havido um incrédulo
nem ateu. A observância do sábado teria preservado da idolatria o mundo”.
Ellen Gould White (VE, 86)
4.1 Introdução
“Aqueles que por sua interpretação humana fazem com que a Escritura enuncie o
que Cristo jamais colocou nela, debilitando sua força, fazendo que a voz de Deus,
ouvida em instruções e advertências, testifique mentiras, a fim de evitar o inconveniente
suscitado pela obediência às reivindicações de Deus, têm-se convertido em letreiros que
apontam na direção errada, para falsos caminhos que conduzem à transgressão e à
morte” (FEC, 387).
Empregando a passagem bíblica de Colossenses 2:16-17, os antagonistas do
sábado, com suas interpretações tendenciosas, supõem de forma imediatista e simplista
que o apóstolo Paulo está falando da abolição do “sábado semanal”.
Colossenses 2:16-17 – “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por
causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas
futuras, mas o corpo é de Cristo”.
_________________________________________________________________
Os adversários do sábado, através dessa passagem bíblica – querem por que
querem – contradizer mais de sessenta versículos bíblicos registrados no Novo
Testamento que apontam para a obrigatoriedade da observância do sábado semanal
como um mandamento bíblico, e que deve ser observado por todos os cristãos
verdadeiramente genuínos.
“Mediante falsa interpretação mostram uma cadeia de argumentos que
aparentemente lhes apóiam a posição. Mas seus fracassos mostram que são falsos
profetas, que não interpretam devidamente a linguagem da inspiração. A Palavra de
Deus é verdade e certeza; mas os homens lhe têm pervertido seu significado. Esses erros
têm trazido má fama à verdade de Deus para estes últimos dias” (I TS, 505).
Por meio dessa única passagem escriturística, os antagonistas da verdade,
querem desmentir o fato bíblico incontestável de que Jesus e os primeiros cristãos
guardavam o “santo sábado do Senhor”, em total obediência ao mandamento de Deus.
Com essa singular passagem bíblica, os oponentes da lei de Deus querem
contrariar o fato escriturístico de que o apóstolo Paulo guardava o sábado junto os seus
compatriotas judeus (Atos 13:14-15; 17:2; 18:4 e 11), com os prosélitos gentios (13:42
e 44) e entre os gentios pagãos (Atos 16:13).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Através dessa passagem bíblica, os inimigos do “sábado do Senhor”,
inadvertidamente, contradizem o texto sagrado do Novo Testamento, o qual ensina
claramente que “qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se
culpado de todos” (Tiago 2:10).
As Escrituras Sagradas não contém contradições. As contradições estão na falta
de compreensão das mensagens bíblicas e nas interpretações tendenciosas que os
homens apresentam em defesa de “suas idéias” pré-concebidas. Em toda interpretação é
necessário levar em consideração todo o contexto – imediato e mediato. Jamais se pode
interpretar isoladamente uma passagem bíblica sem levar em consideração todas as
demais. Não é possível que a “interpretação” de uma única declaração dita isoladamente
contradiga todo o ensinamento geral das Escrituras Sagradas.
4.2 Comer e beber
Quando o versículo bíblico fala de “comer”, “beber”, “dias de festas”, “lua
nova” ele está claramente se referindo a preceitos cerimoniais. Então por que supor
gratuitamente e apressadamente que Paulo está falando da abolição do sábado moral e
não do sábado cerimonial? Por que não admitir que Paulo está fazendo referência à
abolição de todo o aparato cerimonial que estavam por traz do “comer”, “beber”, “dias
de festas”, “lua nova” e dos “sábados”?
Colossenses 2:16-17 – “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por
causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas
futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Nunca é demais lembrar para o fato bíblico de que o sábado não é uma lei
cerimonial, haja vista que ele não possui a função de purificar o pecado de nenhuma
pessoa. Além disso, o sábado foi abençoado e santificado por Deus na criação, antes
mesmo da entrada do pecado no mundo.
A verdade é que todo o conteúdo axiológico do versículo em análise, “é uma
alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à
consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço. Consistindo somente em
manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da
correção” (Hebreus 9:9-10).
4.3 Espécies de sábados
Como o Antigo Testamento faz referência à existência de várias espécies de
sábados, então é perfeitamente lícito fazer a seguinte pergunta: qual espécie de “sábado”
Paulo está fazendo referência em Colossenses 2:16-17?
Bem, como as Escrituras Sagradas devem ser interpretadas sistematicamente
pelas próprias Escrituras Sagradas, então temos que verificar o que elas ensinam a
respeito das diversas classes de sábados registrados em suas páginas:
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
1º. O Sábado Moral
Êxodo 20:8-11 – “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias
trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus:
não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a
tua serva, nem o teu animal nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao
sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou”.
2º. O Sábado Cerimonial
Levítico 23:31-32 – “Nenhuma obra fareis: estatuto perpétuo é pelas vossas gerações
em todas as vossas habitações. Sábado de descanso vos será; então afligireis as vossas
almas: aos nove do mês à tarde, duma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso
sábado”.
3º. O Sábado da Terra
Levítico 25:2-4 – “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando tiverdes entrado na
terra, que eu vos dou, então a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos
semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás a sua novidade.
Porém ao sétimo ano haverá sábado de descanso para a terra, um sábado ao Senhor:
não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha”.
Diante do exposto, fica claro que as Escrituras Sagradas advogam a existência de
três espécies de sábados, a saber: o “sábado semanal”, o “sábado cerimonial” e o
“sábado da terra”. Todavia, quando os adversários do sábado lêem Colossenses 2:16,
eles concluem apressadamente e gratuitamente que o versículo está tratando do sábado
semanal. Sem nenhum fundamento nas Escrituras Sagradas, afirmam que o sábado
semanal é “sombra de coisas futuras”. Porém, nada mais equivocado!
4.4 Os sábados e as sombras
Jamais se deve esquecer o fato bíblico de que o sábado semanal foi dado na
criação do mundo, bem antes da entrada do pecado, para ser observado por toda a
humanidade. Portanto, o sábado semanal não é “sombra de coisas futuras”, sobretudo
porque ele não é uma lei cerimonial de expiação de pecados. Esta sim apontava para o
sacrifício expiatório do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O sábado semanal não é sombra de coisas futuras porque ele é um memorial da
criação do mundo. Portanto, O sábado aponta para o passado – a criação – e não para o
futuro. Observe: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis dias
fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou:
portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11).
Nunca é demais reafirmar a grande verdade bíblica de que todo o contexto de
Colossenses 2:16-17 refere-se exclusivamente a “comer”, “beber”, “dias de festa”, “lua
nova”, que eram atividades ligadas exclusivamente às leis cerimoniais do sacerdócio
levítico. Então por que razão não ajuizar que Paulo também está tratando dos
cerimoniais sabáticos? Por que não considerar que o santo apóstolo está abordando os
rituais realizados nos “dias de festa”, “lua nova” e nos “sábados”?
Com toda certeza, Paulo está se referindo exclusivamente aos cerimoniais
religiosos de sacrifício de animais realizados nesses dias sagrados pelos sacerdotes
levitas, e não ao próprio dia do sábado, haja vista que o santo apóstolo ensinou por
preceito e exemplo a prática e a observância do sábado. Caso Paulo estivesse se
referindo à abolição do sábado semanal, então os seus escritos e todo o restante do Novo
Testamento estariam em contradição.
O apóstolo Paulo andou observando o “santo sábado do Senhor” tanto entre os
judeus como entre os gentios (Atos 13:14-15; 13:42 e 44; 16:13). Além disso, o
apóstolo dos gentios ordenou a Igreja a seguir o seu exemplo: “Sede também meus
imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que
assim andam”... “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim,
isso fazei; e o Deus de paz será convosco” (Filipenses 3:17; 4:9). Ora, quem anda
guardando o sábado, dá exemplo para guardar o sábado.
4.5 Os sábados cerimoniais
As festas cerimoniais são as seguintes: Páscoa (Números 28:16); Pães Asmos
(Números 28:17); Pentecostes (Êxodo 23:16 e 34:22; Números 28:26); Trombetas
(Números 29:1); Expiação (Números 29:7) e Tabernáculos (Êxodo 23:16; Levítico
23:34; Números 29:12).
No meio dos vários dias festivos ligados aos cerimoniais religiosos havia alguns
dias específicos, que eram exclusivamente dedicados ao descanso. Tais dias festivos de
descanso eram designados pelo nome de “sábados” (Levítico 23:31-32), mormente
porque a palavra sábado quer dizer “descanso”, “repouso” ou “cessação da atividade”.
Nesses dias exclusivos, especialmente designados por Deus para descanso,
localizados entre os dias das festas cerimoniais, o povo do Senhor deveria refletir no
perdão dos pecados que o holocausto dos animais proviam através da vinda futura do
Messias. Jesus é o Messias, o Cordeiro de Deus, que veio ao mundo e proveu o perdão
dos pecados para todos os que crêem no evangelho.
Tradicionalmente, os dias de descansos cerimoniais – sábados cerimoniais –
registrados nas Escrituras Sagradas são os seguintes:
1º Festa da Páscoa – Sábado Cerimonial: 15º dia do primeiro mês (Levítico 23:5-7).
2º Festa dos Pães Asmos – Sábado Cerimonial: 21º do primeiro mês (Levítico 23:8).
3º Festa de Pentecostes – Sábado Cerimonial: 50º dia desde a Páscoa (Levítico 23:15-
16 e 21).
4º Festa das Trombetas – Sábado Cerimonial: 1º dia do sétimo mês (Levítico 23:23-
25).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
5º Festa do dia da Expiação (Yonkipur-Grande yoma) – Sábado Cerimonial: 10º dia
do sétimo mês (Levítico 23:26-32).
6º Festa dos Tabernáculos – Sábado Cerimonial: 15º dia do sétimo mês (Levítico
23:24-36).
7º Festa dos Tabernáculos – Sábado Cerimonial: 22º dia sétimo mês (Levítico 23:39).
No original hebraico a palavra “descanso” – relacionada aos dias festivos – está
registrada como “shabbath”, que significa “sábado”. A expressão “sábado” é
reproduzida, nas passagens bíblicas dos dias festivos, por grande número de tradutores
das Escrituras Sagradas, como “Matos Soares”, “Figueiredo” etc.
Portanto, a Bíblia Sagrada, além de definir o sábado semanal, também define
como sendo dias de sábados alguns dias específicos, perfeitamente determinados entre
os dias das festas cerimoniais. A diferença entre o sábado semanal e o sábado
cerimonial é que o primeiro é um dia fixo na semana, enquanto que o segundo é um dia
fixo no mês.
Como o apóstolo Paulo disciplina a observância da lei de Deus em Romanos,
capítulos 7 e 8, então podemos deduzir que o versículo de Colossenses 2:14 não está
fazendo referência aos Dez Mandamentos. Mesmo porque a “cédula” mencionada em
Colossenses não é a “lei de Deus” (decálogo), mas sim as ordenanças cerimoniais
realizadas pelo sacerdócio levítico, como se pode observar pela leitura do versículo que
se segue:
Colossenses 2:14 – “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós,
cravando-a na cruz”.
Repetindo, o decálogo não é uma lei cerimonial, simplesmente porque ele não
realiza qualquer espécie de expiação ou purificação de pecado. Sua função exclusiva
consiste em indicar o pecado e condenar o pecador à morte. Todavia, as ordenanças da
lei cerimonial de holocaustos de animais realizavam a expiação do pecado cometido
pelo pecador arrependido. Mesmo porque “sem derramamento de sangue não há
remissão” (Hebreus 9:22). Mas, os Dez Mandamentos não possuem sangue para ser
derramado a favor de qualquer pecador.
Claro está que a hermenêutica do versículo supra em análise – por interpretação
sistemática – não se aplica a nenhum dos mandamentos do decálogo, o qual não trata
das ordenanças, a que se limita o âmbito do versículo de Colossenses.
4.6 Sombras das coisas futuras
O texto bíblico de Colossenses 2:16-17 menciona o “comer”, “beber”, “dias de
festas”, “lua nova” e os “sábados” como sendo “sombras das coisas futuras”. Observe o
que diz o texto de Paulo:
Colossenses 2:16-17 – “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por
causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas
futuras, mas o corpo é de Cristo”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
A pergunta crucial que se faz é a seguinte: o que realmente o apóstolo Paulo
estava querendo dizer com a expressão “sombras das coisas futuras”? O que abrange o
conceito das “sombras das coisas futuras”? Em que contexto Paulo empregou a
expressão “sobras das coisas futuras”?
Paulo, certamente não estava fazendo referencia à abolição do sábado, uma vez
que ele mesmo andava guardando o sábado (Atos 13:42 e 44; 16:13). Também não
estava se referindo à abolição da lei, haja vista que ele pregava a sua observância
(Romanos 7:7, 12, 14, 16, 22, 25; 8:7-8).
Para compreendermos o que significa a frase: “sombras das coisas futuras”,
temos que procurar saber, pelos escritos do próprio apóstolo Paulo, qual era o seu
entendimento a respeito do conteúdo da palavra “sombra”, sobretudo porque ele
empregou tal expressão em algumas outras passagens bíblicas do Novo Testamento.
Observe:
Hebreus 8:5 – “Os quais servem de exemplar e sombra das coisas celestiais, como
Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito:
Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou”.
Hebreus 10:1 – “Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata
das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano,
pode aperfeiçoar os que a eles se chegam”.
___________________________________________________________________
Destarte, as frases: “sombra das coisas celestiais” ou “sombra dos bens futuros”
são expressões semelhantes à frase registrada em Colossenses: “sombras das coisas
futuras”.
Também está claro, pelos textos apresentados, que a expressão “sombras das
coisas futuras” está relacionada exclusivamente com “coisas celestiais”, “tabernáculo”,
“modelo”, “imagem”, “sacrifícios” etc.
A sombra das coisas futuras “é uma alegoria para o tempo presente” (Hebreus
9:9). Eram “figuras das coisas que estão no céu” (Hebreus 9:23).
Portanto, sob a ótica das Escrituras Sagradas, a frase “sombras das coisas
futuras” é uma clara referência ao sacerdócio levítico com suas leis cerimoniais de
expiação de pecados pelo sacrifício de animais realizados no tabernáculo terrestre, as
quais eram as sombras das coisas celestiais e apontavam para o corpo de Cristo.
“Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da
carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:10). Paulo tem em mente, os
rituais do Antigo Concerto quando fala de “comer”, “beber”, “dias de festa”, “lua nova”
ou “sábados”.
Os cristãos foram exortados por Paulo, nessa passagem de Colossenses a não
voltarem às praticas desse tipo de sobras, as quais apontavam para a futura obra de
redenção que seria realizada pelo Messias vindouro.
É digno de nota observar que em nenhum momento o “decálogo” ou o “sábado
semanal” são mencionados como sendo “sombras das coisas futuras”. Portanto, mais
uma fez fica claro que Paulo está se referindo às leis cerimoniais do sacerdócio levítico,
que de fato eram sombras que apontavam para a obra redentora do Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
4.7 O sábado e a sombra
Paulo, em Colossenses 2:16-17, não está falando da abolição do próprio dia do
sábado, mas está falando da abolição dos holocaustos de animais realizados nos “dias de
festa”, ou da “lua nova”, ou nos “sábados”. Observe as seguintes razões:
a) Paulo não está abordando a abolição do sábado semanal porque ele fez questão de
acrescentar a frase: “que são sombras das coisas futuras”, para mostrar que estava se
referindo à lei cerimonial. Sendo que o livro de Hebreus é explícito em dizer que as
“sombras” mencionadas por Paulo tem relação direta com as leis cerimoniais para
expiação de pecados por meio do holocausto de animais ministrado pelo sacerdócio
levítico no santuário terrestre;
b) Não se trata da abolição do sábado semanal porque, além de existir três espécies
distintas de sábados, o sábado semanal não se encaixa na definição bíblica de “sombra”
apresentada em Hebreus. Mesmo porque o sábado do sétimo dia da semana foi dado na
criação do mundo, antes da entrada do pecado, portanto não é uma lei cerimonial de
expiação de pecados pelo sangue de animais;
c) O versículo de Colossenses não está considerando a abolição do sábado semanal,
simplesmente porque Paulo está falando de comidas e bebidas do cerimonial religioso
de holocaustos que eram realizados nos dias de festa, lua nova e nos sábados. “Que é
uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto
à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço. Consistindo somente em
manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da
correção” (Hebreus 9:9-10);
d) O apóstolo Paulo não está abordando a abolição do sábado semanal porque o
decálogo, do qual o sábado faz parte, não expia pecado de ninguém, mas apenas aponta
e condena do pecado. Porém, os holocaustos de animais expiavam os pecados e
apontavam para o sacrifício expiatório de Cristo. Foi por essa razão que João Batista fez
a seguinte afirmação sobre Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”
(João 1:29).
e) Como já foi dito, o sábado semanal não é sombra de coisas futuras, simplesmente
porque ele foi estabelecido por Deus como um memorial da criação do mundo, que
ocorreu em seis dias. O sábado é o dia em que a humanidade é chamada a lembrar da
obra da criação e adorar o criador do Universo. Observe o que diz a Bíblia Sagrada:
“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis dias fez o Senhor os
céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou
o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11).
O sábado do sétimo dia da semana deve obrigatoriamente ser observado nos dias
de hoje por todos os homens, tanto quanto era obrigatório ser observado pelos antigos
habitantes do mundo.
4.8 Os cerimoniais de holocaustos
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Então, quais são os cerimoniais religiosos relacionados com o comer ou beber,
dias de festa, lua nova, ou sábados, que são “sombras das coisas futuras”?
Bem, como “a Palavra de Deus é todo-suficiente regra de fé e prática” (GC,
186), vejamos o que ela tem a dizer sobre o assunto em questão:
As Escrituras Sagradas registram os holocaustos que eram realizados nos dias
de festa, luz nova, ou sábados.
1º Holocaustos dos dias de festa: “Porém no mês primeiro, aos catorze dias do mês é a
páscoa do Senhor. E aos quinze dias do mesmo mês haverá festa: sete dias se comerão
pães asmos. No primeiro dia haverá santa convocação: nenhuma obra servil fareis. Mas
oferecereis oferta queimada em holocausto ao Senhor, dois bezerros e um carneiro, e
sete cordeiros dum ano; ser-vos-ão eles sem mancha” (Números 28:16-19).
2º Holocaustos da lua nova: “E as suas libações serão a metade dum him de vinho para
um bezerro, e a terça parte dum him para um carneiro, e a quarta parte dum him para um
cordeiro: este é o holocausto da lua nova de cada mês, segundo os meses do ano”
(Números 28:14).
3º Holocaustos do sábado: “Porém no dia de sábado dois cordeiros dum ano, sem
mancha, e duas décimas de flor de farinha misturada com azeite, em oferta de manjares,
com a sua libação. Holocausto é do sábado em cada sábado, além do holocausto
contínuo, e a sua libação” (Números 28:9-10).
Esses holocaustos são mencionados em muitas outras passagens bíblicas:
I Crônicas 23:31 – “E para cada oferecimento dos holocaustos do Senhor, nos
sábados, nas luas novas, e nas solenidades, por conta, segundo o seu costume,
continuamente perante o Senhor”.
II Crônicas 2:4 – “Eis que estou para edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus,
para lhe consagrar, para queimar perante ele incenso aromático, e para o pão contínuo
da proposição, e para os holocaustos da manhã e da tarde, nos sábados, e nas luas
novas, e nas festividades do Senhor nosso Deus: o que é perpetuamente a obrigação de
Israel”.
II Crônicas 8:12-13 – “Então Salomão ofereceu holocaustos ao Senhor, sobre o altar
do Senhor, que tinha edificado diante do pórtico. E isto segundo o dever de cada dia,
oferecendo segundo o preceito de Moisés, nos sábados e nas luas novas, a nas
solenidades, três vezes no ano: na festa dos pães asmos, e na festa das semanas, e na
festa das tendas”.
II Crônicas 31:3 – “Também estabeleceu a parte da fazenda do rei para os
holocaustos, para os holocaustos da manhã e da tarde, e para os holocaustos dos
sábados, e das luas novas, e das solenidades; como está escrito na lei do Senhor”.
Esdras 3:5 – “E depois disto o holocausto contínuo, e os das luas novas e de todas as
solenidades consagradas ao Senhor; como também de qualquer que oferecia oferta
voluntária ao Senhor”.
Neemias 10:33 – “Para os pães da proposição, e para a contínua oferta de manjares, e
para o contínuo holocausto dos sábados, das luas novas, para as festas solenes, e para
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
as cousas sagradas, e para os sacrifícios pelo pecado, para reconciliar a Israel, e para
toda a obra da casa do nosso Deus”.
Ezequiel 45:17 – “E estarão a cargo do príncipe os holocaustos, e as ofertas de
manjares, e as libações, nas festas, e nas luas novas, e nos sábados, em todas as
solenidades da casa de Israel: ele fará a expiação pelo pecado, e a oferta de manjares,
e o holocausto, e os sacrifícios pacíficos, para fazer expiação pela casa de Israel”.
A semelhança desses versículos com aquele anunciado pelo apóstolo Paulo aos
Colossenses são inegáveis e incontestáveis. Eles trazem a exata e perfeita idéia do que o
apóstolo Paulo tinha em mente quando escreveu a sua epístola aos Colossenses.
O comer e o beber estão relacionados com “as ofertas de manjares, e as
libações”. Já os “dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” estão relacionados com
“os holocaustos dos sábados, e das luas novas, e das solenidades”. Foi desses versículos
que Paulo extraiu as passagens de Colossenses 2:16-17.
Diante do exposto fica claro que as atividades cerimoniais que estavam por traz
dos “dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” nada mais eram do que os
holocaustos de animais realizados nesses dias.
São os holocaustos de animais – que apontavam para o Cordeiro de Deus – que
foram cravados na cruz. Eles sim, são “sobras das coisas futuras”, porque apontavam
para o corpo (carne e sangue) de Cristo.
Destarte, Paulo está afirmando o seguinte: “Portanto ninguém vos julgue pelo
comer, ou pelo beber ou por causa [dos cerimoniais] dos dias de festa, ou da lua nova,
ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”
(Colossenses 2:16-17).
Por conseguinte, conclui-se que a expressão “sombras das coisas futuras” não se
refere propriamente à santificação do dia do sábado, mas sim aos cerimoniais de
“holocaustos” de animais realizados nesse dia, os quais, com a morte de Cristo, foram
definitivamente abolidos (Daniel 9:27; Marcos 15:38).
4.9 Quem Paulo tinha em mente
A quem o apóstolo Paulo estava se referindo quando escreveu: “Ninguém vos
julgue”? Pelo contexto do Novo Testamento podemos compreender que se tratava do
conflito existente entre os cristãos gentios convertidos por Paulo e os cristãos
judaizantes: “Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram,
dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés”
(Atos 15:5).
Esses cristãos judeus estavam querendo impor aos cristãos gentios alguns dos
preceitos do Antigo Concerto que haviam sido abolidos com a morte de Cristo, tais
como circuncisão, comidas, bebidas e cerimoniais de holocausto de animais que
ocorriam nos “dias de festa, lua nova e sábados”. Os judaizantes “eram tardos em
discernir que todas as ofertas sacrificais não tinham senão prefigurado a morte do Filho
de Deus, em que o tipo encontrou o antítipo, depois do que os ritos e cerimônia da
dispensação mosaica não mais eram obrigatórios” (AA, 189).
Porém, como os cristãos estão debaixo do Novo Concerto, eles não deveriam
participavam mais de tais cerimoniais, os quais foram definitivamente abolidos com a
cruz. Portanto, Paulo declara enfaticamente, em detrimento aos judaizantes, para que os
cristãos não levassem em consideração o fato de que alguns homens os estavam
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
julgando por não mais praticarem tais rituais: “ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo
beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados".
Em outras palavras, o apóstolo Paulo está dizendo o seguinte: “Portanto
ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos” ... “holocaustos do
Senhor, nos sábados, nas luas novas, e nas solenidades” (Colossenses 2:16-17; I
Crônicas 23:31).
Portanto, mais uma fez fica perfeitamente comprovado que Paulo não está
condenando a observância do sábado, mas sim os rituais de comidas, bebidas e
holocausto de animais que eram realizados nos dias de festa, na lua nova, ou nos
sábados. “Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações
da carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:10).
4.10 Considerações finais
Ao compreenderem o profundo significado do evangelho de Cristo, muitos
cristãos judeus abandonaram a prática dos holocaustos de animais, das ofertas de
manjares, da circuncisão, das comidas e bebidas que eram realizados desde os tempos
remotos pelo povo judeu, e que apontavam para o corpo do Messias.
Apesar da eficácia de todos esses cerimoniais religiosos ter sido,
definitivamente, cessada na cruz, a verdade é que havia alguns poucos cristãos,
chamados judaizantes, que ainda continuavam praticando alguns desses rituais, e
ensinavam outros a fazer o mesmo: “se vos não circuncidardes, conforme o uso de
Moisés, não podeis salvar-vos” (Atos 15:1).
Foi por essa razão que o apostolo Paulo foi levado a declarar firmemente:
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa,
ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de
Cristo” (Colossenses 2:16-17).
“E também havia ofertas para os sábados, luas novas e solenidades especiais”
(CS, 32). Que fique bem claro o que foi abolido na cruz foi o Antigo Concerto com os
seus cerimoniais de holocausto de animais, comidas e bebidas, alguns dos quais
ocorriam nos dias de festa, na lua nova, ou nos sábados.
Mesmo que Paulo estivesse se referindo ao sábado semanal, ainda assim ficou
claramente demonstrado que a abolição ocorrida na cruz foi a do cerimonial religioso
dos holocaustos de animais realizado nesse santo dia (Números 28:9-10) e não a
abolição do próprio dia do sábado, o qual foi consagrado por Deus na primeira semana
da criação, antes mesmo da entrada do pecado no mundo, ou da instituição de qualquer
lei cerimonial, ou da existência de qualquer judeu sobre a face da Terra e que, mesmo
após a cruz, foi observado pelos santos discípulos e apóstolos do Senhor Jesus Cristo.
É claro que, se o homem nunca houvesse desobedecido a Deus, comendo do
fruto da árvore da ciência do bem e do mal, toda a humanidade nunca teria se desviado
da verdade e estaria guardando o sábado até aos dias de hoje, e isto desde o princípio do
mundo, ocasião em que Deus consagrou o sétimo dia da semana.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 5 Questões Sobre o Sábado
“Deus viu que um repouso era essencial para o homem, mesmo no Paraíso. Ele
necessitava pôr de lado seus próprios interesses e ocupações durante um dia dos sete, para que pudesse de maneira
mais ampla contemplar as obras de Deus, e meditar em Seu poder e bondade. Necessitava de um sábado para, de
maneira mais vívida, o fazer lembrar de Deus, e para despertar-lhe gratidão, visto que tudo quanto desfrutava e
possuía viera das benignas mãos do Criador”.
Ellen Gould White (PP, 48)
5.1 Introdução
Na criação do mundo, antes mesmo da entrada do pecado, o Senhor nosso Deus
abençoou e santificou o sétimo dia da semana para ser observado por toda a
humanidade. Santificar é a mesma coisa que “consagrar”. Portanto o Senhor consagrou
o sétimo dia da semana já na fundação do mundo.
A palavra “santo” na língua hebraica é qadosh e em grego é hagio que
etimologicamente significam “ser separado”. Portanto, o sétimo dia da semana foi
separado, pelo próprio Senhor, dos demais dias para ser observado com um propósito
sagrado por todos os seres humanos.
O sétimo dia da semana deveria ser observado tanto por Adão e Eva como
também por todos os seus descendentes, porque a palavra “santificar” não teria nenhum
sentido, se ninguém tivesse a obrigação de observar o sétimo dia da semana.
No próprio ato do Senhor em “santificar” o sétimo dia da semana, está implícito
o comando divino para o homem observar esse dia. Destarte, está claro que Adão e Eva
foram os primeiros seres humanos a observarem o sábado bíblico no sétimo dia da
semana.
Tanto o sábado, como a semana de sete dias, tem sua origem na criação do
mundo. Essas duas instituições se mantêm unicamente pela vontade soberana de Deus.
O período semanal de sete dias não tem nenhuma relação com qualquer movimento dos
corpos celestes. Não é uma subdivisão exata do mês ou do ano. Todavia, a semana de
sete dias é empregada por todas as nações do Oriente destes tempos imemoriais, e que
não tinham nenhuma relação com a Lei Mosaica. Tal fenômeno atesta que essas nações
herdaram a semana de sete dias como uma tradição vinda da fundação do mundo.
Mas, será que nos dias de hoje os cristãos deveriam repousar de suas atividades
seculares e adorar a Deus no dia do sábado?
Bem, a Bíblia Sagrada e a “Associação do Sábado Bíblico”, contando com mais
de quatrocentas igrejas e denominações religiosas cristãs, tais como os Israelitas da
Nova Aliança, Ministério Ensinando de Sião, Igreja Batista do Sétimo Dia, Igreja de
Deus, Igreja Adventista da Promessa, Igreja Adventista da Reforma, mas, especialmente
os Adventistas do Sétimo Dia, ensinam que sim.
5.2 A origem do sábado
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
A origem do descanso no sétimo dia da semana remonta à fundação do mundo,
ocasião em que o Senhor nosso Deus abençoou e tornou santo o sétimo dia da semana,
após ter Ele mesmo descansado nesse dia. Observe o que diz as Escrituras Sagradas:
Gênesis 2:1-3 – “Assim os céus, e a terra e todo o seu exército foram acabados. E
havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo
dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou;
porque nele descansou de toda a sua obra, que Deus criara e fizera”.
Na ocasião em que o Senhor Jeová resgatou a Sua Igreja da escravidão egípcia,
Ele fez questão de ordenar que o Seu povo santo se lembrasse de santificar o dia do
sábado, o qual havia sido estabelecido pelo Senhor desde a fundação do mundo em
benefício de toda a humanidade.
Quando o Senhor repetiu o mandamento do sábado, colocando-o no coração do
decálogo, Ele remeteu a lembrança dos Seus adoradores à criação do mundo. Inclusive
tornando a transcrever todo o conteúdo registrado em Gênesis 2:1-3.
Todos sabem que o sétimo dia da semana é o último dia da semana, quando
então o ciclo semanal se encerra. Então se inicia uma nova semana, com o primeiro dia
da semana.
“No Éden, Deus estabeleceu o memorial de Sua obra da criação, depondo a Sua
bênção sobre o sétimo dia. O sábado foi confiado a Adão, pai e representante de toda a
família humana. Sua observância deveria ser um ato de grato reconhecimento, por parte
de todos os que morassem sobre a Terra, de que Deus era seu Criador e legítimo
Soberano; de que eles eram a obra de Suas mãos, e súditos de Sua autoridade. Assim, a
instituição era inteiramente comemorativa, e foi dada a toda a humanidade”. (PP, 48).
5.3 O sétimo dia
Quando anunciou os Dez Mandamentos, o Senhor incluiu até mesmo os gentios
(estrangeiros) na obrigação de observar o “santo sábado do Senhor”. Observe o que
dizem as Escrituras Sagradas:
Êxodo 20:8-11 – “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias
trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus:
não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a
tua serva, nem o teu animal nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao
sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou”.
O Senhor orientou o Seu povo para que não realizasse nenhuma espécie de
trabalho secular nesse dia. Também deixou bem claro que o sábado é o sétimo dia da
semana.
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A Lei, o Sábado e o Domingo
Note nos dois textos bíblicos abaixo selecionados que o “dia sétimo” (Gênesis
2:3) abençoado e santificado por Deus na criação do mundo é o mesmo “dia do sábado”
(Êxodo 20:11):
1º) “abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou” (Gênesis 2:3);
2º) “abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:11).
Portanto, o sábado não é um dia qualquer entre sete. Mas, segundo as Escrituras
Sagradas, o sábado é o sétimo e último dia da semana. Se alguém puder mostrar nas
Escrituras Sagradas a existência de um outro sétimo dia da semana que não seja último
dia da semana, conhecido pelo nome de sábado, então poderemos inferir que o quarto
mandamento pode estar se referindo a um outro sétimo dia da semana, além do santo
sábado do Senhor.
5.4 O sábado abominado
Por que razão teria o Senhor declarado a guarda do sábado abominável aos
Seus olhos?
Isaías 1:13 – “Não tragais mais ofertas debalde: o incenso é para mim abominação e
as luas novas, e os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar
iniquidade, nem mesmo o ajuntamento solene”.
Resposta: O antigo povo de Deus havia se corrompido de tal maneira, que o
Senhor foi levado a compará-lo a Sodoma e a Gomorra (Isaías 1:9-10). O povo santo
havia abandonado e blasfemado de Deus (Isaías 1:4). Mesmo estando com as mãos
sujas de sangue (Isaías 1:15), esse povo ainda insistia em realizar as práticas ritualísticas
de sua religião, mas isso sem nenhum remorso, arrependimento, contrição ou genuína
conversão, razão pela qual suas práticas foram condenadas pelo Senhor.
A verdade é que toda e qualquer observância de preceitos religiosos
estabelecidos por Deus torna-se abominável aos Seus olhos, quando praticado por
ímpios ou por pecadores impenitentes. Pelo menos é isso que a Bíblia Sagrada ensina
em Provérbios 15:8; 21:27; Salmos 50:16-17.
Até mesmo o simples ato de orar (Isaías 1:15) ou cultuar (Isaías 1:13) é tido
como abominação aos olhos do Senhor Jeová, especialmente, quando realizado por
pecadores impenitentes.
Do que adianta observar o sábado ou qualquer outro preceito da lei de Deus, se o
pecador é contumaz e não se arrepende do mal que pratica? De que adianta o crente
dizer que está debaixo da graça e viver num lamaçal de pecado? Do que adiante o
cristão dizer que está salvo e voluntariamente transgredir os mandamentos de Deus? Por
acaso o salário do pecado não é a morte (Romanos 6:23)? Porventura a força do pecado
não e a lei (I Coríntios 15:56)?
Todavia, a Palavra de Deus é clara, claríssima em dizer que, se o pecador mudar
de atitude, Deus promete perdoa-lhe os seus pecados por piores que sejam (Isaías 1:16-
18). Então o incenso, as luas novas, os sábados e a convocação das congregações,
realizadas por crentes sinceros e fiéis serão aceitáveis à divindade, porque tais práticas
foram estabelecidas pelo próprio Senhor nosso Deus.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
5.5 Oséias e o sábado
Teria Oséias profetizado a abolição da lei e anunciado a fim do sábado?
Oséias 2:11 – “E farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os
seus sábados, e todas as suas festividades”.
______________________________________________________________________
Resposta: Na época de Oséias o povo israelita (reino do norte) havia se
apostatado da verdade. Oséias afirma que “a terra se prostituiu, desviando-se do
Senhor” (Oséias 1:2). Em consequência o Senhor faria “cessar o reino da casa de
Israel” (Oséias 1:4). O Senhor disse que não mais se compadeceria da casa de Israel,
todavia se compadeceria da casa de Judá (reino do sul) (Oséias 1:6-7).
Essa profecia teve o seu pleno cumprimento com a destruição de Israel pelo
Império Assírio. Com o fim de Israel, o povo israelita foi levado para o cativeiro assírio
(II Reis 17:5-6, 23-24). Somente então foi que cessou definitivamente “todo o seu
gozo”. No cativeiro o povo ficou privado de realizar “as suas festas, as suas luas novas”
ou mesmo observar “os seus sábados” e todas as demais “festividades”.
Oséias jamais profetizou a abolição definitiva do sábado. O que ele profetizou
foi que o Senhor faria “cessar” a observância dos sábados pelos israelitas porque Ele
faria “cessar o reino da casa de Israel”. Nada mais lúcido!
Muito embora a observância do santo sábado tenha cessado para a nação israelita
(reino do norte), porque ela estaria em cativeiro e impedida de observar o sábado ou de
praticar qualquer outra solenidade da lei, a verdade é que o sábado continuou sendo
observado pelos judeus (reino do sul) por mais de um século, até o cativeiro babilônico.
Portanto, foi somente para os israelitas que cessou “todo o seu gozo, as suas festas, as
suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas festividades”, simplesmente porque
eles cessaram de existir como nação.
5.6 O sábado esquecido
Por que o Senhor pôs em esquecimento a guarda o sábado?
Lamentações 2:6 – “E arrancou a sua cabana com violência, como se fosse a de uma
horta; destruiu a sua congregação: o Senhor em Sião pôs em esquecimento a
solenidade e o sábado, e na indignação da sua ira rejeitou com desprezo o rei e o
sacerdote”.
Resposta: Essa lamentação foi escrita por Jeremias. Ele foi um profeta que, com
todas as suas forças, energias, disposição e determinação, exortou, por várias décadas, o
povo Judeu (reino do sul) ao arrependimento e à conversão, mas sem obter o menor
sucesso.
Jeremias presenciou a destruição de sua nação pelo poderoso e impiedoso
exército de Nabucodonosor. O profeta também testemunhou a retirada do povo judeu de
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A Lei, o Sábado e o Domingo
sua terra natal para ser levado em cativeiro. A tristeza do profeta era tão imensa que ele
chegou a ponto de escrever uma lamentação sobre o desastroso e terrível acontecimento.
Mais uma vez fica claro que Jeremias não profetizou a abolição do sábado. O
que ele profetizou foi que “o Senhor em Sião pôs em esquecimento... o sábado”, não
somente o sábado, mas toda a “solenidade” da lei. Tal fato ocorreu porque, estando
exilado no cativeiro imposto pelo Império de Babilônia, os judeus encontrariam grande
dificuldade para observar o santo dia do sábado ou praticar qualquer outro preceito da
lei.
Com a massa do povo judeu no cativeiro, a terra de Judá ficou totalmente
devastada e desolada, com poucos habitantes e sem nenhuma organização política (II
reis 24:14-15). Nessas condições, o sábado foi posto em esquecimento em Sião.
Mas quando os judeus retornaram do cativeiro babilônico – setenta anos depois
– eles tornaram a observar estritamente o sábado sob a supervisão de Neemias (Neemias
9:14; 10:31; 13:15-22). O que prova que o sábado não foi abolido e nem era para ser
posto em esquecimento para sempre.
5.7 A distinção entre lei moral e cerimonial
Seria a distinção entre lei moral e cerimonial invenção daqueles que
defendem o dever do cristão observar os Dez Mandamentos?
Resposta: Na Bíblia Sagrada encontramos uma diferença relevante entre os Dez
Mandamentos – também chamados pelo apóstolo Paulo de “lei de Deus” (Romanos
7:22 e 25; 8:7) – e as leis cerimoniais – também chamadas de ordenanças – referentes à
expiação de pecados através do holocausto de animais.
Com a morte do “Cordeiro de Deus”, a lei cerimonial foi totalmente abolida. Por
essa razão, os cristãos não guardam a páscoa, não realizam a circuncisão e nem fazem
expiação de pecados pelos sacrifícios de animais. Rituais esses, “consistindo somente
em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao
tempo da correção” (Hebreus 9:10).
Porém, a lei moral ainda continua vigorando, por isso os cristãos guardam os
Dez Mandamentos. Esta distinção está claramente exposta nas páginas da Bíblia
Sagrada, inclusive os apóstolos de Jesus fizeram questão de repetir e praticar todos os
Dez Mandamentos, conforme constam nas duas tábuas de pedra.
Para visualizar melhor a distinção entre lei moral e lei cerimonial, considere os
seguintes versículos bíblicos:
Levítico 4:27-29 – “E se qualquer outra pessoa do povo da terra pecar por erro,
fazendo contra algum dos mandamentos do Senhor, aquilo que se não deve fazer, e
assim for culpada. Ou se o seu pecado, no qual pecou, lhe for notificado, [Lei Moral]
então trará por sua oferta uma cabra fêmea sem mancha, pelo seu pecado que pecou. E
porá a sua mão sobre a cabeça da expiação do pecado, e degolará a expiação do
pecado no lugar do holocausto” [Lei Cerimonial].
Nessas singelas passagens bíblicas pode-se observar claramente a existência de
duas espécies de leis. Uma que é transgredida (Levítico 4:27) e outra que expia a culpa
resultante da transgressão (Levítico 4:29).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
A primeira lei, cuja transgressão resulta em pecado é a chamada lei moral, pois
“todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a
transgressão da lei” (I João 3:4). A segunda lei, que faz expiação pelo pecado através do
holocausto de animais, é conhecida pelo nome de lei cerimonial, mesmo porque “sem
derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). Esta lei era uma tipologia
que apontava para o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
Diante do exemplo bíblico supra mencionado, verifica-se que a “lei moral” e a
“lei cerimonial” possuem funções diferentes, muito embora sejam complementares. Por
essa razão são classificadas de modo distinto. A primeira indica o que é pecado, e a
segunda expia o pecado.
Analisando esse simples exemplo bíblico, podemos constatar que a própria
Escritura Sagrada permite fazer a distinção entre “lei moral” e “lei cerimonial”.
Antes da cruz, o pecador estando com a consciência culpada pela transgressão da
lei de Deus que o condena à morte, procurava realizar a expiação do seu pecado por
meio do sacrifício de animais. Após a cruz, o pecador estando com a consciência
culpada pela transgressão da lei de Deus que o condena à morte, procura expiar o seu
pecado por meio do sacrifício de Cristo.
5.8 A classificação de conceitos
O uso de palavras extrabíblica seria contrário às Escrituras Sagradas?
Resposta: A metodologia de classificar e definir termos e conceito faz parte de
toda e qualquer Ciência. Toda Ciência inicia-se com um processo de classificação e
definição de termos e conceitos que, posteriormente, são relacionados entre si e extraída
as suas propriedades e consequências naturais, levando à sua formalização. Afinal de
contas, “toda verdadeira ciência não é senão uma interpretação da escrita de Deus no
mundo material” (PP, 599). Para estudar a Bíblia Sagrada, nada melhor do que
empregar os métodos comprovadamente bem sucedidos.
A definição de termos e a classificação de conceitos é uma consequência natural
e necessária da Hermenêutica Sacra, um excelente e poderoso instrumento científico
para o estudo sistemático da Bíblia Sagrada.
As palavras “lei moral”, “lei cerimonial”, “lei civil”, “lei criminal”, “lei de
saúde” e tantas outras, não estão explicitamente registradas nas páginas da Bíblia
Sagrada. Mas, elas são empregadas largamente pelos teólogos para classificar e estudar
sistematicamente e didaticamente as diferentes espécies de leis existentes no Antigo
Testamento.
É claro que uma determinada palavra que não esteja explicitamente registrada
nas páginas da Bíblia Sagrada, não a torna automaticamente antibíblica, oposta ou
mesmo desfavorável aos ensinos escriturísticos. Caso contrário, muitas expressões
empregadas por toda a cristandade, teriam que ser consideradas antibíblicas e, portanto,
desprezadas ou abandonadas.
Destarte, o título “Bíblia Sagrada” não se encontra em nenhuma das páginas das
Escrituras, mas nem por isso tal nome é contrário aos ensinos bíblicos. A expressão
“escatologia” não está registrada na Bíblia Sagrada, mas ela serve para designar o
estudo dos últimos acontecimentos. A palavra latina “milênio” não se encontra em
nenhuma parte das Escrituras Sagradas, todavia, esse termo é empregado por todos os
cristãos para designar uma importante doutrina bíblica. A palavra “trindade”,
“onisciência”, “onipresença” ou “onipotência” e tantas outras, também não se
encontram registradas “ipsis verbis” nas páginas das Escrituras Sagradas, porém, elas
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
são largamente empregadas por toda a cristandade para caracterizar a natureza da
divindade.
Todas essas palavras não estão registradas na Bíblia Sagrada, mas, nem por isso,
elas são tidas como antibíblicas. Então por que considerar antibíblica as palavras “lei
moral”, “lei cerimonial”, “lei civil”, “lei criminal”, “lei de saúde” e tantas outras,
quando elas realmente caracterizam e classificam as diversidades de leis registradas no
corpo legislativo do Pentateuco?
5.9 Considerações finais
Seria lícito o uso de expressões extrabíblica que exprimem as idéias contidas
na Palavra de Deus?
Resposta: A verdade é que o simples fato de uma palavra não estar registrada
“ipsis verbis” na Bíblia Sagrada, não quer dizer que a idéia representada pela referida
palavra não esteja contida nas páginas das Escrituras Sagradas. Ou seja, o vocábulo
pode até mesmo não estar escrito “ipsis litteris” no Santo Livro de Deus, mas a idéia
que tal vocábulo traduz ou representa pode estar claramente contida nas Escrituras
Sagradas.
Tal fato, torna bíblico e lícito o emprego de termos, expressões ou palavras que
não estão registrados na Bíblia Sagradas, mas que traduzem perfeitamente a idéia que o
texto sagrado quer transmitir.
Portanto, as expressões “lei moral”, “lei cerimonial”, “lei civil”, “lei penal”, “lei
de saúde” ou tantas outras, quando empregadas para classificar as idéias traduzidas pela
diversidade de leis, são perfeitamente lícitas no estudo da Palavra de Deus, tanto quanto
são lícitos o emprego das palavras trindade, milênio, onipotência, onisciência,
onipresença, bíblico e outras. Mesmo porque as idéias que compreendem tais palavras
encontram-se largamente registradas nas páginas das Escrituras Sagradas.
O emprego de “expressões” que classificam as idéias contidas nas Escrituras
Sagradas, torna a pesquisa das doutrinas bíblicas mais clara, consistente, racional,
lógica, compreensível e exata aos olhos de todos aqueles que estudam sistematicamente
as mensagens da Palavra de Deus.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 6 A Lei em Gálatas
“Deus exige que Seu santo dia seja observado hoje de maneira tão sagrada como no
tempo de Israel. A ordem dada aos hebreus deve ser considerada por todos os cristãos como um mandado de
Jeová”.
Ellen Gould White (PP, 296)
6.1 Introdução
A lei foi dada por Deus aos cuidados do povo israelita pelo ministério de Moisés
(Neemias 9:14). Por recusarem o sacrifício de Cristo, boa parte dos judeus continua
mantendo até aos dias de hoje as suas tradições milenares, muitas das quais são criações
de origem humana, herdadas das seitas dos fariseus e dos saduceus.
Atualmente, esse povo ainda se orienta espiritualmente pela Lei e pelos Profetas.
A “Lei” se refere aos primeiros cinco livros da Bíblia Sagrada, os quais foram escritos
por Moisés, e são conhecidos pelo nome de Pentateuco. Os “Profetas” se referem aos
livros escritos pelos profetas bíblicos. Portanto a expressão “Lei e Profetas” é a antiga
designação para os livros divinamente inspirados que constituem o “Antigo
Testamento”.
Por não reconhecerem o “Cordeiro de Deus” (João 1:36), os judeus também não
aceitam as boas novas de salvação anunciada no Novo Testamento (Atos 7:37), a qual
havia sido veementemente recomendada pelos antigos profetas bíblicos.
O povo judeu continua aguardando a vinda do Messias, mas quando Cristo
aparecer, segunda vez, nas nuvens do céu, então os judeus ficarão surpresos ao
constatarem que o Messias é o Senhor Jesus.
6.2 A lei que nos serviu de “aio”
Teria Paulo ensinado que o decálogo nos serviu de “aio”, e que com Cristo
não estamos mais debaixo do “aio”, ou seja, do decálogo?
Gálatas 3:24-25 – “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a
Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos
debaixo de aio”.
Resposta: A palavra “aio” significa tutor, curador, preceptor, que nada mais é do
que a pessoa encarregada da educação de crianças (Gálatas 4:2). Porém, Paulo está
falando de uma “lei” que “nos serviu de aio”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Então, qual era a lei que nos tutelou para nos conduzir a Cristo, e que com a cruz
deixamos de depender totalmente dela para salvação? Evidentemente tratava-se da lei
que apontava para Cristo e Seu sacrifício expiatório.
Mas qual era a lei que apontava para o sacrifício expiatório de Cristo para
remissão dos pecados? Certamente não era a lei moral, posto que ela aponta para o
pecado (Romanos 3:20; Romanos 7:7; João 3:4), mas não provê o perdão dos pecados.
Além do mais, os Dez Mandamentos foram repetidos e praticados no Novo Testamento
por Jesus Cristo e pelos santos apóstolos.
Todavia, pelas Escrituras Sagradas, podemos constatar que a lei cerimonial do
sacerdócio levítico – pela sua tipologia – era a única lei que apontava para a morte
expiatória de Cristo, a qual era revelada aos antigos crentes por meio da expiação de
pecados pelo holocausto de animais.
Essa tipologia era tão evidente aos antigos, que João Batista chegou a comparar
o sacrifício de cordeiros realizados no santuário terrestre levítico com o sacrifício de
Cristo ao afirmar: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
Em outro passo João disse o seguinte: “E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o
Cordeiro de Deus” (João 1:36).
Então pode-se fazer a seguinte pergunta: de onde foi que João Batista tirou a
figura do cordeiro? Certamente não do decálogo, mas da lei cerimonial levítica com os
seus múltiplos holocaustos de animais. “Que é uma alegoria para o tempo presente, em
que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar
aquele que faz o serviço. Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções
e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:9-10).
Portanto, com o nascimento e morte de Cristo, já não estamos mais debaixo do
preceptor (aio). Ou seja, não estamos mais subordinados ao “Antigo Concerto”
envolvendo a expiação de pecados pelo sangue de animais para perdão de nossos
pecados. Mas, estamos subordinados ao “Novo Concerto” envolvendo a expiação de
pecados pelo sangue de Cristo. Em outros termos: depois que a fé no antítipo (Cristo)
veio, já não somos mais dependentes do tipo (holocausto de animais).
6.3 Remindo os que estavam debaixo da lei
Teria Paulo ensinado que, com a vinda de Cristo, ficamos livres de observar
os mandamentos de Deus?
Gálatas 4:1-5 – “Digo, pois, que todo o tempo que o herdeiro é menino em nada difere
do servo, ainda que seja senhor de tudo. Mas está debaixo de tutores e curadores até ao
tempo determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos
reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a
plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.
Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”.
Resposta: Nesses versículos, o apóstolo Paulo está fazendo uma clara relação
entre um “herdeiro menino” com o primeiro concerto, no qual “estávamos reduzidos à
servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O herdeiro menino está subordinado a tutores e curadores até ao tempo
determinado por seu pai. A analogia é clara: o primeiro concerto, dado no início dos
tempos, vigoraria até o tempo determinado por Deus.
Na plenitude do tempo o Pai enviou Jesus Cristo ao mundo. Com Sua morte
expiatória na cruz, passou a vigorar um Novo Concerto, que remiu aqueles que estavam
aos cuidados dos rudimentos do Antigo Concerto. Em tempos remotos, os fiéis
alcançavam o perdão dos pecados por meio do holocausto de animais tendo fé na vinda
do Messias.
De fato, o Antigo Concerto apontava para o Messias e realizava a expiação de
pecados pelo holocausto de animais. Com a morte de Cristo o Antigo Concerto perdeu a
sua eficácia. Em seu lugar passou a vigorar o Novo Concerto para expiação de pecados
pelo sangue remidor de Cristo.
Hebreus 10:1 e 4 – “Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem
exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada
ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Porque é impossível que o sangue dos
touros e dos bodes tire os pecados”.
Hebreus 10:11-12 – “E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e
oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados.
Mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para
sempre à destra de Deus”.
Portanto, o Antigo Concerto foi dado ao povo de Deus, na infância da
humanidade. Cristo veio para remir o seu povo da tutela do Antigo Concerto e nos
adotar como filhos de Deus, mas agora sob a égide do Novo Concerto.
“A condescendência e a angústia do amado Filho de Deus não foram suportadas
a fim de adquirir para o homem a liberdade de transgredir a lei do Pai e sentar-se ainda
com Cristo no Seu trono. Isso ocorreu para que por Seus méritos e pela manifestação de
arrependimento e fé o pecador mais culpado possa receber perdão e obter força para
levar uma vida de obediência. O pecador não é salvo em seus pecados, mas de seus
pecados” (FO, 31).
6.4 O rudimento fraco e pobre
Teria Paulo comparado a guarda do sábado a um rudimento fraco e pobre?
Gálatas 4:9-11 – “Mas agora, conhecendo a Deus, ou antes, sendo conhecidos de
Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo
quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja
trabalhado em vão para convosco”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Resposta: Primeiramente cabe ressaltar que na igreja dos gálatas havia dois
grupos distintos de cristão: o grupo judeu e o grupo gentio. Pelo contexto do versículo
considerado, Paulo não está se reportando ao grupo judeu convertido, mas sim aos
gentios que haviam se convertido do paganismo para o cristianismo, e que agora
estavam “conhecendo a Deus”.
O santo apóstolo afirma que os gentios pagãos, antes de se converterem e
“agora, conhecendo a Deus”, haviam servido aqueles que “não são deuses” (Gálatas
4:8). Tal afirmação não se aplica de modo algum aos judeus, porque depois do cativeiro
babilônico e na época apostólica eles não eram politeístas ou idólatras.
Com toda certeza, Paulo está se referindo aos gentios da Galácia que haviam se
convertido ao cristianismo, mas que agora estavam tornando a algumas de suas antigas
práticas do culto pagão. Paulo condenou esse sincretismo religioso entre paganismo e
cristianismo, o qual mais tarde viria a corromper toda a igreja. “Porque já o mistério da
injustiça opera: somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado” (II
Tessalonicenses 2:7).
Os gentios, como religiosos que eram, serviam aos deuses pagãos. Entre os
pagãos cada dia da semana era especialmente dedicado a alguma divindade em
particular. Tanto é verdade que na nomenclatura pagã, cada dia da semana era dedicado
a um deus em particular (Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno).
A seguir Paulo afirma que “agora, conhecendo a Deus” (Gálatas 4:9), como eles
poderiam querer tornar a servir “esses rudimentos fracos e pobres”? Portanto, os
“rudimentos fracos e pobres” referem-se aos rituais pagãos praticados em favor
daqueles que “não são deuses” (Gálatas 4:8). Esses rituais eram realizados em
determinados “dias, e meses, e tempos, e anos”. Por essa razão Paulo censurou-os por
tornar “outra vez a esses rudimentos fracos e pobres” aos quais de novo desejavam
servir.
Em nenhum momento o apóstolo Paulo está fazendo referência ao sábado
bíblico, mas sim exortando os cristãos gentios a deixarem definitivamente a práticas dos
cultos pagãos.
Dizer que Paulo estaria se referindo ao “santo sábado do Senhor” é mostrar total
ignorância das mais elementares regras de hermenêutica. Especialmente aquela que
afirma que todo texto deve levar em consideração seu contexto imediato e mediato.
Nem de longe Paulo insinua o dia do sábado, o qual ele mesmo andava observando
entre os judeus (Atos 13:14-15) e entre os gentios pagãos (Atos 16:13).
6.5 Alegoria dos dois concertos
Teria Paulo ensinado que os filhos da escrava são aqueles que observam os
Dez Mandamentos e os filhos da livre são aqueles que estão livres da observância
do decálogo?
Gálatas 4:22-24, 30-31 – “Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da
escrava, e outro da livre. Todavia o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o
que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria: porque estes são os dois
concertos: um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Mas que diz
a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava
herdará com o filho da livre. De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava,
mas da livre”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Resposta: Nesses trechos bíblicos, o apóstolo Paulo assume explicitamente que
está discorrendo por meio de uma “alegoria”. Mas o que é uma “alegoria”? Trata-se de
uma metáfora com significado diverso das figuras de linguagem que são diretamente
empregadas no texto.
No texto em questão, Paulo faz uma comparação figurada entre os dois
concertos com o filho da escrava e o filho da livre. O Antigo Concerto dado no monte
Sinai é comparado com Agar (a mulher escrava) e o Novo Concerto é comparado com
Sara (a esposa livre).
Paulo afirma claramente que somos filhos da mulher livre e não da mulher
escrava. Destarte, Paulo está assegurando aos judaizantes que não estamos subordinados
ao Antigo Concerto dado no Monte Sinai com os seus rituais e holocaustos de animais
para expiação de pecados, mas estamos debaixo do Novo Concerto, no qual Cristo se
entregou em “oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Efésios 5:2) “para aniquilar
o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hebreus 9:26), “havendo oferecido um único
sacrifício pelos pecados” (Hebreus 10:12).
“Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho” (Antigo Concerto de
expiação de pecados pelo sacrifício de animais), “porque de modo algum o filho da
escrava herdará com o filho da livre” (Novo Concerto de expiação de pecados pelo
sacrifício de Cristo). De maneira que somos filhos, não do Antigo Concerto, mas do
Novo Concerto. Os primeiros cristãos estavam sendo convocados a lançar fora o Antigo
Concerto e adotar o Novo Concerto.
Com a morte de Cristo o Antigo Concerto de expiação de pecados pelo
holocausto de animais foi totalmente abolido. Todavia, alguns cristãos judeus, ainda
presos a suas tradições seculares, continuavam realizando o sacrifício de animais para
expiação de seus pecados, em vez que abraçarem o Novo Concerto de expiação de
pecados pelo sangue de Cristo. Foi por essa razão que o autor do livro de Hebreus foi
incisivo: “Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”
(Hebreus 10:4) ou “... sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados” (Hebreus 10:11).
Aqueles que continuassem seguindo por esse caminho estavam tacitamente negando a
eficácia do sacrifício de Cristo. Nessas circunstâncias jamais poderiam herdar o reino de
Deus.
Caso, o apostolo Paulo estivesse fazendo referência ao decálogo, então ele
estaria sendo incoerente, especialmente porque em suas epístolas ele foi muito rigoroso
em citar, praticar e ordenar a observância dos mandamentos do decálogo. Observe: 1º) I
Coríntios 8:4; 2º) I Coríntios 6:10; 3º) Romanos 2:23-24; 4º) Atos 16:13; 5º) Efésios
6:2-3; 6º) Romanos 13:9; 7º) I Coríntios 6:10; 8º) Efésios 4:28; 9º) Colossenses 3:9 e
10º) Romanos 7:7.
6.6 Separados de Cristo
Quem observa os mandamentos do decálogo está separado de Cristo e caído
da graça?
Gálatas 5:4 – “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça
tendes caído”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Resposta: O versículo bíblico em análise não afirma que aqueles que observam
os Dez Mandamentos, identificados nas Escrituras Sagradas como “lei de Deus”
(Romanos 7:22; Romanos 7:25; Romanos 8:7), estão decaídos da graça. Mas, o
versículo citado afirma claramente que as pessoas que procuram “justificar-se” através
da lei estão separadas de Cristo e caídos da graça.
“Observar” a lei de Deus e procurar “justificar-se” pela lei de Deus são duas
coisas completamente diferentes. “Observar” a lei de Deus implica num processo de
obediência e santificação na verdade (João 17:17). Porém, “justificar-se” pela lei
caracteriza um processo de salvação meritória pelas obras da lei. Neste caso, o crente
encontra na observância da lei de Deus a sua única razão para ser salvo.
Ora, a lei de Deus foi dada ao homem como forma de santificação, nunca como
método de salvação. O próprio apóstolo Paulo afirma que “nenhuma carne será
justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do
pecado” (Romanos 3:20).
Portanto, o verdadeiro cristão observa a lei de Deus não para ser salvo por ela.
Mas, por estar sendo santificado na verdade, procura evitar a prática do pecado, pois
“todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a
transgressão da lei” (I João 3:4) e “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23).
“Todo transgressor da lei de Deus é pecador, e ninguém pode ser santificado enquanto
viver em pecado conhecido” (FO, 30).
O perdão, a justificação ou a salvação são dons obtidos unicamente mediante o
sangue remidor de Cristo Jesus. Aquele que tenta justificar-se pela obra da lei tenta uma
impossibilidade, pois a lei nunca teve poder ou virtude para perdoar os pecados de
ninguém. A lei não é o salvador do mundo. Ela foi dada somente para indicar ao homem
o que é pecado e condenar o transgressor à morte eterna.
Caso a lei possuísse qualquer virtude para poder salvar o pecador, então a morte
de Cristo teria sido desnecessária. Pelo menos é isso que o apóstolo Paulo afirma:
“porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gálatas 2:21).
Em outra passagem o santo apóstolo afirma o seguinte: “porque, se dada fosse uma lei
que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei” (Gálatas 3:21).
O mesmo argumento também é válido para a lei cerimonial do sacerdócio
levítico. Aqueles que nos dias de hoje procuram justificar-se pela lei cerimonial estão
desligados de Cristo e decaídos da graça. Isso porque a lei cerimonial levítica com os
seus múltiplos holocaustos de animais para expiação de pecados caracteriza o Antigo
Concerto. Todavia, tal concerto foi totalmente abolido na cruz por Cristo Jesus (Daniel
9:27; Lucas 23:45; II Coríntios 3:14). Portanto, aquelas pessoas que desprezam o
ministério sacerdotal de Cristo para seguirem o ministério sacerdotal levítico com seus
rituais de expiação dos pecados pelo sangue de animais estão fora do alcance da graça
redentora.
6.7 Considerações finais
“Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a
transgressão da lei” (I João 3:4). “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). A
maldição da lei é a morte. Foi por essa razão que “Cristo nos resgatou da maldição da
lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for
pendurado no madeiro” (Gálatas 3:13).
“Jesus, nosso Substituto, consentiu em sofrer pelo homem a penalidade da lei
transgredida. Ele revestiu Sua divindade com a humanidade, tornando-Se assim o Filho
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
do homem, o Salvador e Redentor. O próprio fato da morte do amado Filho de Deus
para remir o homem revela a imutabilidade da lei divina. Quão facilmente, do ponto de
vista do transgressor, Deus poderia ter abolido Sua lei, provendo assim um meio pelo
qual o homem pudesse ser salvo e Cristo permanecesse no Céu! A doutrina que ensina a
liberdade, pela graça, para transgredir a lei é uma ilusão fatal” (FO, 30).
“O engano de Satanás é que a morte de Cristo introduziu a graça para tomar o
lugar da lei. A morte de Jesus de maneira alguma modificou, anulou ou diminuiu a lei
dos Dez Mandamentos. Essa preciosa graça oferecida aos homens por meio do sangue
do Salvador estabelece a lei de Deus. Desde a queda do homem, o governo moral de
Deus e Sua graça são inseparáveis. Andam de mãos dadas através de todas as
dispensações. ‘A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram’
Sal. 85:10” (FO, 30).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 7 Paulo e a Lei
“Foi mostrado que o terceiro anjo, que proclama os mandamentos e a fé de Jesus
(Apocalipse 14:9-14), representa o povo que recebe essa mensagem, e ergue a voz de advertência ao mundo para
que guarde os mandamentos de Deus e a Sua lei como a menina dos olhos; e em resposta a esta advertência
muitos abraçariam o sábado do Senhor”.
Ellen Gould White (VE, 87)
7.1 Introdução
“Hoje os inimigos da verdadeira igreja vêem no pequeno grupo de guardadores
do sábado, um Mardoqueu à porta. A reverência do povo de Deus por Sua lei, é uma
constante repreensão aos que têm deixado o temor do Senhor, e estão pisando o Seu
sábado” (PR, 605).
O sábado foi estabelecido pelo próprio Senhor nosso Deus, no sétimo dia da
semana, como um memorial da criação (Gênesis 2:2-3). Esse dia foi abençoado e
consagrado pelo Senhor bem antes da entrada do pecado no mundo e deveria ser
observado por todos os descendentes de Adão e Eva.
Posteriormente, o Senhor ratificou a benção e a santificação do dia do sábado,
colocando-o no coração da lei moral, a qual é conhecida pelo nome de decálogo (dez
palavras) ou lei de Deus. Novamente, o Senhor fez questão de lembrar ao Seu povo
santo de que o sábado deveria ser santificado por se tratar de um memorial da criação.
Observe: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis dias fez o
Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto
abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11).
O dia do sábado deveria ser observado tanto pelos israelitas quanto pelos gentios
que se convertiam à verdade (Isaías 56:6-7). Na realidade, o dia do sábado deveria até
mesmo ser observado pelos gentios que estivessem dentro do território israelita (Êxodo
20:10).
Quando esteve vivendo na terra, Jesus Cristo tinha o “costume” de guardar o
santo sábado (Lucas 4:16), conforme prescreve o mandamento divino. Jesus também
profetizou que a Sua Igreja estaria guardando o “santo sábado do Senhor”, mesmo
depois de decorridos quarenta anos de Sua morte e ressurreição (Mateus 24:20).
Depois da morte de Cristo, as Suas fiéis discípulas continuaram guardando o
sábado bíblico, conforme prescreve o mandamento divino (Lucas 23:56). Muitos anos
depois da cruz, o apóstolo Paulo também continuava guardando o sábado junto com os
seus conterrâneos judeus (Atos 13:14-15). Até mesmo em locais onde não havia judeus,
Paulo fazia questão de guardar o “santo sábado do Senhor” entre os gentios (Atos
16:12-13).
O escritor do Apocalipse afirma que ele foi arrebatado em visão no “dia do
Senhor” (Apocalipse 1:10), que segundo a Bíblia Sagrada é o “dia do sábado” (Isaías
58:13).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Apesar das Escrituras Sagradas fervilharem de dezenas de testemunhos de que o
sábado continua plenamente vigorando para os cristãos em todas as épocas, a verdade é
que alguns falsos doutores e mestres, prisioneiros de antigas tradições de origem
humana, fazendo o uso de filosofias e de vãs subtilezas (Colossenses 2:8), apregoam aos
quatro cantos da Terra a famigerada suposição de que o sábado bíblico do sétimo dia da
semana foi abolido. Mas não é isso que as Escrituras Sagradas ensinam.
7.2 Uma glória transitória
Teria Paulo ensinado que a lei de Deus era transitória e, portanto, com a
cruz ela se extinguiu?
II Coríntios 3:6-11 – “O qual nos fez também capazes de ser ministros dum novo
Testamento, não da letra, mas do espírito, porque a letra mata, e o espírito vivifica. E,
se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira
que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória
do seu rosto, a qual era transitória. Como não será de maior glória o ministério do
espírito? Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em
glória o ministério da justiça. Porque também o que foi glorificado nesta parte não foi
glorificado, por causa desta excelente glória. Porque, se o que era transitório foi para
glória, muito mais é em glória o que permanece”.
Resposta: Nos versículos retro mencionados, Paulo está fazendo um claro
“contraste” entre o que ele chama de ministério da morte ou ministério da condenação
com o que ele designa como ministério do Espírito ou ministério da justiça.
Em suas cogitações, o santo apóstolo asseverou que o ministério do Espírito é
muito mais glorioso do que o ministério da morte.
Numa clara alusão a Moisés, cujo rosto resplandecia – após receber do Senhor o
decálogo e as demais leis – com uma glória que era transitória (Êxodo 34:29), Paulo
afirmou que o ministério da morte veio em glória.
Mas, qual era o ministério da morte que era transitório e que veio em glória?
Bem, o ministério da morte era aquele que estava “gravado com letras em pedras”. Mas,
o que foi gravado com letras em pedra e que veio com a glória do rosto de Moisés? A
única resposta é o decálogo: “Então vos anunciou ele o seu concerto que vos
prescreveu, os Dez Mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra”
(Deuteronômio 4:13).
Então a pergunta que se faz é a seguinte: por que a lei dos Dez Mandamentos foi
chamada por Paulo de “ministério da morte” ou “ministério da condenação”? A resposta
é muito simples, a lei foi chamada pelo apóstolo de “ministério da condenação” ou
“ministério da morte” porque a função da lei não é a de salvar, mas condenar o
transgressor da lei à morte.
Tal assunto foi largamente ensinado por Paulo em seus escritos. Observe:
“porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20); “mas eu não conheci
o pecado senão pela lei” (Romanos 7:7); “porque a lei opera a ira” (Romanos 4:15);
“ora o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” (I Coríntios 15:56);
“porque o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23) etc.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Caso Paulo estivesse condenando a lei, então ele estaria sendo incoerente,
especialmente porque em suas cartas ele defende vigorosamente a validade da lei: “Não
sabeis vós, irmãos ... que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que
vive?”... “eu não conheci o pecado senão pela lei”... “eu não conheceria a
concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás”... “assim a lei é santa, e o
mandamento santo, justo e bom”... “e, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é
boa”... “porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus”... “com o
entendimento sirvo à lei de Deus” (Romanos 7:1, 7, 12, 16, 22 e 25).
Mas, o que é o “ministério do espírito” ou “ministério da justiça”? O ministério
do espírito ou da justiça é a graça, a qual estabelece o perdão dos pecados mediante o
sangue remidor de Jesus Cristo. Observe o que Paulo diz a respeito do assunto: “onde o
pecado abundou, superabundou a graça” (Romanos 5:20); “e libertados do pecado,
fostes feitos servos da justiça” (Romanos 6:18).
Como crermos no Novo Testamento, então cremos que os “pecados” apontados
pela lei dos Dez Mandamentos se extinguem com o ministério da justiça operando na
vida do pecador arrependido. Portanto, o que é transitório não é a lei, mas sim o pecado
que a lei aponta, o qual foi expiado pela morte de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo (João 1:29 e 36).
7.3 Colossenses e o sábado
Teria Paulo declarado que o sábado semanal foi abolido na cruz?
Colossenses 2:14, 16-17 – “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós,
cravando-a na cruz. Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por
causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas
futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Resposta: A Bíblia Sagrada aplica o termo “ordenanças” exclusivamente ao
ritual religioso realizado no chamado “santuário terrestre” (Hebreus 9:1). Então
podemos concluir que a “cédula” cravada na cruz refere-se ao Antigo Concerto com
seus múltiplos cerimoniais de sacrifícios de animais realizados para expiação de
pecados.
Em nenhum momento Paulo ensina ou insinua que o sábado semanal foi abolido.
O que o santo apóstolo diz é que ninguém deveria julgar os cristãos pelo fato deles não
mais participarem dos cerimoniais de holocausto de animais realizados nos “dias de
festa, ou da lua nova, ou dos sábados”.
Paulo, divinamente inspirado, acrescenta ainda mais: “que são sombras das
coisas futuras”. Ora, o Livro de Hebreus é muito claro em ensinar que as sombras das
coisas futuras referem-se inclusivamente aos holocaustos de animais que eram
realizados pelos sacerdotes levitas no santuário terrestre.
Esses sacrifícios de animais apontavam para o corpo de Cristo, que seria
dilacerado para expiar os pecados da humanidade (I Coríntios 10:16; Hebreus 10:10).
Foi por essa razão que João Batista disse de Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo” (João 1:29).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Segundo a teoria clássica, os sábados mencionados por Paulo referem-se aos
descansos cerimoniais que ocorriam dentro dos dias festivos, já que a Bíblia Sagrada
define claramente tais descansos como sábados (Levítico 23:31-32). Além do mais, o
versículo Paulino faz exclusiva referência à lei cerimonial como “comer”, “beber” “dias
de festa” ou “lua nova”, que são cerimoniais. Não havendo, portanto, nenhuma razão
para supor que Paulo está tratando da abolição do sábado moral.
7.4 Indiferenças entre os dias
Estaria o sábado vigorando nos dias de hoje, haja vista que todos os dias são
iguais?
Romanos 14:5-6 – “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os
dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso
do dia, para o Senhor o faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a
Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus”.
Resposta: Em primeiro lugar cabe ressaltar que, na passagem bíblica
considerada, Paulo não está se reportando a nenhum dia especifico da semana. Ele não
tem em mente a natureza sagrada do sábado bíblico. Também não está pensando no
domingo. Ou seja, em nenhum momento Paulo citou ou fez qualquer referência ao
sábado ou a qualquer outro dia em particular.
O que Paulo está dizendo é que os gentios romanos convertidos ao cristianismo
ainda “enfermo na fé” (Romanos 14:1) estavam divididos por causa de algumas
tradições. Destarte, alguns hereges faziam “diferença entre dia e dia” e outros julgavam
“iguais todos os dias”. Ainda alguns criam “que de tudo se pode comer, e outro, que é
fraco, come legumes” (Romanos 14:2).
A mensagem central de Paulo era que os cristãos de Roma deveriam ser
tolerantes para com esses conversos, que se encontravam fracos na fé. Portanto, não
deveriam desprezar ou julgar aqueles que “Deus o recebeu por seu” (Romanos 14:3).
Os conversos fracos na fé traziam essas tradições porque os pagãos dedicavam
cada dia da semana a um deus em especial. Dependendo da natureza do deus daquele
dia, eles faziam “diferença entre dia e dia”. Assim para eles cada dia possuía uma
natureza diferente do outro. Por exemplo, o Imperador Constantino declarou que o
“venerável” dia do Sol era o mais propício para as atividades da lavoura.
Também havia na igreja de Roma outros cristãos, que julgavam iguais todos os
dias. Note que as idéias de que todos os dias são iguais ou de que todos os dias são
diferentes não partiram do apóstolo Paulo, sobretudo porque ele afirma explicitamente
que “Um faz diferença entre dia e dia”... “outro julga iguais todos os dias”. Quando ele
fala de “um” e de “outro”, o santo apóstolo está se excluindo.
Portanto, está claro que essas duas crenças contraditórias foram produzidas pelos
cristãos de Roma. Elas eram produtos da mente dos cristãos gentios e não do santo
apóstolo. A realidade é que Paulo não tomou partido de nenhuma dessas doutrinas
heréticas. O que o santo apóstolo fez foi simplesmente advertir os cristãos de Roma
sobre a atitude de discórdia que estava se instalando entre eles.
Apesar dessas duas heresias serem bem claras a qualquer estudante das
Escrituras Sagradas, os adversários da verdade, para menosprezar o sábado, costumam
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A Lei, o Sábado e o Domingo
adotar em seus argumentos a postura herética daquele que “julga iguais todos os dias” e
desconsideram a postura apóstata daquele que “faz diferença entre dia e dia”.
Mas, se todos os dias são iguais, então por que o Senhor Jeová fez questão de
distinguir o sábado dos demais dias da semana, abençoando-o e santificando-o (Gênesis
2:2-3; Êxodo 20:8-11)? Se todos os dias são iguais, então por que Jesus observou o
santo sábado (Lucas 4:16) em detrimento aos demais dias da semana? Se todos os dias
são iguais, então porque Jesus se identificou como Senhor do sábado (Mateus 12:8)? Se
todos os dias são iguais, então por que Paulo guardou o sábado (Atos 16:13)? Se todos
os dias são iguais, então porque muitos adversários do sábado insistem em defender a
guarda do domingo?
Caso o texto em questão estivesse considerando a abolição do sábado,
simplesmente porque todos os dias são iguais, então aqueles que observam o primeiro
dia da semana – por uma questão de coerência – teriam que abandonar a guarda do
domingo, haja vista que “julga iguais todos os dias”.
Supondo que todos os dias sãos iguais e que se pode guardar qualquer dia da
semana, então por que os inimigos das verdades bíblicas insistem veementemente em
condenar a observância do dia de sábado?
Presumindo que pouco importa guardar um dia ou outro, porque alguns julgam
“iguais todos os dias”, então por uma questão de lógica é melhor guardar o dia do
sábado. Especialmente porque se trata do único dia que foi abençoado e santificado por
Deus na criação do mundo. Dia esse que foi ratificado no coração do decálogo e que se
encontra disseminado por toda a extensão do Antigo e do Novo Testamento.
Portanto, se temos Deus como Senhor e honramos a Sua Palavra, então devemos
santificar o dia que Ele estabeleceu por sua soberana vontade para ser guardado pelos
homens. “O filho honrará o pai, e o servo ao seu senhor; e, se eu sou Pai, onde está a
minha honra? e, se eu sou Senhor, onde está o meu temor?” (Malaquias 1:6).
7.5 Um mandamento “ab-rogado”
Teriam sido os Dez Mandamentos ab-rogados por causa de sua fraqueza e
inutilidade?
Hebreus 7:18-21 – “Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua
fraqueza e inutilidade. (Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é
introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus. E visto como não é
sem prestar juramento (porque certamente aqueles, sem juramento, foram feitos
sacerdotes. Mas este com juramento por aquele que lhe disse: Jurou o Senhor, e não se
arrependerá: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque)”.
Resposta: A pergunta que se deve fazer é a seguinte: Qual foi o mandamento
“ab-rogado” que o livro de Hebreus está fazendo referência? Em qual contexto bíblico o
vocábulo “ab-rogado” está sendo considerado?
Bem, o próprio autor do livro de Hebreus deixa claro que ele está falando do
mandamento que instituiu o sacerdócio levítico, ao afirmar que “sem prestar
juramento”, os levitas “foram feitos sacerdotes”, os quais exerciam suas funções
ritualísticas no santuário terrestre. Todavia, foi “introduzida uma melhor esperança” por
meio do sacerdócio de Cristo.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Portanto, o autor do livro de Hebreus está ensinando que o Antigo Concerto ou
Antigo Testamento para expiação de pecados pelo holocausto de animais foi “ab-
rogado” (Daniel 9:27; II Coríntios 3:14). Esse concerto foi revogado na cruz por causa
de sua fraqueza e inutilidade, pois a lei cerimonial nenhuma coisa aperfeiçoou. “Porque
é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados” (Hebreus 10:4). Em
outro passo o livro de Hebreus fala de “sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados”
(Hebreus 10:12).
Segundo relato do Antigo Testamento, os pecadores se tornaram cada vez mais
depravados na prática do pecado. Eles praticavam todos os tipos de atrocidades e,
posteriormente, vinham ao santuário e ofereciam sacrifícios de animais visando a
purificação dos seus pecados. Eles viam o sacrifício de animais como uma licença para
pecar, especialmente porque realizavam tal cerimonial por mero formalismo, sem o
devido espírito de santidade, arrependimento ou de genuína conversão. Essa situação
levou o Senhor Jeová a abominar todos os rituais religiosos que eles praticavam.
Observe o que diz as Escrituras Sagradas:
Isaías 1:11, 13, 15-16 – “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o
Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios;
e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Não tragais
mais ofertas debalde: o incenso é para mim abominação e as luas novas, e os sábados,
e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade, nem mesmo o
ajuntamento solene. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os
meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas
mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos
de diante dos meus olhos: cessai de fazer mal”.
Na visão desses amantes do pecado, o Senhor Jeová lhes oferecia uma expiação
barata que poderia ser alcançada facilmente com os holocaustos de animais. Era uma
visão distorcida da vontade de Deus. Uma visão que pensava numa expiação obtida
mais facilmente do que a expiação de pecados que exige arrependimento, fé e esforço
diligente para resistir ao poder do pecado e vencê-lo, pois o Senhor exigia e exige
santidade de Seu povo. Foi por essa razão que o autor de Hebreus foi levado a fazer a
seguinte declaração: “o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza
e inutilidade. (Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou)”.
7.6 O Santuário e os Dez Mandamentos
Teria sido os Dez Mandamentos abolidos juntamente com toda a lei
cerimonial, supondo que tudo fazia parte da mesma lei?
Hebreus 9:2-5 – “Porque um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia
o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição; ao que se chama o santuário. Mas
depois do segundo véu estava o tabernáculo que se chama o santo dos santos. Que
tinha o incensário de ouro, e a arca do concerto, coberta de ouro toda em redor: em
que estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Aarão, que tinha
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A Lei, o Sábado e o Domingo
florescido, e as tábuas do concerto. E sobre a arca os querubins da glória, que faziam
sombra no propiciatório; das quais coisas não falaremos agora particularmente”.
Resposta: Os Dez Mandamentos, escritos pelo próprio dedo de Deus nas duas
tábuas de pedra, foram guardados dentro da arca do concerto. Por sua vez, a arca do
concerto foi colocada no segundo compartimento do santuário chamado “santo dos
santos” ou “santíssimo” (Hebreus 9:3-5). Além do concerto com o sacerdócio levítico
para ministrar a expiação dos pecados pelo holocausto de animais, Deus também fez
com o Seu povo o concerto dos Dez Mandamentos.
Ocorre que o concerto de expiação de pecados pelo sangue de animais, que
apontavam para Cristo, foi abolido na cruz (Daniel 9:27). Ocasião em que foi
inaugurado o Novo Concerto, baseado na expiação de pecados por meio do sangue do
“Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
O concerto de expiação de pecados pelo sangue de animais deveria ser
ministrado exclusivamente pela tribo dos levitas, mas o concerto do decálogo deveria
ser observado por todos.
Ademais, o que distingue a lei moral da cerimonial não é o lugar onde ela foi
guardada ou colocada, mas sim a sua função. A função da lei moral consiste em apontar
e condenar o pecado. Enquanto que a função da lei cerimonial consistia em expiar o
pecado pelo sacrifício de animais.
Pouco importa onde a lei moral foi guardada, se foi na arca, no santuário
terrestre ou em qualquer outro lugar. O que importa é o objetivo pelo qual a lei foi
proposta por Deus.
Nunca é demais repetir que a lei moral tem por objetivo mostrar ao homem o
que é pecado e condenar o pecado do transgressor, sobretudo porque o salário do
pecado é a morte.
No Antigo Concerto, a solução para o problema do pecado apontado pela lei
moral estava no sacrifício de animais, enquanto que no Novo Concerto a solução para o
problema do pecado apontado pela lei moral está no sacrifício de Cristo.
7.7 Todo o conselho de Deus
Teria o sábado sido abolido, já que Paulo anunciou “todo o conselho de
Deus”, mas não repetiu o mandamento do sábado?
Atos 20:20 e 27 – “Como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar
publicamente e pelas casas. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de
Deus”.
Resposta: Paulo declarou categoricamente que ensinou aos cristãos tudo que útil
fosse e todo o conselho de Deus. Inclusive guardou o sábado bíblico entre judeus e
gentios (Atos 16:14, 42, 44; 15:21; 16:13; 17:2; 18:4). Além disso, o santo apóstolo fez
questão de ordenar a todos os cristãos a seguir o seu exemplo: “Sede também meus
imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que
assim andam” (Filipenses 3:17).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Sendo o sábado útil para o cristão e fundamentado na lei de Deus, foi
estritamente observado pelo apóstolo Paulo, doutor dos gentios. Por exemplo, em certa
ocasião, estando entre os gentios, Paulo santificou o sábado através de um singelo culto
religioso realizado à beira de um rio (Atos 16:13). Com essa atitude o apóstolo mostrou
ao mundo que, como cristão, ele guardava o sábado bíblico, conforme determina o
mandamento divino.
Muito embora o apóstolo Paulo tenha guardado o “santo sábado do Senhor”, ele
não tornou a repetir “ipsis litteris” o mandamento do sábado, conforme prescrito nas
letras do decálogo. Mas a sua observância por Paulo e pelos demais cristãos, pressupõe
a sua plena validade.
Do mesmo modo, Paulo também não tornou a repetir “ipsis litteris” o primeiro
mandamento, que proíbe o politeísmo, nem o segundo que proíbe a idolatria, ou o
terceiro que proíbe o uso em vão do nome de Deus, mas nem por isso, nenhum cristão
pressupõe a sua abolição. Então porque pressupor a abolição do sábado?
O fato de um mandamento não ser repetido numa passagem bíblica específica
não quer dizer que tal mandamento foi abolido. Caso contrário, exceto a referida
passagem bíblica, teríamos que abolir toda o restante das Escrituras Sagradas.
Que fique bem claro: o apóstolo Paulo jamais ensinou ou insinuou qualquer
coisa sobre a santificação do domingo. Esse dia sim, mais do que nunca deveria ter sido
ensinado com insistência pelo santo apóstolo, especialmente porque se tratava de uma
nova doutrina que não se encontra registrada em nenhum lugar das Escrituras Sagradas,
e que ainda contraria totalmente o dia de guarda que até então vinha sendo praticado de
forma arraigada nas sinagogas pelos judeus convertidos ao cristianismo. Se Paulo
deixou de ensinar tal doutrina é porque o domingo não é algo útil para o cristão e muito
menos, conselho de Deus.
7.8 Considerações finais
A Bíblia Sagrada ensina claramente que o salário do pecado é a morte (Romanos
6:23). Mas é a lei quem mostra ao homem o que é pecado (Romanos 3:20). Como o
pecado ainda continua sendo praticado nos dias de hoje, concluímos que a lei de Deus
continua vigorando e condenando o pecador à morte eterna.
As Escrituras Sagradas afirmam que “onde não há lei também não há
transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13).
Supondo que a lei foi abolido, então ninguém deveria ser considerado pecador. Mas,
como o pecado continua sendo atribuído às pessoas, então concluímos que a santa lei de
Deus continua vigorando.
A própria Bíblia Sagrada ensina que Jesus e os santos apóstolos citaram,
praticaram e ensinaram todos os preceitos do decálogo em mais de 150 passagens
bíblicas do Novo Testamento, inclusive tornaram a repetir o mandamento do sábado em
mais de 60 passagens bíblicas.
Como se tudo isso não fosse suficiente para o cristão observar a lei de Deus,
ainda está escrito que, no Novo Concerto, a lei de Deus – a qual os israelitas violavam –
passaria a ser escrita no coração dos crentes (Hebreus 8:10). Como o sábado faz parte da
lei de Deus, segue-se que ele também é escrito no coração do fiel cristão. Afinal de
contas, o mandamento que ordena santificar o sétimo dia da semana faz parte dos Dez
Mandamentos.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 8 Controvérsias Sobre o Sábado
“A questão do sábado será o ponto controverso no grande final conflito em que o
mundo inteiro há de ser envolvido”.
Ellen Gould White (III TS, 19)
8.1 Introdução
Todos aqueles que procuram alcançar a salvação por intermédio da observância
da lei de Deus, na realidade estão totalmente fora da graça. A lei de Deus não foi dada a
nenhum ser humano como método de justificação, mas sim, como método de
santificação. A lei não possui qualquer caráter, virtude, poder ou mérito para perdoar ou
salvar qualquer pecador. A finalidade exclusiva da lei dos Dez Mandamentos consiste
em indicar ao homem o que é pecado e condenar o pecado.
A respeito do assunto que está sendo ventilado, observe o que diz o apóstolo
Paulo: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes
caído” (Gálatas 5:4). “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da
lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20).
Além da lei não possuir poder para perdoar ou salvar, também é preciso levar em
consideração que, com a morte de Jesus, “o véu do templo se rasgou em dois, de alto a
baixo” (Mateus 27:51), indicando a abolição do Antigo Concerto de expiação de
pecados pelo sacrifício de animais. Com isso, cessou definitivamente “o sacrifício e a
oferta de manjares” (Daniel 9:27), que era fundamento do Antigo Concerto.
O profeta Daniel também afirmou que o Messias “firmará um concerto com
muitos...” (Daniel 9:27). Destarte teve lugar o Novo Concerto, (Hebreus 8:8-10; Mateus
26:28) de expiação de pecados pelo sacrifício do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo” (João 1:29).
“Os que exercem verdadeira fé em Cristo manifestam isso pela santidade de
caráter, pela obediência à lei de Deus. Percebem que a verdade, assim como é em Jesus,
atinge o Céu e abrange a eternidade. Compreendem que o caráter do cristão deve
representar o caráter de Cristo e estar cheio de graça e de verdade”. (RH, 17 de
setembro de 1895).
Esclarecido o fato de que a lei não foi dada ao homem como método de salvação
e que o Antigo Concerto de expiação de pecados pelo sangue de animais foi substituído
pelo Novo Concerto de expiação de pecados pelo sangue de Cristo. Então, pergunta-se:
qual é o propósito da lei? O propósito da lei é a santificação do homem. O sábado faz
parte da lei de Deus. Ele também foi dado com o objetivo de santificar o crente. Quando
Jesus esteve na Terra Ele defendeu a correta observância do sábado contra o fanatismo
religioso da seita dos fariseus.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
8.2 O sábado e as espigas
Teria Jesus consentido com a violação do sábado ao permitir que os
discípulos colhessem espigas para comer, que segundo os fariseus não era lícito
fazer no dia do sábado.
Mateus 12:1-2 – “Naquele tempo passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus
discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas, e a comer. E os fariseus, vendo
isto, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num
sábado”.
Resposta: Os fariseus, em seu fanatismo religioso e sem nenhum entendimento
sobre o profundo significado sagrado do “sábado do Senhor”, recriminaram
severamente a Jesus. A censura dos membros da seita dos fariseus estava baseada no
fato dos discípulos de Jesus, ao passarem por umas searas num dia de sábado, estando
com fome, colherem algumas espigas, e soltando os grãos com as mãos as comiam
(Lucas 6:1).
Para os fanáticos fariseus a atitude dos discípulos de Jesus era totalmente
inaceitável. Para essa seita o ato de colher algumas espigas era considerado como sendo
a mesma coisa que fazer o trabalho secular de colheita, e o ato dos discípulos em
esfarelar algumas espigas com as mãos era tido como a mesma coisa que realizar o
trabalho secular de moagem do grão.
Para os fariseus, a realização dessas atividades no sábado era inadmissível. “Por
tal forma haviam os judeus pervertido a lei, que a tornavam um jugo de servidão. Suas
exigências destituídas de significado eram um provérbio entre as outras nações.
Especialmente havia o sábado sido cercado de toda espécie de restrições destituídas de
senso. Não lhes era um deleite o santo dia do Senhor, digno de honra. Os escribas e
fariseus lhe tinham tornado a observância intolerável fardo” (DTN, 204).
A maneira farisaica de guardar os mandamentos de Deus não tem fundamento na
Bíblia Sagrada. As regras minuciosas que eles haviam estabelecido para guardar o
sábado não passavam de invenção de homens. Sob a perspectiva da seita dos fariseus, a
atividade dos discípulos em colher algumas espigas para comer não era algo lícito de ser
realizado num dia de sábado.
Essa seita extremista pouco se importava com o real estado de necessidade
famélico existente entre os discípulos. Em certa ocasião Jesus foi levado a fazer a
seguinte pergunta aos fariseus: “Uma coisa vos hei de perguntar: É lícito nos sábados
fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou matar?” (Lucas 6:9). A verdade é que os
fariseus desconheciam o fato de que é “lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12) e
que o sábado é um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13).
Podemos observar que as controvérsias dos fariseus com Jesus nunca giravam
em torno da identidade do dia sagrado de repouso. Mas sempre se referiam ao modo
como o sábado deveria ser observado. Em todos os confrontos com os judeus, a atitude
de Jesus foi a de descartar as tradições humanas que os fariseus haviam impingido sobre
o sábado. Jesus jamais insinuou que o sábado seria abolido e nunca mencionou nada
sobre a guarda de qualquer outro dia da semana.
8.3 Davi e os pães da proposição
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Teria Jesus consentido com a violação do sábado comparando a sua guarda
ao caso de Davi que comeu os pães da proposição reservados exclusivamente aos
sacerdotes?
Mateus 12:3-4 – “Ele porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi, quando teve
fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, e comeu os pães da
proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos
sacerdotes?”
Resposta: Em resposta à acusação dos fariseus de que os discípulos estavam
praticando uma ilicitude no sábado, ao colherem algumas espigas para comer, Jesus
mostrou que não viu na atitude dos Seus discípulos nada de ilícito.
Isto é evidente. Os discípulos encontravam-se em “estado de necessidade”, pois
tinham fome. É claro que eles não estavam realizando nenhum trabalho secular de
comércio ao pegar diretamente da plantação algumas espigas para saciar sua própria
fome.
Jesus, justificando o estado de necessidade famélico existente entre os
discípulos, argumentou contra os fariseus que Davi, estando com fome, comeu os pães
da proposição, os quais não lhe era lícito comer.
Mas, por que Davi comeu os pães da proposição? Comeu porque se encontrava
em estado de necessidade famélico (I Samuel 21:1-5). Do mesmo modo, era lícito aos
discípulos de Jesus, no sábado colher e comer as espigas necessárias para saciar a sua
fome, tanto quanto era lícito Davi comer os pães da proposição.
Tanto Davi como os discípulos encontravam-se em idênticas situações de estado
de necessidade famélico. Desta forma, Jesus aprovou a observância do sábado,
demonstrando que o sábado não é quebrado quando alguém, em estado de necessidade,
é socorrido nesse dia.
“Os mestres judeus haviam estabelecido muitas regras para o povo e exigiam
deles a prática de muitas coisas que Deus não havia ordenado. Até mesmo as crianças
tinham que aprender e obedecer tais regras. Jesus, porém, não procurou aprender o que
os rabis ensinavam. Ele cuidava em não falar desrespeitosamente desses professores,
mas estudava as Escrituras e obedecia às leis de Deus” (VJ, 32).
Ao contestar os fariseus, Jesus mostrou que eles vinham guardando o sábado de
maneira errada, já que haviam transformado o sábado num pesado fardo, tornando o
homem escravo do sábado, quando na realidade “o sábado foi feito por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2:27).
Caso Jesus houvesse de fato violado a santidade do sábado Ele não teria
cumprido a lei e jamais poderia ser o Salvador da humanidade, especialmente porque ao
transgredir a lei seria tido como um pecador, mas as Escrituras Sagradas ensinam que
Ele “não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (I Pedro 2:22).
É muito importante observar que, quando acusados pelos fariseus de violar o
sábado, Jesus justifica a atitude dos discípulos como algo lícito de ser realizado no dia
do sábado. Em nenhum momento o Senhor Jesus declarou ou insinuou qualquer
possibilidade do sábado estar sendo violado pelo ato de se alimentar nesse dia, mesmo
que seja no meio de uma plantação. Só mesmo sendo fariseu!
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
8.4 O sábado e os sacerdotes no templo
Poderia o sábado ser violado por qualquer pessoa, haja vista que os
sacerdotes no templo violavam o sábado para realizar os holocaustos de animais
exigidos pela lei, ficando sem culpa?
Mateus 12:5 – “Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo
violam o sábado, e ficam sem culpa?”
Resposta: Alguns dizem que violam o sábado e ficam sem culpa porque Jesus
disse que os sacerdotes no templo também violavam o sábado e ficavam sem culpa
(Mateus 12:5).
Quem assim pensa está equivocado, uma vez que essa excludente de ilicitude foi
explicitamente estabelecida por Deus no Livro da Lei para um grupo exclusivo de
pessoas.
É fato consumado que os sacerdotes não realizavam qualquer “trabalho secular”
aos sábados. Suas atividades aos sábados se restringiam ao ritual religioso
desempenhado no Templo Sagrado. Eram atividades sagradas, determinadas pelo
Senhor, para serem realizadas exclusivamente no dia do sábado. O Livro da Lei registra
cuidadosamente quais eram as atividades que os sacerdotes deveriam realizar no
Santuário todos os sábados (Números 28:9-10; Levítico 24:5-8; I Crônicas 9:32 etc.).
A regra autorizando o trabalho sacerdotal aos sábados não era aplicada a
qualquer pessoa, mas tinha validade apenas para os sacerdotes levitas. Mesmo assim
somente para aqueles sacerdotes que estivessem trabalhando no Templo no dia do
sábado. Suas atividades sagradas no Santuário excluíam qualquer ilicitude do sábado,
especialmente porque haviam sido ordenadas pelo próprio Senhor.
Jesus disse que os sacerdotes ficavam sem culpa porque cumprir preceitos
sagrados ordenados por Deus, mesmo que seja no dia do sábado, não constitui em
nenhuma transgressão. A transgressão consistiria em não realizar tais atividades, que
são perfeitamente lícitas, posto que foram ordenadas pelo Senhor Jeová para serem
realizadas especificamente aos sábados.
O sábado é um mandamento moral, e ele não é quebrado quando o objetivo é
fazer bem ao próximo (Mateus 12:12) ou quando a atividade realizada nesse dia é
ordenada por Deus. É por essa razão que, em suas atividades religiosas, os sacerdotes no
templo ficavam sem culpa, porque os seus serviços no sábado eram necessários e lícitos,
e não um simples trabalho mundano.
Portanto, que fique bem claro, era perfeitamente lícito no sábado praticar várias
atividades cerimoniais no Templo, as quais tinham sido ordenadas pelo próprio Senhor.
Entre tais atividades destacavam-se a prática dos sacrifícios de animais, a substituição
dos pães da proposição, a pregação da Palavra de Deus, a leitura das Escrituras
Sagradas (Atos 15:21) e tantas outras atividades realizadas no sábado (Levítico 24:8).
8.5 É lícito fazer bem nos sábados
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Teria Jesus ensinado a violação do sábado quando curou um homem que
possuía uma das mãos mirradas?
Mateus 12:10-12 – “E, estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada; e eles,
para o acusarem, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados? E ele lhes
disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair
numa cova, não lançará mão dela, e a levantará? Pois quanto mais vale um homem do
que uma ovelha? É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados”.
Resposta: Note que nesses versículos nada é discutido sobre a identidade do dia
sagrado de repouso. Tanto Jesus como os fariseus estavam convictos de que o sétimo
dia da semana é o santo dia do sábado. Note que nada dito sobre qualquer mudança
do dia de descanso. Também que fique bem claro ao leitor que Jesus jamais condenou a
guarda do sábado e muito menos insinuou a sua abolição. O que os fariseus discutiram
com Jesus foi sobre o modo como o sábado deveria ser observado: “É lícito curar nos
sábados?”
Em resposta a essa pergunta, Jesus apresentou o argumento de que no sábado os
fariseus se dariam ao trabalho de tirar uma ovelha que, porventura, houvesse caído num
buraco. Então acrescentou que um homem tem maior valor do que uma ovelha.
Concluindo o Seu raciocínio e respondendo à pergunta dos fariseus, Jesus pronunciou a
célebre frase: “É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12).
Para demonstrar que Suas palavras tinham autoridade, Jesus curou a mão
mirrada daquele homem. Então os fariseus, contrariados pela tremenda força daquelas
verdades pronunciadas por Jesus, “formaram conselho contra ele, para o matarem”
(Mateus 12:14).
O sábado foi feito para ser um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de
honra” (Isaías 58:13). Ocorre que os judeus da época de Jesus haviam pervertido a
observância do sábado num pesado fardo, que nem mesmo eles podiam suportar. Ao
observarem o sábado ao pé da letra, sem nenhum entendimento, eles se tornaram cegos
espirituais e perderam de vista a noção do que é ou não é lícito realizar no dia do
sábado. Na visão farisaica era lícito salvar qualquer animal que porventura houvesse
caído numa cova, mas não era lícito salvar a vida de uma pessoa. Todavia Jesus se opôs
a esse ensino equivocado. O Salvador ensinou claramente que no dia do sábado é lícito
fazer o bem ao próximo em estado de necessidade. Fazer bem ao próximo não constitui
em transgressão do “santo sábado do Senhor”.
“É lícito, ou seja, está de acordo com a lei. Cristo jamais reprovou os judeus por
guardarem a lei de Deus ou por honrarem o sábado” (VJ, 70). A identidade do dia de
sábado nunca foi questionada por Jesus e muito menos pelos fariseus. O que eles
discutiram foi sobre a “maneira” de como o sábado deveria ser observado. Para os
judeus não era lícito curar no sábado, mas para Jesus era perfeitamente lícito fazer
qualquer espécie de bem no dia do sábado a todos que se encontrassem em estado de
necessidade.
8.6 O Senhor do sábado
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Teria Jesus abolido o sábado quando disse que Ele “é Senhor até do
sábado”?
Mateus 12:8 – “Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor”.
Resposta: Como criador de todas as coisas (João 1:3; Colossenses 1:16-17),
Jesus afirmou categoricamente que Ele “é Senhor até do sábado” (Lucas 6:5).
Afirmamos que o sábado é o “dia do Senhor”, atribuindo à expressão a plenitude
de sentido que Cristo lhe conferiu: “o Filho do homem até do sábado é Senhor”. Desse
modo o sábado torna-se o dia sagrado do cristão, haja vista que Cristo é o Senhor do
sábado.
Jesus também guardou esse santo dia (Marcos 6:2; Lucas 4:16). Como Senhor
do sábado, o Filho de Deus é a única pessoa competente e com autoridade absoluta para
estabelecer o que é lícito ou ilícito realizar no dia do sábado.
O sábado deveria ser para todos os fiéis filhos de Deus um dia “deleitoso, e
santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13). Entretanto, os fariseus haviam
distorcido o verdadeiro sentido e objetivo do sábado, razão pela qual Jesus argumentou
que Ele era o Senhor do sábado (Marcos 2:28).
Como Senhor do sábado, Jesus estabeleceu a regra geral de que é “lícito fazer
bem nos sábados” (Mateus 12:12). Foi por esse motivo que Jesus disse aos fariseus:
“mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não
condenaríeis os inocentes” (Mateus 12:7).
Portanto, somente Jesus tem autoridade absoluta para dizer aos homens o modo
como o sábado deve ser guardado. Ele nunca – nem mesmo de longe – ensinou ou
insinuou qualquer coisa sobre a mudança do dia de repouso. O que o Senhor fez foi
condenar severamente a maneira errada e equivocada como o sábado vinha sendo
guardado pela seita religiosa dos fariseus.
Como Criador do sábado e Senhor do sábado, Jesus mostrou aos cristãos a
maneira correta de como o sétimo dia da semana deve ser observado. Ele deixou bem
claro, que a observância do sábado não impede o cristão de praticar o bem ao próximo.
8.7 Considerações finais
Muitas vezes os fariseus entraram em severa polemica com Jesus por causa do
sábado. Com relação a essa questão existem alguns pontos fundamentais a serem
considerados:
1º) Tanto Jesus como os fariseus jamais discutiram sobre qual dia da semana deveria ser
observado. Todos estavam de pleno acordo de que o dia de descanso é o sábado, o
sétimo dia da semana;
2º) Jesus Cristo jamais mencionou qualquer coisa quanto a observância do primeiro dia
da semana. Nunca disse que tal dia deveria ser observado como dia sagrado.
3º) O que Jesus discordava veementemente dos fariseus era a maneira como o sábado
deveria ser observado.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Para os fariseus o sábado deveria ser guardado de forma legalista e minuciosa.
Eles guardavam o sábado ao pé da letra, sem nenhum entendimento sobre o seu
verdadeiro significado. Mas, para Jesus, o sábado deveria ser guardado como um dia
“deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13). Jesus guardava o
sábado assistindo aos cultos religiosos (Lucas 4:16), pregando o evangelho (Mateus
4:23) e fazendo bem ao próximo em estado de necessidade (Mateus 12:12). Um
verdadeiro exemplo para ser seguido por todos os fiéis cristãos.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 9 Jesus e o Sábado
“Fui instruída a dizer: Reuni das Escrituras as provas de que Deus santificou o sétimo
dia, e leiam-se essas provas perante a congregação”.
Ellen Gould White (OE, 148)
9.1 Introdução
As Escrituras Sagradas ensinam claramente que o “Antigo Concerto” não era um
pacto feito exclusivamente com os israelitas e ninguém mais, sobretudo porque o
Antigo Concerto abrangia até mesmo os gentios que desejassem servir ao Senhor
(Deuteronômio 29:10-12; 31:12; Josué 8:35; Isaías 56:6-7).
De igual modo o “Novo Concerto” não é um pacto feito exclusivamente com os
gentios, especialmente quando se considera o fato inegável de que Deus fez o pacto do
Novo Concerto com os judeus (Hebreus 8:8-10). Todavia, do mesmo modo como fez
com o Antigo Concerto, o Senhor também estendeu o Novo Concerto a todos os gentios
que aceitassem o Evangelho, haja vista que tanto o Antigo como o Novo Concerto não
eram pactos feitos exclusivamente com os judeus e ninguém mais.
Sob a égide do Antigo Concerto, as seitas dos fariseus e dos saduceus, haviam
deturpado a Palavra de Deus de tal modo, que chegaram a valer-se dos ensinos do Livro
da Lei como método legalista de justificação ou salvação pelas obras.
Eles seguiam tão estritamente a lei no pé da letra, que perderam de vista o seu
espírito. Estando cegos, chegaram ao cúmulo de criar meticulosamente regras
extrabíblicas para justificar a observância dos mandamentos de Deus. Com o passar do
tempo tais regras – produto da mente humana – viraram tradições, que eram observadas
de modo tão rigoroso que acabavam por desvirtuar o verdadeiro objetivo dos
mandamentos de Deus.
Os fariseus eram tão fanáticos quanto intolerantes. Como seita religiosa
dominante, os fariseus forçavam todos a seguirem as suas crenças legalistas de salvação
pelas obras da lei. Por essa razão, no presente capitulo, serão consideradas algumas das
querelas levantadas pelos membros dessa seita religiosa contra Jesus Cristo.
9.2 O paralítico e a cama
Teria Jesus consentido com a quebra do sábado ao ordenar que o paralítico
carregasse a sua cama?
João 5:8-9 – “Levanta-te, toma tua cama, e anda. Logo aquele homem ficou são; e
tomou a sua cama, e partiu. E aquele dia era sábado”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Resposta: Examinando todo o contexto do versículo em questão, constata-se
facilmente que Jesus era perseguido por realizar curas aos sábados. A atitude de Jesus
não era de modo algum tolerada pelas seitas dos fariseus ou dos saduceus, porque os
membros dessas seitas entendiam que curar era a mesma coisa que realizar o trabalho
secular de medicina.
Todavia, curar no sábado era algo permitido pela Lei, pois Jesus disse que é
“lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12). Sabemos que Jesus não veio para
contrariar a Lei, mas veio para cumpri-la (Mateus 5:17). Portanto, Jesus não estava
quebrando o santo sábado e muito menos ensinando alguém a quebrar o sábado ao
ordenar que o enfermo se levantasse e carregasse a sua cama.
“De acordo com o quarto mandamento, o sábado foi dedicado ao repouso e ao
culto religioso. Toda atividade secular devia ser suspensa, mas as obras de misericórdia
e beneficência estavam em harmonia com o propósito do Senhor. Elas não deviam ser
limitadas a tempo ou lugar. Aliviar os aflitos, confortar os tristes, é um trabalho de amor
que faz honra ao dia de Deus” (BS, 77).
Os judeus haviam censurado o homem que tinha sido curado por Jesus dizendo:
“É sábado, não te é lícito levar a cama” (João 5:10). Eles diziam tal coisa por duas
razões básicas: 1ª) na antiga teocracia israelita a pena aplicada por profanar o sábado era
a morte por apedrejamento (Êxodo 31:14-15; 35:2); 2º) na concepção fanática dos
fariseus, o simples ato de alguém levar sua cama no sábado, era interpretado por eles
como sendo a mesma coisa que realizar o trabalho secular de mudança. Porém, a cama a
que se referiam era apenas uma espécie de tapete que se enrolava e carregava debaixo
dos braços.
É por essa razão que encontramos o Senhor Jesus rompendo com a maneira
fanática dos judeus guardarem o sábado e estabelecendo os princípios diretores para a
correta observância desse santo dia. A verdade é que o sábado não é profanado por
alguém carregar uma simples cama.
9.3 O sábado e a cura
Teria Jesus violado o sábado quando curou um paralítico postado à beira
do tanque de Betesda e ordenou que ele carregasse a sua cama?
João 5:8-11 – “Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma tua cama, e anda. Logo aquele
homem ficou são; e tomou a sua cama, e partiu. E aquele dia era sábado. Então os
judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar a cama.
Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma a tua cama, e
anda”.
Resposta: “O Santo dia de repouso de Deus foi feito para o homem, e os atos de
misericórdia se acham em perfeita harmonia com seu desígnio. Deus não deseja que
Suas criaturas sofram uma hora de dor que possa ser aliviada no sábado, ou noutro dia
qualquer” (DTN, 207).
Após curar um paralítico no sábado, Jesus ordenou-lhe levantar, tomar a sua
cama e andar. Pelas tradições da seita dos fariseus, o ato de curar alguém no sábado ou
carregar uma cama nesse dia, eram atividades ilícitas.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Mas Jesus considerou a realização de tais atividades no sábado como algo
perfeitamente lícito, pelos motivos a seguir elencados: 1º) o Livro da Lei não proíbe a
cura no sábado, ninguém escolhe ficar doente e muito menos escolhe o dia da doença;
2º) o que a Lei proíbe é o trabalho secular no sábado; 3º) Jesus disse que Ele veio para
cumprir a Lei e os Profetas, portanto Ele não veio para transgredir qualquer
mandamento, nem mesmo o sábado; 4º) Jesus ensinou que no sábado é lícito fazer o
bem ao próximo em estado de necessidade; 5º) o sábado deve ser um dia “deleitoso, e
santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13). Portanto, quando Jesus curava no
sábado, Ele estava exercendo uma atividade perfeitamente lícita e honrosa, em perfeita
harmonia com a Lei; 6º) a cama mencionada era uma espécie de tapete, que enrolado se
carregava debaixo dos braços. Portanto, não se tratava de trabalho secular.
Diante do exposto fica claro que a identidade do dia de repouso não estava sendo
questionada por ninguém. As discussões entre Jesus e os fariseus giravam unicamente
em torno do que poderia ou não ser realizado no dia do sábado, o que era lícito ou ilícito
fazer no dia do sábado. Ou seja, o que estava sendo questionado era a “maneira” como o
sábado deveria ser observado. Foi por isso que Jesus, contrariando os fariseus, mostrou
que era lícito curar no sábado, pois não constitui em nenhuma transgressão do sábado
fazer bem ao próximo em estado de necessidade.
9.4 O Pai trabalha até agora
Teria Jesus autorizado o trabalho no sábado, haja vista que Ele afirmou
que “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”?
João 5:16-18 – “E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-
lo; porque fazia estas coisas no sábado. E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até
agora, e eu trabalho também. Por isso pois os judeus ainda mais procuravam matá-lo,
porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai,
fazendo-se igual a Deus”.
Resposta: Jesus disse aos judeus que o “pai trabalha até agora”. Ele fez tal
afirmação com fundamento no princípio de que é lícito fazer bem aos sábados (Mateus
12:12).
Sabemos que Pai trabalha até agora, pelo menos por dois motivos fundamentais:
Primeiro, ao contrário dos homens, Deus não se “cansa nem se fatiga” (Isaías 40:28).
Segundo, porque existe um estado de necessitado que somente o Pai pode suprir.
Como mantenedor do Universo o Pai trabalha em benefício de todas as Suas
criaturas (Neemias 9:6; Salmos 65:9-10). Conforme os ensinos de Jesus, o sábado não é
transgredido quando se procura fazer um bem imediato ao próximo que se encontra em
estado de necessidade. “As solicitações para com Deus são ainda maiores no sábado do
que nos outros dias. Seu povo deixa então a ocupação ordinária, e passa mais tempo em
meditação e culto. Pedem-Lhe mais favores no sábado, que noutros dias. Exigem-Lhe a
atenção de modo especial. Anelam Suas mais preciosas bênçãos. Deus não espera que o
sábado passe para lhes conceder esses pedidos” (DTN, 207).
Nos versículos bíblicos em análise, os judeus queriam matar a Jesus por duas
razões que lhes pareciam gravíssima: A primeira era porque – na concepção desses
lideres religiosos – Jesus “quebrantava o sábado”. De fato, Jesus não guardava o sábado
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
do mesmo modo como os fariseus guardavam, com as suas tradições seculares. Para
Jesus o sábado é um dia “deleitoso” e um dia para “fazer bem” e não um dia de
escravidão, motivo pelo qual, o Senhor fazia questão de curar no sábado. A segunda
razão pela qual os judeus queriam matar a Jesus estava baseada no fato de que Ele
“dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”, o que na visão dos judeus
era uma blasfêmia.
Nunca é demais salientar o fato de que a identidade do dia do sábado nunca foi
questionada nas discussões travadas pelos judeus contra Jesus. O que os judeus
questionavam era tão-somente o modo como Jesus observava o sábado. A atitude de
Jesus em querer fazer bem aos sábados contrastava radicalmente com a maneira
legalista dos judeus guardarem o sábado, que era feito no pé da letra da lei, sem
nenhuma compreensão do seu verdadeiro sentido moral e espiritual.
9.5 O sábado e a circuncisão
Seria o sábado tão insignificante a ponto de estar subordinado ao
cerimonial da circuncisão?
João 7:22-23 – “Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (não que fosse de
Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem. Se o homem recebe a
circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada, indignais-vos
contra mim, porque no sábado curei de todo um homem?”
Resposta: O que é esplendido na mensagem de Jesus é que Ele deixa bem claro
que os judeus, para não invalidarem o Livro da Lei, realizavam a circuncisão, mesmo
que fosse no dia do sábado. Note que Jesus não os condenou e nem disse que eles
estavam errados ou quebrando o santo sábado por realizarem a circuncisão nesse dia.
Nem os judeus assim pensavam, porque eles sabiam que era perfeitamente licito praticar
preceitos religiosos no dia do sábado.
Deus havia estabelecido no Livro da Lei que todo recém-nascido do sexo
masculino, deveria ser circuncidado exatamente no oitavo dia do seu nascimento
(Gênesis 17:10; Levítico 12:3). A circuncisão jamais deveria ser realizada em qualquer
outro dia: “O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o macho nas vossas
gerações...” (Gênesis 17:12).
Exatamente no oitavo dia após o nascimento do bebê, o risco de hemorragia é
quase nulo. “Em média, um bebê aos oito dias de idade tem mais protrombina
disponível do que em qualquer outro dia de sua vida. Assim, o dia mais seguro para se
efetuar a circuncisão é o oitavo, após o nascimento” (S.I. MacMillen, Nenhuma
Enfermidade, p. 87).
Todavia, se o oitavo dia do nascimento da criança ocorresse num dia de sábado,
a circuncisão deveria ser realizada mesmo nesse dia. Deixá-lo de fazê-lo constituía em
grave transgressão à ordenança do Senhor.
Portanto, para que a lei da circuncisão não fosse invalidada, era perfeitamente
lícito que a circuncisão ocorresse até mesmo no dia de sábado. Tanto a circuncisão
como a observância do sábado eram determinações divinas. O que os judeus
contemporâneos de Cristo não conseguiam entender é que Jesus ao curar um homem no
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
sábado estavam cumprindo a mesma justiça dos fariseus em circuncidar um homem no
sábado.
O sábado é um dia especial separado para propósitos sagrados. Não existe
nenhum impedimento registrado no Livro da Lei proibindo a realização da circuncisão
aos sábados. Quando os sacerdotes realizavam a circuncisão no sábado, eles não
estavam realizando nenhum trabalho secular, mas estavam cumprindo um preceito
cerimonial sagrado. Eles estavam realizando algo lícito, tanto quanto Jesus em realizar
curas no sábado. Ambas as coisas eram da vontade de Deus.
Não obstante, alguns adversários do sábado supõem gratuitamente que o “santo
sábado do Senhor” estava subordinado ao cerimonial da circuncisão. Nada mais longe
da verdade!
Na realidade não existe nenhuma subordinação. O sábado é um dia que deve ser
santificado por todos os filhos de Deus, e praticar os mandamentos de Deus nesse dia
não subordina e nem quebra a santidade do sábado; muito pelo contrário, honra o santo
sábado.
Cumprir preceitos morais, cerimoniais ou espirituais ordenados nas Escrituras
Sagradas, mesmo que seja no dia do sábado, não constitui em transgressão, já que são
mandamentos do Senhor. Portanto, praticar a circuncisão, mesmo que seja no dia do
sábado é algo perfeitamente lícito. Ainda mais quando se considera que Deus não
estabeleceu nenhum impedimento para sua realização no dia do sábado. O que constitui
ilicitude é realizar o “trabalho secular” no sábado (Êxodo 20:8-11), o que não é o caso
da circuncisão.
Em seu argumento aos judeus, Jesus comparou a licitude de Sua atividade em
curar no sábado com a licitude da atividade do sacerdote em circuncidar um homem no
sábado. Ambas são atividades perfeitamente lícitas, que não encontram impedimento
nas Escrituras Sagradas. Nada mais simples e lógico!
9.6 Seria Jesus um pecador
Seria verdadeiro o argumento dos fariseus alegando que Jesus não
guardava o sábado?
João 9:16 – “Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus; pois não
guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E
havia dissensão entre eles”.
Resposta: Além de curar os enfermos durante a semana, Jesus também fazia
questão de curá-los aos sábados. Ele assim procedia porque tinha a plena convicção de
que é “lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12).
Da simples leitura do versículo em questão, podemos constatar que a identidade
do dia de repouso nunca foi questionada por Jesus e muito menos pelos fariseus. Todos
estavam de pleno acordo, de que o sábado é o dia sagrado de descanso.
O que foi veementemente questionado pelos fariseus era o modo como Jesus
guardava o sábado. O fato era que Jesus não observava as tradições humanas (Marcos
7:9 e 13) que os fariseus haviam imposto sobre os Dez Mandamentos, inclusive sobre o
“sábado do Senhor”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O sábado em vez de ser um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de
honra” (Isaías 58:13), havia sido transformado num dia de escravidão imposta pela
tradição humana. Foi por essa razão que Jesus Cristo não guardava o sábado do “modo”
como os fariseus desejavam que fosse guardado.
As obras miraculosas de curas que Jesus realizava no sábado e o modo como
Jesus guardava o sábado causaram grande impacto e indignação entre os membros da
seita dos fariseus, a ponto de ficarem divididos em dois partidos: um considerava Jesus
um embusteiro e outro O via como genuíno.
As controvérsias levantadas pelos fariseus têm profundas consequências para a
nossa compreensão sobre o sábado. O partido que considerava que Jesus não era de
Deus, tinha como premissa básica que Cristo não guardava o sábado. Em contrapartida,
o segundo partido achava difícil de acreditar que um pecador transgressor do sábado
pudesse fazer milagres e prodígios.
O fato é que o primeiro partido estava errado por dois motivos fundamentais, a
saber: Primeiro, Jesus realmente era de Deus. Segundo, Jesus guardava perfeitamente o
sábado, porém, não com as tradições humanas impostas pela seita dos fariseus. Caso
venhamos a admitir que Jesus não guardava o sábado, então teremos que admitir que
Jesus não era de Deus, sobretudo porque esta era a condição “sine qua non” imposta
pelo primeiro partido dos fariseus. Caso esses fariseus pudessem reconhecer que Jesus
era de Deus, então teriam de admitir que Jesus guardava perfeitamente o sábado, e que
eles estavam errados no modo como até então vinham guardando esse santo dia.
O segundo partido do grupo dos fariseus via em Jesus um homem genuinamente
divino. Este partido estava correto em suas cogitações porque Jesus não era um pecador.
Portanto, ao realizar curas no dia do sábado, o Senhor não estava transgredindo esse dia,
razão pela qual podia “fazer tais sinais”.
9.7 Considerações finais
Os judeus e os fariseus estavam corretos em guardar os Dez Mandamentos,
inclusive guardar o dia do sábado. Mas estavam equivocados quando guardavam os
mandamentos de Deus como “método” de justificação ou de salvação.
Esse tema é tão importante, que nunca é demais repetir o que as Escrituras
Sagradas dizem a respeito do assunto: “Separados estais de Cristo, vós os que vos
justificais pela lei: da graça tendes caído” (Gálatas 5:4). “Por isso nenhuma carne será
justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do
pecado” (Romanos 3:20). “Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum: mas
eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a
lei não dissesse: Não cobiçarás” (Romanos 7:7). “Todo aquele que pratica o pecado
também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (I João 3:4). “O salário
do pecado é a morte” (Romanos 6:23).
Portanto, podemos concluir que a lei de Deus não foi dada ao homem como
método de salvação, mas sim como norma de santificação. A lei jamais possuiu a
função de justificar ou salvar o ser humano da morte, mas sua função consiste em
mostrar ao homem o que é pecado e condenar o pecador – que é um transgressor da lei –
à morte eterna.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 10 Os Cristãos e o Sábado
“Quem quer que obedeça ao quarto mandamento, verificará que está traçada uma
linha divisória entre ele e o mundo. O sábado é uma prova, não uma exigência humana, mas a prova de Deus. É
aquilo que distinguirá os que servem a Deus dos que não O servem; e em torno deste ponto sobrevirá o derradeiro
e grande conflito da luta entre a verdade e o erro”.
Ellen Gould White (TS, 180)
10.1 Introdução
O sábado, como mandamento bíblico registrado no decálogo (dez palavras),
apresenta um caráter obrigatório para os fiéis filhos de Deus de todas as épocas,
sobretudo porque o apóstolo dos gentios afirmou que “tudo que dantes foi escrito para
nosso ensino foi escrito” (Romanos 15:4), e “toda a Escritura divinamente inspirada é
proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça para que o
homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II
Timóteo 3:16-17).
Conforme ensino bíblico, o dia do “santo sábado do Senhor” é um dia de
adoração (Levítico 23:2; Lucas 4:16; Atos 16:13). Sua observância é uma forma de
reconhecer a Deus como o soberano criador de todas as coisas, pois a Bíblia Sagrada
ensina claramente que o sábado foi estabelecido como um memorial da criação do
mundo (Êxodo 20:8 e 11).
Portanto, para o povo de Deus é um dia de gratidão, regozijo, louvor e adoração
ao criador de todas as coisas, que é o próprio Senhor Jesus Cristo: “Todas as coisas
foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. “Porque nele foram criadas
todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam
dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele. E
ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele”. “Havendo Deus
antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós
falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem
fez também o mundo”. (João 1:3; Colossenses 1:16-17; Hebreus 1:1-2).
10.2 Jesus guardou o dia do sábado
Vários versículos bíblicos registrados no Novo Testamento mostram que Jesus
Cristo, em obediência aos mandamentos do decálogo, santificava o dia do sábado. Ele
cultuava nesse dia, ensinava a Palavra de Deus e, contrariando os fariseus, mostrava aos
judeus que é lícito fazer bem aos sábados. Observe o que dizem alguns desses
versículos:
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Marcos 1:21 – “Entraram em Capernaum, e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali
ensinava”.
Marcos 6:2 – “E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos,
ouvindo-o, se admiravam, dizendo: Donde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta
que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas mãos?”
Lucas 4:16 – “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado,
segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler”.
Lucas 4:31 – “E desceu a Capernaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos
sábados”.
Lucas 6:6 – “E aconteceu também noutro sábado que entrou na sinagoga, e estava
ensinando; e havia ali um homem que tinha a mão direita mirrada”.
Lucas 13:10 – “E ensinava no sábado, numa das sinagogas”.
Decididamente, Jesus guardou o santo sábado. Não só guardou o sábado bíblico
como também observou todos os demais mandamentos do decálogo e ensinou os seus
discípulos sobre a obrigação do homem em guardá-los com esmero (Lucas 18:20;
Mateus 5:21-22; Mateus 5:27-28; Mateus 19:9). A verdade é que Jesus, longe de
considerar a abolição da lei, acabou por ampliar o sentido espiritual e moral dos Dez
Mandamentos.
“No Sermão da Montanha, Cristo apresentou a Seus discípulos os princípios de
vasto alcance da lei de Deus. Ele ensinou a Seus ouvintes que a lei era transgredida
pelos pensamentos, antes que o mau desejo realmente fosse posto em prática. Temos a
obrigação de controlar os nossos pensamentos e de sujeitá-los à lei de Deus” (RH, 12 de
junho de 1888).
Caso a lei de Deus tivesse sido abolida com a morte de Cristo, então por que
Jesus perdeu tempo ensinando aos Seus seguidores a obrigação de se guardar uma lei
caduca? Teria Jesus sido tão incoerente, a ponto de ampliar a aplicação e o sentido de
uma lei, para ser praticada por Seus seguidores, quando na realidade tal lei estava na
iminência de ser revogada? É claro que Jesus não estava sendo contraditório,
simplesmente porque a lei não seria abolida!
Jesus foi batizado por imersão, pregou o amor a Deus e ao próximo, anunciou o
evangelho, instituiu e celebrou a santa ceia, lavou os pés dos discípulos etc. Em tudo
isso, Jesus ordenou que a “Sua Igreja” praticasse o mesmo.
O Senhor Jesus também observou as ordenanças da Antiga Aliança, como a
circuncisão, a páscoa, os dias de festas e outros cerimoniais, porque Ele estava
cumprindo a “Lei e os Profetas”, mas nunca ordenou que a “Sua Igreja” fizesse o
mesmo.
Quando Jesus morreu, Ele inaugurou o Novo Concerto para remissão de pecados
com base no Seu sangue (Mateus 26:28) e revogou o Antigo Concerto de remissão de
pecados com base no sangue de animais (Daniel 9:27; Mateus 27:51; Lucas 23:45; II
Coríntios 3:14; Hebreus 9:18-21).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
10.3 Fuga de Jerusalém
Mateus 24:20 – “E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no
sábado”.
Em Seu sermão profético, Jesus aconselhou os cristãos a orarem para que a fuga
da destruição da cidade de Jerusalém não ocorresse no inverno ou no dia do sábado.
Quando o Senhor Jesus deu tal orientação à igreja, Ele estava profetizando a
destruição de Jerusalém pelo exército romano para depois de uma geração (Mateus
24:34). Fato este que ocorreu no ano 70 da era Cristã.
Quando Jesus recomendou que a igreja de Jerusalém orasse para que a sua fuga
não acontecesse “no inverno nem no sábado” Ele tinha em mente o sofrimento que os
cristãos passariam, caso tal fuga ocorresse no inverno ou no sábado.
A fuga no dia do sábado seria difícil para os cristãos por vários motivos.
Primeiro, porque eles encontrariam grande dificuldade para adquirir os bens e os meios
necessários à sua fuga de Jerusalém. Segundo, a santidade do dia do sábado seria
violada pelo alvoroço da fuga, e muitos prefeririam morrer a quebrar o decoro do santo
sábado. Terceiro, os cristãos se reuniam aos sábados para adorar no Templo Sagrado,
então na iminência de um ataque inimigo, as portas de Jerusalém seriam fechadas e os
cristãos ficariam presos. Quarto, o fato de estarem maciçamente reunidos em Jerusalém
para cultuarem no sábado, resultaria no massacre de grande número de cristãos, pois
Jesus havia profetizado que Jerusalém seria totalmente devastada e não sobraria pedra
sobre pedra do Templo Sagrado (Mateus 24:2; Marcos 13:2; Lucas 21:6).
“Terríveis foram as calamidades que caíram sobre Jerusalém quando o cerco foi
reassumido por Tito. A cidade foi assaltada na ocasião da Páscoa, quando milhões de
judeus estavam reunidos dentro de seus muros. Suas provisões de víveres, que a serem
cuidadosamente preservadas teriam suprido os habitantes durante anos, tinham sido
previamente destruídas pela rivalidade e vingança das facções contendoras, e agora
experimentaram todos os horrores da morte à fome”. (GC, 31).
Quando o Senhor orientou aos Seus discípulos a orarem para que a sua fuga da
destruição de Jerusalém não ocorresse no dia do sábado ou no inverno, Ele estava
admitindo tacitamente que os cristãos estariam guardando o sábado e adorando em
Jerusalém, mesmo após ter decorrido quarenta anos de Sua morte e ressurreição.
Segundo o Senhor, guardar o sábado numa situação de ataque inimigo e fuga seria
extremamente penoso, tanto quanto seria dificultoso fugir no inverno.
10.4 As discípulas guardaram o sábado
Lucas 23:54-56; 24:1 – “E era o dia da preparação, e amanhecia o sábado. E as
mulheres, que tinham vindo com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro,
e como foi posto o seu corpo. E, voltando elas, prepararam especiarias e unguentos, e
no sábado repousaram, conforme o mandamento. E no primeiro dia da semana, muito
de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado”.
__________________________________________________________________
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Era o dia da preparação e o Sol declinava na linha do horizonte. Naqueles
tempos, o “dia da preparação” era a designação bíblica usual para o sexto dia da semana
– dia anterior ao sábado – que nos dias de hoje é conhecido pelo nome de sexta-feira.
Era no dia da preparação que os crentes faziam todos os “preparativos” para
receber o “santo sábado do Senhor”. Esse preparo consistia em colocar o trabalho
secular e todas as atividades corriqueiras em ordem para que no dia do santo sábado não
se realizasse nenhum trabalho secular que pudesse profanar a santidade do dia, o qual
deve ser dedicado exclusivamente às atividades religiosas.
As santas mulheres que tinham acompanhando o Senhor desde a Galiléia,
presenciaram a crucifixão e a retirada do corpo de Jesus da cruz na tarde daquela sexta-
feira. A seguir elas acompanharam o féretro e “viram o sepulcro, e como foi posto o seu
corpo”.
Conforme o costume daquela época, as mulheres prepararam “especiarias e
unguentos” para perfumar o corpo de Jesus. Porém não puderam retornar ao sepulcro
para ungir o corpo do Senhor porque o sábado estava começando com o pôr-do-sol
daquela sexta-feira. Então, aquelas santas cristãs, “repousaram, conforme o
mandamento”.
O mandamento observado por aquelas santas mulheres é aquele que está
registrado no decálogo: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis
dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou:
portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11).
Terminando o dia do sábado, as santas mulheres se levantaram na madrugada do
primeiro dia da semana e “foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham
preparado”.
Aquelas leais seguidoras de Cristo jamais foram ensinadas que o sábado seria
abolido com a morte do Senhor. Em vista disso, elas guardaram o sábado conforme
determina o mandamento da santa lei de Deus.
Na consciência dessas fiéis cristãs havia a plena convicção de que os
mandamentos da lei de Deus continuariam vigorando, mesmo após a morte de Cristo,
inclusive com a observância do dia do sábado.
Pela simples leitura do texto bíblico constata-se facilmente que essas fiéis
seguidoras de Jesus consideravam o primeiro dia da semana – dia posterior ao sábado –
como um dia ordinário qualquer de trabalho secular, sem nenhum significado religioso
ou sagrado, tanto é verdade que elas foram realizar no primeiro dia da semana (Lucas
24:1) aquela atividade que deixaram de fazer no santo dia do sábado.
10.5 Paulo guardava o sábado com os judeus
Atos 13:14-15 – “E eles, saindo de Perge, chegaram a Antioquia, da Pisídia, e,
entrando na sinagoga, num dia de sábado, assentaram-se. E, depois da lição da lei e
dos profetas, lhes mandaram dizer os principais da sinagoga: Varões irmãos, se tendes
alguma palavra de consolação para o povo, falai”.
Paulo e Barnabé tinham viajado para Antioquia e, no dia do sábado, eles se
congregaram com os seus conterrâneos judeus para louvar e adorar a Deus na sinagoga.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Ao final do culto religioso, por iniciativa exclusiva dos líderes da sinagoga,
Paulo foi convidado a falar “alguma palavra de consolação para o povo” (Atos 13:15).
Então, ele aproveitou a oportunidade oferecida para pregar o evangelho.
Como doutor dos gentios (I Timóteo 2:7: II Timóteo 1:11), o apóstolo Paulo
andava guardando e santificando o dia do sábado por preceito e exemplo. O apóstolo
assim procedia porque, além de pregar a palavra de Deus, ele também praticava os seus
preceitos sagrados.
O fato de Paulo e de todos os cristãos (Lucas 24:53) assistirem aos cultos
religiosos no dia do sábado junto ao Templo Sagrado em Jerusalém ou nas sinagogas,
prova que a Igreja cristã – tanto quanto os judeus – guardavam o sétimo dia da semana
como um dia especial de descanso e adoração. Nada mais natural! Pois a fonte comum
de doutrina dessas duas religiões eram as Escrituras Sagradas, as quais ensinam
explicitamente que o sétimo dia da semana é o santo sábado de descanso (Êxodo 20:8-
11).
10.6 Paulo ensinava os gentios no sábado
Atos 13:42 e 44 – “E, saídos os judeus da sinagoga, os gentios rogaram que no sábado
seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas. E no sábado seguinte ajuntou-se quase
toda a cidade a ouvir a palavra de Deus”.
Depois de ter pregado o evangelho na sinagoga, os prosélitos gentios de
Antioquia “rogaram que no sábado seguinte” Paulo lhes pregasse a mesma mensagem, a
qual acabara de ser anunciada naquele santo sábado.
Decorrida a semana, as Escrituras Sagradas registram que, “no sábado seguinte”
quase toda a cidade gentílica de Antioquia havia se congregado para ouvir as mensagens
da “palavra de Deus” anunciadas pelo apóstolo Paulo.
Note que Paulo pregava a “palavra de Deus”, a qual ensina claramente que o dia
sagrado de repouso é o sábado. Se naquele tempo o “primeiro dia da semana” fosse
considerado pelos cristãos como sendo o dia do Senhor, ou mesmo um dia sagrado,
então o apóstolo Paulo perdeu uma excelente oportunidade para ensinar aos “gentios”
de Antioquia a se congregarem no domingo.
A verdade é que Paulo, como doutor dos gentios, afirmou que “nada, que útil
seja, deixei de vos anunciar” ... “nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus”
(Atos 20:20 e 27). Ocorre que o santo apóstolo jamais ensinou qualquer coisa a respeito
da doutrina do domingo. Portanto, o domingo não é “nada, que útil seja” e nem mesmo
é “conselho de Deus”, razão pela qual Paulo jamais ensinou coisa alguma a respeito
desse assunto, o qual encontra-se totalmente alienado das Escrituras Sagradas.
10.7 Paulo disputava nos sábados
Atos 18:4 e 11 – “E todos os sábados disputava na sinagoga, e convencia a judeus e
gregos. E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Tanto quanto os judeus, o apóstolo Paulo santificava o dia do sábado, cultuando
nas sinagogas, junto com os seus compatriotas judeus. Nessas ocasiões Paulo
aproveitava a oportunidade, que lhe era oferecida pelos lideres locais, para pregar o
evangelho aos ouvintes gentios e judeus da sinagoga. Por essa razão, “como tinha por
costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras”
(Atos 17:2).
Em outra ocasião Paulo ficou na cidade de Corinto durante um ano e seis meses,
ensinando “todos os sábados” a “palavra de Deus”, tanto para judeus como para gentios
(Atos 18:4 e 11).
Isso significa que durante 78 sábados Paulo pregou sobre as Escrituras Sagradas,
a qual contém o mandamento sobre a observância do “santo sábado do Senhor”, mas em
nenhum momento o santo apóstolo ensinou qualquer coisa a respeito do domingo.
Mesmo depois de ter evangelizado e convertidos os membros das sinagogas ao
evangelho, Paulo continuou cultuando aos sábado “e ficou ali um ano e seis meses,
ensinando entre eles a palavra de Deus” (Atos 18:11).
Muitas vezes, acontecia que todos os membros judeus e gentios de muitas
sinagogas convertiam-se a Cristo. Contudo, todos eles continuavam cultuando aos
sábados na própria sinagoga. Foi exatamente essa situação que foi reconhecida pelo
Concílio de Jerusalém: “Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade
quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas” (Atos 15:21). Para os primeiros
cristãos, o cristianismo não representava uma ruptura com o judaísmo, mas era o
legitimo resultado do cumprimento das profecias registradas na Lei e nos Profetas.
Conforme os versículos mencionados, Paulo pregava as Escrituras Sagradas.
Porém, elas não ensinam ninguém a santificar qualquer outro dia da semana que não
seja o “santo sábado”. O domingo jamais foi ensinado como doutrina escriturística. A
guarda do domingo jamais seria aceito pelos cristãos bereanos, haja vista que eles se
pautavam exclusivamente pelas Escrituras Sagradas: “ora estes foram mais nobres do
que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra,
examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (Atos 17:11).
10.8 Paulo guardou o sábado com os gentios
Atos 16:13 – “E no dia de sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde
julgávamos ter lugar para oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se
ajuntaram”.
A Bíblia Sagrada mostra que o apóstolo Paulo, fundamentado exclusivamente na
Palavra de Deus, guardava o “santo sábado do Senhor” como um dia sagrado de culto
religioso e de descanso. Como fiel observador do sábado, Paulo costumava cultuar nas
sinagogas junto com os seus conterrâneos judeus e, sempre que podia, aproveitava a
oportunidade para evangelizar os gentios e judeus que se encontravam presentes no
culto divino (Atos 18:4).
Porém, na cidade de Filipos, que era uma colônia de gentios, localizada na
Macedônia, não havia judeus; também não havia cristãos, sinagogas ou igrejas. Mas,
mesmo assim, o Novo Testamento mostra que o santo apóstolo continuava guardando e
cultuando no dia do sábado, até mesmo entre os gentios pagãos (Atos 16:13).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Este fato bíblico prova que, em obediência à lei de Deus, o apóstolo Paulo
sempre guardou o dia do sábado como um dia sagrado de culto religioso e de repouso
do trabalho secular.
O falso argumento de que Paulo não guardava o sábado, mas que apenas
aproveitava a oportunidade para evangelizar os judeus que se reuniam aos sábados nas
sinagogas, fica totalmente desmoralizado, desacreditado e subjugado diante do fato
irrefutável de que o santo apóstolo continuava guardando e cultuando no sábado, até
mesmo entre os gentios pagãos. Isso fica ainda mais evidente quando se considera que
Paulo pregava somente a “Palavra de Deus” e jamais ensinou qualquer coisa a respeito
da santificação do domingo.
Mas por que razão o apóstolo Paulo guardava o sábado bíblico entre os gentios e
não o domingo? A resposta é muito simples: o apóstolo observava o sábado porque
existe um claro mandamento na Palavra de Deus que ordena a santificação do sábado
(Êxodo 20:8-11), porém não existe, em nenhum lugar das Escrituras Sagradas, qualquer
passagem ordenando a observância do domingo.
10.9 Considerações finais
Nos dias de hoje, a maioria da cristandade não guarda o sétimo dia da semana
como dia de adoração e descanso. Tal fato ocorre porque os protestantes receberam o
domingo como uma tradição herdada da Igreja Católica, a qual foi forjada durante a
Idade Média, num período de grandes trevas morais, espirituais, culturais, heresias,
apostasias e intolerância religiosa.
“Grande luz foi concedida aos reformadores; muitos deles, porém, aceitaram os
enganos do erro pela má interpretação das Escrituras. Estes erros foram transmitidos
através dos séculos, mas embora sejam muito antigos, não têm a apoiá-los um ‘Assim
diz o Senhor’. Pois o Senhor declarou: ‘Não alterarei o que saiu dos Meus lábios.’ Sal.
89:34. Em Sua grande misericórdia, o Senhor permitiu que nestes últimos dias brilhasse
ainda maior luz. Enviou-nos Sua mensagem, revelando Sua lei e mostrando-nos o que é
verdade” (FEC, 450).
Apesar disso tudo, os antagonistas do sábado presumem, equivocadamente, que
Paulo visitava a sinagoga aos sábados “somente” para evangelizar os judeus que se
reuniam nesse dia para cultuar. Mas essa suposição é totalmente descabida por vários
motivos, a saber:
1º) As Escrituras Sagradas jamais afirmaram que Paulo não guardava o dia do sábado;
2º) As Escrituras Sagradas jamais afirmaram que Paulo andava guardando o domingo
como dia sagrado;
3º) A Bíblia Sagrada não diz que Paulo visitava a sinagoga exclusivamente para
evangelizar os judeus;
4º) As Escrituras Sagradas provam que Paulo guardava o sábado entre os gentios
pagãos, até mesmo em lugares onde não havia sinagogas ou judeus;
5º) Tanto os judeus como os cristãos cultuavam no sábado, sobretudo porque as
Escrituras Sagradas eram a única fonte comum de doutrina, conduta e fé desses dois
grupos religiosos;
6º) Tanto os judeus como os judaizantes nunca acusaram qualquer cristão gentio de
estar transgredindo o sábado, muito embora tivesse muitas outras acusações;
7º) Paulo sempre discorria sobre as Escrituras Sagradas, a qual jamais ensinou qualquer
coisa a respeito da doutrina do domingo.
A diferença fundamental de crença existente entre os cristãos e os judeus
consistia no seguinte: o grupo cristão acreditava que Jesus era o Messias anunciado na
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Lei e nos Profetas, enquanto que o grupo judeu não acreditava em tal ensino. No seu
início, a igreja cristã era maciçamente constituída por judeus. Aos olhos dos pagãos a
diferença entre judaísmo e cristianismo era muito tênue. Tal fato fazia com que os
governadores romanos constantemente confundissem cristãos com judeus. Quando os
judeus eram perseguidos, os cristãos também sofriam as consequências.
Com o crescimento da igreja, a quantidade de pagãos convertidos ao
cristianismo tornou-se muito maior do que a de judeus convertidos. Com o passar do
tempo, o centro da direção da Igreja passou das mãos dos cristãos judeus para os
cristãos gentios. Então, para se verem livres do estigma judaico, os cristãos gentios
começaram a fazer concessões doutrinárias, especialmente procurando justificar a
observância de um novo dia para os seus cultos religiosos.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 11 Jesus e a Lei
“Jesus guardou o sábado e ensinou Seus discípulos a guardá-lo. Ele sabia como o dia
de repouso devia ser observado, pois Ele mesmo o santificara”.
Ellen Gould White (VJ, 67)
11.1 Introdução
A função fundamental do decálogo, também conhecido como lei de Deus,
consiste em mostrar ao homem o que é pecado. Observe: “pela lei vem o conhecimento
do pecado”...“eu não conheci o pecado senão pela lei”. “Todo aquele que pratica o
pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (Romanos
3:20; 7:7; I João 3:4).
A lei de Deus também possui a função de condenar o pecado. Note o que diz as
Escrituras: “o pecado, sendo consumado, gera a morte”...“porque o salário do pecado é
a morte”... “o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” (Tiago 1:15;
Romanos 6:23; I Coríntios 15:56). Supondo o absurdo que a lei de Deus – decálogo –
foi abolida, então a que lei Paulo e outros escritores bíblicos estariam se referindo?
Caso a lei de Deus tenha sido abolida, então não existe mais pecado no mundo e
ninguém mais pode ser considerado pecador porque “onde não há lei também não há
transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13).
É evidente que os Dez Mandamentos são totalmente imprestáveis para realizar
qualquer espécie de expiação de pecado, especialmente considerando o fato inegável
que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). Destarte, o
decálogo é um concerto distinto do concerto de expiação de pecados pelo holocausto de
animais realizados no santuário terrestre, sob o ministério dos sacerdotes levitas.
Diante do exposto fica claro que a lei de Deus continua vigorando, simplesmente
porque os homens continuam sendo condenados como pecadores. O que foi abolido na
cruz foi a lei cerimonial de expiação de pecados pelo sangue de animais, as quais
apontavam para o “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
11.2 Jesus não revogou a lei
Mateus 5:17-18 – “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-
rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem,
nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Na época de Cristo o Antigo Testamento era dividido didaticamente em três
grandes partes: “Lei”, “Profetas” e “Salmos” (Lucas 24:44).
A palavra “Lei” empregada por Jesus, na passagem bíblica registrada em Mateus
5:17-18, está se referindo especificamente aos primeiros cinco livros da Bíblia Sagrada,
os quais são atribuídos a Moises. Modernamente, tais livros são conhecidos pelos
nomes de “Tora” ou “Pentateuco”.
Quando Jesus fez referência ao vocábulo “Profetas”, Ele estava se referindo à
segunda grande divisão do Antigo Testamento: os escritos dos santos profetas. Portanto,
a expressão em conjunto “Lei” e “Profetas” refere-se exclusivamente às Escrituras
Sagradas conhecidas como Antigo Testamento.
Esclarecido o conceito de “Lei” e “Profetas”, torna-se evidente que, no trecho
bíblico de Mateus 5:17-18, Jesus está ensinando claramente que o Seu propósito não era
fazer nada contra as Escrituras do Antigo Testamento. De fato, assim disse o Senhor:
“não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas”. Ele também afirmou que não veio
“ab-rogar” – anular, abolir – qualquer coisa do Antigo Testamento, que naquele tempo
era conhecido pela designação de Lei e Profetas.
Conforme Jesus disse, enquanto o Céu e a Terra durarem, nada do que está
registrado no Antigo Testamento (Lei e Profetas) será omitido sem ter o seu efetivo
cumprimento.
11.3 Jesus veio para cumprir as profecias
Jesus afirmou que veio para “cumprir” a Lei e os Profetas. Mas, o que Ele
entendia pela palavra cumprir? Cumprir o que? Bem, vamos deixar que o próprio
Senhor Jesus responda a essas indagações. Observe:
João 5:39 – “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são
elas que de mim testificam”.
Lucas 22:37 – “Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que
está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá
cumprimento”.
Lucas 24: 27 – “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o
que dele se achava em todas as Escrituras”.
Lucas 24:44 – “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda
convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de
Moisés, e nos profetas, e nos salmos”.
Destarte, verificamos pela própria Bíblia Sagrada que Jesus veio ao mundo para
cumprir – concretizar, realizar, satisfazer – as exigências e especificações das profecias
bíblicas que anunciavam a Sua vinda, e que foram registradas pelos santos homens de
Deus na Lei e nos Profetas (Antigo Testamento).
O que Jesus veio “cumprir” tem relação direta com as profecias bíblicas que
anunciavam a Sua vinda a este mundo. O “cumprir” anunciado por Jesus tem o sentido
de satisfazer as exigências e especificações das profecias bíblicas a Seu respeito. Por
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
conseguinte, o sentido axiológico do “cumprir” anunciado por Jesus não tem nenhuma
relação direta com o decálogo ou com o sábado, muito embora Jesus os tenha praticado
com perfeição.
Portanto, não se deve confundir “cumprir” com “praticar”. Somente Jesus
poderia cumprir as especificações das profecias que falavam a Seu respeito. Todavia, o
decálogo ou o sábado pode ser praticado por qualquer crente fiel à Palavra de Deus.
Tanto é verdade que o Novo Testamento torna a repetir os mandamentos da lei de Deus
para ser observada por todos os cristãos. Portanto, não foram ab-rogados por Jesus, e
muito menos pelos santos apóstolos.
Enquanto durarem o Céu e a Terra, tudo o que está escrito na Lei e nos Profetas
terá o seu cabal cumprimento. Ocorre que na Lei e nos Profetas existem muitas
profecias que ainda não alcançaram o seu pleno cumprimento tais como: o grande dia
do Senhor, a vinda de Deus, o juízo divino, novo céu e nova terra, a ressurreição dos
mortos etc. Portanto, nem um jota ou um til poderá ser omitido do Livro da Lei e dos
Profetas (Antigo Testamento) sem que tudo venha a ter o seu efetivo cumprimento.
11.4 O sábado e o sétimo dia da semana
A palavra “sábado” tem a sua origem etimológica no vocábulo hebraico
“shabath”. Esse vocábulo não aponta para nenhum dia específico da semana. Tal
expressão quer meramente dizer “repouso”, “descanso” ou “cessação”.
Igualmente, podemos afirmar que o vocábulo “domingo”, que tem a sua origem
na palavra latina "Dominica dies", também não expressa nenhum dia especifico da
semana. De fato, tal expressão quer simplesmente dizer em latim “dia do Senhor”.
Também podemos notar que a expressão “dia do Senhor” não indica qualquer
dia em particular da semana.
Então podemos fazer a seguinte pergunta: qual é o dia da semana que
corresponde “biblicamente” ao dia do repouso? A Palavra de Deus – regra máxima de
conduta do cristão – responde claramente a essa pergunta, sem deixar margem para
qualquer espécie de dúvida. Observe:
Êxodo 20:11 – “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que
neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o
santificou”.
Levítico 23:3 – “Seis dias obra se fará, mas ao sétimo dia será o sábado do descanso,
santa convocação; nenhuma obra fareis; sábado do Senhor é em todas as vossas
habitações”.
Êxodo 31:15 – “Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso,
santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá”.
Lucas 23:54-56; 24:1 – “E era o dia da preparação, e amanhecia o sábado. E as
mulheres, que tinham vindo com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro,
e como foi posto o seu corpo. E, voltando elas, prepararam especiarias e unguentos, e
no sábado repousaram, conforme o mandamento. E no primeiro dia da semana, muito
de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O sábado não é um dia qualquer entre sete dias semanais. Por fundamentação
bíblica e etimológica, o sábado é considerado o sétimo dia da semana. Como último dia
da semana, o sábado encerra o ciclo semanal.
Por exemplo, Lucas mostra que o “dia da preparação” é o sexto dia da semana. É
claro que após esse dia vem o “sábado” que é o sétimo e último dia da semana. Após o
dia do sábado, o ciclo semanal recomeça com o “primeiro dia da semana” (Lucas 23:54-
56; 24:1). Portanto, o sábado é o dia que se segue ao dia da preparação (Marcos 15:42) e
antecede ao primeiro dia da semana (Mateus 28:1).
Destarte, as Escrituras Sagradas apresentam uma sucessão de três dias,
estabelecendo uma clara relação de um para com os demais. Pode-se observar que –
como nos dias de hoje – o dia do sábado está localizado entre o sexto dia da semana e o
primeiro dia da semana.
Também podemos observar que “em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o
mar e tudo que neles há” (Êxodo 20:11). Depois daqueles seis dias da semana da
criação, o senhor descansou no “sétimo dia”. A Bíblia Sagrada deixa bem claro, que o
Senhor descansou no último dia da semana, o qual é identificado como sendo o sétimo
dia. Portanto, diante dos versículos expostos, fica claro que o sábado é o sétimo dia da
semana, e não um dia qualquer entre sete.
11.5 O sábado perdido no tempo
É interessante observar que algumas pessoas alegam que o sábado se perdeu no
tempo. Mas, teria algum fundamento tal afirmação?
Bem, para responder a essa pergunta, devemos proceder do mesmo modo como
os bereanos o fizeram. Eles “foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica,
porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas
coisas eram assim” (Atos 17:11).
Então, o que diz a Palavra de Deus? Bem, as Escrituras Sagradas provam que os
fariseus, tanto quanto Jesus, conheciam exatamente o dia da semana em que ocorre o
“santo sábado do Senhor”.
Mesmo quando sofria severas acusações por parte da seita dos fariseus, sobre o
modo como o sábado deveria ser guardado, Jesus jamais os retrucou, sob a alegação de
que o sábado estava perdido no tempo.
Hipoteticamente falando, caso o “santo sábado do Senhor” tenha se perdido no
tempo depois da cruz, então – por uma questão de coerência – temos que admitir que o
domingo também se perdeu no tempo.
Mas, a grande verdade é que, aqueles que dizem que o sábado se perdeu no
tempo, sabem localizar precisamente qual é o dia da semana que corresponde ao
domingo. Ora, se podem identificar perfeitamente qual é o dia da semana que
corresponde ao domingo, então – por uma questão de lógica – também podem
identificar corretamente qual é o dia da semana que corresponde ao sábado,
especialmente porque o sábado é o dia que antecede ao domingo.
Desta forma, fica desmoralizado o argumento ardiloso de que o “santo sábado do
Senhor” se perdeu no tempo, simplesmente porque o domingo não se perdeu no tempo.
11.6 O sábado e a expressão “para sempre”
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O Antigo Testamento afirma que o sábado deveria ser celebrado “nas suas
gerações por concerto perpétuo” e “entre mim e os filhos de Israel será um sinal para
sempre” (Êxodo 31:16-17).
O vocábulo “perpétuo”, “para sempre” ou até mesmo o termo “eterno” são
próximos e traduzem a idéia de duração indefinida. Mas, todos eles estão sempre
limitados por alguma condição “sine qua non”.
Por exemplo, o “fogo eterno” está limitado à condição de haver algo para ser
queimado. Todavia, uma vez queimado, os efeitos desse fogo são para sempre,
perpétuos ou eternos.
Conforme as Escrituras, o sábado deveria ser celebrado nas gerações do povo de
Deus por concerto perpétuo. Observe que o termo perpétuo está limitado por suas
gerações. Portanto, enquanto houver geração de fiéis filhos de Deus na face da terra, o
sábado deverá ser celebrado por eles.
Tanto os judeus quanto os gentios convertidos tinha a obrigação de observar o
santo sábado (Isaías 56:6). Destarte, a guarda do sábado semanal nunca terminará
enquanto houver pessoas fiéis à Palavra de Deus para observá-lo. Além disso, o sábado
também será lembrado na Nova Terra (Isaías 66:22-23), como um marco indicador da
semana de sete dias.
A Bíblia Sagrada afirma que o sábado é um sinal entre Deus e os filhos de Israel
para sempre. Ora, os filhos de Israel são os descendentes de Abraão. Mas o Novo
Testamento mostra que aqueles que são de Cristo também são descendentes de Abraão
(Gálatas 3:7; 3:29), portanto também são filhos de Israel, e constituem o Israel
espiritual. Logo, constituem a geração que celebrarão o sábado por concerto perpétuo.
11.7 Os cerimoniais e a expressão “para sempre”
É claro que algumas ordenanças registradas no Antigo Testamento também
foram “para sempre”, como por exemplo, a Páscoa (Êxodo 12:24). Outras ordenanças
foram “perpétuas”, como por exemplo, a queima do incenso (Êxodo 30:21), o
sacerdócio Levítico (Êxodo 40:15), as ofertas de paz (Levítico 3:17), a parte dos
sacerdotes nos sacrifícios (Levítico 6:18, 22; 7:34, 36), o sacrifício anual de animais
pela expiação dos pecados (Levítico 16:29, 31,34) etc. Mas, como foi dito
anteriormente, o termo “perpétuo” e “para sempre”, na Bíblia Sagrada, está sempre
limitado a alguma condição “sine qua non”.
Pela leitura dos versículos mencionados, verificamos que eles se referem aos
rituais da lei sacerdotal levítica. Todavia, é de conhecimento geral que as leis desse
sacerdócio foram totalmente abolidas na cruz (Daniel 9:27). Em seu lugar, Cristo firmou
um Novo Concerto, o qual foi ratificado com o Seu próprio sangue. Portanto, o termo
“para sempre” ou “perpétuos” quando se refere à lei cerimonial está limitado até o início
do Novo Concerto.
Diante do exposto fica claro para todos os cristãos que os sacrifícios de animais,
queima de incenso ou a guarda da páscoa “não” tem que ser continuados até aos dias de
hoje, porque se referem a leis cerimoniais que findaram na cruz. Porém a guarda do
sábado tem que ser continuada até aos dias de hoje porque ela não foi abolida na cruz,
pois se trata de uma lei moral, dada por Deus no sétimo dia da criação do mundo,
quando ainda não havia pecado, lei cerimonial ou qualquer judeu sobre a face da terra.
11.8 Considerações finais
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
As evidências bíblicas demonstram claramente que os primeiros cristãos
guardavam o dia do sábado. Além das evidências escriturística, também podemos
provar, pelos fatos históricos, que os primeiros cristãos observavam o dia do sábado.
A História Universal mostra que a observância do sábado começou a ser
efetivamente mudada para o domingo por influência do Imperador Romano Constantino
e pela nascente Igreja Católica do Império Romano.
Muito embora as pesquisas em documentos históricos venham a corroborar o
ensino bíblico sobre o sábado, eles são totalmente dispensáveis, pois a Bíblia Sagrada é
a única autoridade suprema em questão de fé e doutrina. É ela quem decide a questão da
guarda do dia do Senhor. Ela é mais do que suficiente para quem crê que a mensagem
da Palavra de Deus deve ser interpretada unicamente pela própria Bíblia Sagrada. Ela
prova, sem dúvida alguma, que o dia do Senhor é o sábado.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 12 O Primeiro Dia da Semana
“Muitos há, mesmo entre os que se empenham neste movimento em favor da
imposição do domingo, que se acham cegos aos resultados que seguirão a essa ação. Não vêem que golpeiam
diretamente a liberdade religiosa. Muitos existem que jamais compreenderam as reivindicações do sábado bíblico
e o falso fundamento sobre o qual repousa a instituição do domingo”.
Ellen Gould White (EF, 126)
12.1 Introdução
Nos dias de hoje, o “primeiro dia da semana” é conhecido, numa parte do
mundo, pelo nome de “domingo” que, etimologicamente, significa “dia do Senhor”.
Contudo, o vocábulo domingo não é mencionado em nenhum lugar das
Escrituras Sagradas. Nem poderia ser, pois a palavra “domingo” é de origem latina e a
Bíblia Sagrada foi escrita em hebraico, aramaico e grego. Portanto, tal vocábulo jamais
pode fazer parte da Palavra de Deus. Além disso, as próprias Escrituras Sagradas
definem explicitamente o “dia do Senhor” como sendo o “dia do Sábado” (Isaías 58:13).
Qualquer outra interpretação é contrária aos ensinos da Palavra de Deus, portanto
antibíblica.
No Novo Testamento existem apenas oito referências mencionando
explicitamente o primeiro dia da semana. Apenas oito singelas passagens bíblicas e
nada mais! Observe cada uma delas, conforme se encontram registradas nas páginas da
Bíblia Sagrada:
1ª) Mateus 28:1 – “E, no fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da
semana, Maria Madalena, e a outra Maria foram ver o sepulcro”.
2ª) Marcos 16:2 – “E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo,
ao nascer do sol”.
3ª) Marcos 16:9 – “E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana,
apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios”.
4ª) Lucas 24:1 – “E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao
sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado”.
5ª) João 20:1 – “E no primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de
madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro”.
6ª) João 20:19 – “Chegada pois a tarde de aquele dia, o primeiro da semana, e
cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado,
chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
7ª) Atos 20:7 – “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir
o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática
até à meia noite”.
8ª) I Coríntios 16:1-3 – “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós
também o mesmo que ordenei às igrejas da Gálata. No primeiro dia da semana cada
um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que
se não façam as coletas quando eu chegar. E, quando tiver chegado, mandarei os que
por cartas aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém”.
Note que os versículos retro mencionados não declararam que o primeiro dia da
semana é o “domingo”. Nenhum deles insinua que o primeiro dia da semana é o “dia do
Senhor”. Observe que não existe qualquer mandamento ou sugestão ordenando a
santificação ou o descanso no primeiro dia da semana.
A verdade é que nenhum versículo bíblico mostra qualquer cristão observando,
guardando ou santificando o primeiro dia da semana. Tal afirmativa se torna relevante
quando se considera o fato irrefutável de que não existe nas Escrituras Sagradas
qualquer “mandamento divino” ordenando a observância do primeiro dia da semana.
Caso o domingo fosse “biblicamente” o dia do Senhor, então os evangelistas e
os epistológrafos bíblicos se esqueceram de mencionar tal fato. Portanto, tal dia espúrio
não deve ser observado pelos cristãos, especialmente porque qualquer ensino que não
esteja nas Escrituras Sagradas, não faz parte do universo do verdadeiro cristão.
Os versículos de Atos 20:7 e I Coríntios 16:1-3 relatam eventos que ocorreram
vários anos após a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Todavia, é digno de nota
observar que nenhuma dessas passagens bíblicas demonstra qualquer reverência por
parte dos primeiros cristãos pelo primeiro dia da semana.
O que essas passagens bíblicas provam é que, mesmo decorridos vários anos
após a morte de Jesus na cruz, o primeiro dia da semana ainda continuava sendo
conhecido e designado pelos cristãos com o nome ordinário de “primeiro dia da
semana”. Esse dia, não tinha recebido por parte daqueles primeiros santos qualquer
nome, menção reverente ou título especial. Isto porque, para aqueles cristãos, o primeiro
dia da semana, era apenas de um dia comum de trabalho secular.
12.2 A ressurreição de Jesus
Marcos 16:9 – “E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana,
apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios”.
“Os protestantes hoje insistem em que a ressurreição de Cristo no domingo fê-lo
o sábado cristão. Não existe, porém, evidência escriturística para isto. Nenhuma honra
semelhante foi conferida ao dia por Cristo ou Seus apóstolos. A observância do
domingo como instituição cristã teve origem no ‘mistério da injustiça’ (II
Tessalonicenses 2:7) que, já no tempo de Paulo, começara a sua obra” (GC, 54).
Conforme a inspirada informação do evangelista Marcos, Jesus havia
ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, e apareceu primeiramente para Maria
Madalena de quem havia anteriormente expulsado sete demônios.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O versículo em questão não ensina que os cristãos devem observar o primeiro
dia da semana com fundamento na ressurreição de Jesus Cristo. Não esclarece que o
primeiro dia da semana é o dia do Senhor. Tampouco ensina que o primeiro dia da
semana tornou-se um dia sagrado de descanso e adoração. Diante do exposto, fica claro
constatar que os primeiros cristãos jamais ensinaram que o primeiro dia da semana
deveria ser observado em memória à ressurreição de Jesus.
O raciocínio de que os cristãos devem guardar o primeiro dia da semana, sob o
argumento de que Jesus ressuscitou nesse dia, é baseado na simples suposição daqueles
que defendem a tese da observância do domingo. Pelas regras da ciência da
Hermenêutica, o artifício de relacionar um evento com outro para extrair uma terceira
conclusão é um método imprestável para realizar qualquer espécie de interpretação
bíblica, quanto mais para estabelecer um dogma doutrinário!
Tal modo obtuso de argumentar e interpretar abre margem para qualquer pessoa
“justificar”, pelas Escrituras Sagradas, qualquer espécie de ensino, por mais absurdo que
seja.
Destarte, podemos dizer que os homens podem casar com quantas mulheres
quiserem porque homens santos de Deus, como Abraão, Davi, Salomão e tantos outros,
tiveram várias esposas. Do mesmo modo, podemos afirmar que devemos guardar a
quinta-feira porque foi nesse dia que Jesus instituiu e celebrou a Santa Ceia. Igualmente
podemos afirmar que devemos observar a sexta-feira porque foi nesse dia Jesus, após
sair vitorioso das forças das trevas, entregou-se como um cordeiro, para tirar o pecado
do mundo. Também podemos ensinar que devemos descansar no sábado porque foi
nesse dia que Jesus descansou de Suas obras no sepulcro. De igual forma podemos dizer
que devemos santificar o primeiro dia da semana porque foi nesse dia que Jesus
ressuscitou.
Observar o dia do domingo ou qualquer outro dia da semana sem que haja um
claro mandamento do Senhor, constitui-se em observar doutrinas forjadas por homens.
Conforme ensino de Jesus, a observância do domingo não possui nenhum valor,
especialmente porque se trata de uma tradição criada pelo homem, totalmente contrária
aos sagrados ensinos da Palavra de Deus: “em vão me adoram, ensinando doutrinas que
são preceitos dos homens” (Mateus 15:9).
É digno de nota observar que o evangelista Marcos foi o único escritor bíblico
que relacionou explicitamente o primeiro dia da semana com a ressurreição de Jesus. Os
demais evangelistas o fazem de maneira implícita. Nenhum deles apresenta qualquer
destaque especial ao primeiro dia da semana. Nenhum dos evangelistas mostra qualquer
espécie de reverência pelo primeiro dia da semana. Para os evangelistas, o dia – em si
mesmo – não tinha nenhuma importância sagrada. Tal dia é mencionado pelos escritos
bíblicos apenas incidentalmente.
Em suma, esta passagem bíblica não manda ninguém repousar, cultuar ou
santificar no primeiro dia da semana com fundamento na ressurreição de Jesus Cristo. O
versículo bíblico em questão nem ao menos reconhece o primeiro dia da semana como
sendo o dia do Senhor. Ele apenas descreve os eventos que se deram naquele dia.
12.3 As portas cerradas no primeiro dia da semana
João 20:19 – “Chegada pois a tarde de aquele dia, o primeiro dia da semana, e
cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado,
chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O Evangelho de João foi escrito, aproximadamente, sessenta anos após a morte e
ressurreição de Jesus Cristo. Mesmo nessa época avançada da história do cristianismo, o
versículo em questão mostra que o primeiro dia da semana não era tido pelos cristãos da
era apostólica como “dia do Senhor”.
Podemos observar que a passagem bíblica em análise não registra nenhum
mandamento divino ordenando qualquer pessoa a guardar, observar ou santificar o
primeiro dia da semana. Não existe no versículo a menor indicação de que o primeiro
dia da semana era um dia consagrado ao descanso ou ao culto religioso.
Apesar disso, inadvertidamente, os adversários do sábado afirmam que os
discípulos estavam reunidos num culto religioso homenageando a ressurreição de Jesus
Cristo no primeiro da semana. Mas a verdade é que o versículo bíblico em questão não
afirma tal coisa.
O que o versículo ensina claramente é que na tarde do primeiro dia da semana –
o mesmo dia em que Jesus havia ressuscitado – os discípulos estavam reunidos, mas
com as portas trancadas porque estavam “com medo dos judeus”.
Mas por que eles estavam “com medo dos judeus”? A resposta é muito simples!
Eles temiam ter o mesmo destino que Jesus havia tido. Foi por essa razão que eles se
trancaram no cenáculo, onde Jesus havia celebrado com eles a Sua última páscoa (Lucas
22:11-16).
Além do mais, naquele “primeiro dia da semana”, os discípulos não estavam
comemorando a ressurreição do Senhor. Simplesmente, porque eles nem mesmo
acreditavam que Jesus havia ressuscitado (Marcos 16:14). A verdade é que naquela
tarde do “primeiro dia da semana”, era a primeira vez que Jesus estava se apresentando
aos discípulos, após a Sua ressurreição. Mesmo assim, eles encontraram dificuldade
para crer que Jesus havia ressuscitado.
Portanto, concluímos que estão totalmente destituídos de fundamento, todos
aqueles que afirmam que os cristãos devem guardar o primeiro dia da semana em
função da passagem em bíblica acima considerada. Mesmo porque nesse versículo não
existe autoridade linguística ou exegética justificando a observância do primeiro dia da
semana.
12.4 Os cristãos de Troas e o primeiro dia da semana
Atos 20:7 – “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o
pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática
até à meia noite”.
O livro intitulado “Os Atos dos Apóstolos” foi escrito aproximadamente trinta
anos após a morte do Senhor Jesus Cristo, pelo médico cristão de origem grega,
chamado Lucas.
Todavia, é incontestável o fato de que, mesmo nessa época avançada da história
da Igreja, o primeiro dia da semana ainda continuava sendo designado pelos primeiros
cristãos pelo nome ordinário de “primeiro dia da semana”. O doutor Lucas não diz nada
sobre um suposto caráter sagrado do domingo. Esse dia não havia recebido por parte de
qualquer cristão nenhum nome especial ou qualquer título venerável.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Esse dia jamais foi reconhecido pela Bíblia Sagrada como sendo o “dia do
Senhor”. Tampouco foi chamado nas Escrituras Sagradas pelo nome de “domingo”. Tal
fato ocorre porque os apóstolos de Jesus jamais distinguiram o primeiro dia da semana
como um dia sagrado, mas o reconheciam apenas como um simples dia ordinário de
trabalho secular.
Naqueles tempos a contagem da duração do dia se dava “duma tarde a outra
tarde” (Levítico 23:32); ou seja, de pôr-do-sol a pôr-do-sol. Nas Escrituras Sagradas,
Deus jamais definiu os dias de meia-noite a meia-noite, mas sim de pôr-do-sol a pôr-do-
sol. Inclusive este era o entendimento do doutor Lucas, que além de ter escrito o livro
intitulado “Os Atos dos Apóstolos”, também escreveu o “Evangelho Segundo Lucas”.
Ocorre que em seu Evangelho, Lucas demonstra claramente que o sábado tem início
quando termina a tarde da sexta-feira (Lucas 23:54-245:1). Ou seja, quando o Sol se põe
na linha do horizonte, findou o dia e um novo dia passa a ter início.
Portanto, como a reunião relatada no livro dos Atos dos Apóstolos se prolongou
até à meia noite do primeiro dia da semana, isto significa biblicamente dizer que ela foi
realizada após o pôr-do-sol do sábado, que era parte do dia que hoje conhecemos como
sendo o sábado à noite, mas que, naqueles tempos, segundo a contagem das Escrituras
Sagradas, era tido como o primeiro dia da semana. Foi por essa razão que Lucas
afirmou que a reunião de Troas ocorreu no primeiro dia da semana.
12.4.1 Os cristãos de Troas e o partir o pão
Atos 20:7 – “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o
pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática
até à meia noite”.
__________________________________________________________________
Conforme o relato feito pelo doutor Lucas, o propósito do ajuntamento dos
discípulos de Troas era “partir o pão”. Mas, qual era o significado da frase “partir o
pão”? Em que sentido Lucas empregou tal expressão? O que Lucas compreendia pela
expressão “partir o pão”?
Bem, no trecho em análise, bem como em outras passagens bíblicas escritas pelo
mesmo autor de “Os Atos dos Apóstolos”, pode-se constatar que a expressão “partir o
pão” é uma clara referência ao ato de fazer uma refeição.
Atos 2:44-46 – “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E
vendiam suas propriedades e fazendas, e repartiam com todos segundo cada um havia
de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em
casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração”.
Portanto, está claramente demonstrado que o “partir o pão” não se refere de
maneira alguma à Santa Ceia do Senhor, mas trata-se, simplesmente, de alimentar-se
para saciar a fome. Logo, conclui-se que a irmandade cristã de Troas havia se reunido
no primeiro dia da semana – após o pôr-do-sol de sábado – para partilhar em comum
uma singela refeição noturna.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Também se pode constatar em Atos 27:34-38 que a expressão “partir o pão” não
se refere à Santa Ceia do Senhor, mas trata-se apenas do ato de alimentar-se para
restaurar as energias físicas.
Atos 27:34-36 – “Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa
saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós. E, havendo dito isto,
tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a
comer. E, tendo já todos bom ânimo, puseram-se também a comer”.
Mais uma vez fica claro que a expressão lucasiana “partir o pão” nada mais era
do que uma referência ao ato de se alimentar numa refeição corriqueira. Portanto, no
primeiro dia da semana, logo após o pôr-do-sol de sábado, os discípulos de Troas
ajuntaram-se para “partir o pão”, isto é para participarem de um jantar com toda a
irmandade cristã reunida.
Contrariando as Escrituras Sagradas e admitindo a absurda suposição de que
tenha sido realizada uma Santa Ceia no primeiro dia da semana, ainda assim, ela não
serve de critério adequado para provar que o primeiro dia da semana era um dia
consagrado ao descanso e ao culto religioso pelos primeiros cristãos.
Tal argumento está fundamentado no fato incontestável de que a Santa Ceia não
possui o condão de conferir santidade a qualquer dia, simplesmente porque a Ceia do
Senhor pode ser realizada em qualquer dia da semana. Mas, nem por isso, tal dia é
considerado sagrado, ou dia de repouso ou de culto religioso.
Na verdade, o próprio Salvador do Mundo institui e celebrou a Santa Ceia numa
tarde de quinta-feira, mas nem por isso os cristãos descansam, cultuam ou santificam a
quinta-feira.
Em suma, a Bíblia Sagrada nunca estabeleceu um dia especial para a realização
da Santa Ceia. Ela pode ser realizada em qualquer dia da semana. Portanto, o argumento
de uma suposta Santa Ceia, realizada pelos discípulos de Troas, não serve como critério
válido para demonstrar a obrigatoriedade da santificação do primeiro dia da semana
pelos primeiros cristãos.
12.4.2 Os cristãos de Troas e o culto religioso
Atos 20:7 – “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o
pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática
até à meia noite”.
Que fique bem claro, mesmo que os cristãos estivessem reunidos para celebrar
alguma espécie de culto religioso, ainda assim, isto não serve de critério válido para se
provar que o primeiro dia da semana era o dia sagrado pelos cristãos para cultuar.
Tal argumento advém do fato de que um culto religioso pode ser realizado em
qualquer dia da semana, mas nem por isso tal dia é considerado sagrado. Existem muitas
denominações religiosas que realizam cultos religiosos todos os dias da semana, outras
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
realizam cultos três vezes por semana, mas nem por isso tais dias são considerados
como dias santos de repouso do trabalho secular.
No primeiro dia da semana, após o pôr-do-sol de sábado, estando toda a
irmandade de Troas reunida para partilhar uma refeição noturna, Paulo, que seguiria
viagem no dia imediato, aproveitou a oportunidade para discursar com eles pela última
vez, em despedida dos irmãos, e prolongou o seu discurso “até à alvorada; e assim
partiu” (Atos 20:11).
Lucas somente relatou o incidente de Troas por causa da viagem de Paulo para o
dia seguinte e do milagre ocorrido naquela noite com a ressurreição do jovem Eutico,
pois no mais, era comum os cristãos partilharem as suas ceias numa saudável comunhão
fraternal (Atos 2:42-46).
No caso dos discípulos de Troas, após o pôr-do-sol do sábado, já no primeiro dia
da semana, eles reuniram-se para partilharem uma refeição em comum, e como era uma
ocasião especial, devido a viagem do apóstolo Paulo, a reunião foi prolongada até altas
horas da noite.
É digno de nota constatar que não existe no versículo em questão nenhum
mandamento ordenando qualquer cristão a observar o primeiro dia da semana. Aliás, tal
dia nem mesmo é chamado de domingo ou denominado de “dia do Senhor”. A grande
verdade é que a santificação de qualquer outro dia da semana – que não seja o sétimo –
como o sábado, é totalmente desconhecida em toda as Escrituras Sagradas.
12.5 O caso da coleta para os santos
I Coríntios 16:1-3 – “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também
o mesmo que ordenei às igrejas dos Gálatas. No primeiro dia da semana cada um de
vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não
façam as coletas quando eu chegar. E, quando tiver chegado, mandarei os que por
cartas aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém”.
Os versículos considerados mostram que o apóstolo Paulo estava levantando
fundos entre as igrejas dos Gálatas e de Corinto para os santos que estavam passando
por grandes necessidades na cidade de Jerusalém (I Coríntios 16:3). A fome alastrava-se
em Jerusalém, “e os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse,
socorro aos irmãos que habitavam na Judéia” (Atos 11:29).
Com o mesmo objetivo, o apóstolo Paulo também havia solicitado coletas em
outras igrejas. Observe o que diz o santo apóstolo: “Porque pareceu bem à Macedônia e
à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém”
(Romanos 15:26).
Devido ao estado de necessidade que os santos estavam passando em Jerusalém,
o apóstolo Paulo ordenou que, no primeiro dia da semana, cada membro da igreja de
Coríntios colocassem “de parte” as suas doações, conforme a prosperidade de cada um.
Essas coletas tinham um fim específico. Não era uma coleta ordinária e regular
que deveria ser levada à igreja semanalmente, mas sim, conforme a tradução da Bíblia
Sagrada “Almeida Revista e Atualizada”, era uma coleta extraordinária que deveria ser
colocada “de parte”, mas na “casa” do doador.
Paulo nem mesmo queria que se fizesse quaisquer espécies de coletas quando ele
chegasse de viagem. Observe o que ele diz textualmente: “para que se não façam as
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
coletas quando eu chegar”. Mas, quando ele chegasse de viajem, tudo o que foi coletado
deveria ser imediatamente encaminhado para Jerusalém, acompanhadas por pessoas
idôneas, especialmente indicadas para tal atividade (Atos 16:3).
Portanto, não se tratava de uma reunião religiosa no domingo, muito menos
consistia em levar as coletas para a igreja no primeiro dia da semana. Simplesmente
tratava-se de uma coleta extraordinária de bens materiais que deveria ser feita nas casas
dos próprios doadores, em benefício dos santos que moravam em Jerusalém (Atos
11:29). Essas coletas seriam reunidas e somente encaminhadas para Jerusalém quando o
apóstolo Paulo chegasse de viagem (I Coríntios 16:2-3).
Aliás, os versículos em questão nem falam de igreja, descanso, culto divino ou
de reunião religiosa, e muito menos menciona que os cristãos deveriam santificar ou
observar o primeiro dia da semana. Em suma, nessa passagem bíblica, não existe
mandamento ou qualquer fundamento bíblico que justifique a observância do domingo
como dia sagrado de culto religioso e de repouso.
Além do mais, levar coletas para a igreja nunca serviu de critério válido para
demonstrar que o primeiro dia da semana ou qualquer outro dia é especialmente
dedicado ao repouso sagrado. Especialmente porque a grande maioria das igrejas cristãs
realiza dois ou três cultos religiosos por semana, e em todos eles recolhem-se os
dízimos e as ofertas dos doadores, mas nem por isso tais dias de culto religioso são
considerados como sagrados ou dedicados ao descanso do trabalho secular.
12.6 Considerações finais
Como cristãos, fundamentados na Palavra de Deus, nós adotamos o “grande
princípio protestante de que ‘a Bíblia e a Bíblia só’ é a regra de fé e prática” (GC, 243).
Portanto, as Escrituras Sagradas são para os fiéis cristãos a única regra de fé, norma de
conduta e doutrina suficiente e infalível.
É claro que não podemos empregar as Escrituras Sagradas para “tentar”
encontrar alguma base ou justificativa com o fim de defendermos algumas idéias ou
doutrinas particulares ou preconcebidas. O mundo está cheio de heréticos que assim
procedem e fazem mal uso das Escrituras Sagradas.
A bem da verdade é que a própria Bíblia Sagrada interpreta-se a si mesma. A
regra fundamental é que “a Bíblia interpreta-se com a Bíblia” através da chamada
“interpretação autêntica contextual”.
Fora do universo das Escrituras Sagradas, o “primeiro dia da semana” é
popularmente conhecido pelo nome de “domingo”. Este nome provém do latim
"Dominica dies", que etimologicamente quer dizer “dia do Senhor”. Porém, o nome
“domingo” não se encontra registrado em nenhum lugar do Novo Testamento. Nem
mesmo poderia estar, simplesmente porque o Novo Testamento foi escrito em grego,
porém, a palavra domingo é de origem latina.
Portanto, a frase bíblica “dia do Senhor” jamais poderia ser traduzida em
qualquer versão da Bíblia Sagrada pela designação de “domingo”. As variantes bíblicas
que substituem a frase escriturística “dia do Senhor” pela expressão latina “domingo”
são tendenciosas e indignas de crédito. Elas não são traduções da Palavra de Deus, mas
não passam de interpretações criadas de acordo com a própria consciência e
compreensão dos intérpretes. Com tal procedimento os tradutores mudam totalmente o
verdadeiro sentido da Palavra de Deus, a qual passa a dizer coisas que jamais passou
pela cabeça dos escritores bíblicos originais.
“Há em muitas igrejas ceticismo e infidelidade na interpretação das Escrituras.
Muitos, muitos mesmo, põem em dúvida a veracidade e verdade das Escrituras. Os
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
raciocínios humanos e as imaginações do coração do homem estão minando a
inspiração da Palavra de Deus, e o que podia ser recebido como garantido, é circundado
com uma nuvem de misticismo. Coisa alguma aparece em linhas claras e distintas,
assentada no fundamento da rocha. Este é um dos sinais marcantes dos últimos dias”. (I
ME, 15).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 13 A Bíblia e o Domingo
“Deus, em Sua Palavra, estabeleceu regras para ordenar o Seu culto, e que os
homens não estão na liberdade de acrescentar a essas regras ou delas tirar qualquer coisa”.
Ellen Gould White (GC, 289)
13.1 Introdução
Os antagonistas do sábado bíblico parecem que estudam e debatem sempre pelo
mesmo e antiquado catecismo. Baseados em velhas e surradas suposições, os seus
argumentos, refutados centenas de vezes, ainda continuam sendo os mesmos. Afirmam,
sem nenhum respaldo nas Escrituras Sagradas, que o “domingo” é o “dia do Senhor”,
que está mencionado da Bíblia Sagrada.
No desespero incontido de defender a causa do domingo pagão em detrimento
do sábado bíblico, alguns se aventuram a interpretar ardilosamente as mais claras
mensagens das Escrituras Sagradas e, depois de perverterem o verdadeiro sentido da
Palavra de Deus, apelam para os teólogos e para os pais da Igreja com o objetivo de
obter apoio para suas descabidas e pretensiosas suposições em defesa do domingo.
A verdade é que não existe nas Escrituras Sagradas nada indicando que o
domingo deve ser considerado pelos cristãos como qualquer coisa além de um simples
dia comum da semana, tanto é verdade que os primeiros cristãos designavam esse dia
pelo singelo nome de “primeiro dia da semana”.
13.2 Santidade de todos os dias
Para desprezar a santidade que pertence exclusivamente ao dia do sábado, alguns
afirmam gratuitamente e sem nenhum fundamento nas Escrituras Sagradas que todos os
dias da semana são iguais. Outros asseguram que todos os dias da semana são santos.
Porém, esses “doutores” estão completamente equivocados, porque a Bíblia
Sagrada revela claramente que Deus abençoou e santificou com exclusividade absoluta
somente o sétimo dia da semana, o qual é identificado na Palavra de Deus como sendo o
dia de sábado. A leitura das Escrituras Sagradas ainda revela que nenhum outro dia da
semana – nem mesmo o domingo – foi abençoado ou santificado pelo Senhor.
Quando o Senhor abençoou e santificou o sétimo dia da semana, Ele estava
estabelecendo claramente que nem todos os dias da semana são iguais e que nem todos
os dias da semana são santos.
Quem afirma que todos os dias são iguais estão na mesma situação dos cristãos
heréticos de Roma, que foram advertidos pelo apóstolo Paulo porque: “um faz diferença
entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias” (Romanos 14:5).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Na verdade quem afirma que todos os dias da semana são iguais ou santos, está
mostrando um total desconhecimento das Escrituras Sagradas. Mostra total ignorância
do profundo significado da palavra “santo”.
Porque afirmar que todos os dias são santos, quanto Deus deixa bem claro que
somente o sábado é santo? Por que dizer que todos os dias são iguais, quando Deus
distinguiu somente o dia do sábado dos demais dias da semana? Todas essas afirmações
gratuitas estão destituídas de fundamento bíblico, razão pela qual devem ser rechaçadas.
13.3 A observância de todos os dias
Para desprezar a santidade do dia do sábado existe um grupo de pessoas
totalmente desavisadas que afirmam guardar todos os dias da semana.
A verdade é que esse grupo está totalmente iludido, para não dizer coisa pior.
Deus nunca mandou ninguém guardar ou santificar todos os dias da semana. Isso é uma
impossibilidade para o ser humano, que tem tantas outras atividades ordinárias para
realizar no dia a dia.
Além disso, foi o próprio Senhor nosso Deus quem estabeleceu o sétimo dia da
semana como um dia especial para ser observado por todos os Seus filhos. Esse dia foi
especialmente separado e distinguido de todos os demais pelos seguintes atos divinos:
1º) O sétimo dia da semana foi o único dia “abençoado” por Deus;
2º) O sétimo dia da semana foi o único dia “santificado” por Deus. Ou seja, o sétimo dia
da semana foi separado dos demais dias para ser, entre todos os dias, o “santo dia do
Senhor”.
Quem afirma que guarda todos os dias da semana, na verdade está totalmente
enganado e não guarda nenhum dia. Primeiro porque demonstra visivelmente
desconhecer o significado bíblico da palavra “santo”. Segundo porque, para santificar
qualquer dia da semana, é absolutamente necessário abandonar todas as espécies de
atividades mundanas. Isto implica em abandonar o trabalho secular, deixar de comprar,
vender, comercializar, estudar nas escolas seculares etc. Terceiro, Deus nunca requereu
a guarda de todos os dias da semana. Muito pelo contrário, o Senhor ordenou
claramente para que todos trabalhassem durante os seis dias da semana, mas deveriam
descansar e santificar somente no dia do sábado (Êxodo 20:8-11).
13.4 O dia de Pentecostes
Atos 2:1-4 – “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo
lugar. E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e
encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas
repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram
cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia que falassem”.
O derramamento do Espírito Santo deu-se no dia de Pentecostes (Atos 2:1).
Ocorre que o dia de Pentecostes, desde sua instituição na antiga época de Moisés,
sempre foi programado para cair num dia semanal fixo.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Essa grandiosa festa cerimonial judaica sempre era realizada no dia que vem
após o sábado: o quinquagésimo dia (Levítico 23:15-16). É claro que o dia que sucede o
sábado é o primeiro dia da semana. Tratava-se de um sábado cerimonial festivo, que foi
totalmente abolido com a morte de Cristo.
O derramamento do Espírito Santo, em si mesmo, é algo extraordinário e
maravilhoso. Ele aconteceu várias vezes no decorrer da história da Igreja. Porém, não
existe nada de extraordinário o pentecostes ter ocorrido no primeiro dia da semana,
porque esse dia, desde a mais remota antiguidade, sempre foi a data cerimonial festiva
designada para ser o dia de comemoração da festa judaica de pentecostes.
O derramamento do Espírito Santo no quinquagésimo dia de Levítico 23:15-16,
simplesmente representa o cumprimento tipológico apontado pela antiguíssima festa de
pentecostes realizada no primeiro dia da semana uma vez por ano. O próprio autor do
livro intitulado “Os Atos dos Apóstolos” reconhece tal fato ao afirmar: “cumprindo-se o
dia de Pentecostes...”.
É claro que o primeiro dia da semana não adquiriu nenhuma importância
relevante ou qualquer caráter sagrado pelo fato do Espírito Santo ter sido derramado
nesse dia. Em si mesmo, o dia era tão insignificante para os cristãos que Lucas nem se
deu ao trabalho de mencionar que se tratava do primeiro dia da semana. Mas, fez
questão de mencionar o nome de uma festa cerimonial judaica, que foi abolida com a
cruz.
A verdade é que nenhum acontecimento, por mais extraordinário ou grandioso
que seja, pode dar ao homem o direito de mudar o dia de repouso que o próprio Deus
estabeleceu por Sua soberana vontade e autoridade. Muito menos pode o homem
justificar-se dizendo que guarda o primeiro dia da semana porque o Espírito Santo foi
derramado nesse dia. Somente Deus, como o Grande Legislador, é quem de fato pode
revogar aquilo que Ele mesmo legislou. Deus não deu autoridade legislativa a nenhum
ser humano sobre as coisas espirituais.
Observe que a Bíblia Sagrada não chama o derramamento do Espírito Santo de
“pentecostes”. Na verdade, “pentecostes” era o nome da festa cerimonial judaica que
caía no primeiro dia da semana, realizada uma vez por ano.
O derramamento do Espírito Santo nunca possuiu o condão de conferir santidade
ou importância a qualquer dia da semana. Mesmo porque o Espírito Santo foi
derramado abundantemente em muitas outras ocasiões (Atos 4:31; 8:15-17; 10:44), e
nem por isso os cristãos procuram observar os demais dias em que o Espírito Santo foi
derramado.
13.5 O Concílio de Jerusalém
Atos 15:19-21 – “Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios,
que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos
ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Porque Moisés, desde os
tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas
sinagogas”.
O Concilio de Jerusalém foi convocado pela Igreja porque os cristãos
judaizantes estavam apregoando entre os cristãos gentios a seguinte forma de
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
procedimento religioso: “se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não
podeis salvar-vos” (Atos 15:1).
Como a circuncisão era uma lei cerimonial, tal situação causou certo
desconforto, o que levou Paulo e Barnabé a “não pequena discussão e contenda contra
eles” (Atos 15:2). Por essa razão “resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles,
subissem a Jerusalém aos apóstolos e aos anciãos sobre aquela questão” (Atos 15:2).
A Igreja em concílio, sob a orientação do Espírito Santo, decidiu proibir aos
cristãos gentios de participarem “das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da
carne sufocada, e da fornicação”. Tal determinação foi necessária porque os cristãos
gentios ainda não haviam se desligado totalmente dessas práticas pagãs.
Quando a Igreja decidiu não infligir aos conversos gentios “mais encargo
algum”, ela estava dizendo que não seria imposto aos cristãos gentios mais nenhuma
incumbência, além daquelas que eles já tinham recebido das Escrituras Sagradas, haja
vista que o Concílio de Jerusalém deliberou que “Moisés, desde os tempos antigos, tem
em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas” (Atos 15:21).
Muitos judeus e gentios que assistiam aos cultos religiosos na sinagoga se converteram
ao cristianismo. Todavia, esses novos cristãos continuavam se reunindo aos sábados nas
próprias sinagogas, onde já estavam acostumados a cultuar. Conforme o Concílio de
Jerusalém, esses cristãos ouviam “desde os tempos antigos” em cada sábado a
mensagem das Escrituras Sagradas.
13.5.1 A falta de citação dos mandamentos
Os antagonistas do sábado supõem que o sábado foi abolido porque o Concílio
de Jerusalém não fez qualquer menção a tal prática. Mas também é digno de nota
observar que o Concílio de Jerusalém também não fez nenhuma alusão ao domingo.
Ora, se o sábado não deve ser guardado porque o Concílio de Jerusalém não o
mencionou – então por uma questão de coerência – o domingo também não deve ser
guardado porque o Concílio de Jerusalém também não o mencionou.
Apesar da falta de bom siso por parte dos adversários do sábado, a realidade é
que o Concilio de Jerusalém mencionou sim, a observância do sábado pelos cristãos
gentios que assistiam os cultos religiosos em muitas sinagogas, quando afirmou que
“Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é
lido nas sinagogas” (Atos 15:21). Essa declaração somente tem sentido se o Concílio de
Jerusalém estivesse fazendo referência aos cristãos que frequentavam as sinagogas,
posto que eles não estavam deliberando sobre os judeus, mas exclusivamente sobre os
cristãos gentios.
O fato de algum mandamento não ser mencionado numa determinada passagem
bíblica não prova que tal mandamento foi abolido. Por exemplo, o Concílio de
Jerusalém não recomendou a devolução dos dízimos, das ofertas ou a observância de
qualquer mandamento do decálogo, tais como “não terás outros deuses diante de mim”;
“não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”; “honra a teu pai e a tua mãe”; “não
matarás”; “não adulterarás”; “não furtarás”; “não dirás falso testemunho”; “não
cobiçarás”, mas nem por isso pressupomos que os cristãos estavam dispensados de
observar tais mandamentos. Então por que pressupor que os cristãos estavam
dispensados de observar o sábado, quando não estavam dispensados de observar os
demais mandamentos do decálogo?
Uma outra forte evidência de que os cristãos gentios guardavam o sábado está
claramente demonstrado pelo fato dos judeus e dos cristãos judaizantes nunca os terem
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
acusados de quebrarem o sábado, como fizeram com Jesus. Mas eles foram
especificamente acusados de não observarem a lei da circuncisão.
Em certa ocasião, o apóstolo Paulo, em harmonia com a decisão do Concilio de
Jerusalém, declarou a importância da observância dos Dez Mandamentos em detrimento
da circuncisão ao afirmar que “a circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas sim a
observância dos mandamentos de Deus” (I Coríntios 7:19).
13.6 O “dia do Senhor” bíblico
“Foi no sábado que o Senhor da glória apareceu ao exilado apóstolo. O sábado
era tão religiosamente observado por João em Patmos como quando estava pregando ao
povo nas cidades e vilas da Judéia. Considerava como sua propriedade as preciosas
promessas feitas em referência a este dia. ‘Eu fui arrebatado em espírito no dia do
Senhor’” (AA, 581).
Apocalipse 1:10 – “Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de
mim uma grande voz, como de trombeta”.
Isaías 58:13 – “Se desviares o teu pé do sábado, de fazer a tua vontade no meu santo
dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra, e o
honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade,
nem falar as tuas próprias palavras”.
A etimologia da palavra “sábado” ou “domingo” não expressa nenhum dia
específico da semana. Do mesmo modo, é importante observar que a frase “dia do
Senhor” também não aponta para nenhum dia específico da semana.
Todavia, analisando “biblicamente” os dois versículos retro mencionados,
podemos constatar facilmente que a expressão “dia do Senhor” se refere com
exclusividade ao “sábado” bíblico e não ao “domingo”. Como a Bíblia Sagrada tem a
última palavra em questão de doutrina, fé e conduta cristã, então devemos formar a
firme convicção de que o sábado é de fato o “dia do Senhor”, pois assim “está escrito”.
Hoje em dia, o “primeiro dia da semana” é reconhecido pela maioria da
cristandade como sendo o “dia do Senhor”. Mas, infelizmente, esse reconhecimento é
imposto por força da astúcia do homem, da filosofia com seus rudimentos e das
tradições humanas, mas não por força das Escrituras Sagradas.
Onde está revelado nas Escrituras Sagradas que o “primeiro dia da semana” é o
dia do Senhor? Simplesmente não existe tal escritura. Pouco importa se o primeiro dia
da semana é chamado pelos homens de dia do Senhor, se o mesmo não estiver estribado
nas Escrituras Sagradas.
A Bíblia Sagrada nunca relacionou o “primeiro dia da semana” com a expressão
“dia do Senhor”. Todavia, ela declara enfaticamente que o “sábado” é o “dia do Senhor”
(Isaías 58:13). Portanto, as Escrituras Sagradas relacionam claramente o “sábado” à
expressão “dia do Senhor”.
“A Escritura Sagrada, porém, indica o sétimo dia e não o primeiro, como o dia
do Senhor. Disse Cristo: ‘O Filho do homem é Senhor até do sábado.’ O quarto
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
mandamento declara: ‘O sétimo dia é o sábado do Senhor.’ E pelo profeta Isaías o
Senhor lhe chama: ‘Meu santo dia’. Mar. 2:28; Isa. 58:13” (GC, 447).
Para os fiéis filhos de Deus, tudo o que está fora da Bíblia Sagrada não faz parte
do universo cristão (Atos 17:11). O domingo está fora das Escrituras Sagradas, portanto
não faz parte da vida do verdadeiro cristão, cuja fidelidade e viver está norteado
unicamente nos ensinos das Escrituras Sagradas (João 17:17).
13.7 Considerações finais
O livro do Apocalipse contém 505 citações e ilustrações de outras partes das
Escrituras Sagradas, especialmente do Antigo Testamento. Portanto, quando João
mencionou a expressão “dia do Senhor”, ele estava simplesmente fazendo uma
referência ao livro do profeta Isaías, o qual afirma explicitamente que o “sábado” é o
“dia do Senhor” (Isaías 58:13).
Também é evidente que, quando João fez referência ao “dia do Senhor” em
Apocalipse 1:10, ele não estava se referindo ao domingo, simplesmente porque, tanto
ele, como todos os demais escritores do Novo Testamento – mesmo decorrido vários
anos após a morte de Cristo – ainda continuavam identificando o primeiro dia da
semana por um singelo numeral ordinal “primeiro dia da semana”. Eles nunca
designaram tal dia pelo nome de “dia do Senhor”.
Também é claro que, caso João estivesse se referindo ao domingo em
Apocalipse 1:10, então ele teria utilizado a expressão usual empregada por todos os
escritores bíblicos: “primeiro dia da semana”. A conclusão obvia é que os primeiros
cristãos jamais reconheceram ou consideraram o primeiro dia da semana como o “dia do
Senhor”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 14 A Bíblia e o Dia do Senhor
“O mesmo espírito despótico que noutras eras tramou contra os fiéis há de tentar
extirpar da face da Terra os que temem a Deus e obedecem à Sua lei... não podendo apresentar contra os
defensores do sábado bíblico um ‘está escrito’, à falta deste, lançarão mão da violência”.
Ellen Gould White (II TS, 150)
14.1 Introdução
O dia do Senhor – como as Sagradas Escrituras definem o dia do sábado –
relembra, no ciclo semanal, a obra da criação realizada pelo Senhor: “Lembra-te do dia
do sábado, para o santificar... Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e
tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do
sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11).
O emprego da expressão “dia do Senhor” no Novo Testamento advém da
plenitude de sentido que o próprio Senhor Jesus Cristo atribuiu ao termo, quando
afirmou: “o Filho do homem até do sábado é Senhor” (Mateus 12:8).
Destarte, a frase “dia do Senhor”, que foi registrada no livro do Apocalipse,
expressa a profunda reverência que os primeiros cristãos sentiam pelo sétimo dia da
semana, conhecido desde a mais remota antiguidade como sendo o “dia do sábado”.
Não obstante esta verdade ser biblicamente irrefutável, alguns tendem a distorcer
o verdadeiro sentido das Escrituras Sagradas ao defenderem a suposição extrabíblica de
que o “dia do Senhor” mencionado em Apocalipse 1:10 é uma referência ao “domingo”.
Todavia, sob a perspectiva bíblica, tal posição é injustificável e, portanto, inaceitável
para os fiéis filhos do Senhor Jeová.
Como herdeiros do “espírito” da Reforma Protestante, nossa fé, doutrinas e
normas de conduta encontram-se baseadas unicamente nos ensinos das Escrituras
Sagradas. Daí justifica o fato de termos adotado o bandeira fundamental da Reforma
Protestante: “Sola scriptura”.
Com relação ao dia sagrado de repouso, não importa o que os homens dizem,
mas sim o que as Escrituras Sagradas dizem, e elas dizem que o sábado é o “dia do
Senhor”. Ponto final!
14.2 “Kyriaké hémerà” e o sábado
O Novo Testamento foi escrito em grego. A expressão grega “kyriaké hémerà”
de Apocalipse 1:10 significa literalmente “dia do Senhor”. Esse vocábulo não indica
nenhum dia especifico da semana.
Então, a pergunta que surge nas mentes esclarecidas é a seguinte: Qual dia da
semana é identificado pela Bíblia Sagrada como sendo o dia do Senhor? A própria
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Escritura Sagrada responde explicitamente a essa pergunta afirmando que o “sábado” é
o “dia do Senhor” (Isaías 58:13).
Não existe em nenhum lugar das Escrituras Sagradas qualquer referência
afirmando ou mesmo insinuando que o “primeiro dia da semana” é o “dia do Senhor”, o
qual é conhecido nos dias de hoje pela designação de “domingo”, nome este totalmente
ignorado pelas Escrituras Sagradas.
A frase grega “kyriaké hémerà” é mencionada somente uma única vez no Novo
Testamento. Ela é citada no livro do Apocalipse e expressa a profunda convicção que os
primeiros cristãos tinham com relação ao sábado ser o dia do Senhor, sobremodo porque
a expressão “kyriaké hémerà” é uma transliteração da expressão hebraica empregada
pelo profeta Isaías, que afirma explicitamente que o sábado é o “dia do Senhor” (Isaías
58:13).
Na época em que João escreveu o Livro do Apocalipse haviam decorrido mais
de sessenta anos desde a morte de Cristo. Mesmo assim, naquela altura da história da
Igreja, o “primeiro dia da semana” ainda não era conhecido ou reconhecido pelos
escritores bíblicos como sendo o “dia do Senhor”.
Caso os apóstolos compreendessem que o primeiro dia da semana era o dia do
Senhor, então o evangelista João teria se referido ao primeiro dia da semana como “dia
do Senhor” ao escrever o seu Evangelho, o qual foi produzido aproximadamente na
mesma época do Apocalipse. Entretanto, o santo apóstolo se limitou a identificar tal dia
por um simples numeral ordinal, “primeiro dia da semana", sem qualquer designação
especial ou qualquer sentido de reverência pelo dia.
Igualmente, outros escritores bíblicos, escrevendo sobre eventos que ocorreram
várias décadas após a morte de Cristo, se reportam a esse dia pela simples designação de
“primeiro dia da semana”, conforme registrado em Atos 20:7 e I Coríntios 16:1-3.
Todos eles mostram total desconhecimento a respeito da suposição de que o “primeiro
dia da semana” seria o “dia do Senhor”.
14.3 Transposição literária
O apóstolo João relatou em Apocalipse 1:10 o seguinte evento extraordinário:
“Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor”.
A expressão “dia do Senhor” também aparece em Isaías 58:13, como uma
transposição literária de Êxodo 16:23, bem como de Êxodo 16:25; 20:10; Levítico 23:3
e Deuteronômio 5:14. Todas essas expressões fazem clara referência ao sábado, como
sendo o “dia do Senhor”. Ou seja, a expressão “dia do Senhor” tem a sua origem na
expressão bíblica “sábado do Senhor” (Êxodo 16:25; 20:10), enquanto que a expressão
“santo dia do Senhor” origina-se da declaração bíblica “santo sábado do Senhor”
(Êxodo 16:23).
João escreveu sessenta e seis anos após a morte e ressurreição de Cristo, mas em
seus escritos ele nunca se referiu ao “primeiro dia da semana” como sendo o “dia do
Senhor”. Portanto, fica claro que, quando João escreveu o Apocalipse, ele estava se
referindo ao dia do “sábado”, conforme a definição bíblica para a expressão “dia do
Senhor”. Se João estivesse se referindo ao domingo ele teria empregado a designação
bíblica usual: “primeiro dia da semana”.
É bem verdade que o termo “sabbath” não aparece no Livro do Apocalipse, mas
sim a sua variante “dia do Senhor”. É claro que nenhum léxico jamais poderá traduzir a
expressão “sabbath” como “dia do Senhor”, simplesmente porque a palavra “sabbath”
quer dizer “repouso”, “descanso”. Todavia, é fato incontestável que a frase: “sétimo dia
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
da semana”, “sábado do Senhor” ou “dia do Senhor” são expressões variantes
equivalentes, pela quais a Bíblia Sagrada tem designado o santo “sabbath”.
Como foi visto, as Escrituras Sagradas contém vários exemplos onde a
expressão “dia do Senhor” é aplicada exclusivamente ao “sábado do Senhor”. Tal
expressão jamais foi aplicada, pela Bíblia Sagrada, a qualquer outro dia da semana e
muito menos ao domingo.
14.4 O “dia do Senhor” na escatologia
Apenas para ficar registrado, é interessante observar que a expressão hebraica
“dia do Senhor” também pode ser vertida para o grego como “hemera tou kyriou”. Tal
expressão é muito diferente de “kyriaké hémerà”, que foi empregada por João no livro
do Apocalipse.
A diferença entre essas duas frases consiste no seguinte: A expressão “kyriaké
hémerà” é uma clara referência ao sábado semanal, mas a expressão “hemera tou
kyriou” trata-se de uma referência “escatologia” ao grande dia do Senhor.
Portanto, as Escrituras Sagradas evidenciam a existência de duas expressões
gregas distintas para a frase “dia do Senhor”. Mas, para que fique bem claro, nunca é
demais repetir a diferença existente entre elas:
1º) “kyriaké hémerà”: – “dia do Senhor” – faz referência ao “sábado” bíblico – dia em
que João foi arrebatado em espírito para receber parte da visão do Apocalipse. Ela
designa um período certo e específico de vinte e quatro horas;
2º) “hemera tou kyriou”: – “dia do Senhor” – faz referência à escatologia bíblica – dia
da segunda vinda de Cristo a este mundo Ela não designa nenhum período especifico de
tempo. Mas aponta para um evento futuro que ocorrerá numa data incerta.
14.5 Qual dia da semana é o “kyriaké hémerà”
O Novo Testamento revela que o “dia do Senhor” registrado em Apocalipse 1:10
foi escrito em grego no caso dativo: “kyriaké hémerà”. Etimologicamente, essa palavra
grega não expressa nenhum dia específico da semana, do mês ou do ano. Essa expressão
apenas quer dizer: “dia do Senhor”. Então, qual dia da semana é designado pela “Bíblia
Sagrada” como sendo o “dia do Senhor”?
Não existe nenhum fundamento escriturístico para questionar a sua aplicação ao
sábado bíblico. Pois é a própria Bíblia Sagrada quem deixa bem claro que o sábado é o
“dia do Senhor” (Êxodo 16:23; 16:25; 20:10; Levítico 23:3; Deuteronômio 5:14; Isaías
58:13; Mateus 12:8). Todavia, não existe nenhuma “evidência bíblica” de que o
“primeiro dia da semana” é o “dia do Senhor”.
Somente levando em consideração a força da vã filosofia e da tradição humana é
que o “primeiro dia da semana” passou a ser conhecido em latim como "Dominica
dies", o qual é traduzido pela expressão “dia do Senhor” de onde resulta em português o
vocábulo “domingo”.
Contrariando o que diz as Escrituras Sagradas, a expressão “kyriaké hémerà”
pode ser empregada livremente e indiscriminadamente pelos homens para nomear
qualquer dia da semana que desejarem. Principalmente porque “kyriaké hémerà” não
designa nenhum dia específico. Basta que alguma pessoa mal-intencionada queira
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
designar tal dia com o nome de “dia do Senhor” e depois dizer que João foi arrebatado
em tal dia.
Todavia, a Bíblia Sagrada considera exclusivamente o “sábado” como sendo o
verdadeiro e único “dia do Senhor”. As Escrituras Sagradas jamais empregaram a
expressão “kyriaké hémerà” para designar o primeiro dia da semana (domingo), mas
elas aplicam tal expressão com exclusividade absoluta ao “sétimo dia da semana”. O
que é correto, posto que está em harmonia com os demais textos das Escrituras
Sagradas.
Somente por força de “tradições” contrarias as Escrituras Sagradas é que os
homens conseguem associar o termo “dia do Senhor” ao “primeiro dia da semana”.
Todavia, a Bíblia Sagrada jamais associou ou ligou a expressão “dia do Senhor” ao
“primeiro dia da semana”.
A Palavra de Deus é muito explicita e clara em designar o “dia do Senhor” como
sendo o “sábado” bíblico. Ela também é precisa em designar o “primeiro dia da
semana” por um simples numeral ordinal, sem qualquer denominação reverencial ou
qualquer outra conotação especial.
14.6 “Kyriaké hémerà” e o domingo
Apesar da Bíblia Sagrada ensinar claramente que o vocábulo “kyriaké hémerà” –
“dia do Senhor” – é uma referência específica ao “sábado”, a verdade é que algumas
pessoas, inadvertidamente, aplicam tal expressão ao “primeiro dia da semana”. Mas o
fazem por conta e risco próprio, uma vez que não possuem nenhum respaldo bíblico.
Não encontrando fundamento nas Escrituras Sagradas para justificar a guarda do
domingo, os antagonistas do “santo sábado do Senhor” procuram basear as suas
suposições em alguns escritos apócrifos e nos livros dos pais da igreja, cujas obras
foram mutiladas no decorrer da Idade Média para se adaptarem aos ensinos católicos.
A palavra “domingo” é de origem latina e significa “dia do Senhor” –
“Dominica dies”. Mas ocorre que a palavra “domingo” nunca fez e nunca poderá fazer
parte da Bíblia Sagrada, simplesmente porque o Novo Testamento foi escrito em grego
e a palavra “domingo” é de origem latina. Portanto, toda vez que a expressão “kyriaké
hémerà” for traduzida deverá ser vertida para o vernáculo “dia do Senhor”, sem
designar qualquer dia específico. Caso contrário, estaremos diante de uma interpretação
e não de uma honesta tradução.
Em nenhum lugar do Novo Testamento o “primeiro dia da semana” é
identificado pelo nome de “domingo”. Nem mesmo é designado pela expressão “dia do
Senhor”. Ou seja, o domingo nunca foi chamado no Novo Testamento de “dia do
Senhor” porque, como já foi dito, a palavra “domingo” é de origem latina e o Novo
Testamento foi escrito em grego.
É fato digno de nota que, desde o Gênesis até ao Apocalipse, os escritores
bíblicos nunca empregaram o termo “dia do Senhor” para designar o “primeiro dia da
semana”. Mas, empregaram a expressão “dia do Senhor” e outras semelhantes para
designar exclusivamente o dia do “sábado”.
Também se sabe que na época de Jesus e dos santos apóstolos a palavra
“domingo”, designando o primeiro dia da semana, não existia em nenhuma língua do
mundo. Também é certo, que o escritor do livro do Apocalipse não criou a expressão
“kyriaké hémerà”, que foi vertida para o latim como “Dominica dies”. O que João fez
foi simplesmente traduzir para o grego a expressão hebraica “dia do Senhor” que havia
sido empregada pelo profeta Isaías (Isaías 58:13).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Portanto, tendo em vista que a expressão grega “kyriaké hémerà”,
etimologicamente, significa “dia do Senhor”, e que a Bíblia Sagrada é a sua própria
intérprete, então concluímos que tal expressão somente pode estar se referindo ao “santo
sábado do Senhor”. Mesmo porque nas Escrituras Sagradas não existe a palavra
domingo, e nem mesmo existe qualquer passagem bíblica relacionando ou ligando o
“dia do Senhor” ao “primeiro dia da semana”.
Foi somente por meio da apostasia de uma Igreja corrupta é que o termo “dia do
senhor” passou a ser aplicado ao “primeiro dia da semana” e, posteriormente, com a
latinização do termo, o “dia do Senhor” transformou-se no famigerado “Dominica dies”
que foi vertido para o português como “domingo”.
14.7 Dia do Senhor e os Pais da Igreja
Sem nenhum fundamento nas Escrituras Sagradas, alguns trechos dos livros dos
pais da igreja registram a expressão “dia do Senhor”, que segundo alguns interpretes
serve para designar o “primeiro dia da semana”, conhecido como domingo. Mas, como
cristãos, a nossa fé está vinculada unicamente no que as Escrituras Sagradas ensinam,
especialmente porque somos norteados pelo princípio basilar da Reforma Protestante: “a
Bíblia e a Bíblia só”, princípio esse conhecido pela designação de “Sola scriptura”.
Ora, a Bíblia Sagrada designa o sétimo dia da semana como “sábado do Senhor”
(Êxodo 16:23; 16:25; 20:10; Levítico 23:3; Deuteronômio 5:14). A força desses
versículos bíblicos é incontestável. Eles são contundentes em demonstrar que o “dia do
Senhor” é o “sábado” e não o “domingo”, o qual nem mesmo é mencionado na Bíblia
Sagrada. Além disso, pouco importa o fato da expressão “dia do Senhor” estar
registrado no Antigo Testamento. O que importa é que o Antigo Testamento é inspirado
por Deus e os seus conceitos servem perfeitamente para identificar e designar qual é o
“dia do Senhor”.
Também é fato incontestável que todos os escritores bíblicos sempre designaram
o dia que hoje é identificado como “domingo” pela singela denominação de “primeiro
dia da semana”. Esse dia nunca foi designado pela Bíblia Sagrada como “dia do
Senhor”.
Por conseguinte, caso João em Apocalipse 1:10, estivesse se referindo ao
domingo, ele certamente teria repetido a designação usual conhecida por todos e
largamente empregada no Novo Testamento: “primeiro dia da semana”. Mas João não o
fez, simplesmente porque ele não estava se referindo ao primeiro dia da semana, mas
sim ao sábado bíblico.
O que João fez foi empregar a expressão “dia do Senhor” já existente nas
Escrituras Sagradas (Isaías 58:13), para se referir ao sétimo dia da semana, expressão
essa que jamais teve qualquer referencia ao primeiro dia da semana.
Quando João escreveu o seu evangelho, aproximadamente na mesma época em
que escreveu o apocalipse, ele empregou amplamente a expressão “primeiro dia da
semana” sem, contudo, dar-lhe qualquer conotação sagrada. Com essa atitude, o santo
apóstolo mostrou ao mundo que ele não conhecia e nem reconhecia o “primeiro dia da
semana” como sendo o “dia do Senhor”.
14.8 O vocábulo latino
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O vocábulo “domingo” não se encontra registrado em nenhum lugar da Bíblia
Sagrada. Tal fato ocorre porque a doutrina herética do domingo foi introduzida no seio
do cristianismo alguns poucos séculos depois da morte de Cristo e dos santos apóstolos.
A própria origem latina da palavra “domingo” atesta a sua procedência romana,
e não bíblica. Tal palavra foi forjada no seio de Roma através dos filósofos cristãos
neoplatônicos, dos decretos dos imperadores e dos concílios da Igreja Católica do
Império Romano. Portanto, o domingo não é uma doutrina divinamente inspirada pelo
Espírito Santo e muito menos uma revelação bíblica.
A expressão “kyriakos”, em sentido adjetivado, significa “pertencente ao
Senhor”. Na Bíblia, a palavra se refere ao sábado do sétimo dia da semana, o qual
explicitamente é dito que pertence ao Senhor (Levítico 19:30; 26:2; Isaías 56:4;
Ezequiel 20:12). Mas os cristãos gentios pós-apóstolos aplicaram-na ao primeiro dia da
semana, e posteriormente devido a enorme influência da Igreja romana a expressão foi
transfigurada para o latim como “Dominica dies”.
14.9 A Vulgata Latina de Jerônimo
Quando Jerônimo traduziu a Bíblia Sagrada para a língua latina, entre fins do
século IV e início do século V, ele verteu a expressão grega “kyriaké hémerà” para
“Dominica dies” (dia dominical) e não para “Dia domini” (dia do Senhor). Ou seja,
Jerônimo “interpretou”, equivocadamente, “kyriaké hémerà” como sendo o “primeiro
dia da semana”, quando na realidade, biblicamente falando, “kyriaké hémerà” é o
“sétimo dia da semana”, conhecido como “sábado”. Quando Jerônimo fez essa
extrapolação ele não estava traduzindo, mas “interpretando” as Escrituras Sagradas.
Como a Bíblia Latina se tornou a Bíblia oficial da Igreja Católica, então todas as
versões católicas para outras línguas foram traduzidas a partir da Vulgata de Jerônimo.
Por serem tradução de tradução, perpetuaram o erro de Jerônimo. Daí, a versão em
língua portuguesa de Antônio Pereira de Figueiredo traduzir: “Eu fui arrebatado em
espírito num dia de domingo, e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de
trombeta”.
Assim também fazem muitas outras versões católicas, tais como a dos “Monges
de Maredsous”, “João José Pedreira de Castro”, “José Basílio Pereira”, “Matos Soares”
e outras. Todas perpetuaram a interpretação equivocada de Jerônimo, porque todas são
traduções feitas a partir da Vulgata Latina, que por sua vez é uma tradução. Razão pela
qual interpretam “kyriaké hémerà” como sendo “domingo”.
Ao contrário de muitas traduções católicas feitas em função da Vulgata Latina,
todas as traduções feitas a partir do grego traduzem “kyriaké hémerà” como “dia do
Senhor”, o que está correto, pois não procuram interpretar a expressão “dia do Senhor”
mas procuram simplesmente traduzir o sentido original do texto bíblico. Assim o fazem
a tradução de “João Ferreira de Almeida”, “A Bíblia de Jerusalém”, “Nova Versão
Internacional”, “A Bíblia Viva”, “A Bíblia na Linguagem de Hoje”, “Nova Tradução na
Linguagem de Hoje”, “A Bíblia Vozes” etc.
14.10 Considerações finais
A palavra “domingo” não consta nos textos originais da Bíblia Sagrada. É fato
consumado que não existe nenhuma relação bíblica ligando a frase “primeiro dia da
semana” com a expressão “dia do Senhor”. O “sábado” é o único dia registrado nas
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Escrituras Sagradas que se encontra relacionado com a expressão “dia do Senhor”
(Isaías 58:13).
A expressão “domingo” jamais poderia ter sido empregada na Bíblia Sagrada
para designar o “primeiro dia da semana”, simplesmente porque as Escrituras Sagradas
foram escritas em hebraico, aramaico e grego, mas a palavra “domingo” é de origem
latina.
Ao contrário do domingo, o sábado é o nome bíblico de um dia exclusivo criado
por Deus para servir de memorial da criação do mundo (Êxodo 20:8 e 11). A palavra
sábado vem de “shabath”, que significa “descanso”. Mas o vocábulo domingo é
totalmente desconhecido na Bíblia Sagrada.
O sábado além de comemorar a criação do mundo em seis dias, também é um
dia de descanso do trabalho secular (Êxodo 23:12; 34:21), dia de santa convocação
(Levítico 23:3), razão pela qual é dia de adoração, culto e oração (Lucas 4:16; Atos
16:13). Também é dia de atividades espirituais, tais como fazer trabalhos missionários,
visitar as enfermarias, os asilos, as creches, os encarcerados, suprir as necessidades dos
pobres etc.
“Precisamos tomar a firme posição de que não reverenciaremos o primeiro dia
da semana como o sábado, pois ele não é o dia que foi abençoado e santificado por
Jeová” (EF, 133).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 15 O Domingo e os Pais da Igreja
“Em quase todos os concílios o sábado que Deus havia instituído era rebaixado um
pouco mais, enquanto o domingo era em idêntica proporção exaltado. Destarte a festividade pagã veio finalmente
a ser honrada como instituição divina, ao mesmo tempo em que se declarava ser o sábado bíblico relíquia do
judaísmo, amaldiçoando-se seus observadores”.
Ellen Gould White (GC, 53)
15.1 Introdução
A igreja cristã, na época apostólica, nunca teve a intenção de romper com os
ensinos da santa lei de Deus (Dez Mandamentos). Tanto é verdade que a Igreja Católica,
desde o seu início, ainda mantém o ensino dos Dez Mandamentos, muito embora
estejam corrompidos pela heresia medieval que varreu a Igreja fundada por Cristo Jesus.
Caso os Dez Mandamentos tivesse sido abolido na época dos apóstolos, então
não teria nenhum sentido uma igreja apóstata restaurar a observância dos Dez
Mandamentos. A lógica é que a igreja corrompeu aquilo que vinha sendo observado.
“A profecia declarara que o papado havia de cuidar ‘em mudar os tempos, e a
lei’ (Daniel 7:25). Para cumprir essa obra, não foi vagaroso. A fim de proporcionar aos
conversos do paganismo uma substituição à adoração de ídolos, e promover, assim, sua
aceitação nominal do cristianismo, foi gradualmente introduzida no culto cristão a
adoração de imagens e relíquias. O decreto de um concílio geral estabeleceu, por fim,
este sistema de idolatria papista. Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu
eliminar da lei de Deus o segundo mandamento, que proíbe o culto das imagens, e
dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles” (HR, 328).
Os primeiros cristãos viam em Cristo o cumprimento das profecias bíblicas
(Lucas 24:27 e 44). Eles não enxergavam o rompimento com a religião existente, e
muito menos pensavam em estabelecer uma outra religião.
Durante muito tempo os cristãos continuaram participando dos cultos nas
sinagogas (Atos 15:21), adorando no templo (Lucas 24:53), guardando o sábado (Atos
16:13), abstendo-se de carnes imundas (Atos 10:10-16), bem como observando os
demais preceitos do decálogo. O próprio Senhor Jesus Cristo reconheceu que os cristãos
estariam guardando o santo sábado, mesmo depois de decorridas várias décadas de Sua
morte e ressurreição (Mateus 24:20).
15.2 Rancores contra os judeus
Os primeiros cristãos eram tão fiéis à lei, que “caíram na graça do povo” (Atos
2:47). Lucas testemunhou que os judeus se convertiam ao cristianismo aos milhares “e
todos são zeladores da lei” (Atos 21:20). O apóstolo Paulo, doutor dos gentios,
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
testemunhou ao mundo, na presença de judeus e de gentios, que ele cria na lei e que
nunca pecou em coisa alguma contra a lei. Observe o que o santo apóstolo afirmou:
Atos 24:14 – “Mas confesso-te isto: que, conforme aquele caminho que chamam seita,
assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos
profetas”.
Atos 25:8 – “Mas ele, em sua defesa, disse: Eu não pequei em coisa alguma contra a
lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César”.
Quem introduziu a observância do domingo pagão em detrimento do sábado
bíblico foram os conversos gentios de origem pagã. Muitos dos quais não tinham
nenhum compromisso com a lei de Deus e alimentavam desagradáveis rancores contra
os judeus e contra tudo que lembrasse o judaísmo.
Esse preconceito racista contra os judeus está expresso em muitos livros dos pais
da igreja. A verdade é que a mudança do sábado para o domingo não tinha o aval de
Jesus, dos santos apóstolos ou das Escrituras Sagradas. Tal mudança originou-se
exclusivamente pela autoridade do homem, através de suas filosofias e vãs subtilezas
(Colossenses 2:8).
No início do cristianismo, os primeiros cristãos, bem como os judeus
descansavam e cultuavam aos sábados, conforme determina o mandamento bíblico.
Com o decorrer do tempo a quantidade de gentios convertidos ao cristianismo tornou-se
maior do que a de judeus convertidos.
A partir de 189 d.C., os cristãos gentios de algumas localidades começaram a
estabelecer um dia de repouso e culto religioso diferente daquele que vinha, até então,
sendo praticado pela Igreja. Era o “mistério da injustiça” em operação (II
Tessalonicenses 2:7). Posteriormente tal heresia foi ratificada em 325 d.C. pelo Concílio
de Nicéia, que ordenou aos cristãos a observarem o primeiro dia da semana como
“Dominica dies”, em detrimento do sábado bíblico.
Agindo dessa forma, eles pensavam que estavam cortando os laços com os
judeus, quando na verdade estavam se distanciado dos ensinos das Escrituras Sagradas.
15.3 Justino e Inácio
Na metade do segundo século, Justino, o mártir, testemunhou que havia
conhecido cristãos judeus que guardavam o sábado e pregavam tal ensino aos cristãos
gentios. Isso é muito importante porque se trata de um fato histórico extrabíblico que
confirma que havia cristãos guardando o sábado. Todavia, em seu livro intitulado
“Diálogo com Trifão”, Justino expressou a sua opinião particular de que os cristãos
judeus poderiam guardar o sábado, mas que os cristãos gentios não precisavam guardar
tal dia.
Ocorre que tal afirmativa não passava de uma simples opinião de Justino. Ela era
destituída de qualquer autoridade, não possuindo nenhum respaldo nas Escrituras
Sagradas. Na verdade a opinião emitida por Justino é até mesmo contraria à própria
Bíblia Sagrada, sobretudo porque o Senhor nosso Deus não faz acepção de pessoas
(Deuteronômio 10:17; Atos 10:34; Romanos 2:11; I Pedro 1:17).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
No segundo século, um outro escritor cristão de origem gentílica conhecido pelo
nome de Inácio, bispo de Antioquia, mostrou o seu total desprezo contra as práticas que
ele considerava judaica. Diz ele: “É absurdo professar Cristo Jesus e judaizar. O
cristianismo não precisa abraçar o judaísmo, mas o judaísmo deve abraçar o
cristianismo, para que toda língua possa professar a companhia de Deus” (Aos
Magnésios, X).
Diante do exposto ficou claro que os primeiros cristãos guardavam os
mandamentos de Deus, inclusive o dia do sábado. Tanto é verdade que foram objeto de
críticas por parte de uma ala liberal composta por cristãos gentios, os quais possuíam
desagradáveis preconceitos contra os judeus. Foi por essa razão que acabaram por
corromper a observância do sábado, adotando a observância pagã do dia do Sol.
15.4 Testemunho de Justino
Entre os anos 153 a 155 da era cristã, Justino, o mártir, escreveu a seguinte
apologia em defesa do cristianismo:
“No dia dito do sol, todos aqueles dos nossos que habitam as cidades ou os
campos, se reúnam num mesmo lugar. Lêem-se as memórias dos apóstolos e os escritos
dos profetas... Quando a oração está terminada, são trazidos e vinho e água... Nós nos
reunimos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia, aquele em que Deus
transformou as trevas e a matéria para criar o mundo, e também porque Jesus Cristo
Salvador, ressuscitou dos mortos nesse dia mesmo” (I Apologia 67, 3. 7).
Justino, que era cristão de origem gentílica, chama o primeiro dia da semana de
“dia do Sol”, simplesmente porque ele não conhecia esse dia por nenhuma outra
designação, além da denominação bíblica usual empregada por todos os evangelistas:
“primeiro dia da semana”.
Em seus escritos, Justino procurou apresentar as várias atividades realizadas
pelos cristãos gentios daquela comunidade no dia do Sol. Porém, é digno de nota
observar que, entre tantas explicações, Justino não disse uma única palavra sobre um
suposto nome cristão para o primeiro dia da semana. Ele simplesmente argumenta que o
“dia do sol” é o “primeiro dia”. Em nenhum momento ele esclarece que o dia do Sol é o
“dia do Senhor”. Nunca afirmou que o dia do Sol é o domingo. Jamais falou que o
“primeiro dia” é o “dia do Senhor”. Seu silêncio sobre esse assunto é ensurdecedor.
Cumpre observar que, se essa passagem de Justino atesta alguma coisa, então ela
atesta que o nome pagão “dia do sol” é a designação usual para o “primeiro dia da
semana”. Justino não fez nenhuma questão de mencionar o “dia do Sol” por nenhum
outro nome especial, simplesmente porque tal nome não existia. Nada mais simples!
Entre os pagãos, todos os dias da semana recebiam nome próprio, razão pela
qual Justino também fez questão de identificar o primeiro dia da semana dizendo: “no
dia dito do Sol”, para distinguir dos demais dias pagãos. Como se dirige aos pagãos,
alguns dos quais são ferrenhos adversários dos cristãos, Justino lembra, sutilmente, que
o “dia do Sol” não é uma designação de origem cristã, haja vista que ele emprega a
expressão: “no dia dito do Sol”, haja vista que o nome bíblico pelo qual os cristãos
conheciam esse dia é “primeiro dia da semana”, nome que também foi empregado por
Justino: “primeiro dia”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Caso o primeiro dia da semana fosse conhecido entre os cristãos pelo nome de
“dia do Senhor”, com certeza Justino teria empregado tal argumento diante dos pagãos.
Mas não o fez! Por que não o fez? Simplesmente porque o primeiro dia da semana ainda
não era conhecido pelo título honroso de “dia do Senhor”. Tal dia era denominado pelos
cristãos de primeiro dia da semana e entre os pagãos como “dia do Sol”.
Visando justificar o culto religioso cristão no dia pagão do Sol, Justino apresenta
aos pagãos o antigo e débil argumento de relacionar alguns acontecimentos bíblicos
positivos, que tenham ocorrido no primeiro dia da semana. Observe a artimanha de
Justino: “é o primeiro dia, aquele em que Deus transformou as trevas e a matéria para
criar o mundo, e também porque Jesus Cristo Salvador, ressuscitou dos mortos nesse dia
mesmo”.
Destarte, dois são os argumentos de Justino: a criação e a ressurreição. Se o
primeiro dia da semana tivesse que ser observado com base no argumento da criação do
mundo, então os israelitas, os profetas, Jesus e os santos apóstolos guardaram o dia
errado. Seguindo o mesmo raciocínio podemos afirmar que, se o primeiro dia da semana
tivesse que ser observado com base no argumento da ressurreição, então Cristo e os
apóstolos esqueceram de mencionar tal fato.
Com base nesses dois argumentos inúteis, Justino dá mostra de sua simpatia para
com o dia pagão, “dito do Sol”. Mas, na falta de um claro mandamento bíblico
ordenando explicitamente a observância do primeiro dia da semana, Justino se vê
obrigado a empregar o ardil de relacionar o dia do Sol com algum evento bíblico que
tenha ocorrido nesse dia. Tudo isso com o objetivo de amenizar a origem pagã da
observância do primeiro dia da semana pelos cristãos gentios.
15.5 Constantino entra em cena
Constantino (Flavius Valerius Aurelius Constantinus) foi aclamado Augusto pelas
suas tropas em 25 de Julho de 306. Tornou-se governador supremo do Império Romano,
exercendo o poder supremo até a sua morte, em 22 de maio de 337. Durante os
primeiros anos do seu governo ele foi um convicto adorador do “Deus Sol Invicto”.
Mesmo depois de sua suposta conversão ao cristianismo, Constantino não
abandonou a sua prática de adoração pagã ao deus Sol, que foi mantido como o
principal símbolo de suas moedas até 315.
“Constantino favoreceu de modo igual a ambas religiões. Como sumo pontífice
ele velou pela adoração pagã e protegeu seus direitos” (Enciclopédia Católica). “No dia
anterior ao da sua morte, Constantino fizera um sacrifício a Zeus, e até o último dia
usou o título pagão de Sumo Pontífice. E, de fato, Constantino, até o dia da sua morte,
não havendo sido batizado, não participou de qualquer ato litúrgico, como a missa ou a
eucaristia.” (Enciclopédia Hídria).
Os decretos imperiais de Constantino mostram um imperador astuto que
consegue aos poucos levar o cristianismo às alturas. Observe o texto do edito de Milão
que, no ano 313 d.C, concedeu plena liberdade de consciência a todos os cristãos:
“Que qualquer divindade e poder celestial que possa existir seja propício a
nós... e assim que podemos conceder aos cristãos e a todos igualmente a livre escolha
de seguir o tipo de adoração que quiserem”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Constantino concedeu “aos cristãos e a todos igualmente a livre escolha de
seguir o tipo de adoração que quiserem”. Esse foi o primeiro passo, para fazer do
cristianismo a religião oficial do Império Romano.
Note que Constantino, numa extraordinária manobra política, ao conceder plena
liberdade religiosa aos cristãos, apresenta dois fortes argumentos para evitar qualquer
oposição por parte dos pagãos:
1º) Ele estabelece que as divindades e as bênçãos do poder celestial, porventura
existente, deveriam ser propícias ao Império Romano, incluindo até mesmo a divindade
cristã;
2º) Constantino estabelece a igualdade para todos adorarem livremente “o tipo de
adoração que quiserem”.
O edito agradava aos pagãos porque podiam alcançar o favor de mais uma
divindade e poder celestial abençoando o Império, e expurgava do coração pagão o
receio de perderem o direito de adorar aos seus deuses tradicionais, especialmente
porque Constantino concedeu “a todos igualmente a livre escolha de seguir o tipo de
adoração que quiserem”.
Com a sua decisão, o imperador favoreceu o cristianismo, que até então era tido
como uma religião proscrita pelo Império Romano. Mas a razão de produzir o decreto
era uma só: Constantino tinha no coração o desejo de unir cristãos e pagãos num único
corpo doutrinário.
15.6 Considerações finais
Com a cristianização do Império Romano, o “primeiro dia da semana” passou a
ser conhecido, por grande parte da cristandade, pela designação de “domingo” em
substituição ao nome pagão “dia do Sol”.
Com a designação de “domingo”, o título pagão “dia do Sol” passou a ser
revestido por uma roupagem cristã, que era mais aceitável aos religiosos da época.
Alguns pais da igreja, em algumas regiões do Império Romano, que
abominavam o judaísmo, passaram sistematicamente a desprezar a observância do
sábado considerando-o como relíquias dos judeus, passando a cultuar no primeiro dia da
semana.
Para justificar “biblicamente” o culto no primeiro dia da semana, eles
procuraram relacionar esse dia a alguns fatos descritos na Bíblia Sagrada. Em suas
pesquisas bíblicas, eles encontraram na criação do mundo e na ressurreição de Cristo
uma forma de extrapolar para a santificação do primeiro dia da semana.
Algo similar também ocorreu com muitos templos pagãos, que foram
transformados em igrejas. Nos nichos desses templos foram colocadas imagens de
mártires cristãos. Essas imagens substituíram as antigas imagens dos deuses pagãos, que
até então se encontravam nesses lugares. Destarte, as imagens dos santos bíblicos
revestiram os templos pagãos com uma aparência cristianizada.
“A fim de proporcionar aos conversos do paganismo uma substituição à
adoração de ídolos, e promover, assim, sua aceitação nominal do cristianismo, foi
gradualmente introduzida no culto cristão a adoração de imagens e relíquias. O decreto
de um concílio geral estabeleceu, por fim, este sistema de idolatria papista. Para
completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar da lei de Deus o segundo
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
mandamento, que proíbe o culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de
conservar o número deles” (HR, 328).
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Capítulo 16 A Imposição do Domingo
“Em quase todos os concílios o sábado que Deus havia instituído era rebaixado um
pouco mais, enquanto o domingo era em idêntica proporção exaltado. Assim a festividade pagã veio finalmente a
ser honrada como instituição divina, ao mesmo tempo em que se declarava ser o sábado bíblico relíquia do
judaísmo, amaldiçoando-se seus observadores”.
Ellen Gould White (HR, 330)
16.1 Introdução
Os pais da igreja, Justino Mártir (100-165), Tertuliano (155-222), Orígenes
(185-254), Atanásio e tantos outros mostram em seus escritos a existência de cristãos
repousando e adorando no sábado. Eles escreveram no segundo e terceiro séculos, muito
antes de existir a Igreja Católica do Império Romano.
Apesar da importância dos escritos dos Pais da Igreja, eles não podem ser
empregados como fonte de fé ou doutrina. Isto é obvio. Nenhum deles falou inspirado
pelo Espírito Santo, nem mesmo reivindicaram o dom de profecia. Ademais, a única
fonte de fé e doutrina do cristão ainda continua sendo as Escrituras Sagradas.
É sabido que as obras desses grandes autores passaram a sofrer mutilações e
falsificações para se adaptarem aos decretos imperiais e aos concílios eclesiásticos da
Igreja Católica Romana. Muitas variantes dos textos dos pais da igreja existem até aos
dias de hoje. A adulteração intencional de livros era uma atividade bastante comum
naqueles tempos medievais, até mesmo em época moderna. Por exemplo, no século
XVII, o livro cientifico de Nicolau Copérnico, intitulado “Das revoluções dos mundos
celestes”, foi proibido pela Igreja Católica de circular e colocado no “Índex” (livros
proibidos), até que as autoridades católicas fizessem as alterações que julgassem
necessárias para que o livro se adaptasse à visão cosmológica da Igreja romana.
Os escritores que contrariavam os ensinos da Igreja romana eram julgados
heréticos e suas obras queimadas em praça pública. Portanto, os primeiros protestantes
consideraram que “os ensinos dos pais da igreja deviam ser recebidos apenas quando
estivessem de acordo com as Escrituras” (GC, 243).
16.2 Decreto dominical de Constantino
O edito de Constantino que entrou em vigor em 3 de julho de 321 estabelecia a
seguinte norma para ser observada dentro das fronteiras do Império Romano:
“Que todos os juizes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e
artífices descansem no venerável dia do sol. Aos que residem no campo, porem
permita-se se entregarem livremente aos misteres de sua lavoura”.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Esse edito tinha por objetivo fundamental estabelecer entre cristãos e pagãos um
dia comum de repouso. O dia escolhido foi o “dia do Sol” porque era um dia tradicional
e sagrado para os pagãos romanos. Esse dia era, especialmente, caro para Constantino,
convicto adorador do “Deus Sol Invicto”. Tanto é verdade que o próprio imperador
chama esse dia de “venerável”, numa clara alusão ao seu profundo respeito e veneração
pelo dia do Sol.
É claro que, quando Constantino proíbe o trabalho secular nesse dia, ele está
impondo honra especial ao dia do Sol. Por força desse edito, tanto judeus como cristãos
que viviam dentro das fronteiras do Império Romano tiveram que se submeter ao
repouso do “venerável dia do Sol”.
O decreto do Imperador realizava um verdadeiro sincretismo religioso,
especialmente porque determinava a guarda do dia do Sol, tanto para pagãos, como para
judeus, cristãos e outros. Caso a observância do “dia do Sol” fosse uma prática normal e
natural entre os cristãos não haveria a necessidade de uma lei civil impondo tal prática.
Mas é interessante observar que os judeus e os cristãos jamais foram proibidos
de guardar e honrar o dia do sábado. Eles, simplesmente, passaram a guardar os dois
dias da semana. Essa foi a primeira lei civil legislando a respeito do repouso dominical.
“Em algumas comunidades, podia-se registrar a coexistência da observância do
sábado com a celebração dominical... Não faltaram, inclusive, setores da cristandade em
que o sábado e o domingo foram observados como ‘dois irmãos’” (Carta Apostólica
“Dies Domini”).
Quando Constantino empregou e expressão “dia do Sol”, ele estava usando o
nome próprio pelo qual o “primeiro dia da semana” era universalmente conhecido
dentro das fronteiras do Império Romano, tanto pelos pagãos, como judeus e cristãos.
Para Constantino o dia do Sol era um dia sagrado e muito especial, a ponto de
considerá-lo “venerável” para ser observado pelos seus súditos.
Constantino não escreveu o edito com outra expressão simplesmente porque não
havia nenhuma outra expressão conhecida naquela época que honrava e glorificava o
primeiro dia da semana. Tanto os judeus como os cristãos sempre conheceram o dia do
Sol pelo nome de “primeiro dia da semana”. De fato, o cristão Justino, chama o
primeiro dia da semana de “dia que se chama do sol”. Nunca o chamou de “dia do
Senhor”. Da ótica bíblica, a expressão “dia do Senhor” sempre se referiu ao sábado e
não ao primeiro dia da semana.
“Este espírito de concessão ao paganismo abriu caminho para desrespeito ainda
maior da autoridade do Céu. Satanás, operando por meio de não consagrados dirigentes
da igreja, intrometeu-se também com o quarto mandamento e tentou pôr de lado o
antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado (Gênesis 2:2-3), exaltando
em seu lugar a festa observada pelos pagãos como "o venerável dia do Sol". Esta
mudança não foi a princípio tentada abertamente. Nos primeiros séculos o verdadeiro
sábado foi guardado por todos os cristãos. Eram estes ciosos da honra de Deus, e,
crendo que Sua lei é imutável, zelosamente preservavam a santidade de seus preceitos.
Mas com grande argúcia, Satanás operava mediante seus agentes para efetuar seu
objetivo. Para que a atenção do povo pudesse ser chamada para o domingo, foi feito
deste uma festividade em honra da ressurreição de Cristo. Atos religiosos eram nele
realizados; era, porém, considerado como dia de recreio, sendo o sábado ainda
observado como dia santificado” (GC, 52).
16.3 Os camponeses
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
O edito civil legislado por Constantino determinava que, no “dia do Sol”, os
juizes, as cidades, os mercadores e artífices, cessassem o trabalho nesse dia. Porém é
digno de nota observar que o edito tinha uma excludente de ilicitude. Ele não se
aplicava aos camponeses, pois segundo a crença existente naqueles tempos antigos, o
“dia do sol” era o dia mais propício para as atividades do campo.
O edito de Constantino favorecia de modo especial o dia pagão conhecido como
dia do Sol. Observe que os camponeses não foram impedidos de exercer as suas
atividades agrícolas num dia que para eles era propício e especial para o cultivo.
Os camponeses, que representavam a maior parte da população do Império
Romano, jamais concordariam em cessar as suas atividades agrícolas num dia especial,
que tinha relação direta com o sucesso do cultivo.
Para honrar o “venerável” dia do Sol, Constantino proibiu que os habitantes da
zona urbana não realizassem qualquer espécie de atividade secular no dia do Sol.
Entretanto, para que não parecesse contraditório, o imperador permitiu que os
camponeses continuassem com os seus labores na lavoura, posto que eles também
estariam “venerando” o dia do Sol com as suas atividades de cultivo. Observe que, com
essa atitude, Constantino mais uma vez dá mostra de sua habilidade política em
administrar grupos divergentes.
16.4 A transferência do sábado
“Na primeira parte do século IV, o imperador Constantino promulgou um
decreto fazendo do domingo uma festividade pública em todo o Império Romano. O dia
do Sol era venerado por seus súditos pagãos e honrado pelos cristãos; era política do
imperador unir os interesses em conflito do paganismo e cristianismo. Com ele se
empenharam para fazer isto os bispos da igreja, os quais, inspirados pela ambição e sede
do poder, perceberam que, se o mesmo dia fosse observado tanto por cristãos como
pagãos, promoveria a aceitação nominal do cristianismo pelos pagãos, e assim
adiantaria o poderio e glória da igreja. Mas, conquanto muitos cristãos tementes a Deus
fossem gradualmente levados a considerar o domingo como possuindo certo grau de
santidade, ainda mantinham o verdadeiro sábado como o dia santo do Senhor, e
observavam-no em obediência ao quarto mandamento” (GC, 53).
Em 324, decorridos apenas três anos após Constantino ter legalizado a
observância do dia do Sol, o bispo Eusébio escreveu o que eles fizeram com o sábado
bíblico para poder atender mais eficazmente às determinações do decreto do imperador
romano. Observe o que ele diz:
“Todas as coisas que eram do dever fazer-se no sábado temos transferido para
o dia do Senhor (domingo), muito mais honrável do que o sábado”.
Mais uma vez está claramente demonstrado pelo testemunho da História
Universal que a transferência da solenidade do sábado para o dia do domingo não foi
realizada por mandamento bíblico, nem por ordem de Jesus e muito menos por qualquer
orientação dos santos apóstolos. Mas, essa mudança foi realizada unicamente pela
decisão de alguns poucos bispos cristãos de origem gentílica, que estavam ambiciosos
de poder e que bajulavam a Constantino.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Destarte, em obediência ao decreto de Constantino, alguns líderes religiosos,
como o bispo Eusébio, acharam por bem em transferir a solenidade da observância do
sábado bíblico para o domingo pagão.
Pasme para o que o bispo de Cesaréia disse terem feito com o sábado, após o
decreto de Constantino ter sido promulgado: “Todas as coisas que eram do dever fazer-
se no sábado temos transferido para o dia do Senhor”.
Sob o argumento subjetivo de que o domingo era “muito mais honrável do que o
sábado”, Eusébio procura racionalizar o passo temerário que vários bispos deram no
abismo do paganismo, ao transferirem para o dia do domingo todas as atividades que
eram dever do cristão fazer no dia do sábado. É digno de nota observar que em nenhum
momento as Escrituras Sagradas são citadas para justificar a mudança do sábado para o
domingo.
Portanto, está mais do que evidente que, nos primeiros séculos, os cristãos
guardavam o sábado bíblico, muito embora algumas comunidades também observavam
o primeiro dia da semana. Todavia, após a promulgação do decreto de Constantino no
século IV, vários bispos mobilizaram-se para transferir maciçamente a solenidade do
sábado para o domingo, sob o argumento de que o domingo era “muito mais honrável
do que o sábado”.
Desprezando as Escrituras Sagradas, o próprio bispo de Cesaréia confessa
abertamente e sem nenhum escrúpulo, que eles transferiram as solenidades realizadas no
dia do sábado para o “primeiro dia da semana”, o qual passou a ser conhecido pela
designação de “dia do Senhor”.
16.5 Concílio de Laodicéia
Quarenta anos após o decreto dominical civil, editado por Constantino, veio o
decreto dominical eclesiástico imposto por meio do Concílio de Laodicéia.
O Concilio de Laodicéia ocorreu no ano 364 na cidade de Laodicéia, localizada
na Frígia Pacatina. Contou com a presença aproximada de trinta e dois bispos da Ásia
Menor. A princípio, suas decisões começaram a vigorar na Síria, posteriormente em
Constantinopla e, finalmente, devido aos esforços do Papa Leão IV, passou a vigorar no
Ocidente. As decisões desse Concílio foram editadas no Corpus Juris Canonici.
O cânon 29 do Concílio de Laodicéia estabelece a seguinte norma de conduta
para todos os cristãos:
“Os cristãos não devem judaizar e descansar no sábado, mas trabalhar nesse
dia; devem preferir o dia do Senhor e descansar, se for possível, como cristãos. Se eles,
portanto, forem achados judaizando, sejam malditos de Cristo".
Esse edito veio a consolidar no seio da Igreja Cristã o decreto dominical
promulgado por Constantino. Pelos termos do decreto eclesiástico, podemos constatar
que os cristãos ainda continuavam observando o dia do sábado. Tanto é verdade que
foram proibidos de descansar no sábado e ordenados a trabalhar nesse dia.
Portanto, o Concilio de Laodicéia veio para estabelecer com exclusividade
absoluta a observância do domingo e proibir terminantemente a observância do sábado,
que até então vinha sendo observado pelos cristãos comprometidos com a Palavra de
Deus.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
A igreja de Laodicéia tinha sido motivo de especial atenção por parte do
apóstolo Paulo que lhe escreveu algumas cartas (Colossenses 2:1; 4:13; 4:15 4:16).
Além disso, uma das sete cartas apocalípticas foi endereçada a igreja de Laodicéia
(Apocalipse 1:11; 3:14). Diante de tanta instrução, a igreja de Laodicéia estava bem
estruturada nos ensinos apostólicos, razão pela qual ela guardava fortemente o sábado
bíblico.
É claro que a igreja guardava o sábado, caso contrário não haveria a necessidade
do decreto eclesiástico proibir a observância do sábado por parte daqueles fiéis cristãos.
O edito de Constantino não havia proibido ninguém de descansar no sábado ou
em qualquer outro dia da semana. O que o edito havia obrigado era o descanso no dia do
Sol. Portanto, o edito de Constantino não era contra o sábado, mas manifestava o
primeiro passo para o estabelecimento oficial da observância exclusiva do primeiro dia
da semana.
É evidente que, se antes do decreto de Laodicéia os cristãos estivessem
guardando regularmente o domingo, não haveria nenhuma necessidade do decreto
proibir a observância do dia do sábado pelos cristãos. Nem mesmo haveria necessidade
do decreto ordenar o descanso no domingo. Este fato prova sem margem de dúvida que,
com o decreto de Laodicéia, o descanso do sábado foi proibido e mais uma vez o
exaltado o descanso no domingo, vulgo dia do Senhor.
16.6 Carta do Papa Gregório I
Aproximadamente em 590 o papa Gregório, numa carta dirigida ao povo
romano, declarou que são pregadores do Anticristo todos que estivessem ensinando que
não se deve trabalhar no último dia da semana. Observe o inteiro teor da carta papal:
“Gregório I, bispo pela graça de Deus, a seus amados filhos, os cidadãos de
Roma: Chegou ao meu conhecimento que certos homens de índole perversa têm
disseminado entre vós coisas depravadas e contrárias à santa fé, pois proíbem que se
faça qualquer trabalho no sábado. Como os chamarei senão de pregadores do
Anticristo?” (Epitles, b. 13:1, em Labbes and Cossart, Sacrosancta Concilia, volume V.
col. 1511).
Uma análise do conteúdo dessa carta é muito significativa, pois demonstra
claramente que, mesmo nesse período avançado da história do cristianismo, ainda havia
na Igreja Apostólica Romana pessoas fiéis à Palavra de Deus que faziam questão de
observar o “santo sábado do Senhor”. Essas pessoas também ensinavam outras a
observar o sábado, abstendo de trabalhar nesse dia.
O ensino da observância do sábado estava tão “disseminado” que o Papa
Gregório I chegou a ponto de taxar esses fiéis representantes da verdade de “homens de
índole perversa” e “pregadores do Anticristo”. Esse papa considerava o ensino da
abstenção do trabalho no dia do sábado como “coisas depravadas” que, logicamente,
eram ensinos “contrários à santa fé” de sua Igreja apostatada das verdades bíblicas.
“As igrejas que estavam sob o governo do papado, foram logo compelidas a
honrar o domingo como dia santo. No meio do erro e superstição que prevaleciam,
muitos, mesmo dentre o verdadeiro povo de Deus, ficaram tão desorientados que ao
mesmo tempo em que observavam o sábado, abstinham-se do trabalho também no
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
domingo. Isto, porém, não satisfazia aos chefes papais. Exigiam não somente que fosse
santificado o domingo, mas que o sábado fosse profanado; e com a mais violenta
linguagem denunciavam os que ousavam honrá-lo. Era unicamente fugindo ao poder de
Roma que alguém poderia em paz obedecer à lei de Deus” (GC, 65).
16.7 Considerações finais
Na época do Concílio de Laodicéia (364 d.C.) não havia papas. Na verdade, o
primeiro papa foi Virgílio, que assumiu efetivamente essa posição no ano 538 d.C., por
força do decreto do Imperador Justiniano.
A realidade dos fatos históricos é que antes do decreto de Justiniano, a Igreja
estava dividida entre vários bispados. Sendo que o bispado do oriente era a autoridade
proeminente que dirigia o bispado do ocidente. Tanto é verdade que Libério, bispo de
Roma, no século IV caiu em desgraça e, para se ver livre das acusações, teve que se
reportar ao bispado do oriente. Portanto, era o bispado do oriente quem dava a última
palavra e dirigia a Igreja.
No Concílio de Laodicéia houve a participação de trinta e dois bispos das mais
diferentes províncias da Ásia Menor. Posteriormente, com a organização da Igreja
Estatal, sob o comando centralizado no bispo de Roma, as decisões do Concílio de
Laodicéia e todas outras decisões provenientes dos demais concílios, que até então
estavam esparsas, foram reunidas e transformadas em norma universal da Igreja
Católica Apostólica Romana.
Os Dez Mandamentos do Catecismo da Igreja Católica testemunham ao mundo a
heresia que varreu a verdade da Palavra de Deus para fora da Igreja fundada por Jesus
Cristo.
Os Dez Mandamentos registrados na Bíblia Sagrada proíbem o culto a qualquer
espécie de imagem e ordenam a observância do sábado. Porém, os Dez Mandamentos
do Catecismo, sem nenhum fundamento bíblico, omitem o mandamento que proíbe o
culto às imagens e no lugar do sábado apresenta como dia sagrado o domingo. Se a lei
de Deus não estivesse vigorando para os cristãos não teria nenhum sentido a Igreja
Católica adotar os Dez Mandamentos e corromper dois que lhe eram inconvenientes.
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
Epílogo
“Na conclusão da obra de Deus na Terra, a norma de Sua lei será de novo
exaltada. A falsa religião pode prevalecer, a iniquidade se generalizar, o amor de
muitos esfriar, a cruz do Calvário pode ser perdida de vista, e as trevas, como um
manto de morte, podem espalhar-se sobre o mundo; toda a força da corrente popular
pode ser voltada contra a verdade; trama após trama pode ser formada para aniquilar
o povo de Deus; mas na hora de maior perigo, o Deus de Elias levantará
instrumentos humanos para dar uma mensagem que não será silenciada. Nas
populosas cidades da Terra, e nos lugares onde os homens têm ido mais longe em
falar contra o Altíssimo, a voz de severa repreensão será ouvida. Corajosamente,
homens indicados por Deus denunciarão a união da igreja com o mundo. Com fervor
chamarão a homens e mulheres para que voltem da observância de uma instituição
de feitura humana para a guarda do verdadeiro sábado” (PR, 186-187).
Ellen Gould White
Escritora, conferencista, conselheira,
e educadora norte-americana.
(1827-1915)
LEANDRO BERTOLDO
A Lei, o Sábado e o Domingo
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A Lei, o Sábado e o Domingo
ENDEREÇOS
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Socorro – R. Aristóphanes Cataldo Éboli, 305 – Vl. Oliveira
Botujuru – Av. Felipe Sawaya, 154 – Cl. São Paulo
Brás Cubas – R. Odilon Afonso, 80 – Brás Cubas
Vila Cléo – R. Celeste Amaroso Mulheise, 123 – Vl. Lavínia
César de Souza – R. Pereira Barreto, 22 – César de Souza
Jd. Santa Cecília – R. Massao Kakiute, 159 – Jd. Santa Cecília
Jundiapeba – R. Benedito de S. Branco, 80 – Vl. Stº Antonio
Mogi das Cruzes – R. Cel. Santos Cardoso, 434, Jd. Santista
Sabaúna – R. Joaquim G. de Faria, 26 - Sabaúna
Vila Natal – R. Desidério Jorge, 402 – Vila Natal
Vila Nova Jundiapeba – R. Alfredo Crestana, 590
Jardim Margarida – R. Fátima, 115 – Jd. Margarida
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Casqueiro – Estrada Servidão, 50 – Biritiba Mirim
Cocuéra – Faz. Hollancountry, Cocuéra – Biritiba Mirim
Pomar do Carmo – R. das Acácias, 60 – Biritiba Mirim