a intervenÇÃo do psicopedagogo no cotidiano escolar … · 2010-02-18 · se torna impossível...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU INSTITUITO A VEZ DO MESTRE
A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO COTIDIANO ESCOLAR
TÂNIA MARA DE OLIVEIRA GAIA
ORIENTADOR: Prof. Dr. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
Rio de Janeiro 2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU INSTITUITO A VEZ DO MESTRE
A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO COTIDIANO ESCOLAR
OBJETIVOS
Esta dissertação atende a complementação didático-pedagógica como requisito para a obtenção do Grau do Curso de Pós-graduação em Psicopedagogia Institucional pela autora Tânia Mara de Oliveira Gaia.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao DEUS Pai e ao Senhor JESUS CRISTO pela sabedoria, perseverança e força.
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DEEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu querido filho Gabriel Jesus,
aos meus queridos pais Weber e Eunice e aos meus queridos compadres Cátia Regina e Sérgio com todo meu
Amor.
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EPÍGRAFE
Caminho de milagres ... Quando o que era difícil Se torna impossível Deus começa a agir Ele abre sempre uma porta Onde não há saída E o impossível faz acontecer. E o impossível Ele faz Ele faz um caminho de milagres Pelo mar. ( Ronald Fonseca, Davi Sacer e Luiz Arcanjo )
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RESUMO Este trabalho tem por objetivo levantar a reflexão de que conhecimentos se fazem necessários para uma prática consciente do Psicopedagogo na instituição escolar. A educação escolar brasileira está garantida no plano das Leis, nos recursos orçamentários e no compromisso dos projetos pedagógicos, mas ainda se busca o motivo que impede a aprendizagem para ,então, se utilizar da intervenção através deste profissional. Refletir sobre o papel da Educação como agente transformador, é uma constante para os que acreditam e se dedicam ao magistério. Pensar a escola, à luz da Psicopedagogia, significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, a participação da família e da sociedade. Será tratado como a aprendizagem e o ensino estão em consonância para a compreensão do processo do individuo. E é ativa uma reação que responda a uma necessidade, que é promovida por um desejo, que tem seu ponto de partida no indivíduo que age, que é provocada por um movimento interno do ser que atua. Os desafios, agora, são os de promover através da Psicopedagogia mudanças positivas no cotidiano escolar em relação às dificuldades de aprendizagem e que as intervenções psicopedagógicas junto ao estudante, após detectadas as causas e identificados os problemas, onde o processo de tratamento aconteça e seja resgatada a auto-estima. O psicopedagogo tem de atuar em equipe, isto é, contar com a colaboração de todos os elementos que trabalham na escola. Com os pais, oferecer sua contribuição no resgate da autoconfiança. A expectativa é a tendência de um individuo a aguardar que determinado resultado ocorra. É importante que especialmente ele seja o elemento que mediará para o desenvolvimento desse processo, acredite e confie na atuação psicopedagógica.
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SUMÁRIO
● Introdução........................................................................................................8 ● Capítulo I – APRENDIZAGEM HUMANA: ALGUMAS QUESTÕES..............10 1.1- O que é aprendizagem 1.2- A aprendizagem escolar 1.3- O caráter ativo da aprendizagem ● Capítulo II – O ESTUDANTE, O APRENDER E O NÃO-APRENDER..........17 2.1- Dificuldades de aprendizagem – Alguns enfoques 2.2- O estudante e as dificuldades de aprendizagem 2.3- A relação Escola-Família ● Capítulo III – A AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA ESCOLA.........................27 3.1- Detecção das dificuldades de aprendizagem na escola 3.2- A intervenção do psicopedagogo com os estudantes 3.3- Estudantes com necessidades educativas especiais ● Conclusão.......................................................................................................45 ● Bibliografia......................................................................................................49
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INTRODUÇÃO
O tema deste estudo O Psicopedagogo e o Cotidiano Escolar, surgiu em
decorrência da observação realizada durante alguns anos em escolas da rede
pública no município de Duque de Caxias, onde ao longo desse tempo a família
passou por uma série de notórias transformações, que deram origem a
inúmeras representações familiares que professores e outros profissionais do
contexto escolar denominaram de “desestruturação familiar”.
A organização familiar, anteriormente hegemonia, estruturada em seus
específicos membros: pai, mãe e filhos, hoje desmontada diante de uma
diversidade de motivos que lhe nega o patamar.
Não se pode negar que o ambiente familiar exerce influência sobre o
processo de aprendizagem escolar do estudante. Entretanto, este ambiente é
por sua vez, influenciado pelo contexto social. A interação do ser humano com
o seu meio é mediada pela cultura desde o momento do nascimento, sendo os
pais os primeiros educadores. No convívio com a família, a criança internaliza
padrões de comportamento, normas e valores da classe social a que pertence.
Estudos na área de desenvolvimento humano têm mostrado como
questões afetivas e cognitivas influenciam diretamente no processo ensino-
aprendizagem.
No entanto, a questão central desde trabalho é conhecer de que forma o
psicopedagogo pode favorecer na compreensão da aprendizagem ativa, ou
seja, o caráter ativo da aprendizagem.
O tema sugerido é de fundamental relevância, pois os educadores ao
lidarem com crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem no
cotidiano escolar, potencializam sua preocupação, principalmente, por
entenderem a importância da aprendizagem em relação aos rumores que a
sociedade está tomando.
Na busca de explicações do não aprender de seus estudantes, professores
e alguns profissionais de educação, justificam que esta dificuldade é decorrente
da desatenção, inquietação ou da desmotivação.
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Com isso, serão abordadas especificamente as formas de atuação e
intervenção do psicopedagogo nas diversas situações do cotidiano escolar do
estudante, tais como, na turma, no recreio, nas equipes e com os pais ou
responsáveis. Também refletir de forma mais abrangente para a compreensão
do caráter multidisciplinar das atribuições que envolvem o trabalho do
psicopedagogo.
Assim sendo, este estudo foi estruturado em três capítulos.
No primeiro capítulo pretendeu-se analisar o conceito de aprendizagem em
algumas situações, mostrando sua importância para o estudante que aprende e
as dificuldades para aquele que não aprende. Já no segundo capítulo será
feita uma reflexão sobre o que são dificuldades de aprendizagem, será
enfocado o estudante que apresenta problemas no processo de aprender e a
responsabilidade da escola e da família no processo de aprendizagem. Para o
terceiro capítulo será apresentado como o trabalho psicopedagógico pode
contribuir no processo de aprender e promover mudanças para a escola.
A pesquisa será desenvolvida através da coleta de dados através de
pesquisa bibliográfica onde serão analisadas as concepções de Jean Piaget,
de Lev Vygotsky, de Henri Wallon e de César Coll, concluindo assim a
perspectiva psicopedagógica.
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CAPÍTULO I
APRENDIZAGEM HUMANA : ALGUMAS QUESTÕES
Não é possível separar a aprendizagem de suas bases biológicas, ligadas
que são ao sistema nervoso, ao bom funcionamento dos órgãos dos sentidos,
etc. Não se compreende, também, que um indivíduo esteja adaptado sem ter
boas condições de saúde, sem um organismo em bom funcionamento.
Por outro lado, os processos psicológicos também se inter-relacionam e às
vezes, se confundem. E no caso da aprendizagem, que é uma forma de
desenvolvimento, ao mesmo tempo que representa um recurso de adaptação
pessoal.
Por desenvolvimento humano, entende-se um processo que visa ampliar,
para as pessoas, as oportunidades que asseguram a cidadania, na qual está
implícito o acesso à informação e ao conhecimento.
De acordo com o Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional
sobre a Educação para o Século XXI – Relatório Dejours – um dos principais
papéis reservados à educação consiste em dotar a humanidade de capacidade
para determinar o seu próprio desenvolvimento.
A possibilidade de comportar-se diferentemente em diferentes etapas da
vida é atribuída ao desenvolvimento.
O termo crescimento é utilizado para designar o conjunto de modificações
que se operam no equipamento físico do indivíduo.
Desenvolvimento é um termo mais complexo, embora diferentemente
associado ao processo total de modificação, incluindo comportamentos mais
elevados do indivíduo, resultantes do crescimento e amadurecimento físico,
assim como da estimulação variada do ambiente. O desenvolvimento inclui,
portanto, as modificações de percepções, sentimentos, valores, habilidades,
atitudes, compreensão desde a concepção até a morte com sentido de
adaptação progressiva.
Segundo Relvas (2009):
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“Pode-se dizer que memória e aprendizagem caminham
juntas: Aprendizagem é a modificação do
comportamento, como resultado da experiência ou
aquisição de novos conhecimentos acerca dos meios, e
a memória e a retenção deste conhecimento por um
tempo determinado”. (p.36)
O desenvolvimento deriva de dois processos complementares: a
maturação e a aprendizagem. Desenvolver = amadurecer + aprender.
A maturação independe da influência do ambiente; é um desenvolvimento
estrutural e orgânico. Isto significa que há mudanças estruturais influenciadas
principalmente pela hereditariedade, que devem ocorrer em dado momento,
envolvendo a coordenação de numerosas relações de partes do sistema
nervoso.
Sobre essa temática, Gourlart (1996) analisa:
“A maturação é o desenvolvimento como função do tempo ou da idade; reúne padrões de comportamento manifestáveis em toda pessoa numa certa fase de seu desenvolvimento, como se resultassem da atuação de algum mecanismo interno”.( p.75)
1.1 – O QUE É APRENDIZAGEM?
A aprendizagem resulta da estimulação do ambiente sobre o
organismo maturo.
Para que haja aprendizagem, é indispensável que o organismo
esteja maturo. Associada à motivação e às bases oferecidas pela experiência
anterior, a maturação é responsável pela presteza, que é uma condição
indispensável para que ocorra a aprendizagem.
Cabe destacar algumas concepções:
Freud acentuou a profunda significação da infância para o
desenvolvimento posterior da personalidade. O Id governa a vida do recém-
nascido, é a parte mais primitiva da personalidade, o sistema original com o
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qual o bebê já nasce. É a fonte de todas as energias e fornece o dinamismo de
base à personalidade. É o reservatório do libido e se constitui pelos impulsos
instintivos que motivam as relações com o mundo.
Piaget por sua vez, através de observação minuciosa, apresentou a
teoria que demonstra que o desenvolvimento intelectual processa-se ao longo
de estágios. Cada estágio representa uma fase de desenvolvimento, com
características próprias, e, além de estar estruturado sobre as fases que o
antecederam, constitui uma subestrutura do estágio que o sucederá desde a
fase inicial até a adolescência.
Já para a corrente empirista, o homem, ao nascer, é uma folha em
branco e a fonte do conhecimento é o mundo exterior.
Os behavioristas acreditam que a aprendizagem é a mudança do
comportamento do estudante. Para eles, o foco é a modificação do
comportamento, só assim pode-se saber se houve aprendizagem.
A corrente racionalista, ao contrário, parte do pressuposto de que a
fonte do conhecimento é a razão e que ela é inata, ou seja, que ela nasce com
o sujeito e o que resta é a sua descoberta ou desenvolvimento.
Os cognitivistas acreditam que a aprendizagem ocorre quando os
estudantes são capazes de adicionar novos conceitos e idéias de suas
estruturas cognitivas através de reconhecimento da relação entre alguma coisa
que já sabem e o que estão aprendendo.
Para Vygotsky, a aprendizagem favorece o desenvolvimento das
funções mentais. O aprendizado adequadamente organizado resulta em
desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de
desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer.
(Vygotsky, 1987:101)
Esse aprendizado, segundo Vygotsky, “se inicia muito antes da
criança entrar na escola, pois desde que nasce e durante seus primeiros anos
de vida, encontra-se em interação com diferentes sujeitos – adultos e crianças
e situações, o que vai lhe permitindo atribuir significados e diferentes ações,
diálogos e vivências”.
Daí, identificou dois níveis de desenvolvimento designados de
desenvolvimento real (aquilo que a criança já sabe, que pode realizar sozinha)
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e o nível de desenvolvimento proximal (aquilo que a criança tem competência
de saber ou de desempenhar somente com a ajuda de outra pessoa).
1,2– A APRENDIZAGEM ESCOLAR
A escola trabalha com o processo de aprendizagem sistematizado,
desenvolvendo habilidades de raciocínio lógico, solução de problemas,
apropriação de conhecimentos vitais ao indivíduo e a coletividade. Sua
missão tem sido a de preparar o indivíduo para a vida futura.
A aprendizagem escolar possibilita exercer diferentes papéis, em
diversos grupos, facilitando a integração dos estudantes em um contexto
social, é fundamental que a escola leve em conta as práticas de nossa
sociedade, sejam elas de natureza política, social, econômica, cultural,
ética ou moral.
As escolas existem para agir no mundo, na sociedade e na história.
Mas, essa ação tem que ser planejada, direcionada para fins previamente
estabelecidos.
O conhecimento que a criança constrói na escola é diferente daquele
que vinha construindo até esse momento de sua vida. A aprendizagem da
criança, para Vygotsky, começa antes da aprendizagem escolar. Desse
modo, qualquer que seja a aprendizagem que adquira na escola, nunca
partirá do zero.
Wallon considera a pessoa como um todo. A afetividade, a emoção,
o movimento e o espaço físico se encontram num mesmo plano. Ele
propõe uma teoria pedagógica tendo o “meio como um conjunto de
circunstâncias no qual as pessoas se desenvolvem interagindo com o
outro”. A escola deve ser considerada indissolúvel na relação da criança
com a sociedade e manter o equilíbrio entre elas, favorecendo a auto-
estima do estudante, tendo na sala de aula como oficina de convivência. A
afetividade como papel preponderante no desenvolvimento da pessoa.
“O professor (educador) obviamente precisa conhecer a estrutura biofisiológica e psicossocial, mas também na sua interioridade afetiva, na sua necessidade de criatura que chora, ri, dorme, sofre e busca constantemente
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compreender o mundo que a cerca, bem como o que ela faz ali na escola”. ( SALTINI, 1997, p. 48).
1.3- O CARÁTER ATIVO DA APRENDIZAGEM
Professores e estudantes aprendem quando constroem significados, e isto
ocorrerá quando forem capazes de estabelecer relações não-arbitrárias entre
os conteúdos que já conhecem e os que querem conhecer. Esta dinâmica
traduz o caráter ativo da aprendizagem.
Ativo porque:
. aquele que aprende elabora, organiza e estrutura conhecimentos;
. o conhecimento é abstraído das ações concretas e consiste em dissociar,
variar e transformar os fatores envolvidos para chegar a novas construções.
O caráter ativo da aprendizagem consiste em uma aprendizagem que é
concretizada quando aquele que aprende interage com o objeto que está
conhecendo. Esta interação não se dá por mera observação ou por uma ação
mecânica. A esse respeito, Fagali & Do Vale (1998) comentam:
“[...] o construtivismo enfatiza a construção do pensamento, valorizando no aprendizado o ser ativo que usa as operações do pensamento e a criatividade no contato com as informações. O conhecimento é essa construção ativa do pensar e, não, a assimilação passiva da informação, a mera reprodução. A problematização é uma condição importante no aprendizado, gerando novas hipóteses, interpretações, buscando novas sínteses através do confronto. Numa concepção dialética, as sínteses são sempre consideradas provisórias e, portanto, abertas a novos confrontos".
“[...] do ponto de vista construtivista da evolução e da aprendizagem dos seres humanos, defende-se que o indivíduo participa ativamente na construção da realidade que conhece e que cada modificação ou avanço que realiza no seu desenvolvimento pressupõe uma mudança na estrutura e organização dos seus conhecimentos. Segundo esse ponto de vista, quando uma pessoa enfrenta algumas situações específicas, a sua resposta, reação ou aprendizagem dependerá, obviamente, das características dessa situação, mas será determinada
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também, em grande parte, pelas características pessoais e pela organização dos seus conhecimentos”.(p.45)
A aprendizagem é o resultado da complementaridade estudante-professor-
conteúdo. Para destacar esses aspectos, Coll cita (1994):
“[...] o aluno, para aprender, precisa realizar um
importante trabalho cognitivo de análise e revisão de seus conhecimentos, a fim de fazer com que os novos se tornem realmente significativos e lhe propiciem um nível mais elevado de competência.(p.32)
[...] acreditamos que a influência do professor com a sua intervenção pedagógica é o que faz da atividade do aluno uma atividade auto estruturante ou não, e tenha, com isto, um maior ou menor impacto sobre a aprendizagem escolar.(p.35)
[...] quando aprende, o aluno constrói significados, e isso ocorrerá quando ele for capaz de estabelecer relações substantivas e não-arbitrárias entre aquilo que aprende e o que já conhece”.(p.36)
Assim, infere-se que uma prática é construtivista e psicopedagógica
quando:
. valoriza uma aprendizagem significativa e uma memorização compreensiva.
A aprendizagem é significativa porque não é repetitiva com relação aos modos
de conhecer o novo;
. além de considerar os conhecimentos prévios da criança, questiona-se e
respeita-se o significado lógico e psicológico de aprendizagem para essa
criança;
.valoriza os aspectos motivacionais e funcionais ao privilegiar a “intensa
atividade do aluno”;
. diferencia os conteúdos e simultaneamente os integra em uma intenção
pedagógica voltada para o crescimento humano.
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Portanto “ É ativa uma reação que responde a uma necessidade, que é
provocada por um desejo que tem seu ponto de partida no indivíduo que age,
que é provocada por um movimento interno do ser que atua”, (CLAPAREDE,
1973 apud COLL, 1994, p. 46).
A aprendizagem significativa indica que o estudante estabeleceu relações
substanciais entre o novo conteúdo de aprendizagem e os conhecimentos
prévios. Por conseguinte, quando o estudante não consegue estabelecer tais
relações, poderá apenas recordar o aprendido durante um período de tempo,
contudo não terá modificado sua estrutura cognitiva, não terá construído novos
significados.
Relvas (2009, p. 126) assim destaca que “se a aprendizagem ocorrer em
um ambiente motivador, que desperta o gosto, o interesse, este processo
acontecerá de fato, será verdadeiro, pois terá significado”.
O fazer do aluno, segundo HOFFMAN (1995, p.72)“é uma etapa
significativa na sua construção do conhecimento, mas a sua compreensão das
hipóteses situa-se no terreno das contradições e de suas ultrapassagens”.
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CAPÍTULO II
O ESTUDANTE, O APRENDER E O NÃO-APRENDER
Ao pensar no estudante que chega à escola, não se pode deixar de ter em
mente que ele traz uma enorme quantidade de vivências que refletirão em
todas as atitudes no ambiente escolar, bem como no seu processo de
aprendizagem. No entanto, o professor também traz a sua bagagem.
Assim, a subjetividade do professor poderá influenciar o estudante,
favorecendo ou dificultando sua aprendizagem escolar, além dos demais
setores de sua vida. O primeiro, por sua vez, é consciente de que seu papel é
fundamental nesse processo educativo e, por vezes, angustia-se por não saber
como proceder. Consequentemente, o êxito da interação entre professor e o
estudante será um fator determinante no processo de aprendizagem, na
formação da criança e na evolução de sua personalidade.
Quando as crianças não conseguem atender às expectativas do professor,
a suposição será sempre de que elas têm problemas; a escola constrói um
modelo de bom aluno dentro do qual nem todas as crianças se adaptam.
Quando isso ocorre, os professores recorrem às velhas explicações: “ estas
crianças não podem aprender porque não há ajuda familiar, falta de
maturidade, suposta lesão cerebral mínima ou transtornos do tipo: psicomotor,
na fonação, percepção etc.” (FERREIRO, 1989, p.73).
O estudo da Psicopedagogia sugere que não há uma relação de causa e
efeito sobre os fatores que provocam obstáculos para o processo de
aprendizagem. O contexto que envolve o estudante e o “objeto” a ser
analisado e compreendido é que determinará essa problemática.
Na observação dessa situação, a aprendizagem e o ensino estão em
consonância para a compreensão do processo do indivíduo. Para cada
estudante há um processo singular de aprendizagem individual e social, no
qual as estratégias de ensino podem estar em acordo ou em desacordo com
essa pessoa, que é única.
A análise e compreensão do contexto referem-se à relação da própria
criança com aprendizagem (através de um vínculo positivo ou negativo), à sua
modalidade de aprendizagem, à dinâmica da família à qual pertence e à
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instituição escolar que se encarrega de seu processo de aprendizagem
sistematizado.
Quando o estudante aprende, recebe elogios, é reconhecido como
inteligente e tem o professor e a comunidade escolar valorizando seus esforços
e encorajando-o a continuar. Esse estudante estaria ajustado, pois exibe os
resultados que são esperados que ele apresente, e, de certo modo, todos
preconizam que o seu futuro será promissor. “... aprendizagem, para uma
pessoa, abre o caminho da vida, do mundo, das possibilidades até ser feliz.”
(VISCA, 1991, p.16).
Para o estudante que não corresponde ao esperado no tocante à
aprendizagem escolar, os problemas que podem surgir são a angústia,
ansiedade, baixa auto-estima, até sentimentos mais intensos de depressão.
Sua vida ficará afetada no todo, e não somente no que se refere à
aprendizagem sistemática, pois este estudante que vai para a escola aprender,
não pode deixar de ser concebido como um ser social, afetivo e cognitivo.
2.1– DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM – ALGUNS ENFOQUES
Estudar as dificuldades de aprendizagem é uma tarefa bastante complexa,
pois trata-se de concepções, muitas vezes, divergentes entre si, que envolvem
diferentes áreas profissionais. Muitos termos são utilizados para nomear as
diversas dificuldades de aprendizagem. Assim, os termos distúrbios,
transtornos, dificuldades de aprendizagem têm sido utilizados de diversas
formas, tanto na literatura especializada, como na prática clínica e escolar, para
designar quadros diagnósticos diferentes.
A distinção entre os termos dificuldades e distúrbios de aprendizagem é
baseada na concepção de que o termo “dificuldade” está mais relacionado a
problemas de ordem psicopedagógica ou sócio-cultural, ou seja, não está
centrado apenas no estudante, sendo essa visão mais freqüente em uma
perspectiva preventiva. Por outro lado, o termo “distúrbio” está mais vinculado
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ao estudante, sugerindo a existência de comprometimento neurológico, sendo
mais utilizado pela perspectiva clínica.
Então, a expressão “distúrbios de aprendizagem” teria o significado de
anormalidade patológica por alteração na ordem natural da aprendizagem,
localizada em quem aprende. Portanto, um distúrbio de aprendizagem
obrigatoriamente remete a um problema ou a uma doença que acomete o
estudante em nível individual e orgânico.
De maneira geral, aqueles que escolhem uma abordagem comportamental
preferem a utilização do termo distúrbio, enquanto os que optam por modelos
construtivistas parecem ser adeptos do termo dificuldade.
Segundo Romero (apud COLL, C., ET AL., 1995) situa que:
“[...] as diversas teorias ou modelos de concepção sobre
as dificuldades de aprendizagem em um continuum pessoa-ambiente, defendendo uma posição intermediária, integradora e interacionista, baseada em uma proposta dialética das dificuldades de aprendizagem, na qual posições aparentemente opostas podem interagir e se complementarem”.(p.42)
COLLARES e MOYSÉS( 1992) destacam que:
“Distúrbio de aprendizagem é um termo genérico que se
refere a um grupo heterogênio de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas”.(p.32)
“Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presume-se que sejam devidas à disfunção do sistema nervoso central. Mas, um distúrbio de aprendizagem pode ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis, como, por exemplo: alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou emocional. As influências ambientais – diferenças culturais, instrução insuficiente ou fatores psicogênicos – podem estar presentes, mas o distúrbio de aprendizagem não é resultado direto dessas condições ou influências”. (p.37)
Por outro lado, devem ser apontados para a existência de crianças que
apresentam dificuldades de aprendizagem na escola, embora, aparentemente,
não possuam deficiências físicas, sensoriais, intelectuais ou emocionais.
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Durante anos, esse rótulo ocasionou que tais crianças fossem ignoradas,
mal diagnosticadas e que as dificuldades que demonstravam fossem
designadas de várias maneiras como “hiperatividade”, “síndrome hipercinética”,
“lesão cerebral mínima”, “dificuldade de aprendizagem” ou “disfunção na
aprendizagem”, sem que tivessem tido a atenção de que necessitavam.
Outra terminologia freqüente na literatura especializada é a palavra
“transtorno”. Segundo a classificação de transtornos mentais e de
comportamento, da Classificação Internacional de Doenças -10, elaborado pela
Organização Mundial de Saúde, o termo é usado para evitar problemas ainda
maiores inerentes ao uso de palavras como “doença” ou “enfermidade”.
A classificação de transtornos mentais de comportamento da
Classificação Internacional de Doenças – 10 (CID -10) situa os problemas
referentes à aprendizagem na classificação “Transtornos específicos do
desenvolvimento das habilidades escolares”, dentro da categoria mais ampla
de “Transtornos do desenvolvimento psicológico”.
Para a CID -10, os transtornos da categoria “Transtornos do
desenvolvimento psicológico”, inclusive os específicos ao “desenvolvimento
das habilidades escolares”, têm os seguintes aspectos em comum: início
invariavelmente no decorrer da infância; comprometimento ou atraso do
desenvolvimento de funções relacionadas à maturação biológica do sistema
nervoso central; curso estável, não envolvendo remissões (desaparecimentos)
e recaídas, que tendem a ser características de muitos transtornos mentais.
Ainda, de acordo com CID-10, na maioria dos casos, as funções afetadas
são a linguagem, as habilidades visoespaciais e a coordenação motora. É
esperado que os comprometimentos diminuam progressivamente à medida que
a criança cresça, embora as deficiências mais leves frequentemente
permaneçam na vida adulta.
Os “Transtornos do desenvolvimento psicológico”, na CID-10, são
classificados como relacionados à história familiar, cuja etiologia considera os
fatores genéticos. Os ambientais frequentemente podem influenciar as funções
de desenvolvimento afetadas, porém, na maioria dos casos, não possuem uma
influência predominante.
Acerca dos “Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades
escolares”, a CID-10 classifica como transtornos cujos padrões normais de
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aquisição de habilidades são apresentados desde os estágios iniciais do
desenvolvimento. Considera que os transtornos originam-se de anormalidades
no processo cognitivo, que derivam, em grande parte, de algum tipo de
disfunção biológica, não senso conseqüência da falta de oportunidade de
aprender nem de qualquer forma de traumatismo ou doença cerebral
adquirida.
A categoria “Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades
escolares” é composta das seguintes subcategorias: transtorno específico da
leitura, transtorno específico do soletrar, transtorno específico de habilidades
aritméticas, transtorno misto das habilidades escolares, outros transtornos do
desenvolvimento das habilidades escolares, transtornos do desenvolvimento
das habilidades escolares, não especificados
Esses não são resultado direto de outros transtornos, como retardo
mental, os déficits neurológicos severos, os problemas visuais ou auditivos não
corrigidos ou as perturbações emocionais, embora possam ocorrer
simultaneamente com essas condições. Geralmente ocorrem junto com outras
síndromes clínicas, como por exemplo, o transtorno de déficit de atenção,
transtorno de conduta ou outros transtornos do desenvolvimento, como da
função motora ou os específicos da fala e ad linguagem.
As possíveis causas dos transtornos específicos do desenvolvimento das
habilidades escolares não são conhecidas, mas supõe-se que exista a
predominância de fatores biológicos, os quais interagem com os não
biológicos, como oportunidade para aprender e qualidade do ensino. È um
fator diagnóstico importante que os transtornos se manifestem durante os
primeiros anos de escolaridade.
2.2- O ESTUDANTE E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
As crianças passam a maior parte do dia na escola, então, este lugar deve
ser bastante prazeroso. O ambiente deve ser agradável nas várias dimensões
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que envolvem os estudantes, e é fundamental que os responsáveis pela
educação compreendam que tudo que se relacione ao estudante é importante
para o seu processo de aprendizagem. “O bem-estar na escola sempre foi um
dos objetivos de qualquer programa educacional”. (DROUET, 1995, p.213).
A dificuldade de aprendizagem é uma questão biopsicossocial a ser
compreendida em pelo menos constituintes básicas: a criança, a família e a
escola.
Assim, o fracasso na aprendizagem também está relacionado ao sistema
educativo, revelando as inadequações das instituições escolares, que são
representadas pelos professores, coordenadores, diretores e os demais
profissionais da escola.
Os seres humanos são bastante diferentes uns dos outros e muito
complexos; uma criança ou um pré-adolescente apresenta vários
comportamentos conforme o ambiente e a situação em que se encontra.
Muitas vezes, o estudante considerado agitado não se mostra assim em
todos os lugares. É comum que surjam queixas de professores que não
representam a opinião de todos os educadores da instituição.
Há estudantes que são agitados e inconvenientes para uns professores e
que se comportam de forma satisfatória em outras aulas. Esta situação nos
remete à questão de se avaliar se é o próprio comportamento do professor que
faz com que estudantes tenham o comportamento inadequado.
A escola muitas das vezes tem grande parcela de culpa nas dificuldades
de aprendizagem dos estudantes. A repetência caracteriza a não
aprendizagem, mas os estudantes até chegam a passar para a série seguinte,
embora nem sempre estejam aptos para a promoção.
O fracasso escolar é produzido pela própria escola, embora os fatores
externos devam ser considerados, pois o tipo de cultura, o momento político,
sócio-econômico e a estrutura social interagem com a educação escolar.
“ No diagnóstico psicopedagógico do fracasso escolar de um aluno não se pode desconsiderar as relações significativas existentes entre a produção escolar e as oportunidades reais que determinada sociedade possibilita aos representantes das diversas classes sociais”. (WEISS, 2002, p. 16).
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É necessário que os educadores tenham conhecimentos que lhes
possibilitem compreender sua prática e os meios necessários para que possam
promover o progresso e o sucesso dos estudantes.
É importante que se mude o ângulo de se perceber o complexo processo
de aprender ou não aprender, para tanto, é preciso destacar a importância do
questionamento da insuficiência de quem aprende, olhando também para o de
quem ensina, pois ambas podem gerar o fracasso escolar.
Do ponto de vista dos professores, o fracasso escolar, introduz uma
diferença significativa no processo pedagógico. Muitos professores são os
grandes responsáveis quanto a rótulos sobre possíveis fracassos de seus
estudantes, deixando a criança sem nenhuma possibilidade ou saída para
reverter a situação, fazendo com que a profecia seja auto-realizada.
Às vezes, a proposta educacional da escola não deixa espaço para o
diálogo. E, como os estudantes não participam das decisões, alguns reagem
negativamente, tornando-se inadequados para os padrões predeterminados
pela escola. As escolas não sabem lidar com o estudante que foge às regras
com as quais os educadores estão acostumados.
O professor tem que ter sólidos conhecimentos da matéria que leciona e
deve ter facilidade para transmitir o que ensina. Se o professor não conseguir
alcançar os estudantes porque eles não compreendem sua linguagem, ou
porque o conteúdo está além da capacidade de compreensão da turma, o
curso será um fracasso, e, muitas vezes, a indisciplina vem junto com as
dificuldades de aprendizagem.
A avaliação também é um fator importante e deve ser vista como parte
integrante do processo ensino-aprendizagem. Mas, geralmente, é percebida
como parte destacada do processo.
LUCKESI (1995, p. 69) entende “avaliação como juízo de qualidade sobre
dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão”. Estes são os
elementos que compõem a compreensão constitutiva da avaliação.
A tomada de decisão é uma tomada de posição, isto é, um estar a favor ou
contra aquilo que foi julgado, sendo que isto implica em três possibilidades:
continuar na situação, introduzir modificações ou suprimir a situação ou o
objeto.
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A avaliação da aprendizagem, refere-se à decisão do que fazer com o
estudante, quando a sua aprendizagem se manifesta satisfatória ou
insatisfatória. Ao se desrespeitar esta etapa, o ato de avaliar não completará
seu ciclo constitutivo.
HOFFMANN (1995, p.48) pontua “avaliação como uma ação provocativa
do professor, desafiando o aluno a refletir sobre as experiências vividas, a
formular e reformular hipóteses, direcionando para um saber enriquecido”.
A maioria dos professores se vale de provas, mensais ou bimestrais, o que
não evidencia um perfil correto sobre o aluno porque esse instrumento é
contaminado de fatores que distorcem, em certos momentos, o que realmente
ele aprendeu. Além disso, mesmo que esse instrumento esteja muito bem
construído em relação ao conteúdo que tenha sido abordado no curso, existe
uma grande quantidade de componentes emocionais envolvidos.
A relação que se estabelece entre o professor e o estudante se dá em dois
aspectos. No primeiro, trata-se de trocas cognitivas entre ambos. No segundo,
são relações de ordem afetiva. É a articulação da história de vida de cada um,
servindo como resposta do sujeito à realidade que o cerca.
A escola, como instituição social, tem uma enorme função e um lugar
privilegiado para a formação dos cidadãos. Assim, é fundamental que se faça
constantemente uma análise de equipe e que esta se qualifique
constantemente para melhor desempenhar seu papel na educação.
2.3 – A RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA
A família sempre foi considerada como um elemento fundamental no
desenvolvimento do indivíduo. Ela é importante porque proporciona, através
de seu ambiente físico e social, as condições necessárias ao desenvolvimento
da personalidade da criança.
As questões provenientes de uma educação familiar mal orientada podem
resultar em problemas de aprendizagem, pois, sabe-se que nunca há uma
causa única para o fracasso escolar, é uma conjunção de fatores que
interagem, uns com os outros, imobilizando o desenvolvimento do sujeito, num
25
determinado momento, e a família também é a responsável por essas
dificuldades do estudante.
Do mesmo modo que se pode, genericamente, afirmar que nas famílias
ditas “comuns” o ambiente é acolhedor, que as relações entre seus membros
são caracterizados como afetuosas, pode-se dizer que nas famílias ditas
“disfuncionais” os relacionamentos assumem aspectos de distanciamentos,
violência, desestruturação entre seus componentes.
“... a influência familiar é decisiva na aprendizagem dos alunos. Os filhos de pais extremamente ausentes vivenciam sentimentos de desvalorização e carência afetiva, gerando desconfiança, insegurança, improdutividade e desinteresse, sérios obstáculos à aprendizagem escolar”. (SCOZ,1994, p.71).
Além da parte afetiva e emocional, a família poderá ajudar o estudante
mantendo o contato com a escola.
“... o contato com a família pode trazer informações sobre É fundamental que haja diálogo e confiança entre esses dois setores tão importantes na vida da criança e do adolescente.fatores que interferem na aprendizagem e apontar os caminhos mais adequados para ajudar a criança. Também torna possível orientar aos pais para que compreendam a enorme influência das relações familiares no desenvolvimento dos filhos”. (SCOZ,1994, p. 143).
A relação das crianças com os pais influenciará o relacionamento com seu
professor. Isso ocorre devido à transferência dos sentimentos que sente pelo
pai ou pela mãe. Freud considerava que a criança transfere ao professor, de
um modo bem peculiar, algumas características da relação com os pais,
reeditando e ressignificando suas antigas vivências.
A reação das famílias frente aos problemas escolares, ora alguns pais
demonstram decepção, desaprovação em relação aos maus resultados
escolares de seus filhos, e em outras famílias podem apresentar total
indiferença e falta de interesse pelas dificuldades das crianças ou
adolescentes.
26
Essas duas atitudes têm em comum o fato de afetarem o estudante em
sua totalidade, impedindo seu crescimento de forma natural e satisfatória,
favorecendo o desenvolvimento de uma auto-estima negativa.
“Se pensarmos no problema de aprendizagem como só
derivado do organismo ou só da inteligência, para sua cura, não haveria necessidade de recorrer à família. Se, ao contrário, as patologias no aprender surgissem na criança ou adolescente somente a partir de sua função equilibradora do sistema familiar, não necessitaríamos, para seu diagnóstico e cura, recorrer ao sujeito separadamente de sua família”. (FERNÁNDEZ,1991, p.98).
É essencial que a criança receba apoio dos pais, pois quando sente que
estes dão suporte emocional, ela se desenvolve uma base sólida e um senso
de competência que a leva a uma auto-estima satisfatória.
Desse modo, a família se constitui realmente em um núcleo decisivo para
a condução de uma vida escolar satisfatória, independente de sua camada
social.
27
CAPÍTULO III
A AÇÃO PISICOPEDAGÓGICA NA ESCOLA
As primeiras relações que a criança estabelece com o conhecimento são
de fundamental importância para a construção de sua modalidade de
aprendizagem, é o molde que o indivíduo adota para adquirir conhecimento ao
longo de sua vida.
A escola representa o vínculo com o conhecimento formal. Muitas vezes
um vínculo inadequado remonta a uma história de fracassos dentro da
instituição escolar, criando uma criança habituada a falha e com baixa auto-
estima.
“O trabalho psicopedagógico, pode e deve ser pensado a partir da instituição escolar, a qual cumpre uma importante função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta dentro de um projeto social mais amplo. A escola afinal, é responsável por grande parte da aprendizagem do ser humano” (BOSSA,1994 ,p.66)
A Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem do ser
humano. Tem como objeto de estudo conhecer como se aprende, como essa
aprendizagem evolui, quais são os fatores envolvidos, como se produzem as
alterações na aprendizagem, como reconhecê-la, tratá-las e promover
mudanças positivas.
Para isso, a Psicopedagogia realiza um trabalho em nível preventivo e
curativo. Na forma preventiva, o psicopedagogo atua nas escolas através de
assessoria pedagógica, auxiliando na organização de condições de
aprendizagem de modo integrada e de acordo com as capacidades dos
estudantes.
O trabalho do psicopedagogo, em nível curativo, é dirigido às crianças,
adolescentes e adultos que apresentam distúrbios de aprendizagem.
O psicopedagogo atua na instituição durante todo o processo educativo e
deve considerar que seu trabalho se dá numa situação de relação entre
pessoas. Não é uma relação qualquer, mas um encontro entre educador e
28
educando. Caso haja um bom entendimento entre os membros da escola, o
ensino poderá ser prejudicado.
É preciso, ainda, mostrar para a comunidade escolar que é importante que
se atue no processo educativo considerando-se integradamente os conteúdos
intelectual e moral. A educação deve promover oportunidades para que o
estudante se desenvolva, tanto do ponto de vista intelectual, como social e
moral.
O psicopedagogo precisa estimular a postura transformadora de toda a
comunidade educativa para que, de fato, possa ser realizado algum trabalho
que inove a prática escolar, contextualizando-a na realidade da escola e da
sociedade em que ela esteja inserida.
Cabe ao psicopedagogo enfatizar que os professores trabalhem com o
essencial em suas turmas. Desse modo, os conceitos e conteúdos
estruturantes, com significado relevante para a demanda, estariam sendo
assegurados.
Ele deve orientar e interagir com o corpo docente no sentido de que este
venha a trabalhar para desenvolver o raciocínio do estudante, ajudando-o a
aprender a pensar e a estabelecer relações entre os diversos conteúdos
estudados.
Esse profissional necessita acentuar a parceria entre escola e família, pois
a atitude da família em relação às dificuldades de aprendizagem são
fundamentais para a evolução desse sintoma na criança.
“Os profissionais engajados no campo da Psicopedagogia têm atentado para a necessidade do trabalho a ser realizado na instituição escolar. Pensar a escola, à luz da Psicopedagogia significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e sócio-culturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, a participação da família e da sociedade” (BOSSA,1994, p.68).
O psicopedagogo deve estar preparado para ajudar no processo de
construção das bases para a orientação do estudante na construção de seu
projeto de vida, com clareza de raciocínio e equilíbrio. Assim, como necessita
incentivar a implementação de projetos que estimulem a autonomia de
29
professores e estudantes, pois só a autonomia garante a resolução de desafios
por meios próprios.
Outro aspecto é que o psicopedagogo atue junto ao corpo docente para
que este se conscientize de que sempre é necessário aprender, e que a prática
docente é um excelente campo para novas aprendizagens do professor.
“Existem diferentes enfoques em relação ao que se entende por Psicopedagogia na escola. Adotarei a posição de considerá-lo como um trabalho em que se busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores. É dar-se ao professor e ao aluno um nível de autonomia na busca do conhecimento e, ao mesmo tempo, possibilitar-se uma postura crítica em relação à estrutura da escola e da sociedade que ela representa. Para isto, é necessário um posicionamento sobre o que a escola produz”. (WEISS, p.41).
No trabalho preventivo junto à escola é fundamental que se compreenda
que os protagonistas são o professor e o estudante. Mas, estes não estão
isolados, pois, participam, também, a família e outros membros da comunidade
que interferem no processo de aprendizagem: são aqueles que decidem sobre
as prioridades e necessidades da escola.
O trabalho na instituição escolar apresenta duas naturezas: o primeiro diz
respeito a uma psicopedagogia voltada para o grupo de estudantes que
apresentam dificuldades na escola. O seu objetivo é reintegrar e readaptar o
estudante à situação de sala de aula, possibilitando o respeito às suas
necessidades e ritmos pessoais. A meta é desenvolver as funções cognitivas,
que estão vinculadas ao afetivo, removendo o bloqueio e
conduzindo,gradualmente, o estudante para a aprendizagem dos conceitos,
conforme os objetivos da aprendizagem formal.
O segundo tipo de trabalho refere-se à assessoria junto aos orientadores
educacionais e professores. Tem como objetivo trabalhar as questões
pertinentes às relações de vínculo professor-aluno e redefinir os procedimentos
pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo, através da aprendizagem dos
conceitos nas diferentes áreas do conhecimento.
30
A ação do psicopedagogo jamais pode ser isolada, mas integrada à ação
da equipe escolar, buscando, em conjunto, vivenciar a escola, não só como
espaço de aprendizagem de conteúdos educacionais, mas de convívio, cultura,
valores, pesquisa e experimentação, que possibilitem a flexibilização de
atividades docentes e discentes.
De acordo com Bossa (1994), no exercício preventivo, há três níveis de
prevenção:
1º) – o psicopedagogo atua no sentido de diminuir a freqüência dos problemas
de aprendizagem. Seu trabalho recai nas questões didáticas e metodológicas,
bem como na formação e orientação de professores, além de fazer
aconselhamento aos pais;
2º) - o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagem já
instalados, a partir dos quais procura-se avaliar os currículos com os
professores para que não se repitam tais transtornos;
3º) – o objetivo é eliminar os transtornos já instalados, num procedimento
clinico com todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece aí, uma
vez que, ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de
outros. Na sua tarefa junto às instituições escolares, o psicopedagogo, numa
ação preventiva, deve adotar uma postura crítica frente ao fracasso escolar,
visando propor novas alterações de ação voltadas para a melhoria da prática
pedagógica nas escolas.
“Para resolver o fracasso escolar necessitamos recorrer principalmente a planos de prevenção nas escolas – batalhar para que o professor possa ensinar com prazer para que, por isso, seu aluno possa aprender com prazer, tende a denunciar a violência encoberta e aberta, instalada no sistema educativo, entre outros objetivos”. (FERNÁNDEZ, 1991, p.81)
Assim, a ação psicopedagógica não se refere apenas à prescrição de
orientações para estudantes em particular, mas aborda outros assuntos de
caráter mais geral derivados de discussões sobre estudantes com dificuldades,
31
do desenvolvimento das orientações e, também, da análise conjunta de
dúvidas ou questionamentos sobre assuntos didáticos. Nesse sentido, o
material didático adotado, após criteriosa análise, deve ser utilizado como
orientador do trabalho do professor e nunca como o único recurso de sua
atuação docente.
Como a escola é responsável por uma parcela significativa da formação do
ser humano, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar deve ter a
função de socializar os conhecimentos disponíveis, de promover que os
estudantes se desenvolvam cognitivamente e que as normas de conduta sejam
construídas e inseridas em um projeto social mais amplo, procurando afastar a
repressão desnecessária.
Dessa forma, a escola, como mediadora do processo de socialização, vem
a ser produto da sociedade em que o indivíduo vive e participa. Nela, o
professor não apenas ensina, mas também aprende. Aprende conteúdos,
aprende a ensinar, a dialogar e liderar, aprende a ser cada vez mais um
cidadão do mundo, coerente com sua época e seu papel de ensinante, que é
também um aprendente. Agindo assim, a maioria das questões poderão ser
tratadas de forma preventiva, antes que se tornem verdadeiros problemas.
Nádia Bossa (1994) registra o termo prevenção como referente à atitude
do profissional no sentido de adequar as condições de aprendizagem de modo
a evitar comprometimentos nesse processo.
Há necessidade de, não apenas conhecer a ação, mas orientá-la,
integrando o trabalho de acompanhamento de procedimentos didáticos à
resolução de problemas de adaptação escolar, que podem ser caracterizados
como aqueles que emergem da relação, da interação entre as pessoas e entre
elas e o meio, surgindo em função de desarmonias entre o sujeito e as
circunstâncias do ambiente. Essas desarmonias podem até adotar
modalidades patogênicas ou patológicas, que requerem encaminhamentos
específicos que, muitas vezes, ultrapassam o espaço escolar.
Preocupado com a incorporação de novas dinâmicas em sala de aula,
contemplando a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da
escola, o psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações
32
interpessoais, o estabelecimento de vínculos e a utilização de métodos de
ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse
processo. Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a em uma percepção
mais ampla do estudante e das circunstâncias de produção do conhecimento.
A prática psicopedagógica vem contribuindo para a flexibilização da
atuação docente na medida em que apresenta questões que estimulam a
reflexão e o confronto com situações ainda insuficientemente discutidas,
difíceis de serem trabalhadas, e que, na maioria das vezes, podem produzir
conflito. Isto se deve, em geral, ao comprometimento do estudante e da
instituição e às variedades de dificuldades, envolvendo as questões cognitivas,
emocionais, atitudinais, de relações e de comunicação que são almejadas e
necessárias à sociedade.
3.1- DETECÇÃO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ESCOLA
Quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, e estas não
são causadas por fatores externos, normalmente são resultantes de uma
imaturidade do seu desenvolvimento psicobiológico.
Essa criança apresenta uma grande discrepância entre sua inteligência e
sua produção escolar. Possui uma inteligência “normal”, sem qualquer
insuficiência mental, mas, no entanto, tem dificuldade para aprender a ler e a
escrever. Poderá apresentar problemas psicomotores, problemas visuais ou
auditivos, o que se constitui em dificuldades de caráter básico para o processo
de aprender. Ela não é privada sensorialmente, nem apresenta sinais de
perturbação emocional, e é possível que apresente ou não disfunção cerebral
por desvios orgânicos, variações de ordem genética, problemas bioquímicos,
traumatismos, má formação congênita, etc.
As desordens são intrínsecas ao sujeito, presumidamente, devido a uma
disfunção no sistema nervoso central, podendo ocorrer apenas por um período
na vida. Problemas de controle de comportamento, percepção social e
interação social são capazes de existir junto com as dificuldades de
33
aprendizagem, mas elas não constituem por si só uma desordem de
aprendizagem.
Embora dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente
a outras condições desfavoráveis (retardo mental, seria desordem emocional,
problemas sensórios-motores) ou influencias externas (como diferenças
culturais, instrução insuficiente ou inapropriada) elas não são o resultado
dessas influências ou condições.
As dificuldades, de origem orgânica, normalmente são bastante definidas e
claras, levando-nos a supor que a área emocional e o ambiente familiar tiveram
pouca ou nenhuma participação no seu aparecimento e determinação. Seria o
caso dos distúrbios de ordem neurológica ou metabólica, que implicam uma
perda de capacidade de aprendizagem.
“No caso da criança com dificuldades de aprendizagem verifica-se: um perfil motor adequado, uma inteligência média, uma adequada visão e audição e uma adequada adaptação emocional que, em conjunto com uma deficiência de aprendizagem, constitui a base da sua caracterização psiconeurológica”.(MENDES; FONSECA, 1987, p.283).
Geralmente, as crianças com dificuldades de aprendizagem, apresentam o
seguinte perfil de comportamento: problemas psicomotores, emocionais, de
simbolização, de atenção ou de memória.
É importante que seja feita uma classificação e caracterização dos
estudantes portadores de necessidades especiais, embora sejam inúmeras as
desvantagens e desvios existentes na classificação de pessoas em categorias,
mas elas acabam tornando-se necessárias, principalmente do ponto de vista da
administração do sistema educacional.
Mas, os problemas de saúde do estudante constituem um aspecto
pequeno das causas que podem levar às dificuldades de aprendizagem. Outros
fatores também produzem o fracasso escolar, como a família, os professores, a
escola como um todo e o contexto sócio-econômico-político.
O psicopedagogo tem que fazer um diagnóstico educacional para analisar
e avaliar as situações educacionais, os problemas e as dificuldades dos
34
estudantes, bem como tomar conhecimento de suas causas para preveni-las
e/ou corrigi-las, quando possível.
“Todo diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito [...]. No caso, trata-se do não aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não-revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem”. (WEISS, 2002, p.27).
Assim, o diagnóstico tem duas funções básicas: localizar e analisar as
causas das dificuldades dos estudantes em todas as áreas das suas atividades
e identificar e avaliar as áreas de aprendizagem e ajustamento, tanto as
positivas, quanto as negativas.
A Psicopedagogia surgiu como norteadora dos procedimentos necessários
ao trabalho com crianças que apresentam barreiras à sua aprendizagem.
Através de estudos nas áreas da Psicanálise, Psicologia Social e
Epistemologia Genética, a Psicopedagogia objetiva o reconhecimento das
capacidades da criança visando retirar o obstáculo que a impede de aprender.
O estudo da Psicopedagogia demonstra que não há uma relação de causa
e efeito em relação aos fatores que colocam obstáculos à aprendizagem, há
um contexto que envolve o ser que aprende e o que será aprendido. Na
análise desse contexto, percebe-se que cada indivíduo é único e que seu
processo de aprendizagem é peculiar. Ou seja, para cada sujeito haverá um
modo singular, com uma aprendizagem individual e social em que as
estratégias de ensino poderão estar em acordo ou em desacordo com a
pessoa que aprende.
A análise e compreensão do contexto referem-se à relação da própria
criança com a aprendizagem, através de um vínculo positivo ou negativo, à sua
modalidade de aprendizagem, à dinâmica de sua família e à sua escola.
Nesse contexto, foi verificado que a dificuldade de aprendizagem é um
sintoma, uma conduta desviada que se expressa somente quando o meio
exige. Um desvio é a quantidade pelo qual uma medida difere ou se distancia
35
de um determinado ponto de referência ou parâmetro. O sintoma é o que
emerge da personalidade em interação com o sistema social.
O psicopedagogo atua para dar movimento a essas estruturas e
possibilitar uma nova organização.
Na Epistemologia Convergente, o processo diagnóstico é estruturado de
modo a observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o afetivo, de onde
resulta o modo como o sujeito “funciona”.
De acordo com Visca (1987), outros parâmetros devem ser considerados
para que se aponte que um aluno possui problemas de aprendizagem, tais
como a pauta formal, ou seja, os programas escolares para a aprendizagem
sistemática exigida, a idade cronológica e o nível de pensamento alcançado.
Os professores, por estarem em contato direto com os estudantes, têm a
oportunidade de verificar e de registrar um maior número de dados sobre seus
alunos. Assim, eles poderão observar a saúde de seus alunos, incluindo o
aspecto geral da criança como motivação, doenças constantes, sonolência,
indisposições em geral, etc.
3.2 – A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO COM OS ESTUDANTES
O inegável valor do brinquedo para o desenvolvimento cognitivo da criança
está no fato de que, conforme salienta Carneiro (1996, 41), a criança, ao
brincar, é capaz de “elaborar associações que facilitam a execução de ações
desagradáveis e de criar, portanto, áreas de desenvolvimento proximal, porque
poderá se comportar além do habitual para a sua idade”.
Um aspecto para o qual pais e educadores devem estar atentos é que, em
nome de uma excessiva proteção ao bebê, acabam por tornar-se empecilho no
processo de desenvolvimento cognitivo da criança, ao não permitirem que a
criança brinque: “Quanto mais se amplia a realidade externa da criança, mais
ela tem a necessidade de uma organização interna, ágil e coerente, a fim de
arquivar suas experiências e utilizá-las de modo adequado no momento
presente. A recíproca é verdadeira”. (OLIVEIRA, 1994, p.44).
36
A partir dessa afirmação, fica fácil visualizar o valor educativo do jogo nos
diferentes estágios de desenvolvimento cognitivo e suas relações com a
aprendizagem.
A função social da escola não se resume a ensinar, mas a ensinar a
aprender, a organizar-se, a escolher. Essas ações asseguram o processo
permanente de aprender a aprender. Para viabilizar esse processo, o jogo tem
importante função.
→ Para as crianças é a coisa mais importante na vida. Nas mãos do educador
se torna um excelente meio de formar a criança. Por esta razão, todo educador
deve não só fazer jogar, como utilizar a força educativa do jogo. (JACQUIM,
1963).
→ Jogos e resolução de situações-problemas são propostas que desenvolvem
uma aprendizagem diferenciada e significativa, pois, para jogar ou enfrentar
uma situação problema, os estudantes necessitam adotar um comportamento
ativo e cooperativo, envolvendo-se com as tarefas propostas na atividade e
relacionando-se com os outros participantes.
O valor da atividade lúdica para o desenvolvimento cognitivo e sócio-moral
pode ser sumarizado através de dois aspectos:
- no simples prazer de agir, a criança constrói conceitos;
- o jogar e o brincar possibilitam que a criança se adapte ao mundo adulto e,
portanto, é “indispensável que ela realize atividades que transformem a
realidade, por assimilação, segundo suas necessidades”. (DINIZ,1997, 11).
O papel do brinquedo e do jogo para a aprendizagem foi objeto de
investigação de vários estudiosos da área pedagógica, tais como, Froebel,
Vygotsky e Piaget. Cada um deles apresenta uma concepção diferente acerca
da influência que o jogo exerce na criança.
37
Froebel faz alusão ao que caracteriza como o jogo espontâneo da criança,
em função das diferentes etapas de sua evolução, com a finalidade de
observar-lhe o desenvolvimento harmônico.
Quanto a Vygotsky e Piaget – bastante difundidos no Brasil – as
abordagens para explicar o processo de aquisição de conhecimento, sendo o
primeiro sócio-interacionista e o outro construtivista, têm em seus conteúdos de
pesquisas:
Vygotsky parte do princípio de que a aprendizagem provoca o
desenvolvimento e o amadurecimento (desenvolvimento da estrutura mental).
Para ele, a aprendizagem se constrói através do estabelecimento do que o
classifica como área (ou zona) de desenvolvimento proximal (ou potencial): “o
brinquedo fornece a estrutura básica para as mudanças das necessidades e da
consciência”.
Na perspectiva piagetiana, o desenvolvimento intelectual da criança
configura um processo contínuo que obedece a uma ordem invariável de
sequências de estágios, que se caracterizam por uma estrutura cognitiva a qual
determina todos os novos comportamentos específicos do estágio. Assim, cada
estágio ou fase do desenvolvimento apresenta um processo de integração
preparada pela fase anterior e que se integra na seguinte.
→ O psicopedagogo deve estar atento ao modo como a criança brinca. A
estrutura mental e o nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo são refletidos
na maneira como a criança desenvolve a atividade lúdica. Este fato constitui a
ferramenta básica de auxílio ao psicopedagogo durante o processo de
avaliação escolar.
→ Para que essa avaliação se dê com maior eficácia, é necessário,
inicialmente, que o psicopedagogo leve em consideração dois aspectos:
▪ os quatro estágios de desenvolvimento cognitivo estabelecidos por Piaget:
sensório-motor (0 a 2 anos de idade), pré-operatório (2 a 7 anos), operatório
concreto (7 a 11 anos) e operatório formal (11 em diante);
38
▪ a curva evolutiva da brincadeira e do jogo, estabelecida por Piaget, através da
qual são estudadas as características de comportamento relativas a esses
estágios.
O desenvolvimento e a organização do jogo dependem do
desenvolvimento cognitivo e também têm uma ordem seqüencial de
construção. Brenelli (2001, 143) descreve:
No estágio sensório-motor se constitui o jogo de exercício; no estágio pré-
operatório, a brincadeira simbólica; e, no estágio das operações concretas,
o jogo de regras.
Portanto, através das brincadeiras, dos jogos, da construção de
brinquedos e objetos, etc., é possível observar o desempenho das crianças e o
comportamento dos adultos frente às dificuldades ou facilidades presentes
nesses exercícios.
Quanto à atuação do psicopedagogo, sua intervenção, no processo de
desenvolvimento da aprendizagem da criança, configura-se através do contato
direto com os atores envolvidos nessas atividades: educadores, professores e
outros profissionais.
Muitas vezes, ocorrem situações em que determinada mãe ou
representante familiar manifesta algum tipo de frustração ao descobrir, por
exemplo, que o seu filho ou apreciador , num trabalho manual, não construiu ou
não pintou, tão bem quanto as outras crianças, a casinha de barro solicitada
pela professora. Um outro sentimento de frustração, por parte da família, ocorre
quando a criança fica inibida ao ser solicitada a realizar a leitura, em voz alta,
de determinadas palavras, ou dizer os nomes de alguns objetos para as outras
crianças, na presença da professora.
Em situações como essas, os pais tendem, geralmente, a julgar que não
está havendo nenhum progresso porque: “ou o meu filho está com alguma
problema ou a escola ou a professora é que não está sabendo ensinar direito”.
Ou então decretam: “Já sei, é a professora que dá mais atenção às outras
crianças do que para o meu filho!”
39
Embora a nossa temática tenha, na essência, como objeto de discussão, a
criança e o brinquedo, qualquer intervenção psicopedagógica sobre a
problemática da criança passa necessariamente pela atuação junto à família.
Assim, o psicopedagogo deve estabelecer algumas estratégias para
intervir no conflito existente basicamente entre a criança, os educadores e os
pais. Portanto, como as questões referentes a esse problema envolvem
aspectos de caráter multidisciplinar, é necessário, de início, reunir-se com, pelo
menos, dois outros profissionais para debater sobre a questão: o psicólogo
(questões emocionais, afetos, sociabilidade, etc.) e o orientador educacional
(questões referentes a um possível histórico da família daquele estudante).
A partir do consenso entre as avaliações desses especialistas, o
psicopedagogo deve elaborar um planejamento de ações para atuar junto à
criança, educadores e família, no sentido de uma intervenção eficaz.
Em relação à família e à criança, sua intervenção deve se nortear por uma
direção que contemple os saberes da Psicologia. È necessário, no diálogo com
os pais, que o psicopedagogo converse sobre o equívoco existente em
afirmações, muitas vezes equivocadas, do tipo: “Pensei que meu filho
soubesse ler e fosse tão inteligente quanto as outras crianças...”, ou: “Acho
que não sei ensinar bem ao meu filho”, ou ainda: “Também... com aquela
professora...”
Ele, ao procurar convencer os pais, pode argumentar, por exemplo, da
seguinte forma: “A inteligência de nenhuma criança deve ser medida por um
possível mau desempenho em uma ou outra brincadeira, já que as atividades
são muitas, e essa criança pode sair-se muito bem nas outras brincadeiras. Até
porque pode ocorrer o inverso: o outro ser considerado ruim na atividade em
que seu filho é considerado bom”.
Deve também aconselhar os pais a não se sentirem frustrados ou
incompetentes, porque nem sempre os interesses da criança, em alguns
momentos, coincidem com os dos adultos. E dependendo da receptividade aos
argumentos apresentados, o psicopedagogo poderá construir uma dupla
relação afetiva: com a família e com a criança: Quanto à primeira, poderá
ajudar a destruir alguns mitos e crenças em relação ao desenvolvimento
cognitivo; e quanto à segunda, através de algumas atividades de brincadeira
conjunta (construir casinhas, brincar de palhaço, contar historinhas, por
40
exemplo), será possível contribuir no processo de socialização, resgatando,
com isto, a auto-estima.
No que diz respeito aos educadores, a intervenção psicopedagógica se
configura basicamente em nível de assessoria. Mas não é demais lembrar que
a atuação do psicopedagogo deve pautar-se por um necessário cuidado em
relação a eles, para que seu trabalho não venha a ser descaracterizado como o
de um mero supervisão, cuja única finalidade é de fiscalizar o trabalho do
educador e da escola.
O psicopedagogo deve manter com os educadores que orientam as
atividades infantis da brinquedoteca uma relação profissional, pautada em
valores éticos, respeito mútuo, companheirismo e, sobretudo, sinceridade e
humildade. Mas precisa despertar neles a necessidade de compreender o
papel que a brinquedoteca representa para o processo de socialização e de
construção do conhecimento da criança.
Montessori (1936) adverte que a criança deve reagir em seu espaço de
maneira a experimentar todas as situações possíveis. Destaca a necessidade
da atividade manual infantil, reconhecida como primeira manifestação.
3.3 – ESTUDANTES COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS
Quando uma criança nasce, vem ao mundo inscrita no desejo materno.
Caso nasça com alguma deficiência, os pais se vêem às voltas com a
frustração de ter um filho diferente e tendem a estabelecer vínculos patológicos
com essa criança.
É normal que haja um processo de luto subjacente ao nascimento de uma
criança disfuncional, seja por problema físico, emocional ou intelectual.
Processo esse que nem sempre é bem elaborado pela família, agravando o
quadro já existente.
As famílias, algumas vezes, na tentativa de superproteger a criança,
escamoteiam sua decepção e frustração. Há outras que a colocam num plano
inferior, atribuindo-lhe uma incompetência maior do que a realidade, mantendo-
a eternamente infantilizada por impossibilitar que seu potencial seja
41
desenvolvido. Existem ainda as famílias que têm expectativas inatingíveis,
considerando as dificuldades da criança.
Crianças com necessidades educativas especiais são aquelas que, por
alguma espécie de limitação, requerem certas modificações ou adaptações no
programa educacional, para que possam atingir seu potencial máximo. Essas
limitações podem decorrer de problemas visuais, auditivos, mentais ou
motores, bem com de condições ambientais desfavoráveis.
Trabalhar com estudantes com necessidades educativas especiais é
sempre um grande desafio para os profissionais da área da educação.
Para as crianças com deficiências, quando diagnosticadas no início, a
educação pré-escolar torna-se ainda mais necessária, pois facilita que tenham
melhores possibilidades de conviverem em um ambiente educacional
organizado, além de todos os benefícios da interação com outras crianças e na
utilização dos recursos para promoverem o seu desenvolvimento logo no
começo.
O que irá indicar se um estudante deve receber educação especial é a
presença de necessidades educativas especiais, e não apenas a presença de
uma deficiência ou por ser um estudante superdotado. Assim, a existência de
uma deficiência não impedirá que uma criança seja bem atendida mediante os
processos comuns de educação.
A intervenção psicopedagógica é fundamental para os portadores de
necessidades educativas especiais. O psicopedagogo que atua na instituição
deve acompanhar o ritmo da criança desde o início, pois qualquer resposta
perceptível do estudante portador de necessidades educativas especiais, ao
longo de seu processo de desenvolvimento, constitui-se em um fato relevante.
A expressão “necessidades educativas especiais” tornou-se bastante
conhecida no meio acadêmico, na escola, nos discursos oficiais e no senso
comum. O que se pretendia era atenuar a conotação negativa da terminologia
para se referir aos indivíduos com limitações físicas, motoras, sensoriais,
cognitivas, etc. Essa denominação foi rapidamente assimilada, talvez, pela
amplitude e abrangência de sua aplicabilidade.
Assim, os indivíduos com deficiência visual apresentam necessidades
consideradas especiais, porque a maioria das pessoas não necessita dos
recursos que eles precisam para ter acesso à leitura, à escrita e para se
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locomover. Essas pessoas necessitam, por exemplo, do sistema braile, de
livros sonoros, de softwares com síntese de voz, de bengalas, cães-guia ou
guias humanos.
Da mesma forma, estão as pessoas que necessitam de muletas, cadeiras
de rodas ou andadores para sua locomoção. Também os surdos, pois usam a
linguagem gestual e leitura labial em sua comunicação. Existem ainda aqueles
que necessitam de cuidados especiais para a alimentação, o vestuário, a
higiene pessoal e outros hábitos ou atividades rotineiras.
Essas pessoas necessitam desenvolver habilidades e aprendizados
específicos. Algumas dessas necessidades podem ser temporárias ou
permanentes, dependendo da situação ou das circunstancias das quais se
originam.
A criança portadora de necessidades educativas especiais poderá
acreditar na sua capacidade de desenvolvimento da aprendizagem se for
incentivada pelo grupo de estudantes, pelo professor e pelos demais
profissionais que trabalham com ele. A relação afetiva nesta proposta de
educação é um fator essencial para o aprendizado, o afeto é primordial para o
crescimento do potencia cognitivo.
Então, qualquer deficiência é considerada como algo a mais a ser
trabalhado. Deve-se considerar, também, as questões e os aspectos sociais
que estão interligados.
A Psicopedagogia deve considerar o sujeito que aprende a partir de suas
diferenças individuais, respeitando, assim, seu processo de desenvolvimento
nos diversos aspectos: afetivos, cognitivos, orgânicos e psicossociais. E para
poder compreender o estudante que responde de forma distinta e em tempos
diferenciados a cada situação.
É necessário considerar que não há limites nem parâmetros
preestabelecidos que justifiquem até onde essas crianças portadoras de
necessidades especiais possam evoluir em sua estrutura cognitiva.
Por isso, é necessário um trabalho interdisciplinar, entre vários
profissionais e o psicopedagogo, pois o trabalho conjunto facilita o ajustamento
e o acompanhamento dos programas educacionais para atender as
necessidades individuais na medida em que a resposta é diferente de criança
para criança.
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O importante é valorizar os estudantes com necessidades educativas
especiais como sujeitos do saber, das possibilidades e dos limites, sem
subestimá-los diante do que podem chegar a desenvolver. Porque, de acordo
com o pensamento de Vygotsky, a educação para essas crianças deveria se
basear na organização especial de suas funções e em suas características
mais positivas, ao invés de se basearem em seus aspectos mais deficitários.
O fundamental é que se ultrapasse o preconceito, para trabalhar com o
potencial do aluno, acreditar nas suas possibilidades e basear o trabalho no
seu desenvolvimento real e potencial do aluno. Deve-se abandonar a idéia de
que, para a criança com necessidades educacionais especiais, a aprendizagem
consiste somente em atividades de rotina como higiene, maneiras de portar-se
ou amarrar um cadarço de sapato.
É de grande importância a postura do educador em relação às diferenças
de seus alunos, apresentando oportunidades de construção do conhecimento e
respeitando o ritmo próprio de cada um. Talvez, essa postura possa ser
considerada um primeiro passo para vencer o preconceito.
Desse modo, o estudante com necessidades educativas especiais, como
qualquer outro estudante, é movido pelo desejo de conhecer e de atuar sobre
si mesmo e sobre o ambiente social.
É importante que a escola compreenda que não é suficiente que somente
o professor da criança com necessidades educativas especiais tenha
informações de como proceder junto a ela. A comunidade escolar (direção,
educadores, funcionários de apoio, e responsáveis de alunos) também deve
saber como proceder com esse estudante.
Houve, nos últimos anos, um crescente movimento educacional visando a
inclusão das pessoas portadoras de deficiência na escola regular. Mas, as
mudanças necessárias para que a inclusão realmente ocorra são inúmeras e
profundas, envolvem questões pedagógicas, de gestão, de organização
escolar, éticas e culturais.
Assim, a inclusão ainda não é uma realidade, como outras inovações
educacionais. Levará algum tempo até que as alterações necessárias se
instalem e orientem novas ações. No entanto, já se pode vislumbrar uma
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importante mudança no tocante à concepção da condição desses estudantes
que apresentam alguma deficiência.
Ao colocar-se como instrumento restaurador da relação do aprendiz com o
objeto do conhecimento, o psicopegadogo, torna-se, ele mesmo, um agente
vinculador para seu “cliente”.
Desenvolver com o outro um vínculo especial: agente preventivo e
reintegrador da distorção educativa. Essa distorção refere-se à não inclusão da
diferença e da especificidades no processo escolar institucional.
O papel do psicopedagogo supõe um olhar para a singularidade do seu
“cliente”, uma aceitação da sua diferença entre os outros e construir com ele
uma nova relação com o conhecimento.
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CONCLUSÃO
Esta pesquisa tratou de abordar o papel da Educação no desenvolvimento
humano e as possíveis contribuições do saber e do fazer psicopedagógico no
cotidiano escolar.
A sociedade atual experimento mudanças rápidas e complexas devido ao
fluxo das informações variadas e numerosas. Entre as contradições da
sociedade atual dá se conta da competitividade, do individualismo e da falta de
solidariedade em um mundo que tanto se globalizou e aproximou as pessoas.
Somente as tragédias causam alguma manifestação de valores humanos entre
certas pessoas.
Quando a educação é socialmente determinada é porque os objetivos e
conteúdos vão sendo definidos por fins e exigências sociais, políticas e
ideológicas e, por conseguinte, a prática educativa é determinada por valores,
normas e particularidades da estrutura social à qual está subordinada.
Com isso, atende as demandas de manutenção, como também, propicia
ações que visam à transformação da ordem social.
Fruto da consciência da especificidade de cada escola na relação do ser
humano de sua comunidade interna e externa, assume-se hoje que cada
escola desenvolva o seu próprio projeto educativo.
É cada vez mais freqüente, nas relações de ensino-aprendizagem,
observar-se um clima em que privilegiam os aspectos cognitivos e intelectuais,
deixando-se de lado, mas uma vez, algo muito valioso para a aprendizagem: o
vinculo afetivo que se estabelece entre estudante, professor e toda a
comunidade escolar.
Esse quadro tem se alterado quando as pessoas percebem que a
presença do afeto no ambiente escolar é um ingrediente importantíssimo, para
se poder concretizar na escola, tudo o que se espera dos profissionais de
educação e seus estudantes: que ensinem e aprendam, a fim de é preciso
defender e lutar por uma escola comprometida com o desenvolvimento pleno
(físico, intelectual, sócio-afetivo, psicomotor).
A escola, no cumprimento da sua função social, devera desenvolver nos
estudantes que nela confiam a sua formação, competências e habilidades.
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Resgatando também, o viver a cidadania, na compreensão da realidade; no
exercício da liberdade e da responsabilidade, na atenção e no interesse pelo
outro, no respeito pela diversidade, na correta tomada de decisões, no
comprometimento com as condições de desenvolvimento humano, social e
ambiental. Esta também é uma cultura a ser desenvolvida e assumida. Uma
educação a ser feita a partir da vida da escola.
Só a escola que se interroga sobre si própria é que se transformara em
uma instituição autônoma e responsável, automatizante e educadora. Uma
escola assim concebida pensa e age no presente para se projetar no futuro.
Não ignorando os problemas atuais, tentando resolvê-los por referencia a uma
visão que se direcione para a melhoria da educação praticada e para o
desenvolvimento da organização.
Como não há como se distanciar da realidade, grande parte dos
profissionais da Educação sentem a necessidade de refletir sobre suas ações
pedagógicas no que diz respeito a conhecer e reconhecer a importância do
sujeito da aprendizagem, a entender o que pode facilitar ou impedir que se
aprenda.
Acreditar que a dificuldade de aprendizagem é responsabilidade exclusiva
do estudante ou da família, ou somente da escola é, no mínimo, uma atitude
ingênua perante a grandiosidade que é a complexidade do aprender. Procurar
e achar um corpo que assuma a culpa do fracasso escolar permite a sensação
de que tudo está resolvido. A atitude do não aprender traz em si o subtexto da
denúncia de que algo não está bem e que alguma coisa deverá ser feita.
As crianças com dificuldades de aprendizagem são muitas vezes
brilhantes e precisam ser encorajadas a desenvolver as suas vocações e
interesses, pois só assim poderão desenvolver totalmente os seus talentos e
aptidões.
A família foi sempre considerada como um elemento fundamental no
desenvolvimento do individuo. Sendo a família constituinte realmente em um
núcleo decisivo para a condução de uma vida escolar satisfatória, a criança
que recebe atenção e apoio dos pais, sente este suporte emocional, ela reflete
a uma auto-estima satisfatória também por mais simples que seja este seio
familiar.
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Para que uma criança aprenda é necessário que ela tenha o desejo de
aprender. E que esse seja o desejo da família. Portanto, é preciso que haja
diálogo e confiança entre a família e a escola. Dependendo da reação da
família frente aos problemas escolares apresentados pelo estudante, acabam
afetando-o em sua totalidade, impedindo com isso o seu crescimento de forma
natural e satisfatória ou favorecendo o desenvolvimento de uma auto-estima
negativa.
Agora, quando o estudante apresenta dificuldades de aprendizagem que
não são causadas por fatores externos, ou seja, normalmente, são resultantes
de uma imaturidade do seu desenvolvimento psicobiológico, a educação deve
promover oportunidades para que este estudante se desenvolva intelectual,
social e moralmente.
As primeiras relações que a criança estabelece com o conhecimento são
de fundamental importância para a construção de sua modalidade de
aprendizagem.
Nesta perspectiva, a Psicopedagogia contribui significativamente com
todos os atores envolvidos no processo de aprendizagem, pois exerce seu
trabalho de forma multidisciplinar, numa visão sistêmica. Por isso, a proposta
exposta neste trabalho reforça o pensamento de que se deve exercer uma
prática decente em parceria, em equipe, onde todos deverão voltar seu “olhar”
e sua “escrita” para o sujeito da aprendizagem.
O psicopedagogo trabalha tanto com estudantes que apresentam
dificuldades na escola, como também presta assessoria junto aos professores
e equipe técnico-pedagógica, alem de fazer aconselhamento aos pais.
O trabalho do psicopedagogo na escola é reintegrar e readaptar o
estudante à situação de sala de aula, quando foi possível, ou até, possibilitando
o respeito às suas necessidades e ritmos pessoais. Também, sendo atribuição
do psicopedagogo, trabalhar as questões pertinentes às relações de vínculo
professor-aluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo
e o cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos nas diferentes áreas de
conhecimento.
Todas as ocasiões são favoráveis à observação do estudante porque
mostram suas necessidades, seus desejos e, através de seu comportamento,
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BIBLIOGRAFIA
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