a importância do ensino de ciências: aprendizagem significativa

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A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa na Superação do Fracasso Escolar PEREIRA, Maria Alice* RESUMO – No presente artigo, ressaltou-se a preocupação com resultados negativos, que se traduzem em dificuldades de aprendizagem, baixo rendimento, evasões, reprovações, como indicadores do fracasso escolar observado nas disciplinas de Física, Química e Biologia do Ensino Médio. Essas disciplinas têm suas bases na disciplina de Ciências, das séries finais do Ensino Médio, onde se percebeu que os conteúdos não vinham sendo trabalhados de maneira a formatar os saberes da escola, legitimando-os. Pensou-se então num processo de ensino – aprendizagem, comprometido com a possibilidade de recuperar no aluno o espírito crítico, investigador, interessado em adquirir conhecimentos. Propôs-se que, os conteúdos de Ciências, em observância à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, fossem desenvolvidos através de uma Aprendizagem Significativa, no contexto sócio – educacional do aluno, estabelecendo-se as relações, características, aplicabilidade, funcionalidade no âmbito de seu cotidiano. Partindo-se do conhecimento cognitivo para a contextualização, conforme se configura nas Diretrizes Curriculares, o aprendiz passará a construir e reconstruir conceitos que, através da aplicação em situações- problema venha a ser mediatizado pelas relações na qual ele se situa. Observou-se que esta forma de trabalho pedagógico proposto, pode contribuir para a produção de condições favoráveis ao processo de ensino e aprendizagem dentro do espaço escolar. Palavras Chaves: Ciências. Fracasso Escolar. Aprendizagem Significativa. ABSTRACT: In this article, emphasized the concern with negative results, which result in learning disabilities, low income, avoidance, reproof, as indicators of school failure observed in physics, chemistry and biology in high school. These disciplines have their bases in the discipline of science, of the final series of high school, where realized that the contents were not being worked in order to format the knowledge of the school, justifying them. It was thought then a process of education - learning, committed to the possibility of recovering student in critical thinking, researcher, interested in acquiring knowledge. It was proposed that the contents of Sciences, in accordance with the Law of Directives and Bases of National Education, were developed through a Meaningful Learning in social context - the student's educational, establishing relationships, characteristics, suitability, and functionality in part of his/her daily lives. Based on this knowledge to the cognitive context, as set in the Curriculum Guidelines, the learner will construct and reconstruct concepts through the application of problem situations, may be mediated by the relations in which it is located. It was observed that this form of pedagogical work proposed can contribute to the production of conditions conducive to teaching and learning within the school environment. Keywords: Science. School Failure. Meaningful Learning. ________________________________________________ *Professora Pedagoga, com disciplina de concurso em Orientação Educacional, pós- graduada em Didática para o Ensino Superior pela Universidade Estadual de Marília – SP. [email protected] , cursando o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE – 2008), SEED, Estado do Paraná. .

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Page 1: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa na

Superação do Fracasso Escolar

PEREIRA, Maria Alice*

RESUMO – No presente artigo, ressaltou-se a preocupação com resultados negativos, que se traduzem em dificuldades de aprendizagem, baixo rendimento, evasões, reprovações, como indicadores do fracasso escolar observado nas disciplinas de Física, Química e Biologia do Ensino Médio. Essas disciplinas têm suas bases na disciplina de Ciências, das séries finais do Ensino Médio, onde se percebeu que os conteúdos não vinham sendo trabalhados de maneira a formatar os saberes da escola, legitimando-os. Pensou-se então num processo de ensino – aprendizagem, comprometido com a possibilidade de recuperar no aluno o espírito crítico, investigador, interessado em adquirir conhecimentos. Propôs-se que, os conteúdos de Ciências, em observância à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, fossem desenvolvidos através de uma Aprendizagem Significativa, no contexto sócio – educacional do aluno, estabelecendo-se as relações, características, aplicabilidade, funcionalidade no âmbito de seu cotidiano. Partindo-se do conhecimento cognitivo para a contextualização, conforme se configura nas Diretrizes Curriculares, o aprendiz passará a construir e reconstruir conceitos que, através da aplicação em situações- problema venha a ser mediatizado pelas relações na qual ele se situa. Observou-se que esta forma de trabalho pedagógico proposto, pode contribuir para a produção de condições favoráveis ao processo de ensino e aprendizagem dentro do espaço escolar. Palavras Chaves: Ciências. Fracasso Escolar. Aprendizagem Significativa.

ABSTRACT: In this article, emphasized the concern with negative results, which result in learning disabilities, low income, avoidance, reproof, as indicators of school failure observed in physics, chemistry and biology in high school. These disciplines have their bases in the discipline of science, of the final series of high school, where realized that the contents were not being worked in order to format the knowledge of the school, justifying them. It was thought then a process of education - learning, committed to the possibility of recovering student in critical thinking, researcher, interested in acquiring knowledge. It was proposed that the contents of Sciences, in accordance with the Law of Directives and Bases of National Education, were developed through a Meaningful Learning in social context - the student's educational, establishing relationships, characteristics, suitability, and functionality in part of his/her daily lives. Based on this knowledge to the cognitive context, as set in the Curriculum Guidelines, the learner will construct and reconstruct concepts through the application of problem situations, may be mediated by the relations in which it is located. It was observed that this form of pedagogical work proposed can contribute to the production of conditions conducive to teaching and learning within the school environment.

Keywords: Science. School Failure. Meaningful Learning.

________________________________________________

*Professora Pedagoga, com disciplina de concurso em Orientação Educacional, pós- graduada em Didática para o Ensino

Superior pela Universidade Estadual de Marília – SP. [email protected] , cursando o Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE – 2008), SEED, Estado do Paraná. .

Page 2: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

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1 Introdução

Através de resultados analisados em relatórios finais do ano de 2007 e

primeiro bimestre de 2008, dados colhidos em Conselhos de Classe, no convívio

diário com a comunidade escolar, em boletins de notas bimestrais dos alunos do

Colégio Estadual “Jorge Queiroz Netto”, de Piraí do Sul, surgiu a preocupação com

resultados negativos que se traduziam em dificuldades de aprendizagem, baixo

rendimento, evasões, reprovações. Esses resultados refletiam-se, na maioria dos

casos, em disciplinas cujo aprendizado tem suas bases no ensino de Ciências, das

séries finais do Ensino Fundamental, quais sejam: Biologia, Física e Química, do

Ensino Médio. Deflagrado o problema, elaborou-se material didático- pedagógico,

um Caderno Temático, com a finalidade de desenvolverem-se estudos junto aos

pedagogos e professores de Ciências, do Ensino Fundamental do Colégio, por

acreditar-se que, nesta modalidade é que se constroem os alicerces das disciplinas

afins, no Ensino Médio.

Entende-se que, todo o professor deva conhecer como se desenvolveu

historicamente a disciplina da área em que atua, as abordagens de ensino, as

tendências pedagógicas, propostas e teorias de aprendizagem que tiveram

influência sobre ela, razão pela qual, os temas foram relembrados.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional clarifica a importância de

se conduzir o aluno a uma interação com a ciência e a tecnologia, que lhe

oportunize um conhecimento dentro de seu cotidiano sócio-cultural. O aluno tem

direito a um saber cientifico, não somente dos conteúdos sistematizados através de

programas de ensino, livros didáticos, preferências do professor por este ou aquele

conteúdo, esta ou aquela prática, mas um saber que lhe oportunize opinar,

problematizar, agir, interagir, entendendo que o conhecimento adquirido, não é

definitivo, absoluto. O aluno precisa entender a dialética do desenvolvimento

cientifico - tecnológico, como resultante dos fatores infundidos pela sociedade

cultural, política, econômica, ambiental e que se manifestam na relação do homem

consigo e com seus iguais. Para que este conhecimento possa tornar-se real, é

preciso que os envolvidos tenham seus “direitos de vez e voz”.

Pensou-se, então, num processo de ensino-aprendizagem comprometido

Page 3: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

3

com a possibilidade de recuperar no aluno o espírito crítico, investigador,

interessado em adquirir conhecimentos que viessem a favorecer o aprendizado.

Enquadrou-se, para o desenvolvimento dessa aprendizagem com a Teoria

Construto - Cognitivista de Ausubel. O cognitivismo de Ausubel encaminha para o

ato de construir significados ao nível da consciência – o ato da cognição – processo

através do qual o mundo de significados tem sua origem.

2 A COMPROVAÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR

Para a socialização dos estudos realizados e o desafio de colocar-se em

prática o trabalho elaborado, convidaram-se os professores das disciplinas de

Ciências, Física, Química, Biologia e Pedagogos, a participarem de encontros para o

enfrentamento do fracasso escolar, já arrolado.

Esses encontros iniciaram-se com reflexões sobre o Colégio onde se acham

inseridos, sua história, o espaço físico disponibilizado, sobre o corpo docente e

discente e suas potencialidades e principalmente pela filosofia adotada, a

construtivista.

Exibiram-se, então, aos participantes, quadros de gráficos construídos sobre

a realidade, através de dados coletados em 2007 e 2008, junto à Secretaria e

Equipe Pedagógica do Colégio, aonde se viu demonstrado o seguinte:

MANHA TARDE NOITE

1ª A 45 1ª E 44 1ª G 39

1ª B 45 1ª F 42 1ª H 44

1ª C 43

1ª D 43

TOTAL 176 TOTAL 86 TOTAL 83

Tabela 1 345: TOTAL DE MATRÍCULAS NAS 1ª SÉRIES DO ENSINO MÉDIO

Page 4: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

4

SÉRIES EVADIDOS REPROVADOS NÃO CONCLUIRAM AP. C.C

1ª A 02 07 09 06 1ª B 03 04 07 02 1ª C 01 06 07 03 1ª D - 10 10 05 1ª E 04 08 12 06 1ª F 03 06 09 10 1ª G 17 11 28 03 1ª H 18 10 28 05 TOTAL 48 62 110 40

Tabela 2

Observe-se o Gráfico Demonstrativo da Tabela 2

Diante dos resultados observou-se que, dos 345 alunos matriculados nas 1as

séries, 110 não concluíram. Dos 235 que concluíram 40 foram aprovados em

Conselho de Classe. Somente 195 alunos foram aprovados por média.

Apresentaram-se dados do número de alunos reprovados nas três

disciplinas em questão: Física, Química e Biologia, no ano de 2007.

0

20

40

60

80

100

120

EVADIDOS REPROVADOS NÃO CONCLUIRAM A.P.C.C1ª A 1ª B 1ª C 1ª D 1ª E 1ª F 1ª G 1ª H TOTAL

Page 5: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

5

Tabela 3: alunos reprovados por disciplina em 2007.

Gráfico estatístico demonstrativo da Tabela 3

A concepção construtivista oferece ao professor um referencial para analisar e fundamentar muitas das decisões que toma no planejamento e no decorrer do ensino – por exemplo, delas são extraídos critérios para comparar materiais didáticos; para elaborar instrumentos de avaliação coerentes com o que se ensina; para elaborar unidades didáticas etc. (COLL, C. SOLÉ Isabel, 1998. p.25)

REPROVADOS SÉRIES FISICA QUIMICA BIOLOGIA

7 1ª A 04 06 02 4 1ª B 04 03 04 6 1ª C 03 06 04

10 1ª D 09 10 08 8 1ª E 08 07 07 6 1ª F 03 06 02

11 1ª G 09 08 08 10 1ª H 04 03 03

DISCIPLINAS QUE MAIS REPROVAM

TOTAL 62 REPROVADOS

44 49 38

Page 6: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

6

0102030405060708090

100

MANHÃ TARDE NOITE TOTAL

SEM MÉDIA –FÍSICA

TOTAL DOS 335 MATRICULADOS

0102030405060708090

MANHÃ TARDE NOITE TOTAL

SEM MÉDIA –QUÍMICA

TOTAL DOS 335 MATRICULADOS

Na coleta de dados referente ao 1o do bimestre do ano de 2008, evidenciou-se

um total de 335 alunos matriculados, nas 1as séries do Ensino Médio, assim

elencado:

178 no turno da manhã - 78 no turno da tarde -79 no turno da noite

Observe-se: gráfico demonstrativo de alunos sem média nas disciplinas de Física, Química e Biologia.

Constatações: Dos 335 alunos matriculados em 2008, 92 não atingiram média em Física, 81 em Química e 146 em Biologia.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

MANHÃ TARDE NOITE TOTAL

SEM MÉDIA –BIOLOGIA

TOTAL DOS 335 MATRICULADOS

Page 7: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

7

3 Por que, para que e como direcionar o Ensino de Ciências, no Curso

Fundamental, para uma aprendizagem significativa?

Salientou-se a importância do enfoque da prática de Ciências, do Ensino

Fundamental, diante dos questionamentos críticos relatórios e análises sobre a

contextualização dos conteúdos da disciplina e sua importância para o Ensino

Médio.

Os conteúdos da disciplina de Ciências não vinham sendo articulados de

maneira a formatar os saberes da escola, legitimando-os. O estudo da disciplina era

tratado num universo amplo, estático, cristalizado, distante do universo sociocultural

do aluno. O professor, por falta de tempo disponível para o preparo das aulas,

acomodação, ou falta de autoconfiança, preparo, não vinha criando; postava-se a

utilizar-se de materiais elaborados por autores que se presumem bons. Através

desses materiais, o professor abriu mão de sua autonomia e liberdade,

transformando-se em mero técnico quando poderia usar da internet, bits didáticos,

revistas e vários outros materiais de seu conhecimento e de seus alunos.

Para que melhor se elucidasse a situação descrita, optou-se por apresentar

alguns questionamentos aos professores que vêem ministrando aulas da disciplina

de Ciências e alunos das séries finais do Ensino Fundamental. Clarificou-se aos

participantes a intenção da pesquisa, no firme propósito de coletar subsídios na

busca de soluções para o enfrentamento do fracasso escolar, já demonstrado

através de pôster, contendo os gráficos estatísticos.

Da junção do trabalho com dois professores de Ciências e quarenta (40),

alunos de 6a, 7a e 8a séries e 1a série do Ensino Médio, houve a constatação das

práticas que vinham sendo desenvolvidas:

� Dos dois professores inquiridos, coletou-se o seguinte:

• Os textos das aulas são ditados ou sintetizados no quadro de giz, muito

bem explicados e relacionados à realidade dos alunos;

• O livro Didático é um bom suporte no enriquecimento dos conteúdos,

para visualizar as ilustrações e para realização das atividades;

• Práticas não são realizadas devido ao grande número de alunos por

turma e falta de professor laboratorista;

• Durante as explicações procuram interagir com os alunos, atendendo

suas curiosidades, dentro do cotidiano dos mesmos;

Page 8: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

8

• Priorizam os conteúdos de 7a e 8a séries, relacionados às disciplinas de

Física, Química e Biologia, em função do Ensino Médio.

� Aos alunos, as questões foram apresentadas sem comentários sobre

as mesmas e resultaram em:

• Elogios à dedicação dos professores;

• Forma de desenvolvimento dos conteúdos;

• Uso do livro didático;

• Frustrações pela falta de aulas práticas; experimentos laboratoriais,

visualização e manipulação de materiais concretos;

• Hábitos de estudos (decoram questões do livro ou do caderno.

� Dentre as respostas dadas, os 40 alunos, expressaram o seguinte:

• Com relação ao acesso aos conteúdos de Ciências, 28 alunos tiveram-

nos através de textos ditados pelo professor, 07 alunos, através de resumos de

textos do livro didático e 05 alunos não definiram a resposta;

• Com relação ao Livro Didático, 31 alunos responderam que fazem o

seu uso, em casa, para completar atividades, 02 para acompanhar a leitura

realizada pelo professor em sala de aula, 04 alunos, para copiar textos, 01 aluno

para ver figuras, e 02, não deram respostas claras;

• Com relação às práticas ou materiais apresentados durante as aulas,

20 alunos citaram giz, apagador, cadernos, livros, etc., 09 citaram apenas livros

didáticos, 06 participaram de algumas práticas e 04 não responderam;

• A maioria, dos alunos, ou seja, 28 decoram ou entendem os conteúdos

e para isso dependem das explicações do professor, 11 só decoram, pois, não

entendem as explicações e 01 anulou a resposta.

Concluiu-se, após esses questionamentos que, a maioria dos alunos teve

acesso aos conteúdos através de ditado de textos; o livro didático é utilizado para

completar atividades; a metade dos alunos só viu em sala de aula materiais de

rotina; 70% nunca participaram de experimentos em sala de aula ou laboratório; a

maioria necessitou de explicações do professor, para conseguir decorar os

conteúdos.

Aconteceram, entre os professores de Ciências e Pedagogos, comentários

sobre a falta de interesse dos alunos, carga horária da disciplina (duas h/a

Page 9: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

9

semanais), falta de professor laboratorista, turmas numerosas, o que tem

desestimulado os docentes a ousarem de estratégias mais inovadoras.

Tendo por base o que foi exposto e que veio a confirmar os resultados

demonstrados nos gráficos estatísticos e as dificuldades apresentadas pelos

professores, viu-se a necessidade da inclusão de uma estratégia de ensino-

aprendizagem capaz de levar os alunos à contextualização dos conteúdos, através

de suas práticas.

Intensificaram-se os encontros com o grupo de professores e pedagogos,

pois como diz Azanha (1995, p. 240) “Se a própria escola não for capaz de se

debruçar sobre os seus problemas, de fazer aflorar esses problemas e de se

organizar para resolvê-los, ninguém fará isso por ela”. Demonstrou-se, discutiu-se e

questionou-se acerca de tudo que vinha acontecendo na escola. Comprovou-se o

fracasso escolar e então, com a utilização de Data-Show e Pendrive, fez se um

repasse sobre a história do Ensino de Ciências, tendências, propostas e abordagens

que permearam o ensino da disciplina.

3.1 O Ensino de Ciências no Brasil

Levaram-se aos colegas, textos elucidativos do ensino da disciplina no Brasil,

desde o inicio do século XX, até os dias de hoje, passando do modelo agrário-

exportador para o modelo desenvolvimentista, baseado na industrialização, ao

modelo chamado “milagre econômico”, durante o regime da ditadura militar.

Do começo do século XX até 1950, o Ensino de Ciências é desenvolvido

dentro de um modelo tradicional, em que o professor explica o conteúdo, reforçando

as características positivas, através da verbalização, aulas teóricas, com base em

livros didáticos europeus e em relatos de experiências contidas nesses livros,

abstraindo as próprias experiências dos educandos.

A partir de 1950, com a expansão da rede pública, surgem novas tendências

ditadas pela crise do modelo político-econômico em mudança e através de

influências, principalmente dos Estados Unidos, através de sua reformulação de

ensino, cujo reflexo maior foi os “projetos de Ciências” de 1ª a 8ª séries e também de

2ª Grau, nas áreas de Física, Química, Biologia e Geociências.

Esses projetos de ensino se refletiam em produção de textos, materiais

experimentais e formação de professores e a valorização dos conteúdos. Tais

projetos, a partir de 1960, começaram a ser produzidos, no Brasil, até 1970.

Page 10: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

10

Nesse período o Ensino de Ciências, passou por três tendências: Tecnicista:

uso da instrução programada, ensino por módulos, análise de tarefas, auto-

instrução, originadas por uma psicologia experimental, com ênfase à avaliação,

aplicação de testes com vistas à mudança de comportamento.

Escola- novista: valorização das atividades experimentais, através do “método

científico” e abordagem “psicológica dos conteúdos, com ênfase ao método da

redescoberta”.

De ciências integradas: integração entre as Ciências Naturais e Sociais, chegando

quase ao esvaziamento dos conteúdos pela crença de que o professor de Ciências

precisaria saber usar os materiais instrucionais, não necessitando de conhecimentos

profundos do conteúdo.

Essas tendências atingiram sobremaneira, professores e livros didáticos

comercialmente produzidos e que até pouco tempo constituíam-se em instrumento

básico do professor.

A partir de meados de 1970, sobreveio a preocupação com o

desenvolvimento histórico do conhecimento científico, suas implicações e impactos

sociais com relação ao meio ambiente e ao homem. Isso ocorreu porque as crises

ambientais, o aumento da poluição, a crise energética e a efervescência social,

manifestada em movimentos de estudantes, lutas raciais, determinariam

transformações nas propostas das disciplinas científicas em todos os níveis de

ensino (Krasilchik, 2000, p. 89).

O ensino então se voltou para a preocupação com o viver melhor, através da

análise das implicações científicas.

Houve a preocupação com o espaço para aproximação entre ciências e

sociedade com a inclusão da investigação científica a aspectos políticos,

econômicos e culturais, a valorização de conteúdos científicos com a finalidade de

identificar problemas e propor soluções, conteúdos esses, próximos ao cotidiano.

Assim, no final da década de 80 e início de 90, surgiu, no Paraná, o Currículo

Básico de 1ª Grau, sob a égide da pedagogia histórico- crítica, que analisava as

relações entre a escola, trabalho e cidadania.

O Currículo Básico foi desvalorizado com a promulgação da LDB 9394/96,

quando então surgiram os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) que

englobaram conteúdos mais tradicionais. Considerava ainda que, tudo que se

ensinasse na escola poderia ser entendido como currículo escolar.

Page 11: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

11

Surgiu a valorização de temas como, a questão do lixo, drogas, da

sexualidade, do meio ambiente e outros sem que, no entanto, os conteúdos

científicos que fundamentam esses temas fossem enfatizados.

Assim, a partir de 2003, com a mudança no cenário político nacional e

estadual, o Paraná, com a colaboração dos profissionais da educação, produziu as

novas Diretrizes Curriculares para a Educação, no Estado.

Então, definiram-se novos rumos a serem tomados, também na disciplina de

Ciências; nova fundamentação teórico-metodológica, novos conceitos, novo enfoque

científico, com vistas à aprendizagem mais significativa; através de conteúdos

estruturantes, numa abordagem de ensino construto-cognitivista.

Quadro ilustrativo do ensino de Ciências no Brasil

PERIODO CONTEXTO HISTÓRICO METODOLOGIAS AO ALUNO

1932 Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova

Substituição dos métodos tradicionais por uma metodologia ativa

Aulas práticas

Anos 50 e 60 2ª Guerra Mundial Currículos afetados pela industrialização e desenvolvimento tecnológico e científico

Aulas teóricas Livros didáticos europeus com relato de experiências

Anos 60 e 70 Corrida desenvolvimentista (avanços: econômico, político, cultural e tecnológico)

Projetos – ênfase ao método científico

Elaboração de hipóteses, realização de experimentos (aprendizagem por redescoberta)

Anos 70 e 80 Crise energética – problemas sociais – desenvolvimento industrial desenfreado

Lei 5692/71

Interesse pela educação ambiental e formação do trabalhador

Desenvolvimento da capacidade de pensar lógica e criticamente sobre implicações sociais

Anos 80 a 90 Início do Neoliberalismo

Atendimento às necessidades do mercado Formação tecnicista

Saber fazer Conhecimento prático

Anos 90 a 2003 Supremacia do Projeto Neoliberal a nível global Currículo Básico Parâmetros Curriculares

Valorização do sujeito interpretativo Pedagogia histórico-crítica Conteúdos flexíveis

Aprendizagem por mudança conceitual Avaliação-Saeb

Após 2003 Diretrizes Curriculares Nacionais

Enfoque científico Abordagem Construtivista Aprendizagem Significativa

Conhecimento cognitivo

Page 12: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

12

3.2 Abordagens

Fez-se necessário um repasse sobre as abordagens de ensino e suas

tendências no Brasil, para entender as implicações decorrentes para a prática

pedagógica do professor.

O ensino na abordagem tradicional defendido por Snyders (1974) tem a

pretensão de levar o aluno ao contacto com as obras primas da literatura e da arte,

aquisição cientifica, com ênfase em todos os campos do saber. Valoriza o

especialista, os modelos e o professor.

O aluno é considerado um “adulto em miniatura” enquanto que o adulto é

considerado “pronto”.

O ensino é centrado no professor e voltado ao programa, à disciplina; o

aluno apenas executa.

Saviani (1980) sugere que o papel do professor se caracteriza pela garantia

que o conhecimento seja conseguido e isso independentemente do interesse e da

vontade do aluno, o qual por si só, talvez, nem pudesse manifestá-lo

espontaneamente e, sem o qual, suas oportunidades de participação social estariam

reduzidas.

Nesta tendência o homem é um ser passivo, detém as informações

necessárias, podendo repeti-las aos outros e pode ser eficiente profissionalmente de

posse dessas informações e conteúdos.

A educação é formal e pode ser adquirida ainda, na igreja ou no trabalho. O

mundo é externo e o homem irá adquirindo aos poucos os conhecimentos na

medida em que tem contacto com o modelo, idéias, aquisições científicas e

tecnológicas, demonstrações e teorias, as quais contribuirão para maior

compreensão e domínio de tudo o que o cerca.

Esse tipo de ensino, que visa à perpetuação destina-se aos vários tipos de

sociedade; os programas refletem níveis culturais adquiridos na trajetória formal; a

avaliação tem caráter reprovatório; o diploma é instrumento de hierarquização e

determina a função social (MIZUKAMI, 1986).

Para Paulo Freire (1975), esta é uma educação que se caracteriza por

“depositar”, no aluno conhecimento, informações, dados, fatos, etc., conhecida como

educação bancária. O aluno que está “adquirindo” conhecimentos deve memorizar

definições, enunciados de leis, sínteses, resumos, nesse processo de educação

formal, aplicada sempre a situações idênticas ao que adquiriu, sem preocupação

Page 13: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

13

com o pensamento reflexivo. Nessa tendência, o professor mantém o poder

decisório sobre todas as formas de ensino pré-definidas e ao aluno cabe a repetição

automática de dados. O professor é o mediador entre o aluno e o modelo cultural,

sem constituição de grupos e sem interação.

A metodologia é fundamentada em aulas expositivas e demonstrações do

professor numa forma constante do professor “tomar a lição”, e o aluno “dar a lição”;

professor agente, aluno ouvinte. (MIZUKAMI, 1986).

Também o ensino intuitivo, sucessor do ensino verbalista, caracterizado

através do método “maiêutico” tem por base a direção do professor que, através de

perguntas aos alunos, é entendido como provocador de pesquisa pessoal do aluno e

encontra-se até hoje em sala de aula. A avaliação é feita através de provas, exames,

que visam a exatidão do que foi dado em sala de aula. O ensino sobre a abordagem

comportamentalista caracteriza-se pelo empirismo, considerando que o

conhecimento é resultado da experiência sobre o que já existia na realidade exterior,

ou seja, da experimentação planejada.

Conforme Mizukami, para os positivistas, o conhecimento consiste na forma

de se ordenar as experiências e os evento do universo, colocando-os em códigos

simbólicos; para os comportamentalistas, a ciência consiste numa tentativa de

descobrir a ordem na natureza e nos eventos.

Segundo Skinner, cada parte do comportamento é uma “função” de alguma

condição que é descritível em termos físicos, da mesma forma que o

comportamento. O comportamento humano é modelado e reforçado através de

análises dos processos que estabelecem modelos de instrução.

Os conteúdos visam habilidades e objetivos que levem a competência.

Ao aluno cabe receber informações e reflexões. Além da aplicação do

conhecimento científico na prática pedagógica, o ensino existe em função de uma

tecnologia; envolve uma série de técnicas aplicadas em sala de aula.

A concepção skineriana, identifica numa educação pedagógica, tecnologias

e métodos, cujos princípios utilizados nessa abordagem provêm da análise

experimental do comportamento. Isso gerou uma infinidade de pesquisas básicas e

aplicadas.

O ver e o escutar do aluno, na abordagem tradicional é substituído pelo

direcionamento do ensino mais eficiente fornecido pela programação.

Page 14: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

14

Já, a abordagem humanista, enfatiza o sujeito, o subjetivo, o vir a ser

contínuo, a auto-realização. Os conteúdos não são tidos como tão importantes e sim

a interação estabelecida entre os indivíduos envolvidos na aprendizagem do mesmo.

Existe um controle sobre o comportamento humano, uma perda individual da

personalidade. Não existe uma preocupação com operacionalização de termos e

para Rogers, a preocupação não consiste em se importar tanto com a educação e

sim com a terapia.

A abordagem cognitiva dá ênfase aos processos cognitivos e à investigação

científica, onde as emoções são consideradas em suas articulações com o

conhecimento.

O termo cognitivista refere-se à organização do conhecimento, estilos de

pensamento ou estilos cognitivos, processamentos de informações, comportamentos

ligados à tomada de decisões, etc.

Dentro dessa abordagem, é importante a forma pela qual as pessoas,

organizam dados, sentem os problemas e os resolvem, adquirirem conceitos e usam

símbolos verbais, ao lidar com os estímulos ambientais. O aluno, no caso, integra a

informação e a processa, dentro de um comportamento interacionista.

Um dos representantes dessa teoria é Jean Piaget com a noção de

desenvolvimento do ser humano por fases que se inter-relacionam e se sucedem até

que se atinjam estágios da inteligência caracterizados. (Mizukami,1986). Para

Piaget, o mundo deve ser reinventado pela criança, num processo de

desenvolvimento e aquisição de conhecimento, onde através do pensamento

operacional se distinguem a indução (descobertas de leis, regularidades, aquisições)

e dedução (elaboração, criação ou invenção que reportam à compreensão da

realidade).

O objetivo, dentro dessa abordagem é que o aluno aprenda por si próprio a

conquistar as verdades, mesmo que seja através de diversos meios em atividades

reais. A educação deverá visar à autonomia do aluno através de atividades em

grupo que favoreça a integração dos componentes das mais diversas realidades,

num trabalho sem coação por parte do professor, mas estímulos às estratégias de

compreensão dessas realidades.

O ensino de forma a desenvolver a inteligência deverá dar prioridade às

atividades do aluno, considerando-o dentro de uma situação social, comportando

possibilidades de novas indagações, assimilando o objeto a esquemas mentais. O

Page 15: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

15

ensino piagetiano baseia-se no ensaio e no erro, na investigação e na pesquisa, em

que o aluno deverá solucionar problema e não na aprendizagem de definições,

fórmulas e nomenclaturas. O conhecimento será subtraído da descoberta através do

exercício operacional da inteligência.

Cabe ao professor propor problemas sem ensinar soluções; propor desafios,

provocar desequilíbrios. Seu papel é de investigador, orientador, pesquisador,

coordenador e o aluno de sujeito independente, no trabalho, observando,

experimentando, relacionando, comparando, compondo, justapondo, estabelecendo

hipóteses, argumentando, etc.

Conforme a teoria piagetiana, ”a inteligência se constrói a partir da troca do

organismo com o meio, por meio das ações do indivíduo’’(Mizukami, 1986, p.78).

Não tem sentido, dentro dessa teoria, a aplicação de provas, testes, aferição de

notas, etc. Pode-se verificar aproveitamentos através de reproduções livres, com

expressões próprias, explicações práticas, causais, etc. de forma qualificativa. Não

deve haver pressão para um desempenho acadêmico, durante o desenvolvimento

cognitivo.

Na abordagem sócio-cultural se enfatiza aspectos sócio-político-culturais e

seu maior representante é Paulo Freire em sua preocupação com a cultura popular

onde toda a ação educativa deverá promover o homem e não ser ajuste desta

sociedade, com o poder de ajustar-se, escolher e decidir, libertando-se então. A

libertação não chegará senão pela práxis de sua busca.

A pedagogia do oprimido deve fazer da opressão e de suas causas o objeto

de sua reflexão, vindo daí, o espírito de luta do homem pela sua libertação.

A educação, para Freire, entende-se como problematizadora, pois deverá

ajudar na relação opressor- oprimido, contrapondo-se à educação bancária,

objetivando um crescimento da consciência crítica, e a liberdade como meio de

superar as contradições desse tipo de educação. Professor e aluno, dentro de uma

dialogicidade, crescem juntos, porque “... ninguém educa ninguém, ninguém se

educa; os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” (Freire, 1975,

p.63)

O professor deverá estar engajado numa prática transformadora,

desmistificando, questionando a cultura dominante, valorizando a cultura e a

linguagem do aluno, dando condições para ele analise seu contexto e produza

Page 16: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

16

cultura, percebendo as contradições da sociedade e seus grupos. Os alunos

participarão no processo, junto ao seu professor.

O conteúdo programático será buscado a partir da consciência que se tenha

de realidade. Dentro da educação libertadora de Paulo Freire, o processamento da

prática se dá através de temas geradores numa metodologia que não pode

contradizer a dialogicidade da educação libertadora.

A avaliação consiste na auto-avaliação permanente por parte de professores

e alunos na avaliação mútua. Rejeita processos que envolvem notas, exames etc.

Outra abordagem que visa discutir os aspectos sócio-culturais e políticos da

educação, que estão ausentes nessa abordagem, é o da tendência sócio-histórica,

principalmente desenvolvida por Saviani, na qual a escola tem o papel fundamental

de socializar os conhecimentos produzidos pela humanidade; o aluno e o professor

passam a ser agentes ativos das transformações que o contexto social coloca. O

conhecimento passa a ter uma intencionalidade política, uma vez que ele é

carregado de propósitos sociais, pensados como produtos das classes sociais.

Todavia, para este autor, a escola não vem desempenhando o papel que a

sociedade lhe atribui, por isto o professor deve ter sempre uma postura crítica em

relação à teoria que envolve as práticas pedagógicas.

Professores concordaram que, em seu cotidiano, dentro do ambiente de

aprendizagem do aluno, podem perpassar por diversas abordagens de ensino,

conforme o contexto presente em suas aulas. Entendeu-se que, não se admite, de

forma alguma, ao professor, manter-se dentro de uma linha teórica, quando a

aprendizagem de seus alunos desanda para um baixo rendimento que implicará

num fracasso escolar.

Na tentativa de se chegar a um resultado mais satisfatório quanto ao

rendimento de nossos alunos e com vistas ao combate à evasão e a repetência é

que se analisaram com professores essas teorias, para que os mesmos entendam

porque se defende o ensino de Ciências numa abordagem construto-cognitivista.

3.3 CONSTRUTIVISMO

Para Acácia Fernández, (2001), “ensinar não é transmitir informação, nem recitar conteúdos. Ensinar tampouco é mostrar-se conhecedor, permanecendo exibicionalisticamente alheio ao aprender [...], [é possibilitar espaços de

Page 17: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

17

significações. Promover perguntas e possibilitar identificações, investir o outro de caráter de sujeito pensante.”

É imprescindível que todo o professor, no atual momento educacional, reflita

sobre a Concepção Construtivista. Teorias são indispensáveis à educação como

referencial para estabelecer metas, planejar o trabalho e seu desenvolvimento,

contextualizar, alterar, decidir sobre a atuação. Precisa-se: analisar, avaliar,

programar a forma como o aluno aprende, quando aprende, porque aprende, para

que aprende e a forma como a escola contribui na construção de seu conhecimento.

A teoria aplicada deverá dar respostas aos questionamentos, não ignorando a

função social e socializadora da educação escolar e a responsabilidade de cumprir

os objetivos da instituição a qual se pertence, oferecendo uma educação de

qualidade, capaz de atender à diversidade de sua clientela de forma que, cada aluno

tenha o currículo próprio para seu progresso.

A concepção construtivista engloba postulados em torno do ensino como um

processo conjunto em que, com a ajuda dos professores, o aluno vai tornando-se

autônomo progressivamente na resolução de tarefas, aplicação de conceitos na

prática de seu cotidiano.

A concepção construtivista da aprendizagem e do ensino parte do fato óbvio de que a escola torna acessíveis aos seus alunos aspectos da cultura que são fundamentais para seu desenvolvimento pessoal, e não só no âmbito cognitivo; a educação é motor para o desenvolvimento considerado globalmente, e isso também supõe incluir as capacidades e equilíbrio pessoal, de inserção sócia, lde relação interpessoal e motoras. SOLÉ, Isabel; COLL, Cesar. (1998, p.19).

O aluno com essa ajuda do professor vai construindo aprendizagens mais ou menos significativas e vai se apropriando dos saberes. Essa ajuda oferece a autonomia e a orientação que possibilita ao aluno a construção de significados. Os aspectos motivacionais, afetivo-relacionais que se criam, fazem com que resultados sejam obtidos no processo de ensino.

...em uma lógica construtivista, é a pessoa considerada globalmente, que aprende, e esse aprendizado também repercute globalmente na pessoa, naquilo que sabe e em sua forma de ver-se e de relacionar-se com os demais. SOLÉ, Isabel; COLL, Cesar. (1998.p.23).

Page 18: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

18

Grande parte do efetivo aprendizado é construída através da participação

global e ativa do aluno, dos seus conhecimentos prévios e da sua disponibilidade

para aprender, numa mediação interativa com o professor e a cultura configurada no

currículo escolar.

Uma atividade mental construtivista, não se realiza no vazio, ela necessita

de um novo significado para aprender um novo conteúdo. Para efetuarmos um novo

conhecimento precisamos partir de algo que já conhecemos e que nos remeterá a

um primeiro significado e sentido para o que vamos aprender. Esses conhecimentos

prévios fundamentam a construção de novos significados. Quanto mais significações

forem estabelecidas entre o que já se conhece e o novo conhecimento, tanto maior e

mais significativa será a aprendizagem e, a memorização não será mecânica, mas

compreensiva.

Segundo COOL (1983), um esquema de conhecimento é definido como “a

representação que uma pessoa possui em um determinado momento de sua história

sobre uma parcela de sua realidade”.

São aspectos da realidade dos alunos, com os quais tiveram contato durante

os anos de sua existência, através de vários meios em sua convivência:

experiências, informações, acontecimentos, valores, conceitos, atitudes,

provenientes do ambiente familiar ou outro com o qual se relaciona, e que estão

armazenados em sua mente, formando esquemas de conhecimento, que mantém

conexões entre si e contribuem para a sua estrutura cognitiva.

É importante que professores percebam os conhecimentos prévios dos alunos e alunas sobre o tema a ser estudado, não apenas porque são os que eles utilizam para aprender, isto é, não podem prescindir deles na realização de novas aprendizagens, mas porque deles depende a relação que é possível estabelecer para atribuir significado à nova informação. Isto é, o conhecimento do aluno sobre um determinado tema possibilita estabelecer relações substantivas, permitindo também, conseqüentemente, atribuir significado ao conteúdo. MAURI, Tereza (1988. p.97)

3.4 Aprendizagem Significativa É necessidade de todo o ser humano, desenvolver seu “aparelho

aprendente”, constantemente, aperfeiçoando-o. Aprender aprende-se pela

imposição da vida, desde que nascemos. O que todos precisam, é manter viva essa

Page 19: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

19

aprendizagem como um requisito para manter-se vivo fisicamente e também

intelectualmente.

A Aprendizagem Significativa, a qual buscamos entender melhor, não pode

ser definida, se não for à função da teoria à qual se liga. Os principais teóricos a

defini-la foram Rogers (1958), Ausubel (1965) e Cool (1988).

Para que ocorra a Aprendizagem Significativa é preciso desenvolver-se os

processos mentais, na modificação do conhecimento; o novo conteúdo deve

incorporar-se à estrutura de conhecimento do aluno e vai ser significativo a partir da

relação estabelecida com seu conhecimento prévio. Caso contrário, essa

aprendizagem será mecânica, repetitiva, pois o novo conteúdo somente foi

armazenado, isoladamente, na estrutura cognitiva ou por meio de associações

arbitrárias.

A nova informação, o subsunçor1, interage com a estrutura de

conhecimentos cognitivos; não interagindo a aprendizagem só pode ser mecânica,

de decoração e de esquecimento.

Duas são as condições para que o aluno aprenda sem decorar. A primeira é

a disposição para aprender e aí o professor é de grande importância a fim de elevar

a auto-estima do aluno, numa relação de respeito e confiança mútuos.

Isso faz com que ele se sinta capaz. A segunda condição é de que o

conteúdo escolar tenha um significado lógico (por que aprender tal conteúdo) e um

significado psicológico (envolve os interesses pelos conteúdos). A terceira é de que

o conteúdo a ser ensinado, encontre um subsunçor na estrutura cognitiva do aluno.

O conteúdo não encontrando nenhuma informação com a qual possa se

relacionar, na estrutura cognitiva do aprendente, será armazenado de forma

arbitrária. Os conteúdos encontrando uma “âncora”2 ou conceito “subsunçor”,

existentes na estrutura cognitiva, são mais facilmente assimilados.

A aprendizagem mecânica pode ajudar na aprendizagem significativa, no

caso de se trabalhar com conceitos novos, desconhecidos totalmente. Através de

organizadores prévios, âncoras geradas de forma a manipular a estrutura cognitiva,

interligando-a a conceitos não relacionáveis, estes se transformarão em

aprendizagem significativa.

As relações dos conhecimentos presentes na estrutura cognitiva com os

conhecimentos conceituais a serem aprendidos, têm um caráter hierárquico,

formando uma rede de conceitos que indicará o nível de desenvolvimento do aluno.

Page 20: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

20

É aconselhável, ao aluno, a realização de aprendizagens significativas com

liberdade de produção própria, o que garante a compreensão e facilitação de

aprendizagens posteriores, através dessa auto-estruturação.

Segundo Piaget (1967), o professor deve colaborar nas formas do aluno

aprender significativamente, ampliando ou modificando as suas estruturas,

provocando conflitos cognitivos, desequilíbrio, a partir dos quais, mediante

atividades, o aluno consiga reequilibrar-se superando a discordância e reconstruindo

o conhecimento.

Deve-se sempre cobrar do aluno uma reelaboração própria, a busca pessoal

e não formulações do professor ou de livro texto.

... só acontece uma aprendizagem significativa, quando o estudante aprende seu objeto como tendo uma relação com seus projetos pessoais; deste modo, o professor deve ajudar os alunos a encontrar e tratar de problemas que lhes sejam significativos. SANTOS, J. C. F. dos. (2008).

3.5 A TEORIA DE AUSUBEL Fale e eu esquecerei, mostre e talvez recordarei, envolva-me e aí aprenderei.

(Confúcio, 950 a. C.) Uma situação do ponto de vista pessoal é significativa, quando o indivíduo decide de forma ativa, por meio de ampliação e aprofundamento da consciência, pela sua própria elaboração e compreensão. O cognitivismo de Ausubel encaminha para o ato de construir significados ao nível da consciência, - o ato da cognição - processo através do qual o mundo de

significados tem sua origem. MOREIRA M. A. (1982).

A estrutura cognitiva, através dos primeiros significados, é que dá a base, a

ancoragem dos quais derivam outros significados. Segundo Ausubel3, “o fator

isolado mais importante influenciando a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já

sabe”. Moreira (1982, p.87), e que resulta no armazenamento organizado de

informações em sua mente. Para ele, a aprendizagem afetiva é concomitante com a

cognitiva, pois, atitudes afetivas despertam para experiências cognitivas.

A aprendizagem significativa, conceito de foco dessa teoria, parte da

premissa de aspectos relevantes preexistentes na estrutura cognitiva do aluno (o

que ele já sabe) e que junto a novas informações, estes serão modificados no

processo. Aí, a disponibilidade de conceitos, idéias, proposições, possibilita a

interação e predispõem o aluno à aprendizagem.

Page 21: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

21

A Teoria Cognitiva de Ausubel resulta no armazenamento organizado de

informações na mente do aprendiz e apóia-se em fortes princípios afetivos que

levam ao entendimento da aquisição de significados como “indissiocrática” 4, pois,

parte do contexto do aluno e a sua predisposição para aprender como pré-requisito

para a Aprendizagem Significativa.

Este tipo de aprendizagem pode ser:

Representacional - envolve a atribuição dos significados a símbolos

arbitrários. Ex: palavras ligadas a objetos, acontecimentos. A representacional pode

ser:

.subordinada: o conceito novo ou proposição é assimilado por conceitos

superordenados específicos já existentes na estrutura cognitiva do aluno;

.superordenada: o conceito novo relaciona-se a idéias subordinadas

específicas que são assimiladas por ele;

.combinatória: o novo conceito não tem relação com a idéia subordinada

nem com a superordenada, mas com algum conteúdo amplo, geral, importante,

existente na estrutura cognitiva.

A aprendizagem subordinada ou subsunciva pode ser derivativa, quando a

nova informação exemplifica ou ilustra o conteúdo já estabelecido na estrutura

cognitiva, ou correlativa quando modifica, elabora, enriquece.

Aprendizagem de Conceitos – é o foco da Teoria de Ausubel. O que o aluno

já sabe, já conceituou, facilita a Aprendizagem Significativa de conceitos novos. Ao

obter novas informações, estas interagem e são assimiladas por conceitos

importantes disponíveis na estrutura cognitiva.

Na aprendizagem pela aquisição de conceitos, atributos se formam e são

assimilados dentro de uma aprendizagem significativa, simbólica que pode ser

evocada, por um símbolo ou grupo de símbolos, relacionados à estrutura cognitiva

através de um significado denotativo (reações despertados pelo nome do conceito),

denotativo (despertado pelo nome de um conceito em relação às emoções ou

atitudes que possa provocar).

Proposicional – nela o aluno não aprende significativamente o que as palavras

isoladas representam, mas o significado das idéias em forma de proposição,

expressadas, consistindo assim, no significado da verbalização de conceitos ao

invés de aprender o significado dos conceitos.

Page 22: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

22

O desenvolvimento cognitivo é segundo Ausubel “um processo dinâmico no qual, novos e velhos significados estão constantemente interagindo e resultando numa estrutura cognitiva mais diferenciada, que tende a uma organização hierárquica na qual os conceitos e proposições mais gerais ocupam o ápice da estrutura e assimilam progressivamente, proposições e conceitos menos inclusivos, assim como dados factuais e exemplos específicos”. MOREIRA, M. A. (1982).

Em sua teoria, David Ausubel focaliza a aprendizagem cognitiva, com

tendência sobre a verbalização, quando defende que a linguagem é um grande

facilitador da Aprendizagem Significativa, na manipulação de conceitos e

proposições. Ela é reforçada pela representatividade de palavras, através dos signos

lingüísticos, que tornam os significados mais claros, precisos e de fácil

transferência5. O significado vem à tona quando se estabelece a relação entre a

entidade e o signo verbal que a representa. A aprendizagem cognitiva ainda pode

apresentar uma tendência receptiva, que inclui a capacidade de se adquirir e

armazenar informações várias do campo do conhecimento.

Para o autor, em sala de aula o ensino é muito organizado no que se refere

à aprendizagem receptiva, alicerçada a conceitos e, o que o ser aprende não precisa

descobrir princípios, conceitos e proposições, a fim de aprendê-los e usá-los

significativamente. Aspectos preexistentes do que o aluno já sabe, ligados à nova

informação são modificados no processo, formando uma interação que resulta em

retenção em longo prazo de um corpo de conhecimento e seu emprego na solução

de problemas.

O esquecimento de uma seqüência natural nesta assimilação6 que facilita ao

aluno a aprender e a reter novas informações, num processo onde antigos e atuais

significados se interagem na construção de uma estrutura cognitiva que leva a uma

organização hierárquica onde os conceitos mais gerais ocupam o ápice da estrutura

e produzem assimilações de conceitos menos inclusivos.

Os mapas conceituais, estratégia facilitadora da aprendizagem,

desenvolvida por Novak, atuam como recursos instrucionais nesta hierarquia

conceitual, facilitando a aquisição, por parte do aprendiz da matéria que está sendo

estudada, numa tentativa de se usar a Teoria Ausubeliana, no desenvolvimento de

uma aprendizagem significativa.

Page 23: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

23

Esta é uma tentativa no sentido da preocupação com problemas de aprendizagem que afetam a aquisição e retenção do conhecimento e de seu uso na solução de problemas; na forma de apresentação dos conteúdos e materiais instrucionais facilitadores da aprendizagem. Também inclui atributos como; “a dinâmica da estrutura cognitiva e o subjacente mecanismo do esquecimento”. (MOREIRA. M.A, 1982, p.99)

3.6 Mapas Conceituais Os Mapas Conceituais são representações em forma de diagramas, utilizados

nas relações entre conceitos, numa hierarquização que reflete a organização

conceitual de um corpo de conhecimento ou de parcela dele. É desenvolvido

conforme se desenvolve a estrutura conceitual de um conhecimento.

Podem ser: unidimensionais, os que apresentam listas de conceitos utilizados

numa organização linear vertical; e bidimensionais quando usam da verticalidade e

horizontalidade. Estes são os mais usados, por serem mais simples e permitirem

uma representação mais completa das relações entre os conceitos.

Um mapa conceitual deve ser visto, apenas como uma das possíveis formas

de representar-se uma estrutura conceitual.

Podem ser usados como instrumentos de ensino/aprendizagem, como

auxiliares no planejamento de ensino, na análise do conteúdo curricular. São

representações concisas das estruturas conceituais na facilitação da aprendizagem

dessas estruturas, não dispensando, entretanto, a explanação do professor guiando

o aluno. Podem servir também para dar uma noção antecipada do que vai ser

estudado.

Um mapa instrucional não deve unidirecional, mas deve ser organizado de

forma que se “baixe e suba”, nas hierarquias conceituais, na medida em que uma

nova informação se apresente, de forma a explorar claramente as proposições e

conceitos, detectar semelhanças e diferenças, promover a reconciliação integrativa.

Segundo Moreira e Masine (1982), se devem “baixar e subir ”no mapa,

explorando, explicitamente, as relações de subordinação e superordenação7 entre

os conceitos.

Existem diversas desvantagens no uso dos mapas conceituais que poderão

ser aplacadas pelo professor. O aluno não deverá usar-se desse recurso, enquanto

não estiver familiarizado, e vindo a usá-lo, poderá traçá-lo de várias formas,

orientado pelo professor para que as linhas traçadas apresentem clareza. Não

Page 24: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

24

deverá memorizar mapas e estes não deverão ser complexos, pois poderão dificultar

a aprendizagem, quando seu objetivo é facilitá-la.

Os Mapas Conceituais podem, também, constituir-se em instrumento de

avaliação da aprendizagem, no sentido de obter informações sobre o que o aluno

constrói acerca de um determinado conceito, como ele hierarquiza, relaciona,

discrimina, diferencia e integra-os. Assim, torna possível, ao professor, avaliar o que

o aluno já sabe, pois através desse instrumento ele representa a sua estrutura

cognitiva. Este tipo de avaliação pode orientar o professor quanto à tomada de

decisões na realimentação curricular.

Para a construção de um Mapa Conceitual, Marco A. Moreira (2006), orienta

para a seguinte seqüência:

� Identificação dos conceitos – chave, colocando-os em uma lista (no

máximo dez);

� Ordenação dos conceitos, sendo no topo os mais gerais, mais inclusivos,

agregando-se os demais;

� Inclusão de conceitos mais específicos;

� Conectar conceitos com linhas e rotulá-las com palavras chave. Ambos

devem formar uma proposição que demonstre o significado da relação;

� Buscar relações horizontais e cruzadas, evitando palavras que indiquem

relações triviais;

� Exemplos podem ficar abaixo dos conceitos ou na parte inferior do mapa;

� Setas não são obrigatórias, mas poderão ser utilizadas;

� À medida que se aprende, o mapa pode mudar, pois é uma estrutura

dinâmica.

Enfatizou-se o estudo sobre o construtivismo ressaltando-se a abordagem

Construto-cognitivista, a qual não pode acontecer sem que se reveja a postura do

professor, dentro da atual conjectura.

3.7 A postura do professor

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação /96, dita “a necessidade de um pluralismo metodológico que considere a diversidade dos recursos pedagógico-tecnológicos disponíveis e a amplitude de conhecimentos a serem abordados na escola Enfoca também o tema, quando trata da contextualização dos conteúdos, a qual implica em saber como acontecem as relações conceituais interdisciplinares e as associadas à produção de conhecimento.

Page 25: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

25

É preciso que o profissional que orienta os conteúdos de Ciências conduza os

mesmos de forma reflexiva, de modo a estudar a ação sobre a natureza, tornando

possível a legitimação do estudo, de forma que se chegue à contextualização sobre

os conhecimentos e as necessidades sociais.

É preciso que o professor questione-se sobre o conteúdo científico

convencional, teórico e as práticas resultantes do interesse advindo do meio social,

entre ”os que pensam e os que executam”.

O professor deve promover uma democratização do conhecimento, de modo

que este não se perca, mas se funda criticamente na atividade produtiva da

sociedade em que vivemos.

É preciso que ele conduza seu aluno ao entendimento de que ele é um

indivíduo que está sujeito a mudanças éticas, culturais, ambientais; que necessita

refletir sobre a natureza social, econômica ou política, ocasionadas por estas

mudanças.

Cabe ao professor ser um articulador entre o conhecimento sistematizado,

ditado pelo plano curricular que se pretende e as práticas, ou seja, que o aluno

participe de situações-problema, que exijam reflexão e ação dentro do seu contexto

social e o seu grau de estudos.

O professor precisa fortalecer a interação entre o aluno e a cultura na qual

está inserido, orientando-o na busca de significados contidos nas práticas sugeridas

nos conteúdos e sua aplicabilidade.

... Segundo Ausubel (1968, p.37-41), a essência do processo de aprendizagem significativa está em que idéias simbólicas expressas sejam relacionadas de maneira não-arbitrária e substantiva (não-literal) ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum aspecto relevante da sua estrutura de conhecimento (i.e, subsunçor que pode ser, por exemplo, algum símbolo, conceito ou proposição já significativo). (apud MOREIRA, M. A. 1982, p. 13)

É preciso que o professor fortaleça a postura investigativa do aluno, no âmbito

de seu cotidiano.

O professor precisa entender-se e valorizar-se como o grande responsável

pela mobilização do saber de seus alunos e pelo desenvolvimento do processo de

construção desses saberes procurando buscar junto aos mesmos, elementos de

seus cotidianos; conhecimentos afetivos, cognitivos, sociais e culturais, bem como,

Page 26: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

26

do senso comum, sem, no entanto desvirtuar-se do saber escolar. “Isso implica dizer

que a postura científica não ocorre somente na escola, mas, também, extramuros”.

(Ozório, 2002).

Nessa escola, o professor não é mais detentor de todo o conhecimento, e sim

um mediador nos processos de formação do desenvolvimento dos saberes

cognitivos dos estudantes, com a incumbência de contextualizar, legitimar os

conteúdos. O professor, ao utilizar-se desse processo, obtém resultados mais reais,

possibilitando ao aluno trazer do seu cotidiano, elementos ricos de significados e

identidade, onde o mesmo tendo acesso a um conhecimento aberto à diversidade de

suas competências afetivas, cognitivas, sociais, ampliará seu saber escolar e poderá

interagir como co-autor de uma prática educativa mais consistente.

Segundo Piaget (1967), o professor deve colaborar na forma do aluno

aprender significativamente, ampliando ou modificando as suas estruturas,

provocando conflitos cognitivos, desequilíbrios a partir dos quais, mediante

atividades, o aluno consiga reequilibrar-se, superando a discordância, reconstruindo

o conhecimento.

4 Estratégias

Reforçou-se a necessidade de cobrar sempre do aluno uma re-elaboração

própria, a busca pessoal e não formulações do professor.

Reviu-se a relação teoria e prática abordadas na Proposta Pedagógica de

Ciências, de 5a a 8a séries do Ensino Fundamental e as práticas viáveis de serem

desenvolvidas em sala de aula ou laboratório, a fim de direcionarmos os docentes

para os objetivos propostos:

- Verificar as práticas pedagógicas em relação às Diretrizes Curriculares do

ensino de Ciências;

- Favorecer a interação entre o aluno e a cultura na qual está inserido dentro

das Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental;

- Fortalecer a postura investigativa no âmbito das atitudes do cotidiano,

através de situações – problema, que exijam reflexão e ação;

- Definir conteúdos prioritários para o embasamento das disciplinas afins no

Ensino Médio.

Nos encontros, sobre as práticas pedagógicas, pediu-se aos professores de

Ciências que escolhessem conteúdos, dentro do seu Plano de Trabalho Docente. Na

Page 27: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

27

sequência, convidou-se o grupo para ir até o laboratório, com a finalidade de

pesquisar materiais relacionados a estes conteúdos, ou, investigar experimentos que

pudessem ser levados até a sala de aula.

Aos Professores de Química, Física e Biologia, pediu-se, com base no

currículo de Ciências, o apontamento de conteúdos prioritários ao desenvolvimento

dessas disciplinas no Ensino Médio e as possíveis práticas, para cada uma das

séries, de forma que o professor venha a trabalhar significativamente essas práticas.

O espaço esteve aberto para troca de experiências sobre práticas possíveis

de se levar a efeito e a necessidade que o aluno tem de ancorar os conhecimentos

em sua estrutura cognitiva, interagindo na produção dos mesmos.

Enfatizaram-se necessidades de o professor mediar a contextualização,

sempre que possível, conforme práticas, através de materiais disponíveis no

laboratório, o uso de multi- meios e segundo Ausubel, principalmente do cotidiano do

aluno, no estabelecimento substantivo e não arbitrário entre o que ele já conhece e o

novo conteúdo.

Discorreu-se, ainda, sobre os Mapas Conceituais, que poderão iniciar-se em

organogramas, para que o aluno, organizando-os de forma simplificada em seus

cadernos, habitue-se à construção e elaboração de conhecimentos, através dos

mesmos, a fim de que no Ensino Médio ele tenha condições para desenvolver esses

mapas, dentro do ambiente virtual. Fez-se leitura e explanações sobre Mapas

Conceituais e desenvolveram-se, conjuntamente, diversos mapas, utilizando-se o

Programa CMAPTOOLS para facilitar aos professores a familiarizarem-se com as

ferramentas, no ambiente virtual, criando campos de conceitos, setas para indicação

de relações na conexão de conceitos, digitação de proposições e/ou verbos,

entendimento sobre hierarquização, ordenação, inclusão de novos conceitos, busca

de relações, etc.

Contudo, o que mais se pretendeu nesses encontros, não foi fazer apologia a

determinados recursos ou instrumentos, mas à Aprendizagem Significativa, como

facilitadora, ao aluno, da aquisição e retenção de conhecimentos que encontrem

ancoragem em sua estrutura cognitiva, possibilitando a aplicação desses

conhecimentos, em situações – problema, em detrimento às dificuldades de

utilização de algumas práticas ligadas aos conteúdos disciplinares.

Page 28: A Importância do Ensino de Ciências: Aprendizagem Significativa

28

5 Resultados Obtidos

Diante dos comentários tecidos, pode-se verificar que os pressupostos

enfocados se interceptaram com os objetivos propostos em todos os aspectos

relacionados em nosso Material Didático-Pedagógico e em consonância às

Diretrizes Curriculares da Disciplina de Ciências.

Houve concordância dos professores quanto ao fracasso escolar nas

disciplinas de Física, Química e Biologia do Ensino Médio, quando afirmaram, em

nossos encontros de Intervenção Pedagógica na Escola, que o fracasso Escolar é o

reflexo das séries iniciais do Ensino Fundamental, aonde o aluno não foi levado a

interpretar o que leu e nem a exercitar o raciocínio.

Atribuiu- se a desmotivação, à falta de compreensão pela forma com que são

apresentados os conteúdos, descontextualizados do cotidiano dos alunos.

Os resultados dos questionários e dados estatísticos exibidos levaram os

professores a repensarem sobre a forma como está sendo praticado o ensino de

Ciências. Reconheceu-se que alguns utilizam de ditados de textos para manter a

disciplina em sala de aula, estratégia incorreta diante da qual o aluno apenas anota

o que ouve, sem que haja compreensão.

Quanto às aulas práticas, à Aprendizagem Significativa, os professores

disseram estar cientes de que fazem toda a diferença para que o aprendiz passe a

conhecer um currículo que dialogue com sua vida, com o seu cotidiano.

Os encontros trouxeram à tona a história do Ensino de Ciências e os

professores enriqueceram as discussões rememorando os diversos períodos e

reformas vivenciadas em sua carreira.

Reviram-se as Diretrizes Curriculares em seus fundamentos filosóficos

teóricos, metodológicos e avaliativos, pois, ao elaborarem seus Planos de Trabalho

Docente, os professores, geralmente, tomam por base os conteúdos estruturantes e

específicos da disciplina, sem se deter no embasamento da proposta curricular, o

que forma um hiato em sua efetiva aplicação.

A leitura dos textos sobre Construtivismo e Aprendizagem Significativa, na

Teoria de Ausubel, direcionou a preocupação curricular para a contextualização dos

conteúdos através de práticas pedagógicas significativas.

Evidenciou-se a necessidade de trabalhar com a aprendizagem significativa

desde as séries iniciais, facilitando ao aluno postular conceitos, para que, nas séries

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subsequentes, as informações recebidas, encontrem um leque de idéias que dêem

ancoragem aos conhecimentos advindos.

Percebeu-se que os participantes do Projeto de Intervenção Pedagógica na

Escola, mostram-se interessados, participativos, receptivos e estudiosos.

Compactuaram com a Proposta da Aprendizagem Significativa na Teoria de

Ausubel, aceitaram-na, seja através de Mapas Conceituais, instrumento criado por

Novak, ou outro recurso que parta da realidade do aluno, do que ele já sabe

(MOREIRA, M. A. 1982, p. 87), na construção de conceitos.

Discutiu-se sobre a motivação que, se acredita ser fruto de aulas não

contextualizadas e a necessidade de se emancipar o aluno do hábito de decorar

conteúdos.

Na oficina realizada no laboratório de Ciências, o espaço esteve aberto à

troca de experiência, manipulações de materiais, observação de experimentos

realizados por uma professora de Química com seus alunos. Aconteceram relatos

de experimentos que o professor vem realizando, da motivação despertada e da

satisfação observada nos alunos durante a efetivação dessas práticas. Narrou-se

uma prática envolvendo plantação de hortaliças, em que a professora notou o

conhecimento prévio, “aquilo que o aprendiz já sabe”, presente na estrutura

cognitiva desses alunos. Esse é o “fator importante para a Aprendizagem

Significativa”, segundo Ausubel.

Com relação aos Mapas Conceituais, houve grande interesse, observou-se

que os professores entenderam como os mesmos são elaborados, da importância

da contextualização dos conhecimentos por meio desses instrumentos e da forma

como acontecem as estruturas conceituais e hierárquicas à medida que novas

informações são apresentadas. Evidenciou-se a necessidade de desenvolverem-se

conhecimentos, através desses instrumentos, desde que o aluno ingressa na escola,

para que, habituando-se a construí-lo de forma simplificada, já no Ensino Médio

passe a fazê-lo no ambiente virtual.

O engajamento dos envolvidos, durante a oficina para se arrolar conteúdos

curriculares às práticas condizentes para cada série do Ensino Fundamental e

definição de conteúdos básicos de Física, Química e Biologia do Ensino Médio, foi

certamente o ponto de materialização do projeto aplicado, no cumprimento dos

objetivos. O resultado desta oficina fundamentará o Plano de Trabalho Docente,

contribuindo assim para a contextualização do conhecimento no Ensino

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Fundamental, através de uma Aprendizagem Significativa, com vistas à superação

do fracasso escolar na disciplina de Ciências, do Colégio.

6 Conclusão

Houve boa apreciação sobre a temática apresentada no Material Didático -

Pedagógico e sobre os principais teóricos que o embasaram, David Ausubel e

Joseph H. Novak.

As reflexões as quais foram direcionados os professores, através do contido

na coletânea, incorporaram as análises sobre a concepção do desenvolvimento dos

conteúdos de Ciências e seus significados, necessários à consecução dos objetivos

da disciplina.

Frisam-se considerações sobre as idéias e experiências expostas,

disponibilização dos profissionais, respeito e responsabilidade diante do que se

estudou, sobre a contribuição para um esforço coletivo que, certamente deverá vir a

ser real, na construção do ato de ensinar significativamente. Espera-se que, essas

idéias questionadas se revelem em motivação para a continuidade na construção

dos direcionamentos evidenciados no objetivo geral do projeto desenvolvido:

“Analisar a relação teoria e prática abordada na Proposta Pedagógica, das séries

finais do Ensino Fundamental e as práticas pedagógicas desenvolvidas pelos

professores da disciplina de Ciências.

7 Referências AUSUBEL, D.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. COLL, C., MARTIN, E.; MAURI, I; MIRAS, M.; ONRUBEA, J.; SOLÉ, I.; ZABALA, A. O construtivismo em sala de aula. São Paulo: Ática, 1998.

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Notas 1 Subsunçor – idéia-, âncora. 2 Âncora – idéia preexistente que apóia a idéia nova aprendida. 3 David Ausubel – psiquiatra norte-americano criou uma teoria para aplicação da aprendizagem significativa (Teoria de Ausubel). 4 Indissiocrática - maneira que cada pessoa tem de ver, sentir, reagir. 5 Transferência – uso do conhecimento em outro contexto. 6 Assimilação – retenção de um significado novo conquistado em ligação com idéias – âncora de seu relacionamento e sua perda de dissociabilidade. 7 Superordenação - aquisição por parte do aprendiz de um novo significado.