a fotografia como ferramenta no ensino de ecologia...
TRANSCRIPT
A FOTOGRAFIA COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE
ECOLOGIA
Joelia S. Cavalcante – [email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,
Av. 13 de Maio, 2081 – Benfica
Fortaleza - Ceará
Estefânia P. Sousa – [email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,
Fortaleza - Ceará
Natalice R. Garcia – [email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,
Fortaleza - Ceará
Cristianne S. Bezerra – [email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,
Fortaleza - Ceará
Kylvia R. C. Silva – [email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,
Fortaleza – Ceará
Resumo: A motivação e o interesse dos alunos pelos estudos estão diretamente ligados às
didáticas utilizadas pelos professores. Devido ao emprego de metodologias tradicionais no
ensino de Biologia, a disciplina vem sendo considerada desinteressante por alguns
estudantes. Dessa forma, o presente trabalho visa despertar a atenção dos alunos ao
relacionar as disciplinas de Biologia e Arte, permitindo novas formas de aprendizagem e
buscando tornar esse processo agradável e motivador. Foi desenvolvida uma atividade com
os alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus
Fortaleza, utilizando fotografias como ferramenta de ensino. Os alunos analisaram imagens
registradas no próprio ambiente escolar relacionadas ao tema estudado em sala e,
posteriormente, foram os autores de suas fotografias ao explorar esse mesmo ambiente. A
atividade também contribuiu para analisar a percepção ambiental dos estudantes e assim
conscientizá-los quanto a preservação ambiental, já que anteriormente, a maioria ignorava
os detalhes do local em que estavam inseridos. A pesquisa envolveu 58 participantes que
puderam relacionar o conteúdo visto na forma teórica com a prática em seu cotidiano. Isto
fez com que eles pudessem interagir com o ambiente de forma positiva e consciente,
caracterizando assim, uma aprendizagem significativa.
Palavras-chave: Biologia, Ecologia, Fotografia, Arte, Interdisciplinaridade.
1 INTRODUÇÃO
A ciência está presente no cotidiano das pessoas, influenciando decisões éticas, políticas,
econômicas e pessoais. Deste modo, o ensino de ciência tem o importante papel de
possibilitar que o estudante se aproprie da sua linguagem com seu potencial explicativo e
transformador. De acordo com Chassot (2006), a Ciência trata-se de uma linguagem que
utilizamos para compreender o mundo, ou seja, para percebermos e lidarmos, de maneira mais
significativa, com a realidade e suas demandas.
Muitas vezes, o ensino de ciência é oferecido no modelo convencional, utilizando
métodos considerados tradicionais, como o trabalho focado na teoria, o apego ao quadro e as
minúcias do conteúdo, não promovendo a aproximação da realidade do aluno com a realidade
da escola e da comunidade; ou seja, o ensino resume-se a aulas expositivas, o que pode causar
desmotivação no aluno (DIAS, 2009).
Para alguns estudantes, a disciplina de Biologia é vista como algo desinteressante devido
às metodologias utilizadas pelos professores. De acordo com Krasilchik (2004), a Biologia
pode ser uma das disciplinas mais relevantes e merecedoras da atenção dos alunos, ou uma
das disciplinas mais insignificantes e pouco atraentes, dependendo do que for ensinado e de
como isso for feito.
Como afirma Oliveira: O saber que vem sendo ensinado nas escolas ainda está muito longe de permitir aos
jovens a compreensão do mundo em que vivem, e muito menos ainda tem permitido
abrir-lhes horizontes para sua transformação. (OLIVEIRA, 1994, p.04).
Os Parâmetros Curriculares de Ciências Naturais (BRASIL, 1997) recomendam que, para
o ensino de ciências, é necessária a construção de uma estrutura que favoreça a aprendizagem
significativa do conhecimento historicamente acumulado e a formação de uma concepção de
Ciências enfatizando suas relações com as tecnologias e com a sociedade.
Para tornar o aprendizado mais eficaz, é necessário trabalhar a teoria sempre relacionada
com a prática, fazendo com que o aluno visualize o conteúdo como parte integrante de seu
cotidiano. É fundamental o desenvolvimento de competências que permitam ao aluno lidar
com as informações, compreendê-las e elaborá-las. Além de ajudar no desenvolvimento de
conhecimentos científicos, as aulas práticas permitem que os estudantes aprendam como
abordar objetivamente o seu mundo e como desenvolver soluções para problemas complexos
(LUNETTA, 1991). Dessa forma, são criadas condições ao aluno de desenvolver suas
capacidades de produzir conhecimento, deixando de lado a obrigatoriedade que faz com que o
discente aprenda a Biologia sem saber a sua utilidade para o seu cotidiano.
O estudo de Biologia está diretamente ligado a imagens, estas têm a função de tornar as
informações científicas mais nítidas. A fotografia é um instrumento de grande importância
pedagógica e muitas vezes essencial para diversas áreas de ensino. Ela, como linguagem não-
verbal também contribui decisivamente na realização de pesquisas teóricas, manifestações
artístico-culturais e como coadjuvante eficaz em inúmeras descobertas científico-tecnológicas
(SPENCER, 1980).
A utilização da fotografia, como um recurso didático para o ensino de Biologia, acarreta
na execução de atividades práticas, que, quando desempenhadas em ambientes naturais,
levam o aluno a um processo de aprendizagem mais significativo e envolvente, fazendo com
que o mesmo compreenda e articule os conhecimentos e as informações recebidas da melhor
forma possível. Nas palavras de Asari, Antoniello e Tsukamoto (2004, p. 183), “(...) a
utilização da fotografia pode estimular a observação e descrição das paisagens pelos alunos,
preparando-os para tirarem suas próprias conclusões e elaborarem soluções para problemas da
sua realidade.”
Para CASTOLDI (2006):
Com a utilização de recursos didático-pedagógicos pensa-se em preencher as
lacunas que o ensino tradicional geralmente deixa, e com isso, além de expor o
conteúdo de uma forma diferenciada, faz os alunos participantes do processo de
aprendizagem. (CASTOLDI, 2006, p. 985).
Focando em uma das áreas da Biologia, os conceitos da ecologia são fundamentais para a
compreensão das relações de interdependência entre os organismos vivos e destes com os
demais componentes do espaço onde habitam. A ecologia tem uma riqueza de temas para
trabalhos de investigação na didática da Biologia. Nas sociedades atuais o ser humano afasta-se da natureza. A individualização
chegou ao extremo do individualismo. O ser humano, totalmente desintegrado do
todo, não percebe mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma
totalmente desarmônica sobre o ambiente, causando grandes desequilíbrios
ambientais. (GUIMARÃES, 2009, p. 12).
Infelizmente, ao longo dos anos, o ser humano vem manipulando indiscriminadamente o
ambiente, sem perceber que também é parte do meio e que sofre com os danos por ele
causados. O fato do homem não se sentir mais como parte do ambiente pode ser caracterizado
como uma perda da capacidade de pertencimento, é isso que o impede de refletir sobre as
consequências dos seus atos sobre o meio em que vive. Segundo Mourão (2005), a perda da
capacidade de pertencimento e a necessidade de preservação do meio ambiente são problemas
educacionais. De fato, se durante o período escolar o aluno não for estimulado a sentir-se
parte do ambiente em que vive, a ideia da necessidade da preservação e da sensação de
pertencimento vão se perdendo (SALES & LANDIM, 2009).
Nesse sentido, a fotografia oportuniza a aplicação das imagens como forma de mudança
de comportamentos e atitudes em relação aos problemas ambientais e ecológicos. A educação
ambiental, por meio da percepção ambiental, promove uma sensibilização e tomada de
consciência do ser humano para as questões socioambientais (SABINO, 2009). A fotografia
pode ser um instrumento eficaz, detonador da capacidade perceptiva ou indicador do estágio
dessa percepção (FERRARA, 1999). Isto é, uma imagem é capaz de sensibilizar ou
demonstrar quanto o observador conhece sobre o assunto em questão.
Diante disso, o presente projeto visou trabalhar a fotografia como uma ferramenta para a
educação em Ecologia, subárea da Biologia. Tendo por objetivo permitir novas formas de
aprendizagem, tornando esse processo agradável e motivador, já que o participante poderá
relacionar o conteúdo visto na forma teórica com a prática do seu cotidiano, fazendo com que
ele possa interferir no seu ambiente de forma positiva e consciente, caracterizando assim, uma
aprendizagem significativa.
2 METODOLOGIA
O projeto foi aplicado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
(IFCE), Campus de Fortaleza, envolvendo alunos matriculados na disciplina de Biologia II do
Ensino Técnico Integrado. Os alunos de quatro turmas foram convidados a participar do
estudo, os mesmos pertenciam a diferentes cursos e semestres: Edificações (3º Semestre),
Informática (4º Semestre), Mecânica Industrial (6º Semestre) e Telecomunicações (4º
Semestre). A escolha dessas turmas foi devido ao fato da ementa disciplinar abordar assuntos
relacionados à ecologia, permitindo o entendimento da complexidade das relações entre a
humanidade, os outros seres vivos e o planeta.
A atividade foi aplicada no final do semestre letivo em vigência. A mesma foi executada
duas vezes, em diferentes dias, durante aulas extras marcadas para o turno da tarde,
proporcionando a participação do maior número de alunos interessados, de acordo com a
disponibilidade dos mesmos. Houve uma prévia explicação do projeto e os participantes
assinaram um termo de consentimento concordando em participar, voluntariamente, da
pesquisa.
A aplicação da atividade envolvia a utilização de fotografias através de duas
metodologias didáticas. Na primeira, os alunos tinham que analisar fotografias relacionadas
ao tema estudado em sala. Essas fotografias foram tiradas no próprio IFCE, na fase inicial do
projeto, por bolsistas envolvidos no mesmo. Tinham o intuito de mostrar aos discentes que a
Biologia está presente bem próximo a eles. Já na segunda, os próprios alunos seriam os
autores das fotografias, permitindo que os mesmos colocassem o seu ponto de vista. Para a
análise da pesquisa e do projeto, foram feitos dois tipos de questionários, um aplicado em
grupo sobre a avaliação das fotografias e outro individual sobre a atividade. Toda a aplicação
do projeto foi dividida em seis etapas (figura 1):
Figura 1 - Etapas da aplicação da atividade: a) apresentação do projeto; b) observação
em equipe; c) apresentação da percepção da equipe; d) explanação sobre as fotografias;
e) atividade em campo; f) apresentação e discussão;
Apresentação do projeto
Primeiramente, foi realizada uma breve apresentação e explicação do projeto para os
alunos convidados, momento em que os mesmos assinaram um termo de consentimento. Os
participantes foram divididos em equipes, onde cada uma recebeu uma fotografia para
discussão e um questionário, contendo perguntas abertas sobre a fotografia e sua relação com
a ecologia (figura 2). As fotografias foram registradas no próprio Instituto, porém isso não foi
comunicado aos participantes, visando à avaliação da percepção ambiental dos mesmos.
Figura 2 - Os registros feitos na Instituição sensibilizam e provocam curiosidade pelo o
que compõe: 1) Ave de rapina; 2) Formigueiro; 3) Abelha; 4) Cupinzeiro; 5) Fungos; 6)
Processo de decomposição; 7) Caramujo; 8) Líquens e briófitas; 9) Percevejos; 10)
Espaço verde.
Observação em equipe
Após a distribuição das imagens, os alunos tiveram um tempo para observar as
fotografias e, em equipe, responder a alguns questionamentos presentes na folha de avaliação.
As questões instigavam os participantes a observar os detalhes das imagens e assim a
discutirem sobre a temática envolvida.
Apresentação da percepção da equipe
As imagens foram projetadas e cada equipe apresentou, brevemente, o que havia sido
observado na fotografia recebida, a interpretação de cada um e a relação com o conteúdo visto
em sala.
Explanação sobre as fotografias
As autoras das fotografias comentaram sobre o que poderia ser observado na imagem e a
relação das mesmas com a disciplina de Biologia. Nesse momento, foi revelado que as
fotografias apresentadas aos alunos foram registradas no próprio Instituto e em qual local
específico.
Atividade de campo
As equipes foram orientadas a fotografar o ambiente escolar à procura de algo que se
relacionasse com o que havia sido discutido nas etapas anteriores e com o conteúdo
ministrado na disciplina durante o semestre. Cada aluno deveria colocar o seu ponto de vista
sobre o assunto através da produção da fotografia. Essa é considerada uma fase importante,
pois os alunos foram os próprios autores das imagens por meio de celulares, assim os
discentes puderam fazer uma aplicação dos conhecimentos aprendidos nas aulas teóricas.
Apresentação e discussão
Retornando à sala de aula, cada equipe selecionou uma fotografia, dentre as tiradas pelos
membros, para a apresentação e discussão com a turma. Desta forma, eles puderam expor suas
considerações sobre a atividade em geral, o conteúdo aprendido e a relação ambiental
presente no Instituto e fora dele.
Ao final das seis etapas presenciais, cada aluno recebeu e respondeu um questionário para
avaliar a atividade e fazer considerações sobre a mesma. Ficou combinado que os
participantes deveriam enviar, por e-mail, a fotografia de sua autoria acompanhada de um
título e um breve comentário sobre a relação da foto com a disciplina.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao executar uma abordagem de conteúdo mais dinâmica, os alunos conhecem,
compreendem e adotam posturas que os levam a interações construtivas, justas e
ambientalmente sustentáveis. A realização da atividade planejada despertou a percepção e a
curiosidade dos alunos. A atividade envolveu 46 participantes no primeiro dia de aplicação
(03 de junho de 2014) e 12 no segundo (05 de junho de 2014), totalizando 58 participantes
que foram divididos em 14 grupos.
Os questionários, os depoimentos, as falas, os textos e as fotografias produzidas pelos
alunos foram os dados utilizados para a análise do projeto. As perguntas abertas presentes na
avaliação das fotografias levaram os alunos a observar os detalhes das imagens e a refletir
quanto a temática envolvida. Com isso, obteve-se uma riqueza de informações a partir da
grande variedade de comentários e opiniões dos participantes. Ao tentar identificar o local da
fotografia, os grupos se utilizaram da imaginação e buscaram descrever minuciosamente o
ambiente.
Quanto ao suposto local, a maioria das equipes imaginou que a fotografia havia sido
tirada no Parque Ecológico do Rio Cocó (figura 3), a área de conservação ambiental mais
importante da cidade e que abriga uma grande diversidade biológica, contendo várias espécies
animais e vegetais. Apenas alguns alunos conseguiram identificar que o ambiente retratado
era o IFCE, e relataram ainda que, muitas vezes, o local era ignorado por ter se tornado
comum no trajeto dos estudantes. Já outros imaginaram até que praias e serras seriam o
cenário da imagem.
Figura 3 – Respostas dos grupos de alunos sobre o suposto local da fotografia.
A partir dos detalhes presentes nas fotografias, os alunos imaginaram diferentes
condições ambientais para o local retratado, desde lugares úmidos, com pouca iluminação, até
áreas verdes preservadas ou alteradas devido às ações humanas. Isso ocorreu pois as situações
foram registradas em diferentes locais e dias, o que ocasionava uma mudança climática que
provocava uma alteração no ambiente.
Facilmente, os participantes conseguiram relacionar a fotografia com a disciplina de
Biologia, além de fazer referência ao que foi estudado em ecologia, os alunos fizeram menção
aos outros conteúdos vistos durante o semestre, Genética e Evolução. Foram feitas
associações envolvendo tópicos, como: ecossistemas, nichos ecológicos, habitats, cadeias
alimentares, relações tróficas, intervenções humanas no meio ambiente, etc.
Ainda em grupo, os alunos também escreveram sobre o desenvolvimento da atividade, a
fotografia selecionada para apresentação e a experiência em explorar o ambiente escolar.
Alguns participantes também fizeram referência a observações realizadas antes da proposta da
atividade, como relatou a Equipe G: “Há duas semanas estávamos em um laboratório quando
ouvimos o barulho de um pássaro, ao abrimos a janela percebemos que se tratava de um
ninho de pombos. Ao retornarmos hoje ao laboratório para essa atividade, percebemos que
provavelmente a mãe foi buscar alimento e o filhote estava sozinho no ninho. Nós
observamos o crescimento do filhote com o passar dos dias.”
Também foram coletados dados através dos questionários individuais, que avaliavam a
atividade de modo geral. O mesmo era composto por seis questões dicotômicas (sim ou não) e
duas questões abertas quanto as considerações e a modificação da percepção ambiental.
De acordo com os resultados (tabela 1), a maioria dos participantes percebeu que o
ambiente retratado na fotografia era o IFCE, mesmo assim 46,56% dos alunos, que
frequentam o local diariamente, não identificaram a Instituição como o cenário das imagens,
deixando visível a falta de percepção por boa parte dos frequentadores.
Um pouco mais de 15% dos alunos já haviam observado a situação retratada dentro da
escola. Ou seja, a maioria dos que reconheceram que se tratava do IFCE, chegaram a essa
conclusão através de algum detalhe da imagem que lembrasse a Instituição, e não porque já
tinham visualizado a temática em questão. Alguns alunos relataram que nunca haviam visto
determinadas espécies no meio ambiente ou que desconheciam algumas áreas do ambiente
escolar.
A atividade despertou a curiosidade dos participantes, já que a maioria (68,96%) teve
interesse em ir aos locais retratados dentro da Instituição, os mesmos atuaram como
exploradores do ambiente escolar e puderam visualizar diversos exemplos de como a Biologia
está presente no cotidiano, tanto por analisar e tirar suas próprias fotografias, como por
discutir sobre as fotografias entregues e tiradas pelos demais colegas. Diante disso, mais de
80% dos participantes consideraram que a atividade contribuiu para ampliar o conhecimento
sobre a disciplina, já que despertou a curiosidade em relação as espécies observadas.
Quanto aos comentários, críticas e considerações sobre a utilização da fotografia na
observação, 100% dos alunos responderam de forma positiva. A iniciativa de utilizar essa
ferramenta no ensino foi considerada bastante construtiva e descontraída. “Eu nunca tinha
participado de uma aula como essa, para explorar e observar mais o mundo a nossa volta,
isso ajuda a ter uma maior percepção do mundo, da vida, nisso a Biologia me ajudou
bastante e acabei até gostando da matéria que não era uma das minhas preferidas”, relatou
um dos participantes.
Foi possível observar a natureza presente em lugares em que menos esperavam. “Devido
à nitidez, à beleza da natureza expressa e à riqueza de detalhes, a fotografia despertou a
curiosidade e levou o grupo a entrar em discussão.”, afirmou a Estudante 06.
Em relação à mudança quanto a percepção ambiental (figura 4), quase 80% dos
participantes informaram que a atividade contribuiu para que pudessem olhar e reparar mais
no ambiente no qual estão inseridos. A pressa do dia-a-dia faz com que os detalhes da
natureza passem despercebidos pelos alunos, como é possível notar pelo relato do Participante
Tabela 1 - Número e porcentagem das respostas apresentadas pelos estudantes às
questões dicotômicas do questionário avaliativo.
Questões N = 58
Sim Não
1. A princípio, você percebeu que
a fotografia avaliada por sua equipe
havia sido tirada no IFCE?
31 53,44% 27 46,56%
2. Após a identificação do local,
você teve curiosidade de ir até o
mesmo?
40 68,96% 18 31,04%
3. Você já havia observado esse
processo ou prática no IFCE? 9 15,51% 49 84,49%
4. Você considera que a atividade
contribuiu para ampliar o seu
conhecimento sobre a disciplina?
47 81,03% 11 18,97%
5. Você gostou da atividade? 57 98,27% 01 1,73%
51: “A medida que as fotos foram apresentadas e fomos incentivados a procurar por nossa
conta, passamos a observar mais os locais por onde passamos diariamente e acabamos nos
surpreendendo com o mundo que nem percebemos”.
Figura 4 – Distribuição quanto a modificação da percepção ambiental.
Uma boa parte dos participantes se viram impressionados com a beleza natural que está
presente no cotidiano de cada um, mas que não é notado, e sim esquecido, como foi o caso do
Participante 10: “Percebi que o ambiente ao nosso redor tem muito a contribuir, tanto na
saúde, nas diversidades, quanto na beleza gerada por tal natureza, tornando o campus um
lugar mais agradável.”
Durante a realização da pesquisa, foi possível notar que os alunos foram demonstrando
um maior interesse de acordo com o avanço das etapas. Na apresentação inicial, os
participantes ficaram atentos para entender toda a atividade, já na observação e discussão,
surgiram alguns questionamentos a partir dos detalhes presentes nas fotografias e a
identificação do conteúdo ministrado em sala no decorrer do semestre. Durante a explanação,
muitos alunos se surpreenderam ao descobrir que o local fotografado era o IFCE. Tal fato os
deixou curiosos para a atividade de campo. Quando retornaram a sala de aula, os alunos
estavam admirados e empolgados quanto às descobertas e os registros feitos.
A aplicação das duas metodologias de forma conjunta foi de extrema importância para o
alcance dos objetivos da pesquisa. A parte da observação e discussão das fotografias foi
essencial para que os alunos tivessem um conhecimento prévio e se inspirassem para a
atividade de campo. Já a atividade de campo foi essencial para que os alunos pudessem
comprovar o que foi visto durante as observações.
Por despertar a curiosidade, a atividade também teve como consequência o incentivo à
pesquisa, o que foi constatado quando os alunos tiveram de enviar a fotografia acompanhada
por um título e um breve texto. Isso se deve, pois alguns alunos encontraram no ambiente algo
que desconhecia e tiveram a curiosidade de buscar em meios de pesquisa informações que
permitissem identificar o que foi fotografado.
Para a Equipe E: “O interessante da atividade foi nos fazer perceber a quantidade de
indivíduos que diariamente convivem próximos a nós”. Com a exploração do ambiente
escolar, foi encontrada uma grande biodiversidade dentro do Campus, envolvendo: pássaros,
formigas, abelhas, cupins, fungos, moscas, larvas, percevejos, lagartas, borboletas, etc. Além
disso, houve um contraste entre os animais que habitam a Instituição e são percebidos
facilmente, como os pombos, cães e gatos, e outros que não se imaginavam encontrar por ali,
como foi o caso de um caranguejo visto fora do seu habitat natural devido a influência
humana e as aranhas, que estiveram presentes em vários registros.
Figura 5 - Registros feitos pelos participantes durante a atividade de campo: 1)
Gafanhoto-verde; 2) Aranha 3) Fungo orelha-de-pau, também conhecido por urupê ou
pironga; 4) Borboleta;
A atividade cumpriu com os seus objetivos ao despertar o interesse dos alunos quanto a
disciplina de Biologia, o que pode ser constatado ainda pelo relato da Equipe E: “Foi de
grande importância perceber o quanto nossos conhecimentos de biologia podem ser
manifestados apenas ao visualizar uma simples foto, sem esses conhecimentos trazidos
através do estudo da disciplina, essas mesmas fotos não trariam um conhecimento mais
complexo e seriam apenas objeto de estudo estético por causa da ‘beleza’ apresentada.”
Ao estudar o ambiente, o aluno envolve-se em situações reais, o que contribui para a
compreensão das múltiplas formas de interação dos organismos entre si e com o meio, das
transformações que os organismos e o meio ambiente sofrem ao longo do tempo e no papel
dos seres vivos e do homem nesses processos de alteração.
De acordo com os resultados obtidos, constatou-se que a fotografia é uma importante
ferramenta para o ensino da Biologia, percepção ambiental e preservação do meio ambiente,
permitindo visualizar e desenvolver uma maior percepção sobre a variedade do que pode ser
encontrado dentro do ambiente escolar, que na maioria das vezes é deixado de lado. Ou seja,
foi possível perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural, adotando posturas de respeito
aos diferentes aspectos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na prática educacional de Biologia é importante promover mudanças em sala de aula, no
sentido de estimular a discussão de ideias, intensificando a participação ativa dos alunos. O
presente projeto, devido aos trabalhos de campo, conseguiu envolver emotivamente os alunos
através de experiências práticas que podem influir na predisposição para preservação do meio.
Os discentes costumam aproximar-se afetivamente dos seres vivos. Consideram que este tipo
de abordagem permite “vivenciar” o meio natural e enfatizar o desenvolvimento de atitudes
de respeito pela natureza. O vínculo afetivo é básico para que se obtenha atitudes de respeito
em relação à natureza.
Com a atividade, os participantes puderam observar e ficaram surpreendidos pela
variedade de espécies encontrada dentro do ambiente escolar que na maioria das vezes
deixavam de lado. Também notaram a necessidade de se manter vivo e conservado o
ambiente em que passam boa parte de seu dia.
Com base nos resultados, verificou-se que a utilização de fotografias teve grande
influência nas turmas, já que atuou não só na transferência de informação, mas também na
sensibilização e transformação do participante, formando indivíduos mais conscientes e com
uma melhor percepção do ambiente que os cerca. Como ferramenta de ensino, a fotografia é
útil para explicar, exemplificar, sensibilizar, provocar dúvidas e questionamentos. Dessa
forma, pode ser utilizada como metodologia didática de diversas maneiras em diferentes áreas
de estudo, dependendo das necessidades de cada professor.
É possível concluir que a fotografia é um instrumento de sensibilização que pode
provocar novas percepções. A execução da atividade de uma forma dinâmica despertou o
interesse dos alunos para o Ensino de Biologia e para a preservação ambiental. Os mesmos
foram incentivados a observar o próprio cotidiano e com isso provocaram uma mudança na
questão da percepção. Tendo o IFCE como exemplo, os alunos notaram que apesar da
simplicidade dos ambientes, há vida em cada um deles. E que devemos ser mais observadores
para sermos melhores conservadores do meio ambiente.
Agradecimentos
Aos 58 alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará que
participaram e contribuíram com a pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASARI, A. Y.; ANTONELLO, I. T. ; TSUKAMOTO, R. Y. (Org.). Múltiplas Geografias:
ensino – pesquisa – reflexão. Londrina: Edições Humanidades, p.83, 2004.
BRASIL. Coletivos educadores para territórios sustentáveis. Brasília: MMA, 1997, 26 p.
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio.
Secretária da Educação Média e Tecnológica. Brasília: MEC, 1997.
CASTOLDI, R; POLINARSKI, C. A. A utilização de recursos didático-pedagógicos na
motivação da aprendizagem. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE CIENCIA E
TECNOLOGIA, 2., Ponta Grossa, PR, 2009. CHASSOT, A. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 4. ed. Ijuí: Ed.
UNIJUI, 2006.
DIAS, J.M.C.; SCHWARZ, E.A.; VIEIRA, E.R. A Botânica além da sala de aula. 2008.
FERRARA, L. D. Olhar periférico: informação, linguagem, percepção ambiental. 1. ed. São
Paulo: Edusp, 1999.
GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. 9. ed. Campinas, SP: Papirus, 2009.
KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. São Paulo: EDUSP, 2004.
LUNETTA, V.N. Actividades práticas no ensino da Ciência. Revista Portuguesa de
Educação, v. 2, n. 1, p. 81-90, 1991. MOURÃO, L. Pertencimento. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA
TRANSDISCIPLINARIDADE, 2º, Vitoria. Anais...Vitória: 2005.
OLIVEIRA, A. U. de. Ensino de Geografia: horizontes no final do século. Boletim Paulista
de Geografia. São Paulo: AGB, n. 72, 1994.
SABINO, J. Técnica e ética da fotografia do comportamento animal: dos pioneiros à era
digital. Oecologia Brasiliensis, v. 13, n. 1, p. 209-221, 2009. SALES, A. B.; LANDIM, M. F. Análise da abordagem da flora nativa em livros didáticos de
biologia usados em escolas de Aracaju-SE. Experiência em Ensino de Ciências, Porto Alegre
v.4, n.3, p.17-19, 2009. Disponível em <http://www.if.ufrgs.br/eenci/
artigos/Artigo_ID86/v4_n3_a2009.pdf>.Acesso em: 5 abr. 2012.
SPENCER, D. Color Photography in Practice. 2. ed. Londres: Iliffe & Sons, 1980.
PHOTOGRAPHY AS A TOOL IN TEACHING OF ECOLOGY
Abstract: The motivation and student interest in the studies are directly tied to teaching used
by the teachers. Due to the use of traditional methods in teaching biology, the subject has
been considered unattractive by some students. Thus, this paper aims to arouse the attention
of the students relating the subjects of biology and art, enabling new forms of learning and
trying to make this an enjoyable and motivating process. An activity has been developed with
students of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Ceara – Fortaleza,
Brazil, using photographs as a teaching tool. Students analyzed the images recorded in the
school environment related to the topic studied in class and then they were the authors of
their photographs exploring the same environment. The activity also helped to analyze the
environmental perception of the students and make them aware about the environmental
preservation, since before the majority ignored the details of the places they were inserted.
The research involved 58 participants who were able to relate content seen in the theoretical
way with the practice in their daily lives. This meant that they could interact with the
environment in a positive and conscious way, thus characterizing meaningful learning.
Key-words: Biology, Ecology, Photography, Arts, Interdisciplinarity.