A formação de professores da Educação Infantil: uma análise do ato de planejar

Hellen Costa David

Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE – Presidente Prudente - SP

Helena Faria de Barros

Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE – Presidente Prudente - SP

Eixo Temático 3: Pesquisa, Formação de Professores e Trabalho Docente.

Resumo

O presente projeto tem como foco compreender o significado atribuído ao planejamento didático (anual e semanal) elaborado e executado por professores de Educação Infantil, egressos do curso de Pedagogia da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), do município de Presidente Prudente – S.P. Portanto, volta-se à uma reflexão sobre a função do professor e as implicações para com a questão do planejamento. A pesquisa tem uma abordagem, descritiva - interpretativa, em um estudo de caso. Os procedimentos de coleta de dados são entrevistas e a observação com análise categorial. A análise dos dados obedecerá às orientações da análise de conteúdo de Bardin (2011). Espera-se que o profissional professor da Educação Infantil, compreenda o significado do planejamento didático (anual e semanal), a fim de aprimorar a sua prática docente.

Palavras-chave: Formação Docente. Educação Infantil. Planejamento didático

Introdução

Atualmente a questão da formação de professores tem ocupado parte

significativa das discussões na área da Educação, sendo que a mesma é

reconhecida como alternativa à melhoria da qualidade do ensino. Os atuais

desafios colocados à escola exigem que o trabalho docente, sobretudo dos

docentes da Educação Infantil, esteja cada vez mais conectado com os

processos de formação, seja ela inicial ou continuada.

Como fundamento da pesquisa pretende-se refletir sobre a questão da

construção da identidade profissional docente, desde que constitui ponto de

partida para discussões e entendimentos da necessidade da melhoria da

qualidade do ensino, do trabalho docente e da profissionalização do professor.

Nóvoa (1992) reforça esta afirmação ao acentuar que a identidade do professor

responde e subjaz à ação de ensinar, revelando o nível da profissionalização

atingido pelo docente. Ele enfoca a identidade sob dois aspectos: a de

professor e a de profissão. Referindo-se à identidade do professor diz que ela

designa o sujeito que professa, divulga, toma pública sua verdade. A identidade

do professor designa uma ocupação ou atividade especializada.

Ao tentar identificar o processo que origina a identidade do professor

deve-se perceber, portanto, a indissolúvel união existente entre o professor

como pessoa e o professor como profissional. As implicações dessa

identificação são óbvias: não se pode exigir que um professor ofereça além das

possibilidades e limites pelos quais foi educado. Não é possível que "jogue fora

as suas crenças" e que "se liberte da especificidade do seu caráter" quando

realiza a ação de ensinar. Trata-se de pensar sobre como determinados modos

de ser e fazer relaciona-se ao exercício da profissão.

Acreditamos que esse breve levantamento permitir-nos-á refletir sobre

as razões pelas quais, atualmente, a formação nessa área tem sido

especialmente enfocada nas pesquisas. Atualmente vários autores Kuhlmann

(2001), André (2002), Nosella (2002), Nascimento (2003) e Angotti (2004) têm

colocado a questão da formação do profissional de Educação Infantil no centro

de suas preocupações, de forma que, anteriormente, ganhavam relevância

temas como o desenvolvimento infantil, jogos na educação infantil e a

construção da escrita.

Pode-se destacar que a formação do profissional da Educação Infantil

foi, e é construída social e historicamente, durante o percurso profissional do

professor. Cabe dizer que essa formação se evidencia, de maneira intrínseca,

pelas teorias e às práticas desenvolvidas no cotidiano escolar e no ato do

planejamento de trabalho. As tarefas desenvolvidas pelos professores se

reafirmam como unidades significativas de análises da profissionalidade

docente por serem microcontrextos de aprendizagem dos alunos, definidos por

uma intencionalidade educativa. Sua efetivação configura a pessoa do

professor, que nele imprime seus valores, suas crenças, seus ideais, seu jeito

próprio de ser e pensar e tudo mais que foi adquirido.

Importa dizer que os sujeitos sociais reconstroem as suas identidades

constantemente, justamente por estarem situados num dado espaço/tempo que

requer dos mesmos uma constante atualização, adaptação às demandas

escolares e às novas tecnologias, em decorrência do imediatismo inerente ao

mundo globalizado.

No âmbito da Educação Infantil, notamos que não há preocupação

relacionada ao planejar o trabalho educativo inicial ou cotidiano com crianças

de zero a seis anos.

Julgamos necessário e importante o estudo desta temática, visto que a

Educação Infantil possui estatuto de direito colocando-se como etapa primeira

da Educação Básica para todas as crianças brasileiras, conforme preceitos

constitucionais. Tanto creches quanto pré-escolas têm responsabilidades para

com as crianças pequenas no cuidado e formação seu desenvolvimento e sua

aprendizagem, o que requer um trabalho intencional e de qualidade. Na

intencionalidade do trabalho reside a preocupação com o planejamento.

A pesquisa com esta temática sobre o ato de planejar surgiu pela

necessidade de “desmistificar” o assunto que tem um estudo apressado e uma

visão ingênua. Tem se apresentado como atividade descuidada, desvalorizada,

omitida. A ação da pesquisadora em seus anos de experiência na profissão

docente e em suas inquietudes e angústias, frente ao ato de planejar

conduzem a esta conclusão.

O ato de planejar está intrinsecamente relacionado aos seres humanos,

pois o desejo de transformação é uma realidade marcante de todas as

pessoas. Em nossas ações cotidianas nos deparamos com situações que

exigem planejamento, mas nem sempre nossas ações diárias são delineadas

em etapas concretas de ação, por fazerem parte de uma rotina.

Entretanto para realizarmos as atividades que não estão inseridas na

rotina cotidiana lançamos mão do processo intelectual – o planejamento – para

alcançar o que desejamos.

Padilha, afirma que:

Planejamento é o processo de busca de equilíbrio entre meios e fins,

entre recursos e objetivos, visando ao melhor funcionamento de

empresas, instituições, setores de trabalho, organizações grupais e

outras atividades humanas. O ato de planejar é sempre processo de

reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão

de necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e

recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de

objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos

resultados das avaliações. (PADILHA, 2001, p.30).

São questões norteadoras da pesquisa as mencionadas a seguir: o

significado atribuído pelos professores de Educação Infantil ao seu ato de

planejar em uma visão mais ampla para o ano e mais específica para a

semana? O objetivo é saber se o curso de Pedagogia de formação inicial

recebida permite e enfatiza um planejamento anual e semanal da Educação

Infantil eficiente?

O planejamento deve ser assumido no cotidiano como um processo de

reflexão, que envolve todas as ações e situações do educador no cotidiano do

seu trabalho pedagógico. Planejar é atitude de traçar, projetar, programar,

elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de

interação, de experiências múltiplas e significativas para com o grupo de

crianças. Nesse sentido, o planejamento pedagógico é atitude é uma crítica do

educador diante de sua ação de ensinar.

Quanto à relevância da pesquisa no âmbito acadêmico tem-se que

contribuirá para aprofundamento do tema desde que os enfoques até aqui não

o privilegiam.

Igualmente, a participação dos professores como sujeitos da pesquisa

contribuirá de maneira significativa para a revisão de sua prática,

desenvolvimento profissional com repercussão em suas identidades. Os

participantes, da pesquisa serão alunos, egressos do curso de Pedagogia (da

universidade citada), iniciantes ou veteranos, profissionais do ensino atuantes

na Educação Infantil em números de cinco.

Acresce à relevância social da pesquisa que a investigação poderá

oferecer subsídios ao aprimoramento do curso em pauta e a possibilidade de

compreender que a Educação Infantil é caracterizada como a da primeira

infância, sendo a base da construção do ser, que requer muita pesquisa e

inovação para desmitificar a ideia do cuidar/educar.

Diante destas argumentações vemos que o docente de Educação

Infantil:

Tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis

anos de idade em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e

social, complementando a ação da família e da comunidade” (art. 29

da LDB). A Política Nacional de Educação Infantil parte dessa

finalidade para estabelecer como uma de suas diretrizes a

indissociabilidade entre o cuidado e a educação no atendimento às

crianças da Educação Infantil (BRASIL, 2005a).

Os professores e os demais profissionais que atuam nessas instituições

devem, portanto, valorizar o desenvolvimento da criança que está ligado às

possibilidades estabelecidas durante a exploração do ambiente, à expressão

de suas emoções, ao contato e à convivência com vários objetos e pessoas.

Visto que é no ato de planejar que deve contemplar, portanto, o crescimento

global da criança, considerando todas as suas necessidades.

Objetivo Geral

Analisar o ato do planejamento didático (anual e semanal) dos

professores da Educação Infantil egressos da Universidade do Oeste Paulista –

UNOESTE, a fim de verificar se o profissional professor em início de carreira e

veterano são capazes de atuar na docência, garantindo um planejamento de

qualidade que satisfaça as necessidades particulares da faixa etária em

questão.

Objetivos Específicos

Apreender a concepção de identidade do profissional professor de

Educação Infantil, por meio de entrevistas reflexivas;

Compreender a base filosófica do planejamento didático (anual e

semanal) dos professores, pelo estudo dos planos elaborados;

Analisar a conceituação de planejamento didático (anual e semanal) dos

professores Iniciantes e veteranos da Universidade do Oeste Paulista –

Unoeste, atuantes na Pré Escola;

Verificar a execução do planejamento didático (anual e semanal) da

Educação Infantil, dos profissionais iniciantes e veteranos.

Metodologia

Na metodologia de pesquisa, optamos por uma abordagem qualitativa,

um estudo de caso descritivo interpretativo, a fim de coletar informações

referentes à formação inicial do professor de Educação Infantil e análises do

planejar e executar seu trabalho docente. Posteriormente, realizaremos

entrevistas semi-dirigidas, a fim de compreendermos como o professor

concebe a construção do plano de trabalho a partir da perspectiva resultante da

sua formação superior e do significado que atribui às atividades para as

crianças da pré escola.

O encontro inicial com estes sujeitos será feita através da aplicação

entrevista reflexiva que segundo Lakatos (2004) demonstra como uma de suas

características básicas, a disposição do pesquisador de compartilhar

continuamente a compreensão dos dados com o participante, havendo uma

situação de trocas intersubjetivas.

Convencionalmente, a entrevista reflexiva e a observação têm sido

empregadas em pesquisas qualitativas, a fim de propiciar a interação social do

pesquisador e do pesquisado. Nota-se que nesta perspectiva são focalizadas

algumas questões como as condições psicossociais presentes em uma

situação de interação entre o pesquisador/pesquisado.

Portanto, vemos nesses tipos de procedimento de coleta de dados que

há um caráter interpessoal no qual é incluída a subjetividade dos protagonistas,

podendo construir um novo conhecimento, através da horizontalidade nas

relações de poder.

Em suma, nota-se que a entrevista reflexiva e a observação, revelam-se

como importante estratégia nas pesquisas qualitativas como uma solução para

o estudo de significados subjetivos e de tópicos complexos demais para serem

investigados por instrumentos fechados num formato padronizado (BANISTER

apud SZYMANSKI, ALMEIDA E BRANDINI, 2004).

Para análise dos dados observar-se-á a orientação de Lawrence Bardin

(2011) para a elaboração de categorias.

Referências

ANGOTTI, Maristela. O trabalho docente na pré-escola revisitando teorias, descortinando práticas. São Paulo, Pioneira, 2002.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

KUHLMANN JR., Moysés. Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. 2ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2001.

LAKATOS. Metodologia científica ciência e conhecimento científico, métodos científicos, teoria, hipóteses e variáveis, metodologia jurídica. São Paulo: Atlas, 2004.

MENGA, Lüdke, ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo, EPU, 1986.

NASCIMENTO, Maria Evelyna Pompeu. Os profissionais da Educação Infantil e a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. IN: Faria Ana Lúcia Goulart, PALHARES, Mariana Silveira (orgs). Educação Infantil Pós-LBD: Rumos e desafios. 4ª ed. rev. e ampl. Campinas, SP: Autores associados – FE/Unicamp; São Carlos, SP: Editora da UFSCar; Florianópolis, SC: Editora da UFSCar, 2003. (Coleção polêmicas do nosso tempo; 62).

NOSELLA, Paola. A linha vermelha do planeta infância: o socialismo e a educação da criança. IN: FREITAS, Marcos Cezar de, KUHLMANN JR, Moysés (orgs). Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002.

NÓVOA, Antônio. Formação de professores e Profissão docente In: NÓVOA, A. Os Professores e Sua formação. Lisboa: D. Quixote, 1992.

PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001.

PIMENTA, Selma G. e GUEDIN, Evandro. (ORG.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2005.

SZYMANSKI, Heloisa (organizadora), Laurinda Ramalho de Almeida, Regina Célia Almeida Rego Prandini. A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Brasília: liber livro editora, 2004.