a febre que eu posso fingir (em construção)

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isaias de faria a febre que posso fingir poemas Belo Horizonte porospoesia 2014

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Page 1: A febre que eu posso fingir (em construção)

isaias de faria

a febre que

posso fingir

poemas

Belo Horizonte

porospoesia

2014

Page 2: A febre que eu posso fingir (em construção)
Page 3: A febre que eu posso fingir (em construção)

SE O QUE TENHO É ISSO

Febre

Que finjo

Alvoroço

Que minto

Lúgubre

Que disfarço

Page 4: A febre que eu posso fingir (em construção)

CONTO

Relevo na língua,

Estalactites

No alto da boca, dentes pungentes.

Posso tentar ser monstro,

Namorar teus

Poros dilatados

na Rua

ah, aquelas ruas, de fumaça e neon,

Que a gente adorava passar

Page 5: A febre que eu posso fingir (em construção)

ciclos

vamos lá

perambular

deixar rolar o

estado das coisas

forma

roda

caminho

saliva

vamos lá

deixar os beiços pulsar

trocar de nome

machucar um pouco os pés

correndo na rua escura de pedras

afiadas pedras

mas

vamos lá

para as luzes de outdoors

bem abestalhados

de mãos dadas sem rumo sem rumo sem rumo

vamos lá

ficar de bobeira

madrugada distraída

doidos

nos dois

Page 6: A febre que eu posso fingir (em construção)

pra ficar

ficar

juntos

sem rumo sem rumo sem rumo

madrugada afora

manhã afora

solstício afora

dia afora

semana afora

até que trinta e um

chegue e possamos

pensar na conta de luz

iptu padaria

vamos lá

restante não há

restante desapareceu

no lugar que foi

no lugar que fomos

fomos sim

fomos inconstantes

terrivelmente iguais

e deixemos tudo

para que outros digam e se

repitam:

vamos lá

Page 7: A febre que eu posso fingir (em construção)

Pré-história de teu humor invertido

Troca de refrão

Traje pequeno

Poupa de açaí

Requinte de crueldade

Porque não posso

Te tocar nem um

minutinho sequer?

Você não deixa

Você toda desnaturada

Comigo

Resta-me então

Passar pro outro lado

Pro lado do congelador

Page 8: A febre que eu posso fingir (em construção)

É o quê?

Café com perfume

Pelos pubianos

Retórica capaz

De tocar adiante

Teu

Humor

Fazê-lo ficar mais calorento

brincar

Feito bons amigos

Teremos que por

Em pratos limpos:

É amor ou perdição?

Page 9: A febre que eu posso fingir (em construção)

Radamés

Radamés, o mais rude, dizia estar

Carcomido palas palavras e pelas

Pessoas ao mesmo tempo.

Exatamente porque elas eram

Insuportáveis e inseparáveis

Ao mesmo tempo.

Page 10: A febre que eu posso fingir (em construção)

Verbo

Tentar criar espaços únicos

Nem sempre dá certo

Estranhar é uma sina nessa

Tentativa

E seguimos nisso,

Pensando baixo,

Coçando a cabeça

Oráculos não há

Talvez uma seta,

Uma bússola

Um caminho?

Rumo é um verbo

Bem esquisito

Page 11: A febre que eu posso fingir (em construção)

Tradição

Do alto da torre da igreja

Um alto-falante avisa o fim:

Da cidadezinha partiu.

Quase todos irão à despedida do

Corpo.

Caprichosos vestidos,

Caprichosos ternos,

Bule de café meio sem açúcar

Pra significar o quanto

A vida é diversa em

Gosto.

E os convidados se perguntam:

Tudo é como aquele café no bule?

Page 12: A febre que eu posso fingir (em construção)

nívea

tateio

de olhos fechados

fome

de teus

pés

veias

e

tornozelos

alvos

Page 13: A febre que eu posso fingir (em construção)

síria

gás sarin

até debaixo

das unhas das moças,

moços,

senhoras, senhores,

meninas e meninos.

o relatório da

onu devia dizer:

usa

como se usasse,

uma borracha num

papel escrito a lápis

Page 14: A febre que eu posso fingir (em construção)

para a foto: “casal na chuva” de german lorca

As pernas são borrões

São sombras

Passam

Evaporam

E que materialidade pensar?

Não há

São borrões

Sombras

Cinzaprataclaro

Uma cor que percorre

Contorna

As pernas borrões

As pernas sombras

Os corpos

Os dois

Que sustentam

As pernas borrões

As pernas sombras

Page 15: A febre que eu posso fingir (em construção)

Beirando dos 40

Acabaram de se conhecer e Rolma pergunta:

- Está com sol lá fora?

- De vez em quando.

- Você prefere dia ou noite?

- Noite. E você?

- Noite também.

- E o que gosta de escutar na noite?

- eu gosto...humm... Franz Ferdinand eu gosto. Me faz

sentir mais jovem.

- É? Bem, eu...acho eu a Xuxa me faz sentir mais jovem.

(risos)

- Não, estou falando sério, a música do Ferdinand tem algo

de uma

leveza alegre, algo adolescente, e sabe como é né, já estou

beirando os 40.

- Até parece, baby. Quer uma ótima dica de fonte da

juventude? Pois bem: minha cama.

você vai se sentir uma mocinha de 18 na minha cama.

- Babaca.

Page 16: A febre que eu posso fingir (em construção)

On the road na tela

É só passar um

road movie

Na tv

que

Eu paro

E fico querendo

Partir

Page 17: A febre que eu posso fingir (em construção)

A feirante

Tomates vermelhos lustrosos

Dentro do sutiã

Roubados da feira

E o quitandeiro:

-Não fará falta,

Estão bem melhor

Onde estão

Adocicados

Puramente aconchegados

Até que alguém chegue,

E os devore

Page 18: A febre que eu posso fingir (em construção)

preparada

Não posso desdesejar

Jazz & manjar

Suco de amora na

Tua barriga

Nua,

Pronta, prontinha

Page 19: A febre que eu posso fingir (em construção)

Plenilúnio urbano

No meio da noite

Tem árvores verdinhas no

Outdoor iluminado

Entre prédios de 38 andares

Page 20: A febre que eu posso fingir (em construção)

Letra de música

Estamos passando por um

Momento nada a ver?

A paixão vai pra rua

Dançar

Enquanto aqui

Pouca pasta de dente

Sobrou pra você

Mas meu raio que o parta ficou

E vamos indo

Esperando muito mais

Esperando muito mais

Pro dia variar

Vamos dançar

Tocar a fossa daqui

Encontrar a grande corrente marítima

Esperando muito mais

Esperando muito mais

Com hálito de peixe

Pela rua

Page 21: A febre que eu posso fingir (em construção)

Pra variar

Vamos dançar

Tocar a fossa daqui

E seguir

Seguir

Esperando muito mais

Muito mais

Vamos pra rua dançar

Page 22: A febre que eu posso fingir (em construção)

Despatriarcado

Monturo.

Alerta vermelho.

Não chegue perto.

Ou

Chegue

Se achegue

Se infecte.

A pátria do povo

A terrível pátria do

povo brasileiro

Page 23: A febre que eu posso fingir (em construção)

Desejo

Pedra no

Sapato

Parece com

A letra

Que

Eu quero ser

Page 24: A febre que eu posso fingir (em construção)

O bem e o mal aqui é igual

Aroma

entre teus Peitos

alvos

fervorosos

fazem

as horas rudes sumirem

Page 25: A febre que eu posso fingir (em construção)

SANGUE & SUOR EM 2013

Pelas ruas

Podem passar

Também

bagunceiros

baderneiros

adoráveis vândalos

ali entre

pedra pau

traquéia

e

sob

o mesmo céu

pulsa

crivado de gosto e desgosto:

tiros de borracha

gás lacrimogêneo

coquetel molotov

Page 26: A febre que eu posso fingir (em construção)

ENCONTRO

Menina,

Me espera na

Saída

Page 27: A febre que eu posso fingir (em construção)

O FALO E A FOME

Arranca meu coro

Mulher

Se assanhe em cima de mim

Meu falo mais que

Torre de Paris

A madrugada trompete está

Aí e tenho que

Raptar o raio

Que a parta

Logo que o coito termine

Mas arranque meu couro

Rápido, mulher,

Com tua volúpia

Estou a ponto de bala de canhão,

Sabe?

Page 28: A febre que eu posso fingir (em construção)

A flecha de fogo audaz

Pronta prontinha vê tua fenda

E corre come

Triangulo peludo de cabeça pra baixo

Engole tudo

Page 29: A febre que eu posso fingir (em construção)

Sugue mais e mais

Os poros

Do meu céu da boca

Page 30: A febre que eu posso fingir (em construção)

Tua boca

Um peixe ornamental

Num

pequeno aquário

Parece tua boca

Indecifrável

Parece uma

Sinfonia do Tchaikovsky

Page 31: A febre que eu posso fingir (em construção)

Soneto do tempo presente(inacabado)

Não posso escapar de tua boca

Miraculosa e cheia de odes.

Acabo perdendo-me alí

Em algas e salivas elétricas.

Fugir pra que dessa alegria e dor?

Hemingway não fugiria, estou certo?

Da abissal bocarra em nossa direção

multicolorida multifacetada multimorte

Page 32: A febre que eu posso fingir (em construção)

Batatas e sinfonia

Na cozinha, batatas cozinham.

Lá fora, uma tenra tarde chuvosa.

Na sala, calmo e fascinado,

descubro mais uma sinfonia do

Tchaikovsky

Page 33: A febre que eu posso fingir (em construção)

Paideia

No escudo,

Uma imagem de pássaro

Na lança que volta,

O sangue do outro

O guerreiro grego

Segue.