a evolução do telejornalismo no espírito santo

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MARCELLE DE ALMEIDA CARVALHO A EVOLUÇÃO DO TELEJORNALISMO NO ESPÍRITO SANTO A BUSCA POR UMA IDENTIDADE REGIONAL Faculdade de Educação e Comunicação Social - FAESA Vitória 1999/1

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Page 1: A evolução do Telejornalismo no Espírito Santo

MARCELLE DE ALMEIDA CARVALHO

A EVOLUÇÃO DO TELEJORNALISMO NO ESPÍRITO SANTO

A BUSCA POR UMA IDENTIDADE REGIONAL

Faculdade de Educação e Comunicação Social - FAESAVitória1999/1

MARCELLE DE ALMEIDA CARVALHO

Page 2: A evolução do Telejornalismo no Espírito Santo

A EVOLUÇÃO DO TELEJORNALISMO NO ESPÍRITO SANTO

A BUSCA POR UMA IDENTIDADE REGIONAL

Faculdade de Educação e Comunicação Social - FAESAVitória1999/1

MARCELLE DE ALMEIDA CARVALHO

Page 3: A evolução do Telejornalismo no Espírito Santo

Trabalho de Conclusão de Cursoapresentado à coordenadoria de

Comunicação Social da FAESAem cumprimento parcial às exigências

para a obtenção de grau debarachel em Comunicação Social

Orientador: Profº Ms.Edgard Rebouças

Faculdade de Educação e Comunicação Social - FAESAVitória1999/1

Page 4: A evolução do Telejornalismo no Espírito Santo

Agradeço ao professor Edgard Rebouças pelo incentivo, paciência e apoio

durante todo o período de orientação.Aos entrevistados pelo tempo gentilmente cedido no momento

das entrevistas, interrompendo seus compromissos profissionais para juntos resgatarmos a história do

telejornalismo no Espírito Santo. À minha família e todas as pessoas que conviveram esse

período de pesquisa e que direta ou indiretamente contribuíram com informações, atenção e carinho.

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BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________

SUMÁRIO 1 - Introdução 07 2 - Embasamento Teórico 08

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3 - Metodologia 10 4 - História da TV no Brasil 18 5 - História da TV no Espírito Santo 20 5.1 – As emissoras 23 5.1.1 - TV Vitória 23 5.1.2 - TV Gazeta 28 5.1.3 - TV Educativa do Espírito Santo 32 5.1.4 - TV Tribuna 35

5.1.5 - TV Cachoeiro 38 5.1.6 - TV Capixaba 40 5.1.7 - TV São Mateus 44 5.1.8 - TV Norte 46 5.1.9 - TV Guarapari 49 6 - Conclusão 51 7 - Bibliografia 53

Page 7: A evolução do Telejornalismo no Espírito Santo

1 – INTRODUÇÃO O objetivo principal deste estudo é fazer um resgate histórico do telejornalismo no Espírito Santo, analisando o espaço e investimentos dispensados à produção local, já que existem poucos estudos realizados nessa área. Através desta análise pretendemos também conhecer a fundo os bastidores do telejornalismo, cuja área temos a intenção de nos profissionalizar. Embora a maior parte dos documentos relativos aos anos iniciais da televisão no Espírito Santo não tenha sido arquivada ou teria se perdido, os registros desse período ainda estão guardados na memória de todos que trabalharam para sua implantação e consolidação. Hoje, os estudantes de Comunicação Social não têm acesso a essa história, e muitos deles serão absorvidos por essas emissoras. A melhor compreensão das origens dos veículos e dos processos que eles desenvolveram até chegar ao momento atual, certamente seria útil para um bom desempenho profissional. As hipóteses iniciais de que mesmo com quase quatro décadas de TV no Espírito Santo pouco se produziu em termos de pesquisa, e que o telejornalismo não tem memória no estado, foram se firmando cada vez mais no desenrolar deste estudo. A cada entrevista, a certeza da importância e utilidade que teria o trabalho. Os profissionais que participaram do início do telejornalismo não se preocuparam em registrar e arquivar a memória das emissoras; com isso, os novos profissionais desconhecem o que se fez no passado. Segundo Glecy Coutinho, uma das primeiras jornalistas de televisão do estado, existe uma grande dificuldade em se resgatar a memória do telejornalismo. É dela veio a frase que definiu muito bem o sentido dessa pesquisa: “As pessoas vão morrendo e a memória vai se perdendo”. Este é um trabalho descritivo em que tivemos o objetivo de fazer um resgate histórico, em que uma análise crítica, não estaria incluída devido ao escopo do nosso trabalho. Não descartamos contudo a possibilidade desta análise em um provável estudo futuro.

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2 - EMBASAMENTO TEÓRICO Para garantir o sucesso da realização deste trabalho foi fundamental um aprofundamento teórico baseado nas metodologias utilizadas por autores que já pensaram a respeito do tema proposto. No entanto, acreditamos que a sustentação deste trabalho se fez em grande parte sobre as fontes pessoais das emissoras e de seus precursores no telejornalismo capixaba, através de seus depoimentos. Para nortear o delineamento desta pesquisa, adotamos a interpretação da metodologia utilizada por Dulce Márcia Cruz (1995), em seu livro “Televisão e Negócio – A RBS em Santa Catarina” nos estudos sobre o papel da televisão regional como fonte de grandes negócios em Santa Catarina; os estudos de Sebastião Squirra (1995), em seu artigo “O telejornalismo brasileiro num cenário de competitividade” sobre o telejornalismo no Brasil; as interpretações de Sérgio Mattos (1990) em “Um perfil da TV brasileira” e Sérgio Caparelli (1982) em “Televisão e Capitalismo no Brasil” sobre a história da televisão no Brasil. Essas e outras reflexões teóricas estão distribuídas pelo corpo do trabalho. No decorrer do trabalho outros autores surgiram e suas reflexões foram sendo acrescentadas à metodologia do estudo. A dissertação de mestrado da jornalista Ana Carolina Temer sobre a “Reconstrução da História da TV Triângulo em Uberlândia” foi extremamente importante para definirmos o caminho a seguir para a coleta dos dados e a organização das informações obtidas no desenvolvimento da pesquisa. (Temer, 1997) A leitura de algumas revistas como a Meio & Mensagem também acrescentou informações, principalmente, no que diz respeito a programação e audiência de algumas emissoras.

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São poucos os textos sobre televisão no estado, mas alguns foram encontrados e utilizados no desenvolvimento da pesquisa. Dentre eles, “Os desafios da televisão brasileira para o próximo milênio” e “Proposta de participação social na elaboração de uma política de comunicação social para o Espírito Santo”, Rebouças, (1995) e “Jornalismo Regional: Mudanças à vista”, Tourinho, (1996). Todos considerados altamente pertinentes no panorama da comunicação social, principalmente o mais recente de Rebouças (1995), apresentado no Congresso da Intercom, em 1995.

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3 - METODOLOGIA Os problemas enfrentados neste trabalho já haviam sido previstos visto que temos conhecimento de que a programação do telejornalismo no Espírito Santo, que poderia ajudar no levantamento dessa história, foi registrada apenas pelos jornais impressos, a nível de citações, não refletindo portanto a realidade das emissoras. Uns poucos filmes, fotos, e documentos legais preservados não oferecem embasamento suficiente para uma percepção mais completa da implantação e do desenvolvimento da história dessas programações. As pessoas que participaram do processo de desenvolvimento das emissoras estão vivas em sua maioria. Entre elas estão jornalistas ou pessoas que trabalharam diretamente no telejornalismo do estado. Optamos então por reconstruir a história das emissoras através de suas memórias ou o levantamento de sua história oral. Como se trata de um estudo histórico, em que a maior fonte de referência é a memória das pessoas, o método utilizado foi o da pesquisa qualitativa. Trata-se de uma tentativa de resgate das experiências profissionais dos indivíduos envolvidos, para dessa forma documentar o próprio processo. O termo “pesquisa qualitativa” é definido por Arlinda Shimidt Godoyi como aquela que “envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos, segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo”. A autora também define que a pesquisa qualitativa “(...) não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e a criatividade levem a propor trabalhos que explorem novos enfoques”. Com isso, a nossa proposta é reconstruir a história da TV no Espírito Santo a partir da memória de um público, que é também construtor dessa história. A coleta dos dados e o desenvolvimento do trabalho foram realizadas através das técnicas metodológicas propostas por Ruiz J.A.1, tendo como principal direcionamento a observação indireta sobre as fontes primárias (arquivos de imagens/registros de departamento pessoal) e fontes secundárias (livros e textos de autores que já trataram o assunto). Utilizamos então essa observação indireta sobre as fontes primárias, como imagens e registro de departamento pessoal, quando necessário em algumas emissoras, visto que nem todas tinham sua história documentada, e fontes secundárias. Optamos por entrevistar as pessoas responsáveis pelo telejornalismo das emissoras e alguns jornalistas que atuaram na área durante o período observado. O objetivo das entrevistas foi coletar os depoimentos dessas pessoas, acrescentando aos questionamentos levantados na pesquisa. Escolhemos também entrevistar os diretores das emissoras, com o objetivo de entender a influência das questões empresariais no desenvolvimento dos telejornais. No entanto, nem todos se dispuseram a nos atender, o que prejudicou a pesquisa no momento em que nos impossibilitou de resgatar a visão empresarial das emissoras dos quais eles eram responsáveis. Observamos no contato com os profissionais do telejornalismo uma predisposição para a criação e desenvolvimento de programas locais, mas isso nem sempre era possível pela falta de recursos financeiros.

12 (RUIZ J.A. - Metodologia Científica – Guia para eficiência nos estudos, São Paulo: Atlas, 1996.)

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Como falamos anteriormente, a proposta inicial era observar a estrutura dos telejornais através da grade de programação, mas as emissoras não dispunham dessas informações arquivadas. Não fizemos uma investigação maior nos jornais da época, pois isso não responderia a nossa curiosidade de saber o conteúdo e o contexto em que essas programações foram criadas. Algumas apresentaram um grade de programação atual, mas nenhuma delas apresentou todos os programas exibidos desde a sua criação. Nesse caso, tivemos que utilizar as entrevistas e contar com a memória dos profissionais que vivenciaram toda a história da emissora. Em alguns momentos uns recordam-se dos nomes dos programas, mas já não lembravam mais o formato, quem apresentava, quanto tempo de duração, entre outros detalhes. Ao optarmos por reconstruir a história dessas emissoras através de suas memórias, recorremos ao estudo do levantamento da história oral, para entendermos o processo e alcançarmos com mais certeza o objetivo proposto no trabalho.

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3.1 MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL

A memória é uma das ferramentas de trabalho do jornalista, uma vez que, sendo impossível para esse profissional presenciar e/ou vivenciar no tempo real todas as notícias, ele quase sempre recorre a memória das pessoas que viveram ou participaram dessa notícia. No entanto, como esse trabalho procura reconstruir a história do telejornalismo no Espírito Santo, utilizando memória de fatos ocorridos até quase quarenta anos atrás, recorremos a um referencial teórico utilizado por historiadores, dentre eles Bom Meihy ii, que por sua vez utilizou o termo “história oral”. Como definição, a história oral “implica uma percepção do passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo histórico não está acabado. A presença do passado no presente imediato das pessoas é a razão de ser da história oral”2. A moderna história oral nasceu em 1947, na Universidade de Columbia (EUA) ganhando impulso no Brasil em 1983, após a chamada abertura política3. Seu objetivo é buscar na experiência dos indivíduos aspectos de sua vida sem excluir um compromisso com o contexto social, e reconhecendo a memória como instrumento capaz de colocar novos elementos à disposição dos interessados na leitura da sociedade.

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A partir desse referencial, foi definido que dentro deste trabalho seria usada a modalidade chamada “história oral temática”:

“Quase sempre ela eqüivale ao uso da documentação oral da mesma maneira que as fontes escritas. Valendo-se do produto das entrevistas como mais um documento, compatível com a necessidade de busca de esclarecimentos, o grau de atuação do entrevistados como condutor dos trabalhos fica mais explícito.”4

Para a definição de memória em si, recorremos aos estudos de Ecléia Bosi,5 que constrói sua percepção de memória através das elaborações de Bergson6 e Halbwalch.7 Para ela “a lembrança é a sobrevivência do passado. O passado, conservando-se no espírito de cada ser humano, aflora a consciência na forma de imagens-lembranças”.8 Para conseguirmos chegar aos depoimentos que pudessem colaborar com esse resgate histórico e contribuir para a pesquisa do objeto de estudo em questão, preparamos o seguinte questionário que serviu como base para as entrevistas:

4 Apud Temer, 1997 - BOM MEIHY, José Carlos S. Manual de História Oral: São Paulo: Loyola, 1996, p. 41.5 Apud Temer, 1997 - BOSI, Ecléia, no seu livro Memória e sociedade - lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.6 Apud Temer, 1997 - BERGSON, Henri. Filósofo, autor do livro Oeuvres, (Paris: PUF, 1959).7 Apud Temer, 1997 - HALBWALCH, Maurice. Historiador, autor dos livros La Mémoire colletive (Paris: PUF, 1956), La topografie légendaire des évangiles en Terre Sainte (Paris: PUF, 1964), Les cadres socieus de la mémoire (Paris: Féliz Alcan, 1925).8 Apud Temer, 1997 - BOSI, Ecléia, no seu livro Memória e sociedade - lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 53.

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Questionário

Nome do entrevistado: Cargo(s) ocupado(s) na emissora:

1) Quando a TV foi ao ar (dia/mês/ano)? 2) Quando foi ao ar o primeiro telejornal?3) Quando foram contratados os primeiros jornalistas (repórteres,

apresentadores, editores-chefe)? Quais os nomes?4) Quais foram os primeiros programas da TV?5) Quantos e quais programas a TV tem hoje?6) Qual é o perfil de cada programa?7) Qual é o formato (quantos apresentadores, quantas equipes

de reportagem, tempo de duração, horário de exibição, quantos blocos) de cada programa?

8) Em qual contexto político da emissora foram surgidos os novos programas?

9) A emissora tem acervo de imagens?10) Quais foram as dificuldades encontradas na montagem da TV

e em todo o seu desenvolvimento?11) Qual o tempo dispensado à produção local na grade de

programação da TV? (pode ser em porcentagem ou em horas)12) Houve mudança de perfil de algum programa? Por quê?13) Qual a diferença dos programas que a TV exibia no início para

os atuais?14) Qual tipo de equipamento era utilizado? Como é hoje?

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3.2. ENTREVISTAS As fontes foram entrevistadas uma por vez e questionadas de acordo com o grau de participação na história da(s) emissora(s) em que trabalharam. A entrevista foi oral e gravada em fita cassete. As fitas foram decupadas para que pudéssemos extrair os melhores trechos e depoimentos dos entrevistados. No início do projeto separamos 15 nomes para serem entrevistados, mas no decorrer do trabalho alguns não puderam nos atender, outros não se sentiram os mais indicados para dar qualquer resposta e outros novos foram surgindo por indicação dos profissionais entrevistados. Ao todo foram realizadas 21 entrevistas, com duração de 40 a 60 minutos cada. Dentre os nomes propostos inicialmente, um morreu durante o desenrolar da pesquisa, sem que eu pudesse antes contactá-lo. No caso, o senador João Calmon, que muito poderia ter contribuído para um resgate mais fiel possível dessa história. Sua importância será mais amplamente mencionada no capítulo sobre a TV Vitória. Observamos no decorrer das entrevistas que muitas das fontes tiveram mais de uma função dentro da emissora onde trabalhavam ou trabalham, e grande parte passou pelas outras emissoras também, desempenhando a mesma ou outras funções. Houve situações em que um entrevistado foi solicitado a responder por duas emissoras, como o caso de Carminha Corrêa que trabalhou na TV Capixaba e na TV Vitória. Vale ressaltar que alguns dos que não se dispuseram a nos receber, solicitaram que as perguntas fossem respondidas por fax. Para esses foi enviado um questionário detalhado com perguntas dissertativas, com uma pequena exposição do objetivo da pesquisa. O questionário foi respondido rapidamente, mas não traziam todas as informações que solicitamos. No geral, as pessoas reagiram bem à pesquisa. Os que já estão no mercado de trabalho há mais tempo se sentiram satisfeitos por contribuirem com a pesquisa e felizes em saber que alguém estava tentando resgatar essa história. Os mais recentes no mercado, embora alegassem não ter muita informação a acrescentar ao trabalho, elogiaram a idéia e alguns pediram para conferir o resultado final. O que nos incentivou ainda mais a virmos a nos aprofundar sobre o tema em estudos posteriores.

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4 – HISTÓRIA DA TV NO BRASIL Resolvemos incluir as fases iniciais da história da televisão no Brasil visto que as informações definidas por alguns autores foram particularmente importantes para a compreensão do veículo e a consolidação da importância do resgate histórico da atuação desse veículo no estado. Assim, procuramos fazer uma leitura de alguns autores de nossa preferência, que pesquisaram e escreveram sobre televisão. Entre eles Sérgio Caparelli, Sérgio Mattos, Sebastião Squirra, Dulce Márcia Cruz, Pedro Maciel e Edgard Rebouças. A televisão no Brasil nasceu privada, seguindo o modelo norte-americano de televisão, graças ao empresário do setor de comunicação, Assis Chateaubriand, que viabilizou a implantação da TV em 1950. Durante esse período de implantação, um aparelho de televisão custava quase o preço de um automóvel, o que tornava a TV um brinquedo de luxo das elites. Em 18 de setembro de 1950 a TV Tupi- São Paulo foi inaugurada e o primeiro telejornal foi ao ar no dia seguinte, chamava-se “Imagens do Dia”. No início, os telejornais funcionavam como um rádio com imagens. Os apresentadores liam as notas extraídas dos jornais impressos, faziam o chamado “gilette-press”. O modelo utilizado na televisão foi importado do rádio, ou seja, não se criou uma linguagem específica para o veículo. Além disso, as imagens eram feitas em filmes de 16 mm, o que demandava um tempo grande para a revelação, impedindo desta forma de se fazer uma cobertura jornalística com notícias factuais. Em 22 de novembro do mesmo ano são autorizadas as concessões para TV Record - São Paulo, TV Jornal do Comércio - Recife e TV Tupi - São Paulo. O jornalismo de TV começa a ganhar força nas fases elitista (1950 a 1964) e populista (1964 a 1975). O “Repórter Esso”, transmitido pela TV Tupi, era o principal nome do telejornal. Criado em 17 de junho de 1953 o programa veio de um extraordinário sucesso no rádio e foi um dos noticiosos de TV de maior sucesso.

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Na fase populista (1964 a 1975) o público deste momento vivia um período com mudanças sociais muito fortes. Com a ditadura militar a imprensa passou a se “conveniar” com o governo, destacando os seus ideais. Mas, o grande marco do telejornalismo ocorreu em 1969 com a primeira transmissão em rede nacional através do Jornal Nacional. Ao passar dos anos, os telejornais, não só os da TV Globo, como os das demais emissoras, passaram a destacar fatos importantes como a anistia em 1979, a campanha das “Diretas Já”, em 1984, a eleição e morte de Tancredo, em 1985. Nos anos 80 começam a se formar profissionais para a televisão. Vai se consolidando nessa época o padrão Globo de qualidade, que surgiu em meados da década de 70 e provocou uma “estandartização” do jornalismo de televisão em todas as emissoras. As emissoras criaram um padrão herdado do telejornalismo americano. No resto do mundo existiram outros marcos do jornalismo na TV como: a transmissão da Guerra do Vietnãiii. O “Repórter Esso”, transmitido pela TV Tupi, era o principal nome do telejornal. Criado em 17 de junho de 1953 o programa veio de um extraordinário sucesso no rádio e foi um dos noticiosos de TV de maior sucesso.

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Na fase populista (1964 a 1975) o público deste momento vivia um período com mudanças sociais muito fortes. Com a ditadura militar a imprensa passou a se “conveniar” com o governo, destacando os seus ideais. Mas, o grande marco do telejornalismo ocorreu em 1969 com a primeira transmissão em rede nacional através do Jornal Nacional. Ao passar dos anos, os telejornais, não só os da TV Globo, como os das demais emissoras, passaram a destacar fatos importantes como a anistia em 1979, a campanha das “Diretas Já”, em 1984, a eleição e morte de Tancredo, em 1985. Nos anos 80 começam a se formar profissionais para a televisão. Vai se consolidando nessa época o padrão Globo de qualidade, que surgiu em meados da década de 70 e provocou uma “estandartização” do jornalismo de televisão em todas as emissoras. As emissoras criaram um padrão herdado do telejornalismo americano. No resto do mundo existiram outros marcos do jornalismo na TV como: a transmissão da Guerra do Vietnã9, a transmissão ao vivo dos debates de Nixon e Kennedy, em 1960, a ida do homem à Lua, as primeiras transmissões por satélite e a Copa de 1970. Todos esses momentos trouxeram mais credibilidade e agilidade à TV no mundo. O assassinato do presidente Kennedy em 1963 marcou a importância da TV de forma especial10.

9 Nesse período a TV ficou conhecida como TV War, porque levava a guerra para dentro das casas das pessoas com as transmissões dos bombardeios e atrocidades da guerra. A Guerra do Golfo, em 1991, ficou conhecida como a TV War II. 10 Como o presidente Kennedy havia conquistado popularidade durante as eleições e depois ao abrir sua vida íntima para os telespectadores, sua morte causou muita emoção. 90% dos americanos souberam do assassinato uma hora depois pela televisão e sentiram como se estivessem perdendo um amigo íntimo.

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5 - HISTÓRIA DA TV NO ESPÍRITO SANTO Em 1958 a TV Tupi foi captada em Guaçuí, Cachoeiro de Itapemirim e outras cidades da região sul do estado graças a um trabalho de um mecânico de automóveis chamado Adelino Jevaux, que conseguiu alcançar o sinal da Tupi por uma antena instalada em um morro e jogou o sinal para a cidade. Mas a produção local só teve início com a implantação da TV Vitória, que foi a primeira estação de televisão no Espírito Santo. Em 1961 o diretor-geral dos Diários Associados João Calmon se candidatou a deputado federal e, como não tinha passado político, prometeu em sua candidatura o lançamento da TV Vitória até o final daquele ano, o que realmente aconteceu. Segundo Edmar Lucas do Amaral iv, jornalista, ex-secretário de Comunicação do Governo Eurico Resende e atual secretário de Comunicação do governo José Ignácio Ferreira, a implantação da TV Vitória deve-se também a uma grande mobilização da sociedade capixaba, uma vez que muitos empresários se tornaram acionistas da emissora. A TV Vitória pertenceu à Rede Diários Associados (de Assis Chateaubriand) desde sua criação até a dissolução do grupo em 1984. A partir desse ano a TV Vitória passou a integrar o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). A televisão só passou a ser uma forma difundida de lazer no estado quando foi instalado em Vitória, no final da década de 60, um sistema repetidor da TV Globo do Rio de Janeiro. Em 1974, a TV Espírito Santo, de propriedade do Governo do Estado, foi implantada transmitindo a cores a participação do Brasil na Copa do Mundo, realizada na Alemanha.

A TV Espírito Santo teve boa fase inicial, enquanto repetia a TV Cultura, de propriedade do Governo do Estado de São Paulo. Mas faltaram recursos para manter no ar um sistema de alto custo. Depois passou a adotar o nome de TV Educativa do Espírito Santo (TVE), iniciando suas atividades a partir de 1976. Pouco tempo depois entrou para o sistema da Rede Brasil, por julgar que a TVE do Rio de Janeiro oferecia uma proposta de participação mais ativa das afiliadas na produção local, e por entender que utilizava uma linguagem mais adequada de emissora geradora. Com a proposta de ser produtora de programação local variada e com ênfase na valorização da cultura e linguagem local, a TVE vai ao ar abrindo espaços para o artista capixaba e todas as manifestações culturais. A 11 de setembro de 1976, as imagens da TV Globo do Rio de Janeiro passam a ser distribuídas no estado pela TV Gazeta. Uma rede repetidora leva essas imagens para alguns pontos do interior. Quase 10 anos depois, em abril de 1985, entra em cena a TV Tribuna, operando com o sinal da TVS (atual SBT) utilizando o formato de televisão da TV Gazeta, herdado da Globo. Esse formato americano de se fazer telejornalismo adotado pela TV Gazeta tornou-se referência para as outras emissoras. Em 1º de janeiro de 1988 nasce a TV Cachoeiro, no município de Cachoeiro do Itapemirim, no sul do Espírito Santo. Com a proposta de aumentar a cobertura jornalística na região, a TV foi ao ar apresentando um telejornal local e enfrentando as dificuldades financeiras comuns aos demais veículos.

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Em 1989 é a vez da TV Capixaba entrar na disputa pela audiência no estado. Retransmitindo a Rede Bandeirantes, a TV Capixaba foi ao ar com o Jornal Capixaba que existe até os dias de hoje. No início, sua atuação era muito voltada para a produção comercial, principalmente para outras emissoras. Com os grandes investimentos da TV Gazeta e a queda na qualidade das produções pela falta de equipamentos mais modernos, a emissora voltou-se para a produção local informativa.

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Em 1995, o atual prefeito de São Mateus, Rui Baromeu, montou na cidade a TV São Mateus, que é um canal comunitário11. Inicialmente ia ao ar com o sinal da TV Cultura, hoje é transmitida com o sinal da TVE. Aproveitando os profissionais da área de rádio, a TV foi ao ar com as dificuldades básicas de toda emissora pequena. Faltavam equipamentos e profissionais qualificados. Por pertencer a um político, a TV São Mateus ficou um bom tempo sem filosofia, já que grande parte de sua programação era para difundir a campanha de Rui Baromeu. Hoje a TV tenta retirar essa imagem e fazer uma programação mais informativa e isenta de interesses políticos, na medida do possível, como afirma Aldeir Rodrigues12, funcionário da emissora, em entrevista. Em 1996 o Grupo Ceolin, que reúne empresários e políticos de uma família tradicional do norte do estado, lança a TV Norte, que no início utilizava o sinal do SBT. A concessão da TV Norte, situada em Linhares, foi adquirida pela TV Gazeta em abril de 1997, depois de ter exibido sinais da Record, depois CNT e SBT – não nos foi possível conseguir em entrevista as ordens corretas da utilização dos sinais das emissoras. Ao adquirir a emissora, a TV Gazeta ficou durante seis meses dirigindo a TV com ela ainda transmitindo o SBT. Em agosto de 1997, no entanto, o sinal virou para a Rede Gazeta. O objetivo principal era abranger o interior do Espírito Santo para que a rede pudesse ter uma cobertura mais completa do estado. Seguindo o mesmo padrão da TV Gazeta, a TV Norte impulsionou o desenvolvimento da região cobrindo 30 municípios. Para isso conta também com um estúdio e repórteres em Colatina, que geram para a emissora matérias locais e de municípios vizinhos. A TV Guarapari nasceu em março de 1998, no município de Guarapari, mas só foi inaugurada oficialmente em 19 de setembro daquele ano. Os proprietários escolheram a data por se tratar do dia da cidade, numa tentativa de que as pessoas encarassem a TV como um presente para o município. Transmitida no canal 9, com sinal da TVE, a TV Guarapari pertence a um político, o ex-deputado Hugo Borges, pai do atual prefeito da cidade Paulo Borges, sócio na emissora do jornalista Ricardo Conde.

5.1. AS EMISSORAS 5.1.1 TV VITÓRIA A TV Vitória, localizada em Vitória, nasceu em 1961 e pertencia à Rede Diários Associados, de propriedade do empresário Assis Chateaubriand. A programação era da TV Tupi. A TV funcionou por 18 anos clandestinamente, já que não existia nem para o Ministério da Comunicação. A situação foi regularizada em 1979 no Governo Figueiredo, quando o ministro das Comunicações Haroldo Corrêa de Matos concedeu o alvará de funcionamento. Não é nosso objetivo neste trabalho aprofundarmos sobre a regularização da emissora, apesar de reconhecermos que tal investigação poderia acrescentar muito à nossa curiosidade científica.

1115 Um canal comunitário é implantado através de uma concessão cultural em que não é permitida a veiculação de comerciais.

1216 Entrevista cedida ao pesquisador em 15 de maio de 1999, na sede da TV São Mateus.

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O deputado federal João Calmonv era o majoritário na emissora, mas usava um “testa de ferro” porque era político, segundo afirmou Edmar Lucas do Amaral, atual secretário de Estado de Comunicação e um dos acionistas da TV Vitória. Ele afirmou ainda que João Calmon sempre teve vontade de fazer uma rede regional de TV e instalar uma em Cachoeiro e outra em Colatina. Isso não foi possível porque não deu para acertar os sinais para essas localidades. Em 1984, João Calmon comprou as ações da TV dos outros dez acionistas e vendeu a TV Vitória para o Grupo Buaiz. Na época a programação da TV Vitória tinha a chancela de José Bonifácio Sobrinho (Boni), que era o Diretor de Criação da Tupi e hoje é um dos diretores da Rede Globo.

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Ao assumir a emissora, o Grupo Buaiz passou a visitar algumas emissoras nacionais de televisão a fim de encontrar uma que se identificasse com a filosofia do grupo e com os planos para a sua emissora. Visitaram a estrutura do SBT, que naquela época ainda era TVS, cujos projetos eram fortemente populares, paulistas e não abriam espaços para a produção local, uma das metas da TV Vitória. Além disso, a TVS não privilegiava o jornalismo nos projetos da época, nem no futuro. Percebendo essas diferenças, o Grupo Buaiz visitou a TV Manchete, que havia sido criada um ano antes e, segundo o diretor superintendente do Grupo, Américo Buaiz Filho13, ficaram fascinados com o projeto da emissora. A TV Manchete nasceu com a proposta de não ser tão popular quanto a TVS e priorizar o jornalismo na televisão, além de abrir e conferir às afiliadas a ocupação da grade com programações regionais. Sendo assim, o casamento foi perfeito. Segundo Edmar Lucas do Amaral, no início as estações de TV no Espírito Santo eram meramentes repetidoras da Globo e TVS. Hoje elas já começaram se colocar à disposição da sociedade. Segundo ele, demoraram algum tempo mas perceberam que o local é mais importante que a globalização e agora estão no caminho certo da televisão no Brasil. “Ao contrário do que se pensava, o futuro da TV no Espírito Santo está na ligação hermética com a sociedade”, afirmou. Em 1992, foi criado o projeto Rede Vitória de Notícias, uma parceria da emissora com o jornais impressos do interior do estado. Os jornais abasteciam a emissora com notícias do interior, que eram passadas por telefone por um repórter do jornal local durante a exibição do telejornal, e em troca a TV divulgava o nome dos jornais nos créditos. Essa parceria durou por dois anos, porque os donos de jornais começaram a pedir dinheiro e a empresa não se dispôs a pagar.

1318 Entrevista cedida ao pesquisador em 17 de junho de 1999, na sede da TV Vitória.

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Em maio de 1994 a jornalista Carminha Corrêa14 assumiu o cargo de gerente de programação local da emissora, ela que vinha da TV Capixaba, onde trabalhou por cinco anos, participou da ampliação da produção local da TV Vitória. Segundo ela, nessa época o jornal da emissora se chamava Jornal do Estado e estava no ar há 15 anos. Era um jornal fraco, com informações pobresse pautando sempre pelos jornais impressos. Carminha Corrêa disse ter remontado a linha editorial do telejornal enfatizando as questões políticas, econômicas e sociais. A partir daí ficou responsável pela regionalização da programação da emissora. Segundo Fernando Machado15, atual diretor executivo da TV Vitória, a maior dificuldade que o Grupo Buaiz encontrou assim que assumiu a emissora foi encontrar talentos no estado para trabalhar na TV. A estrutura tecnológica da empresa era boa, mas faltava pessoal qualificado. Ele acrescenta que a marcar da TV Vitória hoje é a produção local, ocupa 45 horas mensais dentro da programação da rede. “A estrutura do nosso telejornalismo é muito boa. Temos máquina e recursos de ilhas de edição que nos permite não perder tempo nem qualidade”, disse.

1419 Entrevista cedida ao pesquisador em 16 de abril de 1999, em seu escritório. 1520 Entrevista cedida ao pesquisador em 31 de maio de 1999, na sede da TV Vitória.

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Fernando Machado considera a produção de telejornalismo no estado de boa qualidade, mas tem ciência de que para isso é necessário muito investimento e nem sempre o retorno financeiro é compatível com o que se investe. Para ele, a grande diferença dos primeiros programas do início da emissora para os de hoje está na qualidade. A evolução da tecnologia contribuiu para a melhoria da estrutura técnica e hoje a emissora está mais potente e dinâmica. Ele garante que no início era considerado brega fazer produção local, mas a TV Vitória fez com que essa realidade mudasse. Investiram na programação local, por necessidade de preencher as janelas da programação da rede e deu certo. “De seis anos para cá estamos enfatizando a produção regional”, acrescentou. Em 1º de outubro de 1998, a TV Vitória trocou o sinal da Rede Manchete pela Rede Record. Segundo Américo Buaiz Filho, os projetos da Manchete enquanto durou, se identificaram com a filosofia de sua emissora, mas a própria carência pela qual a rede estava passando, obrigaram o grupo a mudar a cabeça de rede. Acreditando no crescimento da TV Vitória e na evolução constante da TV Record, resolveram mudar o sinal para a Rede Record, na qual está operando até hoje. Foram dois anos e meio de negociação para garantir a permanência de todos os programas locais. Hoje a emissora cobre 85% do estado, atingindo cerca de 2 milhões de habitantes, a meta é atingir o índice de 100% de cobertura no Espírito Santo. Fernando Machado garante que com a transferência para a Record, a emissora cresceu em audiência, prestígio e na programação ampla e variada para seus produtos. O Jornal do Estado virou Jornal da TV Vitória, com Jeanne Bilich ancorando depois de ficar 10 anos apresentando o programa de entrevistas Espaço Local, que hoje é apresentado pelo jornalista Claúdio Figueiredo e aborda temas políticos, econômicos, culturais com a participação do telespectador, sendo apresentado de segunda a sexta, das 12h às 12h25. O Jornal da TV Vitória vai ao ar de segunda a sábado, das 19h05 às 19h20 e é o programa de maior credibilidade da emissora e o mais antigo. Para comandar o telejornalismo da emissora, contrataram recentemente o jornalista Giovanni Cézar, ex-repórter da TV Gazeta para assumir o cargo de editor-chefe. A jornalista Carminha Corrêa, que ocupava essa função, hoje comanda seu próprio escritório de Assessoria de Imprensa. Além de garantir os programas que já estavam no ar, a transferência para a Record abriu espaço para a criação de novos produtos. Hoje a emissora exibe os seguintes programas:

• Mundo Country, programa de variedades exibido às segundas-feiras, das 12h30 às 14h e aos domingos, das 10h30 às 11h, apresentado por Mel Kumkamp;

• Negócios de Sucesso, programa de entrevistas exibido de às terças-feiras, das 12h30 às 13h30 e às quartas-feiras, das 21h45 às 22h45, apresentado por Flávia Mendonça e Vladimir Godoy;

• Planeta Vestibular, programa jornalístico exibido às terças-feiras, das 13h30 às 14h e aos domingos, das 10h às 10h30, apresentado por Vanessa Endringer e Flávia Mendonça;

• Vivendo Melhor, programa de variedades exibido às quartas-feiras de 12h30 às 13h e aos sábados de 10h às 10h30, apresentado por Cristal Carvalho;

• Questões a Domicílio, programa de entrevistas exibido às quintas-feiras, das 12h30 às 13h e aos sábados das 10h30 às 11h, apresentado por Tânia Buaiz;

• Beleza e Cia., programa de variedades exibido às sextas-feiras, das 13h às 13h30, apresentado por Nahô Bastos e

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• Wesley Sathler, programa de variedades exibido aos sábados, das 11h às 12h e aos domingos, das 22h30 às 23h30, apresentado por Wesley Sathler.

Segundo Carminha Corrêa, o perfil da TV Vitória hoje está mais informativo, sem sensacionalismo. Em uma avaliação geral, ela definiu o telejornalismo no Espírito Santo em constante crescimento e profissionalização, incluindo a TV Vitória, juntamente com a TV Gazeta, como as emissoras que mais se enquadram nesse crescimento. No final da entrevista, ela adiantou o futuro do jornalismo nas emissoras de TV: “Na minha opinião a tendência para os próximos dois anos é a regionalização nas Tvs fechadas e abertas”.

5.1.2 TV GAZETA A TV Gazeta, pertencente à Rede Gazeta de Comunicação, localizada em Vitória, foi inaugurada em 11 de setembro de 1976, sendo que o primeiro telejornal só foi ao ar um mês depois. Não tinha nome, era uma espécie de Jornal Nacional local. Ele entrava no ar às 20h e tinha a duração de oito minutos. O primeiro apresentador foi Enock Borges, seguido por Tadeu Sessa e Rui Crespo. O telejornal tinha a sua disposição um editor, que era o Pedro Campos e duas equipes de reportagem compostas pelas repórteres Glecy Coutinho e Mariângela Pelerano. No horário da tarde a emissora exibia outro jornal local, correspondente ao Jornal Hoje da TV Globo. O telejornal entrava às 13 horas e também tinha a duração de oito minutos. Começou sendo apresentado por Maria Lúcia Calmon, passando por Jeanne Bilich e Maura Miranda. Segundo Glecy Coutinhovi, a produção desses dois telejornais tinha suas limitações. Não havia câmera externa e por isso não tinha como fazer matérias fora da redação. A alternativa era os apresentadores lerem as notícias dos jornais impresso na televisão. Algum tempo depois a emissora adquiriu uma câmera de filme 16 mm, Bell & Howll, que funcionava sem aúdio. A primeira matéria com a câmara foi a cobertura da inauguração da ponte sobre o Rio Jucu. Como não havia áudio, os repórteres traziam as imagens e gravavam o texto no estúdio . Na época, os telejornais tinham um perfil voltado para a cobertura das atualidades no estado e matérias sobre defesa do consumidor. O acompanhamento de assuntos de economia e política ainda era limitado. Em abril de 1977 chegou a câmara CP (Cinema Production), que era sonora. A primeira reportagem com som foi sobre a eleição do presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Osly Ferreira.

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As principais dificuldades encontradas na condução da emissora foram as limitações técnicas, uma vez que os equipamentos eram muito caros, além da falta de pessoal qualificado para trabalhar (no início não existiam repórteres de TV e apenas um carro de reportagem para as duas equipes. Como os repórteres saíam com duas a quatro pautas para cobrir, algumas às vezes era preciso ser feitas a pé. Um ano e meio depois que a emissora foi ao ar foi criado o Plantão Gazeta, um programa local, com duração de 3 minutos e meio, que fazia um resumo do dia. Era um apresentador e um repórter, que também era editor. O programa ia ao ar às 23 horas. Segundo Joises Ubirajara Pinto16, o “Seu Bira”, responsável pela área técnica da TV, assim como o Plantão Gazeta, alguns programas deixaram de ser exibidos, como o 3ª Edição, que ia ao ar às 23h, de segunda a sexta. Ele começou como o 3ª Edição local, depois passou a se chamar Jornal de Amanhã local, e hoje esse horário é ocupado pela Globo com o Jornal da Globo. Para Glecy Coutinho, que viveu grande parte da história da TV, os programas de hoje são maiores e dispõem de mais recursos que antigamente. Como hoje existem mais repórteres, eles têm mais tempo para se dedicar a notícia, melhorando com isso a qualidade dos jornais. Segundo o atual editor-chefe do telejornalismo, Abdo Chequer17, que entrou na TV em 1979, a emissora ocupa hoje com produção local a maioria dos espaços oferecidos pela Rede Globo, na sua programação. Para Abdo, as dificuldades tecnológicas e a falta de mão-de-obra especializada para atuar na área e corresponder ao estilo proposto pela Globo foram os principais obstáculos transpostos. Além disso, o alto custo dos investimentos impediam a criação de novos programas.

1622 Entrevista cedida ao pesquisador em 12 de maio de 1999, na sede da TV Gazeta. 1723 Entrevista cedida ao pesquisador em 28 de abril de 1999, na sede da TV Gazeta.

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Plínio Marchini18, assumiu acumulando inicialmente dois cargos: o de diretor comercial e de telejornalismo, que era diretor comercial do Jornal A Tribuna. Ao perceber a necessidade de um conhecimento específico para atuar na área de jornalismo televisivo, do qual ele não tinha nenhuma experiência, trouxe do Globo Repórter o produtor Wladimir Godoy, que veio a ser editor da televisão. Para Carlos Lindenberg Filho19, diretor-geral da Rede Gazeta, as redes de televisão são modelos consolidados, cabendo às afiliadas usar o espaço que lhes resta na programação das redes. Por isso, não tem mais produção local na TV Gazeta, além do alto custo de investimento para a criar e manter um programa no ar. Segundo ele, o retorno não é financeiro: “Há uma resposta de audiência que demonstra o interesse e a satisfação do telespectador. Aumentar a programação e satisfazer ainda mais o telespectador seria extremamente simpático para a empresa. Mas hoje , por exemplo, não há mais espaço na grade da rede para criação de novo programa jornalístico”. Essa imposição da rede nas janelas a serem preenchidas e a limitação de horários optativos disponíveis para as afiliadas, faz com que bons programas não tenham boa audiência por causa do horário em que é exibido. O Painel de Domingo, criado em 10 de janeiro de 1999, é um programa de entrevistas que traz o resumo da semana que se passou e antecipa os fatos para a semana que se inicia, exibido aos domingos, na TV Gazeta, à meia-noite, quando a maioria da população capixaba já está dormindo.

1824 Entrevista cedida ao pesquisador em 24 de maio de 1999, na sede da TV Gazeta. 1925 Entrevista cedida ao pesquisador em 19 de maio de 1999, na sede da TV Gazeta.

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A TV Gazeta exibe hoje os seguintes programas:• Bom Dia ES, de segunda a sexta, às 6h45, apresentado por Marisa

Sampaio e Abdo Cheque;• Jogo Aberto, de segunda a sexta, às 12h, apresentado por Edu Henning;• Espírito Santo Notícias 1ª Edição, de segunda a sábado, às 12h30,

apresentado atualmente por Sandra Freitas; • Globo Esporte Local, de segunda a sábado, às 13h, apresentado por

Jorge Buery; • Espírito Santo Notícias 2ª Edição, de segunda a sábado, às 19h,

apresentado por Ted Conti; • Jornal do Campo, exibido aos domingos, às 6h45, apresentado por

Cláudia Gregório; • Gazeta Comunidade, exibido aos domingos, às 7h15, apresentado por

Rose Duarte e • Painel de Domingo, exibido aos domingos, às 0h, apresentado por Carlos

Tourinho e Daniela Abreu. Além disso, a emissora exibe também o Notícia Agora, que vai ao ar, de segunda a sábado, com pequenos flashes transmitindo as notícias de última hora. Pela manhã é apresentado pela apresentadora do 1ª Edição e durante e a tarde e a noite, pelo apresentador do 2ª Edição.

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5.1.3 TV EDUCATIVA DO ESPÍRITO SANTO O governo Christiano Dias Lopes ( de janeiro de 67 a janeiro de 71) foi marcado por resoluções administrativas, como a criação da Fundação Cultural do Espírito Santo, uma entidade responsável por toda a atividade cultural do estado. Dentro da Fundação foi criado um setor de rádio, cinema e televisão. No governo Arthur Carlos Gerhard dos Santos ( de janeiro de 1971 a janeiro de 1975) um convênio com a Telest colocou um transmissor de TV onde estava a área de transmissores e começou a funcionar a TV, que na época era a TV Cultura. Em 1976, foi criada a TV Educativa do Espírito Santo (TVE). O início foi marcado por falta de equipamentos e mão de obra especializada, mas segundo o ex-diretor da emissora Adam Emil20, a garra e a coragem dos funcionários colocaram os primeiros programas locais no ar em preto e branco. São eles: o talk show Conversa de Fim de Noite, o telejornal Informe Dois e o programa Espírito Santo em Debate, que movimentou o meio artístico, cultural e político do estado. Na década de 80, com a chegada dos primeiros equipamentos profissionais em cores, a emissora começa a buscar o caminho da profissionalização. Nessa época foi criado o Periquito Maracanã, um programa infantil e educacional mostrando a realidade local e abrindo espaços para a regionalização. O programa Comunidade em Debate enfocava os problemas e as soluções dos bairros da Grande Vitória. A emissora também marcou época pela produção de documentários como o Segredo do Velho Ferreiro, em 1982 e Paneleiras de Barro. O programa Raça Negra foi um dos formatos do Debate em Estúdio, também apresentado na emissora. A série Telecontos Capixabas, criada em 1985 foi o primeiro programa no estado a trazer a teledramaturgia para a TV no Espírito Santo.

2026 Apud Caetano B. – A beleza de ser um eterno aprendiz, 1995.

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Em 1985 as imagens da TV Educativa começam a chegar em quase todo o estado. Nesse momento a produção local se diversifica e surgem programas semanais específicos como A Voz do Campo, programa direcionado ao público do meio rural e o Terra Capixaba, primeiro programa turístico a trazer as imagens das belezas capixabas com um registro histórico da nossa cultura. Nessa época foi criado também o Beco e seus Violeiros que depois passou a ser Viola Sertaneja , programa musical com a participação de cantores e músicos capixabas. A emissora exibia também o Programa da Tarde de caráter educacional e de prestação de serviços com a participação do público por cartas e telefonemas ao vivo. O final da década de 80 foi o período mais fértil da TVE, que chegou a colocar mais 15 programas locais no ar, sendo 11 educacionais e culturais, dois telejornais e um jornal esportivo. Segundo Cristina Valadão21, ex-diretora de produção no período de 1987 a 1989, chegou a um ponto de ter a manhã inteira de programação local. Vários outros programas foram criados e alguns permanecem até hoje, como o Espaço Dois, um programa de agenda cultural, que vai ao ar às quintas-feiras, às 21h30, com reprise aos sábados, às 12h30, com apresentação de Janete Braga, duração de 30 minutos e edição de Fátima Côgo. O telejornalismo sempre foi uma constante na programação da emissora, em algumas administrações mais e outras menos, atrelados às realizações do governo do estado. O departamento de telejornalismo passou a dar um novo enfoque a notícia. Foram dois jornais diários, TVE Notícias e Grande Vitória Agora, e vários boletins durante a programação. A partir de 1990 o telejornalismo passou a ter apenas uma edição. Em 1995, o jornal da TVE foi tirado do ar, e em 1996 voltou em duas edições. Em 1990, o departamento de produção foi extinto juntamente com as produções culturais da TV e a emissora passou a funcionar com um perfil especificamente jornalístico. Os telejornais da época eram: Jornal da Manhã, que depois foi substituído pelo O Povo na TV e o programa Revista. Em 1995, foram criados ainda os programas Memória Capixaba e Curta Vídeo.

2127 Apud Caetano B. – A beleza de ser um eterno aprendiz, 1995.

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Hoje a TVE exibe a seguinte programação local: • Missa do Convento da Penha, transmitida ao vivo, a partir das 8h;• Estúdio, programa de entrevistas diário, exibido de segunda a sexta, às

11h30, em dois blocos, apresentado por Telmo Scarpini; • Show da Cidade – Linha Aberta, programa de debate, apresentado por

Gilda Soares, com 1h de duração, exibido às sextas-feiras, a partir das 14h30;

• Opinião, programa de debate e entrevistas, exibido de segunda a sexta, às 15h30, apresentado por Namy Checker,

• TVE Esporte, programa de esporte, exibido às segundas-feiras, às 21h30, com reprise na terça-feira, às 15h;

• Curta Vídeo, programa de apresentação de vídeos e curtas culturais, exibido às quartas-feiras, às 21h30, com apresentação de Magda Carvalho, reprisado aos sábados, às 15h;

• Espaço Dois, agenda cultural exibido às quintas-feiras, às 21h30, com apresentação de Janete Braga, reprisado aos sábados, às 12h30;

• De Conversa em Conversa, programa de entrevista com temas culturais sobre música, teatro e dança, exibido às sextas-feiras, às 21h30, apresentado por Carlos Alberto Tuna e reprisado aos sábados, às 11h30.

Para Tinoco dos Anjos22, diretor-presidente da RTV/ES, a TVE teve um papel importante de preservar o espaço para experiências, graças a liberdade de criação que a emissora possui. “A TVE pode ser um instrumento para que as pessoas novas na área de comunicação possam apresentar novas idéias e projetos, trazendo experiências que estão fora do padrão televisivo”.

2228 Apud Caetano B. – A beleza de ser um eterno aprendiz, 1995.

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5.1.4 TV TRIBUNA A TV Tribuna, localizada em Vitória, vai ao ar em 1985, operando com o sinal do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). A Rede Tribuna, que possui ainda jornal e rádio, pertence ao Grupo João Santos, que controla a emissora a distância, já que o grupo também possui negócios em Fortaleza, o que consome grande parte do tempo dos proprietários. A TV foi lançada exibindo o telejornal Tribuna Notícias. Em abril desse mesmo ano, a emissora lançou o programa jornalístico Registro Local, que parecia um rádio na TV. O programa tinha um apresentador, que contava em cinco minutos o que estava acontecendo na cidade naquele momento. Eram seis inserções diárias de segunda a sexta, utilizando notas peladas. O Tribuna Notícias, com 25 minutos de duração distribuídos em três blocos, com dois apresentadores e duas equipes de reportagem, uma pela manhã e outra pela tarde. O perfil do programa é ser uma janela da cidade, privilegiando o factual de qualquer natureza econômica, cultural e policial. Segundo Eustáquio Palharesvii, atual diretor de telejornalismo da emissora, o cotidiano político não era coberto por entender que não interessava a audiência. Para Eustáquio Palhares, o Tribuna Notícias é uma experiência revolucionária bem sucedida, já que ele acredita, ter introduzido com a criação do programa os conceitos clássicos do apresentador chamando os VTs. O jornal era pensado pelo editor, articulado com cada repórter chamando sua própria matéria, ou seja, da própria rua o repórter fazia a manchete, a escalada, a cabeça e toda a produção da matéria. Ás vezes, ao invés de fazer um off, o repórter voltava ao estúdio e gravava uma cabeça de entrada ou de encerramento para a matéria. Esse modelo durou por três anos. A direção da empresa entendeu que esse estilo de apresentação era extravagante e resolveu utilizar o modelo tradicional, que persiste até hoje, com um apresentador no estúdio chamando os VTs. O perfil do telejornal é voltado essencialmente para o que se entende que afeta de perto a vida das pessoas.

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Em agosto de 1985 foi ao ar o Cidade Aberta, um programa estilo revista, com temas variados que aproveitava a produção das matérias que eram veiculadas no Tribuna Notícias e repercutia o assunto por meio de entrevistas no estúdio. Era exibido às 1h30, de segunda a sexta, com quatro a cinco apresentadores que se revezavam nos temas abordados. Os novos programas foram surgindo da necessidade de atender às exigências do telespectador. Em setembro de 1985, foi criado o Tribuna Livre, um programa de debate exibido às 22h, com duas horas de duração, comandado por um apresentador/moderador, que recebia quatro entrevistados no estúdio. Com um perfil de debates sobre questões polêmicas na área de saúde, política e defesa do consumidor, o Tribuna Livre tinha uma audiência enorme e um belo cenário, conforme nos detalhou Eustáquio Palhares. Ele disse ainda que o programa saiu do ar três anos depois porque não houve suporte comercial, ou melhor, porque a visão empresarial entendeu que o programa não era rentável, mas segundo ele, o setor responsável nem tentava vender por não haver uma política comercial mais agressiva na emissora. As dificuldades da implantação da emissora não foram tão grandes. Não havia limitações tecnológicas, o problema maior foi que a emissora se equivocou na compra de equipamentos, e tiveram que se adaptar aos equipamentos inadequados. A TV Tribuna no início ia ao ar das 7h às 2h da manhã, com 3h de produção local. Hoje a emissora tem apenas 1h40 de programação produzida pelos profissionais da TV. De 1986 a 1988, a emissora exibiu o programa Evidências, um programa de entrevistas que entrava diariamente, às 12h30, com duração de 15 minutos e reprisava às 1h30 da manhã fechando a programação da TV. O programa tinha apenas um apresentador e era gravado só em estúdio. Em 1º de julho de 1989 foi lançado o 9 Minutos, um programa de entrevistas, apresentado pelo próprio Eustáquio Palhares, que é exibido até hoje. O programa é simples, sendo que o apresentador acumula a função de produtor do programa, devido as dificuldades financeiras da emissora.

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O programa Brasília na Tribuna, apresentado por Iluska Coutinho, foi exibido no período de 1996 a 1998. Uma equipe com um repórter e um cinegrafista cobria a bancada capixaba em Brasília e gerava para a emissora, em Vitória. O programa entrava ao ar às 19h55 , tinha duração de cinco minutos e era reprisado às 12h35. A emissora também é proprietária do jornal A Tribuna e esse é o produto principal da empresa, portanto o enfoque maior de investimentos é no jornal. A televisão fica em segundo plano, sobrevivendo por si só e por estar ancorada no SBT. Dos primeiros programas em relação aos atuais a emissora caiu em qualidade, e atribui a isso a perda de condições operacionais devido a não renovação dos equipamentos. Essa precariedade de equipamentos restringe a cobertura, necessitando até dispensar algumas pautas por falta de equipe. No início a empresa utilizava o sistema BCN-Bosch, que eram máquinas inadequadas. Dois anos depois conseguiram trabalhar com U-Matic e hoje, já pode captar em WI-8 e editar em Beta Cam.

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5.1.5 TV CACHOEIRO A TV Cachoeiro, localizada em Cachoeiro do Itapemirim, na região sul do estado, foi ao ar em 1988, enfrentando todas as dificuldades financeiras e operacionais que as pequenas emissoras enfrentam ao serem implantadas. Ela pertence aos empresários Idalércio Carone que é sócio de Carlos Lindenberg Filho, diretor-presidente da Rede Gazeta. Os primeiros repórteres contratados na época foram Roberto Martins, Jorge Fiorin, Heliene Del Esposti. O primeiro editor-chefe foi Agnelo Neto e os primeiros apresentadores foram Ana Cristina e Anselmo Stanzani. A emissora utiliza o sinal da Rede Globo, assim como a TV Gazeta, porque tem a concessão de retransmissora. Mas ela transmite parte da programação local da TV Gazeta, inserindo alguns programas produzidos pela própria TV Cachoeiro. Em média a emissora tem 25 minutos de produção local diariamente. Os primeiros programas a serem exibidos foram o Espírito Santo Notícias 1ª, 2ª e 3ª Edições, Bom Dia Sul e Globo Esporte Local. Hoje, a emissora só exibe o Bom Dia Sul, que vai ao ar pela manhã em um bloco único com sete minutos de duração e traz entrevistas de estúdio sobre assuntos diversos de interesse da população do sul do estado e o Espírito Santo Notícias 1ª e 2ª Edição, que têm como objetivo divulgar fatos jornalísticos do dia-a-dia na região sul, acontecimentos sociais, políticos, esportivos e comunitários, além de valorizar peculiaridades locais. São dois blocos cada um, com tempo médio de oito a dez minutos de produção local, no início era apenas um bloco de três minutos. O departamento de telejornalismo da emissora é formado por um editor-chefe, dois apresentadores, que são editores de texto, dois editores de imagem e duas equipes de externa, cada uma com repórter, cinegrafista e assistente/motorista O 3ª Edição parou de ser exibido também na TV Cachoeiro, pelo mesmo motivo pelo qual a TV Gazeta parou de exibi-lo: a Rede Globo passou a transmitir o Jornal da Globo nesse horário. Todos os programas são produzidos, editados e apresentados por profissionais locais.

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Não conseguimos obter informações mais detalhadas sobre a programação da emissora devido à dificuldade de contato com os responsáveis pelo telejornalismo. Enviamos um questionário para a TV, aos cuidados de Ailton Weller, chefe de jornalismo, que foi respondido pelo repórter Paulo Henrique.

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5.1.6 TV CAPIXABA Em 10 de outubro de 1989 a TV Capixaba, localizada em Vitória, foi inaugurada. Dois anos antes de entrar no ar, o empresário Rui Baromeu conseguiu a concessão para um canal em Vila Velha. Chamou dois sócios do ramo da construção civil, Walter de Sá Cavalcante e Salomão Carasso, e começaram a trabalhar para permitir que o sinal saísse de Vitória para Vila Velha. A TV Capixaba foi montada na sua atual sede em Goiabeiras. De acordo com o jornalista Edu Henningviii, diretor de produção e de programação da TV por quase cinco anos e atual apresentador do programa Jogo Aberto, na TV Gazeta, o primeiro produto a ir ao ar foi o Jornal Capixaba, que existe até hoje. O jornal contava em sua estrutura com dois apresentadores, um produtor, um editor e três equipes de reportagem. O primeiro editor-chefe da TV foi Joaquim Nery. Com a sua saída, Carminha Corrêa assume o cargo. De acordo com Edu Henning, no início a emissora se voltou muito para a produção comercial, fortalecendo assim a entrada de capital (50% do faturamento da TV era de produções feitas para outras emissoras). Com o tempo, a produção comercial foi perdendo o padrão de qualidade, visto que pararam os investimentos, os equipamentos foram ficando obsoletos e a TV Gazeta começou a investir fortemente nesse setor. Assim, a TV Capixaba tentou compensar investindo na programação local. Em 1991 a emissora começa a passar por um processo de regionalização dos programas. Segundo Carminha Corrêa, responsável pelo telejornalismo na época, tentou ser feita uma programação jornalística voltada para a informação, descartando o sensacionalismo e a espetacularização da notícia. “A TV no Espírito Santo cresceu muito em qualidade. As TVs regionais estão conseguindo mudar um pouco a péssima qualidade da televisão no Brasil.

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Aos poucos os programas locais foram surgindo conforme as necessidades de empresa. O perfil da TV na época era mais de esporte do que hoje é. A questão financeira pesava muito, como em toda emissora que está começando. O custo dos programas eram muito altos. Outro fator apontado para adquirir a qualidade necessária é poder estabelecer uma reciclagem de funcionários e equipamentos de dois em dois anos. Um das dificuldades pelas quais a emissora passou foram as questões políticas. Segundo Edu Henning, as emissoras menores ficam mais atreladas em acordos empresariais e políticos, e acabam tendo que se submeter a essas questões. “Um outro problema é perder a filosofia do jornalismo. Tem que ter dinheiro, é claro, mas não se pode esquecer de manter o jornalismo mais isento possível”. A programação local no começo era muito pequena, cerca de uma hora por dia. Hoje a grade já conta com seis programas locais, como:

• Repórter 10, programa jornalístico, apresentado por Nety Façanha, de segunda a sexta, às 7h30;

• Esporte Capixaba, programa de esporte, apresentado por Ferreira Neto e Flávio Simões, de segunda a sábado, às 12h30;

• Na Mira do Repórter, programa de reportagens policiais, apresentado por Jorge Fiorin, de segunda a sexta, às 13h;

• Seus Direitos – Defesa do Consumidor, programa de debates, apresentado pelo advogado Alexandre Rossoni, de Segunda a Sexta, às 13h35;

• Canal 10, programa jornalístico, apresentado por Guilherme Klauss, de Segunda a Sexta, às 14h20 e

• Jornal Capixaba, telejornal apresentado por Adriano Beraldi, de segunda a sábado, às 19h.

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Para o jornalista Edu Henning, no começo, a emissora primava mais pela qualidade, já que tinha menos produtos no ar, permitindo que pudesse trabalhar melhor o conteúdo de cada um. Além disso, tudo era discutido em equipe, desde o conteúdo dos programas a posicionamento de luz, câmera, funcionamento dos equipamentos e trabalho das equipes e dos apresentadores. “Isso é típico do começo romântico , quando ainda não tem a visão mercantilista, não tem o desespero pela questão empresarial e pelo dinheiro”. A TV Capixaba foi a primeira emissora a trabalhar com o sistema NTSC, um sistema americano que transcodificava o sinal para o telespectador na sua casa. Hoje as emissoras já trabalham com isso. Segundo Edu Henning, o sistema brasileiro é PAL-M, mas a qualidade do NTSC era maior. No Japão e nos EUA eles utilizam o NSTC, naturalmente existem mais equipamentos com esse sistema. Hoje os televisores já vem com os dois sistemas embutidos, podendo transcodificar os sinais de transmissão na mesma hora. No início utilizavam as câmeras U-Matic, passando logo para o sistema digital. No início a emissora teve muito trabalho para fazer a transcodificação do sinal. Havia uma equipamento dos EUA que era um transcoder, mas nunca saía bem feito, conforme afirmou o jornalista Edu Henning. Ele recordou um episódio na montagem do primeiro comercial da TV sobre o Sal Globo. Havia uma sequência que o alface aparecia azul anil, pois não foi possível transcodificar o sinal para chegar ao telespectador com a cor certa. Depois de muito tentar e reclamar com a Sony nos EUA, José Luis Peixoto, que era diretor técnico na época, pegou um transcoder de vídeo game do filho dele, daqueles bem caseiro que se compra em qualquer loja por 70 reais, e colocou no lugar do outro que custava cinco mil dólares. O sinal funcionou maravilhosamente bem, sem nenhum problema. Isso demonstra a falta de tecnologia nas emissoras, o que impede uma boa qualidade de seus produtos, dentre eles o telejornalismo. Em 1994, Carminha Corrêa saiu da TV Capixaba. A emissora tornou-se mais popular, conquistando um boa audiência nas classes mais baixas. Segundo ela, essa tendência complica um pouco na hora de conseguir patrocínio, já que geralmente a programação para essa classe é mais sensacionalista, e nenhum patrocinador quer associar seu produto à desgraça e tragédia. Nesse período, assumiram a TV Capixaba como editor-chefe o jornalista Tião Barbosa, atual editor de polícia do jornal A Gazeta, e Silvana Lemos, que hoje atua na área de assessoria de imprensa. Atualmente a emissora está sob a responsabilidade de Marco Antônio Antolini, com o cargo de editor-chefe. De acordo com a jornalista Silvana Lemos23, que ficou responsável pela TV de 1997 a 1999, a emissora começou a ser lembrada e ganhar credibilidade com a implantação do programa Na Mira do Repórter, que por ser um programa de cobertura policial contava com uma equipe de plantão à noite, horário que mais ocorrem os crimes. Como nenhuma emissora dispunha de uma equipe de noite na redação, a TV Capixaba começou a sair na frente dando vários furos em várias coberturas. “Geralmente a nossa equipe chegava primeiro nos lugares para cobrir algum fato”, disse. Aproveitando a grande audiência desse programa, a emissora tratou logo de criar outro programa logo após o Na Mira do Repórter, com o nome Canal 10 e é exibido até hoje. O programa começou com meia hora e depois subiu para 45 minutos de duração. A audiência foi crescendo cada vez mais e a emissora foi aperfeiçoando a sua tendência de utilizar a interatividade na sua programação.

2331 Entrevista cedida ao pesquisador em 30 de abril de 1999, na residência da entrevistada.

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O programa Dia a Dia Capixaba, também surgiu nessa época e foi criado por Silvana Lemos. Era um programa de entrevista abordando temas como política e economia, exibido de Segunda a Sexta, das 7h30 às 8h. A estrutura do programa contava com um apresentador e um produtor. Hoje esse horário da programação é ocupado pelo programa Repórter 10.

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5.1.7 TV SÃO MATEUS Inaugurada em 30 de junho de 1995, a TV São Mateus entrou no ar utilizando o sinal da TV Cultura, com o Jornal SM Notícias. O telejornal entrava às 19 horas e tinha a duração de 20 a 30 minutos. A estrutura é formada pelo apresentador Aldeir Rodrigues, que comanda o jornal até os dias de hoje, e uma equipe de reportagem. Localizada no município de São Mateus, no norte do estado, a TV ganhou logo um apelido dos moradores da cidade. Segundo Aldeir Rodrigues ix devido à falta de estrutura e equipamentos a TV ficou conhecida como “TV Calango”, porque como não havia teleprompter, o apresentador precisava ler as laudas impressas que estavam sobre a bancada, por isso ficava levantando e abaixando a cabeça, imitando os movimentos de um calango. O teleprompter chegou quase dois meses depois da inauguração da emissora, mas era um aparelho bem caseiro que funcionava com uma manivela. Mas esse não é o único fato que deu margens a comentários na TV São Mateus. No dia da inauguração do telejornal, o cenário era um pano azul de fundo, que quando batia o vento do ar-condicionado tremia o cenário inteiro, deixando os telespectadores curiosos. A TV São Mateus aproveitou grande parte dos profissionais do rádio para a televisão, já que não havia na cidade pessoas qualificadas na área de telejornalismo. Dois meses depois de sua inauguração a emissora lançou mais dois programas: Mulher e Cia, apresentado por Ivana de Paiva, que era secretária municipal de Turismo. Era um programa de entrevistas em estúdio, com duração de 1 hora, exibido aos sábados, às 15h. O Sala de Visita também foi criado depois e era um programa informal de entrevistas, apresentado por Rui Monte, com duração de 15 minutos.

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Três meses depois de inaugurada, lançaram a o SM Notícias Primeira Edição, com exibição às 13h e duração de 20 a 30 minutos. O jornal ainda é apresentado por Priscila Zorzanelle. Com o primeira edição eles passaram a contar com mais uma equipe de reportagem, totalizando uma para a manhã e outra para a tarde. O telejornal começou com um perfil mais direcionado para temas políticos com caráter comunitário, até porque o dono da emissora é o atual prefeito de São Mateus, Rui Baromeu. Hoje o jornal aborda mais temas sociais, saúde, educação, comunidade, entre outros. O programa Alô Comunidade, lançado cinco meses depois da inauguração, entrava com flashes direto das ruas, mostrando os problemas da comunidade. Eram em média de duas a três inserções diárias com cerca de três a cinco minutos. Em 1996, a TV passou a exibir programas de entretenimento como o Show da Cidade, apresentado por Getúlio Ubiratan que mostrava as ocorrências policiais. Em 1997, foi lançado o Você é o Show, que era um programa de calouros, ao vivo, que depois de seis meses passou a ser Sábado Total, em uma parceria com o locutor da rádio AM, João Batista. A emissora tem acervo de imagens desde a sua implantação, mas isso só passou a ser organizado em 1997. A TV ocupa hoje cerca de 2 horas e meia de produção local, agora transmitida com sinal da TVE–Brasil. Segundo Madalena Nardoto24, diretora-geral da emissora, a TVE dá mais liberdade e espaços para a criação de novos programas, o que impede são os altos custos de investimentos. A diferença dos primeiros programas para os atuais se percebe logo na estrutura e no conteúdo das notícias. Segundo Aldeir Rodrigues, a programação da emissora começou atendendo à campanha do prefeito Rui Baromeu. Hoje já existe uma preocupação em atuar mais nas áreas de cultura, local, artes, culinária. A área de economia é pouco explorada pela dificuldade de fontes diversas na região.

2433 Entrevista cedida ao pesquisador em 15 de maio de 1999, na sede da TV São Mateus. i. Apud Temer (1997), GODOY, A S. Introdução à pesquisa qualitativa – Revista de Administração de Empresas, v.35, nº2 e 3, 1995. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas.

ii3 Apud Temer, 1997 - BOM MEIHY, José Carlos S. Manual de História Oral. São Paulo: Loyola, 1996, p. 10.4 Apud Temer, 1997 - As informações contidas neste parágrafo foram retiradas do livro Manual de História Oral (BOM MEIHY, José Carlos S. São Paulo: Loyola, 1996, p. 13 e 23).5 Apud Temer, 1997 - BOM MEIHY, José Carlos S. Manual de História Oral: São Paulo: Loyola, 1996, p. 41.

iii11 A fase elitista de 1950 a 1964 foi definida por Mattos,1990. A fase populista de 1964 a 1975 é definida por Capareli, 1982.

iv14 Entrevista cedida ao pesquisador em 14 de junho de 1999, no Gabinete da Sec. de Comunicação. v. João Calmon teve um enorme significado para a implantação da televisão no Espírito Santo e no Brasil. Era diretor geral do Diários Associados e considerado o homem de confiança de Assis Chateaubriand. Graças a ele Vitória foi a quinta capital brasileira a ter uma estação de TV, depois de Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Nascido no distrito de Baunilha, em Colatina, no norte do estado, João Calmon foi deputado federal e senador por 24 anos. Com uma campanha voltada para a educação, Calmon foi muito importante para o estado porque sempre brigou pelas causas do Espírito Santo. Além de grande jornalista, tendo implantado o Diários Associados no norte e nordeste do país, João Calmon também era advogado, falava fluentemente francês, inglês e espanhol. Faleceu em 11 de janeiro de 1999.

vi21 Entrevista cedida ao pesquisador em 12 de maio de 1999, na sede da TV Gazeta. vii29 Entrevista cedida ao pesquisador em 11 de maio de 1999, na sede da TV Tribuna. viii30 Entrevista cedida ao pesquisador em 12 de maio de 1999, na sede da TV Gazeta. ix32 Entrevista cedida ao pesquisador em 15 de maio de 1999, na sede da TV São Mateus.

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Os equipamentos do início da emissora continuam os mesmos: câmeras Super-VHS. Mas o jornalismo, na opinião de Madalena Nardoto e Aldeir Rodrigues está mais amadurecido com uma qualidade maior adquirida com a prática.

5.1.8 TV NORTE A TV Norte, localizada em Linhares, no norte do estado, mudou de proprietário por três vezes até pertencer à Rede Gazeta de Comunicações. Em 1996 ela foi ao ar utilizando o sinal do SBT, comandada por um importante grupo de políticos e empresários do interior do estado, Grupo Ceolin. Antes ela retransmitiu a TV Record, depois passou para o canal CNT e depois passou a retransmitida o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). No início trabalhava com o sistema Super-VHS, utilizando equipamentos da marca JVC e só exibia um telejornal. O engenheiro José Luís Peixoto, que montou a estrutura técnica da TV Capixaba, estava montando a da TV Norte até morrer em um acidente de carro, e Marco Aurélio, funcionário que trabalha na TV até os dias atuais, deu continuação às instalações. Em abril de 1997 a Rede Gazeta comprou a concessão e ficou operando por seis meses, ainda com o SBT, sob o comando de Vitor Alen, que era editor-chefe. Em agosto desse mesmo ano o sinal fou mudado para o da Rede Globo. Em fevereiro de 1998 a jornalista Patrícia Moséx, ex-repórter da TV Gazeta, assumiu a TV Norte com o cargo de editora-chefe e montou sua equipe para comandar os telejornais da emissora: Espírito Santo Notícias 1ª Edição (ESTV1) e o Espírito Santo Notícias 2ª Edição (ESTV2). A programação começou com a exibição de um bloco no ESTV1, quer dizer, a TV Gazeta transmitia para todo os Estado os dois primeiros blocos do Espírito Santos Notícias, e no último bloco a TV Norte entrava, transmitindo para toda sua região de cobertura, as notícias locais da região norte. Depois esse espaço foi se ampliando. A TV Norte passou a entrar com dois blocos (sete minutos) no ESTV1 e dois blocos (sete minutos) no ESTV2. Esses telejornais têm uma equipe formada de um apresentador , sendo que quem apresenta também é edita o jornal, um pauteiro e três equipes de reportagem, duas em Linhares e uma em Colatina, onde tem um estúdio e repórter da TV Norte, para produzir e gerar notícias da cidade e regiões vizinhas. Os apresentadores desses telejornais são: ESTV1 – Elaine Castro e ESTV2 – Janine Jordain. Os telejornais seguem o mesmo padrão da TV Gazeta. O ESTV1 tem a característica de dar mais matérias de bairros, saúde, educação, cultura, comportamento. Já o ESTV2 é um jornal mais pesado com matérias de economia, política e geral. Em abril de 1999 estreou o primeiro programa todo feito na TV Norte, o Norte Comunidade, que segue os padrões do Gazeta Comunidade, da TV Gazeta. Ele é apresentado por Patrícia Mosé, que também edita o programa, vai ao ar aos domingos, às 7h, com duração de 20 minutos distribuídos em reportagens nos bairros e entrevistas no estúdio. A emissora guarda algumas matérias desde fevereiro de 1998, mas segundo Patrícia Mosé, ainda não foi possível fazer um arquivo específica com esse

x34 Entrevista cedida ao pesquisador em 15 de maio de 1999, na sede da TV Norte.

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material. Eles geralmente arquivam imagens brutas de matérias importantes e imagens interessantes como sobrevôos. A produção local da emissora procura atender os espaços cedidos pela Globo, que tem uma grade mínima de programação local. A TV Norte já atendeu ao 1ª e 2ª edição e o Norte Comunidade. Ao todo são 34 minutos de produção de telejornal local, sendo 14 minutos diários e 20 minutos aos domingos. A meta é colocar no ar também um Bom Dia Espírito Santo local . Recentemente a emissora começou a apresentar o Notícia Agora, exibido pela TV Gazeta. O cenário é montado dentro da própria redação e o repórter, pauteiro ou editor que estiver próximo na hora em que a notícia chega, escreve o texto e apresenta. O programa tem três inserções durante a tarde. A TV Norte trabalha com profissionais formados em comunicação social. As duas apresentadoras já começaram suas carreiras apresentando e editando o jornal. Não tiveram experiência de rua. No início a emissora trabalhava só com Super-VHS, hoje a metade é Super- VHS e a outra é digital. São três câmeras digitas, duas em Linhares e uma em Colatina. A tendência, segundo Patrícia, e passar a ser tudo digital, sem passar pelo sistema Beta Cam, como grande parte das emissoras faz.

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O perfil dos programas é o mesmo desde a criação da emissora, mas a qualidade vem melhorando gradualmente. Antes quando mudava os blocos da TV Gazeta para o da TV Norte, dava uma diferença em qualidade de imagem, som, cenário, tudo. As matérias tinham cerca de três minutos, eram dois VTs, um no primeiro bloco e um no segundo. Não havia nota coberta. Hoje eles já dispõem até do resumo do dia e a qualidade está mais próxima do primeira e segunda edição da TV Gazeta. Quando a emissora foi comprada pela Rede Gazeta funcionava junto com a Rádio Cultura. A Rede Gazeta alugou o local onde estava funcionando a televisão e, em um ano, construiu uma sede nova, entregue em agosto de 1998. A TV Norte deu um grande impulso à economia da região. Hoje os pequenos comerciantes conseguem anunciar seus produtos a preços menores e com retorno mais rápido. Só com a TV Gazeta isso era mais difícil, porque era caro e desvantajoso para o pequeno comerciante anunciar seu pequeno comércio que só vende em Linhares, no jornal que passa no Estado inteiro. O custo de um comercial na TV Gazeta varia de R$ 664,00 (15 segundos) a R$ 1.772,00 (60 segundos), enquanto que na TV Norte o mesmo comercial custaria R$ 208,00 (15 segundos) e R$ 556,00 (60 segundos). A área de cobertura da TV Norte compreende 30 municípios. São quatro carros de reportagem divididos em Linhares e Colatina. As transmissões ao vivo fora da redação funcionam através de um sistema de micro ondas.

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5.1.9 TV GUARAPARI A TV Guarapari, localizada no balneário de Guarapari, funciona desde março de 1998, mas só foi inaugurada em 19 de setembro, data do aniversário da cidade de Guarapari. Pertencente ao político Hugo Borges e ao jornalista Ricardo Conte, a emissora foi ao ar no Canal 9 através da TVE, representando um negócio de US$ 300 mil de investimento. Segundo o gerente de produção da emissora, Paulo Borges Filhoxi, filho do atual prefeito de Guarapari, a TV Guarapari utiliza 7h45 na semana e 7h nos finais de semana, com programação local. Existe projetos no papel de ampliação desses espaços, mas atualmente a emissora só exibe quatro programas, além da Missa no Lar, ao vivo, direto da Igreja Matriz de Guarapari, aos domingos, às 7h30. O primeiro programa a estrear foi o Guarapari em Foco, uma revista matinal que vai ao ar de segunda a sábado, ao vivo, das 9h20 às 11h30. Ele é apresentado por Patrícia Valim que recebe entrevistados no estúdio e chama reportagens feitas na rua. A estrutura do programa é composta de duas equipes — uma pela manhã e uma de tarde —, um pauteiro, um editor, que também atua como repórter e um produtor. Desde a inauguração, até os dias de hoje, a emissora dispõem de equipamentos de câmaras Super-VHS. De 13h30 às 14 horas entra o programa Nosso Estilo, fala sobre eventos e socialites, com a apresentação de Alfredo Gini. Aos sábados, das 10h às 11h vai ao ar o Vídeo Rádio, um programa com estilo MTV, com clips e músicas do momento, comandado pela apresentadora Erika de Carvalho. De 9h15 às 9h20 entra um programa de comentários que leva o nome de Ponto de Vista, e vai ao ar de segunda a sexta. Os comentaristas Ricardo Conde e Hugo Borges, proprietários da emissora, transmitem seus pontos de vista a respeito de assuntos da área social, econômica e política.

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Segundo Paulo Borges Filho, os programas foram surgindo de acordo com a percepção das necessidades dos telespectadores, que vai sendo captada no contato dos repórteres nas ruas da cidade. Algumas matérias estão arquivadas no acervo de imagens da televisão. A principal dificuldade para a criação de novos programas é a financeira. Por isso o Jornal Guarapari, ainda não saiu do papel. Paulo Borges Filho acrescentou que esse projeto deve ser posto em prática dentro de poucos meses. A previsão é de que o jornal vá ao ar diariamente, de segunda a sábado, às 18h20, com duração de 15 minutos, distribuídos em três blocos. A emissora dispõem de um estúdio, um ilha de edição e o controle mestre. A filosofia é ser uma emissora local, mais popular, mostrando a cara do povão - conforme definiu o gerente de programação - sem esquecer das notícias importantes do estado e do país. Uma das maiores audiências da TV Guarapari é o quadro Caso de Polícia, exibido durante o programa Guarapari em Foco, que traz os crimes ocorridos na cidade e regiões vizinhas. Paulo Borges Filho se queixou da falta de equipamentos, número reduzido de carro de reportagem e poucos profissionais capacitados. Além disso, pelo fato de a emissora estar localizada numa cidade pequena, e pertencer a políticos da região, os comerciantes que conhecem os proprietários da emissora geralmente tentam impedir que as notícias comprometedoras sejam divulgadas.

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6 – CONCLUSÃO

As emissoras de televisão no Espírito Santo refletem a realidade da televisão no Brasil, uma vez que as emissoras locais são afiliadas das grandes redes nacionais de televisão, e geralmente, seguem a filosofia de suas cabeças de rede.

Percebemos que as emissoras do estado buscam uma identidade regional, pois já estão se dando conta, aos poucos, que mesmo em um mundo globalizado, a regionalização é o caminho para a televisão e principalmente para o telejornalismo.

Uma das situações observadas durante as entrevistas é que as empresas se esforçam para cobrir, dentro da realidade da emissora, os espaços disponibilizados pelas redes. Mas não se discute isso e não se impõe nada. Geralmente os espaços obrigatórios das cabeças de rede, são preenchidos e os optativos aos poucos vão sendo ocupados. As emissoras locais não ousam, não vão além disso. Não há espaço para uma negociação de horários, o que acaba acontecendo situações de desperdício de produção, como o caso do Painel de Domingo (TV Gazeta), um programa com conteúdo, atualidade, que vai ao ar em um horário optativo, em que a maioria da população capixaba está dormindo. Além da falta de abertura na programação da Rede, as televisões do estado também esbarram no problema do alto custo dos programas. O investimento para um programa de telejornal é muito alto. Gasta-se com preparação de estúdio, contratação de profissionais, equipamentos, equipe de trabalho (repórter, cinegrafista, auxiliar, motorista). E nem sempre o retorno em audiência compensa o alto investimento do projeto.

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A visão empresarial tem papel fundamental no desenvolvimento da produção local no estado. Nem todos empresários, proprietários das redes de comunicação, vêem o telejornalismo como prioridade e apostam na criação de novos produtos. O Grupo João Santos por exemplo, entende que o Jornal A Tribuna é prioridade para o grupo em relação a TV Tribuna, por isso os grandes investimentos da empresa raramente sobram para a TV. No caso da TV Vitória percebemos o contrário. Os empresários acreditam no telejornalismo e já vem há algum tempo investindo na programação local. Vários produtos foram criados, objetivando alcançar a regionalização da emissora, através de uma segmentação. Isso reflete a filosofia de sua cabeça de rede, a TV Record.

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7 - BIBLIOGRAFIA BERGSON, Henri. Oeuvres, Paris: PUF, 1959.

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HALBWALCH, Maurio. 1956,1969,1925, Paris.

MACIEl, Pedro – Jornalismo de televisão: normas práticas/ Pedro Maciel – Porto Alegre: Sagra: DCLuzzato, 1995.

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MEDEIROS, Rogério – Espírito Santo: O encontro das raças. R.S Reproarte, 1997.

REBOUÇAS, E. – Os desafios da televisão brasileira para o próximo milênio.

REBOUÇAS, E. – Proposta de participação social na elaboração de uma política de comunicação social para o Espírito Santo. Intercom, 1995.

RUIZ, João Álvaro, 1928 – Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos – 4.ed. – São Paulo: Atlas, 1996.

SQUIRRA, S. – O telejornalismo brasileiro num cenário de competitividade – Intercom – Revista Brasileira de Comunicação, São Paulo, Vol. XVIII, nº1, pág. 37-49, jan/jun, 1995.

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TEMER, Ana Carolina - A reconstrução da História da TV Triângulo em Uberlândia a partir da memória dos agentes de seu telejornalismo - Tese de Mestrado, Uberlândia - Minas Gerais, 1997.

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TOURINHO, C. – Escritos de Vitória – Jornalismo Regional: Mudanças à vista. Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Imprensa. – Vitória: A Secretaria, 1996. 205p.: il. – (Escritos de Vitória; 17).

xi35 Entrevista cedida ao pesquisador em 20 de maio de 1999, na sede da TV Guarapari.

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RELAÇÃO DOS ENTREVISTADOS:

ANJOS, Tinoco - Entrevista retirada do Vídeo sobrea a TVE – A beleza de ser um eterno aprendiz, 1995.

AMARAL, Edmar Lucas - Entrevista realizada em 14 de junho de 1999.

CHEQUER, Abdo – Entrevista realizada em 28 de abril de 1999.

CORRÊA, Carminha – Entrevista realizada em 16 de abril de 1999.

COUTINHO, Glecy - Entrevista realizada em 12 de maio de 1999.

EMIL, Adam - Entrevista retirada do Vídeo sobrea a TVE – A beleza de ser um eterno aprendiz, 1995.

FERREIRA, Fernando Machado - Entrevista realizada em 31 de maio de 1999.

FILHO, Carlos Fernandes M. Lindenberg - Entrevista realizada em 19 de maio de 1999.

FILHO, Paulo Sérgio Borges - Entrevista realizada em 20 de maio de 1999.

FILHO, Américo Buaiz - Entrevista realizada em 17 de junho de 1999.

HENNING, Edu - Entrevista realizada em 12 de maio de 1999.

LEMOS, Silvana - Entrevista realizada em 30 de abril de 1999.

MACHADO, Maria Aparecida Barbariolli - Entrevista realizada em 17 de junho de 1999.

MARCHINI, Plínio - Entrevista realizada em 24 de maio de 1999.

MOSÉ, Patrícia - Entrevista realizada em 15 de maio de 1999.

NARDOTO, Madalena - Entrevista realizada em 15 de maio de 1999.

NETO, Carlos Fernades M. Lindenberg - Entrevista realizada em 14 de maio de 1999.

PALHARES, Eustáquio - Entrevista realizada em 11 de maio de 1999.

PINTO, Joises Ubirajara - Entrevista realizada em 12 de maio de 1999.

RODRIGUES, Aldeir - Entrevista realizada em 15 de maio de 1999.

VALADÃO, Cristina - Entrevista retirada do Vídeo sobrea a TVE – A beleza de ser um eterno aprendiz, 1995.