a espetacular vida da morte

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A ESPETACULAR VIDA DA MORTE

MJ M

ACEDO

MJ Macedo nasceu no Rio de Ja-neiro, mas ainda com 11 anos de idade se mudou para São Paulo. Até hoje tentam devolvê-lo para sua cidade natal, mas os cariocas também não o querem lá. Como era maluco demais para fazer qualquer outra coisa da vida, acabou se tornando quadrinista e escritor, depois de trabalhar como, entre outras coisas, designer gráfi-co, redator publicitário, jornalista, gerente editorial e ator pornô (na verdade, ele nun-ca conseguiu se tornar ator pornô, mas esse sempre foi um sonho). MJ atualmente passa grande parte do seu tempo se dedi-cando a desenhar HQs para os mercados nacional e internacional, concept arts pra videogames e filmes, e esboçando seus planos de dominação mundial através dos seus próprios personagens e ideias. Recentemente, a convite do diretor de cinema Fernando Meirelles, coordenou a adaptação do filme Cidade de Deus para os quadrinhos, em que roteirizou e ilustrou grande parte do projeto. Mas, se nada disso der certo, ele pretende se tornar mercenário na Nicarágua.

O b i t u á r i O

F A L E C I M E N T OA esposa e os demais familiares do Sr. Vilalo Rosca-molle vêm, por meio desta, informar o falecimento do ente querido, por causas misteriosas. Aprovei-tam, também, para desmentir todo e qualquer boato malicioso sobre o rolo de macarrão e dizer que aquele médico é um desinformado. Ninguém morre de asfixia anal.

F A L E C I M E N T OAbrahão Haddad Filho e esposa, através desta do-lorosa mensagem, notificam aos amigos da família a morte do querido e eternamente lembrado Abrahão Haddad Pai. A todos que quiserem dar seu último adeus, o corpo será velado na sinagoga do bairro. Aproveitamos a oportunidade para lembrar que nos-sos preços continuam os mesmos e que este mês é o mês da loucura! Queima de estoque, tudo pela metade do preço em até 3 vezes sem juros e sem entrada! Venham nos visitar! Esperamos por vocês em nossa loja!

F A L E C I M E N T OCom pesar no coração, anunciamos a passagem do Sr. Carcamano Rodrigues. Ele não morreu, A-I-N-D-A, mas fugiu pro Caribe com sua amante, levando todo o dinheiro de nossas economias! Pra mim ele está morto! Carcamano, se eu te pego, te mato!

  M I S S A D E S É T I M O D I AA filha e a família da Dona Eulália convidam a todos para a missa de sétimo dia, a se realizar na Catedral de Nossa Senhora dos que Já Foram Tarde. Venha prestar sua última homenagem a essa dedicada ma-triarca, orando para que sua alma tenha o descanso que merece. 

F E S TA D E A R R O M B AO genro e os amigos do genro da Dona Eulália con-vidam para uma festança regada a muita tequila, música alta e dançarinas exóticas, para comemorar a morte daquela velha infernal. A festa será realizada no clube Tcheco-Tcheca, bem longe da Catedral de Nossa Senhora dos que Já Foram Tarde e de toda aquela choradeira sem propósito.

P.S.: Neiva, coloquei o anúncio, e daí? Aproveito o espaço e já peço o divórcio, sua gorda.

MJ Macedo

A espetacular vida da Morte

Copyright © 2012 MJ MacedoCopyright © 2012 Editora Gutenberg

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

projeto gráfico

Diogo Droschi

ilustração da capa

MJ Macedo

edição de texto

Ab Aeterno Produção Editorial

preparação

Karina Danza

revisão

Patrícia VilarCamile Mendrot Eduardo Soares

editoração eletrônica

Conrado Esteves

gerente editorial

Gabriela Nascimento

Revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde janeiro de 2009.

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

eDItora GutenBerG LtDa.

São PauloAv. Paulista, 2073, Conjunto Nacional, Horsa I, 11º andar, Conj. 1101Cerqueira César . 01311-940 São Paulo . SP Tel.: (55 11) 3034 4468

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Televendas: 0800 283 13 22www.editoragutenberg.com.br

Macedo, M. J.A espetacular vida da Morte / M. J. Macedo. -- Belo

Horizonte : Editora Gutenberg, 2012.

ISBN 978-85-65383-39-4

1. Ficção brasileira I. Título.

12-05461 CDD-869-93

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869-93

Nota do autor

Nenhum animal foi morto, ferido ou maltratado durante a produção deste livro; com exceção de um dragão manco, um unicórnio anão e uma arara com dislexia nervosa. Esses animais foram acidentalmente atropelados por um carrinho de cachorro-quente. Nossos sinceros pêsames às famílias dos envolvidos.

Também aproveitamos para informar que esta história contém alguns trechos do primeiro ato de Hamlet, de William Shakespeare. Nossos sinceros pêsames às famílias dos envolvidos.

Em memória de Celso Rosa Macedo, o primeiro e mais verdadeiro nerd que eu

conheci. Obrigado, tio, por ter aquelas centenas de livros empoeirados de ficção científica no porão de casa e por ter me mostrado que maluco é quem é normal.

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Capítulo 1

Nossa história começa assim:Na imensidão da galáxia, havia o planeta Terra, perdido

em meio ao grande manto negro do universo. Em sua lenta rotação, parecia admirar as estrelas ao redor, irmãs celestes, como guias iluminadas em meio à noite eterna da escuridão cósmica. Então, veio o clarão. Como um relâmpago, vindo da mão de um Zeus furioso, o imenso meteoro se chocou contra o planeta e o destruiu, em uma enorme explosão digna de um big-bang. As civilizações foram destruídas e todo mundo sofreu pra cacete, antes de ir dessa pra melhor. O.K., acabou a história. Veio um meteoro e destruiu o planeta. Todo mun-do morreu. Tchau. Pode fechar o livro. As páginas a seguir são meras descrições científicas de como a poeira espacial se comporta em situações adversas no vácuo sideral. É isso aí.

Nossos sinceros pêsames às famílias dos envolvidos.

Infortunadamente, como ficamos sem verba para pagar os altos salários dos doutores em física pintudona e dos demais cientistas, estamos abortando a descrição prometida antes.

Com o nobre intuito de não sermos processados por nenhum órgão de defesa do consumidor, agraciamos nosso querido leitor com a história a seguir – uma vez que não poderemos dispor do relatório científico.

Agradecemos a compreensão. Leia até o final, há um grande e bonito “FIM” nele.

Perfil de Horácio Portobello 17

I A verdade nua 21

II Dogão duplo com molho especial, cheddar + guaraná 25

III Biscoitinhos de canela 31

IV A espetacular vida da Morte 36

V Terapia 49

VI Patins cor-de-rosa 61

VII O escargot que me amava – ou “Garçom, tem uma Morte na minha sopa!” 73

VIII Papai Noel vs. Palhacinho Climpão –ou “O caso do Ursinho Fofuchom” 81

IX Disque “F” para Fadinha 88

X Uma nova chance de felicidade e a salsicha voadora 99

XI O gorila de tutu rosa e a blusinha havaiana 104

XII A bola da vez 118

XIII Pagável apenas para menores de idade 127

XIV Tia Gumercina e os quarenta ladrões (para falar a verdade, eram só cinco...) 132

XV O periquito 144

XVI Tem algo de podre no reino da Dinamarca, mas juro que não fui eu! 157

XVII Elementar, minha cara Morte 173

XVIII Os tintureiros do bairro proibido 187

XIX Mortoboy 201

XX Faces da Morte 206

XXI Reunião de família 211

XXII NÁ NÁ NÁ NÁ, NÁ NÁ NÁ NÁ, NÁ NÁ NÁ NÁ 219

XXIII O nariz vermelho, o gorrinho puído e a carabina 226

XXIV Só falta mais um capítulo 233

XXV Corazón caliente (tradicionalmente conhecido como “FIM”) 240

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Perfil deHorácioPortobello

Nada mais justo, antes de iniciarmos esta história, do que apresentarmos melhor o nobre profissional que nos brinda com seu brilhantismo usual e nos conduzirá pelos eventos a seguir descritos. Afinal, se não fosse seu maravilho-so trabalho de pesquisa, sempre preciso e minucioso, e seu compromisso com a verdade, este livro não seria possível.

Conhecer a vida do jornalista Horácio Manfred Portobello é, antes de tudo, aprender mais sobre a história do jornalismo em nosso país. Raros foram os que, em tão pouco tempo, reuniram tantas conquistas profissionais. Vitórias que o levaram a se tornar o mais jovem editor interino de uma das revistas mais respeitáveis do país, a Verdade Nua; apresentar um programa semanal na TV; ter uma coluna diária em dezoito jornais diferentes; e ainda manter uma promissora franquia de cachorros-quentes. Além de assumir para muitos a figura de um mentor espi-ritual, após os surpreendentes acontecimentos no Teatro Municipal, na noite de entrega do prêmio da Associação de Imprensa e Mídia do Estado. Acontecimentos estes que, como sabemos, levaram-no a revelar ao mundo as surpre-endentes experiências transcendentais pelas quais passara.

Nascido em uma família de médicos, natural da cidade de Botas de Judas – pacato vilarejo do interior –, Portobello se mudou cedo para a capital, para um dia se transformar num dos maiores nomes da história do jornalismo nacional.

Seu primeiro impulso foi o de seguir a tradição familiar. Porém, logo desistiu, após matar por acidente três pacientes, dois colegas de sala, um professor e uma tartaruga (além de colocar fogo em um castor empalhado).

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Decidiu, então, cursar Química na Pontifícia Uni-versidade Tradicionalista de Semântica (Puts). Passado pouco mais de um ano, mudou mais uma vez de curso, depois de explodir o laboratório em que estudava, levan-do abaixo o prédio inteiro do bloco. Escolheu, então, a carreira que o definiria para o resto da vida: o Jornalismo.

O reitor de sua faculdade na época, o professor Gui-do Barret, no momento, paciente do asilo psiquiátrico para perturbados mentais Nossa Senhora dos Desvaira-dos, ainda se lembra com carinho do seu mais notável aluno. Ao mencionarmos o nome de Horácio, ele grita e berra de emoção, enquanto as lágrimas correm pelo seu rosto e, desesperado, arranha as paredes, convulsionando em seguida.

No segundo ano, Portobello iniciou seu estágio no ilustre Diário Semanal, de periodicidade mensal, que saía a cada quinze dias. Tempos depois, conseguiu uma vaga de repórter no jornal O Sabichudo, quando atropelou, sem querer, o editor da publicação. Assim, começava de fato a missão de informar a sociedade. “Sempre gostei muito de informar as pessoas. Até porque eu mesmo era um grande desinformado”, lembra.

Quando cursava o último ano de Jornalismo, foi o repórter a cobrir, em primeira mão, o terrível episódio envolvendo o presidente da república. É claro que, na época, Portobello não desconfiava, em momento algum, que tivesse sido ele mesmo que derrubara, o pobre coitado varanda abaixo ou que fizera a primeira-dama acabar por se atracar com um guaxinim alcoolizado. Até hoje per-manece o mistério de como o guaxinim se embriagou de tequila ou como apareceu no salão de festas presidencial, mas rumores dizem que, provavelmente, deve ter relação com os babuínos e outros 75 animais que nosso querido

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repórter, de maneira ocasional, deixara escapar numa re-portagem que fez no dia anterior no zoológico da cidade.

Durante a visita do papa ao país, mais uma vez o profissional dedicado estava presente. Apesar das críticas que recebeu por esse trabalho, talvez sua cobertura na rápida passagem do pontífice pelo Hospital para Crian-ças Enfermas tenha sido uma das mais importantes. Até porque, se ele não tivesse feito o velhinho inalar gás do riso, quando acreditou que o pobre coitado estava tendo uma crise de asma, ninguém teria visto o sumo sacerdote da Igreja requebrando em público ao som de alguma música imaginária.

Personagem atuante na política mundial, Portobello evitou que o embaixador da ONU, em visita especial, sofresse um atentado. Nessa ocasião, impediu que o em-baixador fosse alvejado por um franco-atirador no campo de golfe, quando atingiu, por descuido, o diplomata com uma tacada, derrubando-o ribanceira abaixo. No hospital, enquanto se recuperava da fratura nas duas pernas e no braço esquerdo, o embaixador o agradeceu, com fervor, ajeitando o tapa-olho no rosto.

Com o passar dos anos, foram muitos os acidentes em que se envolveu e as matérias que cobriu. Matérias essas que o fizeram se tornar um dos repórteres integrantes da Verdade Nua, a maior equipe de notícias do país – como bem sabemos. Foi nesse período que sua carreira atingiu o ápice, mesmo que a própria publicação tenha passado por momentos ruins. Aliás, foi Portobello, genial como sempre, que reergueu as vendas da revista, tornando-a a número um mais uma vez.

E é sobre esse período que ele mesmo, Horácio Portobello, irá nos contar nas páginas a seguir.

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