a escola e o conceito de gÊnero e...
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A ESCOLA E O CONCEITO DE GÊNERO E SEXUALIDADE
De acordo com Martins (2004):
Em torno da segunda metade do século XVII as observações acerca das diferenças entre os sexos passaram a ser utilizadas como referência em relação ao conhecimento da Natureza e na estruturação da sociedade.
A distinção e a classificação corresponderiam a um determinado comportamento social do indivíduo. Assim, teve início a oposição binária masculino-feminino pautada no corpo e validada pela ciência.
Vivenciamos na contemporaneidade a aparência natural e permanente de construtos sociais que buscam formar sujeitos:
universais
naturais
corretos
Afastando-os das possibilidades de:
pluralidade
diversidade
instabilidade
A linguagem
Louro (1997) aponta que:
estabelece um referencial centrado no homem;
pretende fixar diferenças que podem indicar superioridade
e inferioridade de gênero;
pode servir de ferramenta de manutenção das relações
hierárquicas de poder entre os gêneros.
Por isso é preciso que atentemos para aquilo que praticamos de maneira rotineira e banal. Desconfiemos do “natural”.
O que parece estar inscrito na ordem das coisas é fruto de processos culturais, que nascem nas relações sociais.
A identidade de gênero e a identidade sexual estabelecidas como parâmetro de normalidade são o homem e o heterossexual.
Aquilo que se opõe a este ideal é considerado estranho, subversivo, desviado e anormal.
No sentido de evitar o desvio, todas as instâncias da sociedade empregam enorme esforço e vigilância para a construção de dados aparentemente universais.
Códigos comuns permeiam o convívio e dão significado à vida em sociedade.
Louro (2010) sinaliza:
“frequentemente nos apresentamos (ou nos representamos) a partir de nossa identidade de gênero e de nossa identidade sexual. Essa parece ser, usualmente, a referência mais ‘segura’ sobre os indivíduos”
A percepção de si e dos demais é afetada por um conjunto de informações e prescrições que são introjetadas pelo sujeito.
A instabilidade e a fluidez das identidades sexuais e de gênero permitem questionar o caráter fixo de todas as outras formas de identidade que constituem o sujeito dentro da sociedade.
As relações de poder na sociedade estão relacionadas à hierarquização em que mulheres e homens são posicionados/as.
Segundo sexo
São valorizados atributos considerados masculinos em detrimento a elementos tidos como femininos.
segundo elemento
inferioridade
Consequências
marginalização laboral
segregação da experiência da sexualidade
Existem a posição central e a excêntrica no que diz respeito às “posições-de-sujeito” na sociedade, sugere Louro (2002).
universalidade
estabilidade
unidade
Homens brancos
heterossexuais
identidade sólida
problematicidade
diversidade
pluralidade
instabilidade
particularidade
mulheres
negros/as
homossexuais
Desejo Masculino
Bourdieu (2011) aponta a relação sexual como relação de dominação regida por um princípio masculino ativo e um princípio feminino passivo.
Desejo Feminino
Reconhecimento erotizado
da dominação
Desejo da dominação
masculina
Subordinação
erotizada
Desejo de
posse
Dominação
erotizada
A escola
preocupa-se em normatizar ações, comportamentos e posturas;
possui característica segregativa, classificando, produzindo e reforçando diferenças;
disciplina corpos e emoções;
produz gestos, movimentos e sentidos;
visa à formação de sujeitos universais que atendam aos padrões da sociedade.
por meio da censura e do controle, promove a vergonha e a culpa;
Louro (1997) explica que:
“a escola que nos foi legada pela sociedade ocidental moderna começou por separar adultos de crianças, católicos de protestantes. Ela também se fez diferente para os ricos e para os pobres e ela imediatamente separou os meninos das meninas”
A separação de meninos e meninas durante atividades escolares como grupos de estudo ou competições reforça a dicotomia.
A escola, (assim como outras instituições como a família e a religião), empreende grande investimento no sentido de afirmar e desenvolver nos alunos características distintivas de gênero, fazendo-os crer que estão aprendendo a ser o que são ou o que devem ser.
A questão é: então não deveriam sê-lo espontaneamente? Se existe caráter natural nas diferenças entre meninos e meninas, por que há necessidade de promover constantes esforços para que adquiram o que estaria inscrito em sua natureza?
Ao educador e à educadora cabe:
identificar jogos de poder e conflitos que passam pela escola;
questionar o que é ensinado e a maneira como se ensina;
atentar ao sexismo, racismo e etnocentrismo contidos na linguagem;
problematizar até mesmo as teorias consideradas críticas;
ter em mente que a prática escolar é uma prática política sujeita à transformação e à subversão.
promover a análise cultural, pois a ideia de tolerância e respeito pressupõe condescendência;
É necessário observar:
o caráter construído, provisório, plural e móvel das identidades sexuais e de gêneros;
as variações no interior de cada gênero ao ser aplicada a lógica da polarização masculino/feminino;
o investimento e a vigilância empregados denunciam a falsa ideia de naturalidade das atribuições de masculinidade e feminilidade;
a escola ensina o silenciamento e a dissimulação, reforça e produz identidades. Por isso é preciso que as práticas educacionais sejam revistas para que deixem de ser pautadas na lógica da desigualdade.
A ESCOLA E O CONCEITO DE GÊNERO E SEXUALIDADE