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45 RESUMO A ECONOMIA CONTINENTAL CHINESA E SEU EFEITO GRAVITACIONAL Recebido em 13 de junho de 2011. Aprovado em 13 de julho de 2011. Diego Pautasso I. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo discutir como a formação de uma economia continental na China tem se transformado em um fator de projeção desse país no sistema internacional. Não se trata de esgotar o multifacetado processo de desenvolvimento da economia chinesa 1 , mas de analisar como isso afeta o peso relativo do país e sua estratégia em um mundo em transformação. O argumento central sugerido neste artigo é que o desenvolvimento da economia continental e a ampliação da capacidade econômica tornam-se um instrumento da política externa chinesa. Em outras palavras, a China tende a criar um forte efeito gravitacional em escala global e utilizar- se disso como parte de sua estratégia interna- cional. O intuito é problematizar com análises recor- rentes sobre o processo de desenvolvimento e de inserção internacional da China. Por um lado, aque- las que (GILPIN, 2004, p. 377) descreveram a economia chinesa como “oca”, ou seja, dependen- te dominantemente de investimentos e empresas estrangeiras, no qual o país ocupar-se-ia apenas das etapas mais simples das cadeias produtivas. Por outro, aquelas que (MEARSHEIMER, 2006) definiram a inserção chinesa como desestabilizadora e, por isso, propensa à guerra e avessa à coopera- ção internacional. Para tanto, o trabalho foi organizado da seguin- te forma: na primeira parte, discorremos sobre a evolução recente do desenvolvimento chinês, centrando foco nos desafios da formação de uma economia de dimensões continentais; na segunda, abordamos como o incremento da capacidade eco- nômica chinesa implica um crescente efeito gravitacional do país em escala global; por fim, ar- gumentamos que a diplomacia da China utiliza-se dessas prerrogativas (capacidade econômica) para desencadear uma estratégia internacional que per- mita ao país, nesse quadro de transição sistêmica, ampliar seu espaço de atuação internacional bus- cando as linhas de menor resistência. 1 Na interessante tese intitulada “Projeto nacional, desen- volvimento e socialismo de mercado na China de hoje”, Elias Jabbour (2010) ocupa-se de esmiuçar diversos aspec- tos do desenvolvimento chinês, passando pela relação mer- cado-Estado, pela diversidade das estruturas produtivas do país, pelo papel do sistema financeiro, pelas mudanças no espaço agrário, pelos desafios ambientais e pela proble- mática questão regional. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 19, n. suplementar, p. 45-56, nov. 2011 O presente artigo aborda o desenvolvimento nacional e a inserção internacional da China. O objetivo é discutir como a formação de uma economia continental na China tem se transformado num fator de projeção desse país no sistema internacional, analisando como a formação de uma economia continental produz uma espécie de efeito gravitacional favorecendo a formulação da estratégia internacional chinesa nesta conjuntura de transição sistêmica. O artigo desenvol- ve-se discutindo com análises recorrentes sobre o processo de desenvolvimento e de inserção da internacional da China. O argumento central defendido no artigo é que o desenvolvimento da economia continental e a ampliação da capacidade econômica tornam-se um instrumento da política externa chinesa. Em outras palavras, a China tende a criar um forte efeito gravitacional em escala global e utilizar-se disso como parte de sua estratégia internacional. O artigo organiza-se da seguinte forma: na primeira parte, discorremos sobre a evolução recente do desenvolvimento chinês, centrando foco nos desafios da formação de uma economia de dimensões continentais; na segunda, abordamos como o incremento da capacidade econômica chinesa implica num crescente efeito gravitacional do país em escala global; por fim, argumenta- mos que a diplomacia da China utiliza-se dessas prerrogativas (capacidade econômica) para desencadear uma estratégia internacional que permita ao país, nesse quadro de transição sistêmica, ampliar seu espaço de atuação internacional buscando as linhas de menor resistência. PALAVRAS-CHAVE: China; economia continental; efeito gravitacional.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 45-56 NOV. 2011

RESUMO

A ECONOMIA CONTINENTAL CHINESA E SEUEFEITO GRAVITACIONAL

Recebido em 13 de junho de 2011.Aprovado em 13 de julho de 2011.

Diego Pautasso

I. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo discutircomo a formação de uma economia continentalna China tem se transformado em um fator deprojeção desse país no sistema internacional. Nãose trata de esgotar o multifacetado processo dedesenvolvimento da economia chinesa1, mas deanalisar como isso afeta o peso relativo do país esua estratégia em um mundo em transformação.O argumento central sugerido neste artigo é queo desenvolvimento da economia continental e aampliação da capacidade econômica tornam-seum instrumento da política externa chinesa. Emoutras palavras, a China tende a criar um forteefeito gravitacional em escala global e utilizar-se disso como parte de sua estratégia interna-cional.

O intuito é problematizar com análises recor-rentes sobre o processo de desenvolvimento e deinserção internacional da China. Por um lado, aque-las que (GILPIN, 2004, p. 377) descreveram aeconomia chinesa como “oca”, ou seja, dependen-te dominantemente de investimentos e empresasestrangeiras, no qual o país ocupar-se-ia apenasdas etapas mais simples das cadeias produtivas.Por outro, aquelas que (MEARSHEIMER, 2006)definiram a inserção chinesa como desestabilizadorae, por isso, propensa à guerra e avessa à coopera-ção internacional.

Para tanto, o trabalho foi organizado da seguin-te forma: na primeira parte, discorremos sobre aevolução recente do desenvolvimento chinês,centrando foco nos desafios da formação de umaeconomia de dimensões continentais; na segunda,abordamos como o incremento da capacidade eco-nômica chinesa implica um crescente efeitogravitacional do país em escala global; por fim, ar-gumentamos que a diplomacia da China utiliza-sedessas prerrogativas (capacidade econômica) paradesencadear uma estratégia internacional que per-mita ao país, nesse quadro de transição sistêmica,ampliar seu espaço de atuação internacional bus-cando as linhas de menor resistência.

1 Na interessante tese intitulada “Projeto nacional, desen-volvimento e socialismo de mercado na China de hoje”,Elias Jabbour (2010) ocupa-se de esmiuçar diversos aspec-tos do desenvolvimento chinês, passando pela relação mer-cado-Estado, pela diversidade das estruturas produtivasdo país, pelo papel do sistema financeiro, pelas mudançasno espaço agrário, pelos desafios ambientais e pela proble-mática questão regional.

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 19, n. suplementar, p. 45-56, nov. 2011

O presente artigo aborda o desenvolvimento nacional e a inserção internacional da China. O objetivo é discutir como aformação de uma economia continental na China tem se transformado num fator de projeção desse país no sistemainternacional, analisando como a formação de uma economia continental produz uma espécie de efeito gravitacionalfavorecendo a formulação da estratégia internacional chinesa nesta conjuntura de transição sistêmica. O artigo desenvol-ve-se discutindo com análises recorrentes sobre o processo de desenvolvimento e de inserção da internacional da China.O argumento central defendido no artigo é que o desenvolvimento da economia continental e a ampliação da capacidadeeconômica tornam-se um instrumento da política externa chinesa. Em outras palavras, a China tende a criar um forte efeitogravitacional em escala global e utilizar-se disso como parte de sua estratégia internacional. O artigo organiza-se daseguinte forma: na primeira parte, discorremos sobre a evolução recente do desenvolvimento chinês, centrando foco nosdesafios da formação de uma economia de dimensões continentais; na segunda, abordamos como o incremento dacapacidade econômica chinesa implica num crescente efeito gravitacional do país em escala global; por fim, argumenta-mos que a diplomacia da China utiliza-se dessas prerrogativas (capacidade econômica) para desencadear uma estratégiainternacional que permita ao país, nesse quadro de transição sistêmica, ampliar seu espaço de atuação internacionalbuscando as linhas de menor resistência.

PALAVRAS-CHAVE: China; economia continental; efeito gravitacional.

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A ECONOMIA CONTINENTAL CHINESA E SEU EFEITO GRAVITACIONAL

II. DESENVOLVIMENTO CHINÊS E A FORMA-ÇÃO DA ECONOMIA CONTINENTAL

O desenvolvimento da China é parte de um com-plexo processo de superação dos percalços decor-rentes do Século de Humilhações (1839-1949). ARevolução Chinesa de 1949 lançou as bases de umatortuosa reconstrução nacional direcionada à reor-ganização política, à reconstituição da integridadeterritorial e à promoção do desenvolvimento e daintegração da economia sob a liderança do PartidoComunista Chinês (PCCh). A superação do atraso,da vulnerabilidade internacional e da fragmentaçãoterritorial têm sido objetivos centrais das liderançasnacionais ao longo do século XX, com momentoscruciais de conflitos e de correção de rumos em1911, com a proclamação da República, em 1949,com a Revolução, e em 1978, com as reformas.

Como afirma Jabbour , “o desenvolvimento éo ponto de fusão entre o socialismo com caracte-rísticas chinesas e o próprio projeto nacional chi-nês” (JABBOUR, 2010, p. 117). Nesse sentido,não há dúvidas de que a política de Reforma eAbertura (1978) conseguiu corrigir os rumos einaugurar o sólido processo de desenvolvimentoque se estende até a atualidade2. Essa política es-teve voltada à superação tanto de vulnerabilidadesherdadas do Século de Humilhações quanto deconcepções decorrentes da experimentação dasprimeiras décadas de gestão do PCCh, em espe-cial o conturbado período da Revolução Cultural.

O governo chinês teve de apreender com asdificuldades soviéticas e com o dinamismo regio-nal asiático (Japão e tigres asiáticos), assim comoresistir às instabilidades domésticas e internacio-nais do final do século XX: a repressão na Praça daPaz Celestial (1989), a desintegração da União dasRepúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) (1991),o militarismo dos Estados Unidos da América (EUA)na Guerra do Golfo (1991), o veto norte-america-no ao ingresso chinês na Organização Mundial doComércio (OMC), a venda de armas a Taiwan, asprovocações em relação ao Tibet, o bombardeio daOrganização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)à embaixada chinesa em Belgrado (1999), as dis-putas territoriais no Mar da China, a crise financei-ra de 1997 etc. De todo modo, no 3º Pleno do XIV

Comitê Central, em 1993, Deng conseguiu resta-belecer a coesão política, consolidar a direção dasreformas e enfrentar tais instabilidades.

Em razão também da conjuntura adversa, asreformas chinesas foram cautelosas, fortalecendoos instrumentos de planejamento do Estado e esta-belecendo experiências próprias, com umgradualismo distinto da de outros países3 e sem aadoção de políticas liberalizantes tão em voga a partirdos anos 1980. Como destaca Medeiros (1999, p.398-399), as reformas redefiniram a relação entreplanejamento e mercado, promovendo as exporta-ções e protegendo o mercado interno; reformandoempresas e estimulando estatais; combinando pre-ços de mercado com outros regulados etc. Ou seja,a obsessiva busca pela modernização deu-se com aampliação das capacidades estatais e com umaintegração seletiva ao sistema internacional.

O grande desafio do desenvolvimento chinêstem dependido da formação da economia continentale, por isso, de três eixos principais: a integridadeterritorial, a integração física do espaço nacional ea promoção do mercado interno. O primeiro eixo éo desafio do governo chinês de preservar a integri-dade territorial de cerca de 9,5 milhões km², supe-rando vulnerabilidades que remontam ao séculoXIX. Nesse contexto, a China esteve à beira de sercompletamente fragmentada territorialmente, sobdomínio estrangeiro e dos senhores de guerras(SPENCE, 1995, p. 141, 169, 235) e imerso emconvulsões sociais, corrupção política e desorga-nização da economia nacional. Daí o objetivo daNova China (1949) em perseguir a unidadeterritorial, evitando ameaças separatistas no Xinjiange no Tibete e recuperando a ilha de Taiwan, depoisda retomada de Hong Kong (1997) e Macau (1999).

O segundo eixo é a integração física do espa-ço nacional, essencial para superar o isolamentoregional-local de uma sociedade com históricocamponês-feudal; enfrentar as desigualdades re-

2 Para uma visão panorâmica da história recente das rela-ções internacionais da China e da Ásia do Leste, ver Vizentinie Rodrigues (2000).

3 Tanto nos países que abandonaram o socialismo real(Bloco Soviético) quanto em países em desenvolvimento(Brasil, Argentina, México etc.), a adoção dos ajustesneoliberais orientados pelo Consenso de Washington e pe-los organismos multilaterais (Banco Mundial e FundoMonetário Internacional (FMI)) tiveram efeitos trágicoscomo estagnação e/ou declínio da economia. Para uma críti-ca do neoliberalismo, sugere-se Chang (2009). Já para umacomparação entre a trajetória soviético-russa com a chine-sa em relação ao ritmo e enfoque das reformas, cabe lerMedeiros (2008).

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gionais e sociais já herdadas do período anterior àrevolução e aprofundadas com o início da moder-nização e debelar as ameaças separatistas de regi-ões interioranas, em especial as de minorias não-han. Em outras palavras, o governo chinês precisaintegrar territorialmente aquilo que Khanna (2008,p. 387) chama de “as quatro Chinas” nucleadaspor Pequim (Nordeste), por Shanghai (Sudeste),pelo Tibete (Sudoeste) e pelo Xinjiang (Noroeste).

Com efeito, os investimentos públicos em obrasde infraestrutura e as políticas para interiorizar odesenvolvimento têm sido fundamentais, apesarde eventuais resistências das elites ligadas às pro-víncias mais desenvolvidas (litorâneas). No en-tanto, depois da crise financeira asiática de 1997,ficou evidente para o governo chinês a necessida-de e as potencialidades do mercado doméstico faceàs instabilidades da economia internacional. Emrazão disso, em 1999 foi criado o projeto GrandeDesenvolvimento do Oeste, com vistas a reduziras desigualdades regionais e integrar a economianacional, sobretudo com investimentos nas pro-víncias mais longínquas e pobres. Outro exemplodos objetivos do governo chinês para interiorizaro desenvolvimento foi a elevação, em 1997, deChongqing à condição de municipalidade direta-mente administrada pelo governo central, com omesmo status de Pequim, Tianjin e Shanghai. Tudoisso visando transformá-la em um centro daintegração territorial do país, aproveitando-se dopapel do rio Yang-Tsé como hidrovia e centro ge-rador de energia (Três Gargantas) que a conectaa Shanghai4. A metrópole, com quase 33 milhõesde habitantes, é reflexo da prioridade dada à mo-dernização e à integração do espaço nacional. Ofato é que, como aponta o relatório da Organiza-ção das Nações Unidas (ONU)5, os volumosos

investimentos públicos têm contribuído para di-namizar tais regiões6 e diminuir as disparidadessociais.

O terceiro eixo está relacionado com o desen-volvimento e o fortalecimento do mercado inter-no. Na China da atualidade, o desafio central éenfrentar os desníveis sociais e regionais decor-rentes de uma formação complexa em que convi-ve a economia natural de subsistência, a pequenaprodução mercantil, a indústria rural privada ecoletiva (empresas de Cantão e Povoado), o capi-talismo privado e de Estado e o socialismo(JABBOUR, 2010, p. 143-144). A transformaçãoocorre a partir da decomposição da economia na-tural (autoconsumo e/ou não monetária) por meiode dois vetores fundamentais: de um lado, a espe-cialização da agricultura, a ampliação da produçãode bens agrícolas para a cidade e oaprofundamento da integração com o mercado e,de outro, o êxodo rural e o emprego nos setoresindustriais e de serviços. Como conseqüência, aurbanização provoca o aumento da procura porbens agrícolas e o ganho de produtividade agrí-cola, uma vez que há a substituição do fator tra-balho pelo fator capital, expresso, sobretudo, emnovas tecnologias (RANGEL, 2005, p. 165-167 ep. 185). Cabe ilustrar que na China, nas últimasduas décadas, a melhora das condições técnicas,como a elevação no número de tratores por 100km² de 66 para quase 300, gerou a ampliação de125% na produção de alimentos mesmo com odeclínio de 824 para 740 milhões de habitantesrurais (WORLD BANK, 2011).

No caso chinês, a grande abundância de mãode obra gerada pela decomposição da economianatural não tem sido impeditivo aos elevados in-vestimento em capital fixo e tampouco ao cres-cente aumento de salários, em grande medida de-vido às ações voltadas à ampliação da demandaexterna que garantem o ritmo acelerado de mo-dernização. Na verdade, as altas taxas de cresci-mento, a urbanização e a elevação salarial médiatêm gerado o adensamento do mercado interno,produzindo a necessidade de serviços e produtosque antes não eram colocados no âmbito da eco-nomia natural. É o caso, por exemplo, de apare-lhos e serviços urbanos, como abastecimento deágua, transporte coletivo, iluminação pública (e

4 Para ilustrar, seria um processo similar ao pensado paraBrasília, que serviria de núcleo de conexão com as áreasinterioranas, como o Centro-Oeste e o Norte do Brasil.Não difere muito também do caso de Chicago, nos EUA,que se transformou, na segunda metade do século XIX, nocentro dinâmico do meio-oeste e “ponte” para unificaçãonacional com o Oeste norte-americano. Para informaçõessobre Chongqing, ver o site oficial (CHONGQUINGMUNICIPAL GOVERNMENT, 2011).5 Segundo o relatório Economia e Sociedade da Ásia ePacífico 2008, o desenvolvimento do Oeste da China temsido expressivo, com redução da distância do Produto Inter-no Bruto (PIB) per capita entre o Leste e o Oeste do país,aumento do investimento em infraestrutura e elevação dopadrão de consumo. Ver China Radio Internacional (2008).

6 Recomenda-se a leitura do livro The Economy of Tibet(LI, 2008).

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privada), atendimento de saúde, redes de escolasetc., bem como de bens industriais que antes eramprodutos de autoconsumo, como alimentação eprodutos têxteis. Para ilustrar, entre 1990 e 2010,o consumo de energia per capita foi de 511 paramais de 2 800 kW/h e a quantidade de usuários deinternet e de celular foi de zero para 30% e quase60%, respectivamente (idem).

A ampliação do mercado interno de 35% para55% do PIB foi, inclusive, uma determinação do12º Plano Quinquenal (PQ) (2011-2015). No mes-mo sentido, o 12º PQ prevê a estruturação de umsistema de seguridade social e um conjunto depolíticas sociais para melhorar o padrão de vida,reduzindo os problemas da distribuição de rendae, por sua vez, conferindo mais estabilidade polí-tica ao país. Com efeito, os programas sociaistenderão a liberar parte da elevada poupança parao consumo o que, juntamente com a meta de im-plantação de um sistema de salário mínimo e deampliação de seu poder de compra, deverão for-talecer sobremaneira a economia chinesa(CHINESE GOVERNMENT, 2011). O alargamen-to do mercado interno nas últimas duas décadaspode ser mensurado pela elevação do PIB per capitaem poder de paridade de compra de 800 para maisde sete mil dólares e pelo crescimento da popula-ção urbana de 311 para quase 600 milhões de ha-bitantes urbanos, sendo que saltou de 9% paraquase 18% vivendo em cidades com mais de ummilhão de habitantes (idem).

Enfim, as reformas colocaram em outro pata-mar o desenvolvimento chinês, aproximando o paísdo grande desafio de formar uma economia con-tinental em sintonia com a Terceira Revolução In-dustrial (OLIVEIRA, 1998, p. 5)7. Mesmo comuma renda per capita baixa, a China já se conver-teu em uma locomotiva da economia mundial, nacondição de maior exportador (2009) e segundomaior PIB (2010) do mundo8. No médio prazo,

como o PIB chinês está artificialmente reduzidoem dólares em razão da desvalorização da moeda,a tendência é que a valorização cambial amplie oPIB nominal do país (juntamente com sua capaci-dade financeira) sem, contudo, comprometer odesempenho do comércio exterior chinês (já quese dará em compasso com a evolução dacompetitividade). Conseqüentemente, a consoli-dação de uma economia continental na China for-talece o mercado interno e amplia o peso da eco-nomia9 sobre a região e o mundo. A elevação dospreços das commodities é apenas a “ponta doiceberg” de um mercado de potencial surpreen-dente.

III. CAPACIDADE ECONÔMICA E EFEITOGRAVITACIONAL

O desenvolvimento da economia continental naChina e o fortalecimento de sua projeção internaci-onal têm se dado de maneira articulada. Na verda-de, a capacidade econômica tem sido um instru-mento fundamental à universalização da políticaexterna chinesa (PAUTASSO, 2009). Da mesmaforma, “é esse grande mercado interno o centro degravidade da dinâmica econômica asiática”(MEDEIROS, 2006, p. 77). Portanto, é possívelsugerir que a capacidade econômica da China criauma espécie de efeito gravitacional que, por suavez, permite à diplomacia chinesa explorar essasvantagens sem ter de confrontar a ordem mundial.

De qualquer forma, o fortalecimento da posi-ção internacional do país oriental tem dependidodo seu planejamento das relações econômicas in-ternacionais. Primeiro, o controle do câmbio empatamares competitivos explicam parte do desem-penho exportador do país. Mais do que a ofertade mão de obra a baixo custo, as condiçõesmacroeconômicas como moeda desvalorizada, cré-dito estatal abundante e taxas de juros baixas são,combinadas a um conjunto de políticas industriais,comerciais e tecnológicas, estímulos governamen-tais à conquista de mercados externos. Some-se aisso a opção comercial agressiva voltada para trans-formar nichos em mercados de massa, obtendoganhos de escala com margens de lucro menores.

7 Segundo Oliveira (1998), a “primeira revolução”, queocorreu com a proclamação da República (1911), esteveassociada à resistência ao imperialismo japonês; a “segun-da revolução”, com a Revolução de 1949, coincidiu com oalinhamento com a URSS e posterior isolamento internaci-onal (1962) e a “terceira revolução”, com as Reformas (1978),articulou-se com o inicial alinhamento com os EUA e, que,obviamente, transformou-se em competição.8 Em 2009, a China exportou mais de US$ 1,2 trilhão dedólares, ultrapassando a Alemanha (CHINAULTRAPASSA A ALEMANHA, 2010) enquanto o PIB

alcançou US$ 5,878 trilhões, superando o do Japão, comUS$ 5,474 trilhões (CHINA SUPERA JAPÃO, 2011).9 Segundo China Radio Internacional (2010), no ano dacrise, 2009, a China representou 50% do crescimento mun-dial. E a perspectiva para os próximos anos é que possacontribuir com um terço do crescimento mundial.

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Segundo, a adoção de uma política de atraçãode investimentos externos diretos (IEDs) por meiode uma eficaz regulação estatal. A criação das Zo-nas Econômicas Especiais (ZEEs) talvez elucidede modo mais claro a concepção das reformas eo papel do planejamento. De quatro ZEEs iniciais(Shenzhen, Zhuhai, Shantou e Xiamen) criadasna primeira metade da década de 1980, as áreasespeciais foram diversificando-se em formatoinstitucional e econômico10 e distribuindo-se peloterritório como polos irradiadores da moderniza-ção. No caso dos investimentos externos diretos,também houve experimentação e regulação11, cri-ando restrições aos investimentos exclusivamen-te estrangeiros e estímulos aos investimentos comgestão conjunta (joint ventures). Ao fomentar jointventures com capitais chineses12, o governo esti-mulava as transferências tecnológicas e de técni-cas de gestão, ao mesmo tempo em quecondicionava a geração de saldos comerciais e pre-servava a capacidade decisória em território naci-onal.

Isso significou que o Estado chinês preservoua prerrogativa política sobre o planejamento eco-nômico e pôde criar mecanismos de internalizaçãoe difusão do desenvolvimento, reduzindo asvulnerabilidades e criando uma estratégia deintegração do país à economia mundial. Diferenteda visão de que a China desenvolvia-se como eco-nomia de enclave, baseada na exportação de bens apartir da absorção de investimentos estrangeiros(GILPIN, 2000, p. 378), a dinâmica do país orien-tal permaneceu fortemente assentada no investi-mento público, na exportação de empresas estataise na expansão doméstica do consumo (MEDEIROS,2006, p. 75). Os dados posteriores às reformas de1978 são ilustrativos (Gráfico 1). Em outras pala-vras, o governo chinês tem sabido explorar os in-vestimentos estrangeiros e o mercado mundial paradotar suas empresas de capacidade de competiçãoglobal; isso explica como a China está a ampliar ograu de agregação de valor das exportações, a pre-sença internacional de suas empresas estatais e ovolume de investimentos no exterior13.

GRÁFICO 1 – CONTRIBUIÇÕES AO CRESCIMENTO DO PIB CHINÊS (%)

FONTE: National Bureau of Statistics of China (2011).

10 Foram criadas as Zonas de Desenvolvimento Econômi-co e Tecnológico; as Zonas Francas; as Zonas de Desenvol-vimento de Indústrias de Alta e Nova Tecnologia; as ZonasFronteiriças de Cooperação Econômica e Zonas deProcessamento de Exportação (KE & JUN, 2004,p. 230-240).11 Os documentos “Regulamento de Orientação do Inves-timento Estrangeiro na China” e “Catálogo Guia de Inves-timento Estrangeiro em Setores Econômicos” definiam se-tores a serem estimulados, admitidos, restringidos e proi-

bidos. Da mesma forma, criavam regras para transferênciade tecnologia, fluxos de capitais, entre outros mecanismos(idem, p. 240-248).12 Cabe salientar que a participação de empresas estran-geiras nas exportações chinesas aparece inflacionada nasestatísticas, pois grande parte destas tem sociedade comcapitais nacionais.13 Recomenda-s a leitura do Comunicado n. 84 do IPEA,“Internacionalização das empresas chinesas: as priorida-des do investimento direto chinês no mundo” (IPEA, 2011).

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Em terceiro lugar, o fortalecimento das reser-vas internacionais do país como forma de proteçãodiante de instabilidades financeira internacionais. Noâmbito doméstico, a capacidade econômica (finan-ceira), formada pelos saldos comerciais, pelas re-servas internacionais e pela poupança, cria as con-dições para uma política de crédito expansiva (in-vestimento e consumo) produzindo taxas altas deformação de capital (47% do PIB) e um mercadointerno dinâmico. No âmbito internacional, a capa-cidade econômica chinesa permitiu ao país tornar-se uma alternativa de comércio, investimento e cré-dito para os países periféricos. Mesmo que a eco-nomia norte-americana preserve a primazia, inclu-indo a condição do dólar de reserva e ativo interna-cionais, os países emergentes romperam com oexclusivismo do Ocidente e de seu sistema deBretton Woods (FMI e Banco Mundial). Basta olhara distribuição das reservas internacionais e os cre-dores dos títulos do Tesouro dos EUA.

Assim, a relação entre a formação da econo-mia continental, o incremento da capacidade eco-nômica e o efeito gravitacional chinês têm se feitosentir de maneira mais evidente na esfera regio-nal, por meio do que denominamos de(re)constituição do sistema sinocêntrico(PAUTASSO, 2011a). É na estruturação de umsistema regional sinocêntrico que se percebe comotal relação explica a estratégia de ascensão daChina, a dinâmica de integração asiática e seusdesdobramentos sobre a transição sistêmica.

O protagonismo da China tem sido percebidoem todas as esferas da dinâmica regional. Na es-fera institucional, a diplomacia chinesa passou aingressar em mecanismos de integração regionais,como Asian-Pacific Economic Cooperation(APEC), Asean+3, Asia-Europe Meeting (ASEM),Fórum de Cooperação América Latina-Ásia doLeste (Focalal), e mesmo a liderar outros proces-sos, como a Organização de Cooperação deShanghai (OCS). Na esfera geográfica, aintegração da economia chinesa tem impulsiona-do a conexão entre a Bacia do Pacífico e a Eurásiapor meio da Ásia Central, com obras deinfraestrutura energética e de transportes e ampli-ação do comércio, dando uma feição moderna àantiga interligação da Rota da Seda. Na esferacomercial, a economia chinesa tornou-se o maiorparceiro comercial da maioria dos países da re-gião, sendo que mais da metade do comércio chi-nês está voltado à Ásia-Pacífico (Gráfico 1). Naesfera política, além de ser membro permanentedo Conselho de Segurança da ONU, a China gozade uma autonomia decisória que outros países daregião não possuem, o que explica a liderança emcontenciosos como na península coreana (Grupodos Seis). Na esfera populacional-cultural, é pre-ciso sublinhar que há uma histórica presença depopulações chinesas na Ásia que representam, nãoobstante eventuais tensões, uma rede de negóciose uma influência cultural decisiva, pois estes co-nhecem os sistemas legais, os referenciais de va-lores e o ambiente de negócios14.

GRÁFICO 2 – COMÉRCIO CHINÊS EM 2010 (MILHÕES DE DÓLARES)

Cabe tentar compreender como a reconstituiçãodo sistema sinocêntrico está a sintetizar elemen-tos novos e velhos da região. De um lado, a longatradição do sistema regional asiático baseou-se nabaixa freqüência de guerras entre os estados, nas

14 São cerca de 55 milhões de chineses no Sudeste Asiáticocom recursos financeiros desproporcionais ao seu contin-gente populacional na Malásia, na Tailândia, na Indonésia enas Filipinas, além dos três quartos de população chinesaem Cingapura (ver PINTO, 2000, p. 44).

FONTE: Euromonitor International (2011).

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raras redefinições territoriais15, na ausência decompetição entre si para construir impérios ultra-marinos e no reduzido ímpeto de envolverem-seem corridas armamentistas em comparação como sistema europeu, em que a combinação peculiarentre capitalismo, militarismo e territorialismo criouas condições competitivas para a dominação emescala global (ARRIGHI, 1998, p. 324, 328;FIORI, 2009). Isso explica a razão pela qual odesenvolvimento chinês não revela nem compor-tamento revisionista nem mentalidade expansionista,de modo que a prioridade é a integridade territorialem vez da reprodução do militarismo japonês-ale-mão (GOLDSTEIN, 2003, p. 86)16.

Na atualidade, a integração asiática está basea-da em um sistema hierárquico cujas característi-cas diferem substancialmente do sistemawestphaliano: os estados mais fracos buscam be-nefícios em vez do balanceamento frente ao maisforte; o Estado central busca minimizar os confli-tos com os países mais fracos, provendo meiospara ajustar-se a circunstâncias imprevistas; a hie-rarquia é sustentada não somente pelo poder mate-rial, mas por normas culturais compartilhadas queservem para mitigar o dilema de segurança e au-mentar o nível de comunicação e confiança entreos estados do sistema; por fim, o Estado centraltem baixo nível de interferência nos assuntos dospaíses mais fracos, respeitando a autonomia naorganização doméstica e nas relações exteriores.Portanto, enquanto o sistema regional asiático con-sidera que há uma hierarquia formal e uma igualda-de informal; no sistema europeu reconhece-se umaigualdade formal entre os países e uma hierarquiainformal que expõe na prática poderes despropor-cionais (KANG, 2003, p. 167-168)17.

Enfim, analisando em perspectiva história, épossível elucidar as mudanças na geografia dopoder na região e a estratégia de inserção interna-cional chinesa. A saída dos EUA do Vietnã permi-tiu à China sua reinserção no mundo e a amplia-ção de sua presença na Ásia. Com o Acordo Plaza,em 1985, a China começou a beneficiar-se doimpulso desenvolvimentista na região, gerado pelosistema de subcontratação e transplante da pontade menor valor agregado do sistema produtivojaponês (ARRIGHI, 1998, p. 110-114). Isso ocor-reu porque, mesmo deslocando outros países pro-dutores de bens de consumo de terceiros merca-dos, a China ampliou muito a sua demanda e, con-seqüentemente, as exportações asiáticas, provo-cando um efeito gravitacional ainda mais notável(MEDEIROS, 2006, p. 81). A crise do milagrejaponês a partir dos anos 1980 e o fim da URSS,em 1991 deslocaram, progressivamente, oepicentro para a China devido ao dinamismo eco-nômico-comercial e ao fim das fraturas ideológi-cas oriundas da bipolaridade e da ruptura sino-soviética.

IV. A ESTRATÉGIA INTERNACIONAL CHINE-SA E A TRANSIÇÃO SISTÊMICA

Da mesma forma que o desenvolvimento daeconomia continental norte-americana moldou ahistória do século XX, consagrando instituiçõesinternacionais a ela associadas, o mesmo proces-so na China também produzirá impacto notávelna ordem mundial em meados do século XXI(JABBOUR, 2010, p. 214). Se a transição sistêmicaem curso e a ascensão chinesa são irrefreáveis,resta, isso sim, acompanhar e compreender comoa ordem mundial vai adaptar-se à China e esta irámoldá-la ao fornecer novas soluções sistêmicas(ARRIGHI & SILVER, 2001, p. 296).

Os contextos de transição sistêmica são ca-racterizados pelo rearranjo de forças no sistemainternacional, o que se desdobra na abertura deespaços para os países emergentes. Ironicamen-te, desde a década de 1970, em especial após aGuerra Fria, a máxima expansão sistêmica dosEUA coincidiu com a intensificação da competi-ção entre suas unidades, reflexo da multiplicaçãode estados soberanos, posterior à descolonizaçãoafro-asiática, e da ascensão de novos polos de

15 Conforme Kang (2003, p. 170), em 1500 a Europapossuía cerca de 500 unidades territoriais, já em 1900, cer-ca de 20. O mapa europeu mudou sensivelmente nos perí-odos do Entre Guerras, da Guerra Fria e depois dela, com osurgimento e o desaparecimento de países e impérios. Nocaso da Ásia, os ciclos de violência explicam-se, em parte,em razão da diluição do sistema hierárquico e na conversão“realista” de países como o Japão.16 Conforme Goldsten (2003, p. 86), a China tem adotadouma estratégia neobismarckiana voltada à realização de seusinteresses e com baixo grau de tensionamento; o que nãosugere a inexistência de riscos internacionais, sobretudo.17 O sistema hierárquico da região elucida, por exemplo,as razões pelas quais (i) os países asiáticos reagem de ma-neira diferente à dos EUA na questão de Taiwan (inclusive

o Japão) e (ii) países como Vietnã e Coréia do Norte acei-tam a posição central da China na região (ver KANG, 2003).

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poder, com destaque para a Ásia e a China (FIORI,MEDEIROS & SERRANO, 2008, p. 24, 66). Acrescente competição interempresarial einterestatal é parte da transição sistêmica, eviden-te na readequação das bases territoriais de acu-mulação do capital, na formação de novos arran-jos político-diplomáticos entre os espaços globale nacional e nas transformações sociais decor-rentes de uma ampla reestruturação do capitalis-mo (ARRIGHI & SILVER, 2001, p. 39).

Nesse quadro de reorganização de forças, aChina tem sido mais do que um simples país emdesenvolvimento, mas um típico país emergente,já que está experimentando a ampliação dos re-cursos de poder e da capacidade de contribuir paraa gestão do sistema internacional, ao passo que setorna mais legítimo para desempenhar um papelrelevante na arena internacional (HURRELL, 2009,p. 22). Quer dizer, além da ampliação de suas ca-pacidades materiais, a China tem tido uma inser-ção internacional em escalas regional e global, aomesmo tempo em que se integra plenamente àeconomia mundial e aos organismos multilaterais.Esse maior envolvimento na política e nos negó-cios internacionais vem acompanhado de umamaior autonomia na capacidade de formulação desua estratégia internacional.

Como mais evidente potência emergente, aChina combina ações diplomáticas voltadas à pre-servação da estabilidade e à reforma do sistemainternacional. Isto é, a defesa do status quo per-mite ao país acumular forças e garantir certa se-gurança (hedging) ao passo que busca uma aco-modação à nova realidade internacional (FOOT,2009, p. 125-152). Nesse sentido, a diplomaciachinesa tem estabelecido uma estratégia que com-bina (i) a integração ao sistema internacional, (ii)o envolvimento cada vez mais expressivo com ospaíses do Sul por reformas do sistema e (iii) acondição de líder do espaço regional.

A integração chinesa ao sistema internacionaltem se dado de modo gradual desde a liderança deDeng Xiaoping e, especialmente, após a GuerraFria. Por isso, a China aderiu aos regimes de con-trole de armamentos (Tratado de Não-Prolifera-ção Nuclear; à Convenção de Armamentos Quí-micos; à Convenção de Armamentos Biológicos eao Tratado para a Proibição Completa de TestesNucleares); passou a envolver-se em operaçõesde paz coordenadas pela ONU; apoiou 84% dasresoluções do Conselho de Segurança da ONU,

abstendo-se das demais; realizou concessões subs-tantivas a fim de ingressar na OMC; integrou oBanco Mundial e virou o maior tomador de crédi-tos; assinou pactos voltados à defesa das institui-ções e direitos civis (Pacto Internacional dos Di-reitos Econômicos, Culturais e Sociais, Pacto In-ternacional de Direitos Civis e Políticos), entreoutras ações (idem, p. 24-28).

Isso também revela que a política externa chi-nesa tornou-se crescentemente assertiva e pas-sou a fortalecer sua atuação multilateral desdemeados dos anos 1990. Até então, o ceticismochinês com relação à atuação multilateral devia-seà percepção de que o país sofria nesses fóruns aspressões e as manipulações dos EUA e do Japão.Tal mudança de comportamento representa o ob-jetivo de reduzir as percepções de ameaça e osriscos do isolamento, de diversificar e ampliar ainterdependência com várias regiões do globo ede fortalecer suas forças armadas para desenvol-ver capacidade dissuasória (GOLDSTEIN, 2003,p. 61-85). Apesar da assimetria de poder, as orga-nizações internacionais também poderiam restrin-gir a atuação do Ocidente e dos EUA e equilibrar aordem mundial por meio da aproximação comoutros países do Sul.

A mudança de uma atuação internacional de-fensiva e voltada às relações bilaterais para ummaior ativismo diplomático no âmbito multilateralrevela também outro nível de engajamento da di-plomacia chinesa. Cabe destacar a participação emorganismos internacionais (FMI, Banco Mundiale OMC), o envolvimento em mecanismos deintegração regionais voltados à segurança (OCS)e as ações direcionadas ao combate de ameaçasnão tradicionais (SARS18, terrorismo e tráfico dedrogas) à estabilidade do desenvolvimento chinês(WANG, 2005, p. 159-165).

Paralelamente, o governo chinês atua para li-derar os países do Sul, visando a mudanças e/ouresistência frente assimetrias da ordem mundial.Por isso, a diplomacia da China tem enfatizadotanto a defesa da soberania quanto sua identidadede semicolônia e país subdesenvolvido – emboraseja membro do Conselho de Segurança da ONU,tenha armas nucleares e tenha poder econômicocrescente, incluindo a condição de segundo mai-

18 Severe Acute Respiratory Syndrome (Síndrome Respi-ratória Aguda Severa).

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or PIB mundial (FOOT, 2010, p. 31). O fato éque a China tem buscado um espaço próprio, re-afirmando-se como alternativa ao Ocidente paraos países periféricos, na medida em que defendeum modelo de interação internacional baseado nosganhos mútuos, como são os casos das teses ofi-ciais do “mundo harmonioso” e/ou do Consensode Pequim. Contudo, o desafio dos EUA é que aChina está beneficiando-se tanto da aceitação daspróprias regras formuladas pelo Ocidente(BRESLIN, 2010, p. 55), quanto dos modelos al-ternativos que o país oriental tem proposto.

A política externa chinesa parece ter percebi-do que a cooperação Sul-Sul é cada vez mais umarealidade da diversificação do cenário internacio-nal e uma estratégia para tal. O caso das relaçõessino-africanas é ilustrativo do fortalecimento doeixo Sul-Sul, seja pela evolução da interação eco-nômica (comércio e investimentos), seja pelo in-cremento do diálogo diplomático, como atesta oFórum de Cooperação China-África (PAUTASSO,2010a; 2010b). Enquanto a Europa perdia ímpetoe os EUA priorizavam outras regiões, os paísesemergentes (China, Índia e Brasil) aproveitam asoportunidades que se abriam no continente afri-cano com a virada do século.

Em razão da capacidade limitada de atuar naarena internacional, o espaço regional também re-presentam oportunidade para os países emergen-tes assumirem iniciativas mais ousadas. No casochinês, a região, que até o fim da Guerra Fria erapercebida com desconfiança, passou a represen-tar o foco central do engajamento e da coopera-ção para dirimir ameaças à segurança (isolamen-to, separatismos e epidemias) e impulsionar aintegração econômica regional (BRESLIN, 2010,p. 33-38). A reconstituição de um sistemasinocêntrico revela a reorganização das forças e omaior engajamento chinês na região.

Essas características da integração da Chinaao sistema internacional indicam também que atransição em curso tem particularidades em rela-ção às demais. A ordem mundial constituída apósa II Guerra Mundial, sob liderança dos EUA, pos-sui um sistema de regras e instituições bastantedenso, abrangente e legítimo e, ao mesmo tempo,uma estrutura hierárquica de poder (inclusive nu-clear) muito expressivo. Isso favorece tanto aacomodação quanto limita a subversão da ordemexistente. Com efeito, os EUA não podem impedira ascensão da China, mas podem contribuir para

acomodá-la à nova ordem (IKENBERRY, 2010,p. 71-72, 80). Não interessa, portanto, à Chinasubverter a ordem mundial justamente porque temsido a grande beneficiada do status quo; interessaao país oriental, isso sim, deslocá-la para ocuparuma posição que confira, a um só tempo, segu-rança e protagonismo. Fica evidente o desejo chi-nês de apresentar-se como uma potência coope-rativa, evitando as teses de “ameaça chinesa” e oisolamento proposto pelo Ocidente (sobretudodepois de 1989), ao mesmo tempo em que explo-ra as vantagens que a arena internacional tem pro-piciado.

O desafio chinês é lidar com as incertezas erearranjos de poder que se intensificaram com ofim da Guerra Fria, bem como com uma super-potência (EUA) que tem buscado reafirmar-secomo único poder, expandindo seus domínios in-ternacionais. No campo militar, o expansionismodos EUA deu-se sobre os antigos espaços soviéti-cos ao entorno da nova Rússia, incluindo a ex-pansão da OTAN, a intervenção militar nos Balcãs,as ingerências em países como Ucrânia e Geórgiae a presença na Ásia Central, Paquistão eAfeganistão; a projeção de força sobre o OrienteMédio, com intervenções no Iraque duas vezes ea recente intervenção na Líbia e a ampliação dainfraestrutura militar pelo mundo. No campo eco-nômico, a imposição, via organismos multilate-rais, de seus interesses por meio de agendas eco-nômicas e institucionais de tipo neoliberal fortale-ceu os movimentos sociais de resistência às re-formas impopulares, bem como regimes de cen-tro-esquerda. No campo diplomático, o uso deinstrumentos ideológicos como “intervenção hu-manitária”, “ataque preventivo” e “direito de pro-teger” recrudesceu a arbitrariedade do poder eforçou a criação de articulações de resistência, aopasso que fragilizava as instituições mundiais.

Contudo, as duas últimas décadas não foramapenas de ofensiva diplomático-militar dos EUA,foram também de reestrutura da economia mun-dial, de emergência de novos polos de poder e,por sua vez, formação de novas coalizões e ali-nhamentos internacionais. De um lado, a dificul-dade dos EUA não está somente na China, mas nacapacidade da diplomacia norte-americana em re-novar a liderança sob instituições multilaterais queeles próprios fragilizaram a legitimidade, comoOMC, Conselho de Segurança da ONU, TribunalPenal Internacional, Tratado de Não-ProliferaçãoNuclear, Protocolo de Quioto etc. De outro, a China

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A ECONOMIA CONTINENTAL CHINESA E SEU EFEITO GRAVITACIONAL

explora essas contradições buscando as linhas demenor resistência para ampliar seu espaço inter-nacional – inclusive por saber que o declínio rela-tivo dos EUA difere de um colapso, uma vez queo país preserva instrumentos de poder cruciais,como primazia militar e financeira19. Em suma, aChina tem se engajado nos organismos multilate-rais e, paralelamente, rejeitado, de maneira enfáti-ca, as tentativas de normatizar o desenvolvimento(câmbio, instituições etc.) e/ou ameaçar a segu-rança (Tibete, Taiwan etc.).

V. CONCLUSÕES

A inserção chinesa é resultado de uma mudan-ça que o país oriental teve de operar na sua estra-tégia internacional para poder viabilizar a corre-ção de rumos no modelo de desenvolvimento na-cional. Não foi apenas mudança de discurso; ogoverno chinês, a partir dos anos 1970, modifi-cou sua diplomacia de maneira substantiva, mes-mo que sem sobresssaltos, para superar o isola-mento internacional e os percalços internos. Istoé, a China explorou novas coalizões e estratégiaspara adequar os desígnios de modernização às al-terações de dinâmica do cenário mundial. A apro-ximação com os EUA nos anos 1970-1980 e ofim da bipolaridade nos anos 1990 exigiu da polí-tica externa chinesa capacidade de reagir a mu-danças drásticas de alianças e de correlação deforças, assim como de disputas internas e de rea-ções internacionais.

A diplomacia chinesa tem, portanto, optadopelo fortalecimento do multilateralismo, por meiodo envolvimento tanto em organismos consagra-dos pela ascendência ocidental quanto em novosmecanismos multilaterais com a região e/ou noâmbito Sul-Sul. A diversificação das alianças e dascoalizões amplia a atuação chinesa no cenário in-ternacional, obtendo instrumentos para promovero desenvolvimento nacional e evitando eventuaistentativas de isolá-la. A estratégia da China com-bina um esforço de desenvolvimento das capaci-dades nacionais e de promoção de novas parceri-as internacionais com um nível de compromissoeconômico e diplomático internacional voltado amaximizar os benefícios de interdependência.

Trata-se de um contexto internacional de ex-pansão competitiva entre os estados, sem, contu-do, formar um único poder global, tampouco eli-minar a importância e o poder das economias na-cionais. E o histórico processo de oligopolizaçãodo poder e da riqueza em escala global (FIORI,2009, p. 173) fortalece as estruturas de poder emdisputa. Isso explica por que se transitou de po-tências no século XIX (Grã-Bretanha e França),para superpotências no século XX (EUA e URSS),e atualmente assistimos a projeção de grandeseconomias nacionais capazes de liderar proces-sos de integração regionais (União das Nações Sul-Americanas (Unasul), OCS, União Européia, Tra-tado Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta),Southern African Development Community(SADC), South Asian Association for RegionalCooperation (Saarc)). Embora não seja tarefa fá-cil, é imprescindível decifrar o nexo entre o de-senvolvimento nacional e a estratégia internacio-nal da China e seu impacto em um mundo emtransformação.

Diego Pautasso ([email protected]) é Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do RioGrande do Sul (Ufrgs) e Professor de Relações Internacionais na Escola Superior de Propaganda eMarketing (ESPM).

19 Os EUA ainda possuem ascendência sobre as estrutu-ras hegemônicas de poder nos campos financeiro (FMI,Banco Mundial e dólar), militar (OTAN, Anzus (Australia,New Zealand and United States Treaty) e Seato (SoutheastAsia Treaty Organization)), político (ONU), comercial(OMC) etc.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 145-148 NOV. 2011

THE CHINESE CONTINENTAL ECONOMY AND ITS GRAVITATING EFFECT

Diego Pautasso

The present article looks at national development and China’s international positioning. Our goal isto discuss how the formation of a continental economy in China has become a factor of that country’sprojection within the international system, analyzing how the formation of a continental economyproduces a sort of gravitational effect that favors the formulation of a Chinese international strategywithin this conjuncture of systemic transition. We discuss several recurrent analyses of the China’sdevelopment and international position. Our central arguments is that the development of a conti-nental economy and the widening economic capacity that has accompanied it have become a keyinstrument of Chinese foreign policy. In other words, China tends to have a strong gravitationaleffect at the global level which it uses as part of its international strategy. We organize the text in thefollowing manner: first, we discuss the recent evolution of Chinese development, focusing on thechallenges of forming an economy of continental dimension; second, we look at how growing Chineseeconomic abilities imply an increasing gravitational effect on the country at a global level and finally,we argue that Chinese diplomacy uses these prerogatives (economic capacity) to unleash aninternational strategy that, within this situation of systemic transition, allows the country to widenthe scope of its international performance by searching for the routes of lesser resistance.

KEYWORDS: China; Continental Economy; Gravitational Effects.

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CHINA IN SOUTH AMERICA AND THE GEOPOLITICAL IMPLICATIONS OF THE PACIFICCONSENSUS

Javier Vadell

This article analyzes the political implications of the increasing interdependence of the People’sRepublic of China (PRC) and South American countries. We present data on PRC investment andtrade in the region and highlight several points of diplomatic progress in terms of bi-lateral cooperationfor the 21st century. Our starting point is the issue of whether we face a relationship that couldconstitute a new form of South-South cooperation or whether it is more representative of the typicalNorth-South pattern or system – albeit one with its own peculiarities. We refer to this relationshippattern as Pacific Consensus (PC). Although short term, the China factor may stimulate growth inthe region, it also has different implications for the development of countries with an importantindustrial sector – such as Brazil and Argentina – and those that do not – such as Chile and Peru –which have all signed free trade agreements with the Asiatic giant. We conclude with someconsiderations regarding the consequences that the PC has in terms of Latin American integration.

KEYWORDS: China; South America; Integration, Pacific Consensus.

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THE POLITICS OF CHINESE SPACE COOPERATION: STRATEGIC CONTEXT ANDINTERNATIONAL SCOPE

Marco Cepik

This article explains the People’s Republic of China’s policies of international cooperation for spaceexploration activities. In the first place, given the tri-polar power structure of the international systemand the increasing dependence that all countries have on the use of outer space, we can explainChinese motivation for spatial cooperation as unfolding from the search for security, economicdevelopment and legitimacy. Next, we demonstrate the Chinese spatial program’s current state ofdevelopment, with particular attention to image, navigation, communication and data transmissionsatellites, as well as micro and nanosatellites. Given structural incentives, strategic goals and the

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº SUPLEMENTAR: 151-154 NOV. 2011

L’ECONOMIE CONTINENTALE CHINOISE ET SON EFFET GRAVITATIONNEL

Diego Pautasso

L’article aborde le développement national et l’insertion internationale de la Chine. L’objectif, c’estde discuter comment la formation d’une économie continentale en Chine devient un facteur deprojection de ce pays dans le système international, en analysant la manière dont la formation d’uneéconomie continentale produit une espèce d’effet gravitationnel qui favorise la formulation de lastratégie internationale chinoise dans cette conjoncture de transition systémique. L’article estdéveloppé par la discussion, avec des analyses récurrentes, sur le processus de développement etd’insertion internationale de la Chine. Le principal argument soutenu dans l’article est celui selonlequel, le développement de l’économie continentale et l’agrandissement de la capacité économique,deviennent un instrument de la politique extérieure chinoise. Autrement dit, la Chine tend à créer unfort effet gravitationnel à l’échelle mondiale, et à l’utiliser comme partie de sa stratégie internationale.Voici comment l’article est organisé: dans la première partie, nous examinons l’évolution récente dudéveloppement chinois, en soulignant les défis de la formation d’une économie avec des dimensionscontinentales ; dans la deuxième partie, nous traitons du développement de la capacité chinoise etcomment celle-ci implique un effet gravitationnel croissant du pays à l’échelle mondial ; ultimement,nous argumentons que la diplomatie de la Chine utilise ces prérogatives (la capacité économique), pourdéclencher une stratégie internationale qui permet au pays, dans ce cadre de transition systémique,d’élargir son espace de performance internationale, en cherchant les lignes de moindre résistance.

MOTS-CLÉS: la Chine ; l’économie continentale ; l’effet gravitationnel.

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LA CHINE EN AMÉRIQUE DU SUD ET LES IMPLICATIONS GÉOPOLITIQUES DUCONSENSUS DU PACIFIQUE

Javier Vadell

L’article analyse les implications politiques de la croissante interdépendance économique entre laRépublique Populaire de la Chine (RPC) et les pays de l’Amérique du Sud. Des données sur lecommerce et l’investissement de la RPC dans la sous-région sont présentées, et les progrèsdiplomatiques en matière de coopération bilatéral dans le XXI siècle sont soulignés. Premièrement,nous cherchons à savoir si nous sommes devant un modèle de relation qui pourrait constituer unerelation renouvelée de coopération Sud-Sud, ou bien, un nouveau type de relation Nord-Sud. Selonnotre hypothèse, l’évolution et la dynamique de cette relation ressemblent plutôt à un système ou àun modèle Nord-Sud aves des caractéristiques bien particulières. Nous appelons ce modèle derelation, le Consensus du Pacifique (CP). Malgré que le facteur Chine stimule, à court terme, lacroissance de la sous-région, le CP a des implications différenciées pour le développement des paysqui détiennent un secteur industriel important – ex. Le Brésil et l’Argentine – et ceux qui n’en ontpas – ex. le Chili et le Pérou, qui ont même signé des traités de libre commerce avec le géantasiatique. L’article est conclu avec quelques observations sur les conséquences du CP dans leprocessus d’intégration sud-américaine.

MOTS-CLÉS: la Chine ; l’Amérique du Sud ; l’intégration ; le Consensus du Pacifique.

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LA POLITIQUE DE LA COOPÉRATION SPATIALE CHINOISE : LE CONTEXTESTRATÉGIQUE ET L’ATTEINTE INTERNATIONALE

Marco Cepik

L’article explique les politiques de coopération internationale de la République Populaire de la Chine,liées aux activités dans le domaine spatial. Premièrement, en ayant la structure de pouvoir tripolaire