À dona sophia simple, rainha do cinema

1
www.sitelovecraft.cjb.net [email protected] “À Dona Sofia Simple, Rainha do Cinema” – H.P. Lovecraft Fonte: “Os Fungos de Yuggoth”. Black Sun Editores Tradução: Nicolau Saião Quem é Nicolau Saião? Nicolau Saião (Portugal, 1946). Poeta, artista plástico e ensaísta. Autor de livros como Passagem de nível (1992), Flauta de pan (1998) e Os olhares perdidos (2000). Contato: [email protected] Esse mutável rosto, em frente ao nosso olhar De alegrias e tristezas nos desvenda um amor, E o trejeito risonho assombra-nos deveras. Mas duma vez por todas, aprende a actuar! Teus olhos brilham mais do que as estrelas E a tua boca é com o arco de Cupido. Bem rosadas e firmes tens as maçãs do rosto. Então porque serás tão docemente estúpida? O herói só de ver-te fica mais do que rendido E já só quer apod’rar-se da tua mãozinha bela. Ah! O pobre palerma, que lástima nos causa, Esta vítima mais do teu riso de tôla! E sendo assim, porque choramos nós Ao ver o trágico destino que te cabe? No fundo é natural – por um mísero tostão Alguma maravilha queríamos ver então?!! Nota – Incursão nada habitual de HPL pelos domínios da sátira aplicada a um facto do mundo cotidiano. Lovecraft – como se referiu na Indrodução – gostava muito de cinema, dos “serials” aos depois tidos como clássicos. 1

Upload: tiago-inacio

Post on 10-Dec-2015

212 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Homenagem de H.P. Lovecraft à Sophia, atriz de cinema.

TRANSCRIPT

Page 1: À Dona Sophia Simple, Rainha Do Cinema

www.sitelovecraft.cjb.net [email protected]

“À Dona Sofia Simple, Rainha do Cinema” – H.P. Lovecraft

Fonte: “Os Fungos de Yuggoth”. Black Sun Editores

Tradução: Nicolau Saião

Quem é Nicolau Saião? Nicolau Saião (Portugal, 1946). Poeta, artista plástico e ensaísta. Autor de livros como Passagem de nível (1992), Flauta de pan (1998) e Os olhares perdidos (2000). Contato: [email protected] Esse mutável rosto, em frente ao nosso olhar De alegrias e tristezas nos desvenda um amor, E o trejeito risonho assombra-nos deveras. Mas duma vez por todas, aprende a actuar! Teus olhos brilham mais do que as estrelas E a tua boca é com o arco de Cupido. Bem rosadas e firmes tens as maçãs do rosto. Então porque serás tão docemente estúpida? O herói só de ver-te fica mais do que rendido E já só quer apod’rar-se da tua mãozinha bela. Ah! O pobre palerma, que lástima nos causa, Esta vítima mais do teu riso de tôla! E sendo assim, porque choramos nós Ao ver o trágico destino que te cabe? No fundo é natural – por um mísero tostão Alguma maravilha queríamos ver então?!! Nota – Incursão nada habitual de HPL pelos domínios da sátira aplicada a um facto do mundo cotidiano. Lovecraft – como se referiu na Indrodução – gostava muito de cinema, dos “serials” aos depois tidos como clássicos.

1