a disciplina de cultura religiosa na puc minas

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  • 7/26/2019 A Disciplina de Cultura Religiosa Na Puc Minas

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    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAISPrograma de Ps-Graduao em Cincias da Religio

    Joelma Aparecida dos Santos Xavier

    A DISCIPLINA DE CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS: ASPECTOSFENOMENOLGICOS E TICOS COMO TPOSPRIVILEGIADO DO DILOGO

    Belo Horizonte2013

  • 7/26/2019 A Disciplina de Cultura Religiosa Na Puc Minas

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    Joelma Aparecida dos Santos Xavier

    A DISCIPLINA DE CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS: ASPECTOS

    FENOMENOLGICOS E TICOS COMO TPOSPRIVILEGIADO DO DILOGO

    Dissertao apresentada ao Programa dePs-Graduao em Cincias da Religio daPontifcia Universidade Catlica de MinasGerais, como requisito parcial para

    obteno do ttulo de Mestre.

    Orientador: Prof. Dr. Mrcio Antnio dePaiva

    Belo Horizonte2013

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    FICHA CATALOGRFICAElaborada pela Biblioteca da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais

    Xavier, Joelma Aparecida dos SantosX3d A disciplina de Cultura Religiosa na PUC Minas: aspectos fenomenolgicos

    e ticos como tposprivilegiado do dilogo / Joelma Aparecida dos SantosXavier. Belo Horizonte, 2013.96f.

    Orientador: Mrcio Antnio de PaivaDissertao (Mestrado)Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais.

    Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio.

    1. Ensino religioso Minas Gerais. 2. Ensino superior Aspectos religiosos.3. Fenomenologia. 4. tica. I. Paiva, Mrcio Antnio de. II. PontifciaUniversidade Catlica de Minas Gerais. Programa de Ps-Graduao em Cinciasda Religio. III. Ttulo.

    CDU: 291

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    Joelma Aparecida dos Santos Xavier

    A DISCIPLINA DE CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS: ASPECTOSFENOMENOLGICOS E TICOS COMO TPOSPRIVILEGIADO DO DILOGO

    Dissertao apresentada ao Programa dePs-Graduao em Cincias da Religio daPontifcia Universidade Catlica de MinasGerais.

    ___________________________________________________Prof. Dr. Mrcio Antnio de Paiva (Orientador)PUC Minas

    ___________________________________________________Prof. Dr. Sergio Rogrio Azevedo JunqueiraPUC PR

    ___________________________________________________Prof. Dr. Carlos Frederico Barboza de SouzaPUC Minas

    Belo Horizonte, 22 de maro de 2013

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por estar sempre em meu caminho iluminando meus passos, dando

    fora para enfrentar os desafios da vida.

    minha famlia, pelas oraes e pela torcida para que eu nunca desista dos

    meus sonhos.

    Ao meu esposo Anderson por me incentivar na continuao dos estudos e por

    encurtar a distncia entre Ouro Preto e Belo Horizonte quando me levava de carro

    para a PUC. Neste momento de agradecimento, peo a ele desculpas pelos

    momentos que fiquei ausente, em passeios com amigos, momentos familiares,

    dentre outros momentos importantes.

    Ao meu orientador padre Mrcio, pelo carinho da leitura atenta desta

    dissertao, pelo contato enriquecedor nos encontros e pelas palavras de conforto

    quando precisava.

    A todos os professores e funcionrios do Programa de Ps-Graduao em

    Cincias da Religio, sobretudo a Dnia, pelo carinho e dedicao aos ps-

    graduandos.

    Aos professores Flvio Senra, Roberlei Panasiewicz, Antnio Cantarela e NilzaBernardes, que desde a graduao trocaram ideias, tiveram cuidado comigo no

    apenas em sala de aula, mas nas conversas nos corredores, na troca de e-mail,

    entusiasmando-me para o mestrado.

    Aos meus amigos, especialmente os moradores de Belo Horizonte, que me

    acolheram nas diversas vezes que precisei dormir em BH.

    Agradeo a todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao

    desta pesquisa.

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    Esta pesquisa teve apoio da Coordenao de Aperfeioamento

    de Pessoal de Nvel SuperiorCAPES

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    RESUMO

    Diante das vrias tendncias relevantes que pretendem esclarecer se possvel

    uma relao entre Teologia e Cincias da Religio, intensificadas pelo desejo

    pessoal de compreender o papel das disciplinas de Cultura Religiosa I e II na

    formao pessoal, profissional e religiosa dos universitrios da PUC Minas, esta

    dissertao tem por objetivo pesquisar, na histria da PUC Minas, a relevncia e o

    papel dessa disciplina, rediscutindo conceitos fenomenolgicos e ticos que

    propiciem o dilogo. Desse modo, as devidas respostas para a importncia ou no

    da Cultura Religiosa encontram-se na leitura dos documentos da Igreja Catlica que

    normatizam uma Universidade Catlica, na leitura dos documentos deparametrizao da Cultura Religiosa, bem como nas entrevistas a professores que

    ministram as disciplinas. Nesse sentido, busca-se analisar como os temas

    fenomenolgicos e ticos so trabalhados nos cursos, se so determinantes ou no

    para uma plena formao do aluno pautada no dilogo.

    Palavras-chave: Cultura Religiosa. Aspectos Fenomenolgicos. Aspectos ticos.Dilogo.

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    ABSTRACT

    Taking into consideration the new relevant tendencies that intend to clarify if it is

    possible a connection between Theology and Religions Science intensified by

    personal desire to understand the function of the subjects Cultura Religiosa I and II in

    personal, vocational and religious education of PUC Minas students, this thesis aims

    at the study of one of these tendencies in particular: research in PUC Minas history,

    the Cultura Religiosa importance and its function, rediscussing phenomenologyc and

    ethics concepts that lead us to the dialogue. The way to find the answers is in the

    Catholics church documents reading that say how a Catholic University have to be.

    The anwers can be found in Cultura Religiosa documents too as well as in theteachers interview. In that sense, this work intends to analyze how phenomenologyc

    and ethics aspects have been worked in PUC Minas as a dialogue tpos.

    Keywords: Cultura Religiosa. Phenomenologyc Aspects. Ethics Aspects. Dialogue.

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    LISTA DE SIGLAS

    ABESC - Associao Brasileira de Escolas Superiores Catlicas

    ATA - Antropologia Teolgica

    CCHSA - Centro de Cincias Humanas e Sociais Aplicadas

    CNBB - Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil

    CR - Cultura Religiosa

    FDC - Fundao Dom Cabral

    FUMARC - Fundao Mariana Resende Costa

    PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional

    PUC MINAS - Pontifcia Universidade Catlica de Minas GeraisPUC PR - Pontifcia Universidade Catlica do Paran

    SMC - Sociedade Mineira de Cultura

    U.C - Universidade Catlica

    UCMG - Universidade Catlica de Minas Gerais

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    SUMRIO

    1INTRODUO ......................................................................................................... 9

    2 BASE HISTRICA E FUNDAMENTAO ECLESIAL .......................................... 13

    2.1 Contexto social, cultural e religioso daPontifcia Universidade Catlica de Minas GeraisPUC Minas ........................ 25

    3 CARACTERIZAO DA DISCIPLINA CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS ... 34

    3.1 Perfil dos docentes de Cultura Religiosa na PUC Minas .............................. 38

    3.2 Cultura Religiosa: dispositivo institucionala multiplicidade de formas de

    expresso em outras instituies catlicas ......................................................... 45

    4 O DESVENDAR DA CULTURA RELIGIOSA....................................................... 51

    4.1 Emergncia fenomenolgica ......................................................................... 53

    4.2 Emergncia tica .......................................................................................... 58

    4.3 Relevncia do dilogo ................................................................................... 66

    5 HORIZONTES DE ARTICULAO ....................................................................... 75

    5.1 O valor existencial da Cultura Religiosa..................................................... 77

    5.2 A contribuio acadmica da Cultura Religiosa ............................................ 82

    5.3 Cultura em dilogo na contemporaneidade:entre Teologia e Cincias da Religio ................................................................ 87

    CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 91

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 94

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    1 INTRODUO

    Do contato com a Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais, ao longo

    de quatro anos de vida acadmica, a atrao pela histria dessa Universidade e a

    curiosidade em saber o porqu da existncia de uma disciplina comum a todos os

    cursos da Universidade me vieram por intermdio das disciplinas de Cultura

    Religiosa I e II.

    Neste sentido, foi fundamental estudar os fundamentos da disciplina Cultura

    Religiosa, bem como mostrar a experincia, a linguagem, as categorias

    fundamentaisde interpretao do fenmeno religioso, os desafios do dilogo inter-

    religioso em uma sntese da histria da PUC Minas. Nosso foco neste trabalho :A

    disciplina de Cultura Religiosa na PUC Minas: aspectos fenomenolgicos e ticos

    como um tpos privilegiado do dilogo. um estudo sobre a legalizao da Cultura

    Religiosa na PUC Minas e sua relao conflitiva como disciplina no interior da

    Universidade, analisadas pelos dois aspectos: fenomenolgico, em que se prope a

    descrio da experincia vivida da conscincia considerada no plano da

    generalidade essencial, e tico, que reflete a respeito da essncia das normas,

    valores e prescries presentes em qualquer realidade social. Aspectos que ocupamlugar importante em qualquer dilogo.

    A procura da justificativa da existncia da Cultura Religiosa I e II em suas

    respectivas ementas levou-me a situar, ainda que prematuramente, a preocupao

    da Universidade com o dilogo f e cincia, com a formao qualificada e com o

    testemunho cristo em meio ao mundo acadmico influncia da abertura

    ecumnica e do esprito de dilogo alavancada desde o Conclio Vaticano II. Dessa

    primeira impresso, nasceu o desejo de pesquisar mais profundamente sobre asdisciplinas, o que foi intensificado com a apresentao e anlise de pressupostos

    tericos e ideolgicos dos docentes que lecionam a Cultura Religiosa. As ementas

    de Cultura Religiosa I e II foram estudadas e professores foram questionados sobre

    quais seriam os objetivos da disciplina Cultura Religiosa na Universidade, se os

    contedos dessa disciplina so lecionados de maneira confessional, qual a

    importncia da Cultura Religiosa, do ponto de vista dos professores, na formao

    acadmica, na vida profissional e pessoal dos alunos.

    A procura pela explicao sobre a existncia da Cultura Religiosa com

    professores que ministram tal disciplina pretendeu fornecer informaes sobre a

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    importncia ou no da Cultura Religiosa, a fim de responder se os planos de ensino,

    as ementas e a prtica desses professores contemplam as aspiraes e as

    necessidades da atual sociedade brasileira, no que diz respeito a essa disciplina,

    conferindo-lhe statusde rea do conhecimento, garantindo a igualdade de acesso

    aos conhecimentos religiosos. Alm disso, prope-se a discusso de at que ponto

    a Cultura Religiosa contribui para manter a identidade de uma Universidade

    Catlica.

    As disciplinas de Cultura Religiosa I e II so obrigatrias em todos os cursos

    de graduao da PUC Minas. A problematizao sobre o tema proposto partiu das

    seguintes questes norteadoras:

    Quais so os aspectos fenomenolgicos e ticos da Cultura Religiosa I e IIimportantes para o dilogo?

    Com base em que o ensino dessas disciplinas ministrado?

    Como os professores de Cultura Religiosa inserem a disciplina no

    currculo em uma perspectiva de formao plena do cidado, no contexto

    de uma sociedade cultural e religiosamente diversa, na qual todas as

    crenas e expresses religiosas devem ser respeitadas?

    Ser que os professores ratificam a importncia e a necessidade dedisponibilizar aos universitrios, no conjunto dos conhecimentos

    acadmicos, contedos sobre a diversidade cultural religiosa, como uma

    das formas de promover e exercitar a liberdade de concepes e a

    construo da autonomia e da cidadania atravs do dilogo?

    Nesse sentido, a primeira inteno foi fornecer dados sobre a disciplina em

    questo, analis-la do ponto de vista de professores que ministram a disciplina,

    consciente, no entanto, que a anlise da Cultura Religiosa seria um trabalhocomplexo e extenso para ser realizado em apenas dois anos de mestrado. Optou-se

    ainda por delimitar o corpus da pesquisa a partir de professores e no de alunos,

    tendo em vista que, caso fossem considerados os alunos, esse corpus seria muito

    amplo.

    Desse modo, considerando pertinente a escolha de professores para os

    limites desta dissertao, a pesquisa limitou-se anlise da questo fundamental

    sobre o estudo do fenmeno religioso em um estado laico, a partir de pressupostoscientficos, que visam a formao de cidados crticos e responsveis, capazes de

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    discernir a dinmica dos fenmenos religiosos, que perpassam a vida em mbito

    pessoal, local e mundial.

    O objetivo geral desta pesquisa, portanto, foi analisar o papel da disciplina

    Cultura Religiosa da PUC Minas, valorizando o estudo fenomenolgico e tico da

    mesma, enfatizando as diversas expresses e crenas definidas como religiosas na

    perspectiva do dilogo.

    Para a seleo do corpus, a disponibilidade dos professores que atualmente

    ministram a Cultura Religiosa em participar da pesquisa foi utilizada como critrio.

    No houve o objetivo de definir rigorosamente quem participaria da pesquisa, se

    homem ou mulher, telogo ou no, se professor em quais cursos da PUC Minas,

    uma vez que apenas uma pequena parcela de professores se disps a participar dapesquisa. Procurou-se em geral deter-se nos dados desses professores que

    participaram, cujas contribuies representam significativos dados relevantes.

    Quanto anlise dos dados apresentados pelos professores e quanto

    pesquisa terica, foram explorados os mecanismos que fazem compreender que as

    diferentes crenas, grupos e tradies religiosas, bem como a ausncia delas, so

    aspectos da realidade que devem ser socializados e abordados como dados

    fenomenolgicos e ticos, capazes de contribuir para o dilogo, na interpretao ena fundamentao das aes humanas.

    Assim considerando, esta dissertao subdivide-se em quatro captulos: o

    primeiro captulo trata da base histrica de uma universidade e a sua

    fundamentao eclesial, bem como o contexto social, cultural e religioso em que foi

    criada a PUC Minas. Para a fundamentao eclesial, documentos como a

    Constituio Apostlica Sapientia Christiana, a Declarao Gravissimum Educationis

    e a Ex Corde Ecclesiae foram utilizados.O segundo trata dos aspectos histricos para entender a existncia da Cultura

    Religiosa em uma Universidade Catlica. Em seguida, tem-se a caracterizao da

    disciplina Cultura Religiosa, seus aspectos histricos, destacando a relevncia da

    disciplina na histria atual da PUC Minas. Realizou-se um grupo focal e entrevistas

    com professores e coordenadores para compreender elementos da importncia da

    disciplina, bem como conhecer o perfil dos docentes de Cultura Religiosa. Duas

    instituies, tambm catlicas, foram utilizadas para mostrar outras formas de

    expresso da Cultura Religiosa: a PUC Campinas e a PUC Paran.

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    O terceiro captulo trata de consideraes sobre a distino entre as vrias

    perspectivas constitudas na Cultura Religiosa, quais trs foram escolhidas para

    anlise: perspectiva fenomenolgica, perspectiva tica e perspectiva do dilogo.

    Atravs da anlise dos documentos de parametrizao da Cultura Religiosa, espera-

    se chegar contribuio da mesma para o respeito e dilogo entre as religies,

    dando destaque para os autores que se realam por seu movimento de busca do

    dilogo. A anlise se detm tanto no histrico e definio dessas trs perspectivas,

    quanto no caminho pelo qual essas perspectivas se tornaram amplamente

    produzidas na Cultura Religiosa. Dessa maneira, discorre-se sobre a aplicabilidade

    da Cultura Religiosa na vida do aluno.

    O quarto captulo concentra-se em alguns dos planos de ensino e ementasdas disciplinas de Cultura Religiosa I e II, escolhidos por amostragem, para

    compreender como as disciplinas so trabalhadas. A partir disso, analisa-se a

    abordagem comparativa que envolve os paradigmas da Teologia e das Cincias da

    Religio. Com a compreenso de como a Cultura Religiosa constituiu sua

    importncia existencial atualmente, sua contribuio acadmica, pretende-se

    entender como professores trabalham com a Cultura Religiosa nos diversos cursos

    da PUC Minas e influenciam ou no no imaginrio religioso dos universitrios. Essaetapa finalizada procurando apresentar a aproximao da Teologia e das Cincias

    da Religio, a partir do horizonte do dilogo na contemporaneidade. Para tal, foram

    escolhidos os planos de ensino dos cursos de Engenharia Mecnica, do curso de

    Letras e do curso de Enfermagem. No final desse captulo, ainda h uma

    apresentao, sucinta, do papel da Cultura Religiosa no debate: aspectos

    fenomenolgicos e ticos como tposprivilegiado do dilogo.

    Desse modo, esses captulos dialogam entre si a partir de uma anlise quebusca traar caractersticas comuns entre as perspectivas selecionadas, tentando

    pontuar o que serve de modelo para se trabalhar com a Cultura Religiosa, o que

    pode servir de motivao para futuros professores de Cultura Religiosa, no sentido

    de oferecer uma reflexo sobre o dilogo inter-religioso e sua relao com a

    contemporaneidade.

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    2 BASE HISTRICA E FUNDAMENTAO ECLESIAL

    Ter o ttulo de Universidade sugere adotar a histria, a variedade de modelos

    que uma Universidade pode ter. A Universidade moderna tem como caracterstica

    especial a relao com a sociedade industrial e a liberdade acadmica de pesquisa.

    Uma Universidade deve ser uma comunidade de alunos e professores que

    investigam a verdade, a transmitem, e tudo isso com a devida autonomia

    administrativa e liberdade acadmica. Tem a misso de investigao, docncia e

    projeo social.

    A educao superior tem por finalidade: I estimular a criao cultural e odesenvolvimento do esprito cientfico e do pensamento reflexivo; [...] III.Incentivar o trabalho de pesquisa e investigao cientfica, visando odesenvolvimento da cincia e da tecnologia e da criao e difuso dacultura, e desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meioem que vive. (Ministrio da Educao, 1996).

    A Universidade no uma instituio esttica e acabada. Est sujeita a

    constante adaptabilidade para alcanar o melhor desempenho. Uma boa

    Universidade deve preocupar-se, desde logo, com o estabelecimento das

    caractersticas que a identificam como tal, adotando uma opo especfica para

    determinado tipo de formao profissional a ser ministrada. Ao conceituar

    Universidade, a ideia de universalidade no pode deixar de prescindir.

    Universalidade na conceituao do ser humano, do conhecimento e de suas

    conquistas.

    Pensar a Universidade como lugar de formao tambm pens-la como

    espao pblico. Ela no pode estar separada da sociedade se quiser desempenhar

    seu papel. Em sua ao educativa, precisa inserir-se no mundo da cultura, a partir

    de um tempo-espao da historicidade da humanidade, sempre estabelecida pelos

    sujeitos que integram a sociedade. Cabe-lhe a responsabilidade de entender o

    processo de formao humana, objetivando que o ser humano torne-se um ser tico,

    responsvel, solidrio e participante das decises do seu grupo social. Considerar o

    ser humano em suas dimenses poltica, social, econmica e espiritual o desafio

    que deve estar presente no horizonte das Universidades, principalmente daquelas

    que trazem a denominao de Catlicas ou de inspiraes crists.

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    De acordo com o decreto 5.773/06, as instituies de educao superior

    podem ser credenciadas como faculdades, centros universitrios e Universidades.

    Originalmente so credenciadas como faculdades e, dependendo do funcionamento

    regular com padro de qualidade, a faculdade pode vir a se tornar uma

    Universidade. Depende tambm da organizao e das prerrogativas acadmicas.

    As Universidades caracterizam-se pela indissociabilidade das atividades de

    ensino, pesquisa e extenso. Alm disso, domnio do saber humano que se

    caracteriza pela:

    Iproduo intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemtico dostemas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista cientfico e

    cultural, quanto regional e nacional; II um tero do corpo docente, pelomenos, com titulao acadmica de mestrado ou doutorado; III um terodo corpo docente em regime de tempo integral.

    A identidade de uma Universidade constituda no cotidiano, procurando

    estabelecer uma identidade prpria, mas que com certeza no satisfar a todos, pois

    lida com aspectos contnuos do conhecimento, ou seja, a produo, sistematizao

    e difuso do mesmo, que por sua vez ocorre de forma dinmica, em contnuo

    movimento.

    De acordo com Alberto Antoniazzi (1975), um estudante ou professor entra

    em uma Universidade Catlica procurando um curso, um ttulo, um emprego, mas

    depois toma conscincia de que no est em uma Universidade comum, que est

    em uma Universidade Catlica.

    Uma Universidade Catlica deveria contribuir para a volta ou entrada da Igreja

    na cincia. Podem existir atitudes dogmticas tanto quanto cincia quanto

    religio. Atitudes que querem expressar verdades absolutas e autoridade sobre o

    outro para o exerccio do domnio. Seja da cincia ou da religio, preciso evitar a

    desvalorizao ou descaracterizao da concepo que vem do outro, do que nos

    diferente.

    A primeira Universidade Catlica dotada de todas as Faculdades, inclusive a

    de Teologia, foi a Universidade de Lovain (1834). Bispos belgas resolveram fundar

    uma Universidade desvinculada do estado e escolheram Lovain, que j tinha sido

    sede de uma Universidade. Essa Universidade tornou-se centro de pesquisa

    cientfica de alto nvel e de elaborao de um pensamento teolgico, filosfico e

    social, que tem influente relevncia no campo da tica social e da sociologia

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    religiosa. A Universidade Catlica pressupe a secularizao do estado e a

    laicizao da Universidade pblica.

    De 1854 at 1858, houve uma tentativa de Jonh Henry Newman em fundar a

    Universidade Catlica de Dublin, que mostrasse quais as exigncias de uma

    verdadeira Universidade, mas a histria tomou outros rumos e a efetiva existncia

    dessa Universidade nunca se concretizou. Pareceu mais um seminrio leigo para a

    juventude.

    Em Paris, em 1875, o arcebispo com o apoio de 28 bispos resolveu criar a

    Universidade Catlica, que hoje leva o nome de Instituto Catlico de Paris. Em 1889,

    consegue-se a fundao da Universidade de Friburgo, que conta com fundadores

    leigos.Ainda em 1889, os Estados Unidos iniciaram a criao da Universidade

    Catlica da Amrica, que a princpio parecia um seminrio avanado, com cursos

    para eclesisticos apenas, e s aps a Primeira Guerra Mundial tomou a magnitude

    de uma Universidade.

    H ainda Universidades Catlicas abertas na China desde 1903, em Xangai,

    e em Pequim desde 1924, e no Japo desde 1913. Mas as Universidades ditas

    catolicssimas foram fundadas na Itlia e na Espanha. Em 1921, com a ajuda doEpiscopado e de leigos, fundou-se a Universidade Catlica de Milo. Em 1923, foi

    fundada a Universidade Catlica de Nimega (Holanda), e em 1924 o reitor dessa

    Universidade de Nimega, junto com os reitores de Lovain e o de Milo, criaram a

    Federao Internacional das Universidades Catlicas.

    As Universidades nos pases ocidentais evoluram de pequenos suplementos

    da Igreja, para se constiturem na principal instituio para o processamento do

    conhecimento do mundo moderno. As primeiras se consagravam ao ensino dasocupaes da rea de teologia, direito cannico, medicina e posteriormente pela

    gramtica, retrica, lgica, geometria, aritmtica, msica e astronomia. Disciplinas

    das artes liberais geralmente assumiam mais importncia que o ensino profissional,

    o que levava ao desenvolvimento cultural e intelectual dentro das Universidades.

    Lovain, Paris, Washington e Friburgo tinham a Faculdade de Teologia.

    Possuam a presena prolongada de um primeiro fundador (ou reitor) cuja

    personalidade marcava a prpria Instituio. Fenmenos como esses podem ser

    explicados considerando que as Universidades Catlicas nasceram no meio de

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    muitas divergncias. Divergncias estas que podem ser explicadas por trs

    aspiraes fundamentais de acordo com Antoniazzi:

    1a primeira a de ter, na U.C, uma instituio voltada, principalmente, paraa formao dos professores das escolas secundrias; , evidentemente, aaspirao mais limitada e ligada a uma situao particular, que predominounas primeiras tentativas de U.C; 2 a segunda aspirao a de demonstrarque os catlicos sabem fazer uma Universidade, e, sobretudo, uma cincia,to boa quanto a dos racionalistas ou dos positivistas; essa uma aspiraomais fecunda, pois obriga os catlicos a se entrosarem positivamente com acultura contempornea; porm, algo muito marcado pelo clima domomento, que perde seu interesse com a crise do positivismo e o plenoreingresso dos catlicos na vida cientfica, cultural e poltica; sobretudo, discutvel se a Universidade Catlica (em lugar, por ex., da presena doscatlicos nas Universidades pblicas) o meio eficaz para o objetivopretendido; 3a terceira aspirao a de formar uma elite capaz de atuar no

    campo econmico, jurdico, social, poltico em suma, capaz de assumir aliderana da sociedade civil e a direo do estado dentro de umaperspectiva que aquela da doutrina social da Igreja. (1975, p. 53)

    Entre tais aspiraes, nota-se ainda o desejo da U.C em contribuir para a

    elaborao da cultura crist, que uma tendncia de desenvolver cultura

    contempornea uma dimenso de abertura religio e ao sobrenatural, ou de obter

    a considerao da no incompatibilidade, seno da harmonia entre cincia e

    religio.Na contemporaneidade, a cincia como uma peneira que minimiza

    influncias de origem pessoal dentro da prpria cincia ao exigir coerncia constante

    com o mundo natural. O conhecimento cientfico est constantemente em

    construo. Quanto religio, entende-se que todas as posturas devem ser

    respeitadas a fim de evitar intolerncias pela concepo do outro sobre deuses ou

    sobre a natureza. Pode-se falar em complementaridade entre cincia e religio.

    Aquela trata de assuntos naturais, empricos, enquanto esta trata de problemasexistenciais.

    Segundo Bertrand Russel (2010), a cincia uma tentativa de entender o

    mundo de experincias atravs das leis inviolveis, e religio um fenmeno

    complexo com uma crena sobre os supostos princpios definitivos. O dilogo

    importantssimo para a construo do conhecimento do indivduo e da sociedade,

    bem como imprescindvel para evitar conflitos entre pessoas.

    Uma Universidade Catlica deve entender seu papel e se relacionar com os

    assuntos que lhe so postos. A leitura atenta de documentos oficiais da

    compreenso eclesial explica o verdadeiro papel das Universidades Catlicas. O

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    documento que fala sobre as Universidades e faculdades eclesisticas a

    Constituio Apostlica Sapientia Christiana do papa Joo Paulo II. No promio

    dessa constituio ordena-se que:

    Efectivamente, a misso de evangelizar, que prprio da Igreja, exige noapenas que o Evangelho seja pregado em espaos geogrficos cada vezmais vastos e a multides de homens sempre maiores, mas que sejamtambm impregnados pela virtude do mesmo Evangelho os modos depensar, os critrios de julgar e as normas de agir; numa palavra, necessrio que toda a cultura do homem seja penetrada pelo Evangelho.(Sapientia Christiana,1979, p. 1).

    O homem influenciado pelo ambiente cultural em que vive, e, em uma

    cultura que caminha juntamente com a f, a evangelizao favorecida. No se

    refere a ligar exclusivamente o Evangelho de Cristo a uma cultura especfica e sim

    revelar em Cristo os costumes dos homens a todas as classes da humanidade,

    convertendo as conscincias pessoais e coletivas de todos.

    A sabedoria crist ensina aos fiis que se esforcem nos valores religiosos

    para o aperfeioamento integral do homem, o qual compreende os bens do corpo e

    do esprito. Tem o objetivo de orientar moralmente o ser humano, religando-o com o

    transcendente. Apesar de parecer que na modernidade, no mundo atual,

    globalizado, no h espao para a religio, impossvel dissociar o ser humano do

    divino, j que a cincia e a racionalidade no conseguem responder plenamente as

    aspiraes humanas. De acordo com Bertrand Russel: O medo a base de todo o

    problema: medo do misterioso, medo da derrota, medo da morte. O medo

    progenitor da crueldade e, portanto, no nada surpreendente o fato de a crueldade

    e a religio andarem lado a lado(2010, p.40).

    Desse modo, a religio se mostra essencial para as pessoas. A diversidadereligiosa deve ser respeitada, j que todas as formas de manifestao nesse sentido

    visam o bem do ser humano e procuram a paz espiritual. A busca do sagrado

    atravs da religio deve conduzir paz e felicidade.

    A Igreja empenha-se em promover as faculdades e Universidades

    eclesisticas que se preocupam com a Revelao Crist e com tudo relacionado

    misso de evangelizar. De acordo com o artigo 2 da Sapientia Christiana,

    Por Universidades e Faculdades eclesisticas, na presente Constituio,so designadas aquelas que, canonicamente erigidas ou aprovadas pela SApostlica, cultivam e ensinam a doutrina sagrada e as cincias que com

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    ela esto correlacionadas, com o direito de conferir graus acadmicos porautoridade da Santa S. (1979, p. 6)

    Faculdades eclesisticas tm a inteno de promover as prprias disciplinasapresentando-as ao homem contemporneo de forma adequada s diversas

    culturas. Alm disso, educa alunos, a nvel superior, segundo doutrinas Catlicas,

    com o intuito de alcanar objetivos particulares. Faculdades Eclesisticas como as

    de Arqueologia Crist, Cincias da Educao ou de Pedagogia, Cincias Religiosas,

    Letras Crists e Clssicas, Faculdade de Histria Eclesistica entre outras so

    arquitetadas canonicamente ou podem vir a ser.

    Em um estatuto de uma Universidade ou Faculdade devem estar presentes o

    nome, a natureza, o fim, com informaes histricas na introduo, alm das

    atribuies sucintas do Gro Chanceler, as autoridades acadmicas, pessoais e

    colegiais, bem como a descrio e o tempo do cargo. Devem constar tambm: os

    direitos e deveres de alunos, o pessoal auxiliar, as disciplinas que sero ministradas,

    os seminrios de estudos, as provas a fazer, os graus acadmicos atribudos a cada

    Universidade ou faculdade, a descrio dos subsdios didticos como biblioteca e

    laboratrios. Alm disso, os aspectos econmicos como o patrimnio da

    Universidade ou faculdade, sua administrao, suas normas e a relao com outras

    faculdades e institutos.

    Uma Universidade Catlica, mediante o encontro que realiza em meio

    riqueza da mensagem salvfica do Evangelho e a multiplicidade dos campos do

    conhecimento em que aquela encarna, permite Igreja estabelecer um dilogo de

    fecundidade admirvel com todos os homens de qualquer cultura. A Universidade

    uma instituio milenar, que desempenhou e desempenha uma funo social. Foi

    constituda na Europa, e com a institucionalizao do trabalho de copistas e

    tradutores passou a ser lugar privilegiado do saber. Recebeu impactos

    renascentistas caracterizados pelas transformaes que ocorreram nos campos das

    artes, literatura e economia.

    Tanto universidades como igrejas dividem algumas caractersticas

    importantes. Essas duas instituies podem ser consideradas formas mais

    superiores do conhecimento. O conhecimento que no somente prtico e til, mas

    que consiste no acesso s verdades consideradas mais profundas e fundamentais.

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    Nos sculos XI e XII, a Universidade Catlica foi praticamente nica, para ser

    depois assimilada pelo poder pblico. Teve influncia decisiva na configurao da

    Igreja at o Conclio Vaticano II. A partir desse conclio, a Igreja e o Estado

    garantiram amplo debate das ideias, sendo que mesmo sem ter Universidades

    prprias, a Igreja tinha espao para a pesquisa teolgica. O Vaticano mantm sua

    prpria Academia de Cincias, e universidades catlicas existem em todo o mundo.

    As religies protestantes, de uma maneira geral, aceitaram a supremacia do

    conhecimento leigo.

    Desde o renascimento, h um humanismo no centrado na figura de Cristo,

    portanto racionalista, condicionando o ser humano como senhor absoluto da

    natureza. A f, anulada, foi considerada empecilho para o desenvolvimento darazo, e o pragmatismo da modernidade considerava que o homem, dominado pela

    natureza, teria condies de conhecer a verdade em sentido absoluto, tendo assim

    condies para alcanar a felicidade.

    No Brasil, as Universidades Catlicas surgem a partir de maro de 1941, no

    Rio de Janeiro como Faculdade Catlica, sendo reconhecida como Universidade

    Catlica em 1946 e passando ao ttulo de Pontifcia em 1947.

    Ainda em 1946, em agosto, a Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo fundada e reconhecida. Aps isso, a Universidade Catlica do Rio Grande do Sul em

    1948, que se torna Pontifcia em 1950. Em seguida, a Universidade Catlica de

    Pernambuco (1952) e a de Campinas (1955). A Pontifcia Universidade Catlica de

    Minas Gerais foi fundada em 1955. Entre 1959 e 1961 surgiram as Universidades

    Catlicas de Gois, Paran, Pelotas e Salvador.

    A Associao Brasileira de Escolas Superiores Catlicas (ABESC) tem 50

    anos de tradio e defesa do ensino catlico superior no Brasil. Ela contabiliza 17universidades, 15 Centros Universitrios e cerca de 120 faculdades presentes em

    123 municpios. O interesse no de fundar Universidades Catlicas e sim

    proporcionar oportunidade de estudo a quem deseja participar de um mercado

    tecnolgico e cada vez mais competitivo, assim como promover a educao crist

    evanglico-libertadora, entendida como aquela que visa a formao integral da

    pessoa humana.

    A Constituio Apostlica Ex Corde Ecclesiae do papa Joo Paulo II um

    documento que serve para pensar como possvel uma identidade da Universidade

    Catlica no plano intelectual e cientfico. Ela pretende que a Universidade se

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    consagre sem reserva causa da verdade sobre a natureza, do homem e de Deus e

    se empenhe em todos os caminhos do saber. Prope que, na explorao das

    riquezas da revelao Divina e da natureza, em um esforo da inteligncia e da F,

    se processe o significado da tecnologia e crescimento industrial, a fim de garantir o

    bem autntico das pessoas e da sociedade.

    O papa deixa claro nesse documento que deseja que estudantes se tornem

    homens e mulheres admirveis no saber, prontos a realizar tarefas responsveis na

    sociedade. A inspirao crist, que leva o dilogo entre f e razo e a preocupao

    tica, sob uma perspectiva transcendente, deve abranger no s as pessoas, mas a

    comunidade universitria como um todo. Acentua a Constituio Apostlica Ex

    Corde Ecclesiae que:

    essencial convencermo-nos da prioridade da tica sobre a tcnica, doprimado da pessoa sobre as coisas, da superioridade do esprito sobre amatria. A causa do homem s ser servida se o conhecimento estiverunido conscincia. Os homens da cincia s ajudaro realmente ahumanidade se conservarem o sentido da transcendncia do homem sobreo mundo e de Deus sobre o homem. (1990, p. 6).

    Os princpios ticos so universalizveis, uma vez que tendem a valer para

    todos. Entretanto percebe-se distncia dos princpios ticos fundamentais queorientam, esclarecem, fundamentam e questionam os cdigos morais e os

    ordenamentos jurdicos. Se algum cristo, deve seguir valores e princpios que

    essa religio prescreve. Todavia, ao partilhar a mesma coletividade, seguir a prpria

    religio no pode impedir de avaliar racionalmente determinadas condutas como

    negativas, se elas so obstculos para a igualdade dos direitos e obrigaes

    fundamentais e reforam a excluso.

    A Ex Corde Ecclesiae fundamenta diretrizes e normas para as UniversidadesCatlicas. Nessa Constituio, a Universidade Catlica tida como comunidade

    acadmica que, inspirada na mensagem de Jesus Cristo e fiel Igreja, trabalha com

    o ensino, a pesquisa e a extenso, dedicando-se evangelizao e formao

    integral de seus membros (alunos, professores, funcionrios), assim como para o

    aumento da cultura, tica da solidariedade e promoo da dignidade transcendente

    da pessoa humana.

    Ao falar de interdisciplinaridade, to discutida em todas as Universidades domundo, explcita na Constituio Apostlica Ex Corde Ecclesiae que, nas

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    disciplinas de Teologia e Filosofia, deve ser feita reflexo sobre o homem, sobre a

    realidade e sobre Deus. Faz-se plenamente a abertura da viso do estudante para o

    mundo e para o sentido da vida, no uso de todos os recursos da cincia, da arte e

    da cultura. Certifica-se a liberdade para outras religies entre mestres e alunos,

    exigindo-se o respeito pela identidade e propsitos da Universidade Catlica. A

    Constituio inclui estmulo convivncia universitria solidria, ao dilogo interno e

    ao dilogo voltado para outras Universidades, ao esprito de cooperao e

    preocupao com a promoo da justia social. Princpios que revelam uma

    Universidade peculiar em que no predominem o tecnicismo ou o cientificismo, a

    discriminao, a imposio social de uma pessoa sobre a outra.

    O carter da Universidade Catlica confessional, de esprito comunitrio e

    filantrpico. Ultrapassa a ideia de condicionamento ao mercado de trabalho e

    assume compromissos com princpios relativos promoo de respeito entre os

    povos e outras manifestaes de cidadania. De acordo ainda com a Ex Corde

    Ecclesiae,

    Toda a Universidade Catlica, enquanto Universidade uma comunidade

    acadmica que, dum modo rigoroso e crtico, contribui para a defesa edesenvolvimento da dignidade humana e para a herana cultural mediante ainvestigao, o ensino e os diversos servios prestados s comunidadeslocais, nacionais e internacionais. Ela goza daquela autonomia institucionalque necessria para cumprir as suas funes com eficcia, e garante aosseus membros a liberdade acadmica na salvaguarda dos direitos doindivduo e da comunidade no mbito das exigncias da verdade e do bemcomum (1990, p.4).

    A Igreja confia uma misso de esperana s Universidades Catlicas quando

    reveste um significado cultural e religioso de importncia fundamental, porque diz

    respeito ao futuro da humanidade. Em uma Universidade Catlica, h de seperseguir uma integrao do conhecimento, o dilogo f e razo, a preocupao

    tica e a perspectiva teolgica.

    Cabe salientar que a perspectiva teolgica de uma Universidade permite um

    carter ecumnico e sua recolocao no mbito da esfera pblica e da

    Universidade, fecundada por mtodos das cincias modernas e aberta ao dilogo

    com as diversas pesquisas sobre religiosidade e religies elaboradas a partir delas.

    importante neste momento falar um pouco sobre os Conclios Catlicos quetm nomes de acordo com o local onde ocorreram, e a numerao deve-se

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    quantidade de vezes em que foram realizados nesta localidade. So reunies

    eclesisticas em um esforo comum da Igreja para reaver sua doutrina. Entre tantos

    outros Conclios, cabe mencionar o Conclio Vaticano II (19621965), que aconteceu

    porque situaes contemporneas abalaram a Igreja, o que fez com que o Papa

    Joo XXIII convocasse esse Conclio. Teve como objetivo promover o incremento da

    f catlica e uma saudvel renovao dos costumes do povo cristo, a fim de

    adaptar a disciplina eclesistica s condies do tempo e do mundo moderno. Na

    verdade, esse Conclio quis dar nova orientao pastoral para a Igreja, alm de

    novas formas de apresentar dogmas catlicos ao mundo moderno, mas fiel

    tradio.

    O Conclio prope-se fomentar a vida crist entre fiis, adaptar melhor asnecessidades do nosso tempo s instituies susceptveis de mudana,promover tudo o que pode ajudar unio de todos os crentes em Cristo efortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja.(1963, p.1.)

    O Conclio considerou importante o ensino na vida do homem e sua influncia

    cada vez maior no avano social. Considerou que a educao, nas circunstncias

    atuais, torna-se cada vez mais urgente. O desejo do papa Joo XXIII, desde o incio

    do Conclio, era que o mesmo fosse pastoral, ecumnico e no de condenaes,

    evitando reproduzir fatos j alegados em outros momentos. A Palavra de Deus

    ocupou lugar de destaque, mostrando que o Cristo da f no outro que o Jesus,

    filho de Maria, que vive entre os pobres. Esse Conclio afirmou a base laical da

    Igreja e a considerou na perspectiva colegial e no na perspectiva do poder

    pontifcio ou episcopal, alm disso, opta pela qualidade cientfica das Universidades

    Catlicas, e no pela quantidade. Foi uma reao ao fenmeno de multiplicao das

    Universidades e Faculdades Catlicas evidente no incio dos anos 60, que refletiauma massificao do ensino superior em que a exploso do nmero de estudantes

    universitrios afetou todas as Universidades do mundo.

    O assunto da educao crist foi publicado no decreto Gravissimum

    Educationis. Esse texto comea por manifestao de apreo e do interesse da Igreja

    para com as Universidades, reconhecendo a autonomia das disciplinas e liberdade

    de pesquisa cientfica. NaGravissimum Educationis, fica claro que, com o aumento

    de alunos, aumentam-se as escolas, fundam-se outros centros de educao,aparece a necessidade de outros mtodos de educao e instruo. O Conclio

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    enunciou alguns princpios fundamentais sobre a Educao Crist. O primeiro

    desses princpios diz respeito ao direito universal educao:

    1. Todos os homens, de qualquer estirpe, condio e idade, visto gozaremda dignidade de pessoa, tm direito inalienvel a uma educaocorrespondente ao prprio fim, acomodada prpria ndole, sexo, cultura etradies ptrias, e, ao mesmo tempo, aberta ao consrcio fraterno com osoutros povos para favorecer a verdadeira unidade e paz na terra. Averdadeira educao, porm, pretende a formao da pessoa humana emordem ao seu fim ltimo e, ao mesmo tempo, ao bem das sociedades deque o homem membro e em cujas responsabilidades, uma vez adulto,tomar parte. (Declarao Gravissimum Educationis, 1965, p. 1).

    Formao que seja capaz de inserir os estudantes nos agrupamentos da

    comunidade humana, de faz-los aptos ao dilogo com os outros e forados por

    cooperar no bem comum. A Educao Crist procura introduzir, no conhecimento do

    mistrio da salvao, os dons da f que ajudem a conformao crist do mundo,

    mediante a qual os valores naturais assumidos na importncia total do homem

    redimido por Cristo colaborem no bem de toda a sociedade.

    O dever de educar, ainda segundo essa declarao, pertence Igreja, j que

    a mesma tem o dever de anunciar a todos os homens o caminho da salvao, ao

    mesmo tempo em que deve promover a perfeio integral da pessoa humana. Essadeclarao a respeito da Educao Crist explica sobre as escolas que:

    Entre todos os meios de educao, tem especial importncia a escola, que,em virtude da sua misso, enquanto cultiva atentamente as faculdadesintelectuais, desenvolve a capacidade de julgar rectamente, introduz nopatrimnio cultural adquirido pelas geraes passadas, promove o sentidodos valores, prepara a vida profissional, e criando entre alunos de ndole econdio diferentes um convvio amigvel, favorece a disposio compreenso mtua; alm disso, constitui como que um centro em cuja

    operosidade e progresso devem tomar parte, juntamente, as famlias, osprofessores, os vrios agrupamentos que promovem a vida cultural, cvica ereligiosa, a sociedade civil e toda a comunidade humana (1965, p. 3).

    Uma escola Catlica pode servir como dilogo entre a Igreja e comunidade

    humana. A Igreja tem o direito de fundar e dirigir escolas de qualquer espcie e

    grau, concorrendo para a liberdade de conscincia e defesa dos direitos prprios de

    uma cultura. O Conclio Vaticano II proclamou o direito da Igreja de constituir,

    conduzir escolas de qualquer natureza e nvel, lembrando que o exerccio desse

    direito compete para a liberdade de conscincia e progresso da prpria cultura.

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    A presso da modernidade fez com que a Igreja percebesse a necessidade

    de modificar o seu discurso para se adequar s novas realidades sociais e culturais.

    Surgiu uma nova autocompreenso da Igreja. A partir do Conclio Vaticano II, temas

    como o da liberdade religiosa, a relao da Igreja Catlica com os fiis e a relao

    da mesma com outras Igrejas crists foram pensados e discutidos. Mudou-se a

    compreenso da Igreja sobre sua presena no mundo moderno. A partir desse

    Conclio, compreende-se Deus revelado misteriosamente tambm em outras

    tradies religiosas.

    Alm disso, ao terminar o Conclio, em 8 de dezembro de 1965, todas as

    instituies catlicas foram chamadas a se reformar ou se renovar, e a concepo

    orgnica da U.C passou a ser a de escolha da integrao de f e saber nas diversasreas de atuao da Universidade: pesquisa, ensino, extenso, promoo do

    desenvolvimento.

    Explicitar investigaes ticas presentes em todos os campos de ensino e

    investigao sob o ponto de vista cristo uma das prioridades das Universidades

    Catlicas, alm de examinar valores e normas dominantes na sociedade e na cultura

    modernas, assim como comunicar-lhes os princpios e valores ticos e religiosos

    significados vida humana.A Universidade Catlica tem uma proposta pedaggica que buscar integrar

    avano acadmico e profissional dos alunos com maturidade na dimenso humana,

    na dimenso religiosa, na dimenso moral e na dimenso social. De modo que,

    considerada a convico religiosa de cada um, os alunos tornem-se competentes

    em sua rea especfica, a servio da sociedade, mas tambm lderes qualificados,

    que vivam e testemunhem a f na Igreja e no mundo. Os cursos de uma

    Universidade Catlica devem ser constitudos de disciplinas teolgicas ou de outrasdisciplinas afins. De acordo com o Ex Corde Ecclesiae,

    A teologia desempenha um papel particularmente importante nainvestigao duma sntese do saber, bem como no dilogo entre f e razo.Alm disso, ela d um contributo a todas as outras disciplinas na suainvestigao de significado, ajudando-as no s a examinar o modo comoas suas descobertas influiro sobre as pessoas e sobre a sociedade, mastambm fornecendo uma perspectiva e uma orientao que no estocontidas nas suas metodologias. Por seu lado, a interao com as outrasdisciplinas e as suas descobertas enriquece a teologia, oferecendo-lhe uma

    melhor compreenso do mundo de hoje e tornando a investigao teolgicamais adaptada s exigncias de hoje. Dada a importncia especfica dateologia entre as disciplinas acadmicas, cada Universidade dever ter umaFaculdade ou, ao menos, uma ctedra de teologia (1990, p. 6).

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    A Teologia transforma o olhar. Sua base no a experincia religiosa, nem a

    religio como instituio, mas a f no Deus que se revela. Olha o fato supondo apossibilidade e realidade da experincia de Deus. Sem ela, no h Teologia. Ela

    possvel e acompanha toda a existncia humana como inteno ltima. Como o

    objetivo de uma Universidade Catlica garantir em forma institucional uma

    presena crist no mundo universitrio, caractersticas essenciais devem estar

    presentes como: inspirao crist, reflexo incessante luz da f Catlica sobre o

    conhecimento humano, fidelidade mensagem crist e empenho institucional ao

    servio do povo de Deus e da famlia humana.A Teologia tem valor na busca de uma sntese superior do saber e no dilogo

    entre f e razo, a qual fornece a outras disciplinas de uma Universidade Catlica

    uma perspectiva e uma orientao transcendentes em que uma formao mais

    slida garante lugar no mundo da cincia e da cultura.

    Segundo o decreto geral das diretrizes e normas para as Universidades

    Catlicas, de nmero 64, uma formao moral apropriada com o estudo da tica

    crist, particularmente a profissional, deve estar presente em todos os institutos e

    departamentos da Universidade Catlica. As disciplinas devem ter a

    responsabilidade de promover a justia social, o progresso do povo e fazer com que

    a Universidade empenhe-se em tornar a educao superior acessvel s minorias

    sociais, bem como disposta a colocar o saber cristo e humano disposio de um

    pblico que perpassa o mbito acadmico.

    2.1 Contexto social, cultural e religioso da Pontifcia Universidade Catlica de

    Minas GeraisPUC Minas

    No Vaticano, em 1922, um ato emanado da Santa S reuniu o Papa Bento XV

    e o Consistrio para nomear o Bispo de Natal, Dom Antnio dos Santos Cabral

    (1884-1967), para a Diocese de Belo Horizonte.

    Por fora de um ato emanado da Santa S, facultando-lhe o ensejo de

    desenvolver em outro Estado as qualidades criadoras das mais teisiniciativas, com que o dotou a natureza. S. S. o Papa Benedito XV,conhecedor das revelaes do seu amor ao trabalho e eminente esprito

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    organizador, reunido o Consistrio em Roma a 21 de novembro de 1921, otransferiu para a nova diocese de Belo Horizonte [...].

    A diocese de Belo Horizonte foi elevada s honras de provncia Eclesistica,

    ascendendo Dom Cabral condio de Arcebispo Metropolitano. Ele residiu emvrios lugares na cidade e graas a seus esforos e herana do pai comprou parte

    do terreno no bairro Corao Eucarstico onde, aos poucos, foi se instalando a

    estrutura da atual PUC Minas.

    A Igreja, aps a segunda Guerra Mundial (1945), assumiu uma dimenso

    humana e universal de afirmao de uma cultura de paz e de solidariedade. A Igreja

    latino-americana descobriu a misso defensora dos oprimidos no novo mundo. um

    tempo de expanso da Ao Catlica, sob a liderana do Papa Pio XII.Uma onda de entusiasmo com grande mobilizao dos educadores latino-

    americanos permitiu a fundao das Universidades Catlicas de Medeln, So

    Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Campinas, Mxico, Santo Domingo, Quito, entre

    outras. Belo Horizonte era uma cidade vocacionada para a vida universitria, afinal

    Afonso Pena, o primeiro ministro a chegar Presidncia, j havia dotado Minas

    Gerais de uma base educacional que geraria muitos projetos inovadores de impacto

    na cultura brasileira.Em 1948 surgiu a Sociedade Mineira de Cultura, mantenedora da futura

    Universidade Catlica, com a assinatura dos estatutos no Salo Nobre do

    Conservatrio Mineiro de Msica. As primeiras escolas a serem coligadas pela

    Sociedade foram a Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras Santa Maria (1943), a

    Escola de Enfermagem Hugo Werneck (1945), a Escola de Servio Social de Minas

    Gerais (1946), a Faculdade Mineira de Direito (1949) e o Instituto de Psicologia

    Aplicada (1959).

    No caso das instituies confessionais, o artigo 20 da Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao diz que as Universidades, alm de se ocuparem da legislao

    nacional, devem se ocupar com as orientaes do Magistrio Eclesial, exigindo do

    reitor bom senso para saber integrar diferentes situaes, a fim de estabelecer a

    identidade da instituio de que responsvel. Trabalho que exige contnuas

    iniciativas, j que a Universidade um espao em movimento, com inmeros

    departamentos e reas do conhecimento em constante atividade.

    O humanismo o vetor fundamental da PUC Minas, que motiva projetos

    acadmicos dos cursos e demais atividades de acordo com os valores que norteiam

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    as atividades de ensino, pesquisa e extenso da Universidade. A inteno que os

    saberes produzidos na instituio contribuam para a compreenso dos problemas da

    sociedade em suas dimenses ticas. Esses princpios valorizam a igualdade, a

    liberdade, autonomia, a pluralidade, a solidariedade e a justia.

    Com as contribuies do passado, possvel fazer uma adequada reflexo

    sobre esses valores que permaneceram e que fundamentam as atividades da

    Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Essa instituio, anteriormente

    chamada de Universidade Catlica de Minas Gerais (UCMG), completou em 2012,

    54 anos de histria.

    O Dirio Oficial da Unio, no dia 12 de dezembro de 1958, trouxe o decreto

    presidencial de nmero 45.046, assinado por Juscelino Kubitschek e pelo ministroda Educao e Cultura, Clvis Salgado, em que estava reconhecida a Universidade

    Catlica de Minas Gerais.

    Dom Antnio dos Santos Cabral e um grupo de professores discutiram a

    necessidade para Belo Horizonte de um espao para debate de ordem poltica,

    cultural e religiosa, oferecendo juventude que saa dos colgios, quase todos

    religiosos, uma opo de Universidade comprometida com a sade fsica e mental

    das pessoas.O primeiro reitor foi o padre Jos Loureno da Costa Aguiar em 1959. Em

    seguida, em 1960, Dom Serafim Fernandes de Arajo assumiu o cargo de reitor,

    permanecendo por 21 anos. Sua atuao na Universidade foi marcada pelo

    atropelamento do regime autoritrio contra a Igreja Catlica e a Universidade. No

    perodo em que foi reitor, o idealizador Dom Cabral morreu (1967), foi elaborada a

    carta de princpios com a finalidade de definir os objetivos da Universidade no sculo

    XX (1968), A UCMG assumiu a direo do colgio Santa Maria (1968), a sede daUniversidade transferiu-se para o antigo seminrio do bairro Corao Eucarstico,

    criou-se a Faculdade de Comunicao Social (1970), aprovou-se e implantou-se o

    novo Estatuto da UCMG (1978), e a estrutura administrativa passou para 20

    departamentos, reunidos em quatro centros em Belo Horizonte, alm disso, a

    Sociedade Mineira de Cultura criou a Fundao Dom Cabral (FDC) e a Fundao

    Mariana Resende Costa (FUMARC).

    A FDC uma instituio sem fins lucrativos, considerada de utilidade pblica,

    que surgiu por meio de desdobramento do centro de extenso da PUC Minas. Ela

    tem conexo entre teoria e prtica, na formao acadmica de executivos, gestores,

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    empresrios, empresas e organizaes em diversos segmentos. A FUMARC foi

    instituda a fim de contribuir para o trabalho de pesquisa a cargo da PUC Minas e

    para a realizao do servio de assistncia prestado a seus estudantes e servidores.

    Oferta produtos e servios de qualidade, publicando livros e trabalhos de natureza

    cientfica, alm de realizar projetos de pesquisa de interesse de administrao

    pblica e privada, bem como realizar concursos e vestibulares, artes grficas em

    geral.

    Essa trajetria de trabalho e f, que marcaram os acontecimentos que traam

    o perfil de um dos maiores centros de produo de conhecimento do Brasil, que a

    PUC Minas, ainda estava comeando. Em 1981, o prof. Gamaliel Herval assumiu a

    reitoria da UCMG. Sua gesto, no plano administrativo, foi marcada pela expanso econstruo de inmeros prdios. Gamaliel Herval teve sua caminhada marcada pela

    influncia do pai, fazendeiro, amigo de Tancredo Neves, pela me, uma senhora

    tranquila e amiga, pelo professor Ldio Bandeira, que foi um dos examinadores da

    banca de avaliao dos candidatos ao exame vestibular da Faculdade de Direito da

    Universidade Federal de Minas Gerais. Ele obteve nota zero na avaliao oral feita

    por Ldio Bandeira, o que fez com que Gamaliel cursasse direito na Faculdade de

    Direito da Universidade Catlica de Minas Gerias. Ele foi presidente do DiretrioAcadmico da Faculdade Mineira de Direito, foi presidente do Diretrio Central dos

    Estudantes e reitor da UCMG de 1981 at 1984.

    A UCMG recebeu em 2 de julho de 1983 o ttulo de Pontifcia Universidade

    Catlica de Minas Gerais, outorgado pelo papa Joo Paulo II. O termo Pontifcia, de

    acordo com a Igreja Catlica, utilizado para quem determina o melhor em ensino

    superior acrescentado a valores religiosos. um termo outorgado pelo Pontificado,

    ou seja, o papa. De acordo com o art. 1 do Estatuto da Pontifcia UniversidadeCatlica de Minas Gerais (p. 4):

    A Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC Minas), com sedeem Belo Horizonte, reconhecida pelo Decreto Federal n. 45.046, de 12 dedezembro de 1958, uma entidade particular, confessional, criada e mantidapela Sociedade Mineira de Cultura, associao de fins no econmicos,criada em 24 de junho de 1948, e declarada entidade de utilidade pblicaestadual pela Lei n. 2.278, de 22 de dezembro de 1960, e de utilidade pblicafederal pelo Decreto n. 61.690, de 13 de novembro de 1967.

    A PUC Minas entende que a educao universitria inclui a formao

    profissional, mas abarca tambm as dimenses cientficas, ticas e de insero

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    responsvel na sociedade. Prope garantir presena crist no mundo universitrio

    com fidelidade aos princpios da doutrina crist e da Igreja Catlica. Seu empenho

    institucional est ao servio da famlia humana, na busca do desenvolvimento

    cultural e social, na formao de uma comunidade acadmica pautada nos valores e

    ensinamentos do Evangelho. A PUC Minas uma instituio pluridisciplinar de

    formao, que garante aos seus membros liberdade de estudo, pesquisa, ensino,

    extenso, que satisfaz as condies de otimizao e racionalizao da gesto de

    recursos e adaptao dos meios administrativos aos fins institucionais. A

    Universidade regida:

    I - pelo Direito Cannico; II - pelos documentos pontifcios relativos educao superior; III - pela legislao aplicvel; IV - pelo Estatuto daEntidade Mantenedora, na esfera de suas atribuies; V - por este Estatuto;VI - pelo Regimento Geral; VII - pelas Resolues do Conselho Universitrioe do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso; VIII - pelo Estatuto daCarreira Docente; IX - pelos Regimentos e Regulamentos dos rgos que aintegram; X - por atos do Reitor. (Estatuto da PUC Minas, 2010, p. 8).

    Ela possui autonomia institucional, bem como liberdade acadmica, e por

    meio de rgos prprios pode extinguir, criar, alterar ou fundir rgos e servios que

    considerar necessrios s suas atividades de ensino, pesquisa e extenso. A

    Universidade constitui-se de campi, ncleos universitrios, unidades acadmicas

    especiais, sendo que o campus Corao Eucarstico a unidade sede.

    A expanso da Universidade inicia-se em 1991 com o Ncleo Universitrio de

    Contagem. Em 1994 criado o Instituto de Educao Continuada, em 1995

    implantada a unidade da PUC Minas em Betim, em 1997 implantado o campusde

    Poos de Caldas. Em 1998 d-se a implantao do programa de ps-graduao

    stricto sensuda Faculdade Mineira de Direito e em seguida o campus nas cidades

    de Arcos (1999), a unidade PUC Minas So Gabriel em 2000, a unidade PUC Minas

    Barreiro em 2002 e em 2003 inaugurado o campus do Serro. Tem-se ainda a

    unidade da PUC Minas de Guanhes e Praa da Liberdade em Belo Horizonte.1

    1 2. - Os campi, os ncleos universitrios, as unidades acadmicas e as unidades acadmicasespeciais sero criados, aglutinados, desmembrados ou extintos pelo Conselho Universitrio.

    Art. 10A Universidade se estrutura em departamentos constitudos por campos de conhecimento e

    agrupados, ou no, em institutos ou em faculdades. (Artigo com redao alterada pela Resoluo n.12/2010, do Conselho Universitrio)

    Art. 11 A Universidade poder vir a constituir novos campi, unidades acadmicas e unidadesacadmicas especiais, e ainda desenvolver outras atividades, inclusive cursos experimentais,

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    Nesse mesmo ano de 2003, o professor Eustquio Afonso Arajo nomeado

    vice-reitor, assumindo interinamente a reitoria da PUC Minas no lugar do Padre

    Geraldo Magela Teixeira em 2004. Eustquio Afonso Arajo foi um reitor da

    transio. Transio porque trouxe para a Universidade um clima de democracia

    constituda com respeito e confiana entre todos. Foi uma busca de nova

    institucionalidade da PUC Minas, que tem como princpios orientadores a

    descentralizao e delegao de competncias, sendo que o estatuto passa a ser a

    principal referncia adequada realidade da educao. A PUC, ainda nesse

    perodo, com a presena de Dom Joaquim Giovani Mol Guimares na vice-reitoria,

    saiu de um perodo de inquietaes para uma fase de realizaes, evidenciando que

    a Igreja se faz presente em toda a Universidade. Uma Universidade Pontifciadestinada a ser ponto entre f e conhecimento com qualidade de ensino, valores

    ticos e liberdade para construir uma vida mais digna para todos. Ainda em maro

    de 2004, outro momento importante a nomeao de Dom Walmor Oliveira de

    Azevedo como Gro-Chanceler da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais.

    O professor Eustquio Afonso Arajo permaneceu na reitoria de forma definitiva de

    2004 at 2006.

    Em 2007, o professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimares nomeadoreitor. Ele tem, em 2010, o mandato prorrogado por mais trs anos. Foi no Palcio

    Cristo Rei que o arcebispo de Belo Horizonte e Gro-chanceler da PUC Minas, Dom

    Walmor Oliveira de Azevedo, assinou, no incio de agosto de 2010, o ato de

    nomeao para novo mandato de trs anos do reitor e da vice-reitora Patrcia

    Bernardes da PUC Minas. Ao reitor cabe a responsabilidade de acompanhar

    globalmente a PUC Minas, o colgio Santa Maria e o Instituto Dom Joo Resende

    Costa. Tambm coordenar, orientar e acompanhar a ao evangelizadora e pastoralem parte da cidade de Belo Horizonte e de Contagem. Trabalha acompanhando

    reunies, informando-se, fazendo indicaes e responsabilizando-se pelas questes

    que envolvem oramentos, metas, acompanhamento e execuo que dizem respeito

    Universidade. Graas a todo seu esforo e de seus colaboradores, a PUC Minas

    atualmente tem o ttulo de melhor Universidade privada do Brasil. Prmio dado

    instituio pela premiao: Melhores Universidades Do Guia do Estudante Abril e

    observadas as prescries legais e os seus prprios ordenamentos. (Artigo com redao alteradapela Resoluo n. 12/2010, do Conselho Universitrio)

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    Banco ABN Real. Esse reconhecimento tambm se deu oficialmente pela Comisso

    de Educao Catlica do Vaticano.

    Para garantir a identidade e demandar a definio de focos de trabalho exige-

    se estabelecer um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que explicita uma

    programao das atividades da instituio de ensino, ou seja, uma forma de bem

    articular todo esse processo.

    O PDI consiste em capacitar a prpria comunidade acadmica, a fim de lev-

    la a ter real compreenso do contexto regional e institucional, vislumbrando a curto,

    mdio e longo prazo o desenvolvimento da Universidade. Dessa forma haver

    preparo para responder s diferentes situaes de avaliao interna e externa,

    possibilitando discutir as diferentes tendncias no mundo da educao. Segundo oPlano de Desenvolvimento Institucional (PDI) (2007-2011),

    a Sociedade Mineira de Cultura (SMC) uma associao de fins noeconmicos, tendo como uma de suas finalidades, definidaestatutariamente, a de manter a Pontifcia Universidade Catlica de MinasGerais e, subsidiariamente, outras instituies de ensino e pesquisa. Estainda assegurado no referido estatuto que os bens que constituem opatrimnio da Sociedade, assim como suas rendas, s podero seraplicados no pas e na realizao de seus fins (2007-2011, p. 36).

    Ainda de acordo com o PDI (2007-2011), outra particularidade que a PUC

    Minas est apta a receber recursos federais. Cabe ressaltar tambm que o carter

    confessional e comunitrio da PUC Minas, alm de revelar princpios filosficos,

    epistemolgicos e operacionais, est marcado pelo comprometimento

    sociocomunitrio. Por isso, tem seu referencial estabelecido pela comunidade

    interna e externa, e o compromisso social como parte da sua identidade institucional

    e da sua finalidade educacional. A identidade da Universidade de acordo com o PDI

    :

    A Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais uma comunidadeacadmica inspirada na mensagem de Jesus Cristo e fiel Igreja, que sededica ao ensino, pesquisa e extenso nos variados ramos doconhecimento, de modo sistemtico e crtico. A PUC Minas cuida daevangelizao e formao integral de seus membros alunos, professorese funcionriose se empenha no servio qualificado ao povo, contribuindopara o aumento da cultura, a afirmao da tica e da solidariedade, apromoo da dignidade transcendente da pessoa humana, o servio daIgreja ao Reino de Deus. (2007-2011, p. 18)

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    O humanismo o vetor fundamental da PUC Minas que motiva projetos

    acadmicos dos cursos e demais atividades de acordo com os valores que norteiam

    as atividades de ensino, pesquisa e extenso da Universidade. A inteno que os

    saberes produzidos na instituio contribuam para a compreenso dos problemas da

    sociedade em suas dimenses ticas. Esses princpios valorizam a igualdade, a

    liberdade, autonomia, a pluralidade, a solidariedade e a justia

    No Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da PUC Minas delineiam-se

    as vocaes especficas da Universidade como Instituio de Ensino Superior,

    confessional, de carter comunitrio.

    A identidade da PUC Minas, de acordo com o PDI, desempenha papel

    fundante em toda a rea de atuao da Universidade como perspectivas efinalidades plurais. A Universidade pretende ser um agente de busca de

    conhecimento que se alicera no exerccio da autonomia da cincia e liberdade do

    pensamento acadmico, na participao ativa na transformao tica da sociedade,

    no acompanhamento crtico das mudanas na sociedade e nos indivduos.

    A misso da PUC Minas de acordo com o PDI :

    A Universidade tem como misso promover o desenvolvimento humano e

    social de alunos, professores, funcionrios e comunidade, contribuindo paraa formao tica e solidria de profissionais competentes, humana ecientificamente, mediante produo e disseminao do conhecimento, daarte e da cultura, a integrao entre Universidade e a sociedade, ainterdisciplinaridade e a articulao do ensino, pesquisa e extenso (2007,p.18).

    Misso que nasce da busca pela qualidade de formao humana, profissional

    e cientfica articulada entre ensino, pesquisa e extenso, em todos os seus nveis.

    Uma busca pelo saber em si e um saber do mundo. Percebe-se assim que a

    Universidade busca os seguintes valores e princpios:

    A PUC Minas, tendo o humanismo como vetor bsico, fundamenta osprojetos acadmicos dos cursos e as demais atividades nos princpios evalores que lhe conferem marca singular e norteiam suas atividades deensino, pesquisa e extenso. Os saberes internamente produzidos devemestar a servio da dignidade dos homens e a Universidade tem o dever decontribuir para a compreenso dos problemas da sociedade, com especialateno s suas dimenses ticas. (PDI, 2007, p. 18).

    A PUC Minas tem qualidade de sua atividade-fim: o ensino. Tem

    compromisso com a realidade social brasileira em suas relaes com o contexto

    internacional e formao humanista para o exerccio profissional como dimenso da

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    cidadania. Grande destaque tem sido dado pela instituio aos desafios da

    implementao do esprito acadmico de ensino, pesquisa e extenso.

    O raciocnio metdico a base do crescimento em torno dos conjuntos que

    compem os domnios do conhecimento. A funo da Universidade est ligada

    reflexo e no pode dar lugar apenas para a razo instrumental que coloca a tcnica

    como elemento de ensino, sem embasamento filosfico e cientfico. Isso pode levar

    a uma aprendizagem acrtica e apassivadora. A PUC Minas, alm ter como principal

    objetivo o de aprimorar a qualidade de ensino, no deixa de cumprir sua misso

    educadora e transformadora, levando o conhecimento a outras pessoas. A

    instituio reconhece que fundamental propor polticas e estratgias de

    relacionamento e de acompanhamento de seus estudantes, j que essa umamaneira eficaz de avaliar a instituio formadora, a qualidade dos cursos, alm de

    ser uma maneira de estabelecer vnculos com o aluno mediante os programas de

    pesquisa, ensino, extenso, os seminrios temticos, a participao em projetos

    pedaggicos, entre outros.

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    3 CARACTERIZAO DA DISCIPLINA CULTURA RELIGIOSA NA PUC MINAS

    Tratar da obrigatoriedade das disciplinas de Cultura Religiosa I e II na

    Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais nos leva a refletir sobre a base emque o ensino dessa disciplina ministrado. Embora a Cultura Religiosa, que j

    esteve alocada no departamento de Filosofia e Teologia, esteja alocada atualmente

    no departamento de Cincias da Religio, relevante entender como os professores

    da disciplina a inserem no currculo em uma perspectiva de formao plena do

    cidado, no contexto de uma sociedade cultural e religiosamente plural, na qual

    todas as crenas e expresses religiosas devem ser respeitadas.

    A CR na maioria dos cursos da PUC Minas tem como carga horria bsica:CR I 64 h/a e CR II 32 h/a. Entretanto, os cursos de Tecnologia tm apenas 64 h/a.

    O que certo que todos os cursos da PUC Minas tm a disciplina de Cultura

    Religiosa. H ainda outros cursos que dispem a CRI e CR II de maneira diferente, o

    que leva as disciplinas a serem chamadas de Fenmeno Religioso (CR1) e Homem

    e Sociedade (CR2).

    A Universidade Catlica no quer formar o ser humano apenas para o

    mercado de trabalho. O dilogo da cincia contempornea e religio o principal

    desafio que se apresenta. A disciplina de Cultura Religiosa no quer evidenciar o

    aspecto confessional da teologia, mas sim seu carter humanizador, pblico,

    interconfessional e dialgico.

    Segundo o decreto Geral das Diretrizes e Normas para as Universidades

    Catlicas da CNBB de nmero 64, a reflexo teolgica e a reflexo filosfica

    configuram-se como patrimnios constitutivos dessa Universidade e devem

    contribuir para a formao integral do ser humano. A Cultura Religiosa, estando

    presente em todos os cursos, oferece Pr-reitoria de graduao condies para

    articulao e execuo de projetos comuns e em qualquer situao, o que garante

    lugar epistemolgico dessas disciplinas. A Cultura Religiosa I tem basicamente

    como ementa:

    O fenmeno religioso: experincia e Linguagem. O fenmeno religioso coma experincia especfica: limites e possibilidades da experincia de Deus; ascategorias fundamentais de interpretao e de linguagem do fenmenoreligioso. A Bblia em sua formao histrica, cultural, literria. Os critriosde interpretao, os temas e as perspectivas de estudo da bblia e aabertura experincia. O Cristianismo, sua origem e fundamentos e a

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    pessoa de Jesus. Os desafios do dilogo ecumnico e inter-religioso nocontexto de um mundo globalizado. (Plano de Ensino da Pedagogia, 2011).

    J se entende que, embora a Universidade seja uma instituio Catlica, h

    uma diversidade cultural religiosa presente, e a Cultura Religiosa no deve ser

    entendida como ensino de uma religio ou das religies, mas sim uma disciplina

    embasada nas Cincias da Religio, visando proporcionar o conhecimento dos

    elementos bsicos que compem o fenmeno religioso, a partir das experincias

    religiosas percebidas no contexto dos universitrios. Deve buscar disponibilizar

    esclarecimentos sobre o direito diferena, valorizando a diversidade cultural

    religiosa presente na sociedade, no constante propsito tico de promoo dos

    direitos humanos. A Cultura Religiosa II tem essencialmente como ementa:

    Fundamentos para a prxis crist, a partir do Ensino Social da Igreja. Acategoria pessoa, fundamento antropolgico do Ensino Social da Igreja, emdilogo com as categorias antropolgicas contemporneas. Anlise detemas atuais luz do Ensino Social: a famlia e a dimenso afetivo-social, omundo do trabalho e a situao da propriedade, o sentido da economia; aorigem social e poltica, a conscincia de cidadania, o compromisso com ocuidado e a defesa da vida e as perspectivas de construo de uma novaordem mundial centrada no Amor e na Paz. (Plano de Ensino da Pedagogia,2011).

    Acredita-se que a discusso de temas como tica e moral sejam importantes

    para quem est se formando, porque sensibiliza para a importncia das questes

    sociais e a responsabilidade dos profissionais com relao sua rea. A discusso

    que a Cultura Religiosa pode promover sobre relacionamento interpessoal de

    extrema importncia para a formao integral de uma pessoa. Defende-se a reflexo

    sobre a pessoa humana e o fenmeno religioso em suas diversas expresses, bem

    como o desenvolvimento de um compromisso tico em relao ao exerccio das

    prprias atividades e engajamentos profissionais. Procura-se ver o fenmeno

    religioso tal como ele se mostra em termos de significados relacionais, na dinmica

    da vida da pessoa e em seu mundo existencial.

    As disciplinas de Cultura Religiosa devem rever e adequar as ementas e

    contedos das mesmas para o contexto pedaggico de cada curso, bem como dar

    visibilidade para a funo da disciplina, que precisa assumir a perspectiva do dilogo

    e respeito com todas as cincias e reas do saber presentes na Universidade.

    Devem tambm mostrar os valores humanos e comunitrios que contribuem para a

    formao de profissionais com responsabilidades sociais e ticas.

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    Tendo em vista dados da pesquisa do Instituto LUMEN, realizada em agosto

    de 2000, sobre a Cultura Religiosa I e II, evidencia-se uma avaliao positiva da

    Cultura Religiosa. Entretanto, houve um comum acordo de uma maioria de alunos

    que considerava a carga horria da disciplina excessiva. Nessa pesquisa, os alunos

    avaliaram que 90 horas/aula de carga horria das disciplinas de Cultura Religiosa I e

    II so demasiadas frente ao pouco tempo dispensado para as disciplinas de

    formao profissional de cada curso. Alm disso, s disciplinas tcnicas atribuda

    mais importncia do que s disciplinas humansticas. Isso se deve ao fato de muitos

    alunos no enxergarem funo prtica nas disciplinas humansticas para sua

    profisso, as quais deveriam ser entendidas como parte indispensvel de uma

    formao integral tanto em termos de possibilidade do exerccio da reflexo quantode melhora do relacionamento interpessoal.

    Ainda que a PUC Minas seja uma Universidade confessional, percebe-se,

    pelos dados dessa pesquisa do Instituto LUMEN, que a escolha pela instituio no

    estava ligada ao fator religioso e sim qualidade de ensino da mesma. Havia uma

    preocupao dos alunos com a formao para o mercado de trabalho. Ainda de

    acordo com essa pesquisa qualitativa: A pressa em se profissionalizar faz com que

    os alunos no dem a importncia devida s disciplinas de contedo reflexivo,consideradas por eles indispensveis enquanto base, alicerce do conhecimento

    (LUMEN, 2000, p. 13). H pressa de profissionalizao, o que de acordo com os

    alunos s se baseia em um ensino prtico.

    A escolha de qual perodo as disciplinas devem estar e o horrio das mesmas

    fica a critrio de cada coordenao de curso. Ainda de acordo com a pesquisa do

    Instituto LUMEN, em que se perguntou ao coordenador da disciplina qual seria o

    melhor perodo e horrio para disp-la, o mesmo respondeu que: Tanto no primeirosemestre quanto no ltimo no bom. No primeiro, os alunos no esto preparados

    e, no ltimo, esto mais preocupados em se formar. O ideal no 2, 3 ou 4

    perodos, onde a avaliao mais positiva(LUMEN, 2000, p. 42).

    Com dados dessa mesma pesquisa, percebeu-se que a carga horria total

    distribuda em CR I e CR II de 96 horas/aula. Geralmente, CR I com 64 horas/aula

    e CR II com 32 horas/aula. Essa carga horria provocou, de acordo com a pesquisa

    do Instituto LUMEN, divergncias de ideias entre alguns professores. Uns chegaram

    a dizer que consideravam 64 horas/aula suficiente, enquanto outros professores

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    consideravam 32 horas/aula inadequado. Quer dizer que, para a maioria

    entrevistada, o ideal que CR I e CR II tivessem a mesma carga horria.

    Dentro dos objetivos propostos da CR I e da CR II, para trabalhar com essa

    disciplina, os professores utilizavam materiais como: textos xerocados, propondo

    leitura, reflexo, debates e seminrios. No havia um livro ou material didtico

    prprio, entretanto, ainda segundo dados dessa pesquisa, o material trazido pelo

    professor atendia s necessidades das disciplinas.

    A disciplina Cultura Religiosa reflete as diretrizes e normas da Universidade.

    A Cultura I tem a inteno de promover a compreenso da dimenso religiosa e da

    existncia humana, sensibilizando os alunos para sua importncia, por ser a

    dimenso fundamental que abre a pessoa ao sentido global e transcendente da vida,apresentando a experincia crist como sentido profundo e desafiante para a

    sociedade contempornea.

    A Cultura II quer apresentar os elementos fundamentais da viso

    antropolgica crist, fundamentar a tica crist diante dos desafios atuais e suas

    exigncias nas diversas relaes entre homem, sociedade e natureza, bem como

    levar compreenso e avaliao crtica e tica da sociedade contempornea,

    buscando sua superao em uma nova tica da solidariedade.A Cultura Religiosa deve ser uma prxis de descoberta daquilo que existe em

    cada um, adotando uma postura crtica a esse respeito. O intuito em formar

    profissionais reflexivos muito importante, formar profissionais com conscincia

    crtica, conhecedores da realidade onde esto inseridos e abertos a uma nova viso

    de sociedade. formar profissionais que sejam capazes de pautar suas aes pela

    tica, considerando os seres humanos como iguais portadores de direitos e sujeitos

    de um processo de construo de novas relaes.A atual pesquisa no traa dados de alunos, mas procura, atravs de

    conversas com professores de CR, coordenador da CR e chefe do departamento de

    Cincias da Religio, traar a realidade da CR dentro da PUC Minas. Pode ser til

    para os docentes envolvidos no sentido de reverem sua prtica educacional, alm

    de oferecer assistncia no planejamento e organizao das ementas da disciplina de

    CR. Alm disso, poder se constituir como oportunidade de apontar caminhos que

    estejam em concordncia com a realidade dos universitrios. Do ponto de vista

    social, tomando como referncia a concepo de que a CR engloba aspectos

    fenomenolgicos e ticos que se destinam a auxiliar o dilogo religioso entre as

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    pessoas, esta pesquisa pode ser til na medida em que contribuir para que a CR

    realize esse objetivo, sobretudo levando-se em conta que o cidado deve ter

    oportunidades de conhecer e respeitar a diversidade religiosa que se verifica no

    mundo.

    3.1 Perfil dos docentes de Cultura Religiosa na PUC Minas

    preciso entender que os docentes de Cultura Religiosa trazem consigo a

    marca de uma trajetria existencial que os identifica.

    Apresentar essas caractersticas reconhecer que elas configuram a ao do

    docente. A vida repleta de diversas escolhas, e para esses professores uma

    dessas escolhas a opo em serem docentes na rea de formao de cidados

    crticos e responsveis quanto ao discernimento da dinmica dos fenmenos

    religiosos, que perpassam a vida em mbito pessoal, local e mundial.

    Dos dados levantados para a pesquisa, constam 54 professores de Cultura

    Religiosa. So 41 professores e 13 professoras. Deste total de professores, apenas

    10 so religiosos (frei, padres ou irms). O grfico abaixo traz esta relao e

    acrescenta outros dados que podem ser considerados importantes nesta pesquisa.

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    Atravs da realizao de um grupo focal com trs professores e da realizao

    de entrevistas com outros docentes, registra-se que: um dos professores que

    participaram do grupo focal leciona a Cultura Religiosa nos cursos de Direito,

    Cincias Contbeis, Administrao, Engenharia de Controle e Automao,

    Publicidade e Propaganda. Outro docente que tambm participou do grupo focal

    ministra a Cultura Religiosa nos cursos de Engenharia de Controle e Automao,

    Direito, Administrao e Enfermagem. O terceiro docente envolvido professor de

    Cultura Religiosa nos cursos de Psicologia, Biologia, Comunicao Assistida, Letras

    e Pedagogia. Quanto aos professores entrevistados, lecionam a Cultura Religiosa

    para os cursos de Filosofia, Direito, Cincias Contbeis, Relaes Internacionais,

    Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Tecnologia em Gesto Financeira,Administrao, Sistemas de Informao, Enfermagem, Cincias Sociais, Arquitetura,

    Fisioterapia, Odontologia e Engenharia Civil. So professores que ressignificam sua

    atuao profissional no sentido de realizar uma docncia de acordo com o projeto

    pedaggico de cada curso em questo.

    Quanto ao gnero, o grupo pesquisado compe-se por uma mulher apenas e

    oito homens. Dos cinquenta e quatro professores que trabalham com a Cultura

    Religiosa na PUC Minas, percebe-se uma composio significativa do sexomasculino.

    Com relao formao acadmica dos pesquisados, h basicamente

    telogos, filsofos, psiclogos, historiadores, pedagogos, alguns com

    especializao, mestrado ou doutorado em Cincias da Religio ou Teologia.

    No exigido um pr-requisito confessional catlico para se trabalhar com a

    Cultura Religiosa na PUC Minas. O tempo de experincia dos professores

    pesquisados como docentes dessa disciplina varivel e representa umacaminhada construda ao longo de anos. Maurice Tardif (2002), em seu livro

    Saberes docentes e formao profissional, explica que com o passar dos anos o

    professor com sua cultura, seu estilo, suas ideias, suas funes, seus interesses e

    outras caractersticas vai incorporando aspectos de sua atividade pessoal

    construdos no transcorrer da prtica em sala de aula.

    Em relao aos campi em que os docentes envolvidos na pesquisa

    trabalham, a maioria atua no campusdo Corao Eucarstico, mas h entrevistados

    que trabalham no campusdo Barreiro e no campusde Betim.

  • 7/26/2019 A Disciplina de Cultura Religiosa Na Puc Minas

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    Quando questionados sobre quais seriam os objetivos da disciplina Cultura

    Religiosa, a maioria disse que os objetivos so os que esto definidos pelos cursos

    nas ementas de CR I e CR II. Estes seriam os objetivos formais. No entanto, outros

    objetivos seriam o de abrir os horizontes de compreenso da cultura, sociedade e

    cincia a partir da dinmica da religio em seu interior e oferecer elementos para o

    enriquecimento da prpria formao humana pessoal. Alm disso, de acordo com os

    relatos colhidos, a disciplina de CR busca viabilizar aos alunos o estudo e,

    consequentemente, a compreenso da dimenso religiosa em sua formao pessoal

    e institucional. A relevncia da CR se vincula ao fato de indicar ao ser humano

    possibilidades de abertura ao sentido mais global da vida.

    Cabe salientar ento a importncia da discusso do papel do fenmenoreligioso na vida das pessoas, na sociedade, bem como mostrar que a religio um

    componente cultural e que a CR deseja formar alunos em uma perspectiva tico-

    solidria.

    Quanto tradio religiosa dos participantes, no se preocupou em saber

    quantos so catlicos, evanglicos, espritas e demais crenas religiosas, mas se

    preocupou se a CR ministrada com contedos confessionais ou no.

    Verificou-se, ento, que a maioria dos pesquisados respondeu que noministra a disciplina com contedos confessionais. A perspectiva de ensino da

    maioria dos professores pesquisados segue as orientaes presentes no plano de

    curso e explicitadas nas ementas, nos objetivos e nas respectivas unidades de

    ensino. Tais orientaes priorizam o estudo da religio como fenmeno social e

    antropolgico com sua especificidade de linguagem. Apresenta-se o carter

    universal do fenmeno religioso, presente na busca humana pelo sentido da vida. A

    institucionalizao das experincias religiosas concebida como construohumana no intuito de formalizar os processos de experincias transcendentes.

    Entretanto, a concluso que se pode chegar quanto a esse assunto que os

    contedos confessionais so o ponto de partida para um dilogo mais