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A cultura latino-americana no Caderno 2 do Jornal Estado de São Paulo1
Leandro TRAVASSOS2
Sebastião Albano da COSTA3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN
Resumo
O presente artigo tem o intuito investigar durante os meses setembro, outubro e
novembro de 2011 informações sobre a cultura latino-americana no suplemento cultural
Caderno 2 do Jornal Estado de São Paulo propondo instigar o leitor a visualizar claramente
os elementos que envolvem a problemática e propor uma leitura reflexiva sobre realidade
latino-americana. O recorte temporal faz parte de um estudo dividido em três períodos que
vai desde 2000 a 2015 que servirão de base para a dissertação A representação da cultura
latino-americana nos suplementos culturais da grande imprensa brasileira a ser defendida
em 2017 no Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte.
Palavras-chave: cultura; América Latina; caderno 2, Estado de São Paulo
A Distante América Latina
Em 1982 quando o escritor colombiano Gabriel García Márquez, um dos principais
representantes do pensamento latino-americano foi premiado com o Nobel de Literatura
pelo livro “Cem Anos de Solidão”, no seu discurso intitulado A Solidão da América
Latina4, o escritor descreveu de forma literária como a região era representada pelo mundo
e como era relegada ao esquecimento. “A interpretação de nossa realidade em cima de
padrões que não são os nossos serve apenas para nos tornar ainda mais desconhecidos,
ainda menos livres, ainda mais solitários” (GARCÍA MARQUEZ, 1982).
Uma breve pesquisa nos dias atuais pelas páginas dos jornais ou pelas manchetes de
televisão é fácil percebermos uma tácito silêncio latino-americano tão forte quanto o
destacado por García Márquez naquela época. Um dos motivos residiria no fato que os
meios de comunicação não têm a América Latina como categoria importante de seleção de
1 Trabalho apresentado no GP Mídia, Culturas e Tecnologias Digitais na América Latina do XVI Encontro dos Grupos de
Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia – UFRN, e-mail:
[email protected] 3 Prof. Dr.do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia – UFRN, e-mail: [email protected] 4 Texto na íntegra disponível em:< http://www.ciudadseva.com/textos/otros/la_soledad_de_america_latina.htm> Acesso em 20.12.2015
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notícias, uma vez que, que os temas latino-americanos comumente são engavetados para
dar lugar às culturas hegemônicas.
É consenso que os meios de comunicação são os principais responsáveis pela forma
de enxergar e interpretar a realidade pelo homem, além de exercerem forte influência nos
sistemas culturais e na construção da identidade dos grupos sociais. São eles que atuam
tanto como fontes de informações, quanto na formação de opiniões que refletem
diretamente nas representações construídas da realidade noticiada. “ A mídia desempenha
um papel, nessa perspectiva, de agente social que pressiona, através da formação de opinião
pública, para que os fatos gerem os efeitos desejados pelos que dela se utilizam”
(Steinberger, 2005, p.210).
A imprensa é um gênero da comunicação de massas que tem como um de seus
princípios ser uma mediação entre os interesses e valores das esferas pública e privada. De
outro lado, quando se trata da chamada grande imprensa - meios cujo alcance físico é
proporcional a sua influência ideológica - tem-se a impressão que pretendem desempenhar
seu papel de representação dos fatos com certo equilíbrio de opiniões. Mas, em se tratando
de América Latina esse equilíbrio de opiniões se torna tendencioso, pois, muito embora os
meios de comunicação tenham um papel importante a desempenhar na questão da
integração da América Latina, o que se percebe da imprensa brasileira é o pouco interesse
pela transposição das fronteiras regionais através da comunicação que poderiam evidenciar
culturas que se assemelham em muito a do Brasil.
Segundo Barbosa (2006, p.14), a América Latina “só sai do limbo do noticiário em
situações de excepcionalidade: tragédias, golpes de Estado, violência, abuso de poder,
desastres naturais, ou seja, em todas as que reforçam o caráter de periferia”. Essa
abordagem da imprensa brasileira (com limitações de informações e falta conhecimento da
realidade regional), acaba por conceber uma recepção alheia da cultura e da história latino-
americana, muitas das vezes distorcida da realidade e distante da importância que ela
representa em sua totalidade.
Essa abordagem da imprensa brasileira parece ser reflexo de um sintoma mais
profundo, que é autoidentificação do brasileiro como latino americano.
A autoidentificação dos brasileiros como latino-americanos sempre foi
tênue e ambivalente. A percepção de pertencer a uma nação diferente de
seus vizinhos, em virtude de experiência colonial distinta, língua e trajetória
peculiar como país independente, caracterizou desde sempre as elites, assim
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como o público de massas, marcando de forma particular a maneira como
os grupos dirigentes formularam as relações do Brasil com a região e com o
mundo. (ALMEIDA, ONUKI, CARNEIRO, 2011, p. 16)
O sociólogo e cientista político Emir Sader chega a afirmar que para o Brasil a
América Latina simplesmente não existe. “ Existe a Argentina, existe o México, existe
Cuba e, principalmente os Estados Unidos [...] Em nossa identidade não se inclui ser um
país “latino-americano” (SADER, NOVAES 2006, p. 177).
Ferreira (1997, p.12) também compartilha desse pensamento ao afirmar que existe
por parte do Brasil “uma certa relutância em manter relações de qualquer natureza com a
América Latina”, segundo a autora pelo menos dois motivos são responsáveis por isso, o
primeiro seria a “rivalidade entre Portugal e Espanha” proveniente ainda dos tempos da
colonização e o segundo seria o “idioma” que embora existam projetos governamentais da
introdução da língua espanhola nas escolas brasileiras, acabam por não sair do papel. Esse
segundo aspecto, no entanto, para Ribeiro (2010, p.25), “não chega a ser obstáculo para a
comunicação, ainda que tendamos a exagerá-la com base numa longa história comum,
interatuante, mas muitas vezes conflitante”.
Apesar da América Latina ter uma vasta produção nos setores da cultura e do
pensamento que já se universalizaram, ainda hoje, a região é estigmatizada como cultura
menor. Segundo Amaral (2006, pp. 37-38), a produção latino-americana existe apenas
como uma “expressão exótica, mágica e fantástica”, pouco, ou nada, comparada à arte
erudita produzida nos grandes centros econômicos (europeu e norte-americano,
principalmente), sendo, por isso, relegada ao ostracismo.
Segundo Ianni (1993, p.132) “o exotismo adquire conotações caricatas, pelas
paráfrases que realiza, pela não-contemporaneidade de ideias, temas e linguagens. Outras
vezes acentua ainda mais o desencontro entre o pensamento e o pensado” o autor afirma
ainda que aos latino-americanos só cabe se conformar em “imitar leis e preceitos que
nasceram em outros povos, das necessidades que lhe eram próprias [...] somos ainda hoje
uns desterrados em nossa terra”. Visto dessa forma, os meios de comunicação brasileiros,
em geral, tendem a propalar esses estereótipos subjugando a produção cultural latino-
americana à subalternidade.
Fato comprovado em pesquisas recentes como a dissertação de mestrado “A solidão
da América Latina no jornalismo brasileiro” de Alexandre Barbosa de 2004; O trabalho de
conclusão de curso “A américa Latina na grande imprensa brasileira: uma análise de
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conteúdo dos jornais Folha de São Paulo e O Globo” de Cristina Pasqualetto Rodrigues de
2009; Dois livros publicados pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos
(CEBELA), da professora da USP, Maria Nazareth Ferreira, que trazem como resultado
uma radiografia da ausência da América Latina na imprensa brasileira e o projeto de
pesquisa “Vizinhos que falam baixo: a recepção da cultura hispano-americana na grande
imprensa brasileira” desenvolvido entre 2011 e 2012 pelo professor Sebastião Albano da
UFRN. Todas essas pesquisas chegaram à conclusão que a imprensa brasileira
simplesmente ignora ou não dá destaque devido às manifestações culturais dos nossos
países vizinhos.
A imprensa brasileira e a América Latina
O agendamento dado pela imprensa brasileira aos temas culturais da América Latina
sempre esbarra nos filtros das nossas redações. Esse agendamento segundo Wolf (2009,
p.159) que é “o responsável pela lógica dos processos pelos quais a comunicação de massa
é produzida e o tipo de organização do trabalho dentro do qual se efetua a construção das
mensagens ” se traduz no silenciamento que se faz perceber nas entrelinhas do discurso
jornalístico sobre a comunidade latino-americana e se materializa na pouca ocorrência de
assuntos relacionados com eles em seus cadernos culturais.
As notícias selecionadas por uma equipe de profissionais, seguindo um
direcionamento editorial da empresa, vão compor o repertório de
conhecimento de boa arte da população de um país. Quando se exclui
determinado assunto [..] muitas vezes se exclui também da mente das
pessoas e, consequentemente, das discussões. (LEAL, 2005, p.25)
Não obstante, os editores dos cadernos de cultura esquecem, por exemplo, que a
literatura hispano-americana conta com seis prêmios Nobel, Gabriela Mistral (Chile),
Miguel Ángel Asturias (Guatemala), Pablo Neruda (Chile), Gabriel García Márquez
(Colômbia), Octavio Paz (México) e Mário Vargas Ilosa (Peru), enquanto o idioma
português apenas um (José Saramago), e o Brasil, nenhum. Dada a importância do prêmio
Nobel, é comum ser pautado pela imprensa – ou ao menos se espera isso. A despeito dos
ramos interpretativos que aponto esta pesquisa, as conclusões mais pontuais são no sentido
de que a imprensa brasileira reproduz uma ordenação noticiosa de viés dependente ou
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mesmo colonizada. Para Lima (2014, p. 23), a apropriação da imprensa “pautada pela visão
cosmopolita e ‘antenada’ com o mercado de consumo”, apresentando-se “menos
preocupada com os autores latino-americanos e com seu potencial de fazer frente à
industrial cultural”.
Nomes reconhecidos mundialmente como Jorge Luis Borges, Juan Rulfo, Alejo
Caepentier, García Márquez, Pablo Neruda, Alfonso Reyes, Pedro Henríquez Ureña, José
Carlos Mariátegui, José Maria Arguedas, são alguns dos personagens importantes no campo
da cultura e do pensamento, mas que não têm muita ou nenhuma tradição na imprensa
brasileira, e quando aparecem estão escamoteados em notas esporádicas sobre os mesmos.
Esse viés da imprensa brasileira ganha uma explicação embasada na propensão da
que a mesma obedece aos ditames noticiosos dos países centrais. Sabe-se que imprensa,
tematizam-se uns em relação com os outros, demonstrando o caráter condicionado e
convergente dos discursos contemporâneos, com vistas à formação de uma imaginação
consensual que propicie a manutenção do equilíbrio cognitivo. De forma geral, “o discurso
da América Latina ainda é influenciado pela lógica do subdesenvolvimento, que vê a arte
produzida na região como uma cópia”. (LIMA, 2014, p. 27).
O papel dos cadernos Culturais
Os cadernos culturais, mais conhecidos como segundos cadernos ou suplementos
Culturais são assim chamados por representarem menor importância do que outras editorias
dentro do jornal. No entanto, essa ideia é contestada por Piza (2009) que afirma que esses
cadernos são os mais lidos, de onde os leitores muitas das vezes extraem suas “referências
afetivas” e suas “ fontes cativas” com a publicação.
Capazes de estabelecer um vínculo afetivo com o leitor, que passa a
dialogar com os colunistas, os suplementos e cadernos culturais dos
veículos impressos sempre representaram o espaço da ousadia gráfica
e da experimentação da linguagem. (BARRETO, 2006, p.66)
Os cadernos culturais em geral focam sua abordagem editorial em assuntos
considerados mais leves, apenas com o intuito de “ reportar, divulgar e analisar
(superficialmente) produtos culturais”. (ROSA, 2013, p.69). Essa postura dos cadernos
culturais tem esse enraizamento superficial principalmente porque “após submeterem-se à
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lógica do jornal e do jornalismo, os suplementos passam a construir uma representação
subjetiva derivada dos profissionais que neles atuam”. (SOUZA JÚNIOR, 2011, p.15).
Apesar dos cadernos culturais serem estruturados pela lógica jornalística, “ são
ainda um lugar privilegiado para a literatura e os livros. O que não significa dizer um lugar
ideal ou um espaço sem tensões entre gêneros e perspectivas” (TRAVANCAS, 2001, p.
152).
O que diz Caderno 2 sobre a cultura latino-americana
Um dos jornais mais antigos do país, O Estado de São Paulo, é em essência, um
jornal conservador que mantém como característica principal a informação, buscando,
sempre que possível, trabalhá-la de forma precisa e extensa, procurando oferecer ao seu
leitor um horizonte amplo acerca dos temas sobre os quais trata diariamente.
Ao lado da informação encontramos a opinião também valorizada pelo veículo com
espaço bem definido e bem ocupado em todo o jornal. Invariavelmente, encontramos um
artigo ou comentário logo ao lado de uma grande reportagem, tratando exatamente do
objeto da reportagem. O recurso é utilizado com o intuito de fornecer ao leitor um
panorama que vai além da informação e da opinião, e que cria contextos para uma
interpretação do interlocutor.
O Caderno 2, o caderno cultural do jornal Estado de São Paulo surgiu em 1986,
representando um marco do jornalismo cultural brasileiro. O objetivo do caderno era fazer
jornal com estilo de revista diária com informação, sobre artes, variedades, cultura, lazer e
comportamento.
E é este caderno cultural que servirá de suporte para nossa análise com objetivo de
entender como a cultura latino-americana é abordada e com que frequência aparece em suas
publicações. Para nossa análise separamos os meses de setembro a novembro de 2011. A
escolha do período é apenas um recorte temporal de um estudo mais amplo que se estende
do ano 2000 a 2015, que será apresentado posteriormente.
Na nossa pesquisa incluímos também a publicação do caderno Sabático lançado em
março de 2010, com a proposta de recriar o suplemento chamado Cultura. O Sabático era
voltado para literatura e para o mercado editorial. Além do sabático, serão contemplados
também o Caderno 2 + música publicado aos sábados e Caderno 2 Domingo, publicado aos
domingos.
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Durante os três meses pesquisados, o total de referências a América Latina somaram
59 (cinquenta e nove) publicações, entre notas, matérias, ensaios e críticas. As categorias
encontradas em assuntos específicos mantiveram um padrão de conteúdo: artes visuais,
cinema, literatura, música e teatro como observada no quadro abaixo.
QUADRO 1 ASSUNTO
SETEMBRO/2011 OUTUBRO/2011 NOVEMBRO/2011
Cinema 5 5 4
Artes Visuais 5 1 5
Literatura 8 7 9
Música 3 4 2
Teatro 0 0 1
Total 21 17 21
No mês de setembro, o Caderno 2 fez referência a cultura latino-americana 21(vinte
e uma) vezes. Com destaque maior para a Literatura com 8 (oito) publicações seguida do
cinema e artes visuais cada uma com 5 (cinco) publicações e somente três referências para
música.
Durante o mês de setembro como foi dito, prevaleceu a literatura. Durante esse mês
duas capas merecem destaque. A primeira do dia 6 de setembro que abriu espaço para a
divulgação dos Bienais de Setembro onde destacou a importância das artes brasileira e
latino-americana. Essa capa, no entanto, tinha como enfoque meramente de divulgação sem
se aprofundar no assunto.
Por outro lado, a capa do Caderno Sabático do dia 17 de setembro, abriu um espaço
privilegiado para o escritor mexicano Carlos Fuentes com o título “Expressão do
Romance”. A publicação dedicada ao escritor reservou espaço para a análise do seu livro La
Grand Novela Latinoamericana, onde o escritor discursou sobre o gênero que se tornou um
marco da moderna literatura.
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Edição 17 de setembro
No mês de outubro, a quantidade de matéria teve uma pequena queda significativa.
Foram 17 (dezessete) publicações com referências a América Latina. Desse total, como no
mês de setembro, o tema literatura predominou com 7 (sete) referências. Seguido pelo
cinema (5) e música (4) e apenas uma referência para artes visuais.
A única publicação de capa com destaque para a cultura latino-americana foi a do
dia primeiro com o título Buena Social Social Reggae Reggae. A publicação traz o
resultado do trabalho do produtor musical brasileiro BiD que resultou na gravação do CD
Bambas 2, onde mistura o reggae jamaicano com os ritmos nordestinos. Essa publicação é
rica em informações, contado inclusive, com infográficos que ilustram a matéria.
Edição 6 de setembro
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Edição 1º de outubro
No último mês pesquisado, novembro, a quantidade de matéria foi a mesma de
setembro, 21 (vinte e uma) publicações. E mais uma vez o tema literatura foi predominante.
Desta vez a literatura teve 9 (nove) publicações seguida pelas artes visuais 5 (cinco),
cinema 4 (quatro), 2 (música) e pela primeira vez aparece refrência ao teatro com 1 (uma)
publicação.
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A publicação do 18 (dezoito) de novembro traz em sua capa o título O Peso da
Ausência” dedicada ao escritor chileno Antonio Skármeta onde fala de seu romance Um
Pai de Cinema, sobre as questões da paternidade.
Edição 18 de novembro
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Considerações Finais
Como observado, a cultura latino-americana no Caderno 2, do jornal Estado de São
Paulo passa longe de uma visibilidade concreta, pelo contrário se confirma uma realidade
gritante que o levantamento de dados corroborou. Embora o período pesquisado tenha sido
breve e a quantidade de matérias ser aparentemente grande, o conteúdo delas não passa de
pequenas notas esporádicas, sem conteúdo aprofundado.
No caso da literatura, pode-se afirmar sem ironia que os livros e os autores hispano-
americanos têm menos espaço que a tradição de países eslavos, por exemplo.
Historicamente, Fiodor Dostoievski, Franz Kafka (judeu tcheco de expressão alemã) e Leon
Tólstoi são na imprensa brasileira mais aludidos que Miguel de Cervantes e Francisco de
Quevedo. Se em princípio temos mais afinidades com os argentinos e mexicanos do que
com os países eslavos, os seus conteúdos culturais parecem merecer maior atenção. O
motivo poderia estar em que essas literaturas, com obras produzidas por sociedades exóticas
quase em qualquer parte do mundo, salvo em seu raio de influência geográfica imediata,
curiosamente têm maior prestígio e espaço na imprensa das nações hegemônicas,
particularmente nos Estados Unidos. Reiteramos que esse é apenas um exemplo.
Logo, o discurso da mídia hegemônica acaba por reforçar a manutenção da estrutura
monopolista. No entanto, esse discurso pode e deve ser combatido no intuito de promover
uma nova consciência sobre a América Latina. Para Martín-Barbero (1989), é preciso
colocar a cultura no centro do cenário político e social de discussão, uma vez que a
informação e a cultura, não estão e não podem ser isolados um do outro. Essa abertura para
novos diálogos possibilita o debate para o enfrentamento de novos problemas,
Em que o redefinido é tanto o sentido da cultura quanto a da política, onde a
problemática da comunicação entra não somente a título temático e quantitativo –
os enormes interesses econômicos que movem as empresas de comunicação –
como também qualitativo: na redefinição da cultura a chave é a compreensão de sua
natureza comunicativa, isto é, seu caráter de processo produtor de significações e
não de mera circulação de informações e portanto, no qual o receptor não é o mero
decodificador que o emissor colocou na mensagem, mas também um produtor.
(MARTÍN-BARBERO, 1989, p. 86).
Somente assim, a imprensa brasileira será capaz de valorizar a cultura latino-
americana sem lhe atribuir um papel de sub-representação e criar uma nova percepção
estética, histórica, e simbólica da região, bem como uma nova recepção da imagem da
América Latina e de seus movimentos socioculturais.
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Neste panorama surge a necessidade de um estudo aprofundado para entender quais
motivos da imprensa brasileira ignorar ou virar a face aos países vizinhos mesmo
compartilhando de muitos aspectos em comum.
REFERÊNCIAS
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