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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 A cultura latino-americana no Caderno 2 do Jornal Estado de São Paulo 1 Leandro TRAVASSOS 2 Sebastião Albano da COSTA 3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN Resumo O presente artigo tem o intuito investigar durante os meses setembro, outubro e novembro de 2011 informações sobre a cultura latino-americana no suplemento cultural Caderno 2 do Jornal Estado de São Paulo propondo instigar o leitor a visualizar claramente os elementos que envolvem a problemática e propor uma leitura reflexiva sobre realidade latino-americana. O recorte temporal faz parte de um estudo dividido em três períodos que vai desde 2000 a 2015 que servirão de base para a dissertação A representação da cultura latino-americana nos suplementos culturais da grande imprensa brasileira a ser defendida em 2017 no Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Palavras-chave: cultura; América Latina; caderno 2, Estado de São Paulo A Distante América Latina Em 1982 quando o escritor colombiano Gabriel García Márquez, um dos principais representantes do pensamento latino-americano foi premiado com o Nobel de Literatura pelo livro “Cem Anos de Solidão”, no seu discurso intitulado A Solidão da América Latina 4 , o escritor descreveu de forma literária como a região era representada pelo mundo e como era relegada ao esquecimento. “A interpretação de nossa realidade em cima de padrões que não são os nossos serve apenas para nos tornar ainda mais desconhecidos, ainda menos livres, ainda mais solitários” (GARCÍA MARQUEZ, 1982). Uma breve pesquisa nos dias atuais pelas páginas dos jornais ou pelas manchetes de televisão é fácil percebermos uma tácito silêncio latino-americano tão forte quanto o destacado por García Márquez naquela época. Um dos motivos residiria no fato que os meios de comunicação não têm a América Latina como categoria importante de seleção de 1 Trabalho apresentado no GP Mídia, Culturas e Tecnologias Digitais na América Latina do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia UFRN, e-mail: [email protected] 3 Prof. Dr.do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia UFRN, e-mail: [email protected] 4 Texto na íntegra disponível em:< http://www.ciudadseva.com/textos/otros/la_soledad_de_america_latina.htm> Acesso em 20.12.2015

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

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A cultura latino-americana no Caderno 2 do Jornal Estado de São Paulo1

Leandro TRAVASSOS2

Sebastião Albano da COSTA3

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN

Resumo

O presente artigo tem o intuito investigar durante os meses setembro, outubro e

novembro de 2011 informações sobre a cultura latino-americana no suplemento cultural

Caderno 2 do Jornal Estado de São Paulo propondo instigar o leitor a visualizar claramente

os elementos que envolvem a problemática e propor uma leitura reflexiva sobre realidade

latino-americana. O recorte temporal faz parte de um estudo dividido em três períodos que

vai desde 2000 a 2015 que servirão de base para a dissertação A representação da cultura

latino-americana nos suplementos culturais da grande imprensa brasileira a ser defendida

em 2017 no Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte.

Palavras-chave: cultura; América Latina; caderno 2, Estado de São Paulo

A Distante América Latina

Em 1982 quando o escritor colombiano Gabriel García Márquez, um dos principais

representantes do pensamento latino-americano foi premiado com o Nobel de Literatura

pelo livro “Cem Anos de Solidão”, no seu discurso intitulado A Solidão da América

Latina4, o escritor descreveu de forma literária como a região era representada pelo mundo

e como era relegada ao esquecimento. “A interpretação de nossa realidade em cima de

padrões que não são os nossos serve apenas para nos tornar ainda mais desconhecidos,

ainda menos livres, ainda mais solitários” (GARCÍA MARQUEZ, 1982).

Uma breve pesquisa nos dias atuais pelas páginas dos jornais ou pelas manchetes de

televisão é fácil percebermos uma tácito silêncio latino-americano tão forte quanto o

destacado por García Márquez naquela época. Um dos motivos residiria no fato que os

meios de comunicação não têm a América Latina como categoria importante de seleção de

1 Trabalho apresentado no GP Mídia, Culturas e Tecnologias Digitais na América Latina do XVI Encontro dos Grupos de

Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia – UFRN, e-mail:

[email protected] 3 Prof. Dr.do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia – UFRN, e-mail: [email protected] 4 Texto na íntegra disponível em:< http://www.ciudadseva.com/textos/otros/la_soledad_de_america_latina.htm> Acesso em 20.12.2015

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notícias, uma vez que, que os temas latino-americanos comumente são engavetados para

dar lugar às culturas hegemônicas.

É consenso que os meios de comunicação são os principais responsáveis pela forma

de enxergar e interpretar a realidade pelo homem, além de exercerem forte influência nos

sistemas culturais e na construção da identidade dos grupos sociais. São eles que atuam

tanto como fontes de informações, quanto na formação de opiniões que refletem

diretamente nas representações construídas da realidade noticiada. “ A mídia desempenha

um papel, nessa perspectiva, de agente social que pressiona, através da formação de opinião

pública, para que os fatos gerem os efeitos desejados pelos que dela se utilizam”

(Steinberger, 2005, p.210).

A imprensa é um gênero da comunicação de massas que tem como um de seus

princípios ser uma mediação entre os interesses e valores das esferas pública e privada. De

outro lado, quando se trata da chamada grande imprensa - meios cujo alcance físico é

proporcional a sua influência ideológica - tem-se a impressão que pretendem desempenhar

seu papel de representação dos fatos com certo equilíbrio de opiniões. Mas, em se tratando

de América Latina esse equilíbrio de opiniões se torna tendencioso, pois, muito embora os

meios de comunicação tenham um papel importante a desempenhar na questão da

integração da América Latina, o que se percebe da imprensa brasileira é o pouco interesse

pela transposição das fronteiras regionais através da comunicação que poderiam evidenciar

culturas que se assemelham em muito a do Brasil.

Segundo Barbosa (2006, p.14), a América Latina “só sai do limbo do noticiário em

situações de excepcionalidade: tragédias, golpes de Estado, violência, abuso de poder,

desastres naturais, ou seja, em todas as que reforçam o caráter de periferia”. Essa

abordagem da imprensa brasileira (com limitações de informações e falta conhecimento da

realidade regional), acaba por conceber uma recepção alheia da cultura e da história latino-

americana, muitas das vezes distorcida da realidade e distante da importância que ela

representa em sua totalidade.

Essa abordagem da imprensa brasileira parece ser reflexo de um sintoma mais

profundo, que é autoidentificação do brasileiro como latino americano.

A autoidentificação dos brasileiros como latino-americanos sempre foi

tênue e ambivalente. A percepção de pertencer a uma nação diferente de

seus vizinhos, em virtude de experiência colonial distinta, língua e trajetória

peculiar como país independente, caracterizou desde sempre as elites, assim

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como o público de massas, marcando de forma particular a maneira como

os grupos dirigentes formularam as relações do Brasil com a região e com o

mundo. (ALMEIDA, ONUKI, CARNEIRO, 2011, p. 16)

O sociólogo e cientista político Emir Sader chega a afirmar que para o Brasil a

América Latina simplesmente não existe. “ Existe a Argentina, existe o México, existe

Cuba e, principalmente os Estados Unidos [...] Em nossa identidade não se inclui ser um

país “latino-americano” (SADER, NOVAES 2006, p. 177).

Ferreira (1997, p.12) também compartilha desse pensamento ao afirmar que existe

por parte do Brasil “uma certa relutância em manter relações de qualquer natureza com a

América Latina”, segundo a autora pelo menos dois motivos são responsáveis por isso, o

primeiro seria a “rivalidade entre Portugal e Espanha” proveniente ainda dos tempos da

colonização e o segundo seria o “idioma” que embora existam projetos governamentais da

introdução da língua espanhola nas escolas brasileiras, acabam por não sair do papel. Esse

segundo aspecto, no entanto, para Ribeiro (2010, p.25), “não chega a ser obstáculo para a

comunicação, ainda que tendamos a exagerá-la com base numa longa história comum,

interatuante, mas muitas vezes conflitante”.

Apesar da América Latina ter uma vasta produção nos setores da cultura e do

pensamento que já se universalizaram, ainda hoje, a região é estigmatizada como cultura

menor. Segundo Amaral (2006, pp. 37-38), a produção latino-americana existe apenas

como uma “expressão exótica, mágica e fantástica”, pouco, ou nada, comparada à arte

erudita produzida nos grandes centros econômicos (europeu e norte-americano,

principalmente), sendo, por isso, relegada ao ostracismo.

Segundo Ianni (1993, p.132) “o exotismo adquire conotações caricatas, pelas

paráfrases que realiza, pela não-contemporaneidade de ideias, temas e linguagens. Outras

vezes acentua ainda mais o desencontro entre o pensamento e o pensado” o autor afirma

ainda que aos latino-americanos só cabe se conformar em “imitar leis e preceitos que

nasceram em outros povos, das necessidades que lhe eram próprias [...] somos ainda hoje

uns desterrados em nossa terra”. Visto dessa forma, os meios de comunicação brasileiros,

em geral, tendem a propalar esses estereótipos subjugando a produção cultural latino-

americana à subalternidade.

Fato comprovado em pesquisas recentes como a dissertação de mestrado “A solidão

da América Latina no jornalismo brasileiro” de Alexandre Barbosa de 2004; O trabalho de

conclusão de curso “A américa Latina na grande imprensa brasileira: uma análise de

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conteúdo dos jornais Folha de São Paulo e O Globo” de Cristina Pasqualetto Rodrigues de

2009; Dois livros publicados pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos

(CEBELA), da professora da USP, Maria Nazareth Ferreira, que trazem como resultado

uma radiografia da ausência da América Latina na imprensa brasileira e o projeto de

pesquisa “Vizinhos que falam baixo: a recepção da cultura hispano-americana na grande

imprensa brasileira” desenvolvido entre 2011 e 2012 pelo professor Sebastião Albano da

UFRN. Todas essas pesquisas chegaram à conclusão que a imprensa brasileira

simplesmente ignora ou não dá destaque devido às manifestações culturais dos nossos

países vizinhos.

A imprensa brasileira e a América Latina

O agendamento dado pela imprensa brasileira aos temas culturais da América Latina

sempre esbarra nos filtros das nossas redações. Esse agendamento segundo Wolf (2009,

p.159) que é “o responsável pela lógica dos processos pelos quais a comunicação de massa

é produzida e o tipo de organização do trabalho dentro do qual se efetua a construção das

mensagens ” se traduz no silenciamento que se faz perceber nas entrelinhas do discurso

jornalístico sobre a comunidade latino-americana e se materializa na pouca ocorrência de

assuntos relacionados com eles em seus cadernos culturais.

As notícias selecionadas por uma equipe de profissionais, seguindo um

direcionamento editorial da empresa, vão compor o repertório de

conhecimento de boa arte da população de um país. Quando se exclui

determinado assunto [..] muitas vezes se exclui também da mente das

pessoas e, consequentemente, das discussões. (LEAL, 2005, p.25)

Não obstante, os editores dos cadernos de cultura esquecem, por exemplo, que a

literatura hispano-americana conta com seis prêmios Nobel, Gabriela Mistral (Chile),

Miguel Ángel Asturias (Guatemala), Pablo Neruda (Chile), Gabriel García Márquez

(Colômbia), Octavio Paz (México) e Mário Vargas Ilosa (Peru), enquanto o idioma

português apenas um (José Saramago), e o Brasil, nenhum. Dada a importância do prêmio

Nobel, é comum ser pautado pela imprensa – ou ao menos se espera isso. A despeito dos

ramos interpretativos que aponto esta pesquisa, as conclusões mais pontuais são no sentido

de que a imprensa brasileira reproduz uma ordenação noticiosa de viés dependente ou

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mesmo colonizada. Para Lima (2014, p. 23), a apropriação da imprensa “pautada pela visão

cosmopolita e ‘antenada’ com o mercado de consumo”, apresentando-se “menos

preocupada com os autores latino-americanos e com seu potencial de fazer frente à

industrial cultural”.

Nomes reconhecidos mundialmente como Jorge Luis Borges, Juan Rulfo, Alejo

Caepentier, García Márquez, Pablo Neruda, Alfonso Reyes, Pedro Henríquez Ureña, José

Carlos Mariátegui, José Maria Arguedas, são alguns dos personagens importantes no campo

da cultura e do pensamento, mas que não têm muita ou nenhuma tradição na imprensa

brasileira, e quando aparecem estão escamoteados em notas esporádicas sobre os mesmos.

Esse viés da imprensa brasileira ganha uma explicação embasada na propensão da

que a mesma obedece aos ditames noticiosos dos países centrais. Sabe-se que imprensa,

tematizam-se uns em relação com os outros, demonstrando o caráter condicionado e

convergente dos discursos contemporâneos, com vistas à formação de uma imaginação

consensual que propicie a manutenção do equilíbrio cognitivo. De forma geral, “o discurso

da América Latina ainda é influenciado pela lógica do subdesenvolvimento, que vê a arte

produzida na região como uma cópia”. (LIMA, 2014, p. 27).

O papel dos cadernos Culturais

Os cadernos culturais, mais conhecidos como segundos cadernos ou suplementos

Culturais são assim chamados por representarem menor importância do que outras editorias

dentro do jornal. No entanto, essa ideia é contestada por Piza (2009) que afirma que esses

cadernos são os mais lidos, de onde os leitores muitas das vezes extraem suas “referências

afetivas” e suas “ fontes cativas” com a publicação.

Capazes de estabelecer um vínculo afetivo com o leitor, que passa a

dialogar com os colunistas, os suplementos e cadernos culturais dos

veículos impressos sempre representaram o espaço da ousadia gráfica

e da experimentação da linguagem. (BARRETO, 2006, p.66)

Os cadernos culturais em geral focam sua abordagem editorial em assuntos

considerados mais leves, apenas com o intuito de “ reportar, divulgar e analisar

(superficialmente) produtos culturais”. (ROSA, 2013, p.69). Essa postura dos cadernos

culturais tem esse enraizamento superficial principalmente porque “após submeterem-se à

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lógica do jornal e do jornalismo, os suplementos passam a construir uma representação

subjetiva derivada dos profissionais que neles atuam”. (SOUZA JÚNIOR, 2011, p.15).

Apesar dos cadernos culturais serem estruturados pela lógica jornalística, “ são

ainda um lugar privilegiado para a literatura e os livros. O que não significa dizer um lugar

ideal ou um espaço sem tensões entre gêneros e perspectivas” (TRAVANCAS, 2001, p.

152).

O que diz Caderno 2 sobre a cultura latino-americana

Um dos jornais mais antigos do país, O Estado de São Paulo, é em essência, um

jornal conservador que mantém como característica principal a informação, buscando,

sempre que possível, trabalhá-la de forma precisa e extensa, procurando oferecer ao seu

leitor um horizonte amplo acerca dos temas sobre os quais trata diariamente.

Ao lado da informação encontramos a opinião também valorizada pelo veículo com

espaço bem definido e bem ocupado em todo o jornal. Invariavelmente, encontramos um

artigo ou comentário logo ao lado de uma grande reportagem, tratando exatamente do

objeto da reportagem. O recurso é utilizado com o intuito de fornecer ao leitor um

panorama que vai além da informação e da opinião, e que cria contextos para uma

interpretação do interlocutor.

O Caderno 2, o caderno cultural do jornal Estado de São Paulo surgiu em 1986,

representando um marco do jornalismo cultural brasileiro. O objetivo do caderno era fazer

jornal com estilo de revista diária com informação, sobre artes, variedades, cultura, lazer e

comportamento.

E é este caderno cultural que servirá de suporte para nossa análise com objetivo de

entender como a cultura latino-americana é abordada e com que frequência aparece em suas

publicações. Para nossa análise separamos os meses de setembro a novembro de 2011. A

escolha do período é apenas um recorte temporal de um estudo mais amplo que se estende

do ano 2000 a 2015, que será apresentado posteriormente.

Na nossa pesquisa incluímos também a publicação do caderno Sabático lançado em

março de 2010, com a proposta de recriar o suplemento chamado Cultura. O Sabático era

voltado para literatura e para o mercado editorial. Além do sabático, serão contemplados

também o Caderno 2 + música publicado aos sábados e Caderno 2 Domingo, publicado aos

domingos.

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Durante os três meses pesquisados, o total de referências a América Latina somaram

59 (cinquenta e nove) publicações, entre notas, matérias, ensaios e críticas. As categorias

encontradas em assuntos específicos mantiveram um padrão de conteúdo: artes visuais,

cinema, literatura, música e teatro como observada no quadro abaixo.

QUADRO 1 ASSUNTO

SETEMBRO/2011 OUTUBRO/2011 NOVEMBRO/2011

Cinema 5 5 4

Artes Visuais 5 1 5

Literatura 8 7 9

Música 3 4 2

Teatro 0 0 1

Total 21 17 21

No mês de setembro, o Caderno 2 fez referência a cultura latino-americana 21(vinte

e uma) vezes. Com destaque maior para a Literatura com 8 (oito) publicações seguida do

cinema e artes visuais cada uma com 5 (cinco) publicações e somente três referências para

música.

Durante o mês de setembro como foi dito, prevaleceu a literatura. Durante esse mês

duas capas merecem destaque. A primeira do dia 6 de setembro que abriu espaço para a

divulgação dos Bienais de Setembro onde destacou a importância das artes brasileira e

latino-americana. Essa capa, no entanto, tinha como enfoque meramente de divulgação sem

se aprofundar no assunto.

Por outro lado, a capa do Caderno Sabático do dia 17 de setembro, abriu um espaço

privilegiado para o escritor mexicano Carlos Fuentes com o título “Expressão do

Romance”. A publicação dedicada ao escritor reservou espaço para a análise do seu livro La

Grand Novela Latinoamericana, onde o escritor discursou sobre o gênero que se tornou um

marco da moderna literatura.

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Edição 17 de setembro

No mês de outubro, a quantidade de matéria teve uma pequena queda significativa.

Foram 17 (dezessete) publicações com referências a América Latina. Desse total, como no

mês de setembro, o tema literatura predominou com 7 (sete) referências. Seguido pelo

cinema (5) e música (4) e apenas uma referência para artes visuais.

A única publicação de capa com destaque para a cultura latino-americana foi a do

dia primeiro com o título Buena Social Social Reggae Reggae. A publicação traz o

resultado do trabalho do produtor musical brasileiro BiD que resultou na gravação do CD

Bambas 2, onde mistura o reggae jamaicano com os ritmos nordestinos. Essa publicação é

rica em informações, contado inclusive, com infográficos que ilustram a matéria.

Edição 6 de setembro

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Edição 1º de outubro

No último mês pesquisado, novembro, a quantidade de matéria foi a mesma de

setembro, 21 (vinte e uma) publicações. E mais uma vez o tema literatura foi predominante.

Desta vez a literatura teve 9 (nove) publicações seguida pelas artes visuais 5 (cinco),

cinema 4 (quatro), 2 (música) e pela primeira vez aparece refrência ao teatro com 1 (uma)

publicação.

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A publicação do 18 (dezoito) de novembro traz em sua capa o título O Peso da

Ausência” dedicada ao escritor chileno Antonio Skármeta onde fala de seu romance Um

Pai de Cinema, sobre as questões da paternidade.

Edição 18 de novembro

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Considerações Finais

Como observado, a cultura latino-americana no Caderno 2, do jornal Estado de São

Paulo passa longe de uma visibilidade concreta, pelo contrário se confirma uma realidade

gritante que o levantamento de dados corroborou. Embora o período pesquisado tenha sido

breve e a quantidade de matérias ser aparentemente grande, o conteúdo delas não passa de

pequenas notas esporádicas, sem conteúdo aprofundado.

No caso da literatura, pode-se afirmar sem ironia que os livros e os autores hispano-

americanos têm menos espaço que a tradição de países eslavos, por exemplo.

Historicamente, Fiodor Dostoievski, Franz Kafka (judeu tcheco de expressão alemã) e Leon

Tólstoi são na imprensa brasileira mais aludidos que Miguel de Cervantes e Francisco de

Quevedo. Se em princípio temos mais afinidades com os argentinos e mexicanos do que

com os países eslavos, os seus conteúdos culturais parecem merecer maior atenção. O

motivo poderia estar em que essas literaturas, com obras produzidas por sociedades exóticas

quase em qualquer parte do mundo, salvo em seu raio de influência geográfica imediata,

curiosamente têm maior prestígio e espaço na imprensa das nações hegemônicas,

particularmente nos Estados Unidos. Reiteramos que esse é apenas um exemplo.

Logo, o discurso da mídia hegemônica acaba por reforçar a manutenção da estrutura

monopolista. No entanto, esse discurso pode e deve ser combatido no intuito de promover

uma nova consciência sobre a América Latina. Para Martín-Barbero (1989), é preciso

colocar a cultura no centro do cenário político e social de discussão, uma vez que a

informação e a cultura, não estão e não podem ser isolados um do outro. Essa abertura para

novos diálogos possibilita o debate para o enfrentamento de novos problemas,

Em que o redefinido é tanto o sentido da cultura quanto a da política, onde a

problemática da comunicação entra não somente a título temático e quantitativo –

os enormes interesses econômicos que movem as empresas de comunicação –

como também qualitativo: na redefinição da cultura a chave é a compreensão de sua

natureza comunicativa, isto é, seu caráter de processo produtor de significações e

não de mera circulação de informações e portanto, no qual o receptor não é o mero

decodificador que o emissor colocou na mensagem, mas também um produtor.

(MARTÍN-BARBERO, 1989, p. 86).

Somente assim, a imprensa brasileira será capaz de valorizar a cultura latino-

americana sem lhe atribuir um papel de sub-representação e criar uma nova percepção

estética, histórica, e simbólica da região, bem como uma nova recepção da imagem da

América Latina e de seus movimentos socioculturais.

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Neste panorama surge a necessidade de um estudo aprofundado para entender quais

motivos da imprensa brasileira ignorar ou virar a face aos países vizinhos mesmo

compartilhando de muitos aspectos em comum.

REFERÊNCIAS

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