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A CORAGEM DE MUDAR

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A CORAGEM DE MUDAR

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MARILYN GUSTIN

A CORAGEM DE MUDAREnriquecendo sua vida“de dentro para fora”

Orientação espiritual para mulheres

CENTRO DEPASTORAL POPULAR

EDITORA SANTUÁRIOAparecida-SP

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gustin, Marilyn NorquistA coragem de mudar: enriquecendo sua vida “dentro para

fora” / Marylin Gustin; | tradução Cláudia Roberta Cagni |.— Aparecida, SP: Editora Santuário, 1997.

Título original: The courage to change.ISBN 85-7200-505-6

1. Auto-eficiência — Aspectos religiosos — Cristianismo2. Meditação 3. Mudança (Psicologia) — Aspectos religiosos —Cristianismo 4. Vida cristã I. Título.

97-4035 CDD-248.4

Índices para catálogo sistemático:1. Mudança: Vida cristã: Cristianismo 248.4

Todos os direitos em língua portuguesa reservadosà EDITORA SANTUÁRIO - 1997

Composição, impressão e acabamento:EDITORA SANTUÁRIO - Rua Padre Claro Monteiro, 342Fone: (012) 565-2140 — 12570-000 — Aparecida-SP.

Ano: 2000 99 98 97Edição: 6 5 4 3 2 1

TÍTULO ORIGINAL: “The courage to change— Empowering Your Life from the Inside Out”

© 1996, Marilyn GustinISBN 0-89243-867-3

DIREÇÃO EDITORIAL: Pe. Flávio Cavalca de Castro, C.Ss.R.Pe. Carlos Eduardo Catalfo, C.Ss.R.

COORDENAÇÃO EDITORIAL: Elizabeth dos Santos ReisTRADUÇÃO: Claudia Roberta Cagni

COPIDESQUE: Carlos Alberto CoelhoCOORDENAÇÃO DE REVISÃO: Maria Isabel de Araújo

REVISÃO: Ana Lúcia de Castro LeiteLuís Fernando V. RoqueLuciana Novaes Russi

DIAGRAMAÇÃO: Paulo Roberto de Castro NogueiraCAPA: Márcio A. Mathídios

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INTRODUÇÃO

Nos últimos dez anos, muita coisa foi ditae escrita sobre o poder que as mulherestêm de criar suas próprias vidas. Quandoperguntei a um grande número de mulhe-res como tentavam fazer isso, elas me fala-ram sobre a capacidade fundamental quedescobriram nelas mesmas: a capacidadede fazer suas próprias escolhas. Pedi exem-plos. Sem exceção, falaram das escolhassobre circunstâncias externas. Nenhumamencionou espontaneamente seu poder deescolher a respeito de si mesmas, de deter-minar suas próprias experiências interio-res.

Ainda assim, o poder de escolha so-bre nossa vida mental, emocional e espiri-tual é a maior capacidade que temos. Muitoembora raramente ouvimos sobre esse po-der, e talvez o tenhamos experimentadoainda menos, podemos escolher a quali-dade de nossas experiências interiores. Essaescolha mudará todo o resto.

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Há um princípio universal envolvidoaqui. É, na verdade, uma compreensão es-piritual básica, quase sempre perdida pormuitas mulheres comuns no mundo de hoje.Esta lei essencial é: o interior determina oexterior.

Essa lei significa que o que nós somospor dentro determina o que acontece emnosso mundo exterior — nossos lares, nos-sa criatividade, nossas profissões, amiza-des, igrejas e comunidades.

Enquanto continuarmos a nos concen-trar nas situações externas de nossas vi-das, a qualidade de nossas experiênciascontinuará sempre a mesma. Se quisermosque nossas vidas tenham uma qualidadenova e mais bonita (e quem não quer?),podemos ir em busca disso fazendo novasescolhas com relação a nossas emoções, anossas atitudes e a nossos pensamentoshabituais. Nesta arena, somos muito maispoderosas do que pensamos. As experiên-cias podem ensinar-nos como somos po-derosas — e então estaremos prestes a teruma experiência nova e marcante em nos-sa vida.

Podemos continuar na mesma casa,com a mesma família, na mesma igreja,na mesma cidade e no mesmo emprego.

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Quando a qualidade de nossas experiên-cias interiores ficar diferente, a qualidadede nossas experiências exteriores tambémmudará. Não existe “talvez” com relaçãoa isso. É tão universal quanto a lei da gra-vidade.

Mas por que não ficamos sabendo dis-so antes? Bem, muitas já sabiam. Porém,isso não é popularizado com freqüênciaporque depende de uma disposição fun-damental: a de assumir a responsabilida-de pela qualidade de sua própria expe-riência.

Responsabilidade não significa culpa.De jeito nenhum. Significa a capacidadede reagir. Olhando para as escolhas emudanças interiores, percebemos uma ca-pacidade, freqüentemente ignorada, deescolher nossas reações a tudo e a todos.Se fizermos isso, e se continuarmos a fazerescolhas conscientes sobre quais qualida-des queremos ter, podemos alterar total-mente a qualidade de nossa vida.

Muitas mulheres ainda têm a sensaçãode que estão limitadas por forças que fo-gem ao seu controle. Seus maridos, seusfilhos, problemas financeiros, as regras dasociedade ou da religião — todos os tiposde experiências das mulheres comuns le-

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vam a um sentimento de impotência. Quan-do vivemos em função desse sentimento,nunca estamos realizadas e felizes; e tam-bém temos tendência a culpar tudo e to-dos, exceto nós mesmas, por nossa condi-ção. Ensinaram a muitas de nós um tipodistorcido de religião que sugere que asmulheres devam deixar que suas famílias,maridos e comunidades determinem anatureza de suas vidas. Isso é chamadoauto-sacrifício, e é fatal para o espíritohumano.

Sacrifício significa “tornar sagrado”.Não quer dizer jogar fora os poderes queDeus nos deu. Não significa satisfazer to-das as necessidades de todas as pessoasque nos cercam. Não significa que Deusespera que nos tornemos capachos — pes-soas ótimas, mas ainda assim capachos.

Sacrificar-se quer dizer transformarmo-nos em pessoas sagradas, oferecendo-nosa Deus no amor e na liberdade. Seremosincapazes de fazer isso (para não dizer quenão queremos) se não descobrirmos quetemos algo verdadeiro, valioso e forte paraoferecer a Deus. Um componente essen-cial nesta descoberta é o reconhecimentode nossa capacidade humana de escolhernossas próprias atitudes e valores, e dei-

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xar que nossas escolhas se transformem emações.

Este é o propósito deste livro. Por maisde uma década, tenho vivido e observadoo poder de escolha sobre nossas condiçõesinteriores, de maneira um tanto delibera-da. E tenho aprendido. Este livro relata meuaprendizado.

Desejo dar um aviso a cada leitora. Assugestões deste livro não são essencialmen-te direcionadas a pessoas com grandestraumas anteriores. Milhares de mulherescomuns trazem consigo vários problemase desafios, mas se dão muito bem na vidacotidiana. Muitas, muitas mesmo, ainda sesentem limitadas e incapazes, embora semgrandes traumas. Algumas podem se per-guntar por que estão sempre vagamenteinfelizes, já que suas vidas realmente “nãosão tão ruins”.

Se você teve um grande trauma, podenão estar pronta para estas sugestões. Podeprecisar de alguma ajuda profissional. Sefor esse o caso, tente resolver! Então,poderá seguir sua própria vida.

Se você é uma mulher que só quer quesua qualidade de vida melhore, sem ter defazer uma grande revolução em sua casa,no relacionamento com a sua família ou

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em outros aspectos, então este livro é paravocê. Sua mensagem é simples de se trans-mitir, muito embora a experiência não pos-sa ser adquirida da noite para o dia. Amensagem é esta:

Você não é incapaz.Você é uma pessoa de grande poder.Seu poder pessoal é sua capacidade

de escolher suas próprias qualidades inte-riores.

Eu garanto, é uma viagem fascinanteesta jornada através mundo interior peloqual você é responsável. Eu a convido,insisto, para aproveitar a oportunidade.Este livro é um começo — se você realmentecaptar o que é transmitido aqui. Temfuncionado comigo e com milhares quetestaram estes princípios sozinhas.Funcionará com você.

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CAPÍTULO UM

USE SEU PODER DE ESCOLHA

O desespero mais comumé o de estar em desespero por não escolher,

ou querer, ser você mesmo.Soren Kierkegaard

Saber escolher é uma dasmaiores dádivas do céu.

Baltasar Gracián

Saber escolher. A maioria das coisas navida depende disso. Você precisa de bomgosto e de bom senso; inteligência e aten-ção não são suficientes. Não há perfeiçãosem discernimento e seleção. Dois talentosestão envolvidos: o de escolher e o de es-colher o melhor.

Existem muitas pessoas cuidadosas ebem informadas, com uma inteligência fér-til, sutil, capaz de julgamentos rigorosos,que ficam perdidas quando têm de fazerescolhas. Elas sempre escolhem o pior,

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embora queiram demonstrar sua habilida-de para tomar decisões.

“Você já foi vítima?” Quando fiz essapergunta a uma platéia, a resposta foi umsonoro sim! Não foi ouvido quase nenhumoutro som fora aquele. Todos já tiveram asensação de ser vítima. Alguns de nós ado-tam esse sentimento permanentemente.

Para cada um de nós acontecem coisasque parece não termos escolhido e dasquais não gostamos. Elas vêm de fora;devido a circunstâncias sobre as quais nãotemos “nenhum controle”. Resultam de umadecisão de outra pessoa, de uma mudançano trabalho, de doenças ou de um aciden-te, de uma perda ou morte, ou de uma ca-tástrofe natural. E não podemos mudar oque aconteceu. Não podemos fazer comque a outra pessoa nos ame novamente;não podemos não sofrer o acidente quesofremos nem fazer alguém voltar da morte.Essas coisas produzem em nossa vida umapausa súbita; ela não consegue continuarda maneira que sempre foi. De repente,sentimos nossas limitações.

Os acontecimentos “dos quais somosvítimas” geralmente nos deixam com umsentimento de impotência. Sentimos que,apesar de tudo, não temos nada a dizer

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sobre o que aconteceu conosco. Podemossentir-nos amarradas. Podemos sentir-nostraídas e abandonadas. Nossos sentimen-tos podem explodir em raiva, em ataqueinútil contra a outra pessoa ou contra Deus.Ou podemos sentir uma espécie de deses-pero e nos entregarmos ao desamparo.Podemos ficar deprimidas e começar adormir sem parar, desperdiçando uma vidaque perdeu a graça, ou começar a nãocomer quase nada. Algumas vezes, sentitodas essas coisas e as considerei perfeita-mente naturais. Graças a Deus, elas quasenunca vêm todas ao mesmo tempo!

As pessoas reagem de maneiras dife-rentes a essas experiências de desamparo.Algumas de nós lutamos com todas as for-ças simplesmente para suportar; não ten-tamos “reagir”, apenas nos mantemos depé. Outras ficam com muita raiva e tentamresistir ou mudar o inalterável. Outras, ain-da, desistem e lamentam, dizendo: “Dequalquer maneira, não há nada que eupossa fazer”. E, provavelmente, acrescen-tam: “Pobre de mim!”.

Cada uma dessas reações, às vezes,era a minha também. Descobri que nenhu-ma delas funcionou muito bem. Na verda-de, eu me sentia muito pior, depois de al-

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guns dias, me entregando a tais sentimen-tos, e eles também não pareciam fazernada melhor que aquilo. As circunstânciasnão mudavam; tudo parecia levar-me umpouco mais para o fundo do poço.

Se isso acontecer com certa freqüên-cia, podemos ficar convencidas de que so-mos realmente vítimas e não podemos fa-zer nada com relação à qualidade de nos-sas experiências. E então, é claro, culpa-mos sempre tudo o que está à nossa voltapela confusão que temos dentro de nós.Dizemos para nós e para os outros: “É queeu tinha uma família desestruturada”. Ou,“Os meus filhos me fazem sentir tão ino-portuna”. Ou, “A Igreja me faz sentir tãoculpada”. Ou, “Deus o levou embora eagora vou ficar sozinha para sempre”. Deum jeito ou de outro, expressamos a con-vicção: “Alguém fez isso comigo. Sou umavítima. Não há nada que eu possa fazer”.E, com essa atitude, nós nos arrastamospara um buraco bem fundo e ficamos mo-rando lá.

Se essa descrição recorda sentimentosfamiliares, examine-os por um momento.Nossos sentimentos nos afetam e precisa-mos saber lidar com eles, embora,freqüentemente, não sejam os melhores in-

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dicadores da situação verdadeira. Agora,vamos refletir juntas.

Quando Deus nos fez, foi-nos dado umpoder único e maravilhoso que a maioriade nós não reconhece. Embora não use-mos muito esse poder, ou o usamos tãoautomaticamente que quase não o nota-mos, ele é dado por Deus. Se esse poderse enfraquece com a falta de uso ou pelouso inadequado, podemos recuperá-lo edesenvolvê-lo. É ele que pode mudar nos-sas vidas, se o usarmos deliberadamente.É o poder de escolha.

O poder de escolha não é o poder dedeterminar tudo o que acontece conosco.Algumas situações estão, de fato, além denosso alcance, embora eu suspeite queestas sejam menos do que presumimos.Não podemos escolher sempre os aconte-cimentos. Mas podemos sempre escolhernossa própria atitude com relação a todosos acontecimentos, a todas as pessoas, atodas as experiências, aos mistérios des-conhecidos e até mesmo com relação aDeus.

Essa característica dos humanos é de-monstrada nas situações mais extremas. Emcampos de concentração, algumas pes-soas tinham muito ódio de seus persegui-

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dores, enquanto outras, no mesmo campo,rezavam com compaixão pelos que asprenderam. Desesperadas, algumas faziamde tudo para garantir a própria sobrevi-vência, enquanto outras dividiam o mise-rável suprimento que tinham. Algumas en-contravam significado em suas experiên-cias; outras encontravam apenas terror semsentido. Suas condições externas eram asmesmas. Suas situações internas, suas pró-prias escolhas interiores, diferiam. Essasescolhas criavam a qualidade de suas ex-periências. Se as pessoas, naquele infer-no, conseguiam escolher suas atitudes, comcerteza nós também conseguimos. Só pre-cisamos praticar.

Toda mulher adulta faz esta escolhabásica: ser uma vítima ou assumir a res-ponsabilidade pela qualidade de sua pró-pria vida. Decidimos por omissão, no casode escolhermos ser vítimas, ou podemosdecidir deliberadamente. Se fizermos aescolha deliberada, provavelmente esco-lheremos ser responsáveis. Somente algu-mas mulheres gostam de se sentir incapa-zes. Quando as alternativas são claras, amaioria de nós escolhe ser responsável,porque os resultados são infinitamente me-lhores.

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Quando escolho a responsabilidade,aproveito mais a vida. Posso cometer errose não ser subjugada. Sinto-me estável comrelação a mim mesma, com relação aosmeus relacionamentos. Até mesmo meurelacionamento com Deus fica melhor.

“Aceitar a responsabilidade” ou “serresponsável” não é a mesma coisa queaceitar a culpa ou acreditar que “eu er-rei”. Aceitar a responsabilidade não au-menta a culpa de ninguém. Responsabili-dade significa literalmente “a capacidadede responder”. Responder não é o mesmoque reagir. A reação é automática. Na rea-ção, geralmente voltamos aos comporta-mentos infantis. Responsabilidade é a ati-tude que diz: “Bem, esta é a situação emque estou. Como quero responder a ela?Quais sentimentos e ações quero ter em taiscircunstâncias? Como posso expressar econquistar a qualidade que desejo ter ago-ra, nesta situação?”

Eu mesma só aprendi a escolherdeliberadamente a responsabilidade depoisque vivi uma situação extremamente dolo-rosa. Somente mais tarde percebi que aexperiência pôs um fim em minha buscainútil por um mágico ou um salvador en-cantado que arrumasse minha vida.

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A situação? Fui abandonada e traídapor uma pessoa com quem havia me en-volvido profundamente.

Gostaria de dizer que enfrentei brava-mente a situação, que fiz todas as escolhascertas e que continuei seguindo minha vida.Mas não foi bem assim. Fiquei furiosa. Fi-quei com muito medo. Senti que o alicercedo qual eu dependia tinha-se partido e queeu poderia ficar em pedaços para sempre.Chorei muito. Dormi muito. Rezei, superfi-cialmente. Na maioria das vezes, era maisou menos assim: “Ajude-me!” e “Como oSenhor pôde?” e “Por que o Senhor nãoestá fazendo alguma coisa?” Eu me sentiaenganada, boba e exposta. Sentia-me ofen-dida, uma vítima. Para ser mais exata, eume sentia totalmente incapaz.

No entanto, incomodando-me debai-xo de toda essa emoção estava a certezade que nada mudaria as decisões da outrapessoa — quanto mais eu. Então, um dia,minha raiva encontrou novas palavras: “Es-tarei perdida se deixar você mandar emminha vida! Não serei controlada por isso.Não serei uma vítima! Eu vou determinar aqualidade da minha vida!”

Então, eu imagino, minhas oraçõesdeturpadas foram atendidas. Tive um mo-

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mento especial de visão. Enxerguei que,embora eu estivesse vomitando ódio, adeterminação de criar a qualidade da mi-nha própria vida veio de um lugar aindamais profundo em mim. Tinha ouvido falarque as pessoas podiam criar suas própriasatitudes. Agora, viria o teste prático. Emmeio a toda a confusão, eu conseguiriaescolher?

Procurei alguém que pudesse dizer-mecomo fazer isso, mas não consegui encon-trar ninguém; talvez tenha perguntado àspessoas erradas. Errei muito tentando des-cobrir como ser responsável, como criarsozinha minha qualidade de vida. Desdeentão, tenho refletido muito sobre aquelaterrível experiência (e outras menos impor-tantes). Também procuro ser cada vez maisresponsável.

Aqui estão alguns passos que me aju-daram; espero que você também os acheúteis.

• Procure ser honesta consigo mesma,com relação ao que está acontecendo den-tro de você. Você só pode escolher umanova atitude se tiver bastante certeza decomo ainda se sente. Não avalie rápidodemais seu estado sentimental interior. A

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avaliação pode confundir sua percepção.O que é necessário é ver claramente o queestá acontecendo no seu interior. Você nun-ca pode mudar o que não vê. Então, a ho-nestidade necessária aqui é o desejo dever sem nenhuma distorção.

O que está acontecendo? Simplesmen-te olhe para o que quer que seja. Dê no-mes aos seus sentimentos. Se olhar paradentro causa dor, lágrimas ou tristeza, pres-te atenção em todas elas. Deixe que elasfiquem ali. Seja honesta com relação à suapresença e analise como elas se compor-tam dentro de você. Qual sentimento pare-ce causar o quê? Como os sentimentos afe-tam uns aos outros? Quais ações eles pa-recem estimular? Você pode encontrar ossentimentos em seu corpo? Onde? Pergun-tas como essas, direcionadas a você, irãoajudá-la a descobrir quais são suas atitu-des atuais.

• Aceite as circunstâncias como fato.Essas realidades não devem ser aprova-das, amadas ou desejadas. É importantereconhecer que elas estão ali e que podemnão mudar. Fui ajudada pela compreen-são definitiva de que essas circunstânciasnão mudariam. Continuei chorando porelas, mas aceitei a situação “sem esperan-

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ça” como um fato. Com essa aceitação, vemuma certa liberdade — a de saber exata-mente onde você pisa. A capacidade deescolher é reforçada por essa compreensão.

Se você se descobre sofrendo, admita,mas não se afunde nisso. Desta vez, semnegar a dor, seja corajosa e aprenda asuportá-la. Se você deve expressar sua dor,encontre uma maneira adequada, que nãopiore a situação. Se sua dor parece esma-gadora, converse com um profissional oucom um amigo de confiança. Mas, nãoimporta o modo como você escolhe respon-der a essa dor, esteja disposta a suportá-lacom coragem enquanto ela persistir. A dor,uma vez superada, pode purificar e forta-lecer. Não a desperdice!

• Procure seu sentimento mais profun-do. É o sentimento que continua sendo seu,apesar de tudo. Eu amei essa pessoa an-tes. Ainda a amo? Quase me matou — oupelo menos pensei — sentir o amorescondido em todas as outras coisas, masele estava lá. Era meu sentimento maisprofundo.

• Explore as maneiras pelas quais seusentimento mais profundo pode levar vocêpara mais perto de Deus. Não existe ne-nhuma fórmula para isso. Acredito, contu-

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do, que o sentimento mais profundo de to-das as pessoas é bom. Para descobrir essesentimento profundo, pergunte a si mesmavárias vezes: “Eu vejo este sentimento ób-vio. O que há debaixo dele?” E então,quando você encontrar a próxima cama-da, o que há debaixo dela? Continue atéque você saiba que você está no sentimen-to mais profundo, mais verdadeiro que vocêtem. Se for incapaz de fazer isso de umasó vez, então deixe que a pergunta conti-nue aberta até que a próxima camada serevele — pois ela se revelará.

Todos nós, não importa a profundida-de que devemos cavar, encontraremos algoadmirável no fundo: que nós amamos ouqueremos amar, que nós somos gentis ouqueremos gentileza, que somos saudáveisou queremos saúde, que somos bons oualmejamos bondade. Nosso próprio des-caso com relação a esses fundamentos podebem ter causado o problema. Qualquercoisa boa em nós aumentará e se multipli-cará se a levarmos em consideração e agir-mos de acordo com ela. Essa bondade éde Deus. Ela pode levar-nos em direção aDeus.

• Reze por seu sentimento mais pro-fundo. Permita que ele a leve a explorar o

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seu próprio interior, na presença de Deus.Ao me concentrar no amor, em minhas ora-ções, logo vi que meu amor e minha entre-ga não foram tão puros. O amor estavamisturado com necessidade — e fantasia edesejos também. De alguma maneira mis-teriosa, eu havia renunciado a mim mes-ma por uma outra pessoa, esperando di-minuir a necessidade de viver minha pró-pria vida. Em outras palavras, desconheci-das por mim, misturei amor com falta deresponsabilidade. Agora consigo ver, aospoucos e com muita dificuldade, que gran-de parte da minha dor era medo de serverdadeiramente responsável. Descobri queescolher concentrar-me no amor e conti-nuar amando me fortalecia, quando nãohavia mais nada misturado a isso. Todosos bons sentimentos mais profundos pro-duzem essa força.

• Escolha recordar o sentimento positi-vo e se concentrar nele sempre que pudere pelo maior tempo que conseguir. Lembre-se de que você pode escolher esse senti-mento. Você não é incapaz em sua pró-pria vida interior. Você pode ser responsá-vel pela sua qualidade em todas as circuns-tâncias. Faça isso agora — neste momento... e este momento ... e este momento.

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• Seja grata e expresse sua gratidão.No começo, você pode ser grata apenaspor sobreviver! Mas, com o tempo, vocêpode ficar agradecida pelo discernimento,pelo poder de escolher, pela opção de serresponsável. Você perceberá que é gratapela presença e pela ajuda de Deus. Umdia, será grata até pelas “situações forado controle” que atrapalharam seu cami-nho, que a ajudaram a parar de ser vítimae a começar a criar a qualidade de vidaque deseja, de acordo com Deus.

A oração e a gratidão trazem consigouma dádiva muito mais valiosa do que sim-plesmente a ajuda em um momento difícil.Elas nos aproximam cada vez mais deDeus. Às vezes, é esta a razão pela qualadmite-se a dificuldade em nossas vidas:para rezarmos mais e descobrirmos maisgratidão, para ficarmos mais íntimas doSenhor. Nosso relacionamento com Deus étudo o que importa no final. Deus é maisimportante que qualquer situação ou qual-quer uma de nossas emoções. E Deus nãose importa como chegamos até Ele. Ele querque cheguemos, assim pode dar-nos todoo seu amor.

Os resultados de praticar a escolha daresponsabilidade podem vir de repente.

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Algumas de nós simplesmente somos ama-durecidas por ela. Ou os resultados podemlevar tempo para aparecer. Quandoalguém aceita a total responsabilidade porsua vida, diante de Deus, as coisas mudam.Os sentimentos mudam. As necessidadessão supridas de maneira diferente e commais eficiência. As circunstâncias tambémmudam. São feitos novos tipos de escolhasdiárias, e elas, por sua vez, afetam asituação maior.

Os resultados que observei podem serresumidos como uma percepção do poderpessoal. Isso não significa poder sobre al-guma outra pessoa. Não quer dizer quetudo sempre acontece da maneira que que-ro. Significa que tenho consciência da ca-pacidade que Deus colocou em mim — eem você — de ter uma vida harmoniosa!

Ter poder pessoal quer dizer que pos-so encontrar significado e possibilidades decrescimento em todas as situações. Poderpessoal significa saber que não só possoenfrentar as coisas, mas também fazer comque o maravilhoso aconteça em minha vida.Ter poder pessoal significa que ninguém mefaz de vítima. Tenho consciência de queposso ter contribuído de alguma forma paraos acontecimentos dolorosos em minha

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vida, mesmo que tenha sido somente peloque não fiz. Eu aceito isso. Uma vez quetenha aceitado, posso escolher com muitomais facilidade a atitude que dará a todaa minha vida uma qualidade positiva, agra-dável.

Tudo isso não implica que minhas emo-ções nunca variam! Os sentimentos desa-gradáveis vêm, às vezes; trazem o seu caos,e passam novamente. A diferença é queagora sei que não preciso ser vítima demeus próprios sentimentos.

No final, um único dia de observaçãomostrará, de forma inconfundível, que asemoções são muitas, como o tempo — elasmudam diante da menor provocação. Elasvêm, às vezes, como fortes tempestades, evão embora quando se esgotam, quandonossa atenção se desvia ou quando esco-lhemos tomar novas atitudes. As emoçõesnão são definitivas. Elas são uma partepoderosa de nossas características, mas sãopassageiras. Não são tão fortes quanto opoder de escolha que Deus me deu. Então,mesmo quando as emoções me pegamdesapercebida, sei que elas não vierampara ficar.

Alguma coisa muito mais sólida estáaqui para ficar: escolhi nunca ser vítima.

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Escolhi ser responsável pela qualidade daminha vida. Escolhi criar a qualidade devida que desejo mais profundamente. Issoé ter poderes.

Até mesmo mais importante que essepoder maravilhoso é uma nova concepçãodo poder de Deus. Quando escolhemos umaatitude positiva, quando escolhemos supor-tar as dificuldades corajosamente, deixa-mos nossos corações se abrir. Um coraçãoaberto encontra Deus. Um coração abertodescobre, por experiência, que Deus estádo nosso lado. Deus quer ajudar. Deus sem-pre ajuda, quando não estamos nos ape-gando a uma atitude inferior que nos im-pede de receber essa ajuda. Quando que-remos ser responsáveis, Deus está sempreem nosso coração, pronto para nos apoiarcom seu próprio poder infinito.

Sugestões de oração

Reze pela responsabilidade com suaspróprias palavras. Você pode levar em con-sideração estas sugestões:

• Conte a Deus sua situação: circuns-tâncias, sentimentos, dores, desejos;

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• Peça que Deus a guie para a respon-sabilidade;

• Diga a Deus sua intenção de criaruma vida bela, mesmo nessas circunstân-cias, e peça as bênçãos de Deus para seusesforços;

• Entregue todos os resultados aDeus;

• Agradeça a Deus.

Ou você pode achar mais fácil come-çar com estas palavras:

Deus misericordioso, obrigada por meamar, apesar de agora ser difícil enxergaro que o seu amor significa. Sinto-me tãoincapaz — não só agora, mas em quasetoda a minha vida. Sinto-me limitada e in-segura. Dói muito. Às vezes, fico com mui-to medo e com muita raiva, até mesmo doSenhor. Quero que minha vida seja bela.Estou disposta a fazer minha parte paratorná-la bela. Por favor, ajude-me e meguie. Mostre-me como posso melhorar mi-nhas escolhas. Por favor, abençoe meusesforços, pois, sem a sua bênção, tudo seráem vão.

Ofereço tudo isso ao Senhor. É tudo oque posso oferecer agora. Ofereço-lhe,

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também, o que acontecer, à medida queminhas escolhas ficarem mais responsáveis.Obrigada pela compreensão e obrigadapor me dar o poder de escolher a qualida-de da minha vida.

Sugestões bíblicas

Refletir sobre estes versículos pode aju-dar:

Deuteronômio 30,19-20Cito hoje o céu e a terra como testemu-

nhas contra vós, de que vos propus a vidae a morte, a bênção e a maldição. Escolhea vida para que vivas com tua descendên-cia, amando ao Senhor teu Deus, escutan-do sua voz e apegando-te a ele. Pois istosignifica vida para ti e tua permanênciaestável sobre a terra que o Senhor juroudar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó.

Provérbios 20,22Não digas: “Retribuirei com o mal”,

mas espera no Senhor, que te salvará.

1Coríntios 2,9-10Porém, segundo está escrito: “Nem

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o olho viu, e nem o ouvido ouviu, nemjamais penetrou no coração do homemo que Deus preparou para os que oamam”.

A nós, porém, Deus revelou pelo Espí-rito. Pois o Espírito esquadrinha tudo, atéas profundezas de Deus.

Aqui estão algumas passagens bíblicasadicionais para mais reflexão:

Salmo 8,4-9Lucas 16,1-8João 14,1-27

Para refletir

Estas perguntas podem iniciar você noprocesso de auto-avaliação descrito nestecapítulo:

• Eu realmente acredito que as circuns-tâncias resultam de minhas atitudes? Seacredito, então, quais são alguns exemplosem minha própria vida? Se não acredito,por que não?

• Quando me senti mais vítima? Comorespondi a essas situações e aos sentimen-

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tos que surgiram com elas? O que eu po-deria fazer se isso acontecesse hoje?

• Estou me sentindo vítima agora? Peloque ou por quem? Quais são os sentimen-tos que estou tendo? Qual é meu sentimen-to mais profundo? O que eu quero esco-lher?

• Por quais áreas de minha vida já souresponsável? Em quais áreas posso esco-lher ficar mais responsável?

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CAPÍTULO DOIS

NÃO DESPERDICE SUA DOR

A dor é a raiz do conhecimento.Simone Weil

Depois de uma grande dor,vem um sentimento convencional.

Emily Dickinson

No capítulo anterior, sugeri que praticar acoragem pode aliviar um pouco da dor. Éclaro, existe muito mais que isso para seconseguir!

Há dias em que não quero admitir quea dor existe em lugar nenhum. Simplesmentenão estou preparada para enfrentá-la! Háoutros em que não consigo fazer muita coi-sa com relação a isso — simplesmente ficocom dor, embora preferisse não ficar. Comoas outras pessoas, sem dúvida, tive medoda dor, odiei-a, lutei contra ela, fugi dela.

Nossa sociedade reforça nosso medoda dor. A mídia insiste que a dor não só

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deve ser evitada, mas que, se ela ousaraparecer, é para ser instantaneamente cu-rada. Além disso, a dedução é que existealgo psicologicamente anormal conosco,se aceitamos a dor. Acreditamos no bem-estar. É quase um vício.

Dentro dos limites, a busca pelo bem-estar é natural. Mas não acho que essa vi-são da vida seja sensata. Pior, o bem-estarcrônico nos deixa com recursos mínimospara usar a dor quando ela aparece.

E ela vai aparecer. A dor é uma partecomum da experiência humana. É prová-vel estarmos sentindo alguma dor, pelomenos de vez em quando. Nunca gostare-mos dela, mas só seremos completamentehumanos se a experimentarmos. Não exis-te um meio pelo qual possamos sempreevitar a dor. Se não nos machucamos hoje,nos machucaremos um outro dia.

A dor pode chegar para uma visitacurta ou longa. Parece-me que, já que va-mos nos machucar, podemos machucar-nospor alguma coisa que valha a pena. Tam-bém podemos usar, não desperdiçar, a dorque a vida traz.

Meu esforço para entender e usar a dorcomeçou há mais ou menos trinta anos, nacadeira do dentista. Desde então, passei a

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tentar entender e usar a dor emocional, jáque ela parecia dominar meus sentimen-tos. Acho que a compreensão me ensinoua ser responsável.

De forma relutante, aprendi que todador tem um objetivo. Ela chama nossa aten-ção para algo que está errado. Sentimosdor quando alguma coisa não está bem,tanto fisicamente, quanto emocionalmen-te, ou talvez espiritualmente. No entanto,temos a tendência de considerar a dor, emsi, nossa inimiga, e combatê-la diretamen-te. Nunca nos preocupamos em descobrira mensagem da dor para podermos fazeralgo contra sua causa.

Quando recorremos ao frasco de com-primidos ou usamos outros truques paradiminuir a dor, podemos estar apenas com-batendo, em vez de estar usando, nossador. Às vezes, esses auxílios temporáriossão úteis; porém, mais cedo ou mais tarde,é melhor encontrarmos a causa de nossador e agir nela. É para isso que serve ador. Se existe um inimigo, está na origemda dor; ele não é a dor em si. Então, aprimeira intenção da dor é apontar-nos adireção do que precisamos ver.

A segunda e, freqüentemente, melhoroportunidade que a dor traz só nos é reve-

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lada quando a dor já está conosco há al-gum tempo. Com certeza, quanto mais eladura, menos gostamos dela; mas ainda éum fato que a dor prolongada nos dá umachance maior de usarmos nosso excepcio-nal poder de escolha. Nós mesmas pode-mos decidir por quanto tempo a dor iráservir-nos, se deixarmos que isso aconteça.

Além das escolhas, Deus nos deu outropoder que raramente usamos e que é igual-mente valioso: o poder da atenção. Geral-mente, nossa atenção é “atraída” por umestímulo: a TV, outra pessoa, uma bela pai-sagem, o surgimento de uma emoção. Ador também é um estímulo que atrai nossaatenção. Se batemos o cotovelo, notamosesse cotovelo. Subitamente, percebemostodos os seus nervos. Então, prestamosatenção no que fazemos com aquele bra-ço até que a dor pare. Os inícios da doremocional podem não ser tão perceptíveis— ou podem ser muito dramáticos — masa dor emocional também exigirá atenção.

O problema é que atenção “atraída”nos influencia de um modo que podemosnão suspeitar ou nem mesmo querer. Háum velho ditado: “o que atrai sua atenção,atrai você”. A atenção pode emprestar seupoder ao seu alvo, a menos que nosso pró-

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prio objetivo seja maior, uma intenção ex-plícita.

A atenção pode canalizar tanto poderque comecei a ter mais cuidado em comousá-la. Foi em uma época de profunda doremocional que descobri como a dor podeproduzir uma qualidade de atenção emmim, que pode ser, ao mesmo tempo, po-derosa e criativa. Era difícil deixar issoacontecer, e ainda é, mas o esforço vale apena.

Quando a dor da situação em questãopareceu que estava quase me esmagando,comecei a tomar muito cuidado com todoo meu ser. Eu achava que não podia con-seguir muito mais que isso; e, assim, muitoautoprotetora, comecei a cuidar menos dador e mais de mim mesma. Então, desco-bri uma parte do meu ser que consegue secuidar deliberadamente. Deste lugar den-tro de mim, consigo observar o que estáacontecendo. Neste lugar desconhecido,senti-me bem, não muito em paz, mas neu-tra e um tanto capaz, como se a dor sim-plesmente não pudesse atingir-me lá. Nes-te lugar de atenção constante, havia umasensação diferente de mim mesma. Senti-me mais calma e mais forte lá. Parece queesse poder de cuidar de mim está mais pró-

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ximo de meu verdadeiro eu do que de qual-quer outra parte do meu ser. A dor me le-vou a ele, e me ajudou a ficar com ele atéque eu descobrisse este lugar de auto-observação.

Na realidade, nosso verdadeiro ser,nosso ser profundo, está além de nossa dor.“Além” não significa que não sentimos ador. Significa que nosso ser está em um “lu-gar” diferente, onde a dor é sentida, masnão domina.

Eu me lembro que, quando minha mãeestava morrendo, as enfermeiras tinham deficar sempre injetando agulhas IV(intravenosas). Sua pele parecia tão frágilque perguntei à mamãe se aquilo doía. Eladisse: “Nada muito significativo”. Sorri,porque a resposta era muito parecida comela: não identificava o seu ser com a dor.Aquilo era meramente uma sensação queela experimentava e nada mais.

Stephen Levine, que trabalha há déca-das, de maneira quase mágica, com pes-soas que sofrem, escreveu que podemosdeixar que nossa dor “flutue” em nossapercepção de nosso próprio ser. Nosso seré sempre maior e mais forte do que pode-mos imaginar. Quando ficamos calmos eatentos diante de nossa dor, quando dei-

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xamos nossa resistência se dissolver aospoucos, a dor é simplesmente um outro fato.Não tem tanta importância quanto nossopróprio ser. Concentrando-nos na reali-dade mais profunda, conseguimos deixarque a dor esteja presente e nos dê suasabedoria.

Uma maneira de se fazer isso, dizLevine (e funciona!), é se concentrar cons-cientemente na área da dor e “amolecer”em volta dela. Imagine a carne amolecen-do. Permita que o olhar interior amoleçacom compaixão ou misericórdia à medidaque olhamos a dor dentro de nós. Deixeque todo o corpo amoleça, acalme-se, dêuma atenção compreensiva a ele. Esseamolecimento diante da dor é resultado deprática para a maioria de nós, não é umahabilidade imediata. Praticar revela atépossibilidades esplêndidas para a tranqüi-lidade na dor e para a expansão do amor.

Enquanto escrevo isso, estou com dorna boca. Coloquei grampos novos nos den-tes e eles me machucam o tempo inteiro.Então, pratiquei o amolecimento com mi-nha dor, deixando a gengiva “amolecer”em volta dela. Também posso usar a dorna boca para me lembrar de prestar aten-ção em outra coisa — na gratidão pelas

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habilidades médicas de meu ortodontistaou na preocupação e no amor de Deus pormim. Usando a oportunidade apresentadapela minha dor, consigo prestar atenção aessas outras coisas mais importantes.

Cada um de nós fará as descobertascertas de que precisamos se exercitarmoscom relação à dor, em vez de reivindicá-lacomo nossa. Não queremos identificar-noscom a dor e então reagir contra ela. Que-remos senti-la e ouvir suas mensagens.

Uma das descobertas mais úteis paramim tem sido uma mudança na qualidadeda minha atenção interior. Não acontecesempre, mas parece surgir quando as con-dições interiores são boas. Por breves mo-mentos, consigo ver a qualidade da aten-ção em si. Isso pode parecer uma tentativade olhar para o meu próprio rosto sem umespelho; mas, em momentos especiais, al-guma coisa em mim vê minha atenção.Consigo, por instantes, prestar atençãonesse centro de poder criativo. Então, podesurgir a alegria, nascer a paz, aparecer alucidez ou se manifestar o amor. Esses sãoos maiores frutos da atenção e a sua pro-messa de criatividade em vida. Eu não gos-taria de perdê-los. Só a atenção faz comque eles apareçam, e uma oportunidade

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maravilhosa para essa atenção é ofereci-da pela dor. Não é da forma que prefiro,mas funciona.

Esses momentos de percepção da nos-sa verdadeira atenção podem repetir-sesem dor, mas essa façanha é mais difícil. Aatenção concentrada é a essência da ora-ção contemplativa e conduz diretamente àimagem de Deus dentro de nós. A práticada atenção é a habilidade básica do cres-cimento espiritual.

A prática dessa atenção é necessáriapara a oração íntima, silenciosa — aten-ção sem palavras ou imagens. Os budistasa chamam “atenção nua” porque, despidade todos os objetivos normais, ela é ape-nas isso: atenção e nada mais. A atençãopara com Deus (o qual não pode ser ade-quadamente explicado ou descrito) parecenua. Deus pode encontrar-nos sem o obs-táculo de uma mente agitada.

Alguns anos atrás, perdi alguém queamava muito. A dor tomou conta de mim,como ela deve fazer com pessoas saudá-veis. Todos os meus poros pareciam impreg-nados de dor. Ela ficou aqui por muito tem-po. Chorei e rezei, sabendo que, conse-qüentemente, ela iria melhorar, se eu so-brevivesse até lá!

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Durante esse processo, eu me dei con-ta, embora muito devagar, que estava acon-tecendo algo que eu não havia escolhido,mas que depois consegui escolher: fiqueinão só mais sensível, porém mais gentil. Ador, sem resistência, estava amolecendoalguma coisa dentro de mim que precisa-va ser amolecida. A beleza me tocava deforma mais comovente e fácil. A dor dasoutras pessoas provocava em mim umanova atenção. Eu me tornei mais cuida-dosa com as palavras, com o toque. Co-mecei a caminhar pelos meus dias quasena ponta dos pés, suave mas vibrantemen-te viva para mim e para tudo o que mecercava.

Os profetas do Antigo Testamento sãorepletos desse discernimento. Nós não oachamos atraente. No entanto, se não nosdetivermos na parte dolorosa, vemos queos profetas revelaram algo que vale a penasaber sobre Deus e sobre nós. É isto:

Geralmente, somos duros de coração.Não somos flexíveis com Deus nem bonsconosco. Não seguimos facilmente os ca-minhos de Deus, mentimos para nós mes-mos sobre nós e sobre nosso Deus próxi-mo. Todos nós sabemos o quanto concor-damos com a Palavra de Deus mas não a

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colocamos em prática. Os profetas dizem— em linguagem evidente — que Deusmandará o sofrimento a seu povo por cau-sa de seus corações duros, em um esforçode último recurso para amolecer seus co-rações!

Deus promete substituir corações depedra por corações naturais (Ezequiel11,19-20). A vida comum pode não nosamolecer facilmente, ou não deixamos queisso aconteça. Mas a dor pode. Agora,sabemos que o que Deus expressou pormeio dos profetas não foi o desejo de vin-gança, mas o que chamamos hoje de “amorirredutível”. Nós precisamos de coraçõesbons para sermos completamente humanos;e, se os recusarmos, Deus pode deixar-nossofrer até que eles amoleçam. Não conse-guimos entender esse processo apenas como raciocínio. Devemos deixar a dor fazerseu trabalho em nós e procurar viver seusbenefícios sem revolta. Então saberemos,pois acontecerá.

É mais ou menos como o que acontecequando tenho uma dor de cabeça. Andocom cuidado para evitar que ela piore. Ador interior insiste para que eu caminhecom cautela, mais atentamente. Já que sem-pre fui defensiva e autoprotetora, é mara-

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vilhoso que essa sensibilidade seja induzidaa se expressar como cuidado e bondade.

A atenção é mais estável quando háuma bondade interior, quando sou mais fle-xível, quando não estou gastando energiaem autoproteção. Ser mais flexível signifi-ca ser mais receptivo, mais aberto. Signifi-ca ser capaz de receber um “coração na-tural”, um coração bom, cheio de amor doSenhor.

Desde minha primeira experiência debondade, quis que ela ficasse; então, ten-tei familiarizar-me com ela. Deixei minhador me guiar para uma consciência per-manente da minha própria capacidade deser gentil com a vida. Eram, de fato, boasnotícias! E consegui agarrar-me a ela osuficiente para crescer em ternura. Não sousempre gentil agora, mas sou sempre maisgentil do que antes. Às vezes, consigo dei-xar a bondade surgir em mim mesma sema ajuda da dor. É maravilhoso!

Os santos místicos, como São João daCruz, sempre exaltaram o sofrimento. Du-rante anos, isso não fez o menor sentidopara mim. O sofrimento parecia nocivo, eeu não conseguia vê-lo de nenhuma outraforma. Preferia pensar que esses santoseram todos masoquistas. Mas comecei a

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entender, por meio de minha experiênciacom a dor, o que os santos podiam estarquerendo dizer.

A dor me obriga a ficar atenta. Au-menta minha sensibilidade. Ela me enco-raja a amolecer não apenas com relaçãoà dor, mas com relação a tudo na vida.Fiquei mais gentil comigo, com a vida ecom Deus. Fiquei mais aberta, mais cuida-dosa e atenta. Tenho mais carinho. Recebomais da benevolência de Deus.

É por esse fruto da dor que mais sougrata. Seria maravilhoso se eu aprendessea bondade sem a dor. Todavia, assim comoos santos disseram, a dor (ou o sofrimento)foi a grande ajuda. Por que isso parecenecessário, eu não sei. Mas eu sei que fun-ciona. Por enquanto, é o suficiente.

Se a sua dor é de curto prazo, o frutopode não ser óbvio de imediato. Mas, dequalquer maneira, esses passos podem serum bom exercício. Praticar com a dor decurto prazo provavelmente será mais fácil,e isso, por si só, fortalecerá você. Se suador vai durar algum tempo, por favor, nãoa desperdice. Decida olhar profundamen-te para dentro da dor, para a fonte deatenção e bondade de que seu coraçãoprecisa.

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Aqui estão os passos que me ajuda-ram.

• Aceite a dor como um fato normal.Ela está aí. Ela dói. Não a negue. Mesmoque você consiga convencer-se, a negaçãoé destrutiva. Não lute com a dor. Não seculpe. A dor não implica que alguma coi-sa esteja errada com o seu eu. A resistên-cia ou a culpa absorvem a energia de quevocê precisa para prestar atenção na dore amolecer em volta dela — para fazer oque a dor pede que você faça. Simples-mente, admita claramente: “Sim, a dorrealmente dói”.

• Preste atenção na dor. Observe-a.Veja como a dor funciona em você. O queela faz? Onde a dor se instalou? Você tam-bém pode perguntar sobre suas causas. Sepuder mudá-las, vai querer fazer isso. Senão puder mudar as causas, então deixeque a dor lhe ensine a respeito de vocêmesma. Como o seu corpo reage à dor?Como você se protege? De que forma vocêse afeta com a dor?

• Converse com a dor. Peça-lhe parafalar sobre ela mesma e sua causa. Per-gunta à dor quais benefícios ela deve terpreparado para você. Fale gentilmente com

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ela, com misericórdia no coração. Então,ouça calmamente suas mensagens. Elassurgirão em sua consciência quando vocêestiver calma e sincera.

• Observe quais emoções a dor pro-voca. Você sente medo? Raiva? Os dois?Talvez impotência? Irritabilidade? Obser-ve essas emoções. Por agora, não tentemudá-las. Elas são uma parte de você —embora somente uma parte. Procureconhecê-las. Se não houver mais nada,você estará melhor preparado para a pró-xima vez que sentir dor. Seja paciente, tantocom a dor quanto com as emoções quesente. Deixe que elas estejam em você.

Acima de tudo, não tente, cedo demais,“manipular” a dor com idéias submissascomo “entregar tudo a Deus”. Para algu-mas pessoas, às vezes, isso certamentepode ajudar. Se for o caso, ótimo. Mas, amenos que você tenha bastante prática em“deixar para lá”, uma hora de intenso mal-estar não é o momento de tentar fazer tudoisso de uma vez. Abandone essa prática,especialmente se sua razão para tentar for:“Eu sei que deveria entregar tudo isso aDeus, mas...”

Sempre acho útil rezar por discerni-mento e por força para não desperdiçar a

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dor. Treinar viver somente no momento pre-sente e amolecer em volta da dor ajudamuito. Sinceramente, acho difícil deixar ascoisas de lado até que minhas emoções te-nham cumprido seu papel. Deus ainda es-tará por perto, e haverá muito tempo para“entregar tudo a Deus”, quando eu conse-guir fazer isso de verdade, e não apenasem palavras.

• Amoleça seu corpo e sua mente emvolta da dor. Deixe que o espaço da doresteja lá. Seja generosa em sua preocupa-ção com ela, como se fosse um outro ser.Admita a dor, e seja tolerante em suas ati-tudes. Deixe que ela “flutue” em sua cons-ciência.

• Decida o que você quer que esta dorfaça por você. A dor pode ter idéias claraspor conta própria. Se observou com cui-dado, você já pode saber quais são elas. Éprudente seguir as sugestões da dor. Sevocê não descobrir nenhuma, pode teralgumas idéias próprias. Você pode dei-xar a dor ajudá-la a agir. A dor pode serum estímulo eficiente. Ou você pode que-rer deixar a dor ensiná-la sobre o seu po-der de atenção. Você simplesmente podedecidir mudar sozinha. Bom! É assim queo crescimento acontece.

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• Não estimule nenhuma dor que vocêsinta, e não seja maldosa com ela. Deixe ador fluir; deixe-a concluir seu trabalho emvocê. Você será “amansada” pela necessi-dade, pois somente na bondade você con-segue suportar a dor. Se a compaixão pelomundo e suas criaturas resulta de sua pró-pria dor — que bênção! Se você se sentemais vulnerável, é abençoada novamente,pois será capaz de receber mais da bele-za, mais do amor, mais de Deus.

• Deixe a dor direcionar sua atençãopara a oração. No começo, esta oraçãopode ser um simples, mas enfático: “Ajude-me, Deus!” Isso é ótimo. No entanto, àmedida que você pratica a aceitação dador em vez de resistir, pode descobrir facil-mente que quer conversar com o Senhorsobre sua experiência. Você pode quererpedir a ajuda de Deus, pedir a ele discerni-mento e força (lembre-se, não resista, masaceite!). À medida que sua atenção ficamais calma e mais segura, você pode sim-plesmente se voltar para Deus e se concen-trar em nosso amável Senhor, em vez de seconcentrar na dor. A dor pode ajudar aatrair sua atenção para Deus. Então, umapossibilidade de experiência mais profun-da de Deus é imediatamente aberta a você.

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A atenção guiada pela dor é purifi-cante, como o ouro no fogo. À medida quevocê fica mais puro, pode receber mais deDeus. O amor tem mais espaço dentro devocê. Se a vida é para conhecermos e gos-tarmos de Deus, vamos usar qualquer dorque apareça para favorecer nosso desejopor Deus. Estejamos dispostos a unir nossaexperiência com as palavras de Paulo: “Te-nho para mim que os sofrimentos da vidapresente não têm comparação alguma coma glória futura que se manifestará em nós”(Romanos 8,18).

Sugestões de oração

Aqui está a sugestão de uma oraçãopara você começar:

Bondoso Deus, estou magoada. E eunão gosto de sofrer. Mas a dor está real-mente aqui; então, por favor, ajude-me anão desperdiçá-la. Eu não quero passar porisso à toa. Quero que a experiência pro-duza frutos em mim. Quero que essa dorme ajude a conhecê-lo melhor e a meaproximar mais do Senhor. Ajude-me aaprender essas lições. Ajude-me a amole-

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cer e ser boa comigo mesma nessa expe-riência. Ajude-me a não resistir, com infle-xibilidade. Ajude-me a escolher a melhorforma de responder à dor, para que meudesejo pelo Senhor fique mais próximo dasatisfação.

Algum dia você pode ser capaz deagradecer a Deus a dor que sente agora.Pode ser que você consiga fazer isso agora.Se conseguir, agradeça a Deus. Mas nãominta. Quando chegar a hora em que vocêpuder agradecer a Deus, verdadeira elivremente — e só então —, não perca achance!

Sugestões bíblicas

Salmo 40,5Feliz o homem que põe sua confiança

no Senhore não segue os idólatras, que se extra-

viam com farsas!

Provérbios 17,3O cadinho para a prata e o crisol para

o ouro, porém é o Senhor quem prova oscorações.

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Sabedoria 3,1-3Quanto às almas dos justos, estão nas

mãos de Deuse nenhum tormento as atingirá.Aos olhos dos insensatos parecem es-

tar mortos:sua saída do mundo foi considerada

uma desgraçae sua partida de nosso meio, um ani-

quilamento; eles, porém, estão em paz.

Aqui estão algumas passagens bíblicasadicionais para mais reflexão.

Salmo 77,1-15Mateus 12,18-21Hebreus 5,8-9Salmo 86,1-131Pedro 2,19-23Romanos 8,16-18

Para refletir

Os exercícios seguintes podem ser úteispara você como uma oportunidade para aauto-reflexão:

• Coloque suas mãos na área da dor

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(sim, a dor emocional freqüentemente seconcentra em uma área física específica).Projete bondade, amor, carinho e aceita-ção em sua dor por intermédio de suasmãos. (Nota: Tenha cuidado, no entanto. Émuito bonito querer curar por conta pró-pria, quando essa vontade não é uma for-ma de resistência à dor que está lá. Nesseexercício, pode ser melhor, simplesmente,mandar compaixão e carinho para a áreada dor a tentar fazer com que a dor mude.)

• Faça perguntas à dor, e as respondaem voz alta. Seja gentil e ouça com o cora-ção aberto. Não dê nenhum conselho parasi mesma; simplesmente responda e entãová para a próxima questão.

• Imagine que você está pegando a dorcom as mãos fechadas em forma de con-cha. Segure-a com muita delicadeza. Aomesmo tempo, fale com ela calmamente.Então, erga as mãos, ainda em forma deconcha, bem para cima, e diga: “Senhor,esta é minha dor. Estou disposta a conti-nuar com ela ou perdê-la, de acordo comsuas metas para mim. Não deixe que eu adesperdice”.

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CAPÍTULO TRÊS

NÃO DEIXE O MEDODECIDIR SUA VIDA

Você ganha força, coragem e confiançaem toda experiência na qual realmente

pára e encara o medo de frente.Eleanor Roosevelt

O medo faz com que fiquemos agitados— o medo que nasce do passado, o medode falar sem pensar sobre o que realmente

tememos, o medo de reações futuras.É o nosso medo do futuro que distorce o

agora que poderia nos conduzir a um futurodiferente, se nos arriscássemos viver

completamente no presente.Marion Woodman

Sinta o medo e então deixe-o ir embora.Mergulhe de cabeça e faça alguma coisa— o que quer que seja. Se nossos instintos

e caminhos nos levam a algum lugar,é lá que precisamos ficar.

Melodie Beattie

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A árvore tinha uns 20 m de altura, ou maisou menos isso, eles disseram depois. Vintede nós estávamos agrupados perto de suabase, usando capacetes e equipamentosresistentes. Os galhos da árvore foram ar-rancados e substituídos por ferros pesados,cuidadosamente colocados a distânciasdifíceis uns dos outros. A aproximadamentetrês metros e meio de distância do topo daárvore estava pendurado um grande anelde metal, suspenso por um cabo vindo deoutras árvores. O desafio apresentado anós era escalar até o topo da árvore e entãopular no anel. Nosso instrutor disse que nãohavia perigo, já que uma corda com umcabo seria amarrada em nossosequipamentos, e o cabo impediria nossaprovável queda no ar.

Olhando para cima — bem para cima— onde estava o anel, sabia que o instru-tor dizia a verdade. Se não estivesse di-zendo, todo esse curso poderia não existir.Tudo o que ele disse fazia o mais absolutosentido para minha cabeça. Meu interior,no entanto, não assimilou a mensagem.

Eu estava com medo. Este se espalhourapidamente desde o meu diafragma atéas pernas e braços. Antes que ele pudesseparalisar-me, dei um passo à frente e

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disse, como foi pedido: “Meu nome éMarilyn e escolhi fazer isso. Estou com muitomedo!”

As estacas na árvore estavam muitoseparadas para as minhas pernas curtas.Eu estava tremendo. Teria desistido, trêsmetros acima, se o grupo não estivesse gri-tando sem parar, encorajando-me. Umaestaca por vez, escalei a árvore delgada,cada vez mais oscilante. Parecia não aca-bar nunca, embora eu tenha chegado aotopo muito rápido. O anel parecia um cam-po de futebol à distância, lá, no (glup!) ar.Olhando para ele, tentando não olhar parabaixo, fiquei paralisada de terror. Mas ogrupo continuava a me incentivar. Hesiteipor muito tempo lá em cima.

De repente, tive raiva de mim mesmapor sentir tanto medo. Eu escolhi. Devagar,com cuidado, curvei-me em direção àárvore, minhas mãos a abraçaram por trásde mim. Então, com um olhar para o cabotão distante, lá embaixo, atirei-me parafrente da forma mais enérgica que conse-gui. Não alcancei o anel. Em um fechar deolhos tombei. Então, a corda com o cabome prendeu e flutuei até o chão, eufórica.Quando meus pés tocaram o chão, o grupome cobriu de abraços calorosos. A alegria

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tomou conta de mim e senti que poderianovamente voar para aquele anel.

A experiência durou somente algunsminutos, mas aprendi uma lição para a vidatoda. E a aprendi em meu corpo, no qual aprobabilidade de esquecê-la é menor doque se tivesse aprendido apenas com amente. Mais tarde, refletindo sobre a ex-periência, notei várias coisas maravilhosas.

Primeiro, descobri uma confiança nova,segura, de que o medo nunca tomaria umadecisão por mim de novo. Sempre tivemedo. Desde criança, o medo me atrapa-lha quase todo dia e pode ser que nuncame abandone inteiramente. Mas, desdeaquele dia na árvore, sei que, muito em-bora o medo possa aparecer, ele nuncamais fará nenhuma escolha em meu lugar.Decidirei por mim mesma, e nunca porqueestou com medo. Faço minhas escolhascontra o domínio do medo — permanente-mente.

Segundo, observei que, quando eu memexia, o medo desaparecia. Eu agia e fi-cava livre do medo. Vale a pena saber dis-so. A capacidade de agir (de saltar, no meucaso) foi incentivada pelo apoio do grupoe pela minha própria revolta comigo mes-ma, por estar tão excessivamente apavo-

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rada. Para as outras pessoas, o estímulopode ser diferente. Uma de minhas com-panheiras nessa experiência foi uma mu-lher baixinha, que tinha muito medo dealtura. Sua decisão de saltar foi estimula-da pelo humor. Quando ela estava parali-sada no topo, alguém gritou: “Ei! Façacomo Tarzan e vá!” A minúscula mulhersorriu, deu um grito forte, e pulou. Seumedo também desapareceu. A ação captaa energia do medo e a direciona paramelhores fins.

Terceiro, eu estava profundamenteconsciente quanto a decidir confiar no caboe no inventor dessa aparelhagem fantásti-ca. Aceitei o que o meu bom senso, e nãoo que o medo, estava me dizendo. Acredi-tei que o cabo fosse segurar-me antes queos meus ossos se espatifassem.

Hoje esses três pontos, para semprecravados em meu corpo, parecem formarum todo. Esse todo me ajuda a viver con-fiante, apesar de sentir medo. Porqueaprendi que posso escolher, e porque aceiteia responsabilidade de criar a qualidadede minha experiência, comecei a examinarmeu próprio medo. O que contribuiu paraa qualidade da minha vida? Bem, o medoparece não ter contribuído o suficiente para

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que eu quisesse continuar a senti-lo. Ele memanteve longe do caminho das drogas ecoisas assim. Também me deteve em algu-mas experiências que poderiam enrique-cer minha vida. Então, não quis mais queo medo tivesse tanto poder em minha vida.

Para isso, foi necessária uma compreen-são mais profunda do medo. Dr. GeraldJampolsky, um psiquiatra que trabalha comcrianças gravemente doentes e com suasfamílias, foi uma grande ajuda. Ele diz que,na verdade, existem apenas duas realida-des emocionais básicas: o amor e o medo.O amor é direcionado para o exterior e éfundamental para nossa natureza. O medoestá voltado para o nosso interior. É umareação concentrada no ego. O medo fe-cha nossos corações, distorce nossa per-cepção do que realmente está acontecen-do. Então, Jampolsky diz que, quando es-colhemos não ser controlados pelo medo,abrimos nossos corações. Nossas percep-ções ficam mais claras. Agora, dentro denós, está um espaço para o amor surgir. Éuma escolha básica e poderosa, a escolhade sermos verdadeiros com nosso próprioser mais íntimo.

Isso parece bom. A próxima descober-ta foi que o medo estimula muita energia.

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Temos energias físicas e mentais, e um poçode energia que parece, por um momento,não ter nenhuma qualidade específica. Elesimplesmente está lá. Se o medo capta essaenergia neutra, ela nos conduz em direçãoa nós mesmos ou em direção a uma fuga.Em outras palavras, quando amedrontados,descobrimos que a energia tanto nos pro-tege quanto desaparece, talvez fisicamen-te, talvez nos sentimentos e nas palavras.Quando o pavor assume o comando daenergia que estimulou, o medo determinaquais serão nossas ações.

Mas esse comando do medo não pre-cisa acontecer. O poder da escolha respon-sável é maior que o poder do medo. Eusempre posso escolher entre o amor e omedo. Logo que sinto medo, devo recorrera essa energia disponível e decidir paraquais propósitos quero que ela sirva. Esco-lha não é emoção. Ela não é destruída pelaemoção. Posso fazer o que escolhi com aenergia do medo. Posso usá-la para agir— posso saltar livremente em direção aoanel.

Minha escolha será fortalecida por umamudança para a confiança. Ao afastar-medo medo, voltei-me para o amor e para aconfiança, que é prima em primeiro grau

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do amor. A confiança geralmente precisade um foco. Para pular de árvores de 20metros, confio no cabo engenhoso. Paraficar em uma sala cheia de estranhos, con-fio em minha capacidade de responder aqualquer coisa que me disserem. Paraaprender alguma coisa nova, confio em umprofessor que saiba. Para tentar praticar oconselho de Jesus sobre a vida, confio naajuda de Deus.

É necessária uma precaução aqui: adecisão de confiar não deve ser cega. Con-fiar não significa assumir que nada preju-dicial pode acontecer. Confiar é a escolhade acreditar que, aconteça o que aconte-cer, consigo lidar com isso “com uma pe-quena ajuda dos meus amigos” e com muitaajuda de Deus. Conhecer o segredo de nãodesperdiçar a dor me ajuda a confiar ain-da mais facilmente, pois sei que a belezahá de ser criada a partir de quase todos osriscos assumidos com confiança.

Quando tomamos a decisão de con-fiar e depois agir, ocorre uma transforma-ção especial. O medo rapidamente dá lu-gar a uma forte sensação de aventura. Osresultados são sempre satisfatórios e, al-gumas vezes, espetaculares. Eu me lembrode Don, que, quando jovem, tinha horror

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a sangue, ao seu e ao dos outros. Ele des-maiou duas vezes quando alguém pertodele se machucou. Poderia ter sido útil senão ficasse tão apavorado. Ele ficava em-baraçado e angustiado com sua limitação.Não gostava da escolha que o medo esta-va fazendo por ele. Então, começou a “seaventurar” com seu medo, embora confes-se que não foi muito divertido no início.Começou a ler sobre sangue — do que éfeito e como funciona no corpo, seu signifi-cado simbólico na literatura e na religião.Ele, gradualmente, começou a perceber umnovo sentimento, um respeito pelo sangue.Ficou fascinado.

Mas precisava ainda ter um contatodireto com o sangue. Então, fez um plano.Iria agir. Furaria seu próprio dedo e obser-varia o sangue. Na verdade, o medo urravaem seus pensamentos. “Farei isso dequalquer maneira”, ele insistiu. Então,deitou na cama para que não se machu-casse, caso desmaiasse! Ao afirmar “seique olhar para o sangue não pode me ma-chucar”, ele confiou no que já sabia, em-bora o medo se espalhasse por todo o seucorpo.

Decidiu canalizar a energia do medopara a determinação. Então, apesar de

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alguns momentos de tontura, ele permane-ceu consciente e observou suas própriasgotas de sangue. Lembrou-se de tudo o quehavia lido sobre ele. De repente, a gotaparecia algo maravilhoso. Quando ele fi-nalmente enxugou o sangue, sabia que seumedo poderia retornar, mas nunca comtanta intensidade. Ele estava livre para es-colher; assumira o controle da energia deseu medo e fizera com que ela servisse paraseus próprios objetivos.

Para Don, a aventura surpreendente co-meçou quando ele ainda se descobriu inte-ressado na coisa que um dia temera. Hoje,é um médico, especializado no sistema cir-culatório. O medo, enfrentado e domina-do, ajudou-o a descobrir sua profissão.

Don descobriu o segredo da escolhaalém do medo e ela o recompensou. Não,eu não me tornei uma profissional em pu-lar de árvores altas. Mas Don e eu, cadaum a seu modo, descobrimos que o medoé, na verdade, uma oportunidade paracaptar nossa própria energia e direcioná-la para o lugar em que realmente quere-mos que ela seja eficiente. O medo é umachance de agirmos confiantemente pelaescolha e, assim, criarmos mais beleza emnossas vidas.

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O medo nos afasta do amor, e tambémde Deus. Se nossos corações desejam Deuse nos apegamos ao nossos medos — dan-do-lhes nosso poder de escolha — nãoconseguimos viver perto do coração deDeus. Se escolhermos libertar-nos da do-minação do medo, encontraremos Deusonde ele sempre espera: em nossos pró-prios corações.

O medo parece acelerar nosso pen-samento. Então, os passos que se seguemsão bem lentos para qualquer crise ini-cial. Mas você pode praticar com qualquermedo crônico que tenha — medo de pes-soas novas, medo de cometer erros ou qual-quer medo do qual você possa ter cons-ciência.

• Em primeiro lugar, quando sentirmedo, especifique-o. Diga: “Estou commedo de...”. Torne-o explícito. Muitas ve-zes, logo em seguida, você vai sentir-se umpouco boba, porque sabe que a coisa quea apavora não é realmente ameaçadora.Se existe um sentimento mais profundo,procure-o e o especifique. Por exemplo:“Estou com medo de falar com um grupoporque receio que eles não gostem demim”.

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• Observe a direção que o medo tomaquando ele decide por você. Se você temmedo de pessoas novas, por exemplo, podenunca mais conhecer alguém que aindanão conhece; e veja que isso torna sua vidafutura muito mais pobre. Ou, você temmedo de cometer erros, então nunca tentaránada novo. Dessa forma, você não vaicrescer nem vai ser capaz de ajudar maisninguém. Quando você vê a direção que oseu medo tende a levá-la, pode saber, ime-diatamente, que não quer que ele determinemais a sua vida.

• Quando sentir medo, observe por ummomento a energia em seu corpo. Vocêfica irritada ao fazer alguma coisa! Naverdade, é possível que mal consiga ficarsentada.

• Exija essa energia para si mesma eescolha direcioná-la, pela ação, para ondevocê realmente quer que ela vá. Márcia,uma jovem mãe de três filhos, tinha medode se mudar para uma nova cidade por-que não conhecia ninguém lá e nunca ha-via se mudado antes. Mas ela queria aoportunidade profissional que estava dis-ponível naquele lugar. Então, ela canali-zou a energia do seu medo para criar umlar novo e adorável e começar no seu novo

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trabalho. Quando gastou a energia do seumedo, tinha-se saído melhor no novo lu-gar do que imaginou que fosse possível.Sua saudade de casa também quase desa-parecera. A energia estimulada por seusmedos havia enchido de energia uma vidanova e bela. Você pode fazer o mesmo,não importa que sua mudança seja gran-de ou pequena.

• Encontre alguém ou alguma coisa emque confiar. Ou confie no que já conhece.Ao pular da árvore, confiei no cabo e noprograma em andamento. Um andarilhoencontrou coragem para atravessar um riocom correntezas fortes, sobre um tronco,porque confiou na força da mão de umamigo. Pode ser que você confie em suaprópria experiência, ou na de um amigo,de um membro da família ou em Deus.Antes de agir, pare alguns minutos para selembrar em quem ou no que você confia.Dê graças por isso.

• Agora, não desperdice mais tempopensando. Escolha! Aja! Parta para a ação.Suas descobertas, daqui por diante, sódependem de você. Elas serão empolgan-tes e renovarão sua vida. Confie nisso. Vocêserá mais livre porque o medo nunca maisvai precisar controlar suas escolhas. E Deus

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estará mais próximo em suas experiênciasdo que jamais esteve.

Sugestões de oração

Uma excelente forma de oração aqualquer hora, e especialmente quandoformos escolher sobre nossos medos, é aoração silenciosa e relaxante. Para a ora-ção silenciosa, relaxamos profundamenteo corpo, mantendo a espinha ereta. Re-laxamos os pensamentos, guiando-os cal-mamente para cenas tranqüilas ou lem-branças agradáveis. Então, com cuidado,tomamos consciência da presença deDeus, do amor de Jesus ou do carinho deMaria. Descansamos nessa presença,aproveitando o relaxamento e sentindo abondade, a segurança deste silêncio. En-tão, sempre com serenidade, fazemos ospassos relacionados acima em uma tran-qüila conversa com Deus. Contamos aDeus cada um deles, pedimos sua bênçãoem cada passo e afirmamos nossa con-fiança no Senhor. Quando tivermos termi-nado, continuamos quietos por algum tem-po, para deixar tempo para a gratidãoespontânea. Então, devagar, voltamos —

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prontos para agir em nossa oração repletade paz.

Sugestões bíblicas

Deuteronômio 31,6Sede fortes e corajosos! Não vos intimi-

deis nem tenhais medo deles! Pois o Senhorteu Deus que vai contigo, não te deixaránem te abandonará.

1Crônicas 28,20E Davi disse a seu filho Salomão: “Sê

forte e corajoso! Vai fazendo, sem temornem pavor, pois o Senhor meu Deus estácontigo. Ele não te largará nem te aban-donará, até teres concluído toda a constru-ção do templo do Senhor”.

Salmo 34,8-10O anjo do Senhor acampa ao redor

dos que o temem, e os salva. Saboreai evede como o Senhor é bom! Feliz o homemque nele se refugia! Temei o Senhor vós quelhe sois consagrados, porque nada faltaàqueles que o temem.

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Salmo 56,5-6De Deus celebro a promessa, em Deus

confio e não temo:o que poderá fazer-me um mortal?

Continuamente escarnecem de minhaspalavras e só pensam em meu dano.

Provérbios 3,5-6Confia no Senhor com todo o teu cora-

ção, e não te apóies em teu próprio enten-dimento; reconhece-o em todos os cami-nhos, e ele aplainará as tuas sendas.

Mateus 10,26-28Não os temais pois; porque não há

nada encoberto que não venha a ser reve-lado, nem oculto que não venha a ser co-nhecido. O que vos digo em segredo, dizeipublicamente e o que vos digo ao ouvido,apregoai de cima dos telhados. Não deveister medo dos que matam o corpo mas nãopodem matar a alma. Deveis ter medo da-quele que pode precipitar alma e corpo noinferno.

1João 4,18No amor não há temor, pois o amor

perfeito livra-se do temor. Temor supõe

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castigo, e quem teme não é perfeito noamor.

Aqui estão algumas passagens bíblicasadicionais para mais reflexão.

Salmo 23Salmo 125,1-2Hebreus 13,5-8Salmo 57Isaías 40,28-312Timóteo 1,7

Para refletir

Encontre um lugar tranqüilo e pensesobre esses tópicos:

• meu medo mais crônico;• meu medo mais poderoso;• uma hora em que escolhi deixar meu

medo estar presente e fiz uma escolha maisprofunda.

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CAPÍTULO QUATRO

CANALIZE A RAIVADE MANEIRA CRIATIVA

Minha mãe costumava dizer:“Aquele que tem raiva de você

pode derrotá-la!”Irmã Elizabeth Kenny

As pessoas que ficam com raivasempre se dão mal.

Will Rogers

Hoje o sol está brilhando e tudo está empaz. A raiva parece estar a quilômetros dedistância. Mas, na semana passada, fiqueiem ebulição por causa de uma coisa. Em-bora isso não aconteça mais com tanta fre-qüência, nunca posso saber com certezaquando a raiva vai surgir.

Estou firmemente convencida de que araiva não é necessária em nossas vidas. Éuma emoção evitável, egoísta, que o pró-

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prio Jesus não aprovava (veja Mateus 5,21-23).

“Opa! Espere um minuto!”, você po-de contestar. “E o que você me diz sobrea limpeza do Templo?”. Nesse caso, adificuldade está em nós mesmos: é difí-cil imaginar uma ação tão enérgica, feitacom total determinação, mas livre da rai-va. O Novo Testamento chama isso de“zelo”.

Recentemente, quando um amigo insis-tiu que Jesus também sentia raiva, pergun-tei a ele porque queria pensar em Jesuscomo uma pessoa zangada. Sincero comosempre, esse homem parou e então disse:“Autojustificativa! Não prova nada, nãoé?”. Isso mesmo.

Devido ao fato de não compreender-mos nossa própria raiva e de raramentesabermos como ela surge ou qual a me-lhor utilidade que podemos encontrar paraela, achamos que é humana, e é por issoque todos ficam malucos. Todo mundo podesentir raiva; nem todo mundo realmentesente raiva.

Avalie por alguns minutos as causasbásicas da raiva. Existem apenas três ra-zões fundamentais para sentirmos raiva.Pense nos causadores de sua própria raiva

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por um momento, então veja como eles seencaixam nessas três razões:

1. Medo. Quando sentimos medo, po-demos ficar com raiva para encobri-lo ouficar com raiva da pessoa/coisa que nosamedrontou.

2. Dor. Ficamos com raiva quando algonos magoa.

3. Frustração por não seguirmos nossopróprio caminho. Quando estamos impe-didos ou parados em nossos planos, é pro-vável que comecemos a sentir raiva, pelomenos dentro de nós.

Quando vemos qual é o fundamentode nossa raiva, conseguimos fazer a per-gunta sobre Jesus novamente. Tambémachamos que ele sentiu raiva por causa domedo? Vemos, na história da Paixão, queele não ficou nem um pouco com raiva aosentir dor. E, quanto ao fato de Jesus nãoseguir o seu próprio caminho, isso o teriadeixado furioso?

A experiência me ensinou que a raivaestá sujeita a treinamento e escolha. Possodecidir ficar ou não com raiva em uma de-terminada situação se estou suficientementeatenta a mim mesma. Essa é a parte difícil.

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O momento em que escolho sentir ou não araiva é apenas um instante, e, se deixá-lopassar, ela assume o controle. Então, é comose o fato de eu “não poder ajudar” estives-se me deixando furiosa. Essa pequena fra-se realmente significa que escolhi a raiva(provavelmente por omissão), com tanta ra-pidez, que não percebi a escolha.

Uma vez que eu decida não sentir raivasó quando estou muito atenta, realmentecontinuarei a ficar com raiva algumasvezes. Será assim com a maioria de nós,certo? Essa probabilidade simplesmente nosdiz que não somos tão maduros como Je-sus Cristo era. Isso não deveria surpreen-der-nos! Nem devemos condenar-nos porisso. Podemos usar o reconhecimento denossa imaturidade como um estímulo aocrescimento.

Então, vamos refletir sobre nossa raivaquando ela ocorrer de verdade. Quandoficamos com raiva, o que acontece depois?Admitimos nossos sentimentos de raiva eos expressamos de acordo com o que al-gumas psicologias populares nos dizempara fazer?

A negação dos sentimentos é perigosapara a saúde emocional. A negação cons-ciente também põe em perigo a vida espi-

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ritual. Se a raiva está incomodando e eudigo: “Não estou com raiva”, é simples-mente uma mentira, para mim e para Deus.Minha raiva, então, ficará contra meu cor-po e poderá deixar-me doente.

Nós precisamos admitir, para nós mes-mas e para Deus, a maneira como as coi-sas realmente estão dentro de nós. Deus éVerdade e Amor. Precisamos ser verdadei-ras também. Além disso, Deus já sabe comoas coisas realmente estão e está pronto paranos ajudar a fazer algo construtivo com asenergias de nossa raiva.

Estudos psicológicos recentes mostramque, muitas vezes, a expressão da raiva aintensifica. Ao agir “com raiva”, ficamos“com mais raiva”! Se esses estudos estive-rem certos, nem sempre pode ser útil ber-rar palavras ofensivas ou esmurrar traves-seiros. Podemos descobrir sozinhas, obser-vando os efeitos de nossa própria raiva,quando a exprimimos ou quando não ofazemos. Tente e veja!

Assim como o medo, a raiva estimulauma grande quantidade da energia queestá então disponível. Pense em como vocêse sentiu esgotada depois de seu últimoacesso de raiva. Para onde foi toda aquelaenergia?

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A raiva não precisa tomar nossas de-cisões. Não somos vítimas de nossas pró-prias emoções, se não quisermos ser. Pre-cisamos aprender como canalizar as ener-gias da raiva para o que realmente quere-mos. Isso é totalmente possível — e é pos-sível todas as vezes. Pode não ser semprefácil.

Embora a raiva seja o resultado denosso egocentrismo e o expresse, ela po-de acarretar outros sentimentos que, àprimeira vista, podem parecer benéficos.Uma explosão de raiva pode fazer-nossentir fortes. Pode dar-nos sentimentos se-guros, como se estivéssemos protegidospela emoção. Pode dar-nos um sentimentode controle. Esses sentimentos, no entanto,são temporários. Raramente criam o efeitoque queremos. Algumas pessoas conti-nuam com raiva porque querem essesoutros sentimentos. Além do mais, a de-cisão de fazer isso está baseada em umailusão.

A raiva, quando não controlada pelaescolha responsável, aumenta nossoegocentrismo. Existem pessoas que aindanão estão maduras, para quem a expres-são da raiva pode ser um passo necessá-rio para a independência. Se você é uma

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dessas pessoas, deve respeitar o momentoem que você se encontra e dar a você mes-ma uma chance de crescer. Para muitosadultos, um ego que continua se expandin-do, dominando, insistindo em cada vezmais escolhas e ações, é uma barreira aocrescimento espiritual. O egocentrismo estáno centro de nossa tendência para o peca-do. As coisas que nos separam de Deusnos mantêm simultaneamente limitados àsnossas próprias formas egoístas de pensare agir. Se fizermos um esforço para redu-zir nosso egocentrismo, criamos uma novae admirável abertura em nós mesmos. Elaestá repleta de potencial para a beleza.

Quando escolhemos não deixar que araiva controle nossas ações, apropriando-se de nossas decisões, criamos resistênciaà nossa própria parte egocêntrica. Esse éo momento pelo qual Deus espera. A res-posta a essa abertura interior é certa: Deuspreencherá essa abertura e nos dará omáximo de que precisamos e pudermosreceber. Pode ser um sentimento calorosopor alguém que nos deixou com raiva ouuma nova compreensão de um exemplodestrutivo de nossa infância. Deus podedar-nos consciência de nossa própriacriatividade, intensificar nosso amor ou nos

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induzir à oração silenciosa. Qualquer queseja a dádiva, a resposta de Deus à nossadecisão de não ficar com raiva deve serguardada conosco.

Então, o “truque” que podemos apren-der é observar nossa raiva e canalizar suasenergias para nossos verdadeiros objeti-vos, isto é, para criar a qualidade de vidaque queremos quando não estamos cheiosde sentimentos de raiva.

Por exemplo, quero relacionamentoscalorosos e sinceros com outras pessoas.Quando fico com raiva, é provável que euseja bastante defensiva. Ser defensiva nãome ajuda a fazer amizades sinceras! Ou-tros ficam agressivos ou mesquinhos quan-do ficam com raiva. Posso optar por nãoexplodir, e sim por direcionar a energiapara consertar o que aconteceu entre mime os meus amigos. Isso pode significar nãodizer nada por algum tempo, e então to-car diretamente no assunto e pedir delica-damente a opinião deles sobre o que acon-teceu. Não é fácil. O ego irá se ofender.Meu corpo, às vezes, treme com o esforço!Mas a raiva não precisa controlar-me, por-que não quero que isso aconteça. O resul-tado é o que eu realmente queria: com-preensão mútua, amigável.

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Freqüentemente, a raiva é causada poralguma coisa específica. Essa raiva desa-parece assim que o problema é esquecido.Há também a raiva crônica. Ela requer maisatenção. A raiva crônica pode ser decor-rente de mágoas da infância ou vir de ne-cessidades cronicamente inconvenientes.Pode ter outras causas. Às vezes, desco-brir a causa da raiva crônica ajuda, e, paraisso, o auxílio profissional pode ser útil.Algumas pessoas conseguem descobrir porelas mesmas a maneira como sua raivafunciona no presente, e essas percepçõessão suficientes para prosseguir.

Embora minhas explosões de raiva mefaçam ter vontade de entendê-la e de des-cobrir a opinião de Jesus sobre ela, foi mi-nha raiva crônica que teve mais a me ofe-recer. Quando comecei a escolher ser res-ponsável, percebi que muitos de meus há-bitos e reações não funcionavam bem paramim. Quero dizer com isso que eles nãocontribuíam para a qualidade de vida queeu queria. Eu desejava mais liberdade in-terior, mais criatividade, mais crescimento,relacionamentos intensos, mais capacida-de para amar. Observando minha raivacrônica, vi que eu dispersava sua tremen-da energia com críticas inúteis e nervosas

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de coisas que eu não podia mudar. Então,comecei a parar de dizer essas coisas e,em vez disso, decidi mudar minhas pró-prias atitudes, hábitos e ações.

A determinação abastecida pela raivapode ser uma força poderosa. Um profes-sor britânico contava uma história de suaépoca de estudante na Inglaterra, durantea Segunda Guerra Mundial. O bombar-deio da Grã-Bretanha havia começado. Umdia, enquanto ele estava na biblioteca es-tudando hebraico, soou o alarme de ata-que aéreo; ele tinha de se juntar aos outrose correr para o abrigo. Mas, daquela vez,ficou com raiva. Continuou sentado, esmur-rando sua carteira, dizendo: “Droga!Quando isso tudo acabar, alguém vai terde saber hebraico!”. E ali ele ficou, memo-rizando verbos de hebraico furiosamente,enquanto os aviões roncavam! Logo, seuhebraico estava excelente.

Se esse estudante conseguiu usar suasenergias “furiosas” para aprender hebraicodurante um bombardeio; então, nós con-seguimos usar as nossas para qualquerobjetivo que escolhermos. Se nossa raivatende a se voltar para o mundo exterior,podemos tomar a decisão de mudar algoque está à nossa volta: arrumar a casa,

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iniciar mudanças em nossa comunidade,procurar outro emprego, fazer um estágioem alguma área de nosso interesse. Quan-do nossa raiva está direcionada para nósmesmas, podemos usá-la para mudar umhábito, para parar de ralhar com as crian-ças, para ouvir os outros com mais aten-ção ou colocar nosso corpo, diariamente,em um local silencioso para rezar. O obje-tivo para o qual qualquer indivíduo decidacanalizar a energia da raiva é inteiramen-te de sua própria escolha. O importante éque essa energia redirecionada contribuapara a qualidade de vida e para a forçados relacionamentos que estão sendocriados. E, se alguma coisa ainda nãofuncionar, outra escolha está sempre dis-ponível.

Existe uma lei estranha na vida: quan-do começamos a aprender alguma coisanova, com receptividade, a vida nos dágrandes oportunidades de praticá-la. Issoaconteceu comigo quando comecei aaprender a canalizar a raiva de forma cria-tiva. Eu estava estudando para um douto-rado e tinha trabalhado muito, durantevários meses, para uma apresentação quedeterminaria a direção e o sucesso de meusestudos. No dia anterior ao da apresenta-

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ção, ela já estava pronta, e a levei para ochefe do departamento para a revisão fi-nal. Eu vinha checando o trabalho com eleregularmente há três meses. Ele me olhoucalmamente e disse: “Você sabe que issonão vai dar certo, não sabe?”. Fiquei ator-doada. Em minha mente, vi meses de tra-balho jogados fora.

“Por que não?”, perguntei, começan-do a tremer por dentro. Ele explicou emtrês frases curtas. Imediatamente, conseguiver que estava certo.

“Por que você não me mostrou issoantes?” perguntei, mal podendo acreditarque ele fosse tão maldoso a ponto de dei-xar esse comentário para o último minuto.“Tinha esperança de que você enxergassesozinha”, ele disse, sorrindo.

Não consigo descrever a confusão e afúria que surgiram imediatamente. Estavacom tanta raiva que, literalmente, não sa-bia o que fazer. Então, por ter ficado commedo de me opor a esse homem, fui em-bora. Quando cheguei em meu apartamen-to, estava enfurecida, espancando-me pordentro e querendo espancar alguém tam-bém. Como eu poderia, possivelmente,arrumar a apresentação para o dia se-guinte?

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Então, percebi como eu estava furiosa.Fiquei quieta. Lembrei-me de meu discer-nimento para canalizar a raiva de formaresponsável. Sim, eu havia feito umapéssima jogada, mas ainda podia decidircomo continuar o jogo. Com muito esforço,lembrei-me da qualidade de criatividadeque eu queria nessa apresentação. Acheique não era possível fazer isso da noitepara o dia. Também percebi que não podiafazer nada, por menos criativo que fosse,em meu estado de fúria.

Meu irmão psicólogo uma vez disse:“Seja sempre gentil com você mesma emuma crise”. Então, decidi, em primeiro lu-gar, ser boa comigo. Fui ao meu restau-rante favorito, de onde podia ver o ocea-no, e pedi tudo o que minha vontade suge-ria. Olhei para as ondas, tentando pensarem sua beleza, na comida — em qualquercoisa, menos no problema. Com atençãodeterminada, saboreei a refeição. E me deiapenas trinta segundos para questionar odinheiro que estava gastando.

Parece impossível ficar com raiva quan-do tudo está em paz e satisfeito, até mes-mo o estômago! Então, gradualmente, fuificando mais calma. E, à medida que euolhava o ritmo das ondas, uma idéia ines-

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perada apareceu em minha mente: a apre-sentação podia ser mudada; consegui en-xergar como fazer isso; sabia a quem pe-dir ajuda. Minha raiva, naquele momento,fora substituída pela animação com a novapossibilidade. Corri para casa para tentar.

Para encurtar a história, a apresenta-ção foi corrigida a tempo e passou facil-mente. E, mais interessante ainda, a seçãoalterada tornou-se a parte mais fascinantede todos os meus estudos. O dinheiro da-quele jantar foi extremamente bem-gasto.As energias de minha raiva, conduzidaspara uma direção melhor, provaram sermuito criativas.

Olhando para o que já aconteceu emminha vida, acredito que minha raiva mu-dou. Está muito menos freqüente e muitomais moderada. Acredito que há quatrorazões para isso:

(1) escolhi ser responsável e parei deprocurar um conto de fadas “permanente”em minha vida;

(2) tentei, arduamente, entender minhaprópria raiva crônica;

(3) quando escolhi canalizar a energiada raiva para as qualidades de vida e re-lacionamento que eu realmente queria, ohábito da reação furiosa ficou mais fraco;

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(4) vi claramente que a raiva me man-tém afastada de Deus. Essa é a minhamaior motivação para desvendar os se-gredos de uma vida livre da raiva. Assim,eu me sinto bem com relação à energiaque, às vezes, surge, ameaçando trans-formar-se em raiva. É útil. Às vezes, a raivaainda me pega desatenta e desper-cebida,e, outras vezes, ainda cedo meu poder dedecisão a essa raiva. Mas houve um pro-fundo crescimento e eu me alegro com isto.

Aqui estão alguns passos que podemser úteis para canalizar as energias daraiva.

• Tome uma decisão básica com rela-ção à raiva. Você, e somente você, é capazde escolher suas emoções. Você quer quesua raiva estoure? Ela traz o que você querpara sua vida? Se não, você pode decidirfazer coisas diferentes com as energias desua raiva.

• Da próxima vez que ficar com raiva,tente não fazer ou falar nada na hora. Apessoa com quem você estiver brigandopode ficar confusa, mas tudo bem. Obser-ve o fluxo da energia em seu corpo. Comoele é? Onde a energia está localizada?Você pode querer fazer essa experiência

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várias vezes, para tomar conhecimento desua própria emoção e de sua energia, etambém de como ela funciona. Você podeperder uma ou duas discussões, mas, o queimporta? Isso ajuda a reduzir seu egocen-trismo!

• Procure os sentimentos que vêm coma raiva e parecem recompensá-la. Essaoutra decisão é atribuída diretamente aoseu egocentrismo. Pergunte a você mesmase essas recompensas são reais e se vocêquer mantê - las. Pergunte se maisegocentrismo é o que você quer. Lembre-se, a escolha é inteiramente sua.

• Escolha uma área de sua vida emque você gostaria de crescer e fazer mu-danças criativas. Construa uma imagemmental clara do que você tem agora e doque quer. Para a primeira experiência, es-colha algo razoavelmente simples, algo quelhe dará resultados rápidos e óbvios. Sem-pre é bom começar em áreas em que osucesso não é difícil — os resultados nosencorajam enquanto nos ensinam.

• Quando já tiver escolhido, comece avoltar as energias de sua raiva para essadireção. Você pode até tentar dizer para apessoa da qual tem raiva: “Estou com raivaagora mas eu preciso destas energias para

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algo mais importante; então, não voudiscutir isso até mais tarde”. Você podequerer assegurar a essa pessoa que vocênão acha que ela ou ele seja sem impor-tância, mas apenas que a energia de suaraiva é necessária em um outro lugar. Todotipo de surpresa pode acontecer se vocêtentar uma coisa tão honesta como essa!

• Aproveite! É um empreendimentoexcitante. Ele lhe trará recompensas valio-sas e duradouras na integridade pessoal,na força pessoal, nos relacionamentos comos outros e em seu relacionamento de ora-ção com Deus. Você descobrirá que essaenergia é verdadeiramente sua, para sermandada com força na direção que esco-lher. Você não é mais uma vítima de suaprópria raiva. Está caminhando para a li-berdade com responsabilidade.

Sugestões de oração

Cada passo mencionado anteriormen-te, e outros que você pode descobrir, deveser pedido em oração. Essa oração não éexatamente pedir que Deus faça algumacoisa por você. Deus não tomará suas de-cisões, por exemplo. Mas você pede bên-

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çãos, pede a ajuda de Deus em seu proces-so e pede discernimento. Quando esse tipode trabalho é feito — e isso é trabalho —precisamos de discernimento, precisamos dehonestidade. Necessitamos da capacidadede recuar e olhar para nós mesmas, deprocurar informações, em primeiro lugar, ede ter a avaliação sob controle. Precisamosenxergar como estamos por dentro.

Deus nos ajudará a fazer isso. Deus estásempre do nosso lado, oferecendo compai-xão e promovendo nosso crescimento. Deusapóia nossos esforços. Quando rezamospor nossa raiva, não pedimos que algo sejafeito por nós, mas que nos seja dado o domdo discernimento, para que possamos fa-zer escolhas sensatas e responsáveis.

Quanto mais silenciosas conseguirmosficar diante de Deus, melhor. Quando re-zamos pelas energias da raiva, rezamossilenciosamente, talvez com lápis e papelpor perto. Pode ser que nossas descober-tas interiores precisem ser registradas an-tes que desapareçam. Também agradece-mos a Deus, especialmente por fazer comque não precisemos ser vítimas de nossaraiva, com que sejamos capazes de viverem paz, livres da raiva, e com que essasenergias estejam disponíveis para belos

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objetivos. Agradecemos a Deus por ficarperto de nós, por cuidar de nós.

Descobri que é de grande ajuda levarminha raiva para um conselheiro de con-fiança. Nem todos os conselheiros respon-derão como seria desejado, porque muitosnão enxergam a raiva como um mal oucomo um dano. Mas admitir nossa raiva érealmente benéfico. A raiva machuca.Machuca-nos mais do que imaginamos.Assim, o fato de a admitirmos nos deixaabertos para a cura. Também podemos dis-tanciar-nos um pouco da raiva. Na próxi-ma vez, fica mais fácil perceber rapida-mente a raiva e canalizá-la.

Sugestões bíblicas

Salmo 39,2Eu disse: “Vigiarei minha conduta para

não pecar com a língua.Porei um freio à minha boca, quando

o ímpio estiver diante de mim”.

Provérbios 11,12O insensato despreza o próximo, mas

o homem prudente mantém-se calado.

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Provérbios 15,1.17-18Mais vale um prato de legumes com

amor do que com rancor um boi gordo.O homem colérico provoca a discór-

dia, mas o homem paciente acalma a rixa.

Provérbios 17,14Começar uma rixa é desencadear uma

enxurrada: desiste antes que se exasperea disputa!

Mateus 5,22Pois eu vos digo: “quem se encolerizar

contra seu irmão, será réu de julgamento.Quem chamar seu irmão de patife, seráréu perante o Sinédrio, e quem o chamarde tolo, será réu do inferno de fogo”.

Aqui estão referências de outras pas-sagens bíblicas para reflexão.

Salmo 37,1-11Provérbios 19,3Provérbios 22,24-25Salmo 98,1-9Provérbios 21,14Efésios 4,26-27.31-32Provérbios 29,11Colossenses 3,8-10

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Para refletir

A auto-análise das três razões básicaspara a raiva — como foi descrito nestecapítulo — pode ser produtiva. Se a ques-tão da “raiva justa ou raiva justificável”surgir, pense em Jesus na cruz: a raiva nãoteria sido justificada? Em vez disso, o queJesus escolheu?

Reflita sobre as seguintes perguntas:

• O que causa minha raiva?• O que posso fazer, particularmente,

de uma outra forma?• Gosto da raiva? Por quê? (É impor-

tante enxergar isso, porque somos capa-zes de mudar apenas o que conseguimosver sozinhas.)

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CAPÍTULO CINCO

DEIXE AS PESSOASGOSTAREM DE VOCÊ

Você cresce no dia em que dá a primeirarisada verdadeira — de você mesmo.

Ethel Barrymore

Seria melhor se a alegria fosse distribuídaem todos os dias na forma de força do que

se fosse concentrada em êxtases...Ralph Waldo Emerson

O sentimento é tão forte hoje como eraquando eu tinha cinco anos de idade. Nos-sa família se mudara e meus pais estavamdescarregando as caixas — algumas tãograndes que eu mal podia ver dentro de-las. Papai estava procurando como loucoos alicates que não conseguia lembrar-sede ter empacotado. Comecei a fuçar porali e os encontrei. Seu comentário anima-do foi: “Você merece cinco dólares!”

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Eu estava vibrando. Sentia-me todaanimada. Cinco dólares pareciam cincomilhões; mas, o melhor de tudo, foi quealguém importante achou que eu mere-cia.

Compare esse sentimento expansivo,alegre com os de uma mulher que se sen-tou em frente a mim quase quarenta anosmais tarde. Ela estava chorando. Podia-sesentir o vazio dentro dela. Embora tivessemuito dinheiro, ela estava desleixada —cabelos despenteados, roupas que nãocombinavam, com excesso de peso e de-samparada. Ela veio até mim por causa deum problema, mas era fácil ver que seu“problema” não era a fonte mais impor-tante de seu sofrimento. Seu vazio provi-nha de um sentimento doloroso de inutili-dade, de uma suposição que ela não eradigna de andar na terra ou de sentir a vidanas veias, de se expressar ou de receberamor.

Ela não está sozinha nisso. Existemmuitas, muitas pessoas de todas as idadese tipos que, bem no fundo de seus cora-ções, sentem-se completamente incapazesde fazer alguma coisa boa. Nossa socie-dade reconhece esse sentimento de muitasmaneiras: surgem grupos de apoio; as pes-

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soas procuram terapia individual; nós nossustentamos em montes de bens materiais;procuramos status e reafirmação em todasas direções. O sentimento de inutilidade nosapavora.

Estranhamente, as pessoas que se sen-tem mais inúteis são, com freqüência, pes-soas religiosas, cristãs. É claro que o cris-tianismo não deveria oprimir-nos dessa for-ma! Cristianismo é boa nova.

Como muitos cristãos, lutei contra osentimento de que o cristianismo é algo quedevo seguir, e que devo fazer isso de for-ma perfeita agora mesmo, ou melhor ain-da, que eu já deveria ser perfeita desdeontem. Suponho que essa completa reali-zação é o que Deus espera. Mas tenhoconsciência de que não sigo os ensina-mentos do Novo Testamento ou de minhaIgreja. Ainda não alcancei essa façanha.A prática do cristianismo é geralmente umaluta; e, embora às vezes seja uma luta feliz,nem sempre é bem-sucedida. Apesar dessaimagem de perfeição ficar sempre diantede mim. Não parece boa nova. Parece umaexigência impossível que se transforma emuma reprimenda porque não a satisfaçototalmente. E, quando olho para ela, sinto-me incapaz.

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Eu costumava alimentar meus sentimen-tos de desmerecimento. Este é um de meus“velhos hábitos” favoritos — e não apenasmeu: pegava uma virtude de um grandesanto e outra de alguma outra pessoa (con-templação de São João de Cruz, pobrezade São Francisco de Assis, simplicidade deMadre Teresa, e assim por diante) e reuniatodas elas em um ser humano ideal. Então,comparava-me com esse personagem ima-ginário. É natural que eu não chegasse nemperto!

Então, ficava arrasada com minhasimperfeições óbvias, dizendo para mimmesma, de uma centena de jeitos, como euera terrível. Também rejeitava grande par-te do amor e da simpatia que os outros meofereciam, pensando que, se eles gostavamde mim, deviam ser bobos. Devo ter con-fundido muitos possíveis amigos!

Carl Rogers me ajudou com isso, sim-plesmente por reconhecer o mesmo hábitode não permitir que outras pessoas apre-ciassem seu íntimo. Ele disse que aprendeumuito lentamente a “absorver” seu afetopelas outras pessoas e as reações delaspara com ele. Ele concordou com o que eudescobri aos poucos: É energizante deixarque os outros me amem. É maravilhoso! O

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valor que eles descobrem em mim podetransformar-se no valor de que tambémgosto e no qual acredito.

O sentimento de inutilidade pode seruma reação normal à nossa cultura e aosnossos nobres ideais. Mas o desmere-cimento não nos é dado pela vida; ele nãonos torna saudáveis. A inutilidade comoreação habitual não é necessária. É outraatitude que podemos escolher mudar.

Fiz essa escolha e então pratiquei dei-xando que os outros me amassem, quedessem algo para mim, que me aprecias-sem — e permitindo que todos esses senti-mentos deliciosos penetrassem em meu co-ração. As outras pessoas me oferecerammuito. Perdi muita coisa mantendo-asà distância por causa de meus própriossentimentos de inutilidade. Quando, comoCarl Rogers, escolhi deixar que os outrosgostassem de mim e gostar do fato deeles gostarem de mim, ganhei um prê-mio. Agora, conseguiria rir de minhas pró-prias características e de meus hábitosestranhos.

Agora, consigo rir com mais facilida-de das partes não-tão-perfeitas da minhapersonalidade. Consigo rir, também, daspartes boas e agradáveis. Consigo final-

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mente reconhecer que tenho uma capaci-dade considerável, que não sou insignifi-cante. Consigo aproveitar meus talentos efavorecer meus próprios interesses. Eles sãoa chave para minha contribuição particu-lar à vida. E, quando contribuo, surge osentimento de merecer tudo isso.

O sentimento de inutilidade pode serum tipo “viagem ao ego” inversa. Quandome sinto inútil com relação a mim, podeser fácil pensar que estou sendo “genero-sa”. Mas o fato é que tais sentimentos sóme concentram mais em mim mesma e ge-ralmente acrescentam autopiedade aosmeus sentimentos. Não há nada de bomna autopiedade e nada de bom em meodiar. Essas atitudes não salientam nadade criativo ou amável em mim. Na verda-de, é justamente o contrário. Elas me im-pedem de amar, reprimem a criatividade.Apegar-me ao sentimento de inutilidade oume apegar à autopiedade é como fecharuma grande porta de aço, trancando-a beme jogando a chave fora. Não consigo saire os outros não conseguem entrar. Tenhode escolher deixar ir embora o sentimentode inutilidade e a autopiedade.

À medida que eu praticava o ato dedeixar que esses sentimentos fossem em-

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bora e que os outros me amassem, come-çava a me sentir mais digna da vida. Mastambém descobri uma confusão fundamen-tal na maneira como eu pensava e sentia.Tinha relação com meus sentimentos deinutilidade e com meu valor perante Deus.Pensei que eles fossem a mesma coisa, masdefinitivamente não são. Aqui está comoeu finalmente os coloquei em ordem:

Em Gênesis 2,7, Deus dá o sopro davida em sua nova criatura, o ser humano.Se Deus retirasse esse sopro de mim agoramesmo, eu não existiria. Iria desaparecer.O ato humano mais simples e automático,o de respirar, depende completamente dapresença de Deus e da atividade susten-tadora constante de Deus em mim, estejaeu consciente disso ou não. Minha existên-cia, portanto, não é minha.

Nesse nível absolutamente básico, “eu”não sou nada. Deus é tudo. Deus é o Cria-dor e eu sou uma criatura completamentedependente. Por mim mesma, não sounada.

Essa percepção tem a qualidade deuma novidade. Não me faz sentir inútil. Éuma compreensão clara, limpa de algumacoisa real. Tem consistência, como se eupudesse basear-me nela com toda firmeza

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para me equilibrar para a vida. Essa cons-ciência não é uma avaliação de mim mes-ma. É o fato da completa superioridade deDeus. De certo modo, meu próprio nadaem face da grandeza de Deus, maior quepensamentos ou palavras, tornou-se umapedra de toque para mim. Recorro a elapara colocar a mim e a minhas atividadesem perspectiva.

Então, sozinha, eu fico perdida, até queDeus me note. A boa notícia do cristianis-mo é que Deus me nota. Deus me nota deforma tão especial e me ama tanto que seuFilho, Jesus, veio para viver como devo vi-ver e para anunciar a compaixão do Paipor mim, para me garantir ajuda e parase tornar essa ajuda para mim. A boa no-tícia do cristianismo pode ser completamen-te reconhecida quando tomo consciênciade meu próprio nada diante do Deus Todo-Poderoso. Então, tudo em minha vida setransforma não em uma exigência, mas emuma dádiva. É uma perspectiva totalmentediferente!

Para Deus, eu mereço alguma coisa —embora o motivo possa ser sempre um mis-tério trancado no coração dos entendidos.Deus me fez e ama todas as criaturas porser o Criador, não por causa de minhas

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qualidades (boas ou más). Olhe para estemundo! Olhe para o meu coração! Elemereceu a Divina Compaixão? Dificilmen-te. Mas Deus é compaixão. Então, emboraeu não tenha nada meu, Deus me ama pormerecimento. Percebido ou não, esse amoré o único alicerce da minha vida.

Existe um outro ângulo para a ques-tão. Podemos reconhecer nosso nada fun-damental sem Deus. Podemos admitir paranós mesmas que, na verdade, não somos,nenhuma de nós, dignas da grande com-paixão do Senhor. Então, bem em meio aesse sentimento, podemos voltar nossoscorações para Deus com esta oração: “Se-nhor, sei que não sou digna do Senhor. Semsua ajuda, nunca serei digna. Mas, mes-mo em minha indignidade, desejo experi-mentar seu amor. Desejo conhecer o Se-nhor. Quero muito tudo o que o Senhor tempara me dar”. Essa oração é sempre res-pondida, geralmente não de imediato, maspouco a pouco.

Deus me ama e também a todos osoutros da mesma forma, considerandocada um de nós merecedor de estar na ter-ra, de viver. Deus nos colocou aqui! Deussabe que somos profundamente bons. Por-tanto, mereço tanto quanto todos os outros

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receber amor e crescer em Deus. Ninguémé excluído desse amor divino.

Gênesis 1,26-27 nos fala que somoscriados à própria imagem de Deus. Algu-ma coisa em nós é como Deus. Essa coisaestá na essência de nosso ser. Não temnenhuma relação com o país em que vive-mos, com as profissões que escolhemos,com os carros que dirigimos, com a ma-neira como penteamos nosso cabelo ou comos problemas que enfrentamos. É algo es-sencial, fundamental, e algo que nós, hu-manos, não inventamos. Nunca pode serreivindicado como “nosso”. É de Deus eestá na essência de nosso ser. Se, com aajuda constante de Deus, conseguirmosremover quantidade suficiente da sucataque há em nós (e existe sucata aí), então,talvez, a imagem divina possa ser revela-da, um dia, para brilhar em todas as par-tes de nosso ser.

Deus nos ama porque é a sua nature-za. Qual é o objetivo desse amor? O amor,o mais verdadeiro, não tem razão de ser.Ele simplesmente é. Além do mais, visto denosso ângulo limitado, podemos pensar quetalvez seja graças à imagem de que Deusnos ama tanto, graças a este magníficopotencial que Deus nos deu. Talvez seja por

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causa da extrema dificuldade de deixar essepotencial transformar-se em realidade queDeus tem essa compaixão por nós. Remo-ver a sucata exige um trabalho longo, difí-cil. Mas a imagem divina não merece o es-forço, a escolha? Deus não merece?

Em tempo, a conseqüência de me re-cusar a me destruir, de me deixar aceitarmeu próprio nada e a presença interior daimagem divina, é gratidão com auto-acei-tação. Deus me deu uma chance de cres-cer, como plantas jovens crescem em dire-ção ao sol. Posso lutar para revelar essaimagem refletida em mim, se escolher fa-zer isso. Que oportunidade! Ficar transpa-rente como uma vidraça limpa, para que aimagem de Deus possa brilhar sem obstá-culos por meu intermédio, voltada para Ele.Essa é a maior oportunidade do universo.Deus, em Jesus Cristo, revelado para mime para você. Realmente uma boa notícia!Como são generosas as dádivas de Deus.Como o coração de Deus tem compaixão.

Santa Teresa d’Ávila teve uma atitudesaudável. Ela sabia que não era nadadiante de Deus, mas que Ele lhe dera a vidae todas as suas dádivas. Ela sabia que nãoera digna de atenção, mas que Deus lhedava amor. E, assim, fez muito esforço para

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se transformar no que Deus queria que elafosse. Quando fazia alguma coisa que nãoera tão boa ou admirável, dizia: “Bom,Senhor, o que o Senhor espera de alguémtão comum como eu?”.

Para resumir, hoje consigo dizer comentusiasmo e gratidão: “Não sou nadadiante de Deus e não mereço o Seu amor.Embora eu seja tão digna de viver e cres-cer e de receber amor na terra quanto qual-quer outra pessoa. Ninguém pode mere-cer Deus, mas Deus me convida à uniãocom compaixão. Deus dá dignidade paramim e para você. Então, fico feliz, pois souamada. Ser amada cria o sentimento sau-dável e generoso de ser digna de algumacoisa, desde que eu me lembre de minhatotal dependência de Deus”.

Aqui estão alguns passos para dimi-nuir seus sentimentos de incapacidade,enquanto aumentam a consciência de nos-so nada diante do constante amor de Deus.

• Fique o mais silenciosa possível, es-tando sozinha ou com um amigo.

• Encare seus sentimentos de incapa-cidade. Você pode querer procurar dentrode você mesma para saber onde eles seoriginaram. Ou pode ser imparcial o sufi-

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ciente para aprender como eles funcionamem você agora.

• Procure a deturpação em seu senti-mento de desmerecimento: qualquer coisaque reflita uma sensação de que você émenos digna de viver, crescer e amar doque as outras pessoas. Esse sentimento dedesmerecimento é deturpado e destrutivopara a sua vida.

• Procure o reflexo da verdade em seusentimento: qualquer coisa que reflita suacompleta dependência de Deus, qualquercoisa que a ajude a saber que é o própriosopro de Deus que a mantém viva, qual-quer coisa que a faça lembrar do constan-te amor de Deus por você. A princípio, issopode parecer difícil, mas a consciência dodesmerecimento é um sinal de verdade noseu nível mais profundo.

• Aceite os fatos. Você é uma criaturaimperfeita, dependente do amparo carinho-so de Deus. Parte de você é confusa e par-te é adorável. Então, junte-se à raça hu-mana — um clube nada mal para se per-tencer. Deus a ama!

• Relaxe! Deus se oferece a todos, in-clusive a você. Deus oferece dádivas a to-dos, inclusive a você. Ele faz com que to-dos mereçam receber, inclusive você. As

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outras pessoas lhe oferecem amor também.Então, relaxe, abra seu coração e recebaa compaixão de Deus e o carinho dos ou-tros.

• Ria de você mesma. O casamentopode ajudar de verdade aqui. Meu mari-do e eu somos muito diferentes; às vezes,um de nós não consegue imaginar como ooutro sobrevive, fazendo coisas “tãodiferentemente um do outro!” Ele se espelhaem minhas besteiras e eu nas dele,justamente por sermos quem somos. E éestranho, mas real: quando rio de mimmesma, sinto-me mais digna!

Sugestões de oração

Use estas palavras como um trampo-lim para suas próprias orações:

Deus de misericórdia, não sou nadadiante do Senhor. Não sou sozinha e inde-pendente. Não consigo nem mesmo respi-rar por conta própria. Tão valiosa em mimé sua criação. O Senhor fez-me refletir suaimagem neste mundo. Essa é a origem deminha dignidade. Por favor, faça com queeu me aproxime do Senhor para que pos-

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sa conhecer seu amor. Mostre-me como meabrir para o amor dos outros também.Ensine-me a ser cada vez mais o que o se-nhor planejou que eu fosse. Muito obriga-da pelas oportunidades que me deu.

Obrigada por eu não estar sozinha emminha insignificância nem em meu valor.Obrigada pelas outras pessoas que tam-bém são criadas à sua imagem e que tam-bém são reflexos do Senhor. Nenhum denós é digno do Senhor; embora o Senhornos ame a todos.

Sugestões bíblicas

Salmo 139,1-4Senhor, tu me sondas e me conheces:

sabes quando me sento e quando me le-vanto, de longe vês meus pensamentos.

Consignas minha caminhada e meudescanso e cuidas de todos os meus cami-nhos.

Não chegou a palavra à minha língua,e tu, Senhor, já a conheces toda.

Eclesiastes 3,10-13Observei as tarefas que Deus impôs aos

homens, para com elas se ocuparem. As

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coisas que ele fez são todas boas no mo-mento oportuno. Além disso, ele dispôs quefossem permanentes, mas sem que o ho-mem chegue a conhecer o princípio e o fimda ação que Deus realiza. E compreendique não há outra felicidade para o homemsenão alegrar-se e assim alcançar a felici-dade durante a vida. Igualmente, o homemcomer e beber e, mediante o seu trabalho,desfrutar da felicidade é também dom deDeus.

Isaías 49,15-16Pode uma mulher esquecer seu bebê,

deixar de querer bem ao filho de suas en-tranhas?

Mesmo que alguma esquecesse, eu nãote esqueceria!

Eis que eu te desenhei na palma dasmãos, e tuas muralhas estão sempre à mi-nha vista.

Romanos 7,15-17Não entendo absolutamente o que eu

faço: pois não faço aquilo que quero masaquilo que mais detesto. E, se faço o quenão quero, reconheço que a Lei é boa. Masentão não sou eu que faço e sim o pecadoque mora em mim.

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Aqui estão outras referências de pas-sagens bíblicas para reflexão:

Gênesis 1,26-27.31Isaías 43,1-4Lucas 1,46-55Salmo 8Mateus 18,1-41João 3,1-3

Para refletir

Relacione suas respostas aos seguintestópicos:

• Você já se sentiu inferior ou sem va-lor?

• Já venceu isso? Como conseguiu esseresultado? O que facilitou tais mudanças?

• Pense qual dos passos listados naspáginas 106-108 é o mais fácil para você.Comece por ele e divida sua experiênciacom um amigo ou companheiro espiritual.

• Pense qual dos passos relacionadosno fim do capítulo será o mais difícil paravocê. Reflita sobre esses passos “difíceis” eprocure maneiras de poder realizá-los.

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CAPÍTULO SEIS

ENFRENTE E DESCUBRASUA CULPA

O perdão é um dos instrumentos pelo qualvocê pode dar poderes à sua vida para fazercom que milagres aconteçam. A pessoa que

você tem de perdoar é você mesmo.Terry Cole-Whittaker

A culpa dá uma impressão de importânciaao drama. Dizer que alguém não é culpadoé também reconhecer que esse alguém é,

na verdade, muito incapaz.Elaine Pagels

Você já ouviu a expressão “paralisado deculpa”? Eu, na verdade, testemunhei essaparalisia em um domingo, quando era che-fe dos residentes de uma casa para recupe-ração de doentes mentais, afastada da ci-dade.

Vou chamá-la de Bertha. Ela estava gri-tando para que eu viesse e a ajudasse. Fui

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até sua cama, pois ela ainda não havia selevantado naquela manhã. “Não consigomexer as pernas”, ela estava berrando.Olhei para suas pernas. Como pude ver, elasnão estavam nem um pouco diferentes dodia anterior, quando ela estava perfeitamen-te bem.

Eu não era médica, mas sabia que asemoções podiam fazer coisas dramáticascom o corpo. Não consegui ajudá-la. Seumédico veio e não conseguiu encontrar ne-nhuma causa. Quando chamei seu psiquia-tra, ele pensou um momento e disse: “Cha-me um padre. Bertha é católica”.

Então veio um padre. Eu não estava noquarto para ouvir o que eles falavam, mas,depois que ele se foi, ela entrou em minhasala para me mostrar que ela estava bem.Perguntei o que aconteceu e ela simplesmen-te disse: “O padre me perdoou por tomarmuitos comprimidos”.

Não, ela não estava fingindo esse tem-po todo. Ela tinha tomado comprimidosdemais — várias vezes. Também estavaextremamente instável emocionalmente. Aquestão aqui é que seus sentimentos de cul-pa com relação aos comprimidos tinham-na, de fato, paralisado. Embora a maioriade nós nunca vá viver isso de forma tão dra-

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mática ou física, também podemos ficarimobilizados, incapacitados ou limitadospor sentimentos de culpa se escolhermoscontinuar com eles. Assim como acontececom muitas outras atitudes, a escolha énossa.

Se a culpa pode estragar nossas vidas,no entanto, ela também pode ser um forteincentivo para nos conhecermos melhor efazermos mudanças pacíficas em nossamaneira de viver. Vamos olhar positivamentepara essas possibilidades.

Parece haver vários tipos de sentimen-tos de culpa, os quais todos experimenta-mos uma vez ou outra. Um tipo de culpa, amais óbvia, é a que aparece depois de ter-mos feito algo errado, algo que machuqueoutra pessoa, que viole nossos próprios va-lores. Quando as ações ou as decisões sãomoralmente inaceitáveis para nós, sentimosculpa. Esse tipo de culpa emite um sinal deaviso: “Ei, alguma coisa está errada!”.

Quando eu estava na faculdade, a opi-nião da maioria parecia ser de que a culpaera prejudicial e que era melhor fugirmosdela ou a ignorarmos. Era consideradodoentio sentir culpa por alguma coisa. Masmeu sábio professor de estudos religiosos,Dr. Tim Rieman, tinha a seguinte opinião:

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“Quando nos sentimos culpados, geralmenteé porque fizemos alguma coisa que nãodevíamos!”. É uma visão interessantementehonesta. Ele quis dizer que a culpa freqüen-temente tem uma causa verdadeira e justa.Poderia até ser um sentimento útil, prova denosso contato com a realidade em umapercepção necessária.

A culpa por fazer algo errado é saudá-vel. É um sinal de que nossa consciência estáfuncionando.

Às vezes, os erros criam um tipo de cul-pa intensa e inconfundível, que é mais co-nhecida por remorso. Não existe nada vagocom relação ao remorso. Ele corta o coraçãocomo uma espada. Queima a alma comouma chama concentrada.

Uma vez, ao telefone, um homem queeu respeitava muito, e que tinha sido ummentor muito generoso para mim, fez-meuma pergunta sobre mim mesma. Imediata-mente, soube que sua opinião a meu res-peito seria influenciada pela minha respos-ta. Antes que outro pensamento pudesseentrar, a mentira saíra de minha boca. Nãopensei mais nisso até que fiquei sozinha,dirigindo em uma estrada. Então, de repen-te, a mentira gritou em mim. Era como semeu coração estivesse pegando fogo. Não

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conseguia nem mesmo me perguntar comopude ter sido tão estúpida. O remorso do-minou todos os meus sentimentos. Graçasao treinamento anterior, sabia deixar essefogo queimar-se sozinho, para purificar meuser do meu erro.

O remorso não é nenhum sentimento deculpa indefinido. Nem dura muito tempo,se for enfrentado. Ele murcha o impulso im-puro que causou o erro. Provavelmente, apessoa não repetirá a falta. Devido ao fatode o remorso por um determinado erro sertão forte e tão ativo, é provável que não nosapeguemos a ele, como pode acontecer comoutras formas de culpa.

Um segundo tipo de culpa surge quan-do violamos padrões adotados ou inventa-dos por nós. Um amigo me disse uma vezque eu estava doente, com um caso terrívelde “devercite aguda”. Eu ri, mas guardeiseu comentário e ele provou ser verdadei-ro. Sentia que devia sempre ser capaz; eujá devia saber a resposta; nunca devia co-meter um erro; devia usar cada minuto dotempo de maneira produtiva; nunca deviame atrasar; nunca devia expressar certossentimentos; devia ser capaz de fazer tudosobre o que eu havia lido; devia — bom,minha lista é longa.

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Devido ao fato de muitos desses padrões“eu devia” — tanto os seus como os meus— serem impossíveis, sofremos de culpa crô-nica. Geralmente indefinida, mas presente.Pode ser bastante ridícula, como a culpa porficarmos dez minutos a mais na cama, demanhã.

Onde contraímos nosso “devercite”?Alguns desses “eu devia” vêm da infância,dos pais ou das autoridades da Igreja ouda escola. Algumas dessas induções anti-gas podem perfeitamente ter sido necessá-rias quando éramos crianças, mas dificil-mente são apropriadas para a vida adulta.Outros “eu devia” são encontrados em li-vros, em histórias sobre santos ou em arti-gos sobre saúde psicológica. Outros sãoinventados por nós, e esses tendem a ser osmais absurdos de todos. O resultado:sentimo-nos culpados sem razão e sem ne-cessidade. Esse tipo de culpa pode ser terri-velmente prejudicial.

Fundamentar muitas das nossas culpasque estão relacionadas a padrões imaginá-rios ou inadequados é uma necessidade deestarmos certos. Querer estar certo o tempotodo pode ser um tipo de orgulho, mas tam-bém pode ser uma defesa contra um senti-mento profundo de que estamos sempre er-

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rados! Para muitos, a necessidade de estarcerto se origina no sentimento de que so-mente quando estamos certos podemos seramados. Em relação a Deus, esse é um ter-rível mal-entendido (embora alguns pais te-nham deixado essa impressão). Deus sem-pre nos ama. O amor de Deus não tem ne-nhuma relação com o fato de “fazermos tudocerto”. No entanto, nossa capacidade deaceitar o amor de Deus pode ser afetada seacharmos que devemos estar sempre cer-tos. Quem consegue estar certo o tempotodo?

Nossa culpa “ah, mas eu devia” podeser crônica e não ter nenhuma razão iden-tificável. Algumas crianças cresceram emcondições que as deixaram sempre comsentimento de culpa. Quando essas crian-ças ficam adultas, ainda se sentem culpa-das, mesmo em sonhos. Não encontramnenhuma ligação com nada que pensam oufazem. Podem sentir culpa até por existir.Essas pessoas fazem bem quando escolhemter alguma ajuda psicológica, para curaressa idéia errada sobre si mesmo.

Um terceiro tipo de culpa é, acredito,universal. Todos a sentem. A culpa univer-sal é sutil e profunda. Funciona como umrio subterrâneo abaixo de nossa vida, e, só

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algumas vezes, emerge na forma de senti-mento consciente. A culpa universal vemdaquela parte profunda, mais íntima de nós,que sabe que, de alguma forma, separamo-nos de Deus. Não estamos vivendo na gran-de intimidade com Deus, para a qual fomoscriados. Estamos envolvidos na dificuldadehumana a que chamamos pecado.

Somos feitos para Deus. Quase sempre,não temos consciência de nossa vida emDeus. Portanto, não somos os seres huma-nos completos que fomos criados para ser.A angústia resultante é a culpa latente. Elafica conosco o tempo inteiro, até aprender-mos um modo melhor de nos relacionarmoscom nossa própria natureza e com Deus.

Essa culpa, às vezes, é combatida porpsicólogos como se fosse prejudicial à saú-de. Eu não concordo com eles. Todavia, paratransformar nossa culpa latente em uma fon-te de virtude, é necessário esforço. Acho queesse esforço foi muito bem desenvolvido nasidéias discutidas no capítulo anterior sobreincapacidade.

O que fazemos com nossos sentimentosde culpa? Algumas pessoas se apegam àsua culpa. Elas continuam com ela em vezde enfrentar a causa da culpa. De fato, sefizemos algo errado, não é fácil admiti-lo

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para nós mesmas e para Deus. Pode sermuito mais fácil — ou assim imaginamos— simplesmente continuar sentindo culpa.Geralmente, aquelas que escolhem enterrarsua culpa dessa maneira estão colocandosua saúde em perigo, tanto a física quantoa emocional. Como acontece com os outrosmedos, quando tememos enfrentar nossoserros ou nossos padrões violados, a melhorcoisa que podemos fazer por nós é escolherolhar diretamente para a causa. Ver é selibertar.

Outra razão pela qual algumas pes-soas se apegam à culpa é que elas se sentemmenos vulneráveis quando sentem culpa doque quando têm de admitir os erros. É pre-ferível viver com culpa a viver com a possi-bilidade de que elas possam estar erradas,talvez seriamente. Quando refletimos sobreisso, no entanto, não parece que a atitudede ficar vulnerável é uma experiência pre-ferível às misérias da culpa?

Algumas pessoas escolhem a culpa comouma desculpa para não mudar seu jeito deser. Quantas vezes você já ouviu, ou disse:“Sei que eu deveria, mas...e me sinto muitoculpado”? Depois dessa afirmação vem:nenhuma ação. A pessoa se permitecontinuar com o péssimo hábito de se sentir

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culpada o suficiente — quase como se aculpa compensasse a irresponsabilidade.

Escolher a culpa em vez da mudança éuma fuga da responsabilidade pela própriaexperiência. É destrutivo. Nada pode serfeito para remediar a culpa e trazer a pazaté que a pessoa esteja pronta para ver suascausas e partir para a ação, com o objetivode tornar o amanhã diferente. A culpa im-plora por mudança!

Nisso, há esperança. Se reconhecermosque fizemos alguma coisa para estar nestaprisão, então podemos ajudar-nos a sairnovamente. Se nos sentimos culpados poruma ação ou um hábito, então, com ajuda,podemos mudar isso. A qualidade de nos-sas vidas irá melhorar. Seremos mais livrese estaremos mais em paz se olharmos regu-larmente para nossos sentimentos de culpa,suas origens, e, então, fizermos alguma coi-sa com relação à nossa própria condição.

Como podemos escolher deixar a culpanos avisar e depois ir embora? Como pode-mos escolher ter uma vida livre de sentimen-tos de culpa, guardados e crônicos?

Em primeiro lugar, praticamos o ato deobservar os sentimentos de culpa. Quere-mos ver como eles agem dentro de nós, quefunção têm para nós. Eles nos mantêm pri-

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sioneiros em um comportamento indesejá-vel? Afetam nossas escolhas atuais? Preci-samos estar interessados em nossa culpa;ela nos dirá muita coisa sobre nós mesmosse a escutarmos com cuidado.

Frances Vaughan é uma psicólogatranspessoal, que defende uma vida madu-ra de escolha responsável como o melhorpara todos. Ela nos disse em um curso queuma maneira eficiente de começar a fazerescolhas na área da culpa é fazer uma listade nossos “eu devia”. Ela está certa. Cha-mo isso de “encontrar e enfrentar a culpa”.É melhor realizado quando feito piedosa-mente; assim, também a vemos mais clara-mente. Enfrentamos nosso sentimento deculpa e chamamos esse sentimento pelo seunome. Não importa se nossos sentimentosde culpa são de padrões violados ou de er-ros verdadeiros; precisamos saber como elessurgiram.

Então, relacionamos a culpa com suacausa. Quando a causa é evidente, pode-mos determinar que tipo de culpa estamossentindo. É porque realmente fizemos algoerrado? Ou violamos alguns padrões parti-culares? Ou nos sentimos culpados porquenão somos tão profundamente íntimos deDeus como poderíamos ser? É porque “Ma-

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mãe disse...”, ou “O livro diz...”, ou “Euacho...”, ou “Eu sei que devia, mas...”?

Se nossa culpa é realmente remorso,saberemos a diferença sem precisar pensarum minuto. O remorso, como já vimos, quei-ma com uma chama inconfundível. Se dei-xarmos que ele queime em nossos corações,chegará ao fim por si só. Não existe nadaque precisamos fazer com ele, exceto dei-xar que faça seu trabalho purificador den-tro de nós.

Tendo encontrado nosso sentimento deculpa e o enfrentado, podemos começar anos ajudar.

Primeiro, pense! Decida se a razão paraa culpa é real e proveniente de um erro ver-dadeiro. Ou você simplesmente não conse-guiu alguma coisa ou se complicou em seuspadrões altos demais? Aconteceu algumacidente? Você cometeu um erro simples,então se induz à culpa por ele? A causa desua culpa merece mais atenção em sua vida?

Se é um princípio da vida cristã, entãoé válido. Se nosso erro é verdadeiro, é im-portante reconhecê-lo.

Se o padrão com o qual estou medindoforças é alguma coisa que meu pai me dis-se quando eu tinha nove anos, pode nãoser mais válido. Então, é um sintoma de

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“devercite”. Se é uma opinião que herdeide minha família, posso decidir se quero ounão mantê-la. Se abandonar o padrão, en-tão posso livrar-me da culpa. Se o padrãoé antigo, pode levar algum tempo paralivrar-se dele. Observar nossa linguagem emudá-la, para adequá-la a nossa nova es-colha, pode ser uma ajuda. Conversar comum amigo sobre o padrão inadequado podeajudar-nos a sentir sua provável tolice.

Para todos os tipos de culpa, confessarmeus erros — reais ou imaginários — podeser útil. Ao admitir a natureza do erro quecometi, afasto-me da feiúra do meu ser.Admito que o melhor de mim não quer con-tinuar com minha atitude nem com as ten-dências que me levaram a fazer isso. As-sim, crio certa distância, certo espaço, en-tre mim e meu erro. Se sinto remorso, a cha-ma purificadora cria um espaço interior.Nesse espaço, o amor de Deus pode surgir.Deus está sempre pronto para quando esseespaço se abrir. Sua força me ajudará a nãorepetir a atitude contra a qual acabo dedecidir. Isso é benéfico.

Se a coisa que estou admitindo é, naverdade, um erro moral, então o valor des-te reconhecimento público é claro. Quandonão é realmente um erro, mas um “eu de-

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via”, posso declarar esse erro observado domesmo jeito. Então, também admito o pa-drão errado — como algo que impus a mimmesma, desnecessariamente. Isso tambémprecisa de fortalecimento.

Às vezes, devo admitir a outra pessoade confiança a minha própria culpa inde-finida, que parece ser simplesmente hu-mana. Confesso que não vivo tão perto deDeus como gostaria, ou que não vivo deacordo com o potencial espiritual que seique existe em mim. Então, o amigo e eupodemos concordar que não sabemos exa-tamente o que está acontecendo, mas, jun-tos, confirmamos meu sofrimento por mesentir separada de Deus e afirmamos o amorde Deus por mim.

O sentimento humano universal de cul-pa também pode lembrar-me de minhavulnerabilidade. Não sou capaz, sozinha,de fazer ou de me transformar em nada.Sou vulnerável a Deus porque sou comple-tamente dependente de sua misericórdia.Quanto mais sou consciente de minhavulnerabilidade, mais amo a Deus pelo Seuamor único por mim, e cada vez mais Elepode ajudar-me a ficar em paz. E menosculpa doentia coloco em todos os meus “eudevia”.

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Admitir essas coisas para um outro serhumano implica uma disposição para acei-tar o perdão de Deus. Aceitar o perdão nemsempre é fácil. Às vezes, é um conforto tãogrande que nos deixamos envolver por elecomo crianças agradecidas fazem nos bra-ços de um pai amado. Se, por outro lado,aceitar o perdão é difícil para você, pensenisso: a dificuldade é que você deve sem-pre estar certo diante de Deus? Se for, essapostura também precisa de perdão e mu-dança.

Se você ainda não consegue aceitaremocionalmente o perdão, então aceite-oem palavras e em sua intenção. Peça a Deuspara aumentar sua aceitação. Vá até a ori-gem de sua incapacidade de aceitar o per-dão e peça a graça de Deus para mudarvocê nesse aspecto. Deus sempre ajudará.E lembre-se: a graça de Deus é necessáriapara sustentar qualquer desejo humano.Diante de Deus, todos nós somos sempremendigos — mendigos amados, é verdade,mas sem nada que seja realmente nosso.

Às vezes, nossa incapacidade de acei-tar o perdão de Deus é proveniente de umafalta de compaixão em nosso próprio cora-ção. Se estamos guardando o menor ran-cor, o menor ressentimento contra outra pes-

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soa, não seremos capazes de aceitar o per-dão do Senhor por nós. Continuar com araiva contra os outros atua como um obstá-culo em nossos corações, e o amor genero-so de Deus não consegue transpô-lo. Deve-mos estar dispostos a abandonar todos osressentimentos se queremos que Deus nosperdoe (veja Mateus 6,14-15).

Uma forma útil de transformar os senti-mentos de culpa é fazer uma reparação,mesmo que seja em um daqueles “eu de-via” imaginários. Às vezes, chamamos issode “criar satisfação”. Não sei de onde veioessa frase, mas é profundamente satisfatórioconsertar alguma coisa que estraguei. Anecessidade de reparação pode ser tão ho-nesta quanto devolver um dinheiro rouba-do. No entanto, nem sempre existe honesti-dade. Às vezes, já sabemos que precisa-mos reparar um relacionamento, pôr fim aum rompimento que causamos ou arrumara bagunça habitual de nossa vida ou denossa oração.

Às vezes, o reparo pode ser feito dire-tamente. Por exemplo, posso ir até a pessoaenvolvida, pedir desculpas e tentar repararo dano. Outras vezes, a pessoa que ma-goei também pode precisar de tempo e sen-sibilidade. Ela pode não ser capaz de res-

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ponder diretamente. Então, procuramosmaneiras indiretas de criar satisfação. De-vemos pedir que Deus nos ilumine para fa-zer isso. Quando não existem outras pes-soas envolvidas, podemos atacar de frenteum de nossos defeitos habituais. Isso nos de-volve o respeito por nós mesmas.

Algumas vezes, reparar um dano apósum erro pode ser o começo de uma práticainteiramente nova e admirável para a vida.Uma vez, recusei-me a dar alguma coisapara uma mendiga com uma criança pe-quena e magra no colo. Essa mulher vaiassombrar-me para sempre. Mas, desdeaquela vez, não me recuso mais a ajudarquem me pede e também dou quando nãome pedem nada. Minha vida está mais livrepara isso e o mundo, um pouquinho melhortambém. A grande culpa que senti por aque-la antiga recusa em ajudar foi transforma-da em novas escolhas. Elas são ótimas. Dãopaz.

O ato da reparação também pode serusado simbolicamente. Quando desorgani-zo a vida, preciso de ajuda para restabele-cer o equilíbrio que perturbei. O mundo temproblemas suficientes sem que eu seja maisum deles! Mas, ocasionalmente, sou; e, nessecaso, prefiro mudar e ajudar no que posso.

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Se não consigo consertar meu próprio es-trago, sempre posso adicioná-lo ao depósi-to de bondade do mundo. Se não posso re-tirar as palavras desagradáveis que disse,posso dizer outras palavras para acrescen-tar amor à atmosfera. Hoje, a Bíblia podeser usada para levar amor ao mundo. Issoé necessário.

É claro que a resposta final para todaculpa é a aceitação agradecida da dádivade Deus. Eu não a mereço. Nem você. Nun-ca conseguimos ser bons o suficiente paramerecer a compaixão eterna de Deus! Po-demos conhecer-nos suficientemente bempara admitir que precisamos de Deus. Po-demos abrir nossos corações para recebê-lo mais. A graça de Deus fará com quetodos os segredos precisem ser desven-dados para curar nossas fraquezas, sequisermos que elas sejam curadas. Deusnos retribuirá com o relacionamento cari-nhoso e eliminará nossa feiúra quandoexclamarmos com o salmista: “Tem piedadede mim, ó Deus...Lava-me por completo daminha iniqüidade...e purifica-me do meupecado!...cria em mim um coração puro”(Salmo 51,3.4.12).

Especialmente quando nossos sentimen-tos de culpa provêm da condição humana

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na qual todos vivemos, é vital clamar porDeus e depender da graça. Quando já fize-mos tudo e já dedicamos a isso nossosmaiores esforços, ainda dependemos dapiedade de Deus. Então, por que não co-meçar a depender ativamente de Deus paraabsolver inteiramente a culpa? Essa é umaforma de autoconhecimento e paz.

Juntamente com nossa aceitação daCompaixão Divina, nosso coração deveabrir-se em gratidão ao Doador Compassi-vo. Se não conhecermos o êxtase da grati-dão, nunca conheceremos Aquele que nossustenta tão ternamente e que tão livremen-te nos dá a força e o perdão de que preci-samos. Quando a gratidão começa a bro-tar em nosso coração, deixe-a brotar noslábios também. Conserve-a o maior tempopossível, até que seu coração esteja ilumi-nado mais uma vez.

Quando encontramos e enfrentamosnossos sentimentos de culpa, escolhemosfazer algo diferente com nossas vidas, equando aceitamos com gratidão o perdãomisericordioso de Deus, aprendemos algonovo sobre a vida: ela não é uma obriga-ção. Não é um contrato misterioso que assi-namos e do qual não conseguimos lembrar,exceto por sua impressão de obrigação. A

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vida é um presente. Presente não é motivopara culpa. É motivo para compartilhar ale-gria e reações de felicidade. A vida tam-bém sempre nos oferece novas possibilida-des de alegria. Ela oferece a oportunidadeda felicidade que brota do coração, no qualvive nosso amado Deus. Se rejeitamos essepresente, ao vê-lo como uma obrigação,sempre sentiremos culpa. Se aceitarmos essepresente com alegria, nossa culpa nos pre-venirá quando necessário e então desapa-recerá rapidamente. A paz será nossa.

Aqui está um resumo dos passos quepodem ajudá-la a conseguir libertar-se daculpa. Execute esses passos com muitaoração:

• Enfrente seus sentimentos de culpa eobserve a influência deles em você.

• Especifique o tipo de culpa que vocêestá sentindo.

• Associe a culpa à sua causa verda-deira.

• Avalie a causa e escolha se vai man-ter ou não o padrão de medida que estáusando.

• Admita sua culpa e a causa dela apelo menos uma outra pessoa em quem vocêconfie, e esteja aberta para se corrigir.

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• Faça a reparação. Repare o dano, oufaça penitência, ou fale palavras que irãocorrigi-la. Acrescente bondade extra ao seuespaço no mundo.

• Aceite o perdão de Deus com grati-dão.

• Comece a depender conscientementeda graça e da misericórdia contínuas deDeus para fortalecer suas escolhas e libertá-la de toda culpa.

Sugestões de oração

Quando rezar pela culpa, a melhor ora-ção é a que reconhece o erro, o erro presu-mido ou o estado de arrependimento da vidae da natureza da pessoa. Essa oração abreo coração para Deus, que sempre quer cor-rigir-nos e acolher-nos bem.

Por favor, não se arrase diante de Deus,pelo menos não mais do que você faria comuma outra pessoa diante Dele. Tenha res-peito por você mesma e seja honesta comDeus.

Quando a expurgação de seus errosestiver completa, faça uma aceitação for-mal do perdão e do amor de Deus.

Então, simplesmente descanse em silên-

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cio por um instante. Volte sua atenção paraa grande compreensão que Deus tem devocê, para o grande amor que Ele sente porvocê. Fique quieta e ouça a resposta deDeus. Deixe o amor de Deus penetrar emsuas defesas. Continue em silêncio até quesaiba, dentro de você mesma, que está com-pleto. Então, dê graças a Deus e continuesuas atividades em paz.

Sugestões bíblicas

Salmo 51,3-4Tem piedade de mim, ó Deus, por tua

bondade!Por tua grande compaixão, apaga meus

delitos!Lava-me por completo da minha iniqüi-

dade e purifica-me do meu pecado!

Provérbios 28,13Quem oculta seus crimes não prospera-

rá, mas quem os confessa e repele alcança-rá misericórdia.

Isaías 57,16-18Pois não discuto sem fim e tampouco fico

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sempre irritado; é que o espírito definhariana minha presença, definhariam as vidasque criei.

Por causa da sua ganância culpável meirritei, feri-o, retraindo-me irritado; mas elese mostrou recalcitrante, seguindo o própriocaminho.

Vi os seus caminhos; mas o curarei econduzirei, conceder-lhe-ei conforto; e aosenlutados farei brotar o fruto dos lábios.

1João 1,8-9Se dizemos que em nós não há peca-

do, enganamos a nós mesmos e a verdadenão está conosco. Se confessamos nossospecados, fiel e justo é Deus para nos per-doar e nos purificar de toda iniqüidade.

Aqui estão algumas referências de pas-sagens bíblicas para reflexão:

Êxodo 34,6Oséias 14,2-3.5-7Mateus 5,23-26Números 5,5-8Efésios 1,3-8Tiago 5,16Salmo 86,11-16

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Para refletir

A culpa pode ser um assunto difícil dese lidar sozinha; então, vá devagar e commuita compaixão por você mesma. Em umafolha de papel, relacione cinco coisas pelasquais sente-se culpada. Depois, escreva “Eume perdôo por _______________, eu meperdôo por _______________, eu me perdôopor ________________”, e assim por diante.

Deixe o papel de lado. Olhe para a lis-ta novamente no dia seguinte. Acrescenteoutras coisas que lhe vierem à mente e es-creva, de novo, o seu perdão a você mes-ma, para cada novo item de sua lista.

Deixe o papel de lado mais uma vez eolhe para ele no terceiro dia, adicionandomais exemplos, se necessário. Escreva seuperdão a você mesma para cada um dessesitens. Então, queime ou destrua a lista noterceiro dia com uma atitude de compaixãopor si e por todos os envolvidos na lista.

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CAPÍTULO SETE

ACABE COM SEU HÁBITODE SOLIDÃO

É irônico que uma coisa que todas asreligiões reconhecem como algo que nossepara de nosso criador — nossa própria

autoconsciência — seja a mesma coisa quenos distinga de nossos semelhantes.

Annie Dillard

A solidão e o sentimento de não ser queridosão a pobreza mais terrível.

Madre Teresa

Solidão. A própria palavra reflete som-bras assustadoras em nossos corações.Todos nós já a sentimos. É provável queacreditemos nunca tê-la escolhido. Todospodemos sentir que, pelo menos nisso, so-mos realmente vítimas. Ficamos sozinhasporque os outros não telefonam, não nosconvidam para sair, não nos procuram.

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Com certeza, são essas coisas que as ou-tras pessoas fazem que causam nossa so-lidão.

Quando aceitei o princípio básico deque eu carregava a principal responsabili-dade por toda a minha vida emocional,também tive de encarar a solidão que sen-tia. Queria uma vida mais próxima daspessoas, ou pensava que era isso, e foi di-fícil para mim descobrir minha própria res-ponsabilidade nesse caso. Tive amigos deverdade, mas queria contato com uma va-riedade maior de pessoas. Desejava teramizade só com algumas pessoas especí-ficas que eu admirava. Queria uma vidasocial reciprocamente cordial com os ou-tros.

Pensando nisso, sabia que já entendiabastante de fazer amizades. Então, talvezeu tivesse hábitos que não conhecia, osquais não ajudavam no surgimento e nodesenvolvimento de novas amizades. Maisuma vez, o primeiro lugar para se olharera dentro de mim mesma; mas tambémqueria observar a maneira como eu agiacom os outros. Como já havia aprendidoantes, trabalhando minhas outras emoções,eu precisava, primeiramente, saber comome sentia e me comportava.

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Desta vez, não demorei muito para ver,mas meu ego se retraiu diante de minhasdescobertas: eu não fazia muito uso deconversas fiadas como um meio de sergentil, simples, com os outros. Quandoencontrava pessoas casualmente na rua,eu quase sempre era a primeira a ir em-bora. Às vezes, tratava os assuntos daspessoas como um problema a ser resolvido,e não como uma porção de vida aser respeitada e lembrada. Também tinhamoutros hábitos. Esses foram apenas os pri-meiros que vi. Não estava contente comigo.No entanto, descobrira determinados com-portamentos que eu podia mudar imediata-mente.

Então, comecei a mudar esses hábitos,aos poucos, mas escolhendo definitivamen-te outras maneiras de agir. Aprendi a con-versar sobre as banalidades mais simples,para que, assim, conseguisse ficar perto dealguém. Depois, descobri que não era tãodifícil passar para coisas mais interessan-tes, especialmente sobre a outra pessoa.Quando eu me encontrava inesperadamentenum grupo de pessoas, colava meus pés nochão, embora eu não tivesse nada a dizer enão me sentisse à vontade. Eu ficava ali atéque pelo menos uma outra pessoa fosse

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embora. Comecei a pôr em prática o atode responder aos sentimentos das pessoasem vez de tentar resolver os seus problemas.Aprendi que essas duas coisas caminhambem juntas. À medida que praticava essasmudanças, uma característica curiosa einesperada surgiu: eu conseguia serdivertida, até mesmo engraçada! Quandoescolhi ser responsável, as surpresas maismaravilhosas efervesceram dentro de mim!

Gradualmente, o espaço para umaamizade mais profunda e para experiên-cias mais amplas surgiu por si só. Às vezes,eu me pergunto se alguém realmente no-tou as mudanças. Talvez, mas duvido. Achoque as pessoas reagiam com simpatia,naturalmente, em seu contato comigo e nãopercebiam que eu estava mudando. Se es-sas mudanças tivessem acontecido em umafamília bem unida, a transformação podiater sido mais observada. Mas não interes-sa se as pessoas estão ou não atentas aesse crescimento. Elas reagirão a essasmudanças de qualquer maneira. Então, aospoucos, experienciei menos isolamento, apartir do momento em que comecei a acei-tar a responsabilidade por minha própriasolidão e a mudar os hábitos que ajuda-ram a causá-la.

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Provavelmente, existem tantos hábitoscausadores de solidão quanto existem pes-soas solitárias. Você conseguirá descobriros seus, se procurar. Um bastante comum éo hábito de não compartilhar nossos ver-dadeiros sentimentos, nossas verdadeirasesperanças e tristezas, nosso verdadeiro eu.É claro, dividir tão profundamente essascoisas é arriscado. É possível que a outrapessoa não entenda ou não se importe.Talvez seja melhor explorar gradualmenteo quanto compartilhar. Você pode não que-rer revelar seus segredos mais íntimos paraninguém. Mas um pouco de seu eu verda-deiro sempre pode ser oferecido ao outro.Se for recebido com atenção, então seráótimo compartilhar mais.

Pouco a pouco, à medida que pratica-mos, também ficamos mais fortes. Então,conseguimos compartilhar nosso ser semnos importarmos se as pessoas gostam ounão. É interessante, no entanto, descobrirque elas quase sempre gostam!

O ato de revelar nosso eu verdadeiroestá ligado ao ato de ouvir o verdadeiroeu da outra pessoa e apreciar as belezasíntimas que nos são oferecidas. Então, cadapessoa tem uma chance de ouvir com amore de revelar com entusiasmo. Poucos rela-

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cionamentos são perfeitamente recíprocoso tempo todo. Mas a maioria deles nãoinclui essa revelação mais profunda, dosdois lados, chamada intimidade. À medi-da que a intimidade aumenta, ela se trans-forma em uma confiança íntima, segura, eem um conhecimento carinhoso do outro.Mesmo que só um relacionamento (dentroou fora da família) tenha essa qualidade,nossa solidão já diminui bastante. É muitoválido procurar e favorecer um relaciona-mento desses.

A revelação da vida íntima continuanessas épocas em que podemos, de fato,estar sozinhas. Ela traz entusiasmo e pra-zer pela vida mesmo quando estamos dis-tantes da pessoa que conhecemos tão beme amamos tanto. Podemos querer que eleou ela esteja conosco, mas não sentimos oisolamento vazio, doloroso, que aparecequando não temos relacionamentos huma-nos íntimos. Então, construir a intimidade,revelando e ouvindo, é uma forma produ-tiva de reagir à solidão.

Mesmo assim, existirão épocas em queestaremos sozinhas ou nos sentiremos sozi-nhas. Se estas se constituem na maior partede nossa vida, então, nossos relacionamen-tos precisam claramente ser mudados.

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Mas, se já temos o apoio carinhoso efundamental dos amigos, a solidão podetrazer uma oportunidade especial. Pode-mos transformar nossa solidão em solitude.Em vez de nos sentirmos solitárias, fazen-do-nos de vítima, podemos ficar sozinhaspor escolha própria. Na solitude, há umapaz imensa. Quando escolhida, ela deixanossas almas se expandirem tanto quantoo céu, tão vasto quanto o oceano. A solitudeé tranqüila, quase silenciosa, faz com quetenhamos vontade de caminhar pela vasti-dão de nosso próprio espírito interior.

Muitas pessoas se queixam de que nãotêm tempo suficiente para si. São ocupa-das demais. Momentos de solidão podemser transformados em solitude, produzin-do o momento interior pleno e tranqüilo quenos traz serenidade.

Esses fragmentos de solitude podem serapenas momentos: quando as criançassaem gritando de casa, quando alguémestá no hospital, quando os amigos foramembora, quando acordo de manhã antesde falar qualquer palavra ou quando mesinto sozinha sem nenhuma razão apa-rente.

É difícil descrever a ótima qualidadeinterior que criamos quando transformamos

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solidão em solitude, mas aqui estão suges-tões para sua própria constatação dessamudança. Você fará suas próprias desco-bertas.

• Aceite seus sentimentos de solidão.Não há nada de errado em sentir solidão,às vezes. Se você se sente sozinha o tempointeiro, examine atentamente a si mesma ea seus relacionamentos da forma que des-crevi anteriormente. Descubra seus hábitosindesejáveis e comece a mudá-los.

• Acalme-se. Sente-se ou deite confor-tavelmente, desligue-se de todas as distra-ções, tanto exteriores quanto interiores. Sepuder olhar a natureza (céu, mar, florestaou campo), faça isso. Se não, imagine seucenário favorito; sinta-se realmente presentelá. Você pode querer usar gravações desons da natureza (pássaros, ondas do mar,chuva) que estiverem disponíveis.

• Se as emoções vierem à tona, deixe-as fluir, deixe-as estarem ali. Observe-ascomo se observasse um rio, até que elastenham fluído em você e no passado.

• Quando sua atenção se desviar, tra-ga-a de volta lenta e suavemente. Retomea atenção na visão, na sua imagem ou natranqüilidade que está tomando conta de

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você. Simplesmente fique com o que esti-ver sentindo.

• Deixe a tranqüilidade envolvê-la.Deixe-a atingir o seu íntimo. Gentilmente,fique bem quieta, como se estivesse ouvin-do para identificar um som. Deixe seus lá-bios sorrirem um pouco.

Sugestões de oração

Uma vez que temos, no íntimo de nos-so ser, uma solidão genuína e permanentepor Deus, espera-se que, às vezes, ela ve-nha à tona em nossa consciência. Pode-mos confundi-la com outro tipo de solidão.Quando transformamos qualquer solidãoem solitude, também conseguimospreenchê-la com a intimidade da oração.O silêncio é a oração perfeita, repleta deamor, de uma disponibilidade para escu-tar, estando ela aberta a Deus, não impor-ta como Deus seja. Silenciosamente, pode-mos deixar Deus ver tudo o que somos, re-velando, sem palavras, nosso ser mais ínti-mo. Dessa forma, somos levados para maisperto do coração de Deus. Também conse-guimos ouvi-lo intimamente quando esta-mos assim, quietos e abertos.

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Então, quando você reflete sobre oscinco passos acima, volta sua atençãoternamente para Deus e espera por ele nosilêncio. Deus já está lá, esperando porvocê.

Sugestões bíblicas

Provérbios 18,19-21Um irmão ofendido é mais do que uma

praça forte, as disputas são como os ferro-lhos de um castelo.

Do fruto da boca sacia-se o ventre deum homem, farta-se do produto de seuslábios.

A morte e a vida estão em poder dalíngua: o que alguém preferir, será o frutoque vai comer.

Eclesiástico 6,5-6.14-17Palavras amáveis multiplicam os ami-

gos e uma língua bem falante multiplicaafabilidades.

Sejam numerosos os que te saúdam;mas teus conselheiros, um entre mil.

Amigo fiel é refúgio seguro: quem oencontrou, encontrou um tesouro.

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Amigo fiel não tem preço; não há me-dida que avalie o seu valor.

Amigo fiel é um elixir de longa vida;os que temem o Senhor o encontrarão.

Quem teme o Senhor, dirige bem suaamizade: como ele é, tal será seu compa-nheiro.

Eclesiástico 9,10Não abandones um velho amigo, pois

o novo não tem o mesmo valor.Amigo novo é vinho novo: quando en-

velhecer, hás de bebê-lo com prazer.

Colossenses 3,12-15Vós, pois, como eleitos, santos e ama-

dos de Deus, revesti-vos de sentimentos decarinhosa compaixão, bondade, humilda-de, mansidão, paciência. Suportai-vos unsaos outros e perdoai-vos mutuamente todavez que tiverdes queixa contra outrem.Como o Senhor vos perdoou, assim perdoaitambém vós. Mas, acima de tudo, reves-ti-vos de caridade, que é vínculo da per-feição. E a paz de Cristo reine em vossoscorações. Ela é bem o termo do apelo quevos reuniu num só corpo. E sede agra-decidos.

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Aqui estão algumas referências bíblicasadicionais para reflexão:

1Samuel 18,1-3Eclesiástico 22,19-26João 21,20-22Salmo 22João 15,14-17Salmo 23Salmo 42,1-66

Para refletir

Faça estas perguntas a você mesma,como um começo para curar as mágoasda solidão.

• Eu sempre acho que a solidão foicausada pelas reações das outras pessoaspara comigo?

• Até que ponto reconheço que a soli-dão envolve minhas próprias escolhas?

• Quando me senti mais sozinha?• Quando me senti menos sozinha?• Que faço para diminuir minha soli-

dão? Funciona?• Como escolho a solitude?

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CAPÍTULO OITO

ENCONTRE OS PRESENTESESCONDIDOS NA DECEPÇÃO

A maior parte de nossa felicidade ou denossa miséria depende de nossos planos,e não das circunstâncias em que estamos.

Martha Washington

Cometer alguns erros no começo da vidaé o maior benefício prático que existe.

T. H. Huxley

Quando desejamos uma vida semdificuldades, devemos lembrar queo carvalho cresce forte enfrentando

os ventos contrários e que os diamantessão feitos sob pressão.

Peter Marshall

Em minha mente há uma galeria de qua-dros. Muitos tesouros estão lá. A maioriadeles são muito bonitos, ou pelo menosacho que são. Alguns não são nem um

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pouco belos, mas têm valor sentimental.Muitos dos quadros, eu mesma pintei: al-guns rapidamente e outros lenta e cuida-dosamente. Outros, ainda, foram pintadospelas pessoas que me cercam, pela TV oupor livros. Mas somente uma pessoa estáencarregada de decidir quais quadros fi-cam expostos nessa galeria: eu. Passo bas-tante tempo lá. Gosto dos quadros. Querocontinuar com eles.

Às vezes, um acontecimento cotidianocolide com um ou mais desses quadros,entorta-os, ou os despedaça no chão.Quando isso acontece, muitos sentimentosaparecem. É desagradável, talvez até mi-serável. Essa emoção é chamada frus-tração. Veja, quero que a vida seja deacordo com os quadros que escolhi. Todoseles parecem muito bons e sensatos. Noentanto, as outras pessoas nem sabemsobre minha galeria particular, e certamen-te elas não se sentiriam bem, limitadaspor minhas escolhas, porque têm suaspróprias galerias. Então, as realidades davida freqüentemente não combinam comos quadros da minha galeria. Nesses mo-mentos, é provável que eu me sinta de-cepcionada.

A decepção tem um som característico

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todo especial: “Mas, eu queria tanto!” Ou,“Mas eu estava esperando muito por isso”.Ou, “Mas, sonhei com isso a minha vidainteira!” Ou, “Mas, eu contava com isso”.Ou, “Mas, eu tinha certeza que...”

O que o som da decepção e os qua-dros destruídos têm em comum é a falta deexpectativa. Quando o que se espera nãose torna realidade, resulta em decepção.À medida que revejo as decepções de mi-nha vida, algumas delas parecem agorasuaves e não tão importantes; outras fo-ram devastadoras e me dominaram pormuito tempo. Mas, grandes ou pequenas,todas elas são resultado de expectativas (edesejos) que não aconteceram da maneiracomo eu achava que aconteceriam.

Se ouvimos o som da decepção na vozde uma criança, sabemos que explicaçãoe consolo são necessários, porque a crian-ça está se sentindo triste e magoada. Bemque poderíamos ser igualmente gentisconosco mesmas. Quando nos sentimosdecepcionadas, precisamos explicar paranós mesmas quais eram nossas expectati-vas e porque elas não se realizaram. (Podeser mais difícil do que explicar para umacriança.) Merecemos algum consolo tam-bém. Podemos pedir um abraço extra, te-

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lefonar para um amigo e lamentar-nos emvoz alta, comer um pedaço de chocolate,tomar um banho quente. Dar consolo a nósmesmas quando a decepção chega, ajudamuito.

Para uma criança, o consolo de um paicarinhoso pode ser tudo de que ela preci-se. Para os adultos, no entanto, também énecessária uma maior compreensão de simesmo.

Se sou responsável pela qualidade deminha vida, tenho uma participação emminha própria decepção. Sou eu que esta-beleço as expectativas. Sou eu que estouenvolvida com elas. Se meu envolvimentoé grande, como quando duas pessoas es-tão noivas e fazendo planos maravilhosospara o futuro, a decepção pode ser igual-mente grande. Se meu envolvimento é pe-queno, como quando planejo fazer sopade cebola e não tem nenhuma cebola emcasa, a decepção não será tão intensa. Oimportante a observar é que a intensidadede envolvimento que tenho com minhasexpectativas varia. Isso significa que elapode ser mudada por minha atenção e meuesforço.

Mesmo nas maiores decepções que tive,descobri que, quando tenho uma visão cla-

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ra das expectativas, um pouco da dor vaiembora. Parte dessa dor parece vir de umsentimento de impotência — de não sercapaz de fazer as coisas acontecerem comoeu esperava. Nesse caso, é fácil sentir-seuma vítima. Mas, quando vejo a grandecontribuição que as minhas esperançasderam à intensidade da minha decepção,consigo aceitar a responsabilidade por isso;meu sentimento de impotência diminui. Sim,ainda devo viver com as circunstâncias,como elas são; mas saberei que não souimpotente com relação aos meus sentimen-tos, que as expectativas que criei não fo-ram de propósito. As belezas da vida con-tinuam livres para mim — de outras for-mas que eu não tinha previsto.

Isso não implica que todas as expecta-tivas consigam ser eliminadas. Elas nos aju-dam a fazer a coisa certa, especialmenteao tomar decisões. Além disso, nossas ex-pectativas podem ser mantidas um poucomais livremente. Ainda pinto quadros paraminha galeria; mas, agora, após anos devida, sei que alguns deles serão destruídos.Então, não os prego com tanta firmeza,quando os penduro!

A escolha é nossa. Podemos aprendera dizer para nós mesmas: “Vou adorar se

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isso acontecer assim...(pinte aqui seusdetalhes); mas se não, existirão outrasoportunidades”. Para os que decidem fa-zer isso, os quadros podem ser boas lem-branças; mas são adorados como possibi-lidades ou como guias de ação. Não sãomais necessários para nossa “sobrevivên-cia” ou felicidade. Não somos mais arrui-nadas quando nossa galeria de quadros édestruída.

Quando a decepção aparece, não pre-cisamos fingir que nos sentimos “bem” comisso. Podemos examinar nossas expectati-vas e ver exatamente o que aconteceu den-tro de nós para causar a decepção. Então,podemos escolher abandonar essas expec-tativas e, no lugar delas, nos concentrar-mos no que realmente aconteceu.

Quando pratico essa escolha, ela medá um prêmio inesperado: um pequeno,refinado sentimento de surpresa começa aentrar em meu coração — surpresa com oque na verdade aconteceu. É muito freqüen-te, quando as coisas não acontecem comoplanejei, encontrar algo “divertido” dentrode mim, quando avalio o que a vida meoferece. Nem sempre gosto disso imedia-tamente. Mas sempre posso procurar o pre-sente escondido que todas as novas circuns-

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tâncias oferecem, mesmo quando demoromuito tempo para descobri-lo.

Abandonar as velhas expectativas éuma forma de viver no momento presente,de me aproximar de mim mesma, aqui eagora. Quando olho para o agora, sem-pre existe alguma coisa que está bem den-tro de mim e da situação. Posso ser capazde sentir gratidão por todos os fatores co-nhecidos e desconhecidos que me levarama esse momento. Posso encontrar uma co-moção preciosa na decepção que se espa-lha suavemente para amolecer meu cora-ção. Posso ver uma nova beleza à minhavolta. Posso querer pegar esse momento,com todos os meus sentimentos (sem asexpectativas) e segurá-lo carinhosamentecom as mãos em forma de concha, comose segurasse uma criança delicada.

Quando me entrego ao presente, a vidacomo ela é torna-se meu tesouro. É um te-souro verdadeiro, não um faz-de-conta quepintei e pendurei na cabeça. Na verdade,observei uma coisa interessante na últimavez que passeei por minha galeria. Nãotinha tantos quadros como costumava ter!Havia muitos espaços em branco. Desdeque comecei a relaxar o domínio sobreminhas expectativas e a aproveitar o pre-

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sente, senti menos interesse por elas. Opresente é tão cheio de coisas extraordiná-rias para se apreciar: sentimentos, aconte-cimentos, desafios, surpresas.

Então, hoje, em vez de tentar fazer comque os acontecimentos correspondam aosquadros da minha cabeça, estou abertapara viver os fatos do dia, com expectati-va. Ah, sem dúvida, ficarei desapontadanovamente, algumas vezes, pois minhagaleria não está vazia. Mas, entre essesmomentos cada vez mais raros, fico ocu-pada guardando belas lembranças em mi-nha galeria, no lugar de quadros.

Acredito, também, que manter na me-mória o que é real nos leva para mais per-to de Deus. Deus é a maior realidade, aúnica Realidade. Se costumo procurar ape-nas o que corresponde à minha própriaidéia de como as coisas deveriam ser, pos-so não encontrar a Verdadeira Maravilhaque é Deus. Minhas próprias expectativaspodem me cegar. Aconteceu com muitoslíderes judeus na época de Jesus. Eles es-peraram o Messias durante séculos. Alémdisso, conceberam imagens muito claras decomo ele seria e o que faria. Mas, quandoJesus chegou, não conseguiram ver quemele era, porque suas expectativas confun-

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diram sua visão. Algo parecido tambémaconteceu comigo e me impediu de ver eaceitar as magníficas dádivas que Deus meoferecia. Não quero que isso aconteça denovo.

Aqui estão alguns passos para prati-car e explorar. Sob certos aspectos, achoque as expectativas estão entre as partesmais particulares de nós mesmas. Nessecaso, você pode descobrir que outros pas-sos funcionam melhor para você do queestes. Se for assim, use-os. Divida-os comos outros também.

• Quando estiver sentindo-se decepcio-nada, reserve um momento para especifi-car suas expectativas. Examine-as comcuidado e aprenda como elas lhe causa-ram esses sentimentos de tristeza.

• Esqueça essas expectativas por umminuto. Olhe para o momento presente. Eleé, por si só, realmente insuportável? Vocêestá correndo algum perigo sério? Estádestruída? Há algo errado com este mo-mento que não tem relação com as suasexpectativas? O que existe de bom e admi-rável neste momento?

• Pergunte a si mesma: “O que a rea-lidade deste momento pode oferecer para

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o meu futuro?” Que qualidade ela traz paraminha vida? Qual aspecto desta situação érealmente uma nova oportunidade?

• Escolha o que quer fazer com suasexpectativas frustradas. Você pode quererabandoná-las inteiramente. Ou pode en-xergar um valor nelas que queira conser-var, ou talvez mudá-las para adaptá-las anovas circunstâncias e novas possibilida-des.

• Quando já tiver escolhido, fale suaescolha em voz alta. Se conseguir, tomeuma atitude imediata para apoiar sua novaescolha, de qualquer maneira, aja!

• Aproveite o momento presente. Dei-xe que ele seja — e o trate com carinho —da forma como ele é. Ele seguirá seu cami-nho com muita rapidez. Existe alguma coi-sa aqui que você queira manter em suagaleria de lembranças? No filme Yentl, umajovem passa por várias situações que sãoespecialmente significativas para ela. Nemtodas são agradáveis, mas cada uma temuma beleza comovente e preciosa. Mesmona dor, ela celebra esses momentos únicos,intensos, com música. É uma ótima manei-ra de amar a vida e deixá-la amar vocêem troca.

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Sugestões de oração

Jesus deve ter tido muitas esperançasfrustradas em sua vida pública. Ele lamen-tou por Jerusalém e por seu povo que nãovinha até ele. Às vezes, ficou magoado coma indiferença e com as desavenças de seusdiscípulos mais próximos. Então, quandoficar desapontada, você pode esvaziar seussentimentos nele. Conte a Jesus exatamen-te como eles são — o que você esperava,quanto você queria, como aconteceu ecomo você se sente magoada. Revele tudoisso ao Senhor.

Depois, imite os que escreveram os sal-mos. Várias vezes eles expressaram seussofrimentos e medos e, então, logo em se-guida, louvaram a Deus por sua bondadepara com eles. Eles se lembravam do quesabiam: Deus está presente e é totalmentebom e compassivo. Você também pode lou-var a Deus por quem ele é, e louvar a Deuspelo presente, como ele é. Ofereça seumomento de decepção, com seu vazio esua plenitude. Deus renovará sua esperan-ça nas belezas da vida e é infinitamentecapaz de transformar sua tristeza em ale-gria.

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Sugestões bíblicas

Salmo 86,1-2Senhor, inclina teus ouvidos e respon-

de-me, porque estou desamparado e po-bre!

Conserva-me a vida, pois sou fiel!Meu Deus, salva teu servo, que em ti

confia!

Josué 1,9Não te ordenei que sejas forte e cora-

joso? Não temas e nem te acovardes, poiso Senhor teu Deus estará contigo por ondequer que andes.

1Coríntios 15,57-58Graças sejam dadas a Deus que nos

dá a vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo.Assim, pois, irmãos, progredindo semprena obra do Senhor, perseverai firmes e ina-baláveis, sabendo que vosso trabalho nãoé em vão no Senhor.

Tiago 1,12Feliz o homem que suportar a prova-

ção, porque, provado, receberá a coroada vida que Deus prometeu a quem o ama.

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Aqui estão algumas referências bíblicasadicionais para reflexão:

Salmo 57João 14,1-2Salmo 77Isaías 40,28-31Romanos 8,35-39Salmo 116Tiago 4,13-15

Para refletir

Identifique suas respostas a estas per-guntas:

• Quais são os quadros mais impor-tantes na galeria da história de sua vida?

• Quais são suas decepções mais ób-vias? Que expectativas você teve para comelas?

• De quais expectativas você tem cons-ciência com relação a seu cônjuge? seusfilhos? sua Igreja? seus amigos?

• Diga para você mesma em voz alta:“Acho que a vida deveria ser...” e ouça suasrespostas. Então, ouça seus sentimentos comrelação a essas expectativas.

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CAPÍTULO NOVE

CONHEÇA SUAS LIMITAÇÕES

Faça o que puder, com o que tem,onde estiver.

Theodore Roosevelt

Tudo tem suas maravilhas, até mesmoa escuridão e o silêncio, e aprendo,

em qualquer circunstância em que eu possame encontrar, a ficar satisfeita como estou.

Helen Keller

Furiosamente, Kent estava despejando pa-lavras sobre mim. “Mas por que você nãovai à festa?”

“Porque estou com medo.”Isso simplesmente causou uma série de

protestos expressos vigorosamente.“Além disso”, eu disse, “não gosto do

que sei que eles vão fazer lá. E me sintoinsegura com esse tipo de vida social.”

Mais palavras fortes de Kent.

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Mas, quando isso veio à tona, Kent nãoligou para a festa. Ele estava tentando fa-zer com que eu me superasse. Finalmentegritou: “Marilyn! Que droga! Você é umamulher poderosa! Conseguiria transformaraquela festa em qualquer tipo de festa quequisesse — e fazer isso com mais facilida-de que qualquer outra pessoa que estives-se lá. Pare de fugir de seus próprios dons!”

Parece suave no papel, mas Kent —com todo o seu 1,80 m de altura — estavaberrando diretamente em meu rosto.

Infelizmente, é raro que alguém meenfrente diretamente; então, ouvi. Sua rai-va se traduzia facilmente em intensa preo-cupação por mim. Eu soube que ele viaalguma coisa em mim que eu não tinha vistoou que não tinha levado a sério. Ele nãoqueria ver-me desperdiçando isso. Mas, oque era?

Ele disse que eu era poderosa. Eu era?Se era, então por que eu não tinha a vidaque queria? Comecei a me dizer o porquê:“Minha infância foi razoável em vez deótima; minhas primeiras decisões foramrazoáveis em vez de ótimas; eu não tive oque deveria ter tido; tive outras coisas quenão queria ter; se eu pudesse...” De repen-te, toda essa história não me parecia mui-

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to convincente! Kent não sabia nada da-quilo. Ele apenas viu algo valioso que eunão usava. Viu que eu estava fazendo umalonga lista de desculpas para a minha vida.Desta vez, quando me contei minha tristehistória, ouvi como tudo isso soava fraco eduvidoso.

Kent estava certo? Decidi fazer um tes-te no caso da festa. Eu conseguiria trans-formá-la no tipo de experiência de quegostaria, em vez de aceitar que todos osoutros tivessem o controle de tudo? Nãoseria surpresa para Kent ou para todomundo se eu conseguisse — e consegui.Foi uma grande surpresa para mim. Des-cobri uma capacidade de criar situaçõescom qualidades que eu escolhia! Era tãofascinante que comecei a explorá-la mais.Foi uma longa exploração. Alguns de seusfrutos aparecem neste livro. Mas aquelafesta me ensinou uma verdade. Eu me ob-servei, ouvi meus amigos, pensei da formamais honesta que consegui sobre o que vie ouvi. Todas as evidências confirmaramminha descoberta: eu adquirira o hábitode me concentrar em minhas limitações;estava ignorando meus poderes, meusdons. Andava sentindo pena de mim, dan-do desculpas. (Aqui, devo dizer que pou-

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cas pessoas viram isso em minha vida; Kentreconheceu isso e suas observações foramcorretas.)

Quando olhei para os outros à minhavolta, agi da forma que a Análise Tran-sacional chama de “posição subestimada”.Isso significa que admiti, antes mesmo derespirar, que todos sabiam mais e erammelhores que eu. Quando reconheci asuposição, era óbvio que era falsa. Osoutros não são melhores, mais espertos,mais poderosos, mais inteligentes, maiscarinhosos ou mais talentosos que eu. Al-gumas pessoas são algumas dessas coisas.Outras têm menos ou mais de uma dessasqualidades.

Quando me comparava com as melho-res pessoas de todas as áreas — religião,música, psicologia, a arte de escrever, acapacidade de ganhar dinheiro ou o quequer que seja — é claro que eu não eraequivalente a elas em suas áreas! É frus-trante olhar para essas pessoas quando,em comparação, eu me sinto inútil com re-lação a mim. Eu precisava parar de mecomparar a elas desse jeito.

Além disso, grandes pessoas semprepodiam ensinar-me alguma coisa útil. Pen-se nesses: Itzhak Perlman, incapaz de an-

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dar sem muletas, mas um grande violinis-ta! Fritz Künkel perdeu um braço duranteseu estágio médico, ainda assim, tornou-se um grande psiquiatra (cujas obras fo-ram de imensa ajuda para mim); Catarinade Sena tornou-se santa mesmo com a opo-sição de sua grande família, assim comoSão Francisco de Assis; Robert LouisStevenson escreveu quase todas as suasmaravilhosas histórias enquanto estava decama, com tuberculose. Existem, também,os que são menos conhecidos: o cego quese tornou um competidor esgrimista; otetraplégico que pintava com o pincel naboca; a vítima de paralisia infantil que setransformou em uma atleta. Refletindo so-bre essas pessoas, uma coisa se destaca:elas escolheram não se concentrar em suaslimitações, sem se importar com o quantoseria difícil. Escolheram se concentrar compersistência em suas capacidades.

Ninguém pode fazer tudo ou ser todomundo! Não é isso que a vida — ou Deus— apresenta para nós. Ao contrário, a nósé dada a oportunidade de ser completa-mente o que podemos ser. Para cada umde nós, isso é muito. É muito mais do quesomos agora. As pessoas que se tornambonitas são as que aceitam suas limitações

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como fatos, e então se dedicam em grandeescala ao desenvolvimento de seus pode-res, de seus talentos, de suas habilidades.Elas amam seus dons, querem suas possi-bilidades verdadeiras.

É importante conhecermos nossas limi-tações. Elas afetarão nossas vidas de for-mas que não podem ser vistas. Não mearrependo do tempo que levei e da aten-ção que dispensei para aceitar minhas li-mitações, começando pelo fato de que eutinha quarenta anos e não vinte e dois! Issome fortaleceu para aprender os efeitos des-sas limitações. Havia uma realidade sólidae boa nelas. Mas, uma vez que tinha co-nhecimento dessas minhas características,procurei voltar minha atenção para o ou-tro lado, o lado das possibilidades e dosdons.

Nesse lado, também precisei descobrire entender. Estranhamente, foi mais difícilenxergar meus dons do que minhas limita-ções. Pode ter sido porque era uma pers-pectiva desconhecida ou, talvez, porque eusabia que seria então responsável pelo usoe pelo desenvolvimento dos dons que en-xergasse.

As limitações não foram realmente aorigem de minhas dificuldades. Eu tinha

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dons, mais do que pensava quando come-cei a procurar. Fiquei impedida não porminhas limitações ou pela falta de dons,mas por me concentrar de maneira erra-da, e também por não escolher com cuida-do quais dons desenvolver.

A carreira não foi a questão principalpara mim. Eu estava procurando qualida-de de vida, uma capacidade interior de sera pessoa mais completa que podia. Eu que-ria me sentir eficiente como ser humano,expressar minha característica particular,sentir-me confiante por inteiro. Sem dúvi-da, quando segui meus dons com dedica-ção, a carreira também pôde desenvolver-se. Mas era basicamente a qualidade queeu queria, qualidade para todos os dias equalidade de realização.

Medida em anos, minha vida já estavamuito avançada. Quanto eu poderia con-seguir com esse encontro tardio? Certamen-te, não conseguiria desenvolver todos osmeus dons, ao ponto máximo imaginável.Mas poderia escolher as possibilidades deque gostasse mais, aquelas que expressas-sem meus desejos mais profundos. Nin-guém estava exigindo nada em particular.Nem mesmo Deus me arrastara pelo cola-rinho e insistira! Ao contrário, ele me deu

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várias possibilidades, mas parecia que asescolhas dependiam de mim.

Então, embora muito lentamente —acho que sou a eterna aprendiz da lenti-dão — comecei a me observar para verquais de minhas possibilidades eu gostavamais. Escolhi amá-las, alimentá-las,desenvolvê-las. Comecei, gradualmente, ame transformar no que Abraham Maslowchama de uma pessoa “auto-realizada”.Com isso, ele se refere àquela cuja vidafunciona de maneira forte, saudável, cria-tiva; uma pessoa que toma suas própriasdecisões e as leva até o fim; uma pessoaque, para os estranhos, pode parecer ili-mitada e que influencia a vida que a cer-ca.

Experimentando, descobri que nãopodia me apossar imediatamente das qua-lidades que queria. Não consegui levantarde manhã e dizer: “Hoje, vou ser esperta”.Ou, “Nessa tarde é a minha vez de sercriativa”. As qualidades pareciam produtosde outras escolhas, de outros esforços. Abusca pela qualidade, no entanto, pode serum empenho constante. Existem práticasque posso realizar para criar um ambienteinterior que estimule o surgimento da qua-lidade.

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Os passos seguintes são, até certo pon-to, minhas próprias descobertas, e são in-fluenciadas por Maslow. Eu lhe garanto queas pratico e que funcionam para mim. Po-dem funcionar para você também.

• Resolva ser especialmente honestanessa procura por você mesma. Você sóperderá seu tempo se não for.

• Reveja suas limitações e observecomo elas funcionam. Faça isso de umamaneira clara e não use suas limitaçõescomo desculpa. Sua história triste podedoer, mas é apenas uma em um milhão dehistórias tristes. O máximo que você podefazer por você é dar uma qualidade me-lhor para o resto de sua vida.

• Aceite suas limitações como fatos.Não insista nelas. Elas provavelmente con-tinuarão com você, mas já são apenas umapequena parte de você. À medida que suasoutras qualidades se expandirem, a pro-porção de limitações ficará menor.

• Volte sua atenção e seus interessespara seus dons, suas possibilidades. Eu eratão incapaz de fazer isso que tinha de re-correr aos amigos e professores para per-guntar-lhes quais dons eles viam, por queme valorizavam, do que gostavam em mim.

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Suas opiniões me deixavam pasma, maspareciam ser muito seguras. Eles me de-ram uma referência para começar um novoaspecto de autoconhecimento.

• Ouça a si mesma. Do que você gos-ta? O que você sempre escolhe? O que édivertido? O que lhe dá alegria? O quevocê acha interessante? O que você desejado fundo do coração? Examine essas pre-ferências. Conheça-as. Dedique a elas tem-po e esforço. Alimente-as. Elas são chavesimportantes para a pessoa que você podeser. Elas são pistas das qualidades que vocêjá tem, esperando para se manifestar emsua vida.

• Em qualquer coisa que esteja fazen-do, especialmente se você a escolheu, dêimportância à qualidade. A atitude “é sufi-cientemente bom para passar” pode darresultados se você é talentosa, mas não é obastante para desenvolver seu próprio po-der pessoal. Não ajuda muito seu cresci-mento. Dedique a suas escolhas atenção,amor, tempo e esforço, tudo com muito cui-dado. Seja suficientemente generosa con-sigo mesma para ser boa nisso — o quequer que “isso” seja.

Meu marido certa vez aprendeu a fa-zer torta de maçã. Era um aprendizado,

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observá-lo. Cada detalhe era feito lenta ecuidadosamente. Ele não pulava nada, nãofazia nada depressa. Saboreava cadamovimento, dava a cada fatia de maçã, acada pedaço da massa, toda a sua aten-ção. Quando a torta saiu do forno, ele aexibiu na ponta dos dedos e exclamou:“Agora sim, isto é uma obra de arte!” Eera. Ele conhece o segredo do trabalho dequalidade e a alegria que ele traz.

• Trate com carinho todos os momen-tos de beleza que surgirem em seu cami-nho. Não importa se você criou essa bele-za ou se ela veio de algum outro lugar; sevocê gostar dela, se ela for satisfatória,mantenha-a perto de você. Se você vir opôr-do-sol, deleite sua vista e sua alma nele.Se você gostar do abraço de uma pessoaamada, entregue-se a ele. Se alguém lhedá uma flor, observe cada detalhe e seadmire. Cada coisa preciosa, grande oupequena, é para ser amada. Em troca, cadamomento desse amor sustentará você. Tra-te com carinho, especialmente, seus dons ecapacidades.

• Escolha e aja. Escolha um de seusdons, de suas possibilidades ou de seusinteresses. Um do qual goste. Comece adesenvolvê-lo.

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Uma amiga minha, mãe de quatro fi-lhos, estava com artrite. O médico a adver-tiu que ela só iria piorar. Mas ela tambémera fascinada por cerâmica indiana. Ela leramuito sobre isso. Então, aprendeu que ospassos para fazer a cerâmica que mais afascinavam eram os segredos que não es-tavam escritos. Começou a pesquisá-los.Aprendeu a fazer cerâmica comum. Então,saiu pelo deserto e aprendeu a reconhecera argila e a extraí-la. Experimentou os mé-todos indianos que conhecia. Conseguiu umpequeno forno para suas experiências. Aospoucos, passados alguns anos, ela seguiacada vez mais para onde sua fascinação alevava. Hoje, ela é requisitada como pro-fessora de cerâmica, que conhece todos ossegredos antigos. E a artrite não lhe causanenhuma dor. Ela começou ignorando suasmãos com artrite e os prognósticos do médi-co. Simplesmente seguiu sua fascinação.Você pode seguir o exemplo dela, mesmoque, no princípio, possa dar para si mes-ma um novo amor apenas quinze minutospor dia. Todos os dias.

____________

Duas capacidades especialmente gene-rosas estão se desenvolvendo em mim, as

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quais posso atribuir diretamente a essespassos. A primeira é que agora consigoaproveitar, até mesmo me divertir com meuspróprios dons. Eles me dão alegria e con-fiança, de forma que eu raramente me lem-bro de minhas limitações. A autopiedadedesapareceu, foi enxotada pelo simplesprazer de viver, guiado por minhas habili-dades dadas por Deus.

A segunda, os dons das outras pessoasme causam alegria. Costumava acontecerque, quando observava as capacidadesdesenvolvidas em outras vidas, sentia-melimitada, pequena, incapaz e triste comigomesma. Isso não acontece mais. Agora,sinto um prazer livre, fascinante, com osdons das vidas das outras pessoas. Minhavida fica mais rica, tanto por causa dosdons deles, quanto pelos meus. A suatambém pode ficar mais rica e, provavel-mente, mais rica que a minha. Alegre-se!

Sugestões de oração

Alegre-se e dê graças! Você é magni-ficamente abençoada por Deus. A cadanova bênção que descobrir, louve e agra-deça a Deus com todo o seu coração.

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Glorifique a Deus na oração por causa dabeleza que está se desenvolvendo fora dela.Faça desse desenvolvimento uma oraçãoao amor de Deus. Ofereça a Ele as habili-dades e os poderes de que você mais gos-ta. Complete-os, realize-os e os devolva aoSenhor com alegria.

Sugestões bíblicas

Salmo 37,3-4Confia no Senhor e faze o bem, habita

a terra e cultiva a fidelidade!Põe tuas delícias no Senhor, e ele reali-

zará os desejos de teu coração.

Provérbios 16,3.20Encomenda ao Senhor tuas obras, e

teus projetos realizar-se-ão.Quem atende à palavra encontra a fe-

licidade, e quem confia no Senhor — felizdele!

Lucas 10,20Mas não vos alegreis que os espíritos

se vos submetam. Alegrai-vos de que vos-sos nomes estejam escritos nos céus.

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Efésios 1,3-8Bendito seja o Deus e Pai de Nosso

Senhor Jesus Cristo que dos céus nos aben-çoou com toda a bênção espiritual em Cris-to. Assim, antes da constituição do mundo,nos escolheu em Cristo, para sermos emamor santos e imaculados a seus olhos,predestinando-nos à adoção de filhos porJesus Cristo, conforme o beneplácito de suavontade, para louvor da glória de sua gra-ça com que nos agraciou em seu Bem-ama-do. Nele temos a redenção pela virtude deseu sangue, a remissão dos pecados, se-gundo a riqueza de sua graça, que derra-mou profusamente em nós, com toda a sa-bedoria e inteligência.

Romanos 5,1-4Justificados, pois, pela fé, temos paz

com Deus por meio de Nosso Senhor JesusCristo. Por ele é que em virtude da fé che-gamos à graça em que vos mantemos egloriamos na esperança da glória de Deus.E não só isso. Até nas tribulações nosgloriamos. Pois sabemos que a tribulaçãoproduz paciência, a paciência prova a fi-delidade e a fidelidade comprovada pro-duz a esperança.

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Aqui estão algumas outras referênciasbíblicas para sua reflexão:

Salmo 34,1-11Filipenses 1,3-6Filipenses 3,1Salmo 40,1-9Romanos 12,9-21João 14,1-4Mateus 25,14-302Coríntios 9,6-10João 15,1-7

Para refletir

Uma das coisas mais difíceis que vocêpode fazer é refletir sobre seus própriosdefeitos e forças. Reserve um tempo pararefletir e faça uma lista de suas limitações edons.

• Quando se sentir pronta, mostre es-sas listas para um amigo de confiança.

• Escolha uma limitação e um dom paraoferecer especialmente a Deus, como par-te de sua oração.

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CAPÍTULO DEZ

ESCOLHA RELACIONAMENTOSDE QUALIDADE

A maior forma de sabedoria é a gentileza.O Talmude

Só por meio de nossas relações com osoutros é que desenvolvemos a perspectiva da

audácia e acreditamos em nossa própriacapacidade e na bondade interior.

Joan Borysenko

É fundamental, para a experiência de vidadas mulheres, nossa experiência com rela-cionamentos. Aqui, não me refiro apenasao relacionamento com um marido, mas atodos os relacionamentos — filhos, amigos,família, conhecidos — todos esses formama estrutura da nossa vida diária.

Na América, os relacionamentos comos outros, às vezes, são considerados maisimportantes que o relacionamento da pes-

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soa consigo mesma. Todavia, este livromostra que o que está dentro de nós se pro-jeta no exterior e cria muitas de nossas ex-periências. Isso é verdadeiro não só por-que nós mesmas determinamos a qualida-de de qualquer experiência, mas tambémporque as pessoas reagem ao que somos.Elas reagem às qualidades que sentem emnós e às atitudes que observam em nós.

Já foi suficientemente dito: não pode-mos mudar os outros. Se mudarmos a nósmesmas, os outros mudarão em resposta.Essa é a chave para compreendermos comonossas escolhas afetarão nossos relaciona-mentos. O que somos, em atitude, senti-mento e comportamento, sempre determi-nará pelo menos cinqüenta por cento daqualidade de um determinado relaciona-mento. Se mudarmos a nós mesmas, o re-lacionamento mudará na mesma propor-ção. Nunca precisamos ser vítimas de nos-sos relacionamentos. Temos uma posiçãode considerável poder para escolher a qua-lidade que queremos em qualquer relacio-namento.

Muitas mulheres — especialmente emrelacionamentos com homens — têm a ten-dência de dar aos outros todo o seu poderde afetar a qualidade de seus relaciona-

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mentos. Elas ficam esperando que a outrapessoa um dia, subitamente, “veja a luz” ecomece a mudar, para que o relacionamen-to possa ser mais satisfatório, mais com-pleto, mais feliz para os dois.

A pessoa se pega dizendo repetida-mente: “Se ele fosse...” a suposição é a deque se o outro mudasse, tudo ficaria bem.Essa atitude é uma abstenção de respon-sabilidade emocional.

O “outro” provavelmente nunca muda-rá, a menos que haja uma razão que oleve a fazer isso. Uma olhada em nossaprópria relutância em mudar nos dirá porquê! É muito melhor admitir que a outrapessoa nunca mudará. Então, as escolhasficam muito mais claras.

Em um nível mais profundo, a suposi-ção de que o outro deva mudar implicajogar fora o poder pessoal e a responsabi-lidade. Mesmo que a outra pessoa mude,nós, mulheres, ainda não teremos aceitadoa força e a influência que realmente temosem qualquer relacionamento. Isso significaque nossa parte do relacionamento aindaestá fraca e baseada em uma posição devítima.

Tal posição é doentia. Também é forada realidade. Nós temos a capacidade de

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criar a qualidade que queremos em nossosrelacionamentos. Fazemos isso quandoatendemos a nós mesmas. Assumimos aresponsabilidade pela qualidade contínuado relacionamento. Fazemos as escolhasde que precisamos e tomamos as atitudesnecessárias. Então — e só então — tudono relacionamento é vivido de forma dife-rente. Ele se torna diferente, de uma ma-neira saudável e real.

Vai ser fácil? Provavelmente, não. Mu-dar a si mesmo raramente é fácil. Expres-sar essas mudanças em um relacionamen-to que está parcialmente construído da for-ma que as pessoas “sempre foram” é ain-da mais difícil. No entanto, a mudança épossível. É sempre possível.

Aceitar a responsabilidade emocionalem um relacionamento significa, simples-mente, que sou responsável por meus sen-timentos, não importa o que os outros fa-çam ou digam. Muitas mulheres têm difi-culdade em aceitar isso, até como umaidéia. Mas é verdade. Tomar uma atitudecom relação a isso traz grandes resulta-dos.

Na realidade, ninguém nos faz sentirnada. Sentimos ou escolhemos sentir emreação ao que alguma outra pessoa faz.

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Devemos reconhecer que temos opçõespara nossas próprias reações. Nossos há-bitos emocionais não são invencíveis. Apergunta para nós, como participantes res-ponsáveis em um relacionamento, é esta:“Como devo sentir-me em reação a...?”.

Por exemplo, meu querido marido temo hábito de mexer ou mudar coisas que jácoloquei em um determinado lugar. Suasrazões são sempre boas — para ele. Massomos pessoas diferentes e pensamos demaneiras diferentes sobre a maioria dascoisas, então suas razões raramente fazemsentido para mim. Nas primeiras vezes queele fez isso, senti-me insultada (“Ele achaque não sei o que estou fazendo?”) e fi-quei irritada. Um dia ele fez a mesma coi-sa de sempre, mas eu estava me sentindotão equilibrada e livre naquela manhã queaquilo me divertiu. Então, vi o que estivefazendo esse tempo todo — deixando umareação da infância dominar minha expe-riência adulta.

Foi o fim! Ainda achando graça, dis-se-lhe sorrindo, quando ele fez aquilo denovo: “Com certeza esse seu hábito é mui-to estranho, pensar que pode ler minhamente! Quando você tentar adivinhar no-vamente o que eu penso, deve perguntar-

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se como eu vivi sem você por tantos anos!Isto me diverte — ou me deixa furiosa —dependendo da condição emocional emque estou no momento”. E sorri para mimmesma e para ele também. Quando eleentendeu que eu não ia censurá-lo, riu desi mesmo e concordou que eu, geralmente,tinha minha própria variedade de razõespara o que fazia.

Muitos relacionamentos são prejudi-cados por acontecimentos pequenos, diá-rios, mal resolvidos. Freqüentemente, nãosão as grandes coisas, mas, sim, aspequenas coisas da rotina que interpre-tamos mal, reinterpretamos e deixamosdesgastar nosso amor.

Precisamos ser capazes de distinguirentre o que é “meu” e o que pertence aosoutros. Quando separamos isso, consegui-mos aceitar a responsabilidade de esco-lher sobre nossa própria parte e deixar quea outra parte seja o que é. Então, desco-brimos que, quando cinqüenta por cento(nossa parte) da interação é mudada paramelhor, toda a interação muda. Em meuexemplo, a pequena ação de John foi suatolice, mas minha irritação era minha.Quando abandonei minha irritação, eleenxergou facilmente sua própria tolice e

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ficamos mais próximos no riso que com-partilhamos.

Aqui está outra maneira diária de pra-ticar a responsabilidade com o marido (du-vido que funcione com crianças): a pessoaque está aborrecida com alguma coisa é aque a conserta, não importa como isso vaiser feito. Quando a casa está desarruma-da, a pessoa que a limpa é aquela quenão está suportando mais ficar nela comoestá — sem nenhuma reprovação ou quei-xa interior. Eu sou responsável pelo que meirrita.

Alguém pode reclamar: “Mas então voufazer todo o trabalho da casa!”. Bom, paraquem isso é um problema sério? Para você?Então é sua responsabilidade.

Esse hábito de auto-responsabilidadeelimina os aborrecimentos sem fim que sãotão fáceis de acontecer — e que destroemum relacionamento promissor. Outro hábi-to que uma mulher responsável precisadesenvolver é a iniciativa de pedir o queprecisa. De alguma forma, muitas de nóstêm uma noção romântica de que nossosmaridos sabem ler nossa mente e semprenos entenderão com tanta facilidade quesaberão do que precisamos e o que quere-mos. Errado! Eles não lêem e não lerão.

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Além do mais, não são responsáveis pornos “fazer” felizes. Nós somos responsá-veis por ver se nossas necessidades estãosatisfeitas. Isso só pode acontecer se apren-dermos a pedir o que queremos.

Pode não ser tão romântico quanto aidéia do marido leitor de mente (todas nósqueremos ser surpreendidas pelo presentecerto no momento certo, não?), mas fun-ciona muito melhor para relacionamentosverdadeiros. Além do mais, dura. É sólidoe forte.

Muitos maridos estão dispostos a daro que for preciso se souberem o que é.Nossas necessidades são responsabilida-de nossa. Se aceitarmos isso, pedimos.Então, recebemos a resposta como um pre-sente e nos alegramos com ela. O vinhoda imaginação romântica é muito menosnutritivo que o pão diário da satisfação denossas necessidades e desejos expressos.

Se pedir o que queremos é uma práti-ca nova em folha, seria bom explicá-la aonosso parceiro. É especialmente importan-te a compreensão mútua de que um pedi-do não é uma exigência. Também é prová-vel que, algumas vezes, quando pedirmos,não seremos atendidas. Mas não somoscrianças — podemos esperar e revelar nos-

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sos sentimentos como nossos próprios sen-timentos — de modo que a comunicaçãofica gradualmente mais clara. A compreen-são também aumentará.

Nos relacionamentos, a decisão pes-soal de assumir a responsabilidade e esco-lher o que queremos implica outro princí-pio básico: nós decidimos quais qualida-des queremos ter no relacionamento e en-tão dedicamos todo o esforço para colocaressas qualidades nele. O ato de assumir aresponsabilidade não é com relação à ou-tra pessoa; é sempre e somente com rela-ção à própria pessoa e às suas própriasescolhas.

Nossa escolha em mudar é apenasnossa. Nosso próprio ser é uma área davida na qual o poder de escolher e criar étotalmente nosso. Se não pegarmos nossopoder de escolha com as duas mãos e ousarmos, podemos ter certeza de que nos-sa vida andará no piloto automático, napiedade constante das agendas das outraspessoas. Se exercitarmos nosso poder deescolher as qualidades que desejamos, nãosó nossas próprias experiências melhora-rão, mas também o mundo a nossa volta.Nossos relacionamentos também vão me-lhorar.

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Em muitos casamentos, assumir a res-ponsabilidade pela escolha pessoal é umadas tarefas mais difíceis para as mulheres.Isso parece especialmente verdadeiroquando a mulher quer crescer psicológicaou espiritualmente. As mulheres, com muitafreqüência, preferem esperar que seusmaridos assumam o comando. Como umamulher muito inteligente e sincera me disserecentemente: “Seria tão bom dividir issocom meu marido”. É claro que seria! Masessa decisão é dele, não dela. Vamos dei-xar nosso crescimento emocional ou nossavida com Deus suspensa até que nossomarido “faça isso”? Se for assim, escolhe-mos a falta de responsabilidade conosco ecom Deus.

Vamos supor que queremos escolher ecriar as qualidades que desejamos em nos-sos relacionamentos, assim como em nósmesmas. Surge outra pergunta: consigoconvencer meu marido de que ele deveriaagir dessa forma também?

Minha resposta é: esqueça! Nossasescolhas são nossas. Elas são a nosso res-peito. Nossos maridos (ou filhos ou ami-gos) podem não estar interessados em nos-sos interesses, podem não estar prontospara o que nos atrai. Cada um de nós tem

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uma vida para viver. Assim como não que-remos que eles vivam nossas vidas por nós,escolhemos respeitá-los e deixá-los viversuas vidas. Nós os apoiamos com nossorespeito e amor.

Muitas mulheres irritam seus maridoscom questões espirituais, não tanto paraenvolvê-los, mas por insistir em dividir tudocom seus maridos, geralmente insinuandoque eles deveriam ter os mesmos interes-ses. Em questões religiosas, é tudo muitofácil justificar: “Sei que essa é a vontadede Deus, portanto meu marido devia fazerisso também”. Isso viola a capacidade deescolha da outra pessoa.

Insistir para que o parceiro mude pio-ra incalculavelmente o relacionamento.Sugere que o outro não é tão bom quantovocê. É o mesmo que dizer que o outro nãomerece o nosso amor — e isso é sempreuma mentira.

Quando escolhemos mudar nosso jeitode ser, especialmente se essas mudançastêm relação com aspirações espirituais,devemos estar atentas ao princípio espiri-tual mais profundo: o amor. Devemos des-cobrir formas de amar mais a outra pes-soa, mesmo quando estamos mudando nósmesmas.

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Se o amor sempre significou uma crô-nica submissão aos desejos do marido, amudança da pessoa pode gerar um poucode surpresa e conflito. Se for necessárioajuda para aprender a ser você mesma,apesar das objeções do outro, então con-siga essa ajuda. Muitos conselheiros estãodisponíveis, hoje em dia, para ajudar coma auto-afirmação. Aprenda o que você temde aprender, mas não abandone o amoratencioso.

Então, a primeira atitude a explorar ecultivar, se você deseja mudar a si mesma,no contexto de seus relacionamentos, é umrespeito honesto pela outra pessoa e umadisposição para amá-la.

Fácil? Raramente, para não dizer nun-ca. Merece esforço? Sempre.

Podemos começar lembrando-nos deque, assim como somos amados por Deus,a outra pessoa também é. Assim como car-regamos dentro de nossa alma a imagemde Deus, a outra pessoa também carrega.Precisamos pensar bem se queremos vio-lar o que há de sagrado nessa pessoa. Es-colheremos o verdadeiro princípio espiri-tual de amor e respeito? Nada em nossopróprio crescimento exigirá uma violaçãodo outro. Nosso crescimento exigirá a re-

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cusa em desistir de nosso próprio poder deescolha. Às vezes, o limite pode ser sutil.Quando for, precisamos rezar muito e es-tar dispostas a descobrir uma forma queseja boa, tanto para nós, quanto para nos-so marido.

Se estamos escolhendo ficar mais res-ponsáveis, podemos confundir nosso com-panheiro com a novidade de nossas esco-lhas. Mas, se nos afirmamos com amor enos revelamos com muito cuidado, pode-mos dar uma segurança para nosso com-panheiro, a qual nos dará, no final, maisespaço, sem tomar o espaço de nosso ma-rido.

Precisamos estar atentas às verdadei-ras capacidades e necessidades pessoaisde nosso parceiro. Podemos explorar edefinir nossos próprios limites, sozinhas,enquanto conservamos o amor pelo outro.

Aqui está um outro exemplo da minhavida. Houve uma época em que minha vidaespiritual exigia mudanças profundas emminha compreensão das coisas e em algu-mas de minhas atividades. Até então, meumarido e eu enxergávamos “da mesma for-ma” a maioria dessas coisas. Eu estavaprestes a escolher algo que sabia que po-deria parecer estranho para ele. Minhas

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escolhas não foram diretamente sobre orelacionamento em si. Ele estava bom, ca-rinhoso e agradável. Eu não queria fazernada que colocasse um obstáculo entre nós,mas também precisava encontrar meu pró-prio caminho. O que fazer?

Descobri que os seguintes aspectos fo-ram importantes:

Primeiro, cuidei do relacionamento,mais que antes, de forma que era verda-deiro para mim. Ouvir mais, doar mais li-vremente quando a doação era honesta,ter certeza de que as necessidades eramrespondidas com ações, expressar maisafeição, esses foram alguns dos aspectosaos quais dei atenção. Essas atitudes nãoforam difíceis porque todas eram expres-sões verdadeiras do meu amor por ele.Apenas prestei mais atenção para evitarconfundir as preferências de meu maridono relacionamento com concessões.

Segundo, fiz o que tinha de fazer pormim. E fiz sozinha. Quando precisava detempo para minhas novas escolhas, tenta-va manter um equilíbrio entre minhas ne-cessidades e o tempo de que dispúnhamospara ficar juntos. Não abandonei minhasresponsabilidades de trabalho, incluindo astarefas de casa. Meus deveres continuaram,

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e fazê-los bem tornou-se parte de minhasnovas metas espirituais. Em meio a tudoisso, no entanto, certifiquei-me de que mi-nhas novas práticas recebiam a atençãonecessária. Isso significava que eu me le-vantava muito mais cedo, antes de meumarido, e que, às vezes, ficava acordadaaté tarde da noite, sozinha.

Terceiro, revelava meus novos esforçose descobertas com muito cuidado, aos pou-cos, e sempre me certificava de que eleentendia que estes eram os meus interes-ses. Não estava exigindo nada novo dele,nem mesmo em pensamento. Com o pas-sar do tempo, nós dois vimos que o rela-cionamento ficava mais rico e melhor à me-dida que eu me transformava cada vez maisespiritualmente. Então, ambos relaxamoscom as mudanças.

Depois de alguns anos, vejo que meucrescimento inspira o crescimento dele,embora o dele assuma formas diferentesdo meu. O que é mais surpreendente é queele já foi visto defendendo minhas opi-niões em público — e clamorosamente!Não é maravilhoso? Deus olha por nós commuito cuidado e conduz cada um ao cami-nho que conseguimos seguir.

Agora, vamos rever as escolhas apre-

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sentadas nos capítulos anteriores deste li-vro, para explorar seus possíveis efeitos norelacionamento.

O que me diz da dor? Se estamos comdor e não estamos tomando nenhuma ati-tude com relação a ela, é provável que noslamentemos. Possivelmente muito. Comoisso afeta um relacionamento? Ninguémgosta de viver com alguém que se queixa— a menos que seja uma sessão de lamen-tações mútuas!

Quando tiramos dos relacionamentosas queixas com relação à dor, temos maisenergia para amar nosso marido, nossosfilhos e amigos. Quando cedemos à nossaprópria dor de uma maneira responsável,podemos, às vezes, dividi-la com os ou-tros, mas a dor não domina nossas con-versas. Nosso interesse pode estar no amorpela outra pessoa. Então, o relacionamen-to se intensifica.

Assim, descobrimos que a dor nãoprecisa ser um veneno para nossas vidas.Ela é uma experiência com a qual devemoslidar por meio de boas escolhas, só assimpodemos continuar nossas vidas, fazendoo que gostamos, amando os que amamos.

Um amigo e eu estávamos conversan-do um dia sobre o sofrimento. Ele tinha mais

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ou menos vinte e cinco anos quando ficousabendo que seu pai sofrera com doloro-sos problemas físicos por vários anos. Eleficou espantado porque lembrava-se do paiapenas como um homem carinhoso e feliz.Assustado, ele percebeu que todo aqueletempo em que seu pai fora tão afetuoso,estava com dor quase constante. Aflito, ofilho reclamou com o pai: “Por que vocênão me contou?”.

Calmamente, o pai respondeu: “É aminha dor; foi designada a mim. Não per-tence a você”.

A questão merece ser analisada.E as nossas escolhas com relação ao

medo?O medo, entre outros resultados inde-

sejáveis, tem a tendência de nos fazer ficarapegadas a ele. Mas, às vezes, realmenteprecisamos de um consolo momentâneo, enessas horas é ótimo pedir isso. Outrasvezes, podemos escolher lidar com nossosmedos sozinhas e não sobrecarregar nos-sos relacionamentos com eles. Se nossosmedos são crônicos e se ficamos depen-dentes de nossos maridos, então podemoster vontade de nos livrarmos dessa depen-dência e crescer, aprendendo a carregarnossos próprios medos.

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Como mencionei em um capítulo ante-rior, certos tipos de situações sociais sem-pre me apavoram. Há alguns anos, quan-do ainda tinha de escolher a auto-respon-sabilidade conscientemente, fiquei subita-mente sozinha no meio de pessoas quepareciam todas se conhecer. Eu não sabiao que fazer. Não conhecia ninguém. Omedo me dominou, como nos velhos tem-pos. Meu marido estava presente, mas es-tava alegremente ocupado com outra pes-soa.

Minha escolha: torná-lo responsávelpor me ajudar com o medo ou fazer issosozinha, com meus próprios dons. Escolhienfrentar o medo sozinha. Disse a meumarido que estava indo para o carro e queele podia me encontrar lá quando quisesseir embora. Quando cheguei ao carro, es-tava rígida com medos horríveis, mas fi-quei lá, sentada. Quando John chegou,descrevi meu pavor, deixando claro que oproblema não era com ele. Era comigo.

Quando chegamos em casa, penseicomigo alguns instantes. Então, ocorreu-meque ele poderia gostar de ser útil se eu nãoreclamasse e se conseguisse dizer-lhe o queiria ajudar-me. Depois, perguntei se ele sesentaria comigo no sofá e me abraçaria

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até que minhas emoções se acalmassem.Ele ficou feliz por fazer alguma coisa — eseus braços estavam maravilhosos.

E assim, aprendi: contanto que eu nãoo torne responsável por meus medos, eleme ajudará, se souber o que fazer.

É claro, à medida que o medo continuaa diminuir seu poder em minha vida, todosos relacionamentos melhoram. Quando ficomais livre, as pessoas gostam mais de mime eu gosto delas com muito menos expecta-tivas. Cada vez mais, nós nos transforma-mos em co-humanos, filhos de Deus juntos,mais carinhosos e menos defensivos.

A raiva é a próxima área na qual fa-zemos escolhas cruciais. Se estamos apren-dendo que a raiva é só nossa e não culpa-mos mais os outros por “nos deixar lou-cos”, já estamos vivendo a qualidade apri-morada de nossos relacionamentos.

Se não estamos vomitando raiva, sere-mos parceiros muito melhores em qualquercompromisso, desde o casamento até o re-lacionamento com a vizinhança. Se liber-tamos o nosso lugar no mundo da raiva,escolhendo não continuar com ela, entãoo ressentimento e a raiva desaparecem namesma proporção. O amor pode desen-volver-se com mais facilidade.

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E os sentimentos de desmerecimento?Se não temos respeito por nós mesmas, nãosomos capazes de ser companheiras deigual para igual nos relacionamentos. Nãoadministraremos bem nossa parte do rela-cionamento se estivermos prejudicadas porsentimentos de inferioridade.

Os sentimentos de desmerecimentopodem manter-nos afastadas do verdadei-ro amor. A capacidade de amar é a capa-cidade de nos enfrentarmos com honestorespeito. Amor não é necessidade. O des-merecimento nos deixa necessitadas; e,então, necessariamente, projetamos isso emnossos casamentos, em nossos relaciona-mentos, em nossas amizades. O respeitopor nós mesmas, por outro lado, faz comque sejamos capazes de respeitar e gostarde nossas famílias e de nossos amigos. Fazcom que sejamos capazes de amá-los semcondições — a única espécie de amor queirá mantê-los conosco para sempre.

A culpa tem o mesmo efeito que odesmerecimento nos relacionamentos. Ossentimentos de culpa e inferioridadefreqüentemente andam juntos. A culpa cro-nicamente oprimida vai achar difícil nãoexigir uma constante reafirmação de ummarido ou de um filho.

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O respeito por nós mesmas nos relacio-namentos aumenta muito quando reagimosaos nossos sentimentos de culpa, comosugerido no Capítulo Seis. Quando nós osenxergamos, escolhemos não ficar com elese aceitamos o perdão, abrimos nossos co-rações para o verdadeiro companheirismo.

Quando não sentimos culpa, é prová-vel que sejamos muito menos críticas comrelação aos outros. Descobrir imperfeiçõesprejudica os relacionamentos. Se queremosparar de encontrar defeitos, o ato de lidarcom nossa culpa certamente ajudará. Senão sentimos culpa, mas sim gratidão, nãonos sentiremos críticas, mas compreensivas.Qual marido, qual amigo não gosta decompreensão? Que relacionamento conse-gue se desenvolver sem ela?

Se temos bons relacionamentos, é pro-vável que a solidão não seja tão constantecomo se não tivéssemos nenhum. Aindaassim, a solidão crônica pode acontecer.Quando acontece, ela contamina os rela-cionamentos com uma necessidade quenunca é satisfeita. Nós nos tornamos bura-cos sem fundo nos quais nossas famílias enossos amigos poderiam atirar-se vinte equatro horas por dia e nunca nos preen-cher. Então, é importante para os relacio-

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namentos escolhermos fazer essas coisassozinhas, as quais transformarão a solidãoem um sentimento eventual em vez de crô-nico.

Expectativas? As expectativas da ou-tra pessoa são fatais em relacionamentos,especialmente no casamento e com os fi-lhos, ou com relação à família. Nossas ex-pectativas com relação aos outros os inti-ma. Eles devem defender-se de nós se de-sejam manter sua integridade pessoal. Issonão é bom.

Se queremos que nossos relacionamen-tos se sintam livres (para nós e para osoutros), desistimos das expectativas. Sim-plesmente as abandonamos. Nosso cora-ção pode adotar uma nova atitude: “Deixovocê livre de todas as minhas antigas ex-pectativas”.

Então, podemos praticar diariamenteo ato de olharmos para nosso marido comoutros olhos: “Fico imaginando como eleestará hoje. Que beleza posso descobrirnele hoje?”.

Quando, realmente, pensamos sobreisso, não é um prazer ter a outra pessoacomo nosso escravo. Então — pratique oato de desistir dessas expectativas. Nãosomente suas decepções irão desaparecer,

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mas novas aventuras se abrirão no relacio-namento. Haverá até espaço para surpre-sas. Elas manterão o relacionamento inte-ressante por muito mais tempo!

O Capítulo Nove deste livro pode serusado como um guia para nossa parte emqualquer relacionamento. Siga os passoslá resumidos. Use-os como uma lente atra-vés da qual se focalizam as limitações e asdádivas que você leva para os relaciona-mentos. Você irá descobrir novas avenidaspara a auto-expressão. Viverá sua partedo relacionamento de maneira diferente.Então, todo o relacionamento vai mudarem qualidade.

As pessoas nem sempre gostam demudanças. Alguns maridos não gostam quesuas mulheres mudem ou vice-versa. Mas,se as partes de qualquer relacionamentoestiverem dispostas a ser pacientes e mu-tuamente úteis nos tempos de mudança,podem ocorrer maravilhas. Você pode fa-zer com que seus relacionamentos ama-dureçam à medida que você amadurece.Relacionamentos maduros são mais re-compensadores, mais satisfatórios quequase tudo na terra. Eles merecem muitomais que o esforço necessário para de-senvolvê-los.

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Aqui, então, estão passos que vocêpode seguir para analisar a qualidade deseus relacionamentos e para ajudá-la adescobrir as escolhas que você quer fazer.Lembre-se, o poder de escolha é seu.

• Observe seus sentimentos por doisou três de seus relacionamentos mais im-portantes. Eles são o que você gostaria quefossem? Se não, qual é a sua parte na suaexperiência com relação a eles? (Lembre-se, isso é sobre você, não sobre o outro.)

• Escolha quais qualidades gostaria deter nos relacionamentos. Imagine as formaspelas quais você poderia expressar-se paralevar essas qualidades para suas experiên-cias em relacionamentos.

• Guarde seus projetos para você. Si-gilo é eficiência aqui.

• Controle-se. Tente não esperar que aoutra pessoa mude e procure não tomarparte nas mudanças do outro.

• Pergunte-se várias vezes: “Estou fa-zendo escolhas responsáveis e agindo deacordo com elas nesta interação?”

• Deixe a outra pessoa livre para serela/ele mesmo.

• Escolha ser você mesma primeiro.• Escolha respeito. Escolha amor.

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Sugestões de oração

Quando estamos concentrando nossasescolhas nos relacionamentos, é vital querezemos para enxergar-nos claramente. Éigualmente importante consultar Deus so-bre todas as nossas escolhas. Nunca con-seguimos conhecer inteiramente a outrapessoa. Deus nos guiará com o discerni-mento de que precisamos quando pedir-mos e ouvirmos sinceramente.

Então, precisamos rezar também pornossos companheiros no relacionamento.Quanto mais rezarmos pelo outro, maisfacilmente amaremos, e desejaremos me-nos atribuir nossas inadequabilidades ouexpectativas ao outro.

Quando rezarmos por nossos compa-nheiros, vamos rezar pelo caminho queDeus tem para eles. Vamos renunciar anossos próprios desejos. Em especial, nãodevemos rezar para que o companheiromude. Em vez disso, rezemos para que eleexperimente o amor, descubra a alegria,sinta paz, fique satisfeito interiormente.

Podemos rezar para que uma pessoaamadureça, mas devemos controlar-nospara não impormos a natureza dessecrescimento. Se não conseguimos manter

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as mãos de nossa mente afastadas da vidado companheiro, então é melhor rezarmosde forma mais geral pelo seu bem-estar,até que fiquemos mais saudáveis.

Também é bom rezarmos para que orelacionamento sirva aos objetivos queDeus tem em mente para nós mesmas epara os outros. Isso nos ajudará a conti-nuar honestas e humildes — ambasgrandes virtudes em relacionamentos!

Sugestões bíblicas

Eclesiástico 4,20-28Observa o momento oportuno e guar-

da-te do mal, sem envergonhar-te de timesmo.

Pois há uma vergonha que conduz aopecado; e outra, que é glória e graça.

Não sejas parcial contra ti mesmo, nemte intimides para tua ruína.

Não deixes de falar quando necessá-rio e não escondas a tua sabedoria por vãglória, pois é pelo raciocínio que se reco-nhece a sabedoria e, pelas palavras da lín-gua, a instrução.

Não contradigas a verdade mas sentevergonha da tua ignorância.

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Não tenhas pudor de confessar teuspecados nem te oponhas à correnteza dorio.

Não te rebaixes diante do insensato,nem sejas parcial em favor do poderoso.

Luta até à morte pela verdade e o Se-nhor Deus combaterá por ti.

Romanos 14,13Deixemos, pois, de nos julgar uns aos

outros. Cuidai, ao contrário, de não pôrtropeço diante do irmão ou de lhe dar es-cândalo.

Efésios 4,25-32Por isso renunciai à mentira. Cada um

diga a verdade ao próximo, pois somosmembros uns dos outros. Mesmo na raiva,não pequeis. Não se ponha o sol sobrevosso ressentimento. Não deis lugar aodemônio. Quem era ladrão, não torne aroubar, ao contrário, trabalhe seriamentepara realizar o bem com as próprias mãosa fim de ter com que suprir aos necessita-dos. Não saia de vossa boca nenhumapalavra má senão somente palavras boas,oportunas e edificantes, para fazer bem aosouvintes. Guardai-vos de entristecer o Es-pírito Santo de Deus com o qual fostes

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marcados para o dia da redenção. Afastaide vós toda dureza, irritação, cólera, gri-taria, blasfêmia e toda malícia. Sede antesbondosos uns para com os outros, compas-sivos, perdoando-vos mutuamente, comoDeus vos perdoou em Cristo.

Tiago 4,11Irmãos, não faleis mal uns dos outros.

Quem fala mal do irmão ou o julga, falamal da Lei e a julga. E se julgas a Lei, nãoés observador da Lei mas juiz.

Outras referências bíblicas para refle-xão são as seguintes:

Eclesiástico 6,5-17Romanos 14,13Tiago 3,2-12Eclesiastes 3,1-81Coríntios 12,1-26Tiago 5,7-9Provérbios 31,10-31Filipenses 4,4-9João 4,12-16Mateus 10,371João 4,19-21Tiago 1,19-21

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Para refletir

Se você está fazendo esforços paramudar por escolha própria, pode precisardividir isso com outras pessoas que apoia-rão suas escolhas. Isso é especialmente ver-dadeiro se as pessoas que estão mais pró-ximas de você estiverem apreensivas comseus novos rumos.

Reflita individualmente sobre estes tó-picos, dividindo-os com uma outra pessoade confiança, se surgir a necessidade:

• Quais qualidades quero ter em to-dos os meus relacionamentos?

• Quais são algumas escolhas que pos-so fazer e atitudes que posso tomar paraintroduzir essas qualidades em meus rela-cionamentos?

• Estou sendo verdadeira comigo mes-ma?

• Estou tendo amor pelos que são afe-tados por minhas escolhas?

• Quais são meus medos com relaçãoaos relacionamentos, se eu mudar?

• Qual a melhor forma para dominaresses medos?

• Eu me respeito neste processo? Res-peito igualmente os outros?

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• Minha situação é desafiadora demaispara que eu consiga dominá-la sozinha?Preciso de ajuda profissional?

• Estou mantendo um equilíbrio entrea mudança e o amor?

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CAPÍTULO ONZE

SAIBA DO QUE VOCÊ GOSTA

Posso nem sempre saber qual é o meuobjetivo, mas ele ficará claro quando eu

precisar saber. Comportar-me-ei exatamentecomo é de se esperar nesse momento.

Vicki Sears

Nada contribui mais para tranqüilizara mente do que um objetivo seguro —um ponto no qual a alma pode fixar

seu olho intelectual.Mary Wollstonecraft Shelley

Se estamos mudando, sozinhas ou no con-texto dos relacionamentos, descobrimoslogo que nossos próprios valores precisamficar claros para nós, antes que possamosescolher qualquer coisa para apoiá-los. Emoutras palavras, não conseguimos fazerescolhas inteligentes até sabermos o quequeremos. Descobrir o que queremos nemsempre é um projeto fácil.

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Uma vez, em um curso, pediram quenós, os participantes, fizéssemos uma listados seis aspectos de nossas vidas que erammais importantes para nós. Nós fizemos.Então, o líder nos pediu para escrever, aolado de cada item, quanto tempo dedica-mos a esse item nas últimas três semanas.

Foi uma revelação. Pensando em mi-nha vida diária por esta perspectiva, des-cobri que as áreas da vida mais importan-tes para mim foram, quase sempre, as últi-mas a receber atenção — ou receberam amenor atenção e esforço. Também aprendique não estava sozinha; estava com amaioria! A maior parte das pessoas — ecertamente a maioria das mulheres — vivialevada pelos ventos das circunstâncias epelos sonhos e necessidades das outraspessoas.

E você?Então, o primeiro passo para criar uma

vida que expresse seus valores, conserva-dos com tanto amor, é descobrir quais sãoesses valores. O que mais amamos? O quemais queremos? O que é mais importantepara nós?

Essa descoberta fica mais fácil quandoestamos com a atenção voltada para umobjetivo geral para nossas vidas. Esse, para

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algumas mulheres, é o primeiro passo paradescobrir o que querem.

Você sabe qual é o seu objetivo navida? Essa pergunta não significa: “Vocêsabe qual é o objetivo de Deus com rela-ção a você?”. Essa é uma pergunta sobreo seu objetivo, sobre a sua meta de vida.(Pode confortar algumas de vocês apren-der que o que mais desejamos para nós équase sempre o que Deus quer para nós.Não parece bom demais para acreditar-mos?)

Muitas mulheres sentem algo parecidocom isso: “Ah, eu faço várias coisas —cuido dos filhos, tomo conta da casa, amomeu marido, vou à igreja, sou voluntáriana comunidade. Mas são coisas que sóparecem estar ali. Não tenho um objetivoespecífico para minha vida”.

Apesar de exercer todos os vários pa-péis que uma mulher desempenha, geral-mente existe um objetivo mais importanteou um princípio dominante que sua vidaexpressa. Freqüentemente, tem relação coma qualidade ou com os valores que a mu-lher realmente tem. Ela pode nunca colo-car esse objetivo principal em palavras. Porser muito natural aos seus sentimentos, oseu objetivo verdadeiro pode parecer co-

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mum demais para ela. Se ela o colocar empalavras, pode dizer alguma coisa pareci-da com: “Por todos os caminhos por ondea vida me levar, quero ajudar a outra pes-soa a se sentir importante”. Ou, “Mesmoquando estiver ocupada, quero me lembrarde Deus”. Ou, “Meu objetivo sempre é pro-mover a felicidade de minha família e da-queles que encontro”.

Geralmente, esse objetivo é algo jáconhecido, que apenas deve ser descober-to e expresso conscientemente. Não tinhamuita certeza do meu próprio objetivo devida quando me deparei pela primeira vezcom essa pergunta. Senti medo, porqueparecia que eu estava usando muitas más-caras. Então, tentei descobrir uma caracte-rística básica em todas as minhas ativida-des, ou na maioria delas. Era um poucocomo procurar pelo “sentimento mais pro-fundo”, como descrito no Capítulo Um.

Finalmente, vi que meu objetivo de vidaé triplo: viver cada vez mais perto de Deus,praticar o amor e a paz em todos os rela-cionamentos e situações e servir para faci-litar o amadurecimento e a cura em mim enos outros.

Todos esses, juntos, são meus objetivos.Essas palavras expressam de forma resu-

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mida meus valores mais queridos. Antes dejuntar essas palavras e de ouvir o “Sim!”do meu coração para elas, sempre me sen-tia como se estivesse vivendo em Braille,confundindo meu caminho com decisões,sem uma visão clara.

Às vezes, a meta de uma pessoa assu-me uma forma muito concreta, tal como serum campeão nos patins ou um violinista.Sempre invejei essas pessoas porque, du-rante anos, meus próprios objetivos pare-ciam muito vagos, comparados com minhaimagem (quadro) de seus objetivos. Então,percebi que Deus dá a cada pessoa umobjetivo.

Quando observei com cuidado o obje-tivo que descobrira, sabia que o amava.Eu não o trocaria pelo de ninguém, mesmose pudesse. Seria como tentar partir meucoração em dois se tivesse de abandonaro objetivo que Deus já escrevera em meuser. Foi assim que soube que nosso próprioobjetivo é descoberto, não é inventado.

Uma vez esclarecidos os nossos objeti-vos, podemos começar a organizar nossavida e nossas escolhas em função deles. Essetambém é um processo passo-a-passo.

Comece pensando em seu objetivo efazendo observações para si mesma sobre

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ele. Tente escrever seu objetivo várias ve-zes. Reescreva-o até que ele se adapte bema você. Não o revele a mais ninguém atéque esteja satisfeita com ele. Afinal de con-tas, esse é o seu objetivo e de ninguém mais.Você não precisa impô-lo aos outros. Elejá está escrito em seus ossos.

O próximo passo é especificar os valo-res, princípios ou processos que já conhe-cemos e que ajudam nosso objetivo. Emmeu próprio caso, por exemplo, soube ime-diatamente que a oração diária ajudariameu objetivo. Um pouco de aprendizado etreinamento ajudaria meu objetivo. Minhaboa saúde ajudaria meu objetivo. Os bonsrelacionamentos eram o campo no qualmeu objetivo poderia ser exercido. Tambémvi que certas atitudes ajudavam meu obje-tivo. A fé, a responsabilidade pessoal porminhas experiências, o desejo de fazerminhas próprias escolhas, a receptividadepara amadurecer e mudar, a humildadediante de meus erros e fraquezas — todasessas eram as atitudes que me ajudariama expressar meu objetivo no mundo.

Quais valores ajudam o seu objetivo?Quais atitudes ajudariam o seu objetivo?

O próximo passo é tomar conhecimentoda forma como você está vivendo agora

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com relação ao seu objetivo. Isso significaanalisar como você realmente emprega seutempo. Uma maneira de fazer isso é regis-trar por escrito suas atividades a cada hora,por duas ou três semanas, para que apa-reça de forma clara para onde vai seu tem-po. Então, você pode pegar esse registro eobservar quais dessas atividades ajudaramseu objetivo nessas semanas.

Quando tiver uma definição segura doobjetivo e uma visão clara de como vocêvive normalmente, poderá dar o próximopasso: fazer uma lista de tudo o que con-seguir pensar a respeito do que pode fa-zer para cumprir seu objetivo.

Por exemplo, quando percebi que fa-vorecer a cura era parte de minha meta devida, também vi que não conhecia nadasobre isso. Era apenas um forte impulso emmeu coração. Minha lista de possíveis açõesincluía ler livros sobre vários tipos de cura,conversar com pessoas que trabalham comcura, fazer cursos sobre assuntos relacio-nados a isso, voltar à escola, rezar paraque tivesse orientação e oportunidades,estar disposta a praticar o pouco que jásabia — e partir para a ação. Estava sur-presa de quantos passos eu poderia dar. Ecada passo que eu dava, revelava mais

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possibilidades. Na verdade, grandes deci-sões surgiram de toda essa pesquisa.

Você pode saber de forma muito maisconcreta do que eu o que pode fazer paracumprir sua meta. Pode não precisar fazertoda a pesquisa de que precisei. Sua listapode ser do tipo que, quando tiver com-pletado cada passo, atinge seu objetivo.Isso é maravilhoso. O processo de cadapessoa será um pouco diferente.

No entanto, ele está sempre baseadoem três passos principais: conhecer suameta, saber como está vivendo agora e agirpara transformar sua meta em realidade.

Nesse processo, precisamos observarcomo tomamos decisões e decidir se que-remos continuar fazendo isso da mesmaforma. Aprendi, quando criança, a elimi-nar todas as pequenas coisas antes de co-meçar a fazer o que realmente queria egostava. Isso foi anos antes de eu perceberque essa atitude era retrógrada. As coisasde que gosto, que são mais importantespara mim, deveriam ter prioridade máxi-ma em meu tempo e em meus esforços. Eentão, quando puder, faço o resto.

Por exemplo, quando eu morava sozi-nha, parecia que estava eternamente ten-tando limpar a bagunça que havia feito no

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dia anterior e pela qual me sentia culpa-da. Quando percebi quanto tempo e ener-gia emocional eram desperdiçados nessaquestão, simplesmente coloquei o serviçode casa no final de minha lista de priorida-des. E lá ele ficou. Uma casa reluzente,artisticamente conservada não ajuda emnada meu objetivo de vida. (Nem uma casasuja, no entanto; então, no final, ela ficalimpa e arrumada.)

As decisões diárias (O que faço ago-ra? Quanto tempo devo gastar nisso? Devofazer isso ou aquilo?) podem ser tomadaslivremente de acordo com nossa meta e comos princípios que a apóiam.

Se você gosta de fazer planos (uma boaidéia quando muitas coisas acontecem deuma vez em sua vida), então planeje suaagenda em função das coisas que sãorealmente mais importantes para você, quedão a seu objetivo maior possibilidade deexpressão. Dedique suas melhores horasdo dia para seu objetivo, sua meta espe-cial. Deixe as coisas menores, porém ne-cessárias, esperarem pela hora em que suasenergias estiverem menores. Dedique maistempo às necessidades de sua meta do queàs trivialidades que podem às vezes ser tãoatraentes.

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Seu comportamento será diferente domeu. Reserve um tempo para analisar seupróprio comportamento. Respeite-o. Con-tinue com o que a ajuda e reorganize oudescarte o que não a ajuda a expressarseu objetivo de vida.

Sempre se lembre de que estar saudá-vel, física e emocionalmente, é necessáriopara a realização de qualquer meta navida. Certifique-se de que você inclui ativi-dades que favorecem sua saúde e o seubem-estar geral. A recreação também deveter o seu lugar para mantê-la equilibrada.Com a experiência, você saberá de quan-to tempo precisa para exercícios, diversão,trabalho, criatividade etc. O bem-estarespiritual deverá ser incluído. A oração,com certeza, ajuda nesse bem-estar. Inclua-a, também, e reserve um tempo para ou-tras práticas espirituais solitárias, se de-sejar.

Há momentos na vida de toda mulherem que as exigências da família, da comu-nidade, da Igreja ou dos amigos parecemabsorver cada minuto do tempo disponívele cada grama de energia. “Parece” é aexpressão exata, uma vez que essa situa-ção quase nunca é totalmente o caso. Nósnos sentimos divididas em muitas direções,

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com freqüência, porque não reivindicamosnenhuma vez nossa própria direção. Quan-do não estamos em contato com nossospróprios valores, facilmente nos deixamosser dominadas pelas necessidades dos ou-tros. Na realidade, ninguém precisa ter tudoo que quer o tempo todo — nem as crian-ças, nem os adolescentes, nem os maridose nem nós mesmas. Nós, mulheres, somosas que devem estar dispostas a impor limi-tes e fazer uma distribuição clara de nos-sas próprias energias e atenção. É umatarefa que ninguém pode fazer por nós.

Uma mulher que conheço fez isso damaneira mais simples possível. Ela comu-nicou à sua família que iria tentar uma ex-periência. Cada pessoa iria ter certo nú-mero de horas da semana dela e eles po-deriam decidir o que queriam fazer comessas horas. Ela decidiu o número paracada pessoa. (Seu marido teve o maior.)Para sua surpresa, depois de alguns pas-sos em falso, todos gostaram de decidir oque era mais importante entre ela e eles.Quando o tempo deles acabava, sabiamque teriam de esperar até a próxima se-mana.

O resultado mais estarrecedor para elafoi que, após algumas semanas de sua ex-

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periência um tanto arbitrária, todos elespassaram a ter um novo respeito por ela epelo tempo que tinham com ela. Ela nãotinha mais de impor limites a todo mundo,porque eles começaram a lhe perguntar seela tinha tempo e energia para dar a eles.E, pela primeira vez em anos, seu maridonão se sentiu mais prejudicado pelo tempoque ela dedicava aos filhos.

É claro, incluído neste plano de tempo-para-todos também estava o tempo diáriopara ela mesma. Foi isso que realmente fezo plano funcionar. Durante seu tempo parasi, suas escolhas favoreciam seu objetivode vida. Exceto por emergências reais, elaexpressou seus valores mais importantespara viver cada dia de um determinadomodo, mesmo que fosse só um pouco. “Fi-nalmente,” ela disse, “sinto como se tivesseminha própria alma”.

Experimente. Quando você souberpara onde quer ir, e onde está agora, des-cobrirá maneiras de chegar lá. É tão clarocomo a luz do dia! E é muito bom estardescobrindo e expressando a verdadeirarazão de ser da sua própria vida.

Então, aqui estão novamente os princi-pais passos para criar uma vida baseadanos valores que você mantém:

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• Formule seu próprio objetivo de vida.• Descubra os princípios e atitudes que

apóiam seu objetivo.• Saiba o que você mais quer e o que

mais valoriza.• Analise como você está vivendo ago-

ra com relação a seu objetivo, seus valorese seus desejos mais profundos.

• Faça uma lista dos possíveis passosque guiarão sua ação à medida que vocêse transforma para mudar sua vida.

• Observe seu próprio processo de to-mar decisões e o adapte para se adequara seu objetivo de vida.

• Organize sua vida em função de seuobjetivo.

• Faça os ajustes necessários em suasrespostas às exigências das outras pes-soas.

• Dedique algum tempo para si todosos dias e dedique atenção a seu objetivo,mesmo que sejam apenas vinte minutos.

• Aja! Comece agora.

Sugestões de oração

Reze para enxergar claramente seupróprio objetivo ou meta de vida. Reze para

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ver claramente como você está vivendoagora. Reze por discernimento para sabero que fazer com o que você tem descober-to. Reze para ter força, criatividade e de-terminação para fazer isso!

Dê graças a Deus por Ele lhe dar essebelo objetivo. Expresse o quanto você apre-cia o apoio de Deus quando começar asatisfazer conscientemente seu objetivo.

Sugestões bíblicas

Provérbios 25,16Se achaste mel, come quanto te basta,

para que não te enfasties e o vomites.

Eclesiástico 30,14-15É preferível um pobre, de constituição

sadia e vigorosa, a um rico, flagelado emseu corpo pela doença.

A saúde e a boa compleição valemmais que todo o ouro, e um espírito vigo-roso, mais que uma imensa fortuna.

Mateus 5,13Vós sois o sal da terra. Mas se o sal se

estragar, com que se salgará? Já não ser-

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virá para nada a não ser para ser jogadofora e pisado pelos homens.

Mateus 7,1-5Não julgueis e não sereis julgados. Pois

com o juízo com que julgardes, sereis tam-bém julgados; e com a medida com quetiverdes medido, também vós sereis medi-dos. Por que olhas o cisco no olho de teuirmão e não vês a trave no teu? Como ou-sas dizer a teu irmão: deixa-me tirar o ciscode teu olho, quando tu próprio tens umatrave no teu? Hipócrita, retira primeiro atrave de teu olho, e só então cuidarás deretirar o cisco do olho de teu irmão.

Filipenses 3,12Não pretendo dizer que já alcancei e

cheguei à perfeição. Mas eu corro poralcançá-la uma vez que também eu fui con-quistado por Cristo Jesus.

Outras possibilidades de reflexõesbíblicas são as seguintes:

Salmo 19,14Provérbios 5,15-17Mateus 13,44-46Salmo 25,16

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Provérbios 16,3Lucas 14,28-32Salmo 103,1-5Sabedoria 9,4-6Efésios 5,8b-17

Para refletir

Quase sempre, é mais útil escrever asmetas e objetivos que você escolheu parasi. Você pode querer registrar as respostasdessas perguntas:

• Quais são meus três desejos maisimportantes, mais profundos?

• Que pessoas, coisas, acontecimentosetc., são mais importantes para mim?

• Quais são meus valores mais bási-cos?

• Que mudanças eu gostaria de ter emminha vida?

• Que atitudes eu poderia tomar parair atrás da realização do meu objetivo?

• Que passo dei esta semana pararealizar meu objetivo?

• O que eu poderia fazer todos os diaspara atingir minha própria meta?

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CAPÍTULO DOZE

FAÇA A ESCOLHAPELO REINO DE DEUS

Há um plano divino do bem agindoem minha vida. Permitirei que ele continue

e que se desenvolva.Ruth P. Freedman

O mundo não pode ser descoberto por umaviagem medida em quilômetros... somente

por uma viagem espiritual...pela qual chega-mos ao chão que pisamos, e aprendemos a

estar em casa.Wendell Berry

Este livro enfatiza o poder que temos deescolher nossas próprias atitudes e nossaspróprias ações. Esse poder nos permitecriar a vida que queremos, deixar as atitu-des negativas morrer e as novas ficar for-tes e maduras. Esse poder da vontade é aessência de uma vida bela, se escolhermos

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colocá-lo para funcionar em nosso bene-fício.

Se você o está vivendo enquanto estálendo este livro, já terá feito descobertasmaravilhosas sobre o poder de sua pró-pria escolha, especialmente sobre suas ati-tudes e emoções. Os princípios aqui sãoverdadeiros. Eles dão uma qualidade mui-to superior a todas as nossas experiências.Os princípios realmente funcionam.Quando os colocamos em prática, elesmudam nossas vidas, como aprendi a par-tir de minha própria experiência.

Há um aspecto da nossa vida, um pou-co diferente de tudo o que discutimos atéaqui, que consiste em um relacionamentocom nosso poder de escolha. É nossa vidaespiritual, nosso relacionamento com Deus.

Em nosso relacionamento com Deus,nossa capacidade para escolhas pessoaisfica gradualmente subordinada a nossopotencial para responder de forma coerenteà orientação de Deus em nossos corações.Quando queremos viver cada vez maisperto de Deus, nossa visão de nossa pró-pria experiência de vida muda. Algumascoisas que pareciam vitais antes não pare-cem mais tão importantes. Outras coisasque praticamente não fazíamos ou que ra-

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ramente percebíamos tornam-se essenciaispara uma nova perspectiva da nossa vida.

As escolhas discutidas neste livro sãomais com relação a atitudes do que a cir-cunstâncias. Elas implicam uma vida deautopermissão, de auto-responsabilidade.São fortes e de muita responsabilidade. Sãoutilizáveis em quaisquer circunstâncias (anão ser em grandes traumas, quando apessoa pode precisar de ajuda profissio-nal). Todas as escolhas deste livro, referen-tes a atitudes, são compatíveis com nossacrescente experiência de Deus. Quandoescolhemos qualquer atitude que nos tornamelhores, estamos escolhendo uma postu-ra interior que abrirá nossos corações auma maior influência de Deus.

Quando queremos um relacionamentoprofundo com Deus, no entanto, as esco-lhas e o nosso relacionamento com a esco-lha, em geral, mudarão.

Primeiro, seremos convidados — comotodos os cristãos são — a fazer uma esco-lha fundamental e a subordinar tudo a essaúnica escolha. Ainda estou aprendendocomo isso funciona na vida, mas estou fe-liz por revelar o que já sei.

Começamos com as palavras de Jesusem Mateus 6,25-33. A escolha fundamen-

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tal a ser feita é se queremos ou não colo-car o reino em primeiro lugar.

Para fazer essa escolha, precisamoscompreender, como Jesus compreendeu,que o Reino (ou reinado) de Deus é, princi-palmente, uma maneira de viver no pre-sente, uma qualidade de vida que depen-de da união íntima e sempre intensa com oSenhor nesta nossa vida cotidiana, fami-liar. Isso acontece primeiro dentro de nós(assim como tudo mais que temos levadoem consideração) e depois se expressa emnossas circunstâncias, em nossos relacio-namentos, em nosso trabalho — em tudona nossa vida. O Reino de Deus sempreestá primeiro dentro de nós. Se ele não vivedentro de nós, não pode nos receber bemem nenhum outro lugar — nem mesmo nocéu.

Se escolhemos colocar Jesus e o Reinoem primeiro lugar, como podemos come-çar? Começamos admitindo que realmen-te queremos colocar Deus em primeiro lu-gar. Na verdade, não sabemos o que issoquer dizer e não sabemos como fazer isso.Então, rezamos. Rezamos várias vezes pordiscernimento e por caráter para realmen-te nos doarmos a este misterioso e maravi-lhoso Reino do coração repleto de Deus.

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Quando desejamos de verdade que estaseja nossa primeira e fundamental escolha,aos poucos somos conduzidos às descober-tas sobre como ela funciona e qual é a nos-sa parte.

Uma coisa é clara: a dedicação aoReino muda nosso relacionamento com opoder de escolha. Depois dessa primeiraescolha, todas as outras, pouco a pouco,passo a passo, estão submetidas às esco-lhas de Deus para nós. Nossa atitude setransforma mais na de um receptor volun-tário, grato, do que na de quem sabe comofazer as coisas acontecerem. Tudo o queaprendemos em nosso caminho até aquiserá útil, mas haverá um sentimento dife-rente e um resultado fresco, novo, inespe-rado. Deus não é previsível — mas Deus ésempre bom.

Então, confiando em Deus de uma novamaneira, nossa primeira resolução é dei-xar os resultados de todas as nossas esco-lhas estritamente a critério de Deus.

Geralmente, fazemos escolhas, tanto deações como de atitudes ou de objetivos evalores, baseadas em resultados supostos.Calculamos com base no que achamos quenossas escolhas se transformarão. Espera-mos que as coisas tomem certas direções.

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Se prestarmos atenção, quando nossas es-colhas estiverem satisfeitas, saberemos que,às vezes, elas se encaminham da maneiraque esperamos, e, às vezes, não.

Quando entregamos os resultados denossas escolhas a Deus, não escolhemosmais de acordo com resultados antecipa-dos. Escolhemos de acordo com o que ébom, talvez, ou com o que é amável, oucom a orientação que recebemos em nos-so coração. Fazemos a melhor escolha queconhecemos e então a entregamos a Deuse a deixamos de lado. Seus resultados vi-rão no tempo de Deus, de acordo com odesejo de Deus.

No princípio, pode ser como se esti-véssemos abandonando nosso poder pes-soal, novamente. No entanto, a experiên-cia mostrará que nosso poder pessoal con-tinua livre de uma nova forma.

Descobri que entregar os resultados deminhas escolhas a Deus revela muitas pos-sibilidades com as quais não sonhara. Deussempre tem mais opções do que consigoimaginar, e ele não hesita em criar outrasnovas! Essa se tornou uma das razões pelaqual gosto de uma vida economicamenteindependente — ela deixa todas as portasabertas para as respostas abundantes de

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Deus. Os resultados de Deus, às vezes,coincidem com o que posso ter imaginado,mas quase sempre eles são melhores,mais interessantes, mais amados e maissatisfatórios que minhas expectativas. Osresultados inesperados de Deus sempreme fortalecem de alguma maneira per-ceptível. Deus está sempre fazendo maisde uma coisa de uma só vez para minhamelhoria!

Um maravilhoso benefício, conseqüên-cia de deixar os resultados a critério deDeus, é a proteção. Mais de uma vez, fizuma escolha que poderia ter resultado emdesastre. Mas não resultou, pois Deus aconhecia melhor que eu. Mesmo quandoestou totalmente errada em alguma esco-lha, parece que Deus atenua as conse-qüências de minha falta de sensatez — seeu tiver entregue os resultados a Deus.

O que conseguimos para nós, temosde manter. Às vezes, os resultados não sãotão desejáveis. Mas, quando Deus os dá,eles sempre serão para nosso maior bene-fício. Deus é nosso maior benfeitor, quan-do o deixamos ser.

Quando entregamos os resultados denossas escolhas ao Senhor, a preocupaçãoe a insegurança reduzem muito. Elas po-

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dem não desaparecer completamente, por-que a preocupação e a insegurança sãohábitos emocionais. Elas têm força e tena-cidade consideráveis dentro de nós. À me-dida que ficamos mais abertas aos cami-nhos de Deus, esses hábitos gradualmentedão lugar à verdade, pois descobrimos, porexperiência, que Deus é totalmente dignode nossa verdade.

Aos poucos, começamos a ter um novosentimento profundo com relação à nossavida. Para muitas de nós, parece estranho,porque ele é completamente novo. É cha-mado satisfação.

Se Deus está tomando conta dos resul-tados de todas as nossas escolhas, entãopodemos relaxar e deixar as circunstânciasnos revelar a vontade divina em nossasvidas. Quando finalmente “conseguimos”,quando tudo o que chega até nós vem docoração carinhoso de Deus, nosso descon-tentamento se desfaz. Ficamos com os co-rações cheios de paz. A melhor parte é queum coração em paz é o lugar em que opróprio Deus gosta de viver.

Então, em vez de tentar freneticamentemanter o controle sobre todas as áreas denossa vida, aprendemos gradualmente afazer algo melhor. Aprendemos a nos en-

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tregar ao que nos é dado e ao que nos ésolicitado.

A entrega espiritual não significa pros-tração. Significa uma profunda disposiçãopara deixar Deus acontecer em todas aspartes de nós mesmas e em nossas circuns-tâncias. Nossa vida, gradualmente, não émais nossa. Pouco a pouco, nós a entrega-mos a Deus, colocando-a em mãos cari-nhosas que são muito mais poderosas quenossas escolhas jamais conseguirão ser.

Lembro-me do dia que subitamente tiveconsciência de que não estava mais “diri-gindo meu próprio show”. A mudança eratotalmente clara. A vida não parecia maisa mesma. Eu adoraria poder dizer que,naquele dia, desisti de todas as preocupa-ções com tudo e vivi sem resistência no ca-minho do Espírito Santo. Não tenho nadade santa — ainda. Estou no caminho certoe é a mais excitante viagem imaginável.

Ainda não quer dizer que eu recebotodas as situações sem um momento de re-sistência. Nem significa que não tenho de-sejos e não faço escolhas. Quer dizer que,bem lá no fundo, sei que minhas resistên-cias estão quase acabando, que meus de-sejos estão diminuindo em intensidade, eque minhas escolhas são coisas boas para

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se fazer, mas não muito importantes. SóDeus é muito importante.

Quando sinto resistência, logo que avejo, rezo para que seja dissolvida essadureza em meu coração. Quando um de-sejo controla minha mente e minhas emo-ções — e se consigo dominá-lo —, eu ovolto para Deus. É como se fosse: “Estedesejo apareceu, Senhor. Minha vida estáse tornando sua. Ofereço este desejo aoSenhor e me entrego agora aos seus resul-tados”. Quando faço escolhas, faço o me-lhor que posso, sabendo que toda a coisapoderá ser totalmente mudada de uma horapara outra.

Alguém pergunta: “Você sabe comofazer Deus rir?”. A resposta é: “Conte-lheseus planos”. Verdade. Então, em cima demeu confuso calendário na parede, tenhouma tabuleta: Faça Deus rir. Ela me lembrade que é minha tarefa fazer o melhor queposso, a maior parte do tempo que conse-guir. É tarefa de Deus produzir os resulta-dos — apesar de meu calendário!

Quando esses resultados aparecem,posso ou não me lembrar que eles vêm deDeus, dependendo do quanto estiver es-piritualmente alerta naquele dia! Porém,mais cedo ou mais tarde, acabo lembran-

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do — e então dou uma “festa da entrega”,e entrego todas as orações e acontecimen-tos para Deus. E enfrento qualquer coisaque me for dada.

Por exemplo, há um ano parecia claropara mim que o próximo grande passo emminha vida seria me transformar em umamassagista para que pudesse facilitar acura desta maneira. O estágio pelo qualme senti atraída parecia exigir que eu con-seguisse uma quantidade impossível de di-nheiro no tempo designado. Meu marido(aposentado) ficaria sozinho em casa pordois meses. Eu teria de ir para uma cidadeestranha (a 4.800 km de distância), encon-trar lugar para morar e usar os ônibus dacidade em vez de ir de carro todos os diaspara a escola. E uma viagem de avião,extraordinariamente cara, parecia inevitá-vel. Mas a atração que senti por este está-gio foi tão forte!

O que fazer? Escolhi dizer um grande,sólido “sim” para o estágio e me inscrevina escola. Agora, o resto dependia deDeus, porque, embora eu conseguisse pla-nejar, não conseguia realmente ver maisnada. Os resultados foram surpreendentes,e diferentes do que eu imaginara; então,tive de me submeter a cada um deles à

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medida que surgiam, abandonando meuspróprios planos maravilhosos.

O verão de estágio que Deus prepa-rou para mim incluiu uma viagem de carrocruzando o país com meu marido — e sualonga viagem de volta, de um mês, sozi-nho, que ele adorou; minha viagem de voltapara casa com uma amiga que precisavade uma segunda motorista; uma nova edeliciosa amizade com minha anfitriã pelametade do verão; e a outra metade do ve-rão morando com uma de minhas amigasmais queridas, que precisava de compa-nhia bem naquela época. Prêmio: nós mo-rávamos a duas quadras da escola e a cin-co do Oceano Pacífico! As questões de di-nheiro foram totalmente reorganizadasantes que o estágio acabasse, e voltei paracasa com tudo o que precisava e com umpouco de sobra para começar na profis-são de massagista. Nem em minhas supo-sições mais exageradas, nunca teria ima-ginado tudo isso!

Aos poucos, então, aprendemos a dei-xar nossas vidas transcorrer mais simples-mente, dia a dia, com corações entreguesaos desejos de Deus por nós. Eles são sem-pre mais que suficientes. Continuamos es-colhendo, especialmente nossas atitudes,

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mas a atitude básica que escolhemos é nosentregarmos ao amor de Deus. Isso deveser escolhido várias vezes até que se esta-bilize em nossos corações. Obviamente, émais provável fazermos isso por nós mes-mas, quando começamos nos entregandoàs pequenas coisas que não representamgrandes desafios para nossa vida. Deus éinfinitamente paciente; então, não há pressapara fazer tudo certo na primeira vez!

À medida que nos submetemos ao quenos é dado, também aprendemos a nossubmeter ao que nos é pedido. Existem al-gumas profissões que eu não gostaria deexercer nunca mais, por exemplo. Sou boanelas, mas gostaria de evitá-las. Ao quetudo indica até agora, Deus não concordacomigo. Meu trabalho continua sendo re-quisitado. Devido ao fato de ser Deus quemeu coração deseja, e de que essas esco-lhas vêm claramente dele (afinal, não façonada para encorajá-las!), eu digo sim.

Dizer sim a Deus significa dar o me-lhor de mim ao que me é solicitado. Esfor-ços mal direcionados, esforços que nãoreconhecem Deus nas ações, ou esforçosque não são oferecidos a Deus — essesnão são mais aceitáveis.

Render-se aos pedidos de Deus signifi-

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ca que nos tornamos instrumentos. Isso étudo. Humilhante? Suponho que sim. Masigualmente importante, é uma atitude sóli-da e segura. As tarefas não são mais rea-lizadas por nós. Elas são Deus fazendo al-guma coisa que ele quer que seja feito. Nóssomos, no máximo, servos submissos doamor divino.

É um desafio diário. Os resultados defazer isso, no entanto, aumentam exponen-cialmente o valor da vida. Na vida subme-tida, há mais liberdade do que se poderiaimaginar. Os méritos e culpas são redu-zidos, para que a equanimidade comecea crescer no coração. Equanimidade signi-fica que, na verdade, seremos capazes deviver tendo consciência de Deus todos ossegundos. Que amor isso trará!

Na vida submetida, existe mais poderpara criar o que é belo e eficiente em to-das as nossas situações. Assim como nãoconsegui planejar o último verão tão bemcomo Deus fez, todas as escolhas e con-sentimentos aumentam para o bem maiorde todos.

Na vida submetida, a gratidão fluicomo um rio constante, mudando com asestações, mas nunca seca. A alegria co-meça a viver no coração — para sempre.

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O amor e a paz também estão cada vezmais presentes em nossa experiência.

Não foi tudo isso que desejamos quan-do começamos a aprender a fazer nossaspróprias escolhas, a criar responsabilida-de em nossa própria vida?

E existe a experiência de Deus, a Fontede toda a beleza, de toda a alegria, detodo momento de paz e a Primavera detoda a vida, de todo o amor.

A realização mais estarrecedora naaventura, até agora, é que a vida submeti-da reconhece todo o esplendor como puradádiva. A pessoa faz o melhor que pode,mas depois tudo é refeito pelo Criador enos é dado como se nunca tivéssemos feitonada! Para isso, só precisamos de um co-ração aberto, cada vez mais submetido.Para um coração assim, praticamos o atode escolher as maiores atitudes que conhe-cemos — e entregar os resultados para oSenhor do universo.

Sugestões de oração

A oração que favorece uma vida sub-metida é mais ou menos assim:

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Que quer agora, Senhor?Não sei o que escolher, mas essa é a

minha melhor estimativa. Aqui está ela.Faça dela o que o Senhor quiser.

Tudo bem. Não tenho certeza se essaescolha é a que desejo, mas a aceitarei.Obrigada por mandá-la. Por favor, mos-tre-me como usá-la.

Puxa! É fabulosa, Senhor! Muitoobrigada! Muito obrigada! Muito obri-gada!

Sugestões bíblicas

Salmo 34,2-4Bendirei ao Senhor em todo o tempo,

seu louvor estará sempre em minha boca.Minha alma gloria-se no Senhor:escutem os humildes e se alegrem!Proclamai comigo a grandeza do Se-

nhor, exaltemos juntos o seu nome!

Salmo 37,3-7Confia no Senhor e faze o bem, habita

a terra e cultiva a fidelidade!Põe tuas delícias no Senhor, e ele reali-

zará os desejos de teu coração.

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Confia teu caminho ao Senhor e neleespera! Ele atuará, ele fará surgir tua justi-ça como a aurora, e teu direito como omeio-dia.

Descansa no Senhor e espera nele!Não te exaspere a sorte dos que pros-

peram nem a do homem que tece intrigas!

Salmo 37,23-24O Senhor firma os passos do homem,

em cuja senda se compraz.Se cair, não ficará prostrado, porque o

Senhor o sustenta pela mão.

Eclesiastes 7,13-14Observa a obra de Deus: Quem pode-

rá endireitar o que ele entortou?Em tempo de felicidade sê feliz!Em tempo de infelicidade, pondera:

Deus fez tanto uma coisa como a outra;por isso o homem nada descobre de seufuturo.

Mateus 7,7-11Pedi e será dado; buscai e achareis;

batei e será aberto. Pois todo aquele quepede, recebe; quem procura, acha; e a

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quem bate, se abre. Quem de vós, se ofilho lhe pede pão, lhe dará uma pedra?Ou se lhe pede um peixe, lhe dará umaserpente? Se vós, que sois maus, sabeis darcoisas boas a vossos filhos, quanto mais oPai, que está nos céus, dará coisas boasaos que lhe pedirem.

Filipenses 1,9-11Peço em minha oração que vossa cari-

dade se enriqueça cada vez mais de com-preensão e conhecimento, para que saibaisdiscernir o que mais importa e sejais purose irrepreensíveis para o dia de Cristo, cheiosdo fruto de justiça, que provém de JesusCristo, para glória e louvor de Deus.

Outras referências bíblicas para refle-xão incluem:

2 Samuel 22,21-31Isaías 55,1-3João 15,1-11Salmo 57,8-11Mateus 6,19-34Atos 10,9-16Isaías 40,3-5.28-31Mateus 25,14-30Filipenses 4,11-13

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Isaías 41,13Lucas 9,23-25.46-481João 3,18-22Isaías 49,15-16

Para refletir

Concentre-se em suas respostas indivi-duais a estas perguntas:

• Por que tento prever os resultadosantes de escolher a ação?

• Qual é minha resistência em me sub-meter?

• Por que não estou satisfeita?• Quero que o Reino de Deus seja mi-

nha prioridade máxima? Por que sim oupor que não?

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SUMÁRIO

Introdução........................................ 5

Capítulo 1Use seu poder de escolha .......... 11

Capítulo 2Não desperdice sua dor ........... 33

Capítulo 3Não deixe o medo decidirsua vida ................................. 55

Capítulo 4Canalize a raiva de maneiracriativa................................... 73

Capítulo 5Deixe as pessoas gostaremde você .................................. 95

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Capítulo 6Enfrente e descubrasua culpa ............................. 113

Capítulo 7Acabe com seu hábitode solidão ............................ 137

Capítulo 8Encontre os presentesescondidos na decepção ......... 149

Capítulo 9Conheça suas limitações ......... 163

Capítulo 10Escolha relacionamentosde qualidade ........................ 179

Capítulo 11Saiba do que você gosta ......... 209

Capítulo 12Faça a escolha pelo Reinode Deus ................................ 225

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