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“A Cooperação Internacional da Fiocruz na formação de recursos

humanos em saúde: os programas de pós-graduação”

por

Livia de Oliveira Pasqualin

Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre

Modalidade Profissional em Saúde Pública.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Carmo Leal

Rio de Janeiro, novembro de 2014.

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Esta dissertação, intitulada

“A Cooperação Internacional da Fiocruz na formação de recursos humanos em saúde: os programas de pós-graduação”

apresentada por

Livia de Oliveira Pasqualin

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Dr. Wilson Savino

Prof.ª Dr.ª Virginia Alonso Hortale

Prof.ª Dr.ª Maria do Carmo Leal – Orientadora

Dissertação defendida e aprovada em 03 de outubro de 2014.

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Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública

P284 Pasqualin, Lívia de Oliveira A cooperação internacional da Fiocruz na formação de

recursos humanos em saúde: os programas de pós-graduação. / Lívia de Oliveira Pasqualin. -- 2014.

viii,75 f. : tab. ; mapas

Orientador: Leal Maria do Carmo Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde

Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2014.

1. Cooperação Internacional. 2. Saúde. 3. Educação de Pós-Graduação. 4. Recursos Humanos em Saúde. 5. África. 6. América do Sul. I. Título.

CDD - 22.ed. – 362.1042

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Serviço de Gestão Acadêmica - Rua Leopoldo Bulhões, 1.480, Térreo – Manguinhos-RJ – 21041-210 Tel.: (0-XX-21) 2598-2969 ou 08000-230085

E-mail: [email protected] Homepage: http://www.ensp.fiocruz.br

A U T O R I Z A Ç Ã O

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a

reprodução total ou parcial desta dissertação, por processos

fotocopiadores.

Rio de Janeiro, 03 de novembro de 2014.

________________________________ Livia de Oliveira Pasqualin

/Fa

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"… porque en realidad, nuestro norte es el Sur. No debe haber norte, para nosotros, sino por oposición a nuestro Sur. Por eso ahora ponemos el mapa al revés, y entonces ya tenemos justa idea de nuestra posición, y no como quieren en el resto del mundo. La punta de América, desde ahora, prolongándose, señala insistentemente el Sur, nuestro norte."

Joaquín Torres García. Universalismo Constructivo, 1941.

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AGRADECIMENTOS

Neste momento que marca o fim de mais um ciclo, deixo alguns agradecimentos indispensáveis.

Primeiramente, agradeço aos meus pais, Luiz e Marisa, por tudo o que representam na minha vida e na minha formação, pelos exemplos como pessoas e profissionais, pelo

amor, auxílio e afeto de sempre.

Aos meus irmãos, André Luis e Mariana, e aos quase irmãos Juliana e Júlio, pela amizade, lealdade e por serem tão presentes e essenciais.

À pequena e amada Alice, que torna leves, alegres e descontraídos mesmo os dias mais

nublados.

Ao Tito, pelo amor, companheirismo e paciência. Por ser um porto seguro e me fazer querer ser sempre uma pessoa melhor. Sem seu apoio e motivação o caminho seria

certamente mais árduo.

A Prof. Dra. Maria do Carmo Leal, por aceitar esta orientação, pela competência, pelo auxílio, experiência e conhecimentos compartilhados, pela disponibilidade e dedicação

neste trabalho.

À coordenação e aos profissionais que ajudaram a realizar o mestrado em Saúde Global e Diplomacia da Saúde, por proporcionarem semanas intensas de constante aprendizado,

sem os quais nada teria se concretizado.

Aos colegas e companheiros do mestrado em Saúde Global e Diplomacia da Saúde, pela convivência, risadas desestressantes e cumplicidade ao longo desses dois anos.

Aos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, pela dedicação e

disposição em nos auxiliar nesta formação.

Aos funcionários e pesquisadores da ENSP, IOC e VPEIC, em especial aos muitos que, de forma solícita e cordial, foram essenciais durante a coleta dos dados.

Aos Professores Virgínia Hortale e Wilson Savino, que gentilmente aceitaram compor as

bancas de qualificação e defesa, pelas valiosas observações e sugestões.

À Direção e aos colegas da Seção de Apoio Institucional da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, por possibilitar minhas ausências e torná-las

menos tumultuadas.

A minha família carioca, Sandra, Henrique e Bê, pela acolhida, abrigo e por permitirem sentir-me em casa, serei eternamente grata.

A Lúcia Helena de Oliveira Pileggi pelas correções no texto.

A todos que colaboraram para a realização deste trabalho.

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RESUMO

PASQUALIN, L. O. A Cooperação Internacional da Fiocruz na formação de recursos humanos em saúde: os programas de Pós-Graduação. 2014. 75 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, 2014.

A cooperação técnica internacional é importante instrumento de desenvolvimento e auxilia países a promoverem mudanças estruturais, como forma de superar restrições que prejudicam seu crescimento e desenvolvimento. A formação de recursos humanos qualificados em saúde é um dos maiores desafios destes países, assim como a retenção e educação permanente destes profissionais. Uma das estratégias para diminuir estes efeitos, é a formação rápida e em larga escala de recursos humanos especializados na área da saúde, principalmente em nível de Pós-Graduação, que sejam capacitados para a inovação e pesquisa em saúde. As parcerias do Brasil com a África e América do Sul são frequentes e este estudo exploratório-descritivo buscou analisar os cursos de Pós-Graduação realizados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com parceira internacional. Foi pesquisada a trajetória da Cooperação Internacional da Instituição na área de formação em pós-graduação, modalidade mestrado, realizada com instituições em Angola, Argentina, Moçambique e Peru. Foi realizada pesquisa bibliográfica sobre formação de recursos humanos em saúde, ensino e avaliação da Pós-Graduação no Brasil e Cooperação Internacional. Também foi realizada coleta de dados com estratégia e análise documental para consecução parcial dos objetivos propostos. Os perfis dos egressos e títulos das dissertações foram objeto de análise. As iniciativas pesquisadas apontam que são programas heterogêneos, que apesar de apresentarem alto índice de conclusão, há experiências exitosas e outras que devem ser aprendizado para as iniciativas que terão continuidade e para as que podem surgir no futuro.

Descritores: Cooperação Internacional, Saúde, Educação de Pós-Graduação, África, América do Sul.

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ABSTRACT

PASQUALIN, L. International Cooperation by Fiocruz in human resources for health development: Graduate Programs. 2014. 75 p. Thesis (Professional Master’s) – Sérgio Arouca National School of Public Health, Oswaldo Cruz Foundation, Rio de Janeiro, 2014.

International technical cooperation is an important tool for development and supports countries to promote structural changes as a way to overcome constraints that impair their growth and development. The training of qualified human resources for health is one of the biggest challenges in these countries, as well as the retention and continuing education of these professionals. One of the strategies to lessen these effects is the rapid and large-scale training of specialized human resources in health, especially in graduate level, who are trained on health innovation and research. Brazil's partnerships with Africa and South America are frequent and this descriptive exploratory study investigates the graduate programs conducted by the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz) with international partnership. The path of the Institution on International Cooperation on master's training performed with institutions in Angola, Argentina, Mozambique and Peru was searched. Literature review on training of human resources for health, education, evaluation of Brazilian graduate studies and International Cooperation was held. Data collection with documental strategy and analysis for partial achievement of the proposed objectives was also performed. The profile of graduates and titles of the thesis were also analyzed. The initiatives surveyed indicate successful programs, high completion rates and continuity of some of the initiatives. The initiatives researched indicate that they are heterogeneous programs, which despite their high completion rate, there are successful experiences but also others that should be a lesson learnt for the initiatives to be continued and those that may arise in the future.

Descriptors: International Cooperation; Health; Education, Graduate; Africa; South-America.

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LISTA DE FIGURAS E QUADROS

Figura 1: O conceito de “Cooperação Estruturante em Saúde”: inovações conceituais e

operacionais....................................................................................................................10

Tabela 1: Dados demográficos e econômicos selecionados de Angola, Argentina, Brasil,

Moçambique e Peru............................................................................................37

Tabela 2: Índice de Desenvolvimento Humano de Angola, Argentina, Brasil,

Moçambique e Peru........................................................................................................38

Figura 2: Países com carência crítica de prestadores de serviços de saúde (médicos,

enfermeiros e parteiras)..................................................................................................40

Tabela 3: Densidade de trabalhadores da saúde por 1000 habitantes em Angola,

Argentina, Brasil, Moçambique e Peru..................................................................................39

Quadro 1: Universo de estudo.......................................................................................43

Tabela 4: Gasto anual per capita em saúde, gasto em saúde pelo setor público e esperança

de vida ao nascer em Angola, Argentina, Brasil, Moçambique e Peru..........41

Tabela 5: Egressos e alunos matriculados nos cursos de mestrado acadêmico realizados

em cooperação internacional com instituições em Angola, Moçambique, Argentina e

Peru.................................................................................................................................59

Tabela 6: Descrição dos cursos de mestrado acadêmico realizados em cooperação

internacional com instituições em Angola, Moçambique, Argentina e Peru.................62

Tabela 7: Características dos alunos dos cursos de mestrado acadêmico realizados em

cooperação internacional com instituições em Angola, Moçambique, Argentina e Peru

........................................................................................................................................64

Tabela 8: Temáticas das dissertações defendidas nos mestrados acadêmicos realizados em

cooperação internacional com instituições em Angola, Moçambique, Argentina e

Peru.................................................................................................................................67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABC - Agência Brasileira de Cooperação

AISA/MS - Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde do Ministério da Saúde

AOD - Ajuda Oficial para o Desenvolvimento

ANLIS - Administracion Nacional de Laboratorios e Institutos de Salud “Dr. Carlos G.

Malbran”

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEP - Comitê de Ética em Pesquisa

C&T – Ciência e Tecnologia

CI - Cooperação Internacional

CID - Cooperação Internacional para o Desenvolvimento

COBRADI - Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento Internacional

CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa

CRIS - Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz

CTI - Cooperação Técnica Internacional

CTPD - Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento

ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

FMI - Fundo Monetário Internacional

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IES – Instituição de Ensino Superior

IOC - Instituto Oswaldo Cruz

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MRE - Ministério das Relações Exteriores

MS - Ministério da Saúde

ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

OI - Organizações Internacionais

OMS - Organização Mundial da Saúde

ONGs - Organizações Não-Governamentais

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ONU - Organização das Nações Unidas

OPAS - Organização Pan-americana da Saúde

PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

PBDCT - Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

PECS - Plano Estratégico de Cooperação em Saúde

PED – Países em Desenvolvimento

PEC-G - Programa de Estudantes-Convênio de Graduação

PEC-PG - Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação

PG – Pós-Graduação

PIB - Produto Interno Bruto

PND - Plano Nacional de Desenvolvimento

PNE - Plano Nacional de Educação

PNPG – Plano Nacional de Pós-Graduação

PNUD - Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas

RHS – Recursos Humanos em Saúde

RINS - Rede dos Institutos Nacionais de Saúde

RMS – Relatório Mundial da Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

UNASUL - União de Nações Sul-Americanas

USAID - United States Agency for International Development

VDPDT - Vice-Direção de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP

VDPG - Vice-Direção de Pós-Graduação da ENSP

VPEIC - Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz

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Sumário

1. A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE ............................................................................................... 7

1.1 Justificativa ................................................................................................................. 8

1.2 Objetivo Geral .......................................................................................................... 13

1.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 13

2. RELAÇÕES INTERNACIONAIS, SAÚDE E EDUCAÇÃO: UM PONTO DE INTERSECÇÃO .......................................................................................................... 14

2.1 Formação de Recursos Humanos em Saúde ............................................................. 14

2.2 Ensino e Avaliação da Pós-Graduação ..................................................................... 17

PNPG 1975/1979 ....................................................................................................... 18

PNPG 1982/1985 ....................................................................................................... 19

PNPG 1986/1989 ....................................................................................................... 19

PNPG 2005/2010 ....................................................................................................... 20

PNPG 2011/2020 ....................................................................................................... 21

2.3 Cooperação Internacional em Saúde ........................................................................ 23

3. METODOLOGIA .................................................................................................... 27 3.1 Referencial Teórico-Metodológico .......................................................................... 27

3.2 Desenho do Estudo ................................................................................................... 28

4. ANTECEDENTES HISTÓRICOS: A FIOCRUZ E OS PAÍSES ESTUDADOS31 4.1 A atuação Internacional da Fiocruz .......................................................................... 31

4.2 Diferentes países, diferentes realidades .................................................................... 36

5. AÇÕES INTERNACIONAIS DA FIOCRUZ EM PROGRAMAS DE MESTRADO INTERNACIONAIS ............................................................................ 41

5.1 Mestrado em Saúde Pública – Angola...................................................................... 43

5.2 Mestrado em Biologia Celular e Molecular – Argentina ......................................... 47

5.3 Mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública – Argentina ................................... 49

5.4 Mestrado em Ciências da Saúde – Moçambique ...................................................... 51

5.5 Mestrado em Sistemas de Saúde – Moçambique ..................................................... 54

5.6 Mestrado em Saúde Pública – Peru .......................................................................... 56

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 59 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 68 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 71

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1. A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NA FORMAÇÃO DE

RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE

A formação de recursos humanos qualificados em saúde é um dos maiores

desafios dos países em desenvolvimento, assim como a retenção e educação

permanente destes profissionais.

Ao mesmo tempo em que muitos países adotam como prática o envio de

estudantes de pós-graduação para formação nos Estados Unidos da América e na

Europa, os benefícios desta realização são contrapostos pelos altos custos, pequeno

número de pessoas beneficiadas e especialização em tópicos que não necessariamente

são prioritários para a região de origem. Além disso, o risco de brain draini para países

com melhor remuneração e condições de trabalho é um agravante (SAVINO et al.,

2008).

Uma das estratégias para diminuir estes efeitos, que podem ser devastadores em

locais como o continente Africano, é a formação rápida e em larga escala de recursos

humanos especializados na área da saúde, principalmente em nível de Pós-Graduação,

que sejam capacitados para a inovação e pesquisa em saúde. Na maioria das vezes esta

formação se dá por meio de projetos de Cooperação Internacional, como no caso do

Brasil e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPs) e da América Latina,

que se beneficiam ainda da colaboração em pesquisa em saúde e troca de experiência

em saúde pública.

Embora fruto da cooperação internacional (CI), esta estratégia faz com que o

foco dos programas esteja centrado nas prioridades locais, permitindo não apenas a

expansão dos cursos de pós-graduação, mas também de pessoal qualificado para

pesquisa em saúde, que podem ser os catalisadores da estruturação e fortalecimento dos

sistemas de saúde de países em desenvolvimento (SAVINO et al., 2008).

Estas ações de Cooperação Internacional se enquadram na concepção de

‘cooperação Sul-Sul estruturante em saúde’ (ALMEIDA et al., 2010), baseada no

conceito de construção de capacidades para o desenvolvimento, que integra a formação

i Brain drain, traduzido para o idioma português como ‘Fuga de capital humano’ ou ‘Fuga de cérebros’, é a emigração de elevado número de profissionais instruídos ou especializados de um país, setor econômico ou área para outro em busca de melhores condições, normalmente devido a fatores relacionados à falta de oportunidades, riscos à saúde e baixa remuneração.

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de recursos humanos, fortalecimento organizacional e desenvolvimento institucional e

que será abordada neste estudo.

O foco dessa pesquisa é a atuação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na

formação de Recursos Humanos em Saúde (RHS), em nível de Pós-Graduação, por

meio da cooperação internacional desenvolvida pelo Brasil, especificamente com

Angola, Argentina, Moçambique e Peru, analisando suas características, similaridades,

diferenças, áreas de concentração e resultados parciais atingidos pelas ações até o

momento.

A pesquisa foi dividida em sete partes. O primeiro capítulo traz uma introdução

ao tema, que tem como objetivo fornecer uma visão geral do trabalho, fazer a

caracterização quanto ao objeto escolhido, sua contextualização, objetivos propostos e a

justificativa da pesquisa. O segundo capítulo apresenta as dimensões teóricas que

fundamentam a cooperação internacional, abordando ainda a formação de recursos

humanos, o desenvolvimento da Pós-Graduação no Brasil e o adensamento da CI em

saúde. Traz as considerações de pesquisadores e a atuação do Brasil em relação ao tema

focado. O referencial teórico-metodológico e o desenho do estudo são explicitados no

terceiro capítulo. Um breve histórico da Fiocruz e a contextualização dos países

abordados são objeto do quarto capítulo. O universo de estudo é apresentado na quinta

seção, com detalhamento dos programas pesquisados. O sexto capítulo traz os

resultados encontrados na análise dos programas em questão e busca responder às

perguntas colocadas ao início da dissertação por meio da discussão dos resultados. Os

comentários finais ocupam a sétima seção.

1.1 Justificativa

A atuação do Brasil na Cooperação Internacional vem sendo crescentemente

retratada na academia, na política e pela mídia, reflexo da expansão desta atividade da

qual até meados da década de 70 o país era majoritariamente beneficiário, e que a partir

de então passa a ser também contribuinte.

O Artigo 4º da Constituição Federal de 1988, que trata dos princípios que regem

as relações internacionais da República Federativa do Brasil, estabelece o fundamento

da “cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”, sendo a base legal

que sustenta as ações de cooperação técnica do governo Brasileiro (BRASIL, 1988).

Ainda assim, mais de duas décadas depois da promulgação da constituição, o país

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carece de uma lei que reja a prática da CI, o que muitas vezes dificulta e até mesmo

impede que ações sejam realizadas devido à falta de um marco regulatório.

O relatório da Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento Internacional

(COBRADI), publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pela

Agência Brasileira de Cooperação (ABC), apresenta os gastos dos órgãos da

administração pública federal em 2010. O documento evidencia crescimento e a

participação de mais de uma centena de órgãos do governo federal, entre ministérios,

autarquias, fundações e empresas públicas nas áreas de agricultura, educação, ensino

profissionalizante, saúde, meio ambiente, administração pública, transportes, energia,

saneamento, cultura e justiça, na realização da Cooperação Técnica Internacional (CTI)

entre o governo do Brasil e outros países em desenvolvimento. A área da saúde divide,

com a agricultura, educação e ajuda humanitária, a maior parte da aplicação de recursos

da Cooperação Sul-Sul do país (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA

APLICADA; AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2010).

A Cooperação horizontal representa uma alternativa ao modelo em que países

ricos do Norte auxiliam os mais pobres do hemisfério Sul, na tradicional Cooperação

Norte-Sul. Esta alternativa propõe vantagens mútuas às nações em desenvolvimento e

emergentes, assim como permite que ganhem papel mais relevante na diplomacia

global em questões econômicas e sociais (BUSS; FAID, 2013). Apesar da Cooperação

Sul-Sul ser prática recorrente entre países em desenvolvimento, o Brasil justifica sua

diferenciação pelo foco em ações sustentáveis em longo prazo e que desenvolvam as

capacidades dos países parceiros.

Documento técnico do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas

(PNUD) traz o conceito de ‘desenvolvimento de capacidades’ como alternativa às

ações de cooperação internacional desenvolvidas por mais de 40 anos que mostraram

resultados decepcionantes quanto ao impacto sustentável, a apropriação nacional e o

uso de tecnologias apropriadas.

A avaliação dos programas de ajuda, termo usado por alguns países e

organismos internacionais como sinônimo de cooperação internacional, revelou os

limites das abordagens de desenvolvimento institucional, incapazes de empoderar

indivíduos e fortalecer organizações. Muitas cooperações ‘tradicionais’, com práticas

definidas pelos doadores, dirigidas a especialistas e direcionadas pelo custo-benefício,

estão dando lugar a abordagens que promovam o controle, conhecimento e participação

locais, além da interação entre os diferentes atores e níveis de programas, grupos e

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organizações nacionais. Com este enfoque, a cooperação para o desenvolvimento tem

capacidade de promover a sustentabilidade em longo prazo e um ambiente que facilite

o desenvolvimento humano (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O

DESENVOLVIMENTO, 1997).

O PNUD define a construção de capacidades como “o processo pelo qual

indivíduos, organizações, instituições e sociedades desenvolvem habilidades

(individualmente ou coletivamente) para desempenhar funções, solucionar problemas,

estabelecer e alcançar objetivos” (PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DAS

NAÇÕES UNIDAS, 1997, p.2).

O termo “cooperação Sul-Sul estruturante em saúde”, baseado no conceito de

construção de capacidades para o desenvolvimento, é utilizado para qualificar a atuação

brasileira na área. O conceito é inovador, pois busca explorar as capacidades e recursos

endógenos existentes em cada país ao integrar formação de recursos humanos,

fortalecimento organizacional e desenvolvimento institucional, diferindo da tradicional

transferência passiva de conhecimentos e tecnologias (ALMEIDA et al., 2010).

Este conceito de cooperação se alinha aos princípios e práticas recomendadas

pelas Declarações dos Fóruns de Alto Nível sobre Harmonização e sobre a Eficácia da

Ajuda, realizados em Roma, Paris, Acra e Busan na última década.

Esta prática é essencial para o fortalecimento dos sistemas de saúde dos países

parceiros e é ilustrada na Figura 1. Ao mesmo tempo em que busca aprimorar as

capacidades locais, gerar conhecimento e promover o diálogo entre os diversos atores

envolvidos nas ações de cooperação em saúde, tem como fim possibilitar que estes

sejam os protagonistas das mudanças e liderem processos no setor saúde, inclusive

formulando a agenda de desenvolvimento da área (ALMEIDA et al., 2010).

Figura 1 – O conceito de “Cooperação Estruturante em Saúde”: inovações conceituais e

operacionais.

Fonte: ALMEIDA et al., 2010.

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Este conceito de cooperação completa-se pela combinação entre intervenções e

a promoção de diálogo entre os atores locais, com o intuito de que estes sejam

capacitados a assumir a liderança dos processos setoriais e das agendas políticas locais,

para que as ações de cooperação que buscam o fortalecimento das instituições

estruturantes do sistema possam contribuir para o fortalecimento dos sistemas nacionais

de saúde como um todo (FIOCRUZ, 2013).

Parte considerável dos projetos de cooperação do Brasil na África e América

Latina tem como meta criar ou fortalecer instituições estruturantes do sistema de saúde,

e para isto formam recursos humanos e os capacitam em pesquisa, ensino e serviços. A

Fiocruz, instituição vinculada ao Ministério da Saúde (MS), é a principal agente de

desenvolvimento e execução de cooperação em saúde do governo Brasileiro.

Entre estas ações, a vasta experiência da Escola Nacional de Saúde Pública

Sérgio Arouca (ENSP) e do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), unidades da FIOCRUZ, no

desenvolvimento e condução de programas de formação de RHS e programas de pós-

graduação tradicionais e de mestrado profissional no Brasil, permitiu à Instituição

adquirir qualificação e prática para iniciar a oferta de cursos de pós-graduação na

modalidade mestrado para parceiros internacionais.

Além da escassez e por vezes inexistência de oportunidades de pós-graduação

em temáticas de saúde nos países parceiros, os programas de cooperação realizados

pela Fiocruz são inovadores e têm como diferencial o fato de serem desenvolvidos nos

países de origem dos alunos, a fim de evitar o brain drain em geral ou mesmo a

migração dos egressos para os países ofertantes dos cursos. Ademais, têm como

clientela profissionais que já estão inseridos nos serviços de saúde, diferentemente de

programas tradicionais com concorrência aberta, e exigem o compromisso de que os

egressos permaneçam trabalhando em seus países de origem após a formação.

Nos últimos anos, parte considerável da cooperação Sul-Sul brasileira é voltada

aos países da América do Sul e África de língua Portuguesa, em especial devido ao

papel Brasileiro junto ao Conselho da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e

seu Plano Quinquenal de Saúde 2010–15, e papel no desenvolvimento do Plano

Estratégico de Cooperação em Saúde (PECS) da Comunidade de Países de Língua

Portuguesa (CPLP) (BUSS, 2011).

Buss e Leal (2009) enfatizam a atuação brasileira na diplomacia da saúde, no

contexto da cooperação Sul-Sul, como potência emergente global entre os países de

renda média, com priorização pela política externa brasileira de parceiros que façam

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parte de blocos regionais em que participa. Os autores destacam “a emergência da

‘saúde global’ e da ‘diplomacia da saúde’ como áreas da política externa e da

cooperação internacional, assim como campo disciplinar e de formação de recursos

humanos” (BUSS e LEAL, 2009, p. 2540).

A Fiocruz foi instituição pioneira no desenvolvimento de programas de

mestrado na África e América Latina, a fim de formar profissionais qualificados que

permanecessem no quadro das instituições de saúde pública de países destas regiões,

por meio de projetos de cooperação apoiados por instituições de fomento, organizações

internacionais e pelo governo Brasileiro. A presente pesquisa surge da necessidade de

se resgatar e investigar o processo de Cooperação Internacional realizado pela Fiocruz

na formação de recursos humanos em saúde em nível de Pós-graduação.

O histórico de oferecimento de programas para formação de RHS pela Fiocruz

em países em desenvolvimento, a parceria com instituições públicas destes países para

tal formação e qualificação em alto nível e o pioneirismo neste tipo de cooperação Sul-

Sul demandaram o resgate desta trajetória. A análise dos processos de negociação e do

percurso da cooperação internacional da Fiocruz nesse âmbito pode trazer lições

aplicáveis a outras realidades semelhantes.

O período de existência dos programas já permite a análise dos históricos de

negociação, das temáticas das dissertações, a continuidade dos programas e desafios

futuros. O público-alvo dos programas são funcionários que trabalham nos institutos

nacionais de saúde ou instituições similares, sendo que os cursos não são abertos a

qualquer interessado, o que os torna, neste aspecto, semelhantes aos programas de

mestrado profissional no Brasil, devendo haver relação com a atuação profissional no

setor público do país. Isto leva a pressupor que estejam sendo formados e qualificados

profissionais que permanecerão nos serviços e que contribuirão para o desenvolvimento

dos sistemas de saúde dos países.

Apesar de serem programas acadêmicos, como os mestrados tradicionais do

Brasil, os projetos guardam grande semelhança com o conceito de mestrado

profissional. Ainda que as regulamentações dos dois tipos de mestrado sejam

semelhantes, o Mestrado Profissional foi institucionalizado mais recentemente, sendo a

diferença fundamental o fato de ser temático, na maioria das vezes por demanda, e

voltado a pessoas que já estejam trabalhando nas áreas específicas do programa. Um

dos escopos desta modalidade é oferecer formação para profissionais que atuam em

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áreas sensíveis e auxiliar na resolução de problemas enfrentados no cotidiano de

trabalho (CAPES, 1998).

Pressupõe-se que os mestrados estudados não tenham sido assim denominados

devido ao desconhecimento do conceito pelos países parceiros e devido à

regulamentação recente, evitando qualquer tipo de dúvida por parte deles e de entraves

junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

órgão regulador dos programas de educação superior no Brasil.

Ainda que trabalhos anteriores sobre temas relacionados tenham sido

desenvolvidos, nenhum focou especificamente a trajetória da atuação internacional da

Fiocruz na formação de RHS com o oferecimento de programas de mestrado.

1.2 Objetivo Geral

Este estudo teve como propósito analisar a trajetória da Cooperação

Internacional da Fiocruz na área de formação de recursos humanos em saúde,

nomeadamente os programas de pós-graduação na modalidade mestrado realizados

com instituições em Angola, Argentina, Moçambique e Peru.

Com essa perspectiva, elaborou-se o problema da pesquisa nos seguintes

termos: Quais são e como se caracterizam as parcerias da Fiocruz, realizadas por

meio de cooperação internacional, na formação de recursos humanos em nível de Pós-

Graduação e quais os resultados alcançados por estas iniciativas?

1.2 Objetivos Específicos

Como objetivos específicos de pesquisa foram estabelecidos:

1. Descrever as ações internacionais da Fiocruz em programas de mestrado nos quatro países;

2. Discutir os antecedentes históricos que permitiram o desenvolvimento dos programas de mestrado realizados pela Fiocruz nos países estudados;

3. Verificar a percentagem de selecionados e o índice de conclusão do curso para inscritos e egressos;

4. Caracterizar o perfil dos atores (egressos dos cursos) quanto à idade, sexo, profissão e vínculo empregatício;

5. Descrever os temas das dissertações defendidas.

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2. RELAÇÕES INTERNACIONAIS, SAÚDE E EDUCAÇÃO: UM PONTO DE INTERSECÇÃO

A compreensão e análise dos projetos de cooperação brasileira para formação

de recursos humanos qualificados, no âmbito da pós-graduação, demandam o

conhecimento de conceitos nas áreas de relações internacionais, saúde e educação.

Assim, a revisão bibliográfica para esta pesquisa incluiu os temas Formação de

Recursos Humanos em Saúde, Ensino e Avaliação da Pós-Graduação e Cooperação

Internacional em Saúde.

2.1 Formação de Recursos Humanos em Saúde

Depois de algumas décadas afastado das prioridades da cooperação

internacional, o tema dos Recursos Humanos para a Saúde voltou à agenda no início do

século XXI, em especial após a publicação do Relatório Mundial da Saúde (RMS) 2006

pela Organização Mundial da Saúde (OMS), intitulado ‘Trabalhando juntos pela

saúde’. Antes disso, já no ano 2000, a organização afirmava que os RHS constituem a

mais importante das contribuições do sistema de saúde.

Nas décadas anteriores, medidas neoliberais impostas nos anos 80 e 90

restringiram o gasto público e significaram, em muitos países, a privatização e a

redução do quadro de pessoal dos setores sociais, incluindo a saúde, e afetaram serviços

estatais e privados.

O RMS de 2006 considera como profissionais de saúde todas as pessoas que

tem como dedicação principal ações com a intenção primordial de melhorar a saúde,

faz uma avaliação sobre a crise no mercado de trabalho global da área e traz propostas

ambiciosas para enfrentá-la. Revela uma carência estimada de quase 4,3 milhões de

médicos, parteiras, enfermeiras e trabalhadores de apoio em todo o mundo, com

escassez mais grave nos países mais pobres, especialmente na África subsaariana, onde

os profissionais de saúde são mais necessários. Concentrando-se em todas as fases da

vida profissional dos trabalhadores em saúde, da entrada à formação específica, do

recrutamento à aposentadoria, o relatório traça um plano de ação para a década seguinte

com o intuito de ajudar os países a construir sua força de trabalho na área com o apoio

de parceiros globais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006).

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O ex-Diretor-Geral da OMS, Lee Jong-Wook, resume, na introdução do RMS

2006, os principais problemas enfrentados globalmente na área dos RHS

Há uma escassez crônica de profissionais de saúde bem treinados. A escassez é global, mas mais agudamente sentida nos países que mais necessitam deles. Por uma variedade de razões, tais como a migração, doença ou morte de trabalhadores de saúde, os países são incapazes de educar e sustentar o pessoal de saúde que melhoraria as chances de sobrevivência e o bem-estar das pessoas. As pessoas são um ingrediente vital para o fortalecimento dos sistemas de saúde. Mas é preciso um investimento considerável de tempo e dinheiro para treinar profissionais de saúde. Esse investimento vem tanto das pessoas como de subsídios ou recursos institucionais. Países precisam que sua mão-de-obra qualificada permaneça de modo que sua experiência profissional possa beneficiar a população. Quando os profissionais de saúde partem para trabalhar em outros lugares, há uma perda de esperança e uma perda de anos de investimento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006, p. xiii, tradução livre).

O foco da OMS na área de recursos humanos atende à necessidade de buscar

alternativas para o fortalecimento da capacidade técnica e de liderança entre os

profissionais de saúde. Os RHS são afetados por questões como migração, desemprego,

distribuição geográfica, condições de trabalho e incentivos. Embora estas condições

devam receber atenção especial, são por vezes deixadas de lado em detrimento de

interesses políticos e redução de custos. As despesas com remuneração representam

normalmente parte importante dos gastos em saúde na maioria dos países. Além disso,

a mão-de-obra no setor é complexa, envolvendo grupos específicos de profissionais,

com papéis distintos, estruturas de formação e regulação próprias (DAL POZ, 2002).

A área de RHS envolve diversos atores, e na tomada de decisão é preciso

reconhecer e incorporar esta diversidade tanto no âmbito nacional como internacional,

o que inclui as associações de profissionais, conselhos, sindicatos, Organizações Não-

Governamentais (ONGs) e Organismos Internacionais (OIs).

Como exemplo do esforço na área, em setembro de 2007, durante a 27a

Conferência Sanitária Pan-Americana, a Organização Pan Americana da Saúde (OPAS)

ratificou a Resolução CSP27.R7, sobre as ‘metas regionais em matéria de recursos

humanos para a saúde 2007-2015’, que tem por objetivo apoiar o desenvolvimento de

planos de ação nacionais para RHS, para fortalecer a atenção primária e as capacidades

em saúde pública integradas, garantindo acesso a populações e comunidades

subatendidas (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2007).

Na mesma linha, o braço da OMS na África (WHO AFRO) tem realizado

esforços para ajudar os países na definição de suas políticas de RHS, e adotou na 48ª

Sessão do Comitê Regional da OMS para a África, em 1998, a Estratégia Regional para

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o Desenvolvimento de Recursos Humanos para a Saúde, na tentativa de criar uma

perspectiva regional no desenvolvimento de RHS. No entanto, com a adoção de

diferentes políticas, estratégias e planos na área por cada país, o Escritório, preocupado

com a lenta implementação da estratégia, publicou em 2006 um documento com

diretrizes para os países da região sobre as políticas e planos de RHS. Direcionado aos

agentes dos Ministérios da Saúde e outros órgãos competentes responsáveis pelo

desenvolvimento das políticas de recursos humanos, o documento fornece orientações

aos países da região para utilização na avaliação e desenvolvimento de análises,

políticas e planos estratégicos sobre a situação dos RHS (WHO REGIONAL OFFICE

FOR AFRICA, 2006).

Apesar destas e de outras iniciativas regionais específicas, os desafios do setor

são complexos e amplos e estão relacionados à deficiência de pessoal, modificações na

composição das equipes e nas habilidades exigidas para o trabalho em saúde,

oportunidades de acesso e desenvolvimento na carreira para as mulheres, incentivos

financeiros e não financeiros que melhorem a motivação e desempenho dos

profissionais, inadequadas condições de trabalho, moradia e educação permanente,

oportunidades de aperfeiçoamento e desenvolvimento profissional, isolamento

profissional, segurança no trabalho, flexibilidade de horários, entre outros (DAL POZ,

2002).

Há grande disparidade na densidade de profissionais de saúde nas diferentes

regiões do globo, entre países e dentro de uma mesma nação. A maior delas é entre os

países da Europa e da África, chegando a 10 vezes em média (ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DA SAÚDE, 2006). Alguns dados do capítulo quatro ilustram estas

desigualdades.

Em muitos países faltam informações completas sobre o corpo de trabalhadores.

Isto porque não existem subsídios nas bases de dados internacionais, como da OMS e

Banco Mundial, nem nas do próprio país. Estudo de Fronteira e Dussault (2010) nos

PALOPs evidencia que muitos Ministérios da Saúde têm pouca capacidade instalada

em áreas-chave das ciências da informação, como epidemiologia, demografia,

estatística, tratamento e comunicação de informação. Também relatam a falta ou

inadequada unidade administrativa no Ministério da Saúde responsável pela coleta,

gestão, análise, disseminação e utilização de informação em saúde, incluindo

informação sobre RHS. Estudos nestes países encontraram dificuldade em obter

informações sobre a formação de trabalhadores da saúde, seja por se tratar de área

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híbrida dos Ministérios da Saúde e da Educação, pela baixa prioridade, ou por haver

sistemas de informação pouco desenvolvidos ou inexistentes, o que dificulta estudos

sobre a previsão de formação de RHS, o planejamento de ações para impulsionar esta

capacidade e a tomada de decisões adequadas sobre a força de trabalho em saúde

(FRONTEIRA; DUSSAULT, 2010).

2.2 Ensino e Avaliação da Pós-Graduação

A partir da emissão do Parecer 977 (BRASIL, 1965) de 1965, pelo Conselho

Federal de Educação, se estabelece um novo nível no ensino brasileiro: a Pós-

Graduação (PG), destinada à formação de pesquisadores e docentes para os cursos

superiores, dividido em dois ciclos sucessivos, equivalentes ao master e doctor, do

modelo norte-americano, sendo este nível de estudos atribuição das universidades e não

de estabelecimentos isolados. Ocorrida durante o regime militar, a implantação da PG

brasileira reflete a opção por uma alternativa avançada de formação, doméstica e de

baixo custo, para a qualificação de professores de universidades federais, então em

expansão. A consolidação da PG brasileira teve apoio norte-americano, via Agência

Norte-Americana de Desenvolvimento Internacional (USAID), inclusive com a adoção

de elementos organizacionais extraídos de universidades de pesquisa naquele país

(HOSTINS, 2006).

A implementação de cursos stricto sensu buscava o “aprofundamento do saber

adquirido no âmbito da graduação, além da oferta de ambiente e de recursos adequados

para a livre investigação científica” (HOSTINS, 2006, p.135).

A pós-graduação pública brasileira é o nível de ensino com melhor avaliação na

educação nacional, fruto de alto investimento feito desde a década de 70, tanto em

infraestrutura quanto na formação e profissionalização dos pesquisadores. Além disso,

resulta da institucionalização de uma cultura de avaliação e de tentativas de

planejamento de seu crescimento e financiamento (FARIA FILHO, 2013).

Dentre os fatores que possibilitaram o desenvolvimento dos cursos de Pós-

Graduação brasileiros estão a regulação e avaliação sistemáticas de seus programas,

levada a cabo pela CAPES, com critérios coerentes para verificar a qualidade dos

cursos, infraestrutura das instituições e produção científica de alunos e docentes.

Além da concessão de bolsas e apreciação dos programas, no final da década de

70 a CAPES se torna responsável pela aprovação dos Planos Nacionais de Pós-

Graduação (PNPGs) que, com cinco edições até os dias atuais, traça as diretrizes da PG

brasileira.

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A análise dos Planos Básicos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(PBDCT), que vigoraram de 1973 a 1985, do Plano Nacional de Desenvolvimento

(PND) e PNPGs evidencia a evolução dos objetivos: da integração Indústria-

Universidade a uma maior harmonia entre o planejamento do país e aquele em Ciência

e Tecnologia (C&T).

Ao longo das últimas quatro décadas, o Brasil conquistou importantes avanços

quantitativos e qualitativos em relação aos cursos de pós-graduação, formação de

pessoal e produção científica. Tais resultados são atribuídos ao planejamento

estratégico realizado nas áreas de C&T e educação, de maneira coordenada entre os

Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, por meio da CAPES, CNPq

(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e FINEP

(Financiadora de Estudos e Projeto), com financiamento do Fundo Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O desenvolvimento dos planos nacionais que culminaram neste avanço permitiu

à Pós-Graduação do país adaptar-se aos novos desafios que surgiram quanto à formação

profissional e na tentativa de minimizar a concentração dos cursos da Região Sudeste

(LEAL, 2008).

Abaixo são sintetizados os conteúdos dos PNPGs, a partir de dados de Hostins

(2006), e Ministério da Educação (1975, 1982, 1986, 2005 e 2010).

PNPG 1975/1979

Elaborado enquanto vigorava o regime militar no país, o primeiro PNPG estava

articulado ao I PND e buscava expandir as universidades federais e consolidar a criação

da PG. O ideal nacionalista de construção de um “Brasil-potência” conduziu o governo

à articulação com dirigentes e representantes da comunidade científica e universitária

para a modernização da universidade e da C&T. Tinha como diretrizes institucionalizar

o sistema de PG, consolidá-la como atividade regular no âmbito das universidades e

garantir financiamento estável, elevar os padrões de desempenho e racionalizar a

utilização de recursos. Planejava a expansão da PG tendo em vista uma estrutura mais

equilibrada entre áreas e regiões do país, evitando disparidades regionais, com destaque

para a capacitação dos docentes das universidades, integração da PG ao sistema

universitário e valorização das ciências básicas. Buscou o rápido aumento dos

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programas de doutorado e implementou uma consistente política de PG, com a

avaliação pelos pares sob a coordenação da CAPES.

PNPG 1982/1985

Com a extinção do Conselho Nacional de Pós-Graduação, a CAPES ganha

reconhecimento formal como órgão responsável pela formulação do PNPG, assumindo

a responsabilidade pela elaboração do II PNPG e é reconhecida pelo MEC como a

Agência Executiva do Sistema Nacional de C&T. O Plano previa a formação de

recursos humanos qualificados para as atividades docentes, de pesquisa e técnicas,

visando ao atendimento dos setores público e privado, apoio aos programas em sua

infraestrutura, de modo a assegurar-lhes estabilidade e autonomia financeira.

O Plano deu ênfase à qualidade do ensino superior e da PG, com a participação

da comunidade científica, institucionalização e aprimoramento da avaliação. Foi

centrado na expansão da capacitação docente, com a melhoria da qualidade e

ressaltando o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica.

PNPG 1986/1989

O primeiro Plano da Nova República foi desenvolvido no contexto do início da

onda neoliberal, em que governos na Europa e Estados Unidos estabeleciam políticas

que causavam perdas nas esferas social, política e ideológica. Na América Latina,

universidades enfrentavam as pressões da demanda social, da abertura democrática, das

restrições financeiras e das mudanças ocorridas no ensino superior nos países

desenvolvidos.

O III PNPG, que estava articulado ao III PND, buscava a expansão significativa

da matrícula, diversificação da oferta e das fontes de financiamento. Surgem propostas

de mestrados profissionalizantes, alianças estratégicas entre agências internacionais,

governos e corporações. Destacava o desenvolvimento da pesquisa pela universidade, a

integração da PG ao sistema nacional de C&T e a necessidade de buscar soluções para

os problemas tecnológicos, econômicos e sociais. Almejava a articulação entre as

diversas instâncias governamentais e a comunidade científica, com a ampliação das

relações entre ciência, tecnologia e o setor produtivo.

A busca pela independência econômica, científica e tecnológica para o Brasil no

século seguinte é marcante, acompanhada da ideologia da conquista da autonomia

nacional, o que exigia a formação de RH de alto nível. Trazia tendências de

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diferenciação de ofertas, multiplicação de funções e tarefas, redefinição das relações

Estado-universidade e universidade-sociedade, com a transição do status da

universidade, de identidade pública (Estado do Bem-Estar) para a identidade mercantil

(Estado empresarial).

PNPG 2005/2010

Após um hiato de 19 anos, em dezembro de 2004, é lançado o quarto PNPG,

referente ao quinquênio 2005-2010, após ampla consulta a interlocutores qualificados

da comunidade científica e acadêmica.

De imediato, é reconhecida a importância da educação para o desenvolvimento

social e econômico, assim como o sucesso da PG brasileira, devido principalmente à

estreita participação da comunidade científica nacional e internacional na sua

construção (LEAL, 2008). O Plano buscava a expansão do sistema, de maneira a

atender as necessidades do país e da sociedade brasileira, continuando o aumento da

produtividade identificado nos anos anteriores.

O Plano previa, entre outras metas, investimento do Estado na consolidação dos

mestrados profissionalizantes, que foram reconhecidos por Portaria da CAPES de 1998,

em movimento para suprir a necessidade de profissionais com perfis de especialização

distintos dos tradicionais, demanda gerada pelas mudanças técnicas e transformações

econômico-sociais então em curso no país, sendo criada a modalidade Mestrado

Profissional (LANDAU, 2008).

O momento era também de um mercado competitivo emergente com

oportunidades educativas inovadoras, novos provedores oferecendo uma educação não

convencional, com diferentes atrativos, entre eles a universidade virtual e a corporativa.

Alguns programas criaram alianças regionais e internacionais e se submeteram a

processos de acreditação internacional para sobreviver nos novos espaços de

competência. Reforçava-se a aferição da qualidade da PG pela qualidade da produção

científica e tecnológica dos grupos de pesquisa e era valorizada a ida, de forma direta,

da Iniciação Científica para o Doutorado, além da interação da PG com o setor

empresarial.

O modelo de PG é flexibilizado a fim de permitir o crescimento do sistema,

com profissionais de perfis diferenciados para atender à dinâmica dos setores

acadêmico e não acadêmico. O Plano prevê a expansão do sistema em quatro vertentes:

a capacitação docente para o Ensino Superior, a qualificação dos professores da

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Educação Básica, a especialização de profissionais para o mercado de trabalho público

e privado e a formação de técnicos e pesquisadores para empresas públicas e privadas.

Ao mesmo tempo, observa-se que parcela significativa dos mestres egressos

exerce suas atividades profissionais em setores não acadêmicos, o que indica a

necessidade de retornar à flexibilidade prevista no modelo inicial, de modo a

contemplar demandas diferenciadas da sociedade. É incentivada a atuação em rede para

diminuir os desequilíbrios regionais na oferta e desempenho da PG e atender às novas

áreas de conhecimento.

Incentivam-se novos projetos de educação à distância que contenham propostas

inovadoras e substantivas, em áreas estratégicas, capazes de ampliar significativamente

a formação de RH qualificados e sua oferta para diversos setores da sociedade, com

destaque para a formação de PG de docentes do ensino superior e para a educação

básica, em especial.

Estimula-se a cooperação internacional por intermédio das universidades para

institucionalizar o intercâmbio entre alunos e professores. Este é o primeiro PNPG a

contemplar a atividade de cooperação internacional como parte de suas metas, que

naquele momento sugeria as seguintes modalidades de cooperação internacional:

intercâmbio recíproco de alunos e professores em projetos de pesquisa, bolsas-

sanduíche e estágios de curto prazo, compartilhamento na orientação de doutorandos

com pesquisadores atuando no exterior, apoio a estágio de pós-doutoramento para

jovens doutores e estímulo a parcerias e formação de redes de pesquisa na cooperação

Sul-Sul, como suporte à formação de recursos humanos em áreas prioritárias e de

interesse comum.

PNPG 2011/2020

O Plano vigente atualmente tem o desafio de manter os avanços alcançados e

permitir progressos muito maiores, uma vez que o Brasil figura agora como nova

potência emergente, com a perspectiva de se tornar a quinta economia do mundo neste

decênio, o que não virá sem mudanças profundas em segmentos importantes da área

financeira, com reflexos na geopolítica mundial e impactos em diferentes setores da

sociedade, inclusive no sistema educacional. O desenvolvimento econômico e social do

país deverá conduzir à formação de pós-graduados voltados para atividades extra-

acadêmicas.

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Quanto às avaliações, estas poderão adotar critérios que contemplem

assimetrias, especialmente no caso de mestrados localizados em regiões em estado de

desenvolvimento ainda incipiente. A avaliação dos programas de mestrado deverá

apontar se o programa em questão é acadêmico ou profissional, e os mestrados

profissionais não devem ser considerados nem concebidos como formação aquém da

dos mestrados acadêmicos e devem ser avaliados com a ajuda de parâmetros

específicos dentro do sistema de bolsas. A avaliação dos programas de natureza

aplicada deverá incorporar parâmetros que incentivem a formação de parcerias com o

setor extra-acadêmico, para a geração de tecnologia e formação de profissionais

voltados para o setor empresarial.

A última década teve grande aumento na formação de doutores e da produção

científica no país, incluindo aumento das citações de trabalhos publicados, resultado de

alto investimento no desenvolvimento científico. Elaborado em paralelo ao Plano

Nacional de Educação (PNE), o PNPG atual enfatiza a realização de avaliação do

sistema de PG pelos pares de diferentes áreas do conhecimento, sua natureza

meritocrática, define políticas e estabelece critérios para o financiamento dos

programas, associando reconhecimento e fomento. Destaca-se a relação entre PG e

educação básica como central, e a considera fundamental para o desenvolvimento

social, econômico e tecnológico do país (FARIA FILHO, 2013).

Quanto à cooperação internacional, o Plano identifica o avanço brasileiro no

credenciamento e avalição perante os países latino-americanos, fruto do trabalho de

décadas do CNPq e CAPES, e reafirma o potencial do país em contribuir com os

sistemas de PG dos países vizinhos, em especial quanto à avaliação e acreditação. O

Plano denomina como ‘internacionalização solidária’ a oportunidade que o país tem de

contribuir na PG e pesquisa de países da América Latina e Caribe, garantindo sua

liderança na formação de RH, na geração de novos conhecimentos e com sólida cultura

de inovação (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010).

Apesar de reconhecer o caráter político da estratégia e seu papel no

desenvolvimento econômico, o Plano recorda a perspectiva solidária desta

internacionalização com os países vizinhos e com os PALOPs, sendo pautada pelo

respeito à diversidade e reciprocidade. No âmbito prático, as ações incluem programas

consorciados com foco em problemas comuns, ou em que um país tenha tido êxito e

que possa contribuir para o avanço do outro.

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Ainda no âmbito da solidariedade internacional, há mais de três décadas o

Governo brasileiro mantém o Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação

(PEC-PG), criado oficialmente em 1981 com o objetivo de dar a possibilidade a

cidadãos oriundos de países em desenvolvimento de realizar estudos de PG no Brasil,

contribuindo para a formação de recursos humanos nestes países. O Programa,

administrado pelo (Ministério das Relações Exteriores) MRE, CAPES e CNPq,

oferece bolsas de estudo para cidadãos de países em desenvolvimento que possuem

acordo de cooperação cultural ou educacional com o Brasil para formação em cursos de

mestrado e doutorado em Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras. Os

beneficiados são contemplados com vaga isenta de pagamento em IES brasileiras

recomendadas pela Capes, bolsa mensal no mesmo valor que a oferecida aos estudantes

brasileiros e passagem aérea de retorno ao país do estudante estrangeiro (MINISTÉRIO

DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2014).

Entre 2000 e 2013 foram selecionados mais de 2.000 estudantes para o

Programa. Em torno de 75% das candidaturas vem de países das Américas, com

destaque para Colômbia, Peru e Argentina, enquanto os países africanos respondem por

cerca de 20% das candidaturas, principalmente de Moçambique, Cabo Verde e Angola.

Atualmente 56 países participam do PEC-PG, sendo 24 na África, 25 nas Américas e

sete na Ásia. Em 2013 foram recebidas 596 candidaturas e concedidas 226 bolsas, 105

para mestrado e 121 para doutorado.

Este breve histórico permite perceber a evolução ocorrida nos diferentes PNPGs

e a ênfase colocada na internacionalização da pós-graduação e da ciência no Brasil ao

longo dos últimos anos. A cooperação internacional na área pode ser entendida também

como sinal de amadurecimento do sistema de PG brasileiro, que atualmente pode

fomentar a criação de programas para público internacional, em parceria com

instituições estruturantes, com o objetivo de que estes parceiros experimentem

evolução semelhante à ocorrida na PG brasileira.

2.3 Cooperação Internacional em Saúde

O surgimento da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID) no

sistema internacional após a Segunda Guerra Mundial não foi fruto apenas de

motivações humanitárias ou éticas, mas consequência de uma conjuntura geopolítica

originada pela divisão bipolar do mundo. Sua existência está relacionada às mudanças

produzidas pelos processos de descolonização, principalmente ao final da década de

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1970, e de uma configuração mundial onde havia disputa de poder em zonas de

influência pelas duas potências, EUA capitalista, e URSS socialista (AYLLÓN, 2007).

Os conflitos Leste-Oeste e Norte-Sul, os processos de descolonização e a

dinâmica da globalização foram determinantes para o surgimento e adensamento das

relações de cooperação internacional. No entanto, as condições existentes durante a

Guerra Fria fizeram com que a cooperação nascesse com uma relação entre doador e

receptor já de desigualdade, na qual muitas vezes os interesses do doador eram

priorizados em detrimento das verdadeiras necessidades de desenvolvimento do

beneficiário, que alguns autores denominam ‘fabricação de demanda’ (AYLLÓN,

2007; MAGALHÃES, 2009).

Ademais, os recursos destinados por organizações multilaterais, em sua maioria,

eram controlados por países desenvolvidos, e atendiam aos interesses destes, conforme

a balança de poder presente no sistema internacional à época da Guerra Fria.

Em 1955, buscando fugir desta lógica e efetivar acordos de cooperação que

realmente promovessem o avanço social dos povos mais necessitados, muitos países do

hemisfério Sul iniciaram o Movimento dos Não-Alinhados, defendendo a

indispensabilidade do desenvolvimento econômico para se estabelecer um estado de

bem-estar social para as populações daqueles países. Apesar de uma maior

disseminação da cooperação a partir daí, ainda prevalecia a ideia de ajuda ou

assistência internacional, de uma via doadora, como se ações paternalistas fossem

solucionar os problemas dos países receptores (MACIEL, 2009).

As reivindicações dos países do Sul por uma cooperação além da ajuda com

interesses político-estratégicos, que fosse uma troca benéfica para ambos os lados e

atendesse aos interesses mútuos, fez com que a ONU revisse o conceito de assistência

técnica, possibilitando o aprendizado pelas trocas, fosse entre países de igual nível de

desenvolvimento ou não.

Assim, pouco mais de uma década depois de sua criação, em 1959, a

Assembleia Geral da ONU, por sua Resolução 1.383, substituiu o primeiro termo

utilizado, assistência técnica, por cooperação técnica, que melhor representava uma

relação de trocas e interesses mútuos entre as partes.

Na América Latina, na década de 1970, surgiu um novo modelo de CI, que

objetivava a aproximação entre países com nível semelhante de desenvolvimento e foi

denominada Cooperação Horizontal, Sul-Sul, ou Cooperação Técnica entre Países em

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Desenvolvimento (CTPD), que buscava a transferência de experiências dos países em

desenvolvimento mais avançados para os menos adiantados (GLOSSÁRIO, 2009).

Esta troca de experiências beneficia não somente os países menos

desenvolvidos, mas também aqueles que ‘ajudam’, pois estes adquirem contatos,

experiência e conhecimento. Segundo Amorim (1994), isto se explica porque quando

não há um grande desequilíbrio entre os parceiros, a cooperação “quando efetivamente

baseada em complementaridade de recursos e objetivos similares, surge, assim, como

um elemento importante da própria política nacional de desenvolvimento científico e

tecnológico” (AMORIM, 1994, p.161).

Esta modalidade de cooperação se consolidou em 1978, na Conferência da

ONU sobre CTPD, evento que teve por objetivo aumentar a capacidade dos países

participantes de solucionar seus problemas de crescimento, aumentar a troca de

experiências, o diálogo político e identificar alternativas comuns entre países do

hemisfério Sul. Desta forma, a CTPD foi reconhecida como um instrumento para o

desenvolvimento dos países periféricos, nascida dos problemas sociais e econômicos ali

existentes e visando à união dos esforços na construção de um novo Sistema

Internacional. Entende-se, portanto, a CTPD como uma iniciativa pactuada de comum

acordo entre as duas pontas da cooperação.

Nas últimas décadas do século XX, a emergência de novos líderes globais como

Rússia, Brasil, China e Índia, criou uma oportunidade de recuperação do espírito da

CTPD, já que tais líderes, através de suas experiências vividas, possibilitam uma

cooperação que não é nem de dominação, nem de caridade (GLOSSÁRIO, 2009).

Este adensamento da cooperação, com especial protagonismo dos países

emergentes, trouxe consigo temas da agenda social para a política externa, com ênfase

na saúde, educação e desenvolvimento social.

A Cooperação Internacional na área da Saúde, por sua vez, teve princípio na

década de 1950, quando começou o financiamento de programas para o combate de

doenças específicas, sob o nome de Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD). A AOD

sofreu mudanças após a Guerra Fria, quando o papel da ONU foi questionado e iniciou-

se a Cooperação Internacional conduzida por agências, de maneira descentralizada.

A literatura destaca que a saúde está entre as áreas de maior concentração da

cooperação técnica brasileira, nos âmbitos multilateral e bilateral, principalmente em

áreas em que o país possui experiência e níveis de excelência internacionalmente

reconhecidos (MAGALHÃES, 2009).

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26

Por meio de parceria desenvolvida entre o MRE e o MS, o Brasil se tornou

grande difusor da cooperação técnica em saúde, principalmente nos Países em

Desenvolvimento (PED). Um dos fatores que contribui para isso é a experiência de

instituições de excelência em saúde no país, como a Fiocruz, além de programas

nacionais bem sucedidos desenvolvidos pelo MS (AGÊNCIA BRASILEIRA DE

COOPERAÇÃO, 2007).

A área da saúde está entre os setores prioritários para o Governo Brasileiro na

cooperação horizontal, assim como a América do Sul e os PALOP, em especial durante

o Governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que focou em uma política de

solidariedade e de fortalecimento dos laços Brasil-África e Brasil-América do Sul.

Segundo afirmou o Embaixador Marco Cesar Naslausky, Diretor da ABC entre 2001 e

2003, quando questionado sobre os objetivos pré-estabelecidos e as áreas geográficas e

temáticas de atuação prioritárias definidas pela diplomacia brasileira para a CTPD: “No

plano geográfico, a América do Sul, a África (PALOP) e Timor-Leste. No plano

temático eram os campos mais tradicionais de atuação brasileira: agricultura, saúde...”

(IGLESIAS PUENTE, 2010, p.325).

Como ocorre em outras áreas, os foros internacionais especializados em saúde,

como a OMS e a OPAS, por exemplo, fazem recomendações a serem adotadas e

aplicadas pelos países. No entanto, problemas de saúde cada vez mais globais, como a

disseminação de doenças emergentes ou re-emergentes, a necessidade de aumentar e

organizar a ajuda humanitária, a urgência política de compromissos internacionais,

como os ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) e, mais recentemente, os

ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), o acesso de medicamentos e

vacinas, entre outras prioridades, urgem um tipo específico de ação, disciplinada pela

Diplomacia em Saúde. Apesar da ocorrência da ação diplomática na saúde não ser

recente, nas últimas décadas são vistas ações concretas realizadas como efetivação do

discurso ‘anunciativo’ desta política (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO,

2007).

As ações internacionais do MS são coordenadas pela Assessoria de Assuntos

Internacionais (AISA) numa tentativa de conciliar as Políticas Nacionais de Saúde e os

interesses da Política Externa, uma vez que, como publicado pela ABC ela

encara a cooperação técnica como um importante instrumento de promoção das relações externas, bem como de apoio ao seu desenvolvimento. É por meio dos programas e projetos de cooperação técnica que o Brasil transfere, não comercialmente, experiências e

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conhecimentos bem sucedidos e de caráter técnico para outros países. Os projetos de cooperação técnica não preveem a transferência de recursos financeiros, abrangem apenas atividades de consultoria, formação de técnicos e multiplicadores, treinamento e transferência de tecnologia/conhecimento (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2007, p.3).

A literatura aponta a importância da participação popular dos beneficiados pela

cooperação na concepção e implementação dos projetos. As agências de cooperação

têm reconhecido, após décadas de assistência paternalista, que é necessário prover a

população com meios para seu desenvolvimento, ao invés de optar pelo simples

assistencialismo em detrimento da transferência de tecnologia e conhecimentos, ainda

que elementares, às populações dos países parceiros (LANDAU, 2008).

Na área da saúde, a cooperação horizontal promovida pelo Brasil nos PALOP

foca áreas consideradas de experiência comprovada do MS do Brasil, incluindo a

formação de RHS. As parcerias com a América do Sul também são prioritárias, uma

vez que fazem parte da Política Externa com a UNASUL. O modelo de cooperação em

saúde do bloco, estabelecido na ‘Agenda de Saúde Sul-Americana’, aprovada em 2009,

visa a fortalecer os sistemas e serviços de saúde e suas instituições estruturantes, e

avançar no desenvolvimento de RHS (ALMEIDA et al., 2010).

3. METODOLOGIA

3.1 Referencial Teórico-Metodológico

Ao lado de outras formas de conhecimento, a ciência busca significados para a

existência individual e coletiva, para os fenômenos físicos, biológicos e sociais. Com

uma linguagem fundamentada em conceitos, técnicas e métodos, a comunidade

científica busca a compreensão do mundo, das relações, dos processos e dos

acontecimentos, com o fim de verificar suas causas, prever os eventos delas resultantes

e verificar a interdependência destes com outros fatos (MINAYO et al., 1994).

Apesar de nenhuma teoria conseguir explicar ou compreender todos os eventos

e processos, segundo Minayo et al. (1994) é este conhecimento anterior que lança luz

sobre questões das pesquisas em andamento, sendo explicações parciais da realidade.

As teorias contribuem para melhor esclarecer o objeto de investigação, auxiliam no

levantamento das questões, do problema, das perguntas e das hipóteses, permitem

maior clareza na organização dos dados e iluminam sua análise.

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28

Segundo Minayo et al. (1994), os fundamentos da pesquisa quantitativa nas

ciências sociais são os mesmos princípios utilizados nas ciências da natureza, de que o

mundo social opera de acordo com leis causais, o alicerce da ciência é a observação

sensorial e a realidade consiste em estruturas e instituições identificáveis enquanto

dados brutos (reais) e como crenças e valores (dados subjetivos compreendidos através

dos primeiros).

Enquanto os positivistas defendem a suficiência do método quantitativo para

explicar a realidade social por sua objetividade, capaz de expressar generalizações com

precisão, a Sociologia Compreensiva prega que a tarefa central das ciências sociais é

compreender a realidade humana vivida socialmente, sendo o significado o conceito

central de investigação. Para os pesquisadores que seguem a última corrente, o

importante é compreender e explicar a dinâmica das relações sociais, com suas crenças,

valores, atitudes e hábitos, por meio da compreensão da linguagem, das práticas e das

coisas que resultam da ação humana (MINAYO et al., 1994).

Como crítica ao Positivismo, argumenta-se que é restrito ao que pode ser

observado e quantificado para conhecimento da realidade social. Quanto à Sociologia

Compreensiva, as críticas enfatizam o empirismo e subjetivismo dos pesquisadores,

confusão entre o que é percebido e escutado com a verdade científica, e o envolvimento

emocional do investigador com seu campo de trabalho.

São os procedimentos metodológicos que norteiam o caminho a ser trilhado

pelo pesquisador para alcançar resultados legítimos frente à complexa realidade. Esta

seção apresenta os procedimentos metodológicos adotados nesta dissertação, incluindo

a caracterização da pesquisa, o universo de estudo, a coleta e análise de dados.

3.2 Desenho do Estudo

Para analisar a trajetória da Cooperação Internacional da Fiocruz na área de

formação de recursos humanos em saúde foi realizada pesquisa exploratório-descritiva,

já que o interesse estava voltado para a compreensão de um determinado processo

social, as relações estabelecidas historicamente e ao desenvolvimento dos programas

examinados, busca-se maior conhecimento sobre o tema da pesquisa e há escassez de

estudos acerca do objeto investigado.

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29

Ressalta-se que as investigações exploratórias são aquelas que têm como

objetivo explicitar e proporcionar maior entendimento de um determinado problema,

como explicitado por Gil (2008), tais estudos

têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...] e habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso (GIL, 2008, p. 27).

Já as pesquisas descritivas, são aquelas que “têm como objetivo primordial a

descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o

estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2008, p 28).

O caráter exploratório-descritivo aplica-se a esta investigação tendo em vista

que as práticas de cooperação internacional para o desenvolvimento de recursos

humanos em nível de pós-graduação devem ser explicitadas e discutidas para poder

entendê-las e, a partir disso, possibilitar melhorias e/ou modificações.

Entre as estratégias de pesquisa aplicáveis aos estudos qualitativos estão a

pesquisa documental, a pesquisa bibliográfica, o levantamento, a pesquisa diagnóstico,

a pesquisa experimental e a quase experimental, a pesquisa-ação, a pesquisa

etnográfica, a Teoria Fundamentada nos Dados, a pesquisa de avaliação, a proposição

de planos e programas, o discurso do sujeito coletivo, a pesquisa historiográfica e o

estudo de caso (MARTINS; THEÓPHILO, 2007).

Neste trabalho realizou-se um levantamento de dados com pesquisa documental,

pois é um procedimento que se utiliza de métodos e técnicas para a apreensão,

compreensão e análise de documentos de fonte primária. Sendo uma técnica

exploratória, a análise documental também indica problemas que devem ser mais bem

explorados através de outros métodos, servindo para este levantamento inicial sobre o

histórico e desenvolvimento dos programas analisados (SÁ-SILVA; ALMEIDA;

GUINDANI, 2009).

Foi realizada ainda revisão bibliográfica, coleta de dados com estratégia

documental e análise documental para consecução parcial dos objetivos propostos,

tendo sido analisados os projetos de proposição dos programas, relatórios, avaliações,

atas de defesa, atas de reuniões, publicações decorrentes de seminários e outros

documentos disponíveis na Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação

(VPEIC) e no Centro de Relações Internacionais (CRIS) da Fiocruz, e na Vice-Direção

de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (VDPDT) e Vice-Direção de Pós-

Graduação (VDPG) da ENSP. Foram também analisados os perfis dos egressos e

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títulos das dissertações, de acordo com dados coletados na Secretaria Acadêmica da

ENSP e do no IOC, coordenações dos programas e disponíveis no sistema SIGAii.

Reportagens veiculadas na mídia, nos portais da Fiocruz e de suas Unidades e nas

páginas eletrônicas das instituições parceiras também foram levantadas e analisadas.

Para atender aos objetivos do estudo realizou-se levantamento dos dados

relacionados aos seis cursos analisados, organização e sistematização destes de acordo

com as seguintes informações: número de inscritos, número de selecionados, número

de matriculados, número de egressos, número de turmas iniciadas, número de turmas

concluídas, duração em meses, instituto coordenador na Fiocruz, parceiro internacional

e financiamento.

Em relação aos egressos, os dados obtidos do sistema SIGA foram organizados

de acordo com as seguintes variáveis: idade ao ingressar, sexo, vínculo empregatício

(se funcionário público ou não) e formação universitária.

A última análise agrupou os títulos das dissertações defendidas em 23 temas,

para melhor organização e compreensão destes. O agrupamento foi realizado a partir de

similaridades entre os títulos das dissertações defendidas.

Esclarece-se que este estudo limitou-se a levantar e analisar os dados acessíveis

via Internet, os disponibilizados pelas coordenações dos cursos e pela Instituição.

Optou-se por não realizar entrevistas devido à escassez de tempo para abordar a

multiplicidade de atores envolvidos, alguns de difícil acesso, que não residem no

Brasil, como os coordenadores adjuntos, docentes das instituições de origem dos alunos

e os próprios estudantes. Ressalta-se que algumas limitações podem ser encontradas no

decorrer do trabalho, como a dispersão de dados entre as unidades e instâncias da

Fiocruz e dificuldade no acesso a eles.

Os dados foram organizados e sistematizados em tabelas, apresentadas na seção

Resultados e Discussão.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da ENSP

(Parecer consubstanciado CEP ENSP nº 659.024, de 23 de maio de 2014) como parte

de projeto mais amplo que investiga a política externa brasileira, cooperação

internacional e a atuação da Fiocruz.

ii A Plataforma SIGA é um conjunto de sistemas de gestão acadêmica e administrativa para os cursos de nível técnico, lato e stricto sensu da FIOCRUZ, que visa gerenciar as informações e processos relacionados aos diversos atores envolvidos na condução de cursos desses níveis. A plataforma fornece instrumentos para planejamento, controle, tomada de decisão, avaliação e pesquisa, segundo os interesses específicos de cada ator envolvido com estes níveis.

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A autorização para utilização dos dados foi concedida em termo de anuência

institucional fornecido pela Vice-Direção de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico

(VDPDT) e Vice-Direção de Pós-Graduação (VDPG) da ENSP, e pela Vice-

Presidência de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC) da Fiocruz.

4. ANTECEDENTES HISTÓRICOS: A FIOCRUZ E OS PAÍSES ESTUDADOS

Esta Seção apresenta um breve histórico da atuação internacional da Fiocruz e

das unidades envolvidas nas ações pesquisadas, além de uma necessária

contextualização dos países abordados neste estudo.

4.1 A atuação Internacional da Fiocruz

Uma das condições que habilita o Brasil a difundir a cooperação internacional

em saúde é a experiência de instituições de excelência em saúde no país, como a

Fiocruz, além de programas nacionais bem sucedidos desenvolvidos pelo MS,

instituições de ensino e pesquisa.

A Fundação, vinculada ao MS, nasceu no início do século XX como Instituto

Soroterápico Federal, com o objetivo de fabricar soros e vacinas, mas Oswaldo Cruz,

então diretor técnico, não quis que fosse esta uma Instituição meramente destinada à

fabricação de soros e vacinas, e tinha a intenção de torná-la um centro de investigação

científica original que fundamentasse atividades aplicadas. Chamado posteriormente de

Instituto de Manguinhos em algumas publicações, em 1908 tem o nome alterado para

Instituto Oswaldo Cruz.

Mais de cem anos depois o Instituto evoluiu, expandiu e consolidou-se como

referência nacional e internacional em ciência, tecnologia e saúde, tendo atualmente

como missão

produzir, disseminar e compartilhar conhecimentos e tecnologias voltados para o fortalecimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e que contribuam para a promoção da saúde e da qualidade de vida da população brasileira, para a redução das desigualdades sociais e para a dinâmica nacional de inovação, tendo a defesa do direito à saúde e da cidadania ampla como valores centrais. (FIOCRUZ, 2014a)

Em 1970 passou a chamar-se se Fundação Instituto Oswaldo Cruz, adotando a

sigla Fiocruz, e em 1974 recebeu a atual designação de Fundação Oswaldo Cruz. É

atualmente considerada uma das mais importantes instituições brasileiras de pesquisa

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na área da saúde, executando no presente mais de mil projetos de investigação e

desenvolvimento tecnológico em diversas áreas, que produzem conhecimento para o

controle de doenças, em saúde coletiva e temas relacionados. Todas as unidades

técnico-científicas mantêm cursos de Pós-Graduação stricto sensu, totalizando 32

programas em dez áreas de avaliação da CAPES, o que a torna a “principal instituição

não-universitária de formação e qualificação de recursos humanos para o SUS e para a

área de ciência e tecnologia em saúde no Brasil”. Oferece ainda cursos de pós-

graduação lato sensu (especialização, aperfeiçoamento, atualização e residência) e de

educação profissional (FIOCRUZ, 2014b).

Com sua vocação internacional, a instituição é protagonista na cooperação em

saúde, papel que tem crescido e ganhado evidência com a ascensão do Brasil no cenário

mundial, possibilitando atuação diversificada e com impactos significativos na área.

Por ser a principal agente da diplomacia da saúde brasileira, atua no produto das

negociações de política externa do país e participa de colaboração em âmbito bilateral

com diversos países, tanto na cooperação Norte-Sul, que envolve nações e instituições

mais desenvolvidas, quanto no eixo Sul-Sul, como é o caso dos países que fazem parte

desta pesquisa.

Quanto à atuação internacional, em 1984, foi criada a Assessoria de Cooperação

Internacional da Fiocruz (ACI), ligada à presidência, que tratava dos registros de

convênios internacionais, autorizações de afastamento do país por servidores e

recebimento de visitantes na instituição. Com o intuito de proporcionar uma atuação

mais proativa e menos administrativa, o I Congresso Interno, realizado em 1988,

propôs mudanças na área, ampliadas em 1994 no II Congresso Interno, que discutiu

uma participação mais ativa da Fundação em ações Norte-Sul e Sul-Sul com outros

países e instituições (BRANDÃO, 2009).

No mesmo ano foi aprovado o fortalecimento da ACI como Coordenação de

Cooperação Internacional, que tinha por objetivo

coordenar a cooperação internacional da Fiocruz em relação à demanda, oferta e captação de recursos; formulação, administração, monitoramento e avaliação de acordos, protocolos e projetos; transferência de recursos e conhecimentos; e à organização da participação institucional em fóruns e seminários internacionais (BRANDÃO, 2009, p.21).

Mais de duas décadas após a criação da ACI, em 2009, instituiu-se o Centro de

Relações Internacionais em Saúde (CRIS), que adiciona algumas atividades àquelas já

previstas nas funções da ACI, como componentes de relações internacionais e

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diplomacia da saúde, o apoio à cooperação internacional das vice-presidências e das

unidades técnicas da instituição. Além disso, o CRIS tem importante papel no apoio ao

gerenciamento, implementação das estratégias e coordenação das atividades

institucionais na cooperação internacional da Fiocruz, mantendo estreita interação com

a Assessoria Internacional do MS e articulação com a Agência Brasileira de

Cooperação (FIOCRUZ, 2013).

O relatório de 2012 do CRIS destaca a abordagem de cooperação estruturante

adotada pela Fiocruz, que “trata de romper com o modelo tradicional, passivo e

unidirecional de transferência de conhecimento e tecnologia, procurando priorizar o

aproveitamento da capacidade e recursos endógenos dos países parceiros” (FIOCRUZ,

2013, p.6). Além do aspecto executivo e gerencial, no campo da diplomacia da saúde o

CRIS participa de maneira efetiva de representações do Brasil em instâncias de

organismos multilaterais, como a OPAS, OMS e UNASUL (BRANDÃO, 2009;

FIOCRUZ, 2014c).

A recente priorização da saúde na política externa brasileira voltou os holofotes

para a Fiocruz, considerada instituição-chave na cooperação internacional em saúde do

governo brasileiro. Ela é a executora de grande parte dos projetos realizados pelo Brasil

na África e América Latina, em especial aqueles que têm como meta criar ou fortalecer

instituições estruturantes do sistema de saúde, o que inclui formar recursos humanos e

os capacitar em pesquisa, ensino e serviços.

A cooperação Fiocruz-África existe desde a década de 90, mas intensificou-se a

partir de 2007, em especial com a CPLP. Assim, num esforço para aperfeiçoar a

proposição, promoção, coordenação e gestão dos projetos e programas na África, uma

das prioridades da política externa brasileira no âmbito da cooperação Sul-Sul, a

Fiocruz criou em 2008 um escritório regional de representação em Maputo,

Moçambique (BRANDÃO, 2009; FIOCRUZ, 2013).

As ações da Fiocruz no âmbito da cooperação internacional alinham-se à

estratégia e projetos priorizados pelo Brasil na prática de sua política. Assim, a

Instituição tem atuado junto às organizações interestatais das quais o Brasil é membro,

além de seguir as orientações de seu Plano Quadrienal 2011/2014, que prioriza a

atuação na África e América do Sul (FIOCRUZ, 2013).

A Fiocruz teve importante colaboração na elaboração do Plano Quinquenal da

UNASUL-Saúde (2010-2015) e nos Planos Estratégicos de Cooperação em Saúde

(PECS) da CPLP, que buscam, entre outros objetivos, apoiar o fortalecimento dos

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sistemas de saúde dos países da Comunidade com a criação ou modernização de suas

instituições estruturantes. Nos dois Planos constam metas relacionadas às ações

desenvolvidas nos programas de mestrado objeto desta pesquisa. No PECS consta o

desenvolvimento da força de trabalho em saúde, vigilância epidemiológica e da

situação de saúde, investigação, informação e comunicação em saúde, enquanto no

UNASUL-Saúde o desenvolvimento e gestão de recursos humanos e de sistemas de

saúde universais e a vigilância em saúde são parte da agenda.

As unidades da Fiocruz que foram responsáveis por executar os cursos de

formação em nível de PG abordados, ENSP e IOC, também possuem histórico de

interação e atuação internacional. O IOC foi a primeira unidade do que hoje configura-

se como Fiocruz, criado em 1900 como o próprio Instituto Soroterápico Federal para

produzir soro e vacina contra a peste bubônica que ameaçava a então Capital Federal.

Referido por algum tempo como Instituto de Manguinhos, por localizar-se na Fazenda

de Manguinhos, em 1907, a instituição foi rebatizada como Instituto de Patologia

Experimental, e, em 1908, como Instituto Oswaldo Cruz, em reconhecimento à

premiação obtida no ano anterior pelo Brasil, através do Instituto, com a medalha de

ouro do Congresso Internacional de Higiene e Demografia em Berlim. Tal premiação

atraiu renomados cientistas estrangeiros para longos períodos nos laboratórios do

Instituto, que colaboraram em diversos estudos e ajudaram a suscitar sua vocação

internacional (SILVA, 2013).

O Instituto diversificou suas ações durante a trajetória secular e hoje tem ampla

gama de atividades, gerando conhecimento, produtos e serviços na área biomédica,

atuando nas áreas de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. Oferece cursos

técnicos e na PG tem programas lato sensu e stricto sensu (INSTITUTO OSWALDO

CRUZ, 2014).

Além dos acordos de cooperação internacional mantidos pelos Programas de

PG do Instituto com instituições de ensino e pesquisa de vários países para a troca de

experiências e conhecimento, apoio a pesquisas, desenvolvimento tecnológico e

capacitação de recursos humanos, o IOC tem sido parte ativa na cooperação Sul-Sul

realizada pela Fiocruz. Em 2007 foi firmada parceria do Instituto, com envolvimento de

três de seus Programas de PG - Biologia Celular e Molecular, Biologia Parasitária e

Medicina Tropical -, para a criação de dois cursos de mestrado internacionais, um na

Argentina, em Biologia Celular e Molecular, e outro em Moçambique, o Mestrado em

Ciências da Saúde. Tais iniciativas deram ao Instituto uma dimensão internacional

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formal, com disciplinas ministradas nos países parceiros, alunos orientados por

pesquisadores do IOC com co-orientação no país de origem e realização de estágio nos

laboratórios brasileiros para desenvolvimento parcial das dissertações (ARAÚJO-

JORGE; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012).

A ENSP, por sua vez, foi criada em 1954, em um contexto de instabilidade

política, como a primeira escola brasileira de saúde pública de abrangência nacional,

destinada a formar profissionais para a área. Seu efetivo funcionamento, com definição

de finalidade, estrutura, regulamento e regimento, começou apenas em 1958, e no ano

seguinte foram ministrados os primeiros cursos, com corpo docente formado

principalmente por profissionais vinculados ao quadro de outras instâncias também

ligadas ao MS, o que trouxe importantes subsídios para a definição das atividades

necessárias à formação em saúde pública (FONSECA, 2004).

Muitos dos pesquisadores da Escola tiveram grande participação em atividades

internacionais em organizações como a OPAS e OMS, trazendo consigo ideias e

aspirações para ações além das fronteiras. Na década de 80 foram estreitados os laços

com órgãos de financiamento e agências internacionais, o que permitiu a existência de

fundos para projetos de pesquisa e apoio à preparação e aperfeiçoamento de

profissionais de saúde dos PALOPs. Além das ações específicas hoje realizadas para a

formação de recursos humanos de países parceiros, destaca-se o ingresso de estudantes

do exterior, principalmente de países latino-americanos e africanos, nos programas de

Pós-Graduação stricto sensu da ENSP, que já ocorre há mais de três décadas. Segundo

Pereira Neto (2004), entre 1977 e 2000, de um total de 523 egressos, 42 estrangeiros

obtiveram o título de mestre na ENSP, dos quais muitos latino-americanos e africanos.

Ainda na vertente Sul-Sul, a Escola realiza hoje ações de cooperação técnico-científica

com países em desenvolvimento da América Latina, Caribe e África, tendo

responsabilidade pela coordenação dos mestrados em Saúde Pública, com Angola e

com o Peru, em Epidemiologia em Saúde Pública, com a Argentina, e em Sistemas de

Saúde, com Moçambique.

Estas unidades da Fiocruz têm sido acionadas pela Presidência e Vice-

Presidência de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC) da Instituição para tais

coordenações, sendo os cursos resultado do fortalecimento da política que tem

integrado o MRE e o MS na cooperação com países de regiões prioritárias para a

política externa brasileira.

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4.2 Diferentes países, diferentes realidades

Por se tratar de estudo que envolve quatro países em dois continentes, todos

com características, história e realidades distintas, apresenta-se a seguir algumas

informações e dados comparáveis entre eles, com o intuito de esclarecer

particularidades e prover subsídios para a análise dos cursos estudados. Para fins de

comparação, sempre que possível foram também inseridos dados e índices brasileiros.

Embora não tenham o idioma em comum, Argentina e Peru são, dentre os

países estudados, aqueles que guardam maior semelhança com o Brasil. Entre estas

afinidades estão a localização na América do Sul, a independência dos colonizadores na

primeira metade do século XIX, são democracias estabilizadas e têm economias

consolidadas, apesar das dificuldades de crescimento após a crise econômica mundial

de 2008.

Já os países que dividem o mesmo idioma com o Brasil possuem mais

diferenças em relação a ele, tiveram sua independência apenas na segunda metade do

século XX, passaram por guerras civis pós-independência e, apesar do bom

crescimento econômico anual, ainda enfrentam níveis extremos de desigualdade e

pobreza, em especial entre a população urbana e rural. Em Angola, 36,6% da população

vive abaixo da linha de pobreza, e 54,7% em Moçambique (BANCO MUNDIAL,

2014).

Angola, como país que saiu do conflito armado apenas em 2002, apesar de

alguns intervalos desde sua independência em 1975, enfrenta inúmeros desafios quanto

à infraestrutura, serviços e recursos humanos em saúde (FERREIRA et al., 2014). Em

Moçambique a realidade não é muito diferente. Em 1977, dois anos após a

independência de Portugal, teve início a Guerra Civil Moçambicana, que terminou

apenas em 1992, com a realização em 1994 das primeiras eleições multipartidárias do

país. Devido aos graves problemas de saúde enfrentados pelo país, Gilio e Freitas

(2008) evidenciam a dependência da ajuda externa enfrentada pelo setor saúde no país,

reportando

um grande número de ONG's internacionais que apoiam diversos setores da saúde, algumas assumem medidas de resolução momentânea, como a vinda de profissionais da saúde de outros países para atender à falta de pessoal, e outras adquirem o papel de ajuda no desenvolvimento das unidades sanitárias através de medidas administrativas, financeiras e pedagógicas (GILIO; FREITAS, 2008, p. 100).

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As inúmeras dificuldades destes dois países, como a independência recente,

ocorrência de guerras civis e demais problemas históricos, econômicos e sociais torna

mais difícil o acúmulo de meios e experiência suficientes para promover a melhoria das

condições de saúde de suas populações.

A Tabela 1 apresenta dados demográficos e econômicos que permitem uma

breve comparação entre os países.

Tabela 1: Dados demográficos e econômicos selecionados de Angola, Argentina, Brasil, Moçambique e Peru

País Idioma oficial

Indepen-dência

Território(km2)

População PIB per

capita 2013 (USD)

Crescimento do PIB 2013

(%) Angola Português 1975 1.246.700 21.471.618 5.668 4,1

Argentina Espanhol 1816 2.780.400 41.446.246 14.760 3,0

Brasil Português 1822 8.515.767 200.361.925 11.208 2,5

Moçambique Português 1975 801.590 25.833.752 593 7,1

Peru Espanhol 1821 1.285.220 30.375.603 6.660 5,8

Fonte: Elaborado pela autora com dados do Banco Mundial, FMI e páginas eletrônicas oficias dos países

(BANCO MUNDIAL, 2014). A análise da Tabela 1 mostra que em alguns índices, como PIB per capita, o

Brasil apresenta valor menor que a Argentina, e quanto ao crescimento percentual do

PIB o país teve, em 2013, elevação menor que os outros países estudados.

A Tabela 2, por sua vez, apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH)iii, como maneira de oferecer uma medida de progresso mais homogênea, de

amplo uso e equacionada a partir de três dimensões - renda, saúde e educação – que

proporcionam, como o próprio nome diz, um retrato mais realista quanto ao

desenvolvimento humano das populações em questão, e não meramente econômico.

iii O Índice de Desenvolvimento Humano oferece um contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, muitas vezes utilizado como indicador e que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. O IDH, por sua vez, é uma medida geral do desenvolvimento humano. No entanto, apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, o IDH não abrange todos os aspectos do desenvolvimento, deixando de fora variáveis como democracia, participação, equidade e sustentabilidade (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2014).

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Tabela 2: Índice de Desenvolvimento Humano de Angola, Argentina, Brasil, Moçambique e Peru

País Posição no

IDH Global IDH 2013 Classificação

Angola 149º 0,526 Baixo Desenvolvimento Humano Argentina 49º 0,808 Muito Alto Desenvolvimento Humano

Brasil 79º 0,744 Alto Desenvolvimento Humano Moçambique 178º 0,393 Baixo Desenvolvimento Humano

Peru 82º 0,737 Alto Desenvolvimento Humano

Fonte: Elaborado pela autora com dados do Relatório de Desenvolvimento Humano, 2014.

Evidencia-se que, de acordo com o IDH, os países sul-americanos analisados

possuem muito alto ou alto desenvolvimento humano, diferentemente dos africanos,

classificados como de baixo desenvolvimento humano. O Brasil (79º) encontra-se entre

Argentina (49º) e Peru (82º) nesta classificação, ao passo que Angola e Moçambique

estão em posições bem inferiores.

Quanto aos recursos humanos para a saúde, a Tabela 3 apresenta a densidade de

trabalhadores da saúde por 1000 habitantes, a partir de dados coletados junto ao

Repositório de Dados do Observatório de Saúde Global da OMS (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2014). Apesar de diferenças entre a atualização dos dados

disponibilizados pelos países e de algumas categorias de dados não estarem disponíveis

para todos os anos selecionados, é possível observar que o Brasil é o país com maior

densidade para todas as categorias de profissionais para as quais apresenta dados,

exceto médicos e outros trabalhadores da saúde, que tem a Argentina (3,155 em 2004)

com maior densidade. Ressalta-se, no entanto, que os dados argentinos (1998 e 2004)

estão defasados em relação aos dados brasileiros (2004, 2008 e 2013).

Ainda em relação à densidade de médicos, com valor menor que Argentina e

Brasil (1,891 em 2013), estão Peru (1,132 em 2012), Angola (0,166 em 2009) e

Moçambique (0,040 em 2012). O mesmo não ocorre quanto ao número de enfermeiras

e parteiras, para o qual a ordem decrescente é Brasil (7,601 em 2013), Angola (1,660

em 2009), Peru (1,514 em 2012), Argentina (0,481 em 2004) e Moçambique (0,412 em

2012).

De modo geral, o Brasil encontra-se em primeiro lugar em relação à densidade

da maioria dos trabalhadores, enquanto a Argentina ocupa a segunda posição também

por mais vezes. Com exceção dos ‘trabalhadores em gestão e suporte da saúde’, o Peru

ocupa sempre a terceira posição, sendo que curiosamente no caso desta categoria,

definida como “pessoas que ajudam no funcionamento do sistema de saúde, mas não

prestam serviços de saúde diretamente à população” (DAL POZ et al., 2007, p.3), o

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39

Peru tem uma densidade bastante elevada (3,496 em 2012), o que sugere um alto grau

de burocratização do sistema de saúde.

Com exceção dos ‘trabalhadores da saúde em laboratórios’, em que está na

terceira posição, Moçambique é o país analisado com menor densidade de recursos

humanos em saúde em todas as categorias.

Tabela 3: Densidade de trabalhadores da saúde por 1000 habitantes em Angola, Argentina, Brasil, Moçambique e Peru

País Ano Médicos Enfer-meiras

/parteiras

Odontó-logos

Farma-cêuticos

Trabalha-dores da saúde em

laboratório

Outros trabalh-adores

da saúde

Trabalha-dores em gestão e

suporte da saúde

Angola 2004 0,830 1,313 0,016 0,065 0,144 0,018 0,018 2009 0,166 1,660 0,305

Argentina 1998 3,009 0,802 0,799 0,423 2004 3,155 0,481 0,916 0,502 0,505 2,046

Brasil 2004 1,616 3,798 0,985 0,153 2008 1,764 6,419 1,172 0,537 1,109 2013 1,891 7,601

Moçambique 2004 0,027 0,322 0,008 0,032 0,049 0,086 0,495 2008 0,026 0,341 0,039 0,032 0,127 0,016 2012 0,040 0,412 0,057 0,058 0,014

Peru 2009 0,920 1,271 0,120 0,061 0,038 0,748 2,899 2012 1,132 1,514 0,150 0,051 0,051 0,721 3,496

Fonte: Elaborado pela autora com dados do Global Health Observatory Data Repository – WHO, 2014.

A Figura 2 mostra que, dos países com os quais a Fiocruz firmou parceria para a

formação de RHS em nível de Pós-Graduação, apenas a Argentina não possui

deficiência crítica de prestadores de serviços de saúde.

Figura 2: Países com carência crítica de prestadores de serviços de saúde

(médicos, enfermeiros e parteiras)

Fonte: Organização Mundial da Saúde, RMS 2006, p. XX.

Page 47: “A Cooperação Internacional da Fiocruz na formação de ... · Aos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, ... bancas de qualificação e defesa,

40

Em todos os países há a combinação da oferta de serviços públicos e privados

de saúde, mas com parcela importante dos gastos em saúde pelo setor públicoiv. Quanto

ao gasto anual per capita em saúdev, o Brasil é o país com maior gasto, seguido por

Argentina, Peru, Angola e Moçambique. Acerca da esperança de vida ao nascer, a

Argentina tem o maior índice, com um ano a mais que o Peru e dois que o Brasil,

enquanto os países africanos têm expectativas mais baixas. A discrepância entre as

taxas para os países americanos e africanos deve-se à epidemia de Aids que nas últimas

décadas vem causando a morte de jovens e adultos e reduziu a esperança de vida ao

nascer em grande parte da África. A Tabela 4 ilustra estes indicadores (BANCO

MUNDIAL, 2014).

Tabela 4: Gasto anual per capita em saúde, gasto em saúde pelo setor público e esperança de vida ao nascer em Angola, Argentina, Brasil, Moçambique e Peru

País

Gasto anual per

capita em saúde (USD)

Gasto em saúde pelo setor público (% do gasto total

em saúde)

Esperança de vida ao nascer (anos)

Angola 190,00 62,2 51 Argentina 995,00 69,2 76

Brasil 1056,00 46,4 74 Moçambique 37,00 44,3 50

Peru 337,00 58,9 75

Fonte: Elaborado pela autora com dados do Relatório de Desenvolvimento Humano e do Banco Mundial, (BANCO MUNDIAL, 2014).

Nos países africanos em questão, apesar dos altos níveis de crescimento

econômico, Angola com 4,1% ao ano e Moçambique 7,1%, ainda persiste a alta

incidência de pobreza. No entanto, índices como a taxa de mortalidade infantil, infanto-

juvenil e de mortalidade materna melhoraram nos últimos 10 anos em Moçambique,

com crescimento da esperança de vida ao nascer (INSTITUTO NACIONAL DE

SAÚDE, 2009; UNITED NATIONS, 2014). O mesmo não ocorre em Angola, que

mantém elevadas taxas de mortalidades infantil e materna, mesmo se comparado a

países em situação econômica semelhante na África (ESCOLA NACIONAL DE

SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA, 2012b).

iv De acordo com o Banco Mundial, “o gasto público em saúde compreende o gasto regular e de orçamento proveniente de fundos públicos (centrais e locais), o endividamento externo e as doações (inclusive as doações de organismos internacionais e de organizações não-governamentais) e os fundos de seguro de saúde sociais ou obrigatórios (BANCO MUNDIAL, 2014, tradução própria). v Definido pelo Banco Mundial como “a soma dos gastos em saúde públicos e privados, como proporção da população total. Abrange a prestação de serviços de saúde (preventivos e curativos), as atividades de planejamento familiar, de nutrição e a assistência de emergência, excluindo o abastecimento de água e serviços sanitários” (BANCO MUNDIAL, 2014, tradução própria).

Page 48: “A Cooperação Internacional da Fiocruz na formação de ... · Aos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, ... bancas de qualificação e defesa,

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Além dos problemas de carência de recursos humanos para a saúde e

dependência de financiamento externo para a manutenção dos serviços de saúde,

Angola e Moçambique enfrentam a fragmentação e verticalização das intervenções

sanitárias e contexto epidemiológico nacional heterogéneo, tendo que lidar, ao mesmo

tempo, com o peso das doenças infecciosas e das crônicas. Como afirmam Fronteira e

Dussault (2010)

apesar das diferenças significativas existentes entre os PALOP, no que diz respeito aos indicadores sócio demográficos, epidemiológicos, administrativos e econômicos, existem problemas comuns a todos eles. [...] inclui o corpo de trabalhadores, a educação, a distribuição geográfica, as condições de trabalho e desempenho, as políticas e a gestão e o financiamento (FRONTEIRA e DUSSAULT, 2010, p.83).

Entre outros problemas, “persistem situações de disparidades demográficas

devido a grandes deslocamentos populacionais, sérios problemas de educação,

saneamento básico e infraestrutura, além de inadequação na gestão do sistema e dos

serviços de saúde” (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2007, p.4). Estes

fatores os tornam dependentes de assessoria especializada de outras nações, além da

utilização de pessoal com formação elementar ou técnica em cargos que demandam

recursos humanos de nível superior especializado para uma melhor assistência.

5. AÇÕES INTERNACIONAIS DA FIOCRUZ EM PROGRAMAS DE MESTRADO INTERNACIONAIS Esta Seção apresenta as características, informações coletadas e dados sobre o

oferecimento dos seis cursos de Pós-Graduação desenvolvidos pela Fiocruz em parceria

com instituições em Angola, Argentina, Moçambique e Peru.

Os programas em questão são o mestrado em Saúde Pública, coordenado pela

ENSP/Fiocruz e pelo Ministério da Saúde de Angola, o mestrado em Ciências da

Saúde, coordenado pelo IOC/Fiocruz e pelo Instituto Nacional de Saúde (INS) de

Moçambique, o mestrado em Sistemas de Saúde, coordenado pela ENSP/Fiocruz, pelo

INS pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM) em Moçambique, o mestrado em

Biologia Celular e Molecular, coordenado pelo IOC/Fiocruz e pela Administração

Nacional de Laboratórios e Institutos de Saúde ‘Dr. Carlos G. Malbran’ (ANLIS) da

Argentina, o mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública, coordenado pela

ENSP/Fiocruz e pela ANLIS da Argentina e o mestrado em Saúde Pública, coordenado

pela ENSP/Fiocruz e pelo Instituto Nacional de Saúde do Peru.

Page 49: “A Cooperação Internacional da Fiocruz na formação de ... · Aos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, ... bancas de qualificação e defesa,

42

Quanto à qualidade dos cursos, destaca-se que os programas que coordenaram

as iniciativas são avaliados pela CAPES como ‘muito bom’ (5) e ‘excelente’ (6) e

equivalente a ‘alto padrão internacional’ (7), já que os dois programas da ENSP

possuem nota seis e dos três programas do IOC envolvidos o de Biologia Celular e

Molecular e de Biologia Parasitária possuem conceito sete e o de Medicina Tropical,

cinco.

O programa realizado com Angola teve uma turma concluída e não se repetiu. O

mestrado em Biologia Celular e Molecular com a Argentina encontra-se na segunda

turma, a parceria em Epidemiologia em Saúde Pública no mesmo país concluiu a

primeira turma e não se repetiu. Em Moçambique, o mestrado em Ciências da Saúde

encontra-se atualmente na quarta turma e o de Sistemas de Saúde na primeira. O

mestrado no Peru concluiu a primeira turma em 2014.

Alguns dos programas são multidisciplinares, ou seja, admitem candidatos de

diversas áreas de conhecimento, não se limitando à área de ciências biomédicas, com

exceção dos mestrados em Biologia Celular e Molecular e em Ciências da Saúde.

Todos os processos de seleção obedeceram às exigências regulamentares da CAPES,

com publicação de edital que demandava competência em leitura e compreensão da

língua inglesa para textos no âmbito de saúde pública. Alguns processos seletivos

incluíram exame de língua inglesa, que poderia ser eliminatório ou classificatório,

provas eliminatórias em temas e bibliografia previamente informados no edital e

entrevista dos candidatos com uma banca de doutores credenciados. Algumas seleções

incluíram ainda avaliação de currículo e carta de intenções.

O Quadro 1 apresenta um resumo dos cursos estudados.

País Curso Coordenação na Fiocruz Coordenação estrangeira

Angola Mestrado em Saúde Pública

ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio

Arouca Ministério da Saúde, Angola

Argentina

Mestrado em Biologia Celular

e Molecular

IOC - Instituto Oswaldo Cruz

Administração Nacional de Laboratórios e Institutos de Saúde (ANLIS), Argentina

Mestrado em Epidemiologia

em Saúde Pública

ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio

Arouca

Administração Nacional de Laboratórios e Institutos de Saúde (ANLIS), Argentina

Moçambique

Mestrado em Ciências da

Saúde

IOC - Instituto Oswaldo Cruz

Instituto Nacional de Saúde, Moçambique (INS/Moz)

Mestrado em Sistemas de

Saúde

ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio

Arouca e CPqAM - Centro

Instituto Nacional de Saúde (INS) e Universidade

Eduardo Mondlane (UEM)

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de Pesquisas Aggeu Magalhães

Peru Mestrado em Saúde Pública

ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio

Arouca

Instituto Nacional de Saúde, Peru (INS/Peru)

Quadro 1: Universo de estudo

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

5.1 Mestrado em Saúde Pública – Angola

O curso de Mestrado em Saúde Pública representou a primeira experiência

internacional de apoio à formação stricto sensu da Pós-Graduação brasileira fora do

país. Assim, as instituições governamentais careciam de prática para viabilizar este tipo

de cooperação, que criou desafios a serem enfrentados pela coordenação e corpo

docente e discente do curso. Esta vanguarda gerou um know-how que capacitou a ação

brasileira no apoio ao desenvolvimento científico e de investigação em saúde nos países

parceiros.

O curso surgiu por demanda do Ministério da Saúde de Angola, que buscava

consolidar a capacidade institucional de seu sistema de saúde por meio da capacitação

de quadros estratégicos que iriam compor a futura Escola Nacional de Saúde Pública de

Angola (ENSPA), buscando com isso contribuir para o aprimoramento e

desenvolvimento do Sistema de Saúde do país em um contexto de democratização e

reconstrução nacional pós-guerra civil. Assim, o objetivo do curso foi formar

pesquisadores e docentes numa perspectiva interdisciplinar e multiprofissional. O curso

buscava ainda contribuir para o aprimoramento e desenvolvimento do Sistema de

Saúde, qualificar os profissionais para a análise, planejamento, desenvolvimento e a

avaliação de políticas de saúde, no contexto epidemiológico e social do país (ESCOLA

NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA, 2012b).

O mestrado, cuja proposta inicial surgiu em 2006, depois de algumas missões e

visitas técnicas em anos anteriores ao país, foi realizado no âmbito de um projeto de

cooperação técnica do governo Brasileiro com os PALOPs. O programa inseriu-se na

proposta mais ampla de um Projeto de Cooperação Brasil-Angola, firmado em 2007

com o Ministério da Saúde Angolano, que incluía a implantação de uma biblioteca de

saúde, uma Escola de Saúde Pública e outros projetos relacionados, sendo a formação

de recursos humanos em Saúde Pública fundamental e estratégica para o

desenvolvimento do país. Os elementos estruturantes desta cooperação, qual sejam o

Page 51: “A Cooperação Internacional da Fiocruz na formação de ... · Aos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, ... bancas de qualificação e defesa,

44

apoio à implantação da ENSPA e ampliação da sustentabilidade dos demais projetos de

ensino técnico e de nível superior, possuem componentes de pesquisa e formação em

saúde pública que possibilitam uma capacitação comprometida com a transformação

das práticas, para além de uma mera reprodução (AGÊNCIA BRASILEIRA DE

COOPERAÇÃO, 2008).

A base legal que possibilitou as atividades foi a existência de um Acordo de

Cooperação Econômica, Científica e Técnica entre o Governo da República Federativa

do Brasil e o Governo da República Popular de Angola, assinado em 11 de junho de

1980 e promulgado em 05 de outubro de 1990. Para implantação do projeto de

Capacitação do Sistema de Saúde de Angola foi firmado um Ajuste Complementar a

este Acordo em julho de 2007, intitulado "Formação de docentes em Saúde Pública em

Angola". O curso foi financiado pela CAPES e pela ABC/MRE, com gestão dos

recursos realizada pela VPEIC/Fiocruz, e o Governo de Angola arcou com o transporte

interno dos docentes e coordenação durante os módulos e orientações no país.

De natureza multiprofissional, o programa exigiu que os candidatos, com

diploma de nível superior, fizessem parte dos quadros públicos de saúde do país, como

o Ministério de Saúde e suas dependências, a Universidade Agostinho Neto (UAN) e as

direções provinciais de saúde. Uma das metas do curso era proporcionar uma

articulação entre o MS/Angola e a UAN, para fomentar a continuidade de iniciativas

educacionais entre eles. Inicialmente foi previsto o oferecimento de 25 vagas, sendo 20

para Angola e cinco para Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e

Príncipe. Em caso de não preenchimento das cinco vagas dos outros países dos

PALOPs, estas seriam revertidas para Angola, como ocorreu, inclusive com expansão

para 30 matriculados após a seleção realizada no primeiro semestre de 2007.

Iniciadas em maio de 2007, as aulas foram ministradas em Angola, nas

instalações do Instituto Superior de Enfermagem da UAN, espaço que seria

posteriormente ocupado pela ENSPA. O planejamento do curso incluía o oferecimento

de disciplinas da área da saúde pública ministradas em períodos concentrados com duas

semanas de duração. Apesar de ter sido previsto e desenvolvido ambiente para a

Comunidade Virtual de Aprendizagem do curso, com o intuito de introduzir as

ferramentas de ensino à distância, sua utilização foi bastante limitada. Isto ocorreu

devido às dificuldades de acesso à internet pelos docentes e alunos, além da

inexistência de laboratório de informática nas instalações onde as aulas foram

ministradas, dificultando ainda mais o desenvolvimento de propostas pedagógicas que

Page 52: “A Cooperação Internacional da Fiocruz na formação de ... · Aos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, ... bancas de qualificação e defesa,

45

utilizassem esta ferramenta. Esta situação prejudicou o progresso das atividades à

distância, tanto para o acompanhamento dos alunos como para a orientação na fase de

confecção das dissertações.

Os alunos não foram liberados de seus compromissos de trabalho para se

dedicarem integralmente ao curso, no entanto, desde o início o projeto previu no

cronograma a estada dos alunos na Fiocruz no Brasil por um período de 04 meses para

terminarem as dissertações com os orientadores. O financiamento deste período não foi

definido previamente. Ao final do primeiro ano os alunos deveriam realizar a

qualificação dos projetos de dissertação em Luanda.

Diferentes adversidades ocasionaram atraso e demandaram o replanejamento e

prolongamento do curso, entre elas dificuldades de acesso à internet pelos docentes e

discentes, condições problemáticas do local onde as aulas eram ministradas, com

frequente falta de energia e água, inexistência ou precariedade dos aparelhos de ar-

condicionado. O desempenho insuficiente dos alunos em disciplinas, problemas com

transporte e alojamento dos docentes em Luanda também foram reportados, além da

necessidade dos docentes levarem do Brasil fotocópias da bibliografia, pela falta de

estrutura para realizá-las em Angola. Para contornar questões como acesso à

bibliografia disponível na Internet, o ICICT/Fiocruz enviou acervo bibliográfico físico

a Angola, já que o Portal CAPES de periódicos só é acessível a partir de computadores

no Brasil, o que impossibilitou a consulta pelos estudantes do Programa a partir dos

países de origem. Para dar suporte à revisão bibliográfica dos projetos e auxiliar na

instrução sobre o acompanhamento de atividades à distância, necessário nas etapas

subsequentes, a coordenação facilitou a ida de uma bibliotecária da ENSP que levou

também um conjunto de material para a bibliografia inacessível online in loco.

A realização de eleições nacionais em 2008 em Angola, os contratempos

enfrentados, o ineditismo da iniciativa e os aprendizados da jornada demandaram a

revisão do cronograma e do escopo das atividades, o que exigiu a readequação do

projeto pedagógico original. Em maio de 2008 foi proposta à ABC uma revisão do

Projeto, realizada em conjunto com o Ministério da Saúde de Angola, com o intuito de

tornar a iniciativa mais efetiva e atingir os objetivos inicialmente propostos, uma vez

que a formação de recursos humanos em saúde pública é fundamental e estratégica para

o desenvolvimento do país. Também foi necessária a renegociação do financiamento

junto à ABC e CAPES.

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46

Desta maneira, houve um período de interrupção e novas negociações foram

necessárias para a retomada do projeto, com missões realizadas pela Fiocruz em

Luanda em fevereiro de 2009 e julho de 2010, tendo o curso sido paralisado por mais

de um ano.

Após o intervalo, na retomada em 2010, com nova coordenação, foram

programadas aulas de recuperação de conteúdos em Angola para atender a um grande

número de alunos com pendências nas disciplinas e a realização de seminários de

metodologias de pesquisa qualitativa e quantitativa para apoiar os projetos de

dissertação.

A coordenação e o Colegiado do Curso definiram então estratégias e prazos

para a finalização do curso, e decidiram pelo desligamento de alunos que não ofereciam

condições de elaboração do projeto e da dissertação.

O grupo foi dividido entre os já habilitados para trabalhar nos projetos para que

pudessem realizar os exames de qualificação e os que necessitavam de

acompanhamento mais atento dos orientadores, com a definição de estratégias para

enfrentamento de possíveis dificuldades para a conclusão e defesa.

Foram realizados dois seminários para acompanhamento do desenvolvimento

dos projetos e aprofundamento metodológico presenciais no Brasil, com leituras

dirigidas e reuniões de orientação, o que também permitiu participação intensiva dos

orientadores e que os alunos frequentassem disciplinas na ENSP.

As qualificações e defesas, que estavam previstas para ocorrer em Luanda

foram realizadas na ENSP. No ano de 2010 foram qualificados 13 alunos e um

defendeu a dissertação, e em 2011 ocorreram oito defesas no 1º semestre de 2011 e sete

no segundo semestre de 2011, totalizando 15 alunos que completaram o curso e foram

titulados pela ENSP/Fiocruz. O ajuste complementar firmado entre os governos de

Brasil e Angola continha termo que garantia que o diploma expedido pela Fiocruz aos

concluintes do curso tivesse o mesmo valor legal de um diploma expedido por

instituições angolanas. Os 15 alunos desligados receberam declaração de conclusão das

disciplinas em que foram aprovados. Em maio de 2012 foi realizado o I Seminário

Brasil-Angola de Saúde Pública, com apresentação de pôsteres com os resultados das

15 dissertações defendidas.

Em avaliação final, as principais dificuldades observadas pela coordenação do

curso referem-se à infraestrutura em Luanda, em especial relativo à água, luz e

hospedagem, o processo político em Angola com a realização de eleições em 2008 e o

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47

compromisso do Governo local com o curso. As diferenças acadêmicas, com cultura

oral predominante em Angola e cultura acadêmica no Brasil, também foram relatadas,

assim como a quase inexistência de CEPs em Angola, que apenas recentemente estão

sendo instalados, além da dificuldade de cadastro dos projetos no CEP/ENSP. Pensar

outras estratégias para a seleção dos alunos também foi apontado como necessário.

Alguns desdobramentos observados após a finalização do curso é a publicação

de um artigo e a continuação de um dos egressos para programa de doutoramento em

Portugal. Outros formados estão assumindo atividades de docência em universidades

angolanas e são considerados, em avaliação da coordenação, aptos a assumirem novas

responsabilidades, seja em termos de docência em saúde pública, em pesquisa ou

cargos no Ministério da Saúde que envolvam contribuições para a reconstrução do

sistema de saúde.

5.2 Mestrado em Biologia Celular e Molecular – Argentina

O projeto do Mestrado em Biologia Celular e Molecular (BCM), área de

concentração Imunobiológicos, surgiu em 2006, por demanda argentina ao MRE, com a

proposta de haver uma troca de tecnologias. Em workshop realizado na Fiocruz, foram

criados grupos de trabalho para estudo de parcerias em projetos colaborativos

interinstitucionais nas áreas de pesquisa e ensino.

Um protocolo de colaboração para implantação de dois cursos de mestrado na

ANLIS, que reúne laboratórios que fabricam vacinas, desenvolvem kits de diagnóstico

e realizam pesquisa básica, foi pensado. Os cursos seriam este descrito e um em

Epidemiologia em Saúde Pública, que ficaria sob responsabilidade da ENSP, ao passo

que este seria coordenado pelo IOC com parceria do Instituto de Tecnologia em

Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), unidade da Fiocruz orientada para a pesquisa e

produção de imunobiológicos e produtos de diagnósticos.

O curso foi pensado nos moldes de um mestrado profissional já existente em

Bio-Manguinhos, no entanto, visita posterior de pesquisadores do Instituto à sede da

ANLIS mostrou que não existiam condições de infraestrutura para um programa com

essas características. Desta forma, no primeiro semestre de 2007, após um período de

aparente latência, a direção da ANLIS solicitou à Fiocruz a retomada das negociações

visando à implementação de convênio para um mestrado. Em novembro do mesmo ano

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48

uma delegação de pesquisadores do IOC foi à Buenos Aires e propôs a redefinição do

formato do mestrado, dando-lhe um caráter acadêmico, com o objetivo de apoiar a

qualificação básica e aplicada de recursos humanos em áreas relevantes da produção de

imunobiológicos, diagnóstico imunológico e molecular, e novas ferramentas em

biologia estrutural, bioinformática, genômica e proteômica. O curso contou com

financiamento da OPAS por meio do Programa de Cooperação Internacional em Saúde

(TC-41) vi.

Em fevereiro de 2008 foi realizado workshop para finalizar os detalhes da

implantação dos dois cursos de mestrado com a ANLIS, sendo que o processo de

seleção do curso de BCM ocorreu entre os meses de março e julho do mesmo ano. Em

agosto foi ministrado curso de epidemiologia e bioestatística para nivelamento e as

disciplinas, as mesmas que estão disponíveis para os alunos brasileiros que fazem o

curso regular na Fiocruz, começaram a ser ministradas em setembro.

As aulas foram dadas em Buenos Aires por professores do IOC, com aulas

discursivas, discussões de artigos científicos, apresentação de seminários e aulas

práticas. Após as avaliações, alguns estudantes com rendimento aquém do necessário

repetiram as disciplinas equivalentes no Rio de Janeiro, durante seus estágios de

aprimoramento técnico-cientifico realizados em laboratórios de pesquisadores do IOC

na Fiocruz, em períodos que variaram de 1 a 3 meses. Docentes do IOC foram os

orientadores brasileiros da dissertação de mestrado, com co-orientação de

pesquisadores da ANLIS. Os projetos estavam vinculados às linhas de pesquisa e

produção em que os alunos estavam associados na ANLIS.

Por conta da epidemia de gripe A (H1N1) ocorrida em 2009, o programa do

curso teve que ser temporariamente interrompido, com posterior oferecimento de duas

disciplinas que haviam sido suspensas em 2010, concluindo assim as atividades de

formação e capacitação teórico-práticas.

vi “41º Termo de Cooperação e Assistência Técnica ao Ajuste Complementar celebrado entre o MS, a Fiocruz e a OPAS. Os TC são projetos que definem resultados, indicadores e ações a serem executadas de forma alinhada às prioridades da OPAS e aos objetivos estratégicos do país. Essas ações visam contribuir para a superação dos desafios e para o fortalecimento e aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde, além de consolidar iniciativas governamentais na esfera da cooperação Sul-Sul. O Programa de Cooperação Internacional em Saúde visa promover o desenvolvimento de conhecimentos e o intercâmbio de experiências e tecnologias para enfrentar os problemas de saúde que representam prioridades ou interesses comuns entre o Brasil e outros países membros da OPAS/OMS, com prioridade para América do Sul e África lusófona, apontando para o desenvolvimento solidário em torno das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Suas prioridades estão alinhadas com a Estratégia de Cooperação Técnica da OPAS/OMS com o Brasil para o período 2008-2012” (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2014).

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49

Os resultados obtidos durante as disciplinas mostraram que os alunos tinham

formação básica sólida coerente com o padrão de ensino na Argentina, mas que tinham

defasagem de conhecimento em temas relevantes para a missão institucional da ANLIS.

A posterior análise das avaliações pela coordenação mostrou que os alunos tiveram

melhora significativa de conteúdo teórico aplicado às áreas específicas. Os egressos

foram diplomados pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular

do IOC.

Apesar do bom andamento do programa, foram encontrados desafios comuns a

ações inovadoras e com formato bilateral, como a comunicação entre os alunos

Argentinos e orientadores Brasileiros, apesar do avanço tecnológico e ferramentas

existentes. Problemas de natureza logística também foram reportados, em especial

quanto ao estágio dos alunos no Brasil, por dificuldades de alojamento em locais que

fossem viáveis quanto ao custo e que facilitassem o acesso dos estudantes por

transporte público.

A escassez de pesquisadores doutores na ANLIS que pudessem exercer o papel

de co-orientadores também foi relatada entre as dificuldades e aspectos críticos, assim

como mudanças no corpo de co-orientadores tanto brasileiros como argentinos, a

interrupção das atividades dos docentes brasileiros devido ao surto epidêmico de Gripe

A e mudanças no cronograma devido a problemas logísticos. O tempo de permanência

dos alunos na Fiocruz também foi considerado extremamente reduzido para as

atividades necessárias.

De maneira geral, o resultado foi considerado favorável, com o objetivo de

capacitação dos alunos atingido e indicadores de que o programa foi bem sucedido.

Apesar da avaliação positiva dos envolvidos e intenção de manutenção do convênio,

com perspectiva de laços duradouros de cooperação científica e desenvolvimento de

produtos e processos na área de imunobiológicos e diagnóstico, com aplicação direta

em saúde pública, mudanças na diretoria da ANLIS deixaram em suspenso a

continuidade do programa, que teve apenas uma turma titulada.

5.3 Mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública – Argentina

O histórico da criação do Mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública é

semelhante ao acima relatado, se insere nas atividades do convênio entre a Fiocruz e a

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50

ANLIS e também foi financiado pela OPAS, por meio do Programa de Cooperação

Internacional em Saúde (TC-41), e pela ABC.

Coordenado pelo Programa de PG em Epidemiologia em Saúde Publica da

ENSP, o curso teve como objetivo formar mestres com concentração em Epidemiologia

Geral. O programa, de natureza multiprofissional, ofereceu 20 vagas, 15 destinadas a

pessoal da ANLIS e cinco a profissionais pertencentes a instituições de saúde pública,

com alunos de diversas províncias argentinas e não apenas da capital. Após curso de

nivelamento em matemática o curso teve início em outubro de 2008.

O formato do curso foi presencial com estrutura modular, de modo que os

professores da ENSP ministraram aulas em Buenos Aires, com disciplinas de

aproximadamente 45 a 60 horas. Foi previsto estágio dos alunos por dois períodos de

três semanas na Fiocruz para realização da pesquisa.

Para o desenvolvimento da dissertação os alunos tiveram um orientador do

Programa e um co-orientador, com título de doutor, ou colaborador, sem título de

doutor, em Buenos Aires, indicados pela ANLIS. A defesa das dissertações ocorreu na

sede da ANLIS, exceto em casos especiais acordados, quando foram realizadas na

ENSP, e com a presença de ao menos um membro argentino. As últimas defesas

ocorreram em maio de 2011.

As qualificações da primeira turma ocorreram em Buenos Aires, já as da

segunda turma foram planejadas para ocorrer na Fiocruz.

O fato de o curso congregar alunos de diferentes províncias permitiu um

impacto maior, pois a massa crítica formada atingiu outras regiões além da capital,

potencializando os efeitos desta formação.

Como avaliação geral, considerou-se que o mestrado foi uma oportunidade para

aumentar o conhecimento, compartilhá-lo entre o grupo e transferi-lo às equipes de

trabalho. A qualidade acadêmica e do corpo docente foi reconhecida pelos egressos,

assim como a disponibilidade para conduzir e concretizar os trabalhos. A realização dos

seminários foi considerada fundamental, pois permitiram o trabalho individual dos

alunos com orientadores e significaram um tempo de dedicação mais pessoal. A

diversidade temática e metodológica dos trabalhos foi ressaltada.

Uma das dificuldades reportadas pela coordenação para a execução do curso foi

o idioma, pois alguns professores que não tinham conhecimento básico de espanhol

ministraram as aulas em português. Ademais, os docentes apontaram dificuldades

frequentes na comunicação entre alunos e orientadores, com baixa adesão aos prazos e

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51

perda de contato com alguma frequência, o que com a distância e pouco contato

presencial prejudicou o desenvolvimento do trabalho. Alguns orientadores não

desempenharam seus papéis adequadamente e tiveram que ser substituídos. A

intensidade de carga horária das disciplinas, as dificuldades logísticas para a estadia dos

alunos no Brasil, o apoio acadêmico e de infraestrutura em Buenos Aires e a adequação

das disciplinas junto à secretaria acadêmica foram mais dificuldades relatadas.

Como sugestões de melhoria foram indicadas a inclusão de novas disciplinas, a

inserção de mais conteúdos de saúde pública, avaliação de programas, determinantes

sociais e análise de sobrevivência. O uso de ferramentas de ensino à distância, fóruns e

videoconferências também foi sugerido.

Quanto à parte argentina, foi demandado maior apoio institucional, que deveria

refletir na liberação dos alunos para participar adequadamente do mestrado. Sugeriu-se

que novas turmas envolvam três programas de PG da Fiocruz com forte conteúdo em

epidemiologia, Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas e Saúde da Criança e da

Mulher, além do que já coordenou esta turma e que manteria a coordenação do curso,

de forma a partilhar disciplinas e orientações, com titulação conferida pelo programa do

orientador principal. Também foi proposta a ampliação da colaboração com

universidades argentinas, mantendo a coordenação do ANLIS, embora a discussão

desse ponto não tenha avançado para propostas concretas.

Como encerramento da turma os alunos prepararam pôsteres para divulgação

dos trabalhos, que foram apresentados para representantes e autoridades do Ministério

da Saúde argentino.

Como perspectivas futuras há a possibilidade de investigações conjuntas,

estruturação de uma rede de intercâmbio entre os egressos, a possiblidade de alguns

seguirem para o doutorado e a continuidade da cooperação na realização de uma

segunda turma do curso que teve início em maio de 2013.

5.4 Mestrado em Ciências da Saúde – Moçambique

O mestrado em Ciências da Saúde coordenado pelo IOC é parte do Projeto de

Fortalecimento do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique, firmado em 2007

como ajuste complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da

República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique, datado de

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52

setembro de 1981. Além de formar mestres para atuar no ensino e na pesquisa em

Moçambique, o Projeto teve como objetivo apoiar a reestruturação da rede de

bibliotecas em saúde no país e a elaboração do planejamento estratégico do INS.

A demanda do Governo moçambicano acerca do curso surgiu em 2006, resultou

na estruturação de um grupo de trabalho na Fiocruz e na Redação e envio de um projeto

ao INS em janeiro de 2007. Em julho do mesmo ano foi realizada reunião no INS para

discutir o pré-projeto do curso e definir o calendário de trabalho, sendo que a primeira

turma teve início em março de 2008. O curso, que se insere no âmbito da cooperação

técnica do Governo Brasileiro com os PALOPs, busca formar pesquisadores e docentes

em Moçambique, numa perspectiva interdisciplinar e multiprofissional, com ênfase em

diagnóstico molecular e imunopatogenia de doenças infecciosas. A formação de

mestres dentre os funcionários do INS tem como meta apoiar a criação de capacidades

de pesquisa em saúde no país, contribuindo na busca de soluções para os problemas de

saúde pública e para o aprimoramento e desenvolvimento de seu Sistema de Saúde.

O público elegível é formado por funcionários do Ministério da Saúde

licenciados em áreas das ciências biomédicas, com idade máxima de 45 anos e dando

preferência para aqueles com tempo mínimo de serviço de dois anos. Os selecionados

comprometem-se a trabalhar para o Sistema Nacional de Saúde por um período de

cinco anos após o termino do mestrado, devem estar ligados a uma área de serviço de

laboratório ou investigação científica e ter parecer favorável do local de trabalho para

realização do curso. Os alunos são liberados de suas atribuições para dedicar-se ao

curso em período integral.

O programa funciona como um consórcio dos Programas de PG do IOC, sendo

que cada aluno possui um orientador brasileiro e um co-orientador moçambicano, como

esforço para fomentar a parceria entre pesquisadores dos dois países. O convênio prevê

a vinda dos alunos ao Brasil para um período de 2 a 3 meses de estágio, para

desenvolvimento técnico-acadêmico e para finalizar a dissertação. Durante as

disciplinas, professores brasileiros ministram aulas em Maputo, juntamente com

professores moçambicanos. As aulas da primeira turma foram realizadas no Centro

Regional de Desenvolvimento Sanitário e, por questões de infraestrutura, como falta de

luz e dificuldade de acesso à internet e a artigos fundamentais para a elaboração da

dissertação, a partir da segunda as aulas foram ministradas no INS e no Instituto de

Ciências da Saúde de Maputo. A intenção é que haja cada vez mais docentes

moçambicanos, meta que por vezes esbarra na baixa quantidade de doutores no país.

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53

As bancas de qualificação dos projetos e as defesas de dissertação ocorrem em

Maputo, com participação de membros moçambicanos. Os egressos são titulados pelo

IOC.

Além de exemplares de livros que haviam sido doados pela Fiocruz, a direção

do INS se empenhou na compra de novos livros, possibilitando aos alunos consultarem

obras relevantes em diversos temas.

Este é, dentre os cursos estudados, o que tem estrutura mais consolidada, uma

vez que já formou duas turmas e tem outras duas em andamento. A partir da terceira

turma foram oferecidas vagas para pessoal da área clínica. A primeira turma foi

financiada pela ABC/MRE e pela CAPES, a terceira pela OPAS e a quarta ainda tem

financiamento indefinido, sendo por ora assumido pela Fiocruz.

Segundo avaliação pela coordenação da primeira turma, o grande

comprometimento de docentes e alunos e a realização do curso em Maputo foram

fundamentais para o bom andamento e evitaram a evasão. Foi enfatizada a qualidade

das dissertações defendidas, mesmo com dificuldades na orientação causadas pelas

barreiras geográficas que ainda são grandes, apesar da existência das tecnologias de

informação e comunicação.

Quanto aos desafios logísticos, foi destacado o exaustivo deslocamento dos

docentes do Brasil a Maputo, a manutenção do financiamento e o tempo de

permanência do docente no exterior. Foi relatada a dificuldade de alojamento de boa

qualidade próximo à Fiocruz para o período dos alunos no Brasil, curto tempo de

estágio e demora de liberação da bolsa pela Capes, quando existente.

Os egressos consideraram que a experiência do estágio no Brasil foi

fundamental para a interação com outros pesquisadores, as aulas em Maputo foram

importantes e a finalização destas em seis meses permitiu o aumento do tempo para o

estágio e para desenvolvimento do projeto de dissertação. Também destacaram o

aproveitamento dos recursos existentes no próprio país para desenvolver o projeto de

pesquisa. Como aspectos negativos relatados pelos alunos estão a demora de mais de

um mês para obtenção do visto de entrada no Brasil; o atraso na aquisição de reagentes

pelo INS, o que dificultou o andamento da pesquisa; baixa participação dos docentes

moçambicanos e inexistência de conteúdo para que os alunos aprendessem a elaborar

propostas de pesquisa para financiamento. Sobre a viagem ao Brasil, sugeriram que se

realizada em grupo melhoraria a relação custo-benefício.

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54

Apesar das ponderações, considerou-se que os problemas operacionais podem

ser melhorados e que esse tipo de cooperação, por ser novo, precisa de maior

estruturação.

A avaliação geral do programa é positiva, com expectativa de que este tipo de

cooperação vá além de um programa de PG, podendo se transformar em uma iniciativa

importante de intercâmbio científico com benefícios para ambos os países. Desta

forma, é possível que haja um efeito multiplicador no retorno dos alunos aos

laboratórios de trabalho, permitindo que induzam um impacto positivo na produção de

conhecimento em Moçambique. O fato das vagas terem sido estendidas a outras

instituições que conformam o sistema de saúde do país, para além do INS, expandiu a

possiblidade de impacto na qualidade dos serviços de saúde.

Segundo o coordenador moçambicano da iniciativa, a realização deste mestrado

é uma das atividades prioritárias do Plano Estratégico do INS, e sua continuação é de

importância crítica para a estruturação do Instituto e do sistema de saúde do país. De

acordo com ele, com os profissionais titulados pela primeira turma quase duplicou o

número de mestres no quadro do INS. Graduados da primeira turma passaram a ocupar

posições de liderança em áreas de intervenção biomédica do INS.

Evidência do bom desenvolvimento do curso é o fato de ter sido realizada, em

2014, a seleção para a primeira turma do doutorado.

5.5 Mestrado em Sistemas de Saúde – Moçambique

Diferentemente dos outros programas estudados, pela primeira vez tem-se uma

cooperação triangular, uma vez que o mestrado em Sistemas de Saúde, iniciado no ano

de 2014, conta com a participação de diferentes parceiros institucionais, quais sejam a

ENSP e o CpqAM (Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães) pela Fiocruz, o INS e a

Universidade Eduardo Mondlane (UEM) em Moçambique, e financiamento do

International Development Research Centre (IDRC), do Canadá. O INS recebeu

financiamento da instituição canadense em projeto que tem como objetivo fortalecer

estruturalmente a capacidade de pesquisa em sistemas de saúde em Moçambique,

através de programas educacionais de curto e longo prazo, pesquisa associada,

prioritariamente com pessoal do INS, que foi responsável pela execução financeira do

projeto.

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55

A ENSP valeu-se da experiência anterior com o INS Peru, no mestrado em

Saúde Pública, para utilizar o modelo desenvolvido naquela ocasião, com disciplinas

modulares, que após ajustes foram desenhadas para atender à demanda do projeto em

questão e centrar-se fundamentalmente na discussão do sistema de saúde. Ao contatar a

Fiocruz para esta parceria, a demanda do Ministério da Saúde de Moçambique

(MISAU) centrava-se na preparação de pessoal próprio para atuar no Sistema Nacional

de Saúde (SNS) do país, com o intuito de melhorar a atenção à saúde da população, de

acordo com suas necessidades.

Como nos outros programas, os requisitos acadêmicos regulamentares foram de

responsabilidade da Fiocruz, com atribuição da condução do ensino à ENSP e ao

CPqAM. Igualmente, havia uma coordenação local em Moçambique, atuando

conjuntamente com a coordenação da Fiocruz, e pessoal administrativo local dedicado

ao programa (CENTRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA FIOCRUZ, 2013).

Por definição do INS, o conteúdo do Edital incorporou requisitos

regulamentares da Pós-Graduação em Moçambique. Na perspectiva de estimular os

profissionais do SNS a se candidatarem à seleção, o INS promoveu e divulgou o

lançamento do mestrado antes da chamada e seleção de candidatos. Quanto aos

critérios de elegibilidade, os candidatos deveriam ter pelo menos dois anos de serviço

no SNS, idade inferior a 45 anos, assinar termo de compromisso de honra de que

trabalhariam para o SNS por pelo menos cinco anos após conclusão dos estudos, sob

pena de ação legal e multa de até 10 vezes o custo do mestrado em caso de

descumprimento, avaliação favorável no serviço e permissão de licença para

continuação dos estudos em tempo integral. Quanto à formação, permitiu-se graduação

em diversas áreas de conhecimento, como sociologia, antropologia, psicologia e áreas

afins, ou seja, não limitada às ciências biomédicas, desde que os interessados atuassem

no SNS.

A banca de seleção dos candidatos incluiu três professores da Fiocruz, um

membro do INS e doutores moçambicanos da área acadêmica. As pontuações dadas às

habilidades e competências do curriculum vitae do candidato foram previamente

padronizadas pela comissão de seleção.

No caso desta cooperação, os fundos disponíveis permitiam a seleção de 10 a 12

mestrandos, sendo que candidatos adicionais poderiam ser incluídos desde que

custeados por outras fontes. Destaca-se que a lista de aprovados contava com 14

selecionados. Candidatos excluídos em função dos resultados do processo seletivo, mas

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56

cuja frequência a alguns módulos/disciplinas foi considerada de importância estratégica

para o desempenho de suas funções no SNS, poderiam ser autorizados a frequentar

módulos/disciplinas de interesse, como uma opção de formação continuada.

Diferentemente da maioria dos programas de Pós-Graduação convencionais,

neste estabeleceu-se que a titulação no Mestrado seria feita pela unidade da Fiocruz em

que o orientador principal brasileiro de cada mestrando estivesse credenciado (ENSP

ou CPqAM). As dissertações poderiam adotar o modelo habitual ou de dissertação-

artigo, em que o resultado deveria compor um todo coerente em relação ao objeto da

dissertação. Estimulou-se a co-orientação por doutores moçambicanos, por ser esta

interação também um espaço de multiplicação de capacitação e empoderamento local

(CENTRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA FIOCRUZ, 2013).

Quanto aos temas das dissertações, estes foram definidos após a conclusão da

primeira disciplina do curso, de acordo com os temas de pesquisa considerados

prioritários pelo MISAU, que se adequassem às linhas de pesquisa dos orientadores e

que fossem de interesse dos alunos. Importante diferencial do curso foi o fato de ser

garantida ao menos uma oportunidade de orientação presencial no Brasil, criada e

financiada pelo programa. Outras sessões de orientação seriam combinadas à distância

ou aproveitando a presença do professor brasileiro em Moçambique por ocasião das

aulas. Acordou-se que as qualificações dos projetos seriam presenciais, assim como as

defesas das dissertações. Os temas não foram objeto de estudo desta pesquisa pelo fato

das dissertações não terem sido defendidas ainda. A primeira turma do curso tem

previsão de término para o primeiro semestre de 2016.

5.6 Mestrado em Saúde Pública – Peru

O projeto do curso de Mestrado em Saúde Pública foi fruto de um processo de

cooperação entre a ENSP e o Instituto Nacional de Saúde do Peru, por demanda do

último e iniciativa do Centro de Relações Internacionais da Fiocruz (Cris). A Fiocruz e

o INS/Peru são parceiros estratégicos no processo de fortalecimento dos Institutos

Nacionais de Saúde da região Sul-Americana, como Secretário Executivo e

Coordenador Geral, respectivamente, da Rede dos Institutos Nacionais de Saúde

(RINS) criada no âmbito da UNASUL, além de cooperações anteriores.

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57

Em 2010 a Fiocruz e o Ministério da Saúde do Peru assinaram um acordo sobre

programas de formação e capacitação de recursos humanos, com foco nos trabalhadores

do Instituto Nacional de Saúde do país (INS/Peru). Em função do papel e das

potencialidades do INS/Peru como organismo estruturante do Sistema de Saúde do

país, foi acordada, entre outras atividades, a organização e realização conjunta de um

Mestrado em Saúde Pública, que teve como objetivo principal fortalecer a capacidade

de pesquisa e ensino em Saúde Pública, de análise estratégica e de formulação de

políticas e programas de saúde no Peru, além de ampliar conhecimentos e competências

no campo da saúde pública para a estruturação de uma Escola Nacional de Saúde

Pública do Peru (ENSAP-Peru). O mestrado fez parte de um convênio mais amplo de

cooperação entre o INS/Peru e a Fiocruz, que incluiu acordos em outras áreas, como a

iniciativa de construção ENSAP-Peru, um acordo para realização de curso de

especialização em biossegurança para o INS/Peru, de um curso de especialização em

entomologia, para curso em saúde global e relações internacionais para profissionais da

rede de escritórios de cooperação internacional da UNASUL, sobre o plano nacional de

formação e desenvolvimento de recursos humanos para pesquisa em saúde e sobre a

gestão de programas para a prevenção e controle de doenças no contexto da

descentralização.

Foram oferecidas 30 vagas, destinadas preferencialmente a profissionais do

INS/Peru, mas aberto a profissionais de outras instituições públicas, como o Ministério

da Saúde. Os candidatos deviam ser apresentados pelo próprio INS e passaram por um

processo seletivo constituído de prova escrita, prova de inglês, análise do curriculum

vitae e entrevista.

Juntou-se à parceria a Universidad Nacional Mayor de San Marcos,

universidade pública mais antiga do Peru, que mantém um convênio de cooperação

com o INS para o desenvolvimento conjunto de programas de formação e capacitação

de pessoal. A referida Universidade uniu-se ao processo de organização do mestrado

com a finalidade de desenvolver capacidades locais para o futuro desenvolvimento de

programas análogos de formação.

Assim como nos outros programas ora estudados, buscou-se a formação de

quadros estratégicos para o ensino, pesquisa e gestão do sistema de saúde peruano, com

o intuito de reduzir as brechas entre ciência e inovação e entre academia e serviços,

especialmente por meio da qualificação de profissionais atuantes no sistema de saúde.

Desta maneira, a proposta pedagógica do mestrado buscou um modelo de formação que

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fosse capaz de articular as questões próprias da prática profissional com a apropriação

dos principais instrumentos teórico-conceituais e metodológicos do campo da saúde

pública.

A grade curricular do curso foi criada com base em uma matriz analítica de

desempenho dos sistemas de saúde, com ênfase nas disciplinas de metodologia de

pesquisa, em estrutura modular, com aulas uma semana por mês. O INS/Peru colaborou

na tradução das aulas, apresentações, material docente e bibliográfico para o espanhol,

o que permite o uso em futuras iniciativas de cooperação com países da América do Sul

(ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA, 2012a). Além

disso, arcou com as despesas para uma ida, acomodação e alimentação dos orientadores

para reuniões presenciais.

Quanto aos temas que foram objeto de investigação das dissertações, o projeto

propunha que refletissem os compromissos institucionais dos alunos e as prioridades

sanitárias do Peru, em consonância com as áreas temáticas definidas pela ENSP para as

quais houvesse possibilidade de docentes orientadores para as pesquisas. Buscou-se

formar profissionais com visão em saúde coletiva, modelos de sistemas e políticas de

saúde. No próprio processo de seleção para o mestrado foi analisada uma proposta

preliminar de trabalho dos candidatos com justificativa pertinente das instituições de

origem.

A responsabilidade pela titulação e pela condução pedagógica foi da ENSP,

sendo permitido que a docência e a orientação das dissertações fossem compartilhadas

com o INS, com a Universidad Nacional Mayor de San Marcos e com outras

instituições, se conveniente. A gestão acadêmica do mestrado esteve a cargo da ENSP,

sendo que a gestão administrativa e financeira foi compartilhada entre o INS e a ENSP.

O mestrado teve uma coordenação geral de responsabilidade da ENSP,

composta por coordenador geral e coordenador adjunto do mestrado, designados pela

Fiocruz, e também uma coordenação local, do INS/Peru.

A docência e as orientações foram definidas de comum acordo entre a ENSP, o

INS e a Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Pesquisadores de outras unidades

da Fiocruz, como IOC, Farmanguinhos e CDTS (Centro de Desenvolvimento

Tecnológico em Saúde) também aturam como orientadores. As dissertações puderam

ser defendidas por videoconferência ou nas instalações da ENSP/Fiocruz. Apesar de

não ter sido previsto período de estágio na ENSP para os alunos, alguns realizaram um

esforço pessoal e defenderam a dissertação no Rio de Janeiro com financiamento

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próprio. A Universidade peruana também foi responsável por revalidar para o Peru os

títulos expedidos pela ENSP. Apesar da intenção de compartilhar as orientações com

docentes universitários peruanos, a intenção não foi concretizada, o que dificulta o

processo de continuidade da experiência de maneira mais autônoma, que possibilitaria a

formação de mais profissionais dos serviços.

O curso contou com financiamento da OPAS, por meio do Programa de

Cooperação Internacional em Saúde (TC-41), para pagamento das passagens e diárias

dos docentes, como parte de um projeto de fortalecimento da Rede de Institutos

Nacionais de Saúde da UNASUL. O INS/Peru arcou com as despesas de tradução do

material, alguns custos de hospedagem, alimentação e transporte e uma viagem a Lima

de cada orientador.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Até o presente momento 85 mestres foram titulados e há 56 alunos matriculados

nos cursos analisados, totalizando potencial para a Fiocruz formar 141 mestres nos

países parceiros, como evidencia a Tabela 5vii.

Tabela 5: Egressos e alunos matriculados nos cursos de mestrado acadêmico da Fiocruz realizados em cooperação internacional com instituições em Angola, Moçambique, Argentina e Peru

Total Angola Argentina (Ep)

Argentina (BCM)

Moçambique (CS)

Moçambique (SS)

Peru Total

Egressos 15 14 9 21 0 26 85 Matriculados 0 16 0 26 14 0 56

Total 15 30 9 47 14 26 141

O maior número de alunos está em Moçambique, com 43,3% do total de

estudantes envolvidos, 24,7% dos egressos e 71,4% dos matriculados atualmente, o que

se justifica pela continuidade do projeto, com duas turmas formadas e duas em

andamento. O Peru é o país com mais egressos, 30,6%, embora não haja no momento

perspectiva de novas formações. A Argentina concentra 27% dos egressos e 28,6% dos

matriculados, com possiblidade de reunir 27,6% dos egressos ao final das turmas em

vii Argentina (Ep) - Mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública; Argentina (BCM) - Mestrado em Biologia Celular e Molecular; Moçambique (CS) - Mestrado em Ciências da Saúde; Moçambique (SS) - Mestrado em Sistemas de Saúde.

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curso, formando o segundo maior grupo. Angola tem hoje em seus quadros públicos

17,7% dos formados pela Fiocruz nesta modalidade de parceria.

A Tabela 6viii reúne um resumo dos cursos estudados, apresentando a

percentagem de selecionados (relação entre o número de candidatos e de selecionados)

e o índice de concluintes (relação entre o número de matriculados e de egressos),

número de turmas, em andamento e concluídas, duração, parcerias institucionais e

fontes de financiamento. Os dados sugerem que uma seleção mais criteriosa resulta em

um maior índice de egressos. O mestrado em Saúde Pública em Angola, por exemplo,

selecionou 94% dos candidatos e teve apenas 50% deles como concluintes, enquanto o

curso com o Peru teve percentagem de selecionados de 33% e índice de concluintes de

100%, e o mestrado em Biologia Celular e Molecular com a Argentina selecionou 68%

dos candidatos e teve 90% deles titulados.

A análise dos institutos da Fiocruz que participaram dos cursos mostra o

envolvimento de três unidades distintas, e dentro delas, diferentes programas de Pós-

Graduação. A ENSP teve participação de dois programas (Epidemiologia em Saúde

Pública e Saúde Pública) para a titulação e docentes de todos os programas na

orientação, enquanto o IOC teve três (Biologia Celular e Molecular, Biologia

Parasitária e Medicina Tropical), além do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães como

unidade.

A presença dos parceiros internacionais e das instituições financiadoras também

mostra um esforço de integração, com colaboração e envolvimento de diversos setores

e órgãos federais, como ABC/MRE, CAPES/Ministério da Educação, CNPq/

Ministério de Ciência e Tecnologia, MS, além de organismos multilaterais como a

OPAS. Este empenho coletivo envolveu também diferentes instituições nos países

parceiros, como todos os Ministérios da Saúde, os Institutos Nacionais de Saúde ou

equivalentes e universidades locais, que contribuíram com a experiência de formação

viii Instituições que constam na Tabela 6: ABC - Agência Brasileira de Cooperação ANLIS - Administração Nacional de Laboratórios e Institutos de Saúde (Argentina) CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CpqAM - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz IDRC - International Development Research Centre (Canadá) INS/Moz - Instituto Nacional de Saúde de Moçambique INS/Peru - Instituto Nacional de Saúde do Peru IOC - Instituto Oswaldo Cruz MISAU - Ministério da Saúde de Angola OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde UEM - Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique)

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no país e são candidatos a dar continuidade aos cursos uma vez que o país e as

organizações reúnam condições para seguir de forma independente na qualificação em

saúde para a melhoria e capacitação dos recursos humanos para seus sistemas de saúde.

Além de tantos atores envolvidos nos países parceiros e no Brasil, há também o

financiamento de instituição canadense para o mestrado em Sistemas de Saúde em

Moçambique, que mostra o componente de cooperação triangular nos programas. O

envolvimento de outras instituições em terceiros países que forneçam os recursos

financeiros indispensáveis para as iniciativas pode ser uma alternativa a ser pensada

pelos programas que, apesar das dificuldades enfrentadas neste quesito, reúnem pessoal

qualificado e engajado para continuar realizando os cursos. Constituem-se ainda em

possibilidades de colaboradores para o momento em que as instituições locais, uma vez

estruturadas e com pessoal habilitado por realizarem esses cursos, consigam manter os

programas de forma independente.

A duração dos cursos mostra que nenhum deles concluiu as turmas no prazo

esperado de 24 meses, de acordo com normas da CAPES, considerando a defesa de

todos os alunos titulados. O projeto com Angola teve a duração mais longa, de 52

meses, enquanto o do Peru foi mais próximo do ideal, 29 meses, sendo que as demais

turmas foram concluídas entre 31 e 36 meses.

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Tabela 6: Descrição dos cursos de mestrado acadêmico realizados pela Fiocruz em cooperação internacional com instituições em Angola, Moçambique, Argentina e Peru

ix DND - Dado Não Disponível

Paí

s

Nome do Curso Inscritos Selecionados Matriculados Percentagem

de selecionados

Egressos Índice de

concluintes Turmas iniciadas

Turmas concluídas

Duração (meses)

Instituto Fiocruz

Parceiro internacional

Financiamento

Ang

ola

Mestrado em Saúde Pública 35 33 30 94% 15 50% 1 1 52 ENSP MISAU ABC e CAPES

Arg

enti

na

Mestrado em Epidemiologia em

Saúde Pública - Turma 1

19 16 15 84% 14 93%

2 1

31

ENSP

ANLIS ABC e OPAS Mestrado em

Epidemiologia em Saúde Pública -

Turma 2

DNDix 19 16 - - - -

Mestrado em Biologia Celular e

Molecular 22 15 10 68% 9 90% 1 1 31 IOC

Moç

ambi

que

Mestrado em Ciências da Saúde

- Turma 1 25 15 15 60% 11 73%

4 2

32

IOC INS/Moz

ABC e CAPES Mestrado em

Ciências da Saúde - Turma 2

16 11 11 69% 10 91% 36

Mestrado em Ciências da Saúde

- Turma 3 22 10 10 45% - - - OPAS

Mestrado em Ciências da Saúde

- Turma 4 30 16 16 53% - - - Fiocruz

Mestrado em Sistemas de Saúde 21 14 14 67% - - 1 0 -

CpqAM e ENSP

INS/Moz e UEM

IDRC

Per

u Mestrado em Saúde Pública 85 28 26 33% 26 100% 1 1 29 ENSP INS/Peru OPAS

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Este fator se deve a dificuldades, imprevistos e desafios que são esperados em

programas como estes, que envolvem mais de uma instituição, distância física,

disparidade de formação básica entre os alunos e da expectativa do corpo docente,

dependência de financiamento externo e da necessidade de negociação com embaixadas

e instâncias da administração federal, burocracia característica de organizações públicas

que devem seguir diretrizes específicas na tramitação e execução orçamentária além de,

em alguns casos, interação em diferentes idiomas. Estes fatores podem explicar os

atrasos ocorridos, que, não entanto, não impediram a conclusão das turmas ou o início

de novas iniciativas, e deram mais experiência às unidades da Fiocruz para antecipar os

desafios e melhor planejar o desenvolvimento de parcerias futuras, no intuito de

administrar as adversidades inerentes ao processo.

Esclarece-se que a pesquisa encontrou limites quanto às possibilidades de

levantamento e obtenção de dados para realização desse estudo. Pelo fato do estudo

abranger seis diferentes cursos de Pós-Graduação em quatro países, realizados por

diferentes unidades da Fiocruz e com interveniência e envolvimento de outras instâncias

da Fundação Oswaldo Cruz, notadamente a Vice Presidência de Ensino, esbarrou-se em

algumas dificuldades no acesso aos dados. Entre estas, destaca-se a mudança de

coordenação no caso de cursos oferecidos em mais de uma oportunidade, a

descontinuidade daqueles oferecidos apenas uma vez e informações incompletas

naqueles ainda não finalizados. Em relação à segunda turma do mestrado em

Epidemiologia em Saúde Pública, não foi obtido o número de inscritos no processo

seletivo, o que impossibilitou o cálculo da percentagem de selecionados.

As características dos alunos dos cursos estudados, tanto titulados como

matriculados, são apresentadas na Tabela 7. Quanto à idade ao ingressar, 41,6% tinham

40 anos ou mais, resultado influenciado principalmente pelos cursos em Angola, de

Epidemiologia em Saúde Pública na Argentina e Sistemas de Saúde em Moçambique,

que tiveram respectivamente 66,7%, 43,3% e 42,9% de alunos acima de 40 anos. Isto

ocorreu mesmo com a limitação de idade dos candidatos nos editais dos cursos

realizados em Moçambique em 45 anos. O grupo de 30 a 34 anos foi o segundo maior

(23,2%). Estes dados mostram que os cursos estavam voltados para profissionais

experientes, que já trabalhavam nestas instituições mas precisavam de reforço e

atualização na formação, com exceção do curso de Ciências da Saúde em Moçambique,

que teve público jovem.

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Tabela 7: Características dos alunos dos cursos de mestrado acadêmico realizados pela Fiocruz em cooperação internacional com instituições em Angola, Moçambique, Argentina e Peru.

x Dados referentes à idade, vínculo empregatício e formação dos alunos da quarta turma não disponíveis. Dados referentes à formação dos alunos da terceira turma não disponíveis.

Características Angola Argentina (Ep) Argentina (BCM) Moçambique (CS)x Moçambique (SS) Peru Total

N % N % N % N % N % N % N %

Idade (ao ingressar)

23-29 anos 0 0,0 5 16,7 1 11,1 12 38,7 6 42,9 1 3,8 25 20,0

30-34 anos 3 20,0 5 16,7 5 55,6 11 35,5 2 14,3 3 11,5 29 23,2

35-39 anos 2 13,3 7 23,3 1 11,1 7 22,6 0 0,0 2 7,7 19 15,2

40 ou mais 10 66,7 13 43,3 2 22,2 1 3,2 6 42,9 20 76,9 52 41,6 Total 15 100 30 100 9 100 31 100 14 100 26 100 125 100

Sexo Feminino 6 40 18 60,0 6 66,7 21 44,7 7 50,0 15 57,7 73 51,8

Masculino 9 60 12 40,0 3 33,3 26 55,3 7 50,0 11 42,3 68 48,2

Total 15 100 30 100 9 100 47 100 14 100 26 100 141 100

Vínculo empregatício

Funcionário público 15 100 30 100 9 100 31 100 14 100 26 100 125 100

Sem vínculo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Total 15 100 30 100 9 100 31 100 14 100 26 100 125 100

Formação

Biologia/Ciências Biológicas

0 0,0 3 10,0 1 11,0 19 90,5 2 14,3 2 7,7 27 23,5

Biotecnologia 0 0,0 1 3,3 1 11,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 1,7

Enfermagem 8 53,3 1 3,3 0 0,0 0 0,0 3 21,4 5 19,2 17 14,8 Farmácia Bioquímica 1 6,7 4 13,3 5 56,0 0 0,0 1 7,1 4 15,4 15 13,0

Medicina 5 33,3 13 43,3 0 0,0 1 4,8 2 14,3 12 46,2 33 28,7

Nutrição 0 0,0 1 3,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 7,7 3 2,6

Odontologia 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 14,3 0 0,0 2 1,7 Psicologia 1 6,7 1 3,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 3,8 3 2,6 Sociologia 0 0,0 3 10,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 2,6

Outros 0 0,0 3 10,0 2 22,0 1 4,8 4 28,6 0 0,0 10 8,7 Total 15 100 30 100 9 100 21 100 14 100 26 100 115 100

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Quanto à formação na graduação, o grupo mais representativo foi o de médicos,

com 28,7% do total, puxado pelo curso de Epidemiologia em Saúde Pública da

Argentina (43,3%), e o do Peru (46,2%). A segunda formação mais presente foi de

biologia e ciências biológicas, com 23,5%, ocasionada pelo curso de Ciências da Saúde,

que pelas características teve 90,5% dos alunos com esta formação. Verifica-se

importante presença de graduados em Enfermagem (14,8%), e Química/Farmácia

Bioquímica (13,0%), sendo que 53,3% dos egressos do curso de Saúde Pública em

Angola são enfermeiros e os farmacêuticos são 56% do curso de Biologia Celular e

Molecular.

A distribuição entre homens e mulheres foi bastante equilibrada, com ligeira

maioria do sexo feminino (51,8%), o que segue a tendência da educação superior no

Brasil, apesar do resultado quase equivalente. Ao dividir a distribuição entre África e

América do Sul, o primeiro tem 44% de mulheres nos cursos e o segundo 60%.

Todos os alunos são vinculados a serviços públicos, o que era esperado pela

clientela específica dos cursos. Isto sugere que está sendo atingido o objetivo de se

formar quadros para os serviços públicos e ajudar a conformar os sistemas de saúde dos

países envolvidos, num reforço à área de vigilância em saúde, com foco na investigação

científica voltada para as necessidades do contexto local, que possam ser duradouros e

perpetuar a capacitação no futuro.

A Tabela 8, por sua vez, traz as temáticas das dissertações defendidas, que devido

à diversidade de áreas abordadas nos cursos foi bastante abrangente. Para melhor

analisar esta variável foram criados 23 grupos de temas, de acordo com os títulos das

dissertações já defendidas. Na análise do resultado final deste agrupamento os índices

são bastante similares, sem uma temática que se sobressaia na análise conjunta, apesar

do maior percentual ser o grupo de imunopatogenia de doenças infecciosas (12,9%),

resultado que se deve ao fato deste ser o tema de mais da metade das dissertações das

duas turmas de Ciências da Saúde (52,4%). Além desta temática, outra de destaque no

curso foram os estudos sobre prevalência e epidemiologia molecular. De maneira geral,

as temáticas das dissertações de Moçambique evidenciam pesquisas sobre diagnósticos

laboratoriais e doenças de grande incidência no país.

A análise dos cursos de forma separada confere destaque a alguns temas, como

Avaliação em saúde; Diagnóstico, profilaxia, transmissão e tratamento de doenças

infecciosas; Formação de Recursos Humanos em Saúde; Saúde materno-infantil e

Sistemas de saúde, todos responsáveis por 13,3% dos temas das dissertações do curso

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de Saúde Pública em Angola. Este curso, especificamente, tem temáticas mais

diversificadas, voltadas aos interesses e fazer próprio dos egressos, pois o público foi

do MS e de universidade pública, sendo mais aberto a um escopo de saúde pública e

sem limitação da temática.

Em relação ao mestrado de Epidemiologia em Saúde Pública, destacam-se os

temas de Doenças Crônico-Degenerativas e Epidemiologia e Prognóstico de Doenças,

com 21,4% das dissertações cada, possivelmente devido ao perfil populacional. Outros

temas pesquisados foram Diagnóstico, Profilaxia, Transmissão e Tratamento de

Doenças Infecciosas e Saúde materno-infantil (14,3%). Tiveram uma combinação

importante da parte laboratorial de saúde pública e vigilância de doenças. Temas mais

metodológicos também foram pesquisados, já que o curso era no campo da

epidemiologia.

O outro curso realizado na Argentina, de Biologia Celular e Molecular, teve

como as duas principais temáticas o Desenvolvimento e Comparação de métodos

diagnósticos (55,6%) e os Controles in vivo e in vitro de vacinas e soros (22,2%),

evidenciando característica laboratorial para verificação de qualidade na área.

Por fim, o curso de Saúde Pública no Peru teve distribuição bastante homogenia,

sendo o principal tema a Avaliação em Saúde (19,2%), seguida de Assistência

Farmacêutica, Diagnóstico, Profilaxia, Transmissão e Tratamento De Doenças

Infecciosas e Doenças Crônico-Degenerativas, todos com 11,5%. Com 7,7% das

pesquisas, Sistemas de saúde, Nutrição e saúde e Epidemiologia e Prognóstico de

Doenças ficaram em terceiro lugar.

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Tabela 8: Temáticas das dissertações defendidas nos mestrados acadêmicos realizados em cooperação internacional com instituições em Angola, Moçambique, Argentina e Peru

Temas das dissertações defendidas Angola Argentina (Ep) Argentina (BCM) Moçambique (CS) Peru TOTAL

N % N % N % N % N % N %

1 Acidentes e agravos ocupacionais 1 6,7 0 0,0 1 11,1 0 0,0 1 3,8 3 3,5

2 Assistência Farmacêutica 1 6,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 11,5 4 4,7

3 Avaliação em Saúde (de programa, demanda e satisfação do usuário sobre o Sistema de Saúde)

2 13,3 1 7,1 0 0,0 0 0,0 5 19,2 8 9,4

4 Biodisponibilidades in vitro 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 3,8 1 1,2

5 Co-infecção com HIV e outras patologias 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 9,5 0 0,0 2 2,4

6 Controles in vivo e in vitro de vacinas e soros 0 0,0 0 0,0 2 22,2 0 0,0 0 0,0 2 2,4

7 Desenvolvimento e Comparação de métodos diagnósticos 0 0,0 0 0,0 5 55,6 0 0,0 0 0,0 5 5,9

8 Diagnóstico laboratorial de Meningite, Malária, Tuberculose e Diarreia 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 9,5 0 0,0 2 2,4

9 Diagnóstico, Profilaxia, Transmissão e Tratamento De Doenças Infecciosas 2 13,3 2 14,3 0 0,0 0 0,0 3 11,5 7 8,2

10 Doenças Crônico-Degenerativas 0 0,0 3 21,4 0 0,0 0 0,0 3 11,5 6 7,1

11 Prevalência e Epidemiologia molecular 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 14,3 0 0,0 3 3,5

12 Epidemiologia e Prognóstico de Doenças 1 6,7 3 21,4 0 0,0 2 9,5 2 7,7 8 9,4

13 Ética em saúde 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 3,8 1 1,2

14 Formação de Recursos Humanos em Saúde 2 13,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 3,8 3 3,5

15 Imunopatogenia de doenças infecciosas 0 0,0 0 0,0 0 0,0 11 52,4 0 0,0 11 12,9

16 Nutrição e saúde 0 0,0 1 7,1 0 0,0 0 0,0 2 7,7 3 3,5

17 Monitoramento de biotérios 0 0,0 0 0,0 1 11,1 0 0,0 0 0,0 1 1,2

18 Planejamento estratégico 1 6,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,2

19 Revisão sistemática e validação de instrumentos 0 0,0 2 14,3 0 0,0 0 0,0 1 3,8 3 3,5

20 Saúde materno-infantil 2 13,3 2 14,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 4 4,7

21 Sistemas de saúde 2 13,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 7,7 4 4,7

22 Vigilância epidemiológica, ambiental e de vetores 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 4,8 1 3,8 2 2,4

23 Violência de Gênero 1 6,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,2

TOTAL 15 100 14 100 9 100 21 100 26 100 85 100

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De maneira geral, todas as iniciativas pesquisadas foram concluídas, algumas

com mais dificuldades e entraves que outras, ou estão em curso como previsto, tendo

formado até o momento 49 profissionais em nível de Pós-Graduação na América-

Latina e 36 na África. O índice de conclusão dos alunos está acima de 70%, com

exceção de Angola que teve índice bastante inferior ao restante, sendo este curso

especificamente o que passou por mais dificuldades durante o desenvolvimento e que

pode apontar importantes lições para iniciativas futuras. Apesar das taxas brasileiras

ficarem em torno de 10% de evasão, com casos atípicos chegando a 70%, é esperado

que programas inovadores que passam pelos mais variados desafios tenham

porcentagens maiores (MAIA, 2014). A continuidade dos cursos e avaliação após o

término das turmas em curso permitirá alguma afirmação quanto ao universo total.

A totalidade dos alunos vinculados a instituições públicas cumpre o requisito de

serem programas para fortalecer os sistemas de saúde dos países, voltados

exclusivamente aos funcionários que já trabalhavam e que se comprometeram a

continuar com o vínculo, para fomentar o avanço dos serviços e sistemas de saúde.

Quanto ao gênero, há mais homens nos cursos com a África e mais mulheres nos

da América do Sul, seguindo tendência da região latino-americana de escolaridade mais

elevada para as mulheres.

O perfil das profissões, predominantemente médicos, seguido de biólogos,

enfermeiros e farmacêuticos, guarda relação com o perfil dos Institutos parceiros, sendo

que no caso do curso de ciências da saúde em Moçambique a principal profissão foi

biólogo devido à especificidade do curso. Com a realização pelo INS/Peru de

atividades de controle de qualidade de produtos, houve grande número de

farmacêuticos, já que esta é atividade característica destes profissionais. Os cursos da

Argentina tiveram público composto também por profissionais da área de ciências

humanas e sociais, sendo que o curso de Epidemiologia em Saúde Pública foi o que

teve maior diversidade de profissões.

Quanto aos temas das dissertações, era esperada a grande diversidade encontrada,

tanto pelo número de alunos titulados quanto pelo foco dos cursos. Realizar o

agrupamento dos temas foi a etapa mais desafiadora dessa dissertação, juntamente com

a busca pelos dados dos atores e cursos. Apesar de não ter sido tarefa simples agrupar

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os diferentes títulos das dissertações em temas, priorizou-se congregar por funções da

saúde pública e tipos de problema de saúde. Destacam-se as dissertações que

abordaram a Imunopatogenia de doenças infecciosas e o Desenvolvimento e

Comparação de métodos diagnósticos, trabalhados especificamente pelos cursos do

IOC, dado o tema. Os sistemas de saúde e avaliação de programas, que incluem o

monitoramento e constituem assim um grande campo da saúde pública, também

merecem destaque. As Doenças Crônico-Degenerativas, Epidemiologia e Prognóstico

de Doença, Diagnóstico, Profilaxia, Transmissão e Tratamento de doenças infecciosas,

tiveram alta incidência entre os temas, devido às doenças prevalentes nesses países e a

necessidade de investigar o tema.

A análise conjunta dos cursos evidenciou que a Fiocruz tem primado pela

realização de projetos interligados, com apoio estruturante aos sistemas e instituições

públicas de saúde que garantam a sustentabilidade e continuidade das ações, que sem

dúvida passam pelo fortalecimento da formação de recursos humanos para as

instituições públicas de saúde. Para esta estruturação, além do financiamento,

imprescindível, o compromisso dos governos e instituições locais é imperativo, pois

são eles que possibilitarão a continuidade das ações e, mais importante, mudanças

efetivas que contribuam para desenvolvimento dos países.

Por serem cursos com características, público, países e trajetórias muito

diferentes, apontam-se algumas características observadas na síntese realizada. O curso

de Angola, que levou mais tempo para ser concluído, teve 94% dos inscritos

selecionados, mas apenas metade destes concluiu o programa, mesmo assim após mais

de quatro anos do início. É preciso verificar o que ocorreu para que tenha sido uma

experiência negativa. Podem ter ocorrido falhas na seleção ou uma tentativa de

expandir a oportunidade a mais pessoas. A resposta é incerta no momento, mas os

dados analisados sugerem que não respeitou o rigor característico dos processos

seletivos da Pós-Graduação da Instituição.

Os demais cursos, exceto do Peru, tiverem turmas de dez a 16 estudantes, e índice

de conclusão acima de 73%, sugerindo que um menor número de alunos seja benéfico

para a organização e conclusão do curso, já que a distância e a interação necessários

durante o curso podem ser mais difíceis quando há muitos alunos envolvidos.

A consistência da iniciativa do mestrado em Ciências da Saúde em Moçambique,

com maior número de turmas, inícios regulares e interação entre pesquisadores

brasileiros e moçambicanos, evidencia que é um curso consolidado, sendo o exemplo

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de maior êxito enquanto parceria acadêmica entre os casos pesquisados. Como

contradição, ao comparar os cursos de Angola e Moçambique, ambos países de língua

oficial portuguesa, localizados no mesmo continente, com histórico recente de guerra

civil e reconstrução do sistema de saúde similares, observa-se resultados díspares nas

iniciativas realizadas.

A experiência da formação de recursos humanos por meio de convênios bilaterais

ou tripartites, como os analisados, exige um exercício operacional com cuidadosa

articulação entre diversas instâncias, pelas coordenações geral e local, com o pessoal

administrativo, alunos, professores e orientadores. Como iniciativas inovadoras e

audaciosas para a Pós-Graduação brasileira, são cursos que fazem uma experimentação,

de acordo com suas especificidades, envolvem países muito diferentes e demandam um

enorme esforço dos envolvidos na tentativa de contribuir seja para o (re)nascimento de

uma nação após dois séculos de dominação seja para o desenvolvimento do sistema de

saúde ou de um setor dentro dele . Os resultados alcançados até o momento devem ser

analisados e divulgados, com a intenção de disseminar esta experiência, fornecer

subsídio aos interessados em iniciativas semelhantes e dar conhecimento do que tem

sido realizado nos cursos. A manutenção dos convênios vigentes, retomada dos que não

tiveram seguimento e a ampliação da cooperação internacional com outros países terá

seguramente nos casos ora pesquisados uma fonte para consulta e análise do que já foi

experimentado durante o trabalho meticuloso que exigem tais empreendimentos.

Inicialmente pretendia-se avaliar se os trabalhos resultaram em publicações

cientificas e comparar estes resultados com os programas de PG ordinários realizados

na Fiocruz, mas a impossibilidade de contato com os egressos, que poderiam avaliar

este aspecto, foi uma limitação encontrada quanto a esta avaliação. De forma

semelhante, outra questão interessante seria saber qual o impacto da formação no

trabalho desenvolvido pelos profissionais titulados, mas esta análise também

dependeria de consulta aos egressos e às chefias dos serviços aos quais pertencem, o

que não foi possível realizar neste estudo.

As conclusões deste estudo são parciais, uma vez que não se pôde escutar a

avaliação dos atores formados, o que permanece como sugestão para apreciação

posterior em futuros estudos. O aprofundamento desta temática e a possibilidade de

contato e escuta dos parceiros, investigando o que os egressos e seus superiores nas

instituições públicas para onde retornaram após a formação têm a dizer, pode trazer

novas considerações e sugestões para aperfeiçoamentos em inciativas semelhantes.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO. Capacitação do sistema de saúde da República de Angola. Brasília, mai. 2008. _____. Via ABC. Publicação da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores. Brasília: Coordenação Geral de Comunicação e Informação, Mar. 2007, 24 p. Disponível em <http://www.abc.gov.br/documentos/viaABC-baixa.pdf>. Acesso em: 10 out. 2013

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_____. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal; 1988.

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