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A contribuição da arquitetura para humanização das unidades de terapia intensiva (U.T.I) janeiro/2013
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A contribuição da arquitetura para humanização das unidades de
terapia intensiva (U.T.I)
Taciana Maria Nogueira Bernardes - [email protected]
Máster em arquitetura
IPOG – Instituto de Pós Graduação
Belo Horizonte, Minas Gerais, 28 de Maio de 2012.
Resumo
A abordagem deste trabalho visa a reflexão da humanização dos ambientes em um dos locais
que lida com a maior fragilidade do paciente, a U.T.I.. Identificar as formas adotadas para
aumentar a humanização nos projetos dos ambientes hospitalares defendidas pelos autores de
teses, livros e artigos atuais e quais dessas diretrizes são as mais eficazes, visando acrescentar
a este tema que é de suma importância para o bem estar dos pacientes. Muitas são as
definições de “humanização na saúde” mais este termo tem sempre a pretensão de considerar
as questões éticas envolvidas no ato de cuidar de pessoas enfermas levando em consideração
o respeito e a valorização da pessoa humana, e de que forma a arquitetura pode contribuir
nesta valorização? Para alcançar esta resposta foram desenvolvidas pesquisas bibliográficas
referente ao assunto em seguida as informações foram organizadas em forma de textos. Pode-
se concluir que a arquitetura deve ser utilizada para humanizar as Unidades de Tratamento
Intensivas, para isso é necessário observar alguns elementos como a localização, a
iluminação, a cor, o conforto higrotérmico, o conforto acústico, o layout, o mobiliário e a
privacidade do paciente.
Palavra-chave: Arquitetura. Humanização. U.T.I.
1. Introdução
Os hospitais estão passando por uma fase de mudança em função da preocupação com o
desgaste psicológico que pacientes e acompanhantes são expostos e a grande carga horária
que são submetidos os funcionários. As áreas ligadas a saúde estão se modernizando e
desenvolvendo estudos para melhorar a qualidade de vida e a humanização dentro dos
hospitais.
“a humanização é um movimento controvertido. Surge de um paradoxo entre a
essência do ser, da capacidade do humano e a necessidade de construção de um
espaço concreto nas instituições, que legitime o lado humano das pessoas que, por
vocação, escolheram trabalhar com a relação tênue entre a vida e a morte.”
(CHANES – 2005 pag. 31)
No livro Microfísica do Poder, o nascimento do hospital terapêutico no final do século XVIII,
o autor Michel Foucault descreve a importância da arquitetura nos hospitais: “A arquitetura
hospitalar é um instrumento de cura de mesmo estatuto que um regime alimentar, uma sangria
ou um gesto médico” (FOUCAULT, 1979, p. 109).
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A unidade de tratamento intensivo surgiu no século XIX, com a necessidade do agrupamento
das pessoas para facilitar o acompanhamento em tempo integral dos pacientes que
necessitavam. Os seus espaços estão eram projetados em função dos aparelhos e tecnologias
existentes. Na ultima década o movimento de humanização do atendimento a saúde vem
mudando o foco para o paciente, sendo ele o centro das atenções, assim a arquitetura está cada
vez mais voltada para este principio levando em conta as questões relativas aos fatores
psicológicos e sociais.
Foi com esta preocupação que no ano de 2000 foi criado o PNHAH - Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar e desde então a palavra humanização está cada vez
mais presente em dissertações e teses ligadas a saúde, não apenas na área da arquitetura mais
também nas médicas, sendo citadas frequentemente como diretrizes de trabalho a serem
implementadas.
Em 2004 o programa PNHAH foi substituído pelo intitulado HUMANIZA SUS, sendo
estabelecidas algumas diretrizes, divulgadas no documento “base para gestores e
trabalhadores do SUS”, ao fazê-la foi identificado uma série de impedimentos a serem
vencidos para que possam ser alcançados os objetivos do programa, entre eles estão:
a) Fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais;
b) Fragmentação da rede assistencial dificultando a complementaridade entre a rede básica e o
sistema de referência;
c) Precária interação nas equipes e despreparo para lidar com a dimensão subjetiva nas
práticas de atenção;
d) Sistema Público de saúde burocratizado e verticalizado;
e) Baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, especialmente no que se refere à
gestão participativa e ao trabalho em equipe;
f) Poucos dispositivos de fomento à cogestão e à valorização e inclusão dos gestores,
trabalhadores e usuários no processo de produção de saúde;
g) Desrespeito aos direitos dos usuários;
h) Formação dos profissionais de saúde distante do debate e da formulação da política pública
de saúde;
i) Controle social frágil dos processos de atenção e gestão do SUS;
j) Modelo de atenção centrado na relação queixa/conduta.
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Alguns destes impedimentos podem ser amenizados com o projeto de arquitetura, por isso é
de suma importância que os arquitetos entrem como protagonistas desta história tendo apoio
de uma equipe multidisciplinar mantendo sempre o contato com os profissionais que vão
atuar diariamente no local onde está sendo projetado. Trata-se de recuperar a responsabilidade
de proporcionar as condições funcionais e de conforto ao bom desempenho das práticas
médicas contribuindo certamente com o processo de cura dos pacientes.
Segundo GOLDENSTEIN (2006), baseando em uma pesquisa com usuários e funcionários
em um hospital e trabalhando modificações a fim de humanizar o ambiente ele pode notar os
seguintes comportamentos:
As mudanças verificadas os comportamentos foral notáveis:
melhora no humor e estado de ânimo tanto dos pacientes quanto das equipes de
saúde; perscepção por parte dos pacientes, de uma melhor atenção para com eles;
aumento da ocupação dos espaços públicos, entre outras. (Goldenstein – 2006 pag.
40, 41)
O termo “humanização na saúde” não possui ainda um significado preciso, porém segundo
Coprara (1999) o conceito da humanização na saúde refere-se às questões éticas envolvidas
no ato de cuidar da pessoa enferma, à melhoria na relação médico-paciente, as condições de
trabalho dos profissionais levando em consideração o respeito e valorização da pessoa
humana, e de que forma a arquitetura pode contribuir nesta valorização?
Tendo em vista a importância do tema, a abordagem pretendida neste trabalho é refletir sobre
a humanização dos ambientes em um dos locais que lida com a maior fragilidade do paciente
não só fisicamente mais também psicologicamente, a U.T.I.. Identificar quais são as formas
adotadas para aumentar a humanização nos projetos dos ambientes hospitalares defendidas
pelos autores de teses, livros e artigos atuais, e quais dessas diretrizes são as mais eficazes,
visando acrescentar a este tema que é de suma importância para o bem estar dos pacientes.
1. Metodologia
Este trabalho foi elaborado por meio de pesquisas bibliográficas, onde foram selecionados
livros, artigos e monografias de conclusão de curso, que possuem algo referente ao assunto
pesquisado. Após essa etapa as informações adquiridas foram organizadas em forma de
textos. E finalmente foi realizada uma conclusão para uma melhor compreensão do tema
dissertado.
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2. Resultados e discussão
Unidade de tratamento intensivo consiste em um conjunto de elementos destinados ao
atendimento de pacientes graves ou de risco que exijam a assistência médica 24 horas.
Segundo o Ministério da saúde as U.T.I.s devem ser divididas por faixa etária:
Neonatal: destinado ao atendimento de pacientes com idade de 0 a 28 dias;
Pediátrico: destinado a pacientes com idade de 29 dias a 18 anos incompletos;
Adulto: destinado a pacientes com idade acima de 18 anos.
Segundo Cláudia B. Cesário em seu artigo Percepções dos pacientes em relação à unidade
terapia intensiva, as sensações mais frequentes citadas pelos pacientes são:
a) Medo de morrer: foi o sintoma referido pelo estado novo e desconhecido em que se
encontravam;
b) Ambiente angustiante: A doença é um estado físico que gera angústia em todas as pessoas
envolvidas;
c) Falta de autonomia: A percepção da privação da autonomia, da liberdade, a falta de
domínio da situação e a dependência, levam a um estado de inatividade e surge para o
paciente como uma realidade de difícil aceitação.
Para amenizar estas sensações frequentemente mencionadas pelos pacientes, é necessário
segundo Cherubin (2002) ter dois tipos de ambientes: espaços para repouso para quem
necessita de paz e tranquilidade, e espaços de estímulo possibilitando uma boa sensação, uma
observação estética ou outra emoção qualquer que alivie o sofrimento e a angústia da espera.
Vários são os fatores que devem ser tratados na arquitetura de uma unidade de terapia
intensiva (U.T.I) a fim de auxiliar na busca da humanização do atendimento. A seguir serão
citados estes elementos e quais as suas importâncias.
Localização
A unidade de terapia intensiva deve estar estrategicamente posicionada dentro dos hospitais
para facilitar principalmente o cotidiano da equipe médica. Segundo Hamilton (2001) a
unidade deve estar instalada próximo a emergência e aos leitos cirúrgicos para facilitar a
transferência dos pacientes e também próximo ao laboratório clínico e ao setor de
imagenologia, para agilizar os exames, salientando que o tamanho máximo seja de 500m².
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Miller e Swensson (2002) afirma que a U.T.I não deve ter menos de cinco leitos, pois seria
economicamente inviável e nem mais de dez leitos por dificultar a observação a partir do
posto de enfermagem.
Iluminação
A iluminação artificial é indispensável nas Unidades de tratamento Intensivo afinal o
acompanhamento do paciente deve ser feito em tempo integral, porem o posicionamento desta
iluminação e sua intensidade deve ser projetado com cautela, afinal ha uma influência no
equilíbrio fisiológico e psicológico dos usuários.
Segundo Miquelin(1992) alguns aspectos básicos devem ser analisados a respeito da
iluminação: níveis de iluminação de acordo com as exigências do conforto humano; sistemas
de iluminação que podem ser direto, indireto ou misto; tipo de luz; eficiência luminosa;
reprodução de cor.
Deve-se lembrar que o campo de visão do paciente em uma UTI é o teto e a luz direta é
causadora de desconforto podendo provocar ofuscamento. Portanto a iluminação deve ser
indireta e a luminária deve ser escolhida adequadamente para tal campo de visão.
O ser humano é um organismo ciclodiano, isso significa que ele como organismo fica em
estado de vigília mediante a luz do sol e repousa na ausência de luz natural. Com base nesta
afirmativa é imprescindível que o paciente mesmo dentro da UTI consiga ter a percepção do
ciclo dia e noite. Assim as janelas devem ser amplas e com peitoris baixos facilitando a
visualização, mesmo que o paciente esteja deitado na cama/leito.
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Figura 1 – UTI do New York Hospital, em New York, nos EUA
Fonte: Health Spaces of the World: a Pictural Review, 2000.
Além das janelas é importante que no exterior tenha áreas ajardinadas, pois as plantas também
têm o poder de alterar um ambiente mesmo que de fora para dentro já que não é permitido a
colocação de vegetação no interior da Unidade de terapia intensiva. Segundo LOHR &
PEARSON (2012), elas podem interferir no nível de conforto das pessoas em ambientes
fechados. A simples visualização das plantas pode reduzir o estresse de pessoas em situação
de desconforto físico. Pesquisas demonstraram que pessoas poucos dias após sofrerem uma
grande intervenção cirúrgica toleraram melhor dores severas em ambientes com a presença de
plantas assim como pessoas com pequenos desconfortos também se sentiram melhores.
A cor
Na U.T.I e no hospital de uma forma geral a aplicação de cores precisa ser adequada para
transmitir a sensação de maior bem estar para o paciente, família e profissionais envolvidos.
Segundo Martins (2004) as condições higrotérmicas de um ambiente podem ser melhoradas a
partir das sensações térmicas provocadas pela cor. Portanto para um ambiente seco, cores de
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conotação única (verdes escuras) são recomendadas, enquanto um espaço úmido são mais
indicados cores ditas secas (vermelho e alaranjado).
Boccanera; Boccanera; Barbosa (2004) desenvolveu uma pesquisa com pacientes e
funcionários de U.T.I.s e pode afirmar que a cor azul claro e a mais citada como a cor
preferida para pintura das paredes.
AC – azul claro; B – branco; VC – verde claro; AMC – amarelo claro; PAL – palha; CC – cinza claro; BE –
bege claro; LAR – laranja; ROSA – rosa; PES – pêssego; V – vinho; GOI – goiaba
Gráfico 1 – Percepções de profissionais e pacientes quanto as cores que considerem agradáveis dentro da U.T.I
Fonte: Boccanera; Boccanera; Barbosa (2004)
A cor azul segundo Walker (1995) é de todas as cores a mais tranquilizadora, ela faz com que
o cérebro secrete onze hormônios neurotransmissores que possuem ação tranquilizante. Esses
hormônios são sinais químicos que podem atuar acalmando todo o corpo. Já a cor verde,
utilizada sem restrições pelos hospitais e unidades ligadas a saúde é uma cor fria, aliviando e
acalmando tanto fisicamente quanto mentalmente. Pode primeiramente exercer um efeito
benéfico, mas depois de algum tempo torna-se fatigante. O verde atua sobre o sistema nervoso
simpático, aliviando a tensão dos vasos sanguíneos e diminuindo a pressão arterial. Sendo
considerado como uma cor tranquilizante, porém deve ser utilizado com cautela, com o tempo
pode tornar-se cansativo, sendo recomendado apenas para centros cirúrgicos com a função de
descansar a visão da equipe médica por contrapor a cor vermelha.
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Conforto Higrotérmico
O conforto higrotérmico está relacionado aos seguintes fatores: temperatura, umidade relativa
e velocidade do ar. Segundo Corbella (2003) a algumas estratégicas baseadas no principio
bioclimático que podem ser seguidas em projeto:
a) Controlar o acúmulo de calor;
b) Procurar dissipar a energia térmica do interior do edifício;
b) Retirar toda umidade em excesso, promovendo o movimento do ar;
c) Privilegiar o uso da iluminação natural;
d) Controlar as fontes de ruídos.
O arquiteto João Figueiras Lima – o Lelé, trada do conforto higrotérmico com maestria, tendo
como exemplo os hospitais da rede Sarah Kubistchek com soluções simples e eficazes, sem
abrir mão dos muitos princípios de humanização descritos neste artigo. A principal
característica de Lelé é a criação de uma ambiência agradável para os pacientes, através da
adequada utilização dos recursos naturais de ventilação e iluminação.
Conforto acústico
O conforto acústico está ligado com a qualidade do som produzido em um ambiente. Dentro
de uma UTI os sons são intensificados, como ruídos de passos nos corredores, conversa entre
os profissionais, ruídos dos alarmes dos equipamentos médicos, sons de televisão, carrinhos
entrando e saindo da unidade são alguns exemplos de ruídos encontrados em praticamente
todas as U.T.I.s.
Segundo Tsiou (1998) certas fontes de ruídos são inevitáveis como o oxigênio, equipamentos
de sucção ou respiradores, porem é necessário que a preocupação com a quantidade de ruídos
na unidade de tratamento intensivo inicie com a escolha dos equipamentos, quantificando
desde o inicio a amplitude dos ruídos a fim de propor medidas que visem sua diminuição.
Segundo a NBR10152/1987, em ambientes hospitalares, os níveis devem variar entre 35 e
55dB(A), encontrando-se entre as curvas NC30 e NC50 (Tabela 1). O valor inferior
representa o nível sonoro para conforto, e o valor superior é o nível sonoro aceitável para o
ambiente.
Locais dB(A) NC
Hospitais apartamentos, Enfermarias,
berçários, centros cirúrgicos
35-45 30-40
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Laboratórios, áreas para uso público 40-50 35-45
Serviços 45-55 40-50
Tabela 1 – Nível sonoro
Fonte: NBR 10.152/1987
Na pesquisa desenvolvida por Garrido e Moritz (1999) os níveis de ruído encontrados na
Unidade de tratamento intensivo em uma media de 3 hospitais atingiram 80 dB(A) durante o
dia e 70dB(A) durante a noite, referindo que o nível de ruído está acima do esperado levando
os pacientes a um estado de stress.
Layout e mobiliários
O layout do ambiente e a sua funcionalidade deve ser considerados não apenas para atender as
normas e sim para melhorar o bem estar do paciente e facilitar o trabalho da equipe médica.
Uma tendência que vem invadindo os hospitais de alto padrão no Brasil é a semelhança com a
hotelaria e parques infantis no caso das U.T.I.s pediátricas, porem estas medidas estão
relacionadas com o aumento dos custos iniciais e de manutenção das unidades, se por um lado
estas medidas são comprovadamente sugeridas como formas de humanizar o ambiente, por
outro lado, torna-se difícil sua aplicação em hospitais vinculadas ao sistema público de saúde
ou voltadas para o atendimento da população de baixa renda.
Não sendo possível desenvolver os leitos com a aparência hoteleira, pode-se pensar em
símbolos residenciais com a intenção de criar uma atmosfera de aconchego e bem estar
vinculando à imagem do lar.
Um exemplo de elementos que podem ser usados para melhorar a qualidade de vida dentro de
uma U.T.I são os quadros e obras de artes, lembrando que por se tratar de um ambiente
controlado devem ser colocados com proteção de vidros ou algum material semelhante que
permita a visualização mais também permita a correta higienização da área.
Ulrich (1993) realizou uma experiência com pacientes de U.T.I. cardíaca na Suécia,
colocando os pacientes expostos, de forma aleatória a quadros montados ao pé dos leitos
diretamente em sua linha de visão. Os resultados foram de certa forma surpreendente, aqueles
que olhavam para a natureza tendo como a água um dos seus elementos mais marcantes foram
os que experimentaram menos grau de ansiedade comparando com os pacientes de controle
que não foram expostos a nenhum quadro em seu campo de visão. Já pacientes em contato
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continuo com quadros abstratos foram os que expressaram o maior nível de ansiedade, as
reações foram tão adversas que alguns desses pacientes foram necessários à retirada dos
quadros antes do termino da pesquisa a fim de não causar danos maiores.
A colocação dos sanitários na Unidade continua sendo um problema que ainda não foi
totalmente compreendido e resolvido nos projetos, Hamilton (2001) sugere que a cadeira
sanitária móvel seja a mais adequada, porem Bobrow; Kobus; Skggs (2000) acredita ser mais
interessante que cada quarto privativo possuísse um banheiro com chuveiro. O Hospital
Israelita Albert Einstein em São Paulo desenvolveu um equipamento bastante interessante que
de certa forma atende as necessidades dos seus pacientes, trata-se de um lavatório com bacia
sanitária acoplada.
Figura 02: UTI Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo-SP Brasil
Fonte: DALMASSO (2005)
Privacidade
As primeiras Unidades de terapia intensiva do país eram como grandes salões, onde as macas
eram dispostas sem nenhum tipo de divisão contendo um posto de enfermagem ao centro, a
intenção era que o paciente fosse observado em tempo integral pela equipe medica, de fato
está função era respeitada, porém o paciente não possuía nenhum tipo de privacidade. Com a
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preocupação com a humanização a questão da privacidade se tornou um dos maiores desafios
para ser resolvidos com a arquitetura.
Nas Unidades de terapia intensiva de uma forma em geral os seus leitos são divididos com
cortinas hospitalares a fim de garantir a privacidade dos seus pacientes, porem a cortina
hospitalar não funciona como isolamento acústico e também não impede a propagação de
odores entre os leitos.
Segundo Hamilton (2001) existe maneiras de permitir a privacidade do paciente e de seus
familiares sem prejudicar a visão dos médicos e enfermeiros, afinal o paciente também se
sente mais confiante quando consegue ter uma visão direta da equipe médica. A separação
dos pacientes em quartos privativos tem sido uma boa opção para projetos que busca a
humanização da Unidade. Porem os quartos devem permitir a observação da equipe médica
podendo ser através de portas envidraçadas ou painéis de vidros e tendo o auxilio de
equipamentos de monitoramento instalados nos quartos e no posto de enfermagem.
1-Posto de enfermagem; 2-área limpa; 3-área de nutrição; 4-quartos; 5-Sala de enfermagem;
6-circulação.
Figura 03 e 04: UTI cirúrgica do Lynchburg General Hospital, em Lynchburg, Virgínia, nos EUA.
Fonte: Miller e Swensson (2002)
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Avaliação pós-ocupação (APO)
Em função dos muitos estudo ligados a área hospitalar estão aumentando as pesquisas de
Avaliação Pós-ocupação (APO) nos hospitais, avaliando principalmente o conforto dos
pacientes e o desempenho das propostas arquitetônicas (KOTAKA e FAVERO 1998;COSTI
2000).
Sampaio e Chagas (2010) desenvolveram uma tabela composta por checklist divididos por
categorias, ela foi desenvolvida baseada na ferramenta de avaliação AEDET(2009), utilizada
no Reino Unido para avaliar projetos hospitalares e edifícios hospitalares já em
funcionamento. Possui cinco categorias principais, que são os aspectos: ambientais, de
conforto e qualidade, funcionais, construtivos e estéticos, ele afirma que esta metodologia
para desenvolver uma APO é bastante simples e eficaz, podendo analisar as vertentes que
compõe um ambiente humanizado. Esta tabela está disponível no anexo deste artigo.
3. Conclusão
Tendo como base os resultados e discussões abordadas anteriormente é possível afirmar que a
arquitetura pode e deve ser utilizada para humanizar as Unidades de Tratamento Intensivas.
Para isso ela deve estar estrategicamente posicionada dentro do hospital, possuir iluminação
artificial adequada e bem posicionada com relação ao campo de visão do paciente, iluminação
natural através de amplas janelas com baixos peitoris para facilitar a visualização do paciente,
ser pintada de cores adequadas podendo ser o azul claro, ter um bom conforto higrotérmico,
bom conforto acústico que pode ser resolvido juntamente com a privacidade dividindo os
leitos por ambiente com fechamentos em portas de vidro permitindo a visualização do posto
de enfermagem, a especificação ideal dos mobiliários atendendo o padrão sócio econômico
proposto pelo hospital sem restringir a colocação de quadros e elementos que resgate a
valorização do individuo. A existência ou não de sanitários nas U.T.I.s ainda é o tema em
aberto em função dos poucos livros e artigos científicos que debatem sobre este assunto,
porem podemos adotar como o ideal a existência de um sanitário para cada leito. Após a
realização da construção ou reforma da unidade é indispensável que o profissional retorne e
aplique a APO, a fim de identificar falhas e possíveis ajustes a serem feito nos futuros
projetos.
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