a construçãio das imagens representativas do brasil nas vozes de caminha, gandavo e sousa
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEBCAMPUS UNIVERSITÁRIO PROFESSOR GEDIVAL SOUSA ANDRADE
A CONSTRUÇÃO DAS IMAGENS REPRESENTATIVAS DO BRASIL NAS VOZES DE CAMINHA, GÂNDAVO E SOUZA
Edésio JúniorGeorge Augusto
Thiago Dias
Prof.(a) Ms. Andrea Betânia da Silva
Prof. Ms. João Evangelista do Nascimento Neto
XIQUE-XIQUE/BA2008
Orient.
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Introdução:
O estudo das obras literárias dos períodos quinhentista e seiscentista desperta grande motivação entre os historiadores e estudiosos da literatura no que se refere ao período de chegada e de dominação dos europeus. Os escritores como Pero Vaz de Caminha (1500), Gabriel Soares de Sousa (1587) e Pero de Magalhães Gândavo (1575) serão analisados, nesse trabalho, discutindo-se os pontos e contrapontos de suas obras ao retratar as terras brasílicas.
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“Para Maingueneau (1987), a chamada ‘escola francesa de análise do discurso’ filia-se a uma certa tradição intelectual européia acostumada a unir reflexão sobre texto e sobre história; [...] e uma certa prática escolar que é a da ‘explicação de texto’, muito em voga na França, do colégio à universidade, idos anteriores a 1960.” (Brandão, 2004, p. 16).
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Busca-se verificar se as literaturas de informação do período quinhentista e seiscentista trazem em seus discursos as mesmas ideologias predominantes na Europa, fato que contribuiu para a construção da imagem de Brasil e de seus habitantes ainda mesmo no início da chegada dos portugueses.
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“Visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições de existência” Rocha (2004, p. 07)
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Pairavam sobre os europeus
muitas dúvidas em relação às
origens das novas terras
descobertas e seus
habitantes[...]. Nasce, então, a
ilusão do Éden, natureza
esplêndida e habitantes
ingênuos que em tudo pareciam
receptivos, até aos cultos
religiosos dos portugueses, e
que estariam à disposição do
colonizador a “serviço da fé”.
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Nas escritas dos “descobridores” e escribas da nova terra evidencia-se o vislumbre pelas riquezas, pela exuberância dos homens e dos animais. A América torna-se o espaço dos sonhos, do exótico, ou seja, do fora de ótica.
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O imaginário da nação brasileira foi formado com bases na hegemonia da cultura portuguesa, pois detinha o poder através da escrita e, portanto, contribuiu para o silenciamento de outros grupos étnicos existentes (indígenas e africanos), ou mesmo numa visão estereotipada destes grupos que persistem ao tempo.
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Em toda e qualquer narrativa de viagens, o medir e comparar são atividades básicas fundamentais, por uma razão muito simples: trata-se de aproximar o inaproximável, de maneira que esse real estranho ganhe um contorno de credibilidade e possa ser, mercê do módulo prévio, visualmente compreendido. È o meio mais eficaz para conter o desamparo do leitor, que só sabe ver o novo pelo velho. (LIMA apud RIBEIRO, 2003, p. 118)
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Porém, e contudo isso andam muito bem curados e muito limpos. E naquilo me parece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses, às quais faz o ar melhor pena e melhor cabelo que as mansas, porque os corpos seus são tão limpos, tão gordos e formosos, que não pode mais ser.[...]isto me faz presumir que não têm casas nem moradas. (CAMINHA [1575], 2004, p.107).
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No segundo momento a atenção se volta para o homem nativo, chamado índio pelos europeus, cujas imagens oscilam entre Adão em inocência, que inspirou o mito do “bom selvagem” e Adão após a queda, que alimentou a visão do índio botocudo e canibal (RIBEIRO, 2003, p. 115).
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Tão luxuriosos que não há pecado de luxúria que não cometiam; os quais sendo de muito pouca idade tem conta com mulheres, e bem mulheres; porque as velhas já desestimadas dos que são homens, granjeiam estes meninos, fazendo-lhes mimos e regalos, e ensinam-lhes a fazer o que eles não sabem, e não os deixam de dia nem de noite. É este gentio tão luxurioso que poucas vezes tem respeito às irmãs e tias, e porque este pecado é contra seus costumes, dormem com elas pelos matos, e alguns com suas próprias filhas; e não se contentam com uma mulher, mas tem muitas, como já fica dito, pelo que morrem muitos de esfalfados. E em conversação não sabem falar senão nestas sujidades, que cometem cada hora; os quais são tão amigos da carne que se não contentam, para seguirem seus apetites, com o membro genital, como a natureza o formou (SOUZA [1587] 2000, p. 235).
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[...] o ‘outro’ e sua cultura, da qual falamos da nossa sociedade, são apenas uma representação, uma imagem distorcida que é manipulada como bem entendemos [...] os que são de fora podem ser brabos e traiçoeiros bem como mansos e bondosos”.
(ROCHA, 2004, p.14).
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Soares afirma que os índios praticam: “[...] coisa que não faz nenhuma nação de gente, senão estes bárbaros”. (SOUZA [1587], 2000, p. 236).
A presença da religião na história das sociedades é registrada como um instrumento de conquista, poder, domínio e também de morticínio. Paradoxalmente, aquilo que deveria unir a humanidade fora causa de dispersão.
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Exorcizando demônios, os europeus impunham melhor um modelo de dominação política e ideológica: as novas formas jurídicas buscavam vigiar as populações e unificar as penas serviam à recente organização do Estado e afiavam suas garras ao vasculhar encarcerar e supliciar feiticeira. (SOUZA, 1986, p. 281 - 282).
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“[...] por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representados pela ótica etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos.”
(ROCHA, 2004, p. 15).
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Todos os mecanismos de manutenção dessa invenção social são regidos, doutrinados por aparelhos ideológicos e/ou repressores, dando uma direção ao Estado, como fora citado por Brandão (2004) parafraseando Althusser. Para a constituição da sociedade brasileira, vê-se que foram utilizados os conceitos da nação portuguesa, formados a partir das instituições sociais já estabelecidas na Europa, reafirmando seus significados e representações sócio-culturais.
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Os europeus conseguiram impetrar uma imagem positiva de sua estada nas terras brasileiras como o colonizador que, sob a graça divina, veio “civilizar” os “selvagens” e, ainda hoje no imaginário da sociedade brasileira, esta visão predomina, sobretudo, com a força da educação escolarizada por intermédio dos livros didáticos. Ainda há fortes indícios do discurso europeu imbricado no discurso nacional.
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Se o índio foi tecido discursivamente na historiografia oficial como figurante na formação da sociedade brasileira, atualmente, verificam-se construções discursivas que o colocam como protagonista de sua história, sendo contada sob uma perspectiva não mais do narrador europeu, mas do próprio nativo.
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Assim, para tornar possível uma quebra de estereótipos dos grupos étnicos marginalizados é indispensável a circulação de obras que proponham a desconstrução de conceitos canonizados pela literatura oficial e permitam a estes grupos a possibilidade de narrar suas histórias, através de seus mitos fundadores para demarcarem posições valorativas na formação cultural brasileira.
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Referências
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FORGET, Danielle, A alteridade revisitada. In. FORGET, Danielle; OLIVEIRA, Humberto Luiz L. de (Org.). Imagens do Outro: leituras divergentes da alteridade. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, ABECAN, 2001.
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