A Comunicação Interpessoal

A comunicação Interpessoal é a minha praia…desde sempre foi a minha área de eleição. Tenho um gosto acentuado pela forma como os seres humanos comunicam uns com os outros, pelos relacionamentos humanos e, deste modo, pelos conflitos que irrompem nas relações interpessoais. Tanto a nível dos nossos relacionamentos pessoais como em contexto de trabalho.

O domínio da Comunicação por mim seria, de facto, um dado adquirido se a Comunicação fosse unicamente feitas de palavras, posto que eu sei falar. Mesmo que saibamos que, muitas vezes, não utilizemos as palavras correctas e exactas. A Comunicação Humana é um universo. E jamais se poderá afirmar que se entende totalmente o acto humano de comunicar.

Desde 1992, altura em que terminei o Curso, que desenvolvo formação na área da Comunicação e Relação Humana. Por fiz Mestrado em Psicologia da Educação e estou a fazer o Doutoramento em Psicologia.

Nota: geralmente, conferimos à comunicação, à nossa comunicação com o outro, um dado adquirido. Algo que faz intrinsecamente parte de nós próprios e que, por isso, não requer reflexão e aprendizagem. Achamos que, porque um dia aprendemos a falar e seguramente não nos lembramos da altura em que ainda não falávamos, não necessitamos de aprender rigorosamente nada sobre a comunicação e o modo singular como comunicamos. Não podíamos estar mais longe da verdade. Podemos até mesmo achar que, por vezes, é necessário parar e reflectir mas, dificilmente, somos honestos o suficiente para admitir que temos alguns problemas de comunicação…tanto no modo como nos exprimimos, quanto na forma como percebemos aquilo que o outro nos diz. Os teóricos emergentes na área da comunicação humana, são todos unânimes em afirmar que: O Maior Problema Humano é a Comunicação.

Se, eventualmente, duvidamos da veracidade do que estou a afirmar…peço-vos, aqui e agora, para pararem um pouco o vosso raciocínio e pensarem calmamente sobre algum problema que estejam a viver neste momento. Queiramos ou não é seguramente um problema de comunicação. Podemos chamar outro nome…mas, no fundo, trata-se de um problema no qual a comunicação falhou ou

Não podemos existir, aqui e agora, sem comunicar.

A comunicação esta uma “força Interior” que eu não consigo deter e que me faz “sair de mim mesmo” para encontrar e me relacionar com o outro, com as coisas e com mundo que os meus olhos contemplam.

A sua importância e o seu sentido é de tal forma profundo que, Watzlawick (1971) referiu que a pessoa humana não pode existir neste mundo sem comunicar;

Cada um de nós está justamente a comunicar, neste preciso e exacto momento: com a cadeira sob a qual se encontram sentados, com a presença daquele (a) que se encontra a vosso lado,

comigo que estou a exprimir-me e a exprimir as minhas ideias por meio das palavras que saiem pela minha boca e chegam aos vossos ouvidos.

A comunicação é tão inevitável e profunda que, neste exacto momento, sem que se dêem conta…estão a comunicar com os vossos próprios pensamentos (comunicação pessoa)…o conteúdo dessa comunicação é de tal forma indetivel que poderão estar inclusive a pensar: “O que é que O Gil está para ali a dizer?”, “Eu já sei tudo isto. Não preciso de uma formação para me dizer aquilo que já o faço, e bem”, “O que é que isto tem a ver com a Formação para a qual me inscrevi?”...por ai fora.

A Capacidade do ser humano comunicar com o outro é, deste modo, INERENTE (faz parte do próprio ser da pessoa humana, de mim e de cada um de vós) ao comportamento humano.

Cada atitude, cada gesto, cada comportamento, cada olhar, cada movimento, cada silencio, cada palavra, cada respiro, cada suspiro, cada “olhar para o relógio” à espera que a formação termine, cada pensamento que possamos ter sobre esta formação ou sobre mim que estou a fala-vos…é comunicação.

Por meio da LINGUAGEM comunica-se sobre o Presente, sobre o aqui e agora, mas a complexidade do seu uso (da linguagem) e da capacidade intelectual permite a inclusão de factos do passado (e.g. falamos sobre o que se passou ontem no turno), e da projeção para o futuro (e.g. pensamos “que turno faço amanhã?”).

A comunicação pessoal e interpessoal (comigo mesmo e com os outros), deste modo, não está limitada ao aqui e agora.

Somos seres iminentemente sociais. Precisamos do encontro e da relação com o outro. E não pode existir relação sem comunicação. Portanto, o acto de comunicar reveste-se de particular importância nos nossos relacionamentos e é parte integrante do percurso da nossa própria vida.

Se formos honestos, reconheceremos que o MAIOR PROBLEMA das nossas vidas é um problema de comunicação. SEMPRE. Seja esta comunicação comigo (eu gostaria de ser diferente de quem sou, eu gostaria de ser daquela maneira…eu nunca aprendo…eu estou farto (a), estou profundamente cansada deste trabalho), ou seja esta comunicação com os outros (“estou farto daquela colega”, “aquele utente põe-me os cabelos em pé”, “Aquela pessoa não me respeita”…).

A comunicação é um processo de compreender e compartilhar mensagens emitidas e recebidas de modo que as próprias mensagens e a sua interacção influenciam o comportamento das pessoas envolvidas (Roehrs, 2006).

Phaneuf (2005) sublinha que a comunicação é “um processo de criação e recriação de informação, de troca, de partilha e de colocar em comum sentimentos e emoções entre as pessoas.

Importa, colocar em relevo que, é preciso NÃO ESQUECER que estas pessoas (cada um de nós) são muito diferentes, tendo cada uma delas a sua biografia, a sua personalidade, as suas necessidades, as suas tendências e os seus problmeas particulares.

O Processo de Comunicação inicia-se SEMPRE por um “eu” singular (o emissor) que se relaciona com um “tu” (o receptor), também singular, movido por uma necessidade de exprimir ou transmitir ou saber algo ou um conteúdo (a mensagem);

O emissor é, deste modo, estimulado, no contexto de uma relação interpessoal (um “eu” que se relaciona com um “tu”) a exprimir uma determinada mensagem, tendo em particular conta a pessoa à qual a comunica (não exprimimos a mesma coisa de modo semelhante a pessoas diferentes), codificação, e dispondo para a enviar de um canal (a palavra, o olhar, o silencio, o toque).

O receptor acolherá e reagirá à mensagem recebida por meio de uma determinada reacção (a resposta).

No Processo Comunicativo no qual as pessoas interagem, o ambiente, influencia inevitavelmente as condições emocionais, físicas e psicofisiologicas dos envolvidos interferindo na expressão e na percepção das ideias.

Se uma colega tiver sido incorrecta comigo e se eu procurar corrigi-la, seguramente a sua reacção será diferente se eu o fizer quando estiver a sós com ela comparativamente se o fizer na presença dos outros.

Tipos de Comunicação

Há duas dimensões nas quais o acto de eu comunicar se situa:

No Plano Cognitivo: Quando se trata de uma informação que se relaciona com factos e acontecimentos e, por isso, a sua transmissão ocorre por meio de Palavras;

No Plano Emotivo: Quando se trata de emoções e sentimentos cuja expressão ocorre por meio do comportamento não verbal;

As Mensagens

As mensagens que transmitimos podem ser voluntárias e respondem às necessidades do momento ou involuntárias, acidentais ou mesmo inconscientes (do sitio aonde eu estou posso observar-vos e, deste modo, posso verificar por meio da vossa postura, dos vossos gestos, do vosso olhar, do modo como dispõem as vossas mãos, da maneira como se encontram sentadas…posso verificar “aquilo” que cada um exprime.

Uma mensagem infeliz, por assim dizer, de uma de vocês para uma outra colega raramente se recupera, ou melhor, é dificilmente irreversível.

Os primeiros minutos de uma comunicação, qualquer que seja – entre auxiliar e utente, entre colegas ou entre pessoas com laços afectivos – são muito importantes: Dão o tom à relação, sentimo-nos acolhidos pelo outro ou não.

A comunicação entre as pessoas exige que a mensagem tenha um significado comum.

Se o emissor (o eu) não compreender as mensagens ocorre um impedimento na interacção social e, pode mesmo gerar o conflito pessoal e interpessoal.

A Comunicação é um processo contínuo e cada momento no qual comunico é único e não se repete.

Cada um de vós age de acordo com o significado que dá às coisas e todo o vosso comportamento e a vossa conduta é pautada pelo modo como percebem os factos à vossa volta e pelo sentido que dão a esses factos.

Cada pessoa humana singular confere um significado ao que é experienciado por si no convívio social, à ideias que são compartilhadas e à perspectivas que são exprimidas.

Não só as palavras afectam a meu comportamento, mas toda a comunicação do outro afecto o meu comportamento (Watzlawick, 1971).

Síntese:

Nós não podemos não comunicar: estamos sistematicamente enviando mensagens para o mundo sobre o que pensamos e sobre o modo como pensamos. A comunicação é produzida por palavras, pela minha postura, pelos meus silêncios, pelo meu olhar…por meio de todo o meu corpo.

E tudo o que eu comunico, tem uma mensagem…que pode ser clara, se para isso utilizar as palavras para a dizer…ou pode ser oculta…se utilizar os meus silêncios, os meus olhos, a postura do meu corpo. O segredo de uma comunicação eficaz e feliz está justamente na compreensão do receptor em relação às mensagens que eu envio.

Os nossos conflitos relacionais despontam SEMPRE de uma comunicação ineficaz ou, até mesmo ausente.

Há pessoas que vivem durante anos…e não entendem o que cada um comunica. Não estamos a falar de palavras. Estamos a falar de Comunicação.

A Comunicação Interpessoal jamais poderá ser considerada uma coisa fácil. Constitui, ao invés, um fenómeno presente, eternamente presente, na nossa vida, tal como a nossa própria respiração…e, de forma particular, presente na nossa actuação…uma vez que CUIDAMOS de Pessoas Humanas.

IMPORTANCIA DA COMUNICAÇÃO NA RELAÇÃO AUXILIAR/PESSOA CUIDADA (UTENTE)

Pressupostos que fundamentam a importância da competência em Comunicação:

As Competências e as perícias de Comunicação são factores determinantes no Processo de Comunicação/Interacção (Auxiliar/Pessoa Cuidada/Familia).

Porque Cuidamos de Pessoas Humanas é importante a aprendizagem, o desenvolvimento e, sobretudo, a implementação de perícias ou estratégias de Comunicação nas interações.

Pensar na vossa prática, no vosso exercício profissional diário, apela a pensar com seriedade na Comunicação e no modo como comunicam o que necessitam de comunicar.

A Comunicação, no contexto laboral, não tem somente a função de transmitir mensagens de uma pessoa para outra pessoa, mas de estabelecer um relacionamento interpessoal profundo e cheio de sensibilidade, tanto se trate da pessoa cuidada, como da família e, até mesmo, das colegas.

Estabelecer relações interpessoais profundas é uma das principais funções da Comunicação entre os profissionais do Lar e os utentes e família.

É por meio da Comunicação que acolhemos o utente, identificamos as suas necessidades, o seu mundo interior – sentimentos e pensamentos – e o conduzimos a satisfaze-las.

A Comunicação é tão importante no contexto daqueles que cuidam de pessoas que, é considerada um factor facilitador da Recuperação da saúde (Santos, 2000)

Num estudo académico que construíram, sobre Comunicação e a sua importância para aqueles que são cuidados, conclui-se que os utentes esperam sempre dos cuidadores:

Amabilidade em se apresentar;

Explicação sobre os cuidados que lhes vão prestar;

Que dispensem sempre o tempo necessário para lhes falar e se necessário dar-lhes informações;

Mostrarem-se conscienciosos e abertos às suas perguntas;

Exprimirem sensibilidade;

Saibam escutá-los;

Que os toquem com ternura;

Que os tratem como Pessoa Humana que são;

Que sejam doces no que lhes dizem;

Que guardem segredo das suas confissões;

Que evitem criticá-los, julgá-los e gozar com eles;

Que os tratem com profundo respeito;

Que falem com eles olhando-os nos olhos;

Que perguntem sempre o que eles estão a fazer ao invés de presumirem que sabem o que eles estão a fazer;

A Comunicação Verbal

A Comunicação Verbal é a forma que tomam as trocas quando se faz intervir a Palavra (Phaneuf, 2005).

É um arranjo de palavras que confere sentido ao que se quer transmitir.

É uma ferramenta de relação. Por meio da magia da palavra exprime-se as informações, as opiniões, os sentimentos e as emoções que permitem aos humanos entrar em contacto, criar relações harmoniosas e desenvolver relações significativas e profundas.

No mundo do trabalho, as trocas verbais são instrumentos funcionais frequentemente desumanizados