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Volume 1, Número 2
ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017
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A COMPREENSÃO DA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA PERSPECTIVA DA INOVAÇÃO
PEDAGÓGICA Páginas 147 a 167
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A COMPREENSÃO DA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA PERSPECTIVA
DA INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
Roberta Guedes de Moura1
RESUMO: A Educação Física Escolar é uma disciplina da grade curricular, sendo
obrigatória no ensino fundamental II. Este estudo de investigação intenta contribuir para
a educação inovadora na aula de Educação Física do Colégio de Aplicação, do Centro de
Educação da Universidade Federal de Pernambuco (CAp/CE/UFPE). Objetivo geral
analisar como as aulas de Educação Física são realizadas no contexto do CAp/CE/UFPE.
Objetivos específicos compreender a Inovação Pedagógica como campo de possível área
de atuação e modificação no campo da aprendizagem; Experienciar, estudar e descrever
a Aula de Educação Física, visando proposta pedagógica da instituição; Observar a Aula
de Educação Física, desvelar aspectos inovadores; Identificar no âmbito das práticas
pedagógicas, propostas consideradas inovadoras. Pesquisa qualitativa etnográfica, com
base no estudo de caso. Os procedimentos utilizados foram seminário coletivo,
observação participante, entrevista narrativa e estado da arte, com professores de
Educação Física e alunos do ensino fundamental II. Inserimos a avaliação e aprovação no
Conselho de Ética, seguido do Termo de consentimento livre esclarecido (TCLE) e
Consentimento da participação da pessoa como sujeito, para alunos e professores, atores-
sujeitos participantes da pesquisa. Os resultados se deram por perceber em 100% dos
atores sujeitos da pesquisa após análise, a satisfação, a existência de uma quebra de
paradigmas decorrente das aulas de Educação Física na instituição Colégio de Aplicação,
a reflexão perante o aspecto metodológico dentro do âmbito da educação inovadora e a
existência do Saber-fazer e Para quê fazer, dando sentido e significado na realização da
aula de Educação Física. Tornando o universo Aula, uma prática reflexiva e crítica
quando presente sob uma relação mútua entre os pares, professor-aluno e aluno-aluno.
Palavras-chave: Aula, Educação física, Inovação pedagógica, Prática pedagógica
reflexiva.
1 Mestre em Ciência da Educação.
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ABSTRACT: The School Physical Education is a discipline of the curriculum, being
compulsory in elementary education II. This research study aims to contribute to
innovative education in the Physical Education class of the College of Application of the
Education Center of the Federal University of Pernambuco (CAp / CE / UFPE). Overall
objective is to analyze how Physical Education classes are performed in the context of
CAp / CE / UFPE. Specific objectives to understand Pedagogical Innovation as a field of
possible field of action and modification in the field of learning; Experiencing, studying
and describing the Physical Education Class, aiming at the institution's pedagogical
proposal; Observe the Physical Education Class, unveil innovative aspects; To identify in
the scope of pedagogical practices, proposals considered innovative. Ethnographic
qualitative research, based on the case study. The procedures used were a collective
seminar, participant observation, narrative interview and state of the art, with Physical
Education teachers and elementary school students II. We inserted the evaluation and
approval in the Ethics Council, followed by the Informed Consent Form and Consent of
the person's participation as subject, for students and teachers, actors-subjects
participating in the research. The results were perceived in 100% of the actors of the
research after analysis, satisfaction, the existence of a paradigm break resulting from the
Physical Education classes at the College of Application, the reflection on the
methodological aspect within the scope of education Innovative and the existence of
Know-how and What to do, giving meaning and meaning in the accomplishment of the
Physical Education class. Making the Aula universe a reflexive and critical practice when
present under a mutual relationship between peers, teacher-student, student-student.
Keywords: Classroom, Physical education, Pedagogical innovation, Reflective
pedagogical practice.
INTRODUÇÃO
A Educação Física Escolar, após a promulgação da lei de regulamentação
profissional da Educação Física (LEI Nº 9.696/98), torna-se uma área específica de
conhecimento a ser aprofundada através de pesquisas, e coloca-a como disciplina
obrigatória na Educação Básica. Hoje está presente nas instituições escolares a partir do
Ensino Fundamental II, e propõe um vasto conteúdo existente para que seja aplicado e
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aprendido na aula conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que são as
diretrizes educacionais brasileira e em específico os da Educação Física (PCN-EF).
Porém, hoje refletindo sobre essa vivência identificamo-la como uma ação
irreflexiva, dentro da perspectiva do fazer pelo fazer, para tanto buscamos refletir a partir
da perspectiva metodológica denominada Crítico-Superadora, corrente desenvolvida a
partir de meados década de 80, estimulada pelas teorias críticas da educação que foram
potencializadas no processo de redemocratização do país, no fim da ditadura militar. Essa
proposta ainda é uma das mais aplicadas em espaços escolares formais pelo país e é
totalmente contrária aos métodos conservadores, pautados pelas concepções
biomecanicistas e fisiologicistas que ainda imperam na Educação Física Escolar
brasileira.
Partimos de uma abordagem qualitativa etnográfica, um estudo de caso por se
tratar de um objeto específico baseado em um fenômeno real.
O presente artigo tem por objetivo analisar a realização da aula de Educação Física
Escolar, no contexto em que se insere a compreensão da aula na perspectiva da inovação
pedagógica, em uma instituição escolar pública de referência na cidade do Recife,
Pernambuco, Brasil.
Os procedimentos utilizados foram seminário coletivo com os alunos do ensino
fundamental II, na presença do professor da disciplina, entrevista narrativa com alunos e
professores de Educação Física, observação participante e a realização do estado da arte,
em que buscamos pesquisas científicas na área da Educação Física e Inovação
Pedagógica, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
nacional. A Educação Física Escolar disciplina obrigatória, hoje presente nas instituições
escolares a partir do ensino fundamental II, predispõe um vasto conteúdo existente, para
que seja aprendido na aula. Por meio da aplicabilidade entre teoria e prática
conjuntamente, a educação física escolar passa a fazer parte do cotidiano educacional dos
alunos, possibilitando vivências, saberes, compreensões e reflexões.
Dessa forma, nos detemos quanto ao objetivo geral, analisar como as aulas de
Educação Física são realizadas no contexto do Colégio de Aplicação, do Centro de
Educação da Universidade Federal de Pernambuco – CAp/CE/UFPE.
Quanto aos objetivos específicos ressaltamos, como compreender a Inovação
Pedagógica como campo de possível área de atuação e modificação no campo da
aprendizagem; Experienciar, estudar e descrever a Aula de Educação Física, visando
proposta pedagógica da instituição; Observar a Aula de Educação Física, desvelar
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aspectos inovadores; Identificar no âmbito das práticas pedagógicas, propostas
consideradas inovadoras;
Como proposta de ensino, o Projeto Político-Pedagógico Institucional, da
instituição pesquisada, possibilita ao aluno se autodeterminar, pensar e viver no seu
meio ambiente com senso crítico, fazer inferências, levantar hipóteses, testar e avaliar. O
que nos permite encontrar no campo da inovação pedagógica, compreensão à
aprendizagem para que desta, se faça o interesse ao conhecimento, tornando o aluno
partícipe na construção do conhecimento em que se busca a sua apreensão, seu interesse,
sua reflexão e sua crítica. Nesse contexto a inovação pedagógica, surge como ruptura no
cotidiano escolar e no pensamento educacional tradicional, encontrado ainda nas
instituições, o que traz a percepção, em conjunto da realidade construtiva, transformadora
como prática pedagógica na aula de Educação Física Escolar.
Pensar na educação, exige uma reflexão aprofundada a respeito do processo
educativo de diversos fatores, que permite ao ser humano a construção de si mesmo, dado
que está presente a mediação e a ajuda do outro, possibilitando construir uma pessoa como
um ser social e singular. Partindo dessa perspectiva, reconhece-se a educação como uma
prática social de relevância, que ocorre de diferentes formas e em diferentes âmbitos
sociais, em diversos espaços e contextos. Entretanto, é o âmbito escolar, caracterizado
como espaço de obtenção do conhecimento sistemático, que se faz necessário à mudança,
um espaço que pode permitir um caminhar educacional mais crítico, motivador e
inovador.
A escola, ao dar prioridade ao pensamento crítico reflexivo acerca da sociedade
contemporânea, reafirma o que diz Melo (2009, p. 54), que a entende como “um local que
problematiza a realidade, defendendo a importância dos conteúdos quando abertos às
realidades sociais”.
No campo do conhecimento empírico-conceitual da Educação Física, no entanto,
amplos e diferentes enfoques tornaram-se atrelados a diversificadas linhas de atuação,
pesquisa e estudo para área da Educação e Educação Física Escolar.
No universo da educação física, o ensino deve vir a ocorrer em um intenso
processo de coletividade entre professor e aluno explicitando sua forma reflexiva,
possibilitando ao aluno (aprendiz) uma compreensão que se faz presente como ser
integrante e transformador, com análises críticas à sua realidade socioambiental,
considerando a capacidade de verificação, de mudança, em que o professor se faz o
mediador, agregando a capacidade e interação do aluno em uma ação coletiva e
construída.
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Sendo assim, as aulas de Educação Física, ditas conservadoras, que se encontram
nesse aspecto, levam-nos a perceber a importância da inovação pedagógica, em sua
prática metodológica, na busca de confrontar o aluno com suas características individuais
e coletivas, em um trabalho de produção e apropriação do conhecimento (MELO, 2009).
Para tanto se entende como prática metodológica no aspecto inovador
voltados para o ensino da Educação Física Escolar, o que se caracteriza
as proposições teórico-metodológicas, tendo como eixo norteador a
perspectiva de ampliação do universo sócio-cultural dos alunos,
pautado por uma concepção de ampliação do pensamento através de
ciclos, de procedimentos didáticos que privilegiam a participação,
especificamente através do planejar participativo, da pesquisa escolar,
da avaliação contínua e da auto-avaliação. (MELO, 2011, p. 35)
Nessa perspectiva soma-se o desenvolver de um processo de ensino-aprendizagem
coparticipativo e corresponsável, entre alunos e professores, na busca da ampliação do
pensamento, por meio do conhecimento, da realidade e dos conhecimentos sistematizados
social e historicamente construídos, em toda a sua atuação pela intervenção, mediante a
conscientização corporal, pautada no conteúdo da Educação Física Escolar.
A ESCOLA SOBRE A CONTEXTUALIZAÇÃO DA INOVAÇÃO
Uma reflexão quanto ao processo de ensino-aprendizagem, implica sobre a escola
como instituição, que deve estar aberta á críticas e à quebra de paradigmas, um espaço
sob o aspecto da educação inovadora, tida hoje nos diversos campos do saber, sendo esse
um espaço de aprendizagem coletiva, remetendo-nos ao aluno (aprendiz) em um intenso
processo de transformação, que nos leva a repensar nossa forma de atuação como
professores e educadores que somos. Para compreender essa inovação, devemos buscar
reconhecer o que ocorre nela, considerando aí seu caráter etnográfico e fenomenológico
(FINO, 2008a).
Dessa premissa, vislumbramos e justificamos a importância de considerar o
conceito de inovação em nosso estudo, apontado por Kuhn (1998/1962), que pressupõe
uma ruptura e o enfrentamento de resistências ao processo da descontinuidade formal, a
qual muitas vezes, encontra-se no âmbito escolar.
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A inovação pedagógica propõe um ensino diferenciado para o aluno, entendendo
este como transformador e crítico em suas ações, o que traz em seu programa específico
de planejamento político-pedagógico, fomentado por ações estimulativas, de incentivo à
busca pela participação ativa do aluno nas questões sociais em que está envolvido, o que
se percebe mesmo em crianças, mas com argumentos e atitudes de reflexão no que estão
desempenhando em suas ações na aula de Educação Física.
Entedemos que este artigo vislumbra a soma e a uma contribuição para o
profissional de Educação Física, esteja ele dentro ou fora do ensino formal dessa
disciplina, por acreditar que a intencionalidade, associada à produção coletiva
questionadora, exerce um papel desencadeador do comprometimento com a melhoria da
qualidade de vida e da formação dos sujeitos como produtores do conhecimento.
Ao qual possa subsidiar de forma enriquecedora o campo dos professores de
Educação Física, a fim de que tenham em sua atuação profissional a reflexão e a inovação
como reconhecimento da formação humana para a cidadania.
Os aspectos sobre a importância da renovação de programas educacionais ou
métodos, envolvem uma necessidade de atrelar novos objetivos e modificação nas
estruturas escolares, em que o aluno seja levado em consideração como ponto central e
de partida, no seu processo para a busca do conhecimento.
Considerar o aluno como principal pessoa nas tomadas de decisão curricular é
eleger como desafio essencial, a construção de uma atmosfera escolar que contribua com
os alunos para se sentirem como parte integrante da sua escola e, sobretudo, dar
significado às suas expectativas em relação ao processo didático, à escolaridade em geral.
Esse é um contexto que permitirá passar por novas decisões políticas, por aspectos críticos
que poderão desvelar-se na sua organização e na gestão do sistema em que se encontra.
Contudo, percebe-se que o sistema escolar necessita que as políticas educacionais estejam
sob a orientação de novos interesses políticos e sociais, que deva existir na construção do
conhecimento crítico e reflexivo para que se realize.
Cabe à escola buscar a ruptura do que vive, quando não se adequar ao novo perfil
familiar e social da atualidade, às situações de vida e de existência dos seus alunos que
ali se encontram, querendo compartilhar seus anseios, desejos e sonhos; passar a construir
conceitos, estímulos e assim fazer parte da realidade dos educandos de acordo com o real
de cada instituição.
Trazer a reflexão para a necessária mudança no âmbito escolar, que na intenção
de mudança “sacode e altera os nossos valores e faz secar as nossas raízes e fundamentos
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[...]’, que atrelada a um ritmo desenfreado, faz com que ‘[...] a aceleração de mudança se
mostre uma força elementar, fundamental” (TOFFLER, 1971, p. 2).
As atividades direcionadas exercidas nas instituições escolares, como espaço de
conhecimento, trazem a aula, como forma predominante de organização desse processo
de apreensão voltado ao ensino e ao aprimoramento de ideias e questionamentos. Nessa
perspectiva, Libâneo (1994) considera essa prática um conjunto dos meios e das
condições quando direcionados e estimulados no processo de ensino em função da
atividade própria do aluno no âmbito escolar. Visa proporcionar a assimilação consciente
e ativa dos conteúdos.
A AULA MOMENTO DE ESPONTANEIDADE E APRENDIZAGEM NUMA
PRÁTICA INOVADORA
Por certo, compreende-se que a aula é uma ação intermitente e contínua quando
atrelada ao aspecto motivacional, estimulada ou provocada, que atua como reflexão para
a educação a que se propõe. Desse modo, contribui para que alguns pontos tornem-se
necessários e fundamentais, e possam vir a ocorrer de forma satisfatória e expressiva no
sentido relevante. O professor no papel de facilitador, problematizador do conhecimento,
que escuta os alunos e discute, ampliando a capacidade de interação, participação,
motivação e curiosidade existente no educando, o que objetiva proporcionar uma aula
com maior significância.
Nessa perspectiva, percebe-se a importância de uma mútua relação contratual, na
qual a coparticipação na conquista do conhecimento, estabeleça um processo de
apreensão e construção, entendendo o apreender, provindo do latim apprehendere, que
significa “segurar, agarrar, prender, assimilar mentalmente, entender, e compreender”
(PIMENTA; ANASTASIOU, 2005, p. 210), como possível área de investigação voltada
para o aluno na totalidade de sua compreensão.
Tratar o conhecimento como ponto de aprendizagem participativa, na busca do
prazer motivacional em aprender de forma não dogmática, significa estar aberto para a
troca de experiências valorizadas como natureza humana, ser participante e atuante em
que se visa tornar o aluno um aprendiz detentor de conhecimento.
Nessa perspectiva, cabe às instituições perceberem, pela construção do
conhecimento dos alunos, de suas experiências e vivências, o estímulo ao seu pensamento
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crítico e reflexivo. Para tanto, como prática social, a aula, conforme sugere Pimenta
(2007, p. 23):
ocorre em todas as instituições de ensino, enquanto processo
sistemático e intencional ocorre em algumas, dentre as quais se destaca
a escola, o que por sua vez a educação escolar se fundamenta no
trabalho dos professores e alunos, com a finalidade de contribuir num
processo de humanização de ambos pelo trabalho coletivo e
interdisciplinar destes com o conhecimento, numa perspectiva de
inserção social, crítica e transformadora.
Pode-se considerar a aula parte incisiva do conhecimento apreendido, estimulado,
presente na sociedade em que atua, parte indispensável no curso do desenvolvimento da
criticidade pela capacidade de interação, de transformação existente no educando. É a
aula posta no aspecto da história, da valorização, da humanização, da reflexão existente
na ação, em que a produção do conhecimento, se faz presente com sua historicidade,
existente em uma relação social a cada ato que se realiza, o que implica analisar,
contextualizar, confrontar os saberes adquiridos e conhecimentos existentes ao longo de
sua jornada educacional, como possibilidade de uma preparação científica, técnica e
social.
Contudo, nesse universo em que há constante movimento, o ritmo, a mudança, o
paradigma, faz-se necessário buscar a transformação, a formação do que já existe ou que
se possa retransformar diante do que está em meio ao aspecto educacional. Por vezes, um
tempo cada vez mais atribuído de aceleração, o qual conduz à necessária mudança para
um novo, em que se baseie e olhe para o que já existe, podendo ressignificar com valores
as atuações e atribuições quando subsidiadas por caminhos a um novo saber fazer na aula,
a qual seja vista como arte em educar.
Nessa perspectiva do compromisso com a transformação social, com a busca de
práticas pedagógicas inovadoras, contribui para que haja um compromisso maior do
docente, que tem a intenção de tornar essa prática sempre uma aula eficiente.
Em relação à mudança, a necessidade de um novo metabolismo psicológico,
concebido para lidar criativamente com a emergência constante das novas condições é o
entendimento de que o paradigma emergente, com vista à escola, precisa estar compatível
com mudanças de padrão.
Para uma atividade mútua de entendimento na relação professor-aluno, corpo
discente-docente, unidade escola-realidade, gestão-comunidade escolar, mudança-
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pesquisa, faz-se necessária a real mudança da escola atual para uma escola
transformadora. Desse modo, se necessita uma ação recíproca e intermitente que possa
subsidiar a aprendizagem, esteja esta sempre diante da flexibilização das ideias, com o
trabalho coletivo no campo do saber, que apresente a participação crítica e reflexiva
existente e considerada no aluno.
Pimenta (2007, p. 10) afirma: “não podemos mais educar, formar, ensinar apenas
com o saber (das áreas de conhecimento) e o saber fazer (técnico/tecnológico)”, mas, sim,
que haja o encadeamento dos atos; quer sejam múltiplos quando compreendidos na sua
singularidade, quer quando se fizer necessário convergir na perspectiva filosófica,
histórica, sociológica, psicológica, presentes no aluno como aprendiz, mas que já possui
o próprio conhecimento na sua relação com o mundo em que vive. É o que Pimenta (2007)
chama de constituinte da perspectiva da “cultura profissional da ação”, o que significa a
permissão com o clareamento das ideias no “dar sentido à ação”.
Nesse sentido, uma escola transformadora deve estar aberta à flexibilização de
ideias, que se efetivem à medida que o aluno perceba a ampliação de sua consciência
sobre a própria prática; que essa prática viabilize a construção de um processo de
humanização ali estabelecido, quando se desenvolve o senso do saber-fazer,
proporcionando a esse educando, sentir-se desafiado, estimulado e valorizado em um
intenso processo de construção do conhecimento, na mobilidade de sua realidade social
como prática da própria atividade cotidiana.
A PRÁTICA PEDAGÓGICA REFLEXIVA CONTEXTUALIZANDO COM A
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
A prática pedagógica, a ação reflexiva fomentada na pesquisa, quando envolvida
na própria ação, consegue superar a fragmentação e a reprodução do conhecimento, sendo
essa uma prática social que pode seguir como uma ação complexa, efetiva que venha a
ocorrer entre aluno e aluno, aluno e professor, em uma intensa atividade interativa que
venha a ocorrer em qualquer local para a compreensão do conhecimento. Pode ser em
sala fechada ou ainda uma quadra, embaixo de uma árvore; ou em um local que englobe
o ato de estimular a um conhecimento em que, a prática pedagógica se apresente como
aspecto intencional motivacional, inspirador e condutor a um saber, que pode estar
inserido do subjetivo ao material, mas que fomenta uma correlação com o estímulo
congruente do aluno (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005).
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A ação pedagógica tem como pressuposto a busca do sujeito crítico e inovador, o
que permite a visualização do conhecimento que se determina quanto à localização
histórica de sua produção (BEHRENS, 1999). Segundo Fino (2011b, p. 35): “A acção
emancipatória é a que corresponde ao momento da inovação, quando as práticas
pedagógicas são deliberadamente transformadas.”
Pensar que o aluno como educando na sua formação inicial seja um contínuo de
crítica e inovação, leva a uma compreensão necessária para a atuação da Educação Física
como habilidade na construção de significações à sua prática. Propor a análise das práticas
à luz das teorias preexistentes remete ao aluno, como ator e autor de suas atividades, a
valorização do seu cotidiano, o qual se mostra rico na sua realidade, na sua história de
vida, no seu saber, na busca contínua para uma transformação-ação.
De acordo com o proposto por Schön (1992), o professor deve pensar em sua
prática como formação significante para um continuum de formação inicial e contínua
quando efetivamente, é uma autoformação, uma vez que os professores reelaboram os
saberes iniciais em confronto com suas experiências práticas, vivenciadas nos contextos
escolares no dia a dia. Percebem a importância da reflexão na ação, da reflexão sobre a
ação e da reflexão sobre a reflexão na ação. Convém mencionar que: “ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção.” (FREIRE, 2002, p. 12). O professor crítico precisa ter a consciência do
inacabamento do ser humano, assim compreendido por Freire (2002, p. 22):
Sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há
inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se
tornou consciente. [...] A invenção da existência envolve, [...]
necessariamente, a linguagem, a cultura, a comunicação em níveis mais
profundos e complexos do que o que ocorria e ocorre no domínio da
vida, a ‘espiritualização’ do mundo, a possibilidade de embelezar como
de enfear o mundo e tudo isso inscreveria mulheres e homens como
seres éticos. Capazes de intervir no mundo, de comparar, de ajuizar, de
decidir, de romper, de escolher, capazes de grandes ações, de
dignificantes testemunhos, mas capazes também de impensáveis
exemplos de baixeza e de indignidade.
Nesse sentido considera-se intrínseco, à área da Educação Física, o entendimento
do trato da consciência da corporeidade em que está presente, segundo França (2003),
que compreende a corporeidade como necessidade de ver o educando em sua totalidade,
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com seu saber da experiência cultural valorizado. Assim, fica-se próximo do
entendimento lúdico, nas diversas nuanças da aprendizagem, no tocante ao que a
ludicidade se pronuncia como campo de atuação à brincadeira, ao prazer, à participação
sem compromisso. Desse modo, pode-se divisar uma proposta de aprendizagem bastante
diferenciada das vistas anteriormente, presentes em um passado não muito distante na
área da Educação Física Escolar.
Desse modo, o que visa ser observado no âmbito da corporeidade é o aprender no
aspecto da cultura local, vivência cotidiana do aluno, pressupondo que a alegria se faça
presente no aspecto inovador como prática pedagógica, remetendo à realização do prazer
existente na ação dessa prática pedagógica “em tratar o movimento dinâmico e dialético
do fazer-pensar-fazer, fomentado como práxis resultante de um processo inovador
presente nas aulas de Educação Física Escolar” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.
24).
Tais características, são fundamentais para a prática educativa, crítica necessária
na passagem da promoção da curiosidade espontânea para a curiosidade epistemológica,
incentivada ao educando, que permita considerar seus desejos, anseios e possibilidades
vistos e estimulados. Desse modo, ocorre a real transformação educacional que se espera
obter em relação ao professor-reflexivo. Isso contribui para que a mudança seja uma
possibilidade do agir mais e melhor com seu aluno-aprendiz, em um intenso processo de
incentivo à curiosidade transformada, motivada, tornando-o um crítico em suas ações,
realizações, na forma em que a liberdade de expressão seja respeitada e vivificada por
parte dos educadores.
Nessa visão, reflete-se sobre a Educação Física, hoje repensada por meio de
pressupostos que primam por transformações, prazer, cultura, aprovação, mudança,
diálogo e motivação. Uma Educação Física Escolar voltada para o cultivo ao ensino, à
criatividade, à transformação seguida de inovação.
Nesse contexto, entende-se que na disciplina de Educação Física Escolar, quando
orientada pelos preceitos da pesquisa, da orientação, do saber-fazer, convém perceber
uma necessidade de se obter a inovação pedagógica presente na aula, que deve ser de um
processo com intensas mudanças, o que exige um pensar constante.
Nessa reflexão, o aluno como o sujeito da ação é o ponto central para a
aprendizagem, ponto inicial para proporcionar uma nova forma de prática pedagógica.
O educando como sujeito participativo da ação é tido como ator de si mesmo, um
ser em formação integrante de um processo de construção, que prima por uma nova
aprendizagem reveladora de um novo saber educacional (SACRISTÁN, 2000).
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O Projeto Político-Pedagógico (PPP) do CAp é um documento legal, que se
configura como ordenador e norteador da vida escolar dessa instituição escolar. Ele é
político porque diz respeito à arte e à ciência de governar, ele prevê e dá uma direção à
gestão da escola. É pedagógico porque diz respeito à reflexão sistemática sobre práticas
pedagógicas: dá sentido e rumo às práticas educativas contextualizadas culturalmente.
Nesse sentido, construir o projeto requer o conhecimento:
Da realidade da escola e do mundo; Do processo de construção
do conhecimento e dos saberes;
Das forças e fraquezas do potencial humano;
Das possibilidades e dificuldades do contexto;
Dos recursos existentes e necessários. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2014, p. 4).
O PPP do CAp/CE/UFPE tem sua construção pautada na participação
democrática daqueles que serão beneficiados por ele (professores, alunos, funcionários e
pais). Ele representa a expressão de responsabilidade e autonomia da escola.
Pensando na escola segundo o Projeto Político-Pedagógico do CAp/CE/UFPE:
Nessa conjuntura de transformações, vivemos uma revolução
tecnológica assentada na informática, na microeletrônica e na genética.
Nesse estado de intensa transformação tecnológica, cultural, social,
ideológica, e profissional, indica-se a educação, mais precisamente a
escola, como um dos lugares de destaque para o desenvolvimento e a
formação humana. Desse modo, aguarda-se uma redefinição do sentido
e da missão da escola, levando-a a buscar compreender as
transformações que a circundam com a responsabilidade da reflexão e
da formação para vivência em sociedade. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2014, p. 6).
Na Educação Física Escolar, área da pesquisa realizada, têm-se as crianças
partícipes do ensino fundamental II, compreendidas na idade de 10 a 13 anos, que
apresentam em sua aula de Educação Física no CAp/CE/UFPE situações diversas, em que
se tem como pretensão, investigar como são realizadas as aulas de educação física na
referida instituição, ao que permite verificar se existe inovação pedagógica na aula de
educação física escola. O público observado se deteve aos alunos devidamente
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matriculados nas séries de formação do 6.º, 7.º e 8.º ano de ensino e professores do ensino
regular da educação física escolar.
Assim, consubstanciando a intenção da pesquisa com o referido público
pesquisado, citamos Piaget (1987). Segundo o autor, a aquisição cognitiva ocorre pelo
modo como as crianças se relacionam com o mundo ao seu redor, partindo para uma nova
postura educacional, valorizando assim, o conceito de mundo existente na criança em sua
busca pelo conhecimento.
A criança é um “ser pensante” e construtora das próprias estruturas cognitivas;
ainda que não seja ensinada, a aprendizagem que valoriza os processos cognitivos pode
ajudá-la a construir com mais liberdade seu mundo (PAPERT, 1994).
A pesquisa iniciou-se com um seminário coletivo a fim de informar aos alunos
participantes do que se tratava o estudo, explicações sobre os instrumentos utilizados,
nesse caso, a entrevista narrativa, além da observação das aulas, tendo em vista, a logística
necessária para colher as informações; apresentar o objetivo da pesquisa. Por fim,
aproximar os alunos do conceito de inovação pedagógica.
Consideramos na entrevista narrativa as categorias teóricas sobre a metodologia
utilizada na aula, como também o plano de aula, a presença ou não de um professor-
reflexivo, o diálogo, e se existe inovação pedagógica na aula de Educação Física.
Assim, nas análises, obtivemos alguns achados, que consideramos aqui como
categorias empíricas. São elas: a dinâmica de aula, a avaliação e como a educação física
está presente no cotidiano dos alunos. Em relação aos professores, consideramos o
objetivo da pesquisa quanto ao conceito de inovação pedagógica e a prática pedagógica
como considerada inovadora.
Para uma pesquisa etnográfica de abordagem qualitativa, fundamentamo-nos em
Lapassade (2005), Macedo, (2010), Macedo, Galeffi e Pimentel (2009), que nela
consideram os sujeitos da pesquisa como parte do produto.
Para tanto, a etnografia tem por fim a aquisição do conhecimento, uma
necessidade de construir, entre alunos e professores, que são percebidos aqui como
estruturantes em meio aos muitos momentos, que, reflexivamente, os configuram como
parte da ação-reflexão, para um ambiente possível em sua análise e crítica na sua
composição (MACEDO, 2010).
A pesquisa qualitativa etnográfica, ora analisada, busca o objeto real,
fundamentada mais em conhecimentos que propriamente em especificidades
metodológicas. O que concerne a uma pesquisa qualitativa, “de modo imediato, a
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historicidade de sua área de atuação, e sua distinção em relação a outras formas de
pesquisa (MACEDO, 2010).
Entende-se que, na pesquisa qualitativa, se destaca o estudo do fenômeno em seu
ambiente natural, o que permite que se analise o problema processualmente. Segundo
Moreira (2002), o ser humano não é passivo, ele interpreta o mundo onde vive. Dessa
forma, a interpretação da realidade que as crianças, também sujeitos desta pesquisa,
apresentaram será entendida aqui como forma vivida na aula de Educação Física e seu
entendimento em sua total realidade, propiciado ao aspecto da inovação pedagógica,
sugerido pela metodologia escolar da instituição participante, o CAp/CE/UFPE.
Nesse entendimento, propõe Moreira (2002) que os pesquisadores que tomam o
ambiente de educação como objeto de pesquisa – entendendo que nesse lugar o processo
das relações humanas é dinâmico, interativo e interpretativo – devem construir sua
estrutura metodológica alicerçada pelas técnicas qualitativas.
O CAp/CE/UFPE, configura-se por ser o local onde se permite o diálogo
correspondente ao objeto de investigação. Instituição pública federal, ocupa hoje um
lugar de destaque no cenário educacional brasileiro por sua história de construção e de
(re)construção do processo formativo escolarizado. Esta pesquisa foi submetida ao
Conselho de Ética da UFPE, pela Plataforma Brasil,2 a qual é uma base nacional e
unificada de registro de pesquisas que envolvem seres humanos, para todo o sistema
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
Ela permite que as pesquisas sejam acompanhadas em seus diferentes estágios – desde
sua submissão até a aprovação final pelo CEP e pela Conep, quando necessário –
possibilitando o acompanhamento da fase de campo, o envio de relatórios parciais e do
relatório final das pesquisas quando concluídas.
Dessa forma, verificar e analisar a repercussão da inovação pedagógica no ensino
da aula de Educação Física no CAp/CE/UFPE, proporciona verificar que mudanças e
rupturas venham a ser fatores determinantes para uma prática pedagógica inovadora; ao
que se requer uma verificação sistemática dessas práticas, para as quais, será necessário
um olhar resultante de significados por meio de uma observação crítica, em um estudo de
pesquisa qualitativa etnográfica, para dele se originar a inovação pedagógica.
2 Disponível em: <http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil/login.jsf>.
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Selecionamos como perfil dos sujeitos participantes da pesquisa alunos do 6.º, 7.º
e 8.º ano, totalizando 24% e 100% quanto aos professores de Educação Física Escolar.
Dispomos de alguns critérios utilizados para seleção da amostra (sujeitos da pesquisa), a
escolha para o método da coleta, as técnicas utilizadas e saturação dos dados.
Os Critérios de Exclusão correspondeu aos alunos que não estavam matriculados
nas turmas do 6.º ano A, 7.º ano B e 8.º ano A, os professores que não fossem docentes
da instituição nem ministrassem aula de Educação Física Escolar. Os Critérios de
Inclusão se deu aos alunos devidamente matriculados no ensino fundamental II, no
Colégio de Aplicação da UFPE; Cada turma com cerca de trinta alunos na faixa etária
dos 10 aos 13 anos, sendo escolhidos dez entre esses para a entrevista. Por motivo da não
autorização dos pais ou responsáveis, pelo aluno não estar disposto a participar da
pesquisa, pela falta de entrega da documentação necessária ou por desistir no decorrer da
pesquisa, apenas oito alunos de cada turma participaram da pesquisa, totalizando 24
alunos e 3 professores. Não houve nenhuma desistência desses últimos.
Os alunos participantes da entrevista narrativa, foram os que demonstravam maior
participação nas aulas, assiduidade, interatividade, gosto em realizar as atividades de
educação física; não era necessário ter muita habilidade. Tais critérios foram obtidos por
se tratar de uma pesquisa científica em que eles precisam ser previamente estabelecidos
(MACEDO, 2004).
Todos os alunos participantes da pesquisa estavam inseridos na instituição
escolar CAp/CE/UFPE, oriundos de um processo seletivo realizado obrigatoriamente no
início de cada ano letivo a partir do 6.º ano. Os docentes, professores de Educação Física,
participantes da pesquisa, conforme mencionado, foram três, todos aprovados em
concurso público realizado pela instituição.
A metodologia utilizada “permite uma investigação para se preservar as
características holísticas e significativas da vida real” (YIN, 2001, p. 21). Como técnica
de pesquisa escolhida, foi o estudo de caso múltiplo, que ocorre quando “o mesmo estudo
de caso pode envolver mais de uma unidade de análise”, ou seja, em um caso único, por
se dar atenção a uma “ou a várias subunidades”. “As provas resultantes de casos múltiplos
são consideradas mais convincentes, e o estudo global é visto, por conseguinte, como
sendo mais robusto.” (YIN, 2001, p. 64, 68).
Os estudos de caso revelam “experiência vicária”, experiência de outras pessoas,
e permitem “generalizações naturalísticas”, que sucede de acordo com o “conhecimento
experimental do sujeito, no momento em que este tenta associar dados encontrados no
estudo com dados que são frutos de sua experiência” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 19).
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Tendo em vista o estudo sobre a aula de Educação Física na perspectiva da
inovação pedagógica, realiza-se o estado da arte como subsídio teórico contribuinte para
esta pesquisa.
Na Capes, pesquisamos trabalhos de dissertação de mestrado e tese de doutorado
que tinham como tema central, a inovação pedagógica na aula de Educação Física. Dessa
forma, iniciamos por seleção de busca, por meio digital, diante dos temas de Inovação
Pedagógica e Educação Física, em termos nacionais, pela Capes. Tais estudos, ora
analisados, apontaram a existência de uma produção relevante sobre a área de Educação
Física e Inovação Pedagógica nos programas de pós-graduação, em nível de mestrado e
doutorado no território nacional. Verificamos nas regiões Norte e Nordeste, há um
pequeno número de produção científica nessa área do conhecimento.
Desse modo, o percentual encontrado nas áreas geográficas mostra estudos ainda
pouco verificados, no que se refere à Educação Física e Inovação Pedagógica, o que
indica a necessidade de se explorar essa área, na perspectiva de agregar conhecimentos
científicos sobre ela.
Optamos pelos resumos relativos aos estudos de pós-graduação, defendidos de
1987 a 2010, período em que a Educação Física Escolar passa a fazer parte no contexto
brasileiro, na forma de um movimento crítico diante das abordagens teórico-
metodológicas e as respectivas práticas pedagógicas dominantes na década de 1980.
Fizemos um recorte no catálogo de registros, nos quais pesquisamos 84 unidades,
sobre a inovação na prática pedagógica em Educação Física. Após a seleção das teses e
dissertações, partimos para as análises, que se realizaram em três momentos, conforme as
orientações de Bardin (1977):
a) pré-análise;
b) verificação e exploração dos documentos obtidos;
c) tratamento dos resultados obtidos, inferência e interpretação.
Esse proceder metodológico nos possibilitou a constatação de que os conteúdos
sobre inovação pedagógica na aula de Educação Física estavam ainda poucos explorados.
Resultou em 24 documentos no geral. Desses, são 6 teses de doutorado equivalentes a
25% e 18 são dissertações de mestrado, o equivalente a 75%.
As pesquisas abrangem três áreas do conhecimento, a saber: Educação; Educação
Física e Educação nas Ciências.
Encontramos ainda, estudos no campo da Prática Pedagógica e Políticas Públicas,
Currículo e Políticas Públicas, Motricidade Humana, Formação de Professores e Políticas
Públicas, Gestão da Educação e Reformas Educacionais, o que leva à compreensão da
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abrangência de áreas que estudam o foco da inovação pedagógica, ao que se deu em
Janeiro de 2012.
A submissão ao Conselho de Ética da UFPE teve a finalidade de avaliar as
pesquisas que envolvem seres humanos, em qualquer área do conhecimento, realizadas
nessa instituição.
O tempo para a avaliação e aprovação levou um período seis meses a partir da
data de entrada no setor responsável por pesquisa com seres humanos da UFPE, para
exame, avaliação e aprovação, a fim de se realizar a pesquisa e poder iniciá-la no Colégio
de Aplicação, escola pública federal da Universidade Federal de Pernambuco,
CAp/CE/UFPE. Esta pesquisa elaborou o documento chamado Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).
Diante da necessidade de entrevistar alunos menores de idade, os pais ou
responsáveis tiveram de assinar autorizando a participação do aluno na pesquisa. Os
professores, também sujeitos participantes da pesquisa, assinaram o TCLE aprovado pelo
Conselho de Ética. As entrevistas realizaram-se por meio de um texto, a que chamamos
texto norteador, contendo duas perguntas abertas, respondidas de forma narrativa, ao que
se denomina entrevista narrativa. Dessa forma, submetemos os textos norteadores –
professores e alunos – ao Conselho de Ética da UFPE, os quais foram avaliados e
autorizados após submissão à análise pela Plataforma Brasil, base de dados para avaliação
de pesquisas em Universidades Públicas Federais do Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa buscamos responder à questão: Como são realizadas as aulas de
Educação Física dos professores do Colégio de Aplicação/CE/UFPE? na compreensão
de Fino (2008b), a inovação ocorre no momento em que se reflete sobre o processo
ensino-aprendizagem, o que implica pensar a escola como instituição aberta a críticas e a
quebra de paradigmas. Isso faz remeter ao aluno (sujeito histórico), que apresenta uma
história de vida, em sua plenitude de ser, e passa por um intenso processo de
transformação, desde seu nascimento até os dias atuais; ao que remete a repensar a forma
de atuação dos professores, educadores no que concerne a esse aluno, na condição de ser
histórico, social, político e crítico, que se percebe ali na fase de aprendizagem escolar
como aprendizes que são.
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Com base nas entrevistas realizadas com os alunos do 6.º, 7.º e 8.º ano do ensino
fundamental II do CAp/CE/UFPE, buscou-se analisar a categoria de base teórica quanto
ao professor na perspectiva reflexiva, o planejamento participativo e seu entendimento
referente à inovação pedagógica. Destas, outras categorias empiricas se fizeram presente,
quanto a Dinamicidade, Avaliação e a Importância da educação física para a vida, ás
quais devam um estudado mais aprofundado num futuro próximo. Quanto aos
professores, analisamos o entendimento da inovação pedagógica , sobre o entendimento
do professor quanto a este conceito e como estava presente a inovação no processo
ensino-aprendizagem, na aula de educação física.
Percebemos que, no universo de 100% dos participantes professores da Disciplina
de Educação Física, a inovação pedagógica está presente conforme ressaltaram na
entrevista narrativa, o que nos propicia um pensar sobre a educação presente na instituição
pesquisada. No universo de 100% dos alunos participantes verificou-se que há um aspecto
inovador nas aulas de educação física, o que torna um positivo nesta pesquisa e satisfaz
como resposta, exposta em entrevista com todos os atores participantes da pesquisa.
Entendendo dessa forma que a ação pedagógica, tem como pressuposto a busca ao sujeito
crítico e inovador, o que permite a visualização do conhecimento, que se determina
quanto à localização histórica de sua produção.
Verificar a prática do professor de Educação Física é se prevalecer de um novo
pensar, um novo agir; ou seja, ter embasamento para uma prática pedagógica reflexiva,
em relação ao que se entende por uma prática ativa, motivadora, que incita a busca no
aprendiz como um todo, com olhar inovador voltado ao Saber-fazer e Para quê fazer.
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